crítica do valor e crítica do direito - perse · a suspensão dos direitos civis e do direito em...
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Creative Commons , 2014, Joelton Nascimento
Este trabalho foi licenciado com a Licença Creative Commons Atribuição-
NãoComercial 1.0 Genérica. Para ver uma cópia desta licença, visite http://cre-
ativecommons.org/licenses/by-nc/1.0/
Capa: PerSe
Arte na capa: Martial Law (óleo sobre tela) de Phyllis Zaballero
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AGRADECIMENTOS
Escrever este livro me deixou em dívida, em primeiro
lugar, com Gilda Figueiredo Portugal Gouvêa, orientadora
da tese que o originou.
Agradeço ainda aos professores doutores Ricardo An-
tunes e Silvio Camargo pelas valiosíssimas observações re-
alizadas na fase de qualificação desta pesquisa. Também
agradeço aos professores doutores Henrique Amorim e
Alysson Leandro Mascaro, pela participação na banca exa-
minadora da tese que deu origem a este livro.
Aos companheiros Daniel Cunha, Claudio Roberto Du-
arte, Raphael Alvarenga, Rodrigo Campos Castro e Felipe
Drago, da redação da revista Sinal de Menos, pelos debates
que enriqueceram bastante este trabalho, também agra-
deço. Assim como Manoel Dourado Bastos, Giselle Saka-
moto Vianna e Alessandra Devulsky Tisescu, por suas con-
tribuições em momentos-chave. A Christina Faccioni, Re-
ginaldo Alves e Daniel Cardoso, agradeço pela solicitude e
gentileza de sempre.
A Márcio Bilharinho Naves e Alysson Leandro Mascaro
(novamente) agradeço por terem aberto caminhos teóricos
não só a mim, mas a tantos outros jovens pesquisadores.
Agradeço à equipe da Editora PerSe na pessoa de Thi-
ago Porto pela parceria de anos.
Sou grato ainda a Silvia, Alice e Olivia: meu ninho, meu
propósito, minha cura.
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Na medida em que a vontade e a capacidade de governo, e mesmo a participação real no governo, ainda se desenvolvem sob condi-ções de normalidade capitalista e, de certa maneira, de democracia do bom tempo, o evento ainda corre em período experimental. Este concluir-se-á apenas com o segundo passo, ou seja, com a prova do estado de exceção na crise. Agora, “organização” é o mesmo que administração de crise e de emergência, ou seja, com restrições duras e duríssimas contra as necessidades vitais, com medidas coercivas e repressão direta do aparelho de Estado contra o material humano. Mas significa, sobretudo, em última instân-cia e em caso de agravamento da crise, a transformação do Estado de direito em violência anômica e a cobertura desta pelo aparelho, a suspensão dos direitos civis e do direito em geral precisamente em nome dos direitos civis e do direito em geral – a saber, como seu pressuposto tácito que tem de se manifestar periodicamente. A partir daqui se esclarece também o carácter da ideia, na melhor das hipóteses ingênua, mas em regra antes plenamente menti-rosa, de em tempos de crise pretender defender os direitos civis contra os seus próprios fundamentos, negados pela consciência democrática fetichista mas que mesmo assim vêm à luz, como se o ataque viesse de fora e não do mais íntimo da própria relação jurídica.
Robert Kurz, Não há Leviatã que vos salve (2011)
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Sumário NOTA AO LEITOR .............................................................11
PREFÁCIO..............................................................................13
INTRODUÇÃO .....................................................................19
CAPÍTULO 1 – A FORMA SOCIAL DO VALOR ............45
1.1 O problema do valor ................................................... 45
1.2 A crítica marxiana do valor ........................................ 53
1.2.1 A forma valor das mercadorias ................................ 55
1.2.2 A forma valor e a natureza bífida do trabalho ......... 62
1.2.3 A forma valor e o caráter fetichista da mercadoria .. 64
1.2.4 A forma valor e sua subjetividade automática ......... 68
1.3 As dificuldades políticas da crítica marxiana do
valor ..................................................................................... 70
CAPÍTULO 2 – DIREITO E VALOR: ELEMENTOS DE
CRÍTICA .................................................................................77
2.1 O valor e a subjetividade jurídica .............................. 77
2.1.1 O sujeito de direito segundo a doutrina tradicional 82
2.1.2 O sujeito de direito na crítica marxiana do valor .... 84
2.2 A questão do valor no debate revisionista ............... 93
2.3 Desenvolvimentos marxistas do problema do direito
e do valor ............................................................................ 96
2.3.1 Isaak Rubin .............................................................. 96
2.3.2 Georg Lukács ......................................................... 100
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2.4 Pachukanis e a questão do direito e do valor no
estado soviético ................................................................ 106
2.5 O marxismo ocidental e a tese do primado da
política ............................................................................... 115
2.5.1 A Escola de Frankfurt ............................................ 115
2.5.2 Jürgen Habermas ................................................... 124
2.6 Direito, circulação e produção ................................. 136
2.6.1 Bernard Edelman ................................................... 136
2.6.2 Direito e separação estrutural ............................... 142
CAPÍTULO 3 – CRÍTICA DO VALOR, CRÍTICA DO
DIREITO ...............................................................................145
3.1 A dualidade constitutiva da modernidade
produtora de mercadorias .............................................. 145
3.2 O direito como parte do polo estado ...................... 151
3.3 As funções do direito estatal .................................... 156
3.3.1 Constituição da máquina do estado ....................... 156
3.3.2 Garantia e mediação contratual ............................. 159
3.3.3 Padrão normativo sistemático ............................... 161
3.4 O caráter classista do direito estatal ........................ 162
3.4.1 Stutchka como paradigma...................................... 162
3.4.2Juridificação e luta de classes .................................. 167
3.4.3 Os limites da crítica classista do direito ................ 181
3.5 Crítica do direito como forma fetichista ................. 185
3.5.1. A autonomia, em certa medida, do direito estatal . 189
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3.5.2 O nexo social-formal com o sistema produtor de
mercadorias ..................................................................... 193
3.5.3 Superação ou fenecimento do estado e do direito? . 196
3.6 O direito e a crítica do trabalho ............................... 211
3.6.1 A forma jurídica e o trabalho abstrato ................... 211
3.6.2 Do trabalho abstrato à abstração-trabalho ............. 217
3.6.3 Da antipolítica ao antidireito ................................. 224
CAPÍTULO 4 – A CRISE DO VALOR E DO DIREITO ..229
4.1 A crise da formação social do valor ........................ 229
4.2 O valor em crise e o estado de exceção ................... 235
4.3 Crise e (e da) intervenção do estado de direito ..... 239
CONSIDERAÇÕES FINAIS ...............................................245
ANEXO 1 ..............................................................................253
Crítica do trabalho, crítica do direito ............................ 253
Obras Citadas .......................................................................279
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NOTA AO LEITOR
Todos os livros em línguas estrangeiras que foram cita-
dos no texto da obra que o leitor tem em mãos tiveram suas
citações traduzidas livremente pelo autor.
Ao longo do livro utilizamos rigorosamente a palavra
“marxiano/marxiana” para indicar o pertencimento de um
texto ou conceito ao filósofo e crítico social alemão Karl
Marx e a palavra “marxista” para indicar a tradição de au-
tores que vieram após ele e que se fundamentaram, em al-
guma medida, em sua obra.
No texto deste livro grafamos a palavra “estado” deste
modo, ao invés de “Estado”, como manda a tradição e al-
guns manuais de redação. Não encontramos razões lin-
guísticas suficientes para a distinção de grafia que esta pa-
lavra possui. Apesar de ter mantido a grafia original das
traduções e citações, ao menos grafologicamente, neste li-
vro, desapoderamos o “Estado”.
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PREFÁCIO
Do direito à emancipação
Este é um livro corajoso e ambicioso. Ambicioso porque
é sistemático e não abre mão do conceito em tempos de fra-
gmentação e aversão à teoria. Corajoso porque não abre
mão de ir à raiz, ao limite das implicações dos conceitos
formulados, na esteira da melhor tradição da teoria crítica
e da utopia concreta. Não é pouca coisa no tempo em que
muitos já se acostumaram com as “expectativas decrescen-
tes” em tempos de crise do capital. Aqui, não há capitula-
ção, mas um esforço intenso no sentido oposto, o da aber-
tura do futuro e da desnaturalização das objetivações soci-
ais.
Transparece nesse esforço o acúmulo teórico da revista
Sinal de Menos, projeto editorial coletivo comum, no qual
os esforços teóricos de Joelton Nascimento vêm sendo
apresentados nos últimos anos. Projeto esse que preten-
deu, desde o início, articular, com uma multiplicidade de
enfoques, aquela que em nosso entender era a crítica mais
avançada do capital – a crítica do valor, representada por
autores como Robert Kurz, Moishe Postone e Anselm Ja-
ppe – com as particularidades de nossa posição periférica
brasileira. Essa vertente da crítica social contemporânea
trouxe ao centro de sua teoria o fetichismo da mercadoria
e o trabalho abstrato, para a crítica radical de uma forma
de sociabilização inconsciente e fetichista, ao mesmo
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tempo em que deduz a crise do capital como uma crise ca-
tegorial decorrente do desenvolvimento de sua própria ló-
gica. No contexto brasileiro, se de um lado somos “atrasa-
dos” em nossa modernização retardatária com tantos tra-
ços arcaicos de dominação pessoal, de outro temos talvez
um ponto de vista privilegiado da crise do capital e seus
desdobramentos. É aqui que o capital tem de desenvolver
as suas estratégias mais avançadas de contenção de crise e
administração da miséria, onde se tem de conjugar a con-
tenção das favelas com o “sucesso” de ilhas de valorização
de capital. E não é esse o destino tendencial do centro capi-
talista?
Nesse contexto de exploração teórico-crítica, a contri-
buição do autor veio principalmente no campo, em geral
negligenciado na tradição marxista, da crítica do direito. Vai
na contracorrente, quando tudo o que se ouve falar é em
“conquistar direitos”, isso quando não se recai, por escolha
ou necessidade decorrente de “ajustes” e do refluxo neoli-
beral, na luta rebaixada pela “preservação de direitos”.
Partindo da teoria do valor e do fetichismo da mercadoria
de Marx, e valendo-se da contribuição dos críticos do valor
atuais e de seus pioneiros, notadamente Lukács, Rubin, Pa-
chukanis, Robert Kurz e Anselm Jappe, o autor busca, além
de determinar os contornos da crítica do direito – para
além da teoria do “direito classista” que desconsidera a te-
oria do fetichismo –, denotar o seu estatuto no contexto da
crise da valorização. O livro avança desde a introdução da
teoria marxiana do fetichismo da mercadoria até a crise do
valor e do direito, e por isso é por si só, também, uma in-
trodução à crítica do valor.
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