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Curso - O uso dos diferentes

gêneros discursivos

na sala de aula

Aula 2 - 15/09 a 28/09

04 horas

Coordenação:

Prof.ª Esp. Andrea Rodrigues da

Silva Medeiros

Prof.ª Esp. Meire Cristina dos

Santos Dangió

Prof.ª Esp. Paula Fabiane Sartori

Gladenucci

1

Continuando nossa conversa...

Ficamos muito satisfeitas com a participação de vocês no

Fórum 1 – Integração da turma

Esperamos que este curso possa contribuir para o

aprofundamento teórico e prático de todos.

Vamos em frente, agora com a Aula 2.

abraços

Andrea, Meire e Paula

2

Aula 2 - Aspectos históricos sobre gêneros discursivos

Conteúdos:

• Teoria de Bakhtin.

• Língua, fala e enunciação.

3

Bases da teoria sobre os gêneros discursivos

Para iniciar os estudos sobre os gêneros

discursivos, resgataremos o contexto

histórico do qual se originou essa teoria,

bem como seus conceitos-chave.

4

Por que iniciar pelo contexto histórico?

Porque não podemos entender nenhum

desenvolvimento social fora do seu tempo. As

teorias são desenvolvidas pelos próprios

homens num determinado contexto histórico

de relações sociais, que se estabelecem para

atender às suas necessidades.

O homem se constitui a partir das questões do seu

tempo e produz as condições de sua existência.

5

Então... Um pouco de história!

A vida humana em sociedade não teria sido possível sem sistemas

de signos que permitissem a comunicação.

Na Grécia antiga a linguagem era considerada como transmissão

de pensamento – enunciação monológica – ato puramente

individual.

LÍNGUA = EXPRESSÃO DO PENSAMENTO

6

Função formadora da língua

sobre o pensamento

“Abstraindo-se a necessidade de

comunicação do homem, a língua lhe é

indispensável para pensar, mesmo que

tivesse de estar sempre sozinho” (HUMBOLDT)

7

Em síntese...

Para esta vertente da linguagem a enunciação se

forma no psiquismo do indivíduo, se constrói no

seu interior, sendo sua exteriorização apenas

uma tradução.

A linguagem é uma atividade mental que organiza

a expressão, modelando e determinando sua

orientação.

8

Linguagem como meio objetivo

para a comunicação

Criticando a concepção anterior, a ciência da linguística

começou a se desenvolver quando os homens

começaram a fazer perguntas sobre a linguagem que

embasava sua civilização.

Os estudos sobre a linguagem tomaram a forma que têm a

partir de mudanças no domínio da linguística,

constituídas no início do século XX.

LÍNGUA = OBJETO DA LINGUÍSTICA

9

Mas... O que é LINGUÍSTICA?

É a ciência que estuda a linguagem verbal, a

gramática e a evolução dos idiomas. O linguista

investiga as línguas das diversas sociedades e

sua relação com outros idiomas. Analisa a

estrutura e a sonoridade das palavras e das

sentenças, o significado dos termos e das

expressões idiomáticas, bem como as

diferenças de uso por grupos regionais ou

sociais.

10

Língua e fala

O fundador da linguística moderna chama-se

Ferdinand de Saussure linguista e filósofo suíço, 1857/1913

Saussure trouxe novos caminhos para a linguística, graças ao seu

estudo sobre a língua e a fala (langue e parole).

Para Saussure a língua foi imposta ao indivíduo, enquanto a fala é

um ato particular.

A soma língua + fala resulta na linguagem.

11

Signo linguístico

Para Saussure o signo é o resultado de

significado mais significante.

Signo = significado + significante

Significado: conceito

Significante: forma gráfica + som

Toda palavra que possui um sentido é

considerada um signo linguístico.

12

Exemplo

“Livro” é um signo linguístico.

Quando observamos o signo “livro”

percebemos que ele é a união de som,

conceito e escrita, ou seja, significado e

significante.

Outros exemplos de signos linguísticos:

mar, cadeira, ventilador, cachorro, casa....

13

Estruturalismo linguístico

Os estudos de Saussure concentraram-se nas leis gerais

do funcionamento de uma língua.

A língua se apresenta como um sistema estruturado.

O funcionamento da língua é marcado pela relação que

aquele que fala (o locutor) tem com a língua e que se

marca na estrutura da língua.

Língua = objeto abstrato ideal (a língua por ela mesma)

14

Qual a relação de tudo isso com o

ensino dos gêneros discursivos?

A relação é a de que para poder compreender o mundo em

que vivemos, adquirir e produzir conhecimento, nós,

como usuários da língua, agimos sobre esse mundo

por meio de atividades que estão repletas de intenções

e representações.

As relações sociais estabelecidas nessas atividades

são chamadas de práticas sociais.

DIFERENTES FORMAS DE INTERAÇÃO ACONTECEM

NO INTERIOR DESSAS PRÁTICAS.

15

Mas... Como surgiu o estudo sobre os

gêneros discursivos?

De onde vem essa teoria?

16

Linguagem como processo

de interação verbal

Superando dialeticamente (incorpora características

importantes) as vertentes anteriores, essa

tendência entende que a verdadeira substância da

linguagem não é constituída por um sistema

abstrato de formas linguísticas, nem pela

enunciação monológica, mas pelo fenômeno

social da interação verbal, realizada através da

enunciação ou das enunciações.

17

Leis sociológicas de evolução da língua

Concepção de linguagem processo de interação mediado pelo diálogo.

Falantes sujeitos

18

Por uma filosofia da linguagem

O precursor dessa teoria é

Mikhail Bakhtin que nasceu em 1895 na cidade de Oriol, na Rússia,

e morreu no ano de 1975.

Como filósofo e pensador dedicou a vida à definição

de noções, conceitos e categorias de análise

da linguagem com base em discursos cotidianos,

artísticos, filosóficos, científicos e institucionais.

19

Bakhtin: o filósofo da linguagem

Ele diplomou-se em História e Filologia=(do grego

antigo Φιλολογία, "amor ao estudo, à instrução") é

o estudo da linguagem em fontes históricas

escritas, é uma combinação de estudos literários,

história e linguística.

Bakhtin participava de

um grupo de intelectuais

que contestava a concepção

de língua com um fim em si mesma.

20

Grupo denominado como

“Círculo de Bakhtin”

Grupo de intelectuais com ideias inovadoras, numa época

de muita criatividade, particularmente nos domínios

da arte e das ciências humanas.

Esse grupo produziu, em sua trajetória, um notável volume

de textos, ensaios e livros redigidos.

Entre eles, o linguista Valentin Volochinov (1895-1936)

e o teórico literário Pavel Medviédiev (1891-1938).

21

O que essa concepção

entende por linguagem?

22

LINGUAGEM

É a representação de ideias e pensamentos com o objetivo de

realizar a comunicação, associada a um amplo eixo de

atividades tanto cognitivas quanto sociais.

É UM PROCESSO DE INTERLOCUÇÃO

NAS PRÁTICAS SOCIAIS.

Nesse processo, o signo se torna importante para

desenvolver as funções psíquicas superiores.

A linguagem produz e organiza o pensamento.

Nós nos organizamos por meio da linguagem.

23

O domínio da linguagem, como atividade discursiva e

cognitiva, e o domínio da língua, como sistema

simbólico utilizado por uma comunidade linguística, são

condições de possibilidade de plena participação social.

Pela linguagem os homens e as mulheres se

comunicam, têm acesso à informação, expressam e

defendem pontos de vista, partilham ou constroem

visões de mundo, produzem cultura. (BRASIL, 1998, p.19)

24

LINGUAGEM COMO FUNÇÃO PSÍQUICA SUPERIOR, COMO

INSTRUMENTO A SERVIÇO DA CONSTITUIÇÃO DA

CONSCIÊNCIA HUMANA

A relação entre cérebro e linguagem – uma relação que

só acontece na vida em sociedade, em meio às

práticas sociais que se dão em uma determinada

cultura.

A vida explica o cérebro. Leontiev

25

Observe as situações abaixo: diante da

sede, qual seria o mais adequado?

a) Fulano, vai buscar um copo de água para mim,

anda!;

b) Estou com a boca seca;

c) Fulano, seria muito difícil me arrumar um copo de

água?;

d) Por favor, alguém podia me arrumar um pouco de

água para beber?;

e) Trazer uma garrafa de água para a caminhada.

26

Todas, dependendo da situação de

comunicação e do efeito de sentido

que se quer produzir.

Ensinamos as formas de usar a

linguagem numa determinada

comunidade e numa determinada

situação comunicativa.

27

Para ilustrar nossa discussão, convidamos

você a divertir-se com a história em

quadrinhos a seguir, na qual encontrará a

Princesa Suriá utilizando um gênero

discursivo fora do seu tempo, mas

bastante atual e que foi eficiente para a

resolução do seu problema.

28

29

30

Então, pretende-se na escola:

desenvolver a capacidade

comunicativa do aluno.

“Fazer com que ele seja capaz de usar

cada vez mais um maior número de

recursos da língua, de forma a produzir

os efeitos de sentido desejados de

maneira adequada a cada situação de

interação comunicativa em que esteja

inserido” Currículo Comum pág. 255 (TRAVAGLIA, 2004)

31

NESSE SENTIDO...

O objetivo do ensino formal da Língua Portuguesa, de

acordo com Cagliari (2005) é mostrar como a

linguagem humana funciona, quais as propriedades

desse objeto e seus usos linguísticos pelas pessoas

nas mais variadas situações do cotidiano,

implicando, assim, na construção de uma nova

relação com a linguagem.

32

A construção de uma nova

relação com a linguagem, requer

não apenas a função de

comunicação, mas a aquisição de

novos meios e formas

linguísticas.

33

Ao utilizar a língua, o indivíduo age, atua sobre o

interlocutor, buscando uma interação

comunicativa pela produção de efeitos de

sentido entre interlocutores, situada em uma

ideologia, em um contexto social e histórico.

O diálogo em sentido amplo é o que

caracteriza a linguagem. 34

"A língua penetra na vida através dos

enunciados concretos (situações

produzidas efetivamente na interação)

que a realizam, e é também através dos

enunciados concretos que a vida

penetra na língua“. (BAKHTIN, 1992, p. 282)

35

O que isso significa?

Significa que a língua só existe em

função do uso que locutores (quem fala

ou escreve) e interlocutores (quem lê

ou escuta) fazem dela em situações

(prosaicas/comuns ou formais) de

comunicação.

36

Relação dialógica

Na relação dialógica entre locutor e interlocutor no meio

social, em que o verbal e o não-verbal influenciam de

maneira determinante a construção dos enunciados

acontece a interação por meio da linguagem, que se

dá num contexto em que todos participam em

condição de igualdade.

Aquele que enuncia seleciona palavras apropriadas para formular uma

mensagem compreensível para seus destinatários. Por outro lado, o

interlocutor interpreta e responde com postura ativa àquele

enunciado, internamente (por meio de seus pensamentos) ou

externamente (por meio de um novo enunciado oral

ou escrito).

37

Bakhtin considera o diálogo

como as relações que ocorrem entre interlocutores, em

uma ação histórica compartilhada socialmente, isto é,

que se realiza em um tempo e local específicos, mas

sempre mutável, devido às variações do contexto.

“O diálogo, no sentido estrito do termo, não constitui, é claro, senão uma das

formas, é verdade que das mais importantes, da interação verbal. Mas

pode-se compreender a palavra „diálogo‟ num sentido mais amplo, isto é,

não apenas como a comunicação em voz alta, de pessoas colocadas face

a face, mas toda comunicação verbal, de qualquer tipo que seja.

O livro, isto é, o ato de fala impresso, constitui igualmente um

elemento da comunicação verbal.

Diálogo

38

O livro, isto é, o ato de fala impresso, constitui igualmente um

elemento da comunicação verbal. Ele é objeto de discussões ativas sob a

forma de diálogo e, além disso, é feito para ser apreendido de maneira

ativa, para ser estudado a fundo, comentado e criticado no quadro do

discurso interior, sem contar as reações impressas, institucionalizadas, que

se encontram nas diferentes esferas da comunicação verbal (críticas,

resenhas, que exercem influência sobre trabalhos posteriores, etc.).

Além disso, o ato de fala sob a forma de livro é sempre orientado em função

das intervenções anteriores na mesma esfera de atividade, tanto as do

próprio autor como as de outros autores: ele decorre portanto da

situação particular de um problema científico ou de um estilo de produção

literária.

Assim, o discurso escrito é de certa maneira parte integrante de uma

discussão ideológica em grande escala: ele responde a alguma coisa,

refuta, confirma, antecipa as respostas e objeções potenciais, procura

apoio, etc.”

39

Bakhtin propõe o movimento dialógico da

enunciação = colocar a linguagem em relação

frente a um e a outro.

noção de recepção/compreensão ativa

Quando recebemos uma enunciação significativa, esta nos propõe

uma réplica: concordância, apreciação, ação, etc. E, mais

precisamente, compreendemos a enunciação somente

porque a colocamos no movimento dialógico dos enunciados,

em confronto tanto com os nossos próprios

dizeres quanto com os dizeres alheios.

Dialogismo

40

Dialogismo

Enfim, o dialogismo, segundo ele é

constitutivo da linguagem, pois mesmo

entre produções monológicas observamos

sempre uma relação dialógica; portanto,

todo gênero é dialógico.

41

O dialogismo é o princípio dialógico

constitutivo da linguagem

.

Há gêneros dialógicos monofônicos (uma voz que domina

as outras vozes) e gêneros dialógicos polifônicos (vozes

polêmicas).

Segundo Brait (2000), o texto irônico é sempre polifônico, mas um

artigo de opinião não é polifônico porque há uma voz

dominante, não há polêmica. O gênero romance, para Bakhtin

(apud BRAIT, 2000), apresenta diferentes vozes sociais que

se defrontam, se entrechocam, manifestando diferentes

pontos de vista sociais sobre um dado objeto; portanto,

é gênero polifônico por natureza.

42

Polifonia

O dialogismo não deve ser confundido com

polifonia, porque aquele é o princípio dialógico

constitutivo da linguagem e esta se caracteriza

por vozes polêmicas em um discurso (muitos

pontos de vista).

Há gêneros dialógicos monofônicos (uma voz que domina

as outras vozes) e gêneros dialógicos polifônicos (vozes

polêmicas).

43

Polifonia – vozes polêmicas em um discurso

A comunicação verbal, inseparável das outras formas de

comunicação, está indissoluvelmente ligada às estruturas sociais.

Não produzimos um discurso adâmico (referente a Adão, no sentido

de algo que surgiu primeiro), mas “os discursos de outros” que,

no contexto narrativo, refletem as tendências sociais de interação

verbal numa época e num determinado grupo social, ou seja, o

nosso discurso está permeado por outras vozes.

“Incomunicação”, óleo/tela, 120 X 90 cm, 1966

Antônio Henrique Amaral

44

Resumindo...

A nossa sociedade está organizada em esferas da

atividade humana: cotidiana, pedagógica, religiosa,

literária, jornalística, científica, política, etc.

Nessas esferas, a utilização da língua se dá através de

enunciados que podem ser orais e escritos, dependendo

da especificidade comunicacional.

Tais enunciados são tipos relativamente estáveis a

depender da situação comunicativa e são denominados

por Bakhtin como gêneros do discurso.

45

Nos próximos encontros aprofundaremos nossos estudos sobre gêneros discursivos.

A vida é dialógica por natureza. Viver significa participar de um

diálogo: interrogar, escutar, responder, concordar, etc. Neste

diálogo, o homem participa todo e com toda a sua vida: com

os olhos, os lábios, as mãos, a alma, o espírito, com o corpo

todo, com as suas ações. Ele se põe todo na palavra e esta

palavra entra no tecido dialógico da existência humana, no

simpósio universal.

(BAKHTIN, 2003, p. 348)

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Participação no Fórum 2

Após o término desse estudo,

convidamos a todos para:

1- Ler o texto “Gênero(s) resumo na perspectiva

bakhtiniana”, principalmente no item 1. Fundamentação

teórica e seus subitens 1.1; 1.2 e 1.3;

2- Assistir ao vídeo;

3- Participar do FÓRUM 2 – Para início de conversa.

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FÓRUM 2 – Para início de conversa.

Questão para o Fórum 2 – Ao observar a

imagem abaixo, qual a relação que você

estabelece entre ela e o conteúdo sobre

linguagem, segundo Bakhtin, estudado nesta

aula?

Diálogo - serigrafia sobre papel

Gastão Debreix

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Recados finais

Devido às limitações inerentes a um curso EaD, sugerimos a

todos que aprofundem seus conhecimentos por meio das

referências que encontram-se ao final do Plano de aula.

Lembramos que, conforme as datas previstas, esta aula se

estenderá até o dia 28 de setembro, para que todos possam

aproveitar nossa Semana da Educação que ocorrerá de 15 a 18

de setembro.

Até a próxima aula!!!

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