crescimento da produÇÃo de aÇÚcar e de alimentos no...
Post on 08-Jul-2020
0 Views
Preview:
TRANSCRIPT
CRESCIMENTO DA PRODUÇÃO DE AÇÚCAR E
DE ALIMENTOS NO BRASIL
Diogo Ferraz (UNIMEP)
diogo.economia2@gmail.com
Maria Rita Pontes Assumpcao (UNIMEP)
rita.assumpcao@unisantos.br
O setor sucroalcooleiro diferenciou seus produtos e processos para atender a
demanda da indústria alimentícia por meio de inovações incrementais. Um
exemplo foi o desenvolvimento dos Açúcares Líquido (sacarose) e Invertido.
Este artigo analisa a evolução da produção de açúcar, comparando-a com a
produção da indústria alimentícia entre 1996 a 2012. Diante deste contexto,
coloca-se a pergunta: como foi a evolução da produção de açúcar diante do
crescimento da produção da indústria de alimentos? Utilizando o método de
regressão para analisar o efeito particionado da indústria de alimentos sobre
a produção de açúcar, verificou-se correlação positiva entre as variáveis.
Constatou-se que o segmento de alimentos e doces impacta mais fortemente
a produção de açúcar que o segmento de bebidas, embora ambos sejam
influenciadores no crescimento da produção de açúcar.
Palavras-chave: Sucroalcooleiro, açúcar, alimentos, regressão
XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção
Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015.
XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção
Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015.
2
1. Introdução
O agribusiness brasileiro é responsável por 22,3% do Produto Interno Bruto – PIB,
gerando muitos empregos. Cerca de 38% da mão de obra empregada estava neste setor na
última década, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE (IBGE,
2015). O setor sucroalcooleiro é um grande responsável por estes resultados. O Brasil é o
maior produtor mundial de açúcar. A moagem de cana na safra 2013/2014 alcançou 653,5
milhões de toneladas, sendo 91% no Centro-Sul do País. Nesta safra foram produzidos 37,7
milhões de toneladas de açúcar e 27,5 milhões de metros cúbicos de etanol (UNICA, 2014).
O setor sucroalcooleiro abriu-se ao mercado competitivo no período pós-
desregulamentação, alterando suas estratégias de ação. A desregulamentação promoveu
mudanças na cadeia produtiva do açúcar, com a constituição de grupos estratégicos com a
participação de capital estrangeiro, facilitada pela abertura da economia, pós 1990.
(ASSUMPÇÃO, 2001). Assumpção (2001), Shoenherr e Swink (2012) e Zhao et al.(2011)
estudaram a coordenação desta cadeia, explicando os modos de integração de processos, tanto
no nível de operações, quanto de negócios.
A integração do setor sucroalcooleiro e a indústria alimentícia foi objeto de estudo em
Assumpção (1998, 2001) e continua sendo analisada (TOMÁS et al., 2014). Esta integração
inicia com a necessidade de maior capacitação produtiva e logística das usinas açucareiras para
suprimento mais eficiente de produtos com a qualidade demandada dos novos entrantes na fabricação
de alimentos. As empresas do setor sucroalcooleiro viram-se obrigadas a buscar estas capacitações
pelo crescimento exponencial na inovação em produtos alimentícios e de bebidas e o acirramento da
concorrência no setor de alimentos. As produtoras de açúcar mudam suas formas de movimentação
dos produtos e materiais e de circulação de informações - para suporte ao fluxo produtivo e à
distribuição física. Estas mudanças dão conta da maior complexidade das relações técnicas e
organizacionais entre os diferentes atores produtivos do sistema de oferta de alimentos. Há maior
alinhamento das estratégias de operações entre os produtores de açúcar e seus derivados com os
fabricantes de refrigerantes, doces, balas e outros, com alterações nas formas de contratação
para suprimento do açúcar (Assumpção, 2001). Diante deste contexto, coloca-se a pergunta que
este artigo responde: como foi a evolução da produção de açúcar diante do crescimento da
XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção
Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015.
3
produção da indústria de alimentos?
Este artigo analisa a evolução da produção de açúcar, comparando-a com a produção
da indústria alimentícia entre 1996 a 2012. Foi neste período a grande mudança na economia
brasileira, pela abertura econômica na década de 1990 e pela desregulamentação do setor
sucroalcooleiro. Buscar-se-á mostrar a correlação positiva entre as produções de açúcar e de
alimentos. Há uma ressalva, contudo: a produção do açúcar é dependente mais que
proporcionalmente, ao nível das exportações da commoditie. Este artigo considera como
indústria alimentícia, de acordo com a classificação CNAE 2.0, apenas as classes de
Fabricação de Outros Produtos Alimentícios e Fabricação de Bebidas (IBGE, 2015).
Este artigo está dividido em cinco seções além desta introdução. A segunda seção
revisa o embasamento teórico do estudo. A terceira aborda o método utilizado na pesquisa. A
quarta seção discute os resultados encontrados. A quinta seção finaliza o artigo.
2. A cadeia do açúcar como fornecedora de matéria prima à Indústria de Alimentos
Uma cadeia produtiva, segundo Batalha e Silva (2013), é o agrupamento de operações
ou processos de transformação orientados por uma lógica técnica. A cadeia produtiva também
é orientada por relações econômicas e comerciais. As trocas entre fornecedores e clientes têm
como objetivo valorizar os meios de produção e articular as operações, agregando valor aos
produtos finais, o que traz vantagem competitiva às empresas envolvidas. Na cadeia
agroindustrial os agentes não precisam ter os mesmos objetivos estratégicos, contanto que
haja complementariedade entre seus negócios, quando firmam alianças estratégicas
(BATALHA e SILVA, 2013). As relações são do tipo ganha-ganha. A rede de suprimento,
conforme Slack et al. (2009), trata da interconexão das operações entre fornecedores e
clientes. Já a integração das empresas em uma cadeia de suprimentos se dá pela gestão de
processos de negócios (LAMBERT et al, 1998). Tomás et al.(2014) defende que a cooperação
e parceria entre firmas pode torná-las mais competitivas.
Assumpção (2001) analisou as mudanças estratégicas do setor sucroalcooleiro pós-
desregulamentação, até 2000. Para a autora, estas mudanças ocorreram pela necessidade do
setor sucroalcooleiro fortalecer seu posicionamento junto ao mercado industrial e adequar-se
XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção
Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015.
4
às exigências do mercado de consumo, pela maior qualidade do açúcar. A Figura 1 mostra as
relações de fornecimento de açúcar.
Figura 1 – Simplificação da comercialização do açúcar
Fonte: Elaborado com base em Assumpção (1998, p. 148)
O setor sucroalcooleiro diferenciou seus produtos e processos para atender a demanda
da indústria alimentícia por meio de inovações incrementais. Um exemplo foi o
desenvolvimento dos Açúcares Líquido (sacarose) e Invertido. Segundo Bianchini (2007),
estes produtos possuem a solubilidade da frutose e a difícil cristalização da glicose,
aumentando o poder edulcorante e diminuindo riscos de cristalização dos alimentos. A
inovação incremental muda as formas de produzir (processos) e nas linhas de produtos. A
inovação pode vir de vários agentes da cadeia produtiva. No caso do açúcar ela veio para
oferta de produtos com maior valor agregado (ASSUMPÇÃO, 2001) (Tabela 1).
XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção
Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015.
5
Tipos Características Utilização
Cristal Açúcar cristalino produzido na usina sem refinoUtilizado na indústria alimentícia (bebidas, massas,
biscoitos, confeitos, etc.)
Possui granulometria muito fina e irregular;
Brancura e poder absorver bastante água.
Claro, límpido, isento de odor e aroma;Processos que exijam pureza elevada (indústria
farmacêutica);
Concentração de 65% a 68% de sólidos
Obtido pelo refino de açúcar cristal dissolvido com
água declorada.
Xarope claro e isento de turbidez, odor e aromas;Processos alimentícios que exijam sabores, cores e
texturas distintas;
Obtido por processos de hidrólise ácida controlada
por uma solução de sacarose;
Fabricação de frutas em calda, sorvetes, balas e
caramelos, licores, geléias e biscoitos;
Poder anticristalizante, umectante e resistência à
contaminação microbiológica.Fabricação de bebidas carbonatdas.
Açúcar líquido
invertido
Açúcar
refinado
amorfo
Utilizado principalmente para o consumo
doméstico.
Açúcar líquido
sacaroseProcessos que exijam ausência de cor é essencial
(fabricação de bebidas claras, doces, balas e
bebidas carbonatadas).
Tabela 1 – Principais tipos de açúcares para o mercado industrial
Fonte: Elaborado com base em Assumpção (1998, p. 148)
Uma importante fonte de inovação em alimentos e bebidas é o conjunto de
fornecedores de ingredientes específicos, aditivos (ASSUMPÇÃO, 2001). Como é um setor
altamente regulamentado, a indústria alimentícia mantém com seus parceiros uma relação que
favoreça a inovação tecnológica, tanto para diferenciação de produtos quanto para garantia da
qualidade (KIM et al, 2012). Assumpção (2001) e Trail e Meulenberg (2002) chamam atenção
para a intensificação tecnológica na indústria de alimentos e no agronegócio.
Os Açúcares Líquido e Invertido têm características que aumentam sua especificidade,
mudando sua utilização nos processos produtivos de seus clientes industriais. Como
conseqüência, houve alteração no fornecimento destes produtos. O fornecimento passa a ser
contratual e o transporte e a entrega demandam ativos específicos (caminhões tanques e
tanques para armazenagem) (ASSUMPÇÃO, 2001).
A especificidade de ativos remete à Teoria dos Custos de Transação (TCT) que analisa
relações entre empresa, além das do mercado spot, regulador das transações de venda de
açúcar cristal e refinado. Para Zylbersztajn (1996), na agroindústria os ativos com baixa
especificidade podem ser comercializados pelo mercado spot. A TCT estuda os custos de
transação, a incerteza nas trocas e a racionalidade limitada nos negócios entre as empresas.
XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção
Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015.
6
Isto porque as relações entre as empresas se dão via contratos ou alianças estratégicas, qual
seja, novas estruturas de governança das trocas entre empresas.
Para Williamson (1985) a governança regula as transações, mitigando conflitos pela
indicação de maneiras de ganhos mútuos, propiciando ordem aos agentes econômicos. Quanto
mais eficiente a governança, menores os custos processuais das transações (WILLIAMSON,
2010). Isto ocorre pela elaboração contratual, monitoramento do desempenho dos contratos e
organização da atividade das firmas (WILLIAMSON, 2010). A estrutura de governança deve
ser a que define a relação inter-organizacional mais eficiente. Williamson (1985) vê as
transações no mercado, regido pelo sistema de preços, quando há baixa especificidade dos
ativos. Já a estrutura de governança na forma híbrida prevê dependência bilateral entre as
empresas, por meio de contratos de longo prazo, sendo adequada quando houver maior
especificidade de ativos presentes nas trocas. Por fim, a hierarquia, ou seja, internalização das
transações ou integração vertical se dá quando o “fazer” é mais adequado que o “comprar de
terceiros”.
A frequência das transações diminui os custos fixos médios de coleta de informações
sobre a negociação entre dois agentes (WILLIAMSON, 1985). Quando as trocas são
freqüentes e há presença de especificidade de ativos, a reputação do parceiro pode diminuir a
atitude oportunista (WILLIAMSON, 2010). A relação das produtoras de açúcar e empresas do
segmento de doces e de bebidas, no fornecer açúcar líquido ou invertido, exigiu uma estrutura
de governança diferenciada. Quando há especificidade dos ativos envolvidos na transação,
gera-se uma relação contratual ou integração vertical. Neves et al. (2011) levantaram os
custos de transação presentes na negociação e comercialização, formulação de contratos,
monitoramento e capacidade gerencial nas relações comerciais das empresas do setor
sucroalcooleiro.
2.1 Evolução da produção de açúcar e da indústria de alimentos
O setor sucroalcooleiro representa cerca de 8% do PIB agrícola brasileiro e 35% do
PIB paulista (UNICA, 2014). A gestão estratégica e as inovações organizacionais e
tecnológicas são condicionantes da dinâmica deste setor (ASSUMPÇÃO, 2001). A cana-de-
XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção
Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015.
7
0
10.000.000
20.000.000
30.000.000
40.000.000
50.000.000
60.000.000
70.000.000
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012
Produção Açúcar (Mil toneladas) Valor transformação industrial - Indústria Alimentícia (Mil Reais)
açúcar é cultivada em mais de nove milhões de hectares, com destaque para o Centro-Sul
(87%). Esta região, na safra 2013/2014, produziu 37,7 milhões de toneladas de açúcar, sendo
64% no estado de São Paulo (UNICA, 2014). A indústria sucroalcooleira produz
concomitante o açúcar e o etanol, exportados e consumidos pelo mercado doméstico
(MORAES, 1999). A produção brasileira possui importância no mercado internacional. As
exportações do açúcar alcançaram 26,629 milhões de toneladas (94% no Centro-Sul) em
2014.
A taxa média de crescimento da produção de açúcar é superior no Centro-Sul (12,53%
a.a.) em relação ao resto do país (11,97% a.a.) entre 1990 e 2014. Entre 1996 a 2012, a taxa
média de crescimento da produção de açúcar foi de 14,2% a.a.. Observa-se crescimento
contínuo na produção de açúcar no Brasil (Figura 2).
Considerando o valor da produção industrial da Fabricação de Outros Produtos
Alimentícios (caldas, balas, doces, etc.) e Fabricação de Bebidas, observa-se que a produção é
1,5 vezes maior em 2012 do que em 1996. A taxa média de crescimento para a indústria de
alimentos foi de 8,3% a.a.. Os dados evidenciam que a produção de ambos os setores têm
crescido.
Figura 2 Produção de açúcar e da indústria de alimentos, Brasil, 1996 a 2012
Fonte: Elaborado pelos autores a partir dos dados da UNICA (2015) e IBGE (2015)
XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção
Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015.
8
0,00
50,00
100,00
150,00
200,00
250,00
300,00
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012
Produção Açúcar (Mil toneladas) Valor da transformação industrial (Mil Reais) - valores reais 2014
A Figura 3 compara este crescimento por meio de números-índices. Números-Índices
são medidas estatísticas que possibilitam comparar variáveis relacionadas entre si ao longo do
tempo, por exemplo, preços e produção física de matérias-primas (GREENE, 2012). A
produção física teve crescimento mais que significativo que o valor da transformação
industrial relativa.
Figura 3 – Números-Índices para o açúcar e indústria alimentícia, Brasil, 1996 a 2012
Fonte: Elaborado pelos autores a partir dos dados da UNICA (2015) e IBGE (2015)
Segundo Kupfer (2001), as mudanças na economia brasileira na década de 1990, como
a estabilização dos preços, liberalização financeira e abertura comercial ocasionaram mudança
estrutural na produção das empresas. Nas commodities, observou-se declínio da participação
estatal e aumento do market share das empresas nacionais e multinacionais.
Tomando o ano de 1996 como base, igual a 100, verifica-se que o valor da
transformação industrial para a indústria de alimentos foi 58,1% maior em 2012. Para o
açúcar, sua produção foi 158% maior em 2012 do que no ano tomado como base. O
crescimento entre os setores foi assimétrico, pois a produção de açúcar também é influenciada
pelas exportações. Este crescimento da cadeia do açúcar proporcionou forte correlação entre
os valores produzidos pela indústria de alimentos, chegando a 0,72 no período estudado.
Correlação significa a força e a direção entre duas variáveis aleatórias (GREENE, 2012).
Observa-se que houve maior crescimento na Fabricação de Outros Produtos
XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção
Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015.
9
10.000.000,00
15.000.000,00
20.000.000,00
25.000.000,00
30.000.000,00
35.000.000,00
40.000.000,00
Outros produtos alimentícios - valores reais 2014
Bebidas - valores reais 2014
0,00
20,00
40,00
60,00
80,00
100,00
120,00
140,00
160,00
180,00
200,00
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012
Valor da transformação industrial (Mil Reais) - Outros produtos alimentícios - valores reais 2014
Valor da transformação industrial (Mil Reais) - Bebidas - valores reais 2014
Alimentícios do que na Fabricação de Bebidas. Justamente os segmentos que demandam
Açúcar Líquido e ou Invertido como matéria-prima (ASSUMPÇÃO, 2001). A Figura 4 ilustra
a evolução destes segmentos.
Figura 4 – Valor da Fabricação de Outros Produtos Alimentícios e Fabricação de
Bebidas, Brasil, 1996 a 2012
Fonte: Elaborado pelos autores a partir dos dados do IBGE (2015)
Verifica-se que taxa média de crescimento para a Fabricação de Bebidas e para
Fabricação de Outros Produtos Alimentícios foi, respectivamente, 7,7% a.a. e 9,2% a.a.,
demonstrando forte crescimento para o período estudado, bem acima das taxas de crescimento
do PIB brasileiro. A Figura 5 ilustra o cenário descrito, comparando os segmentos pelos
Números-Índices.
Figura 5 – Números-Índices Fabricação de Outros Produtos Alimentícios e Fabricação
de Bebidas, Brasil, 1996 a 2012
XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção
Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015.
10
Fonte: Elaborado pelos autores a partir dos dados do IBGE (2015)
O valor da transformação industrial da Fabricação de Outros Produtos Alimentícios foi
72,8% maior em 2012 do que em 1996. Por outro lado, para a Fabricação de Bebidas, o
crescimento foi de 48,3% no período. Este comparativo demonstra que ambos os segmentos
cresceram no período analisado, embora desproporcionalmente.
Os dados sustentam a hipótese de que o crescimento da produção da indústria de
alimentos possui correlação positiva com a produção de açúcar no Brasil. A correlação para o
segmento da Fabricação de Outros Produtos Alimentícios (0,53) foi menor do que no
segmento de Fabricação de Bebidas (0,76).
3. Metodologia
A análise do crescimento da produção de açúcar e de alimentos, baseado em métodos
econométricos, utilizou o programa estatístico Stata. O método de regressão, segundo Greene
(2012), relaciona uma variável dependente, neste caso a produção anual do açúcar, com
variáveis explanatórias (valor da produção industrial da indústria de alimentos e seus
derivados e renda per capita familiar).
A importância do método da regressão está em apresentar estimativas empíricas de
uma variável explanatória, enquanto as demais variáveis permaneçam constantes
(WOOLDRIDGE, 2010). Este método possibilita testar parâmetros, verificando sua
significância estatística e a distribuição probabilística do resíduo. Isto evita viéses na análise
(GREENE, 2012).
Relacionando o logaritmo neperiano da produção do açúcar (lw) como dependente de
uma variável observável, admite-se que a relação é log-log e igual para todos os anos
analisados. Acrescentando todas as variáveis independentes do modelo, obtêm-se uma
equação onde e i são parâmetros do modelo e ij o erro aleatório que representa o efeito
XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção
Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015.
11
das variáveis não estimadas, com propriedades estatísticas usuais. A Equação 1 demonstra o
modelo ajustado pelo método de mínimos quadrados ordinários:
Sete modelos foram estimados, para verificar o impacto da produção da indústria
alimentícia sobre a produção de açúcar entre 1996 e 2012. São consideradas as seguintes
variáveis explanatórias: valor da produção anual da indústria alimentícia ( .lima ), fabricação
de outros produtos alimentícios (caldas, doces, balas e outros) ( entosaoutros lim. ), fabricação de
bebidas ( bebidas ) e a renda média domiciliar per capita ( renda ). Espera-se correlação positiva
de todas as variáveis citadas. Os valores foram corrigidos para todos os anos anteriores com
base na média anual do IGP-M, divulgado pela Fundação Getúlio Vargas – FGV, para o ano
de 2014.
4. Resultados e discussão
Os dados confirmaram que existe correlação positiva entre o crescimento de
produção de alimentos e a produção de açúcar. Observou-se forte participação do setor
sucroalcooleiro como fornecedor da indústria de alimentos. A Tabela 2 traz os resultados dos
modelos.
Os modelos 1 e 2 não apresentaram significância estatística para os parâmetros
estimados. No primeiro modelo, a variável renda apresentou probabilidade t de 0,268, o que
não pode ser considerado estatisticamente significativo. No segundo modelo, a variável
fabricação de outros produtos alimentícios (probabilidade t foi 0,723) não foi significativa.
No quarto modelo, a Fabricação de bebidas não teve significância estatística. Isto pode
ter ocorrido pela correlação entre as variáveis explanatórias (0,54).
Os modelos 6 e 7 não apresentaram significância estatística para os parâmetros. Os
coeficientes tiveram sinal inesperado. A variável Indústria de alimentos impactou
negativamente a produção de açúcar, o que não correspondem aos pressupostos teóricos.
)1()( i
ijijij xllw
XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção
Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015.
12
Há evidências de problemas estatísticos nestes modelos. Segundo Wooldrige (2010)
a multicolinearidade é um problema estatístico representado pela correlação entre as variáveis
independentes. Quando existe multicolinearidade, não há significância estatística para os
parâmetros e os sinais tornam-se inesperados. Neste caso, o pesquisador deve aumentar o
número da amostra de dados ou eliminar algumas variáveis do modelo.
Tabela 2 – Estimativas dos modelos de regressão
Modelo Variável Coeficiente Dif. %¹ Teste t Probabilidade t R² Teste F(²)
Modelo 1 Constante 2,318 - 2,89 0,0001
57,31 32,27 Renda 0,097 10,23 1,11 0,268
Modelo 2 Constante 1,114 - 0,36 0,06
18,80 4,15 Fab. outros alimentos 0,610 83,99 2,04 0,723
Modelo 3 Constante -3,295 - -1,12 0,281
42,90 13,29 Fab. bebidas 1,027 179,27 3,65 0,002
Modelo 4
Constante -3,930 - -1,47 0,164
43,79 9,22 Fab. outros alimentos 0,158 17,10 0,60 0,56
Fab. bebidas 0,932 153,92 2,58 0,022
Modelo 5 Constante -4,183 - -1,71 0,108
39,96 22,76 Ind. Alimentos 1,086 196,25 4,77 0,0001
Modelo 6
Constante 2,144 - 0,67 0,512
57,34 16,49 Ind. Alimentos -0,058 -5,60 -0,15 0,885
Renda 2,077 698,42 3,83 0,002
Modelo 7
Constante 3,591 - 0,89 0,388
58,12 16,09 Fab. outros alimentos 0,033 3,36 0,14 0,893
Fab. bebidas -0,345 -29,17 -0,60 0,556
Renda 2,498 1116,37 3,53 0,004
¹ Valores obtidos calculando o crescimento percentual do rendimento: 100[exp (coeficiente)-1].
² Os valores de F são estatisticamente significativos ao nível de 1%.
Fonte: Elaborado pelos autores com base nos dados pesquisados
Os dados analisados demonstraram alta correlação entre a indústria de alimentos e
seus segmentos, fabricação de outros alimentos (0,87) e fabricação de bebidas (0,89), além de
correlação com a renda (0,80). O Variance Inflation Factor – VIF (GREENE, 2012) que
analisa a presença de multicolinearidade, comprovou a presença do problema. Não havendo
possibilidade de aumentar o número de dados na amostra, o número de variáveis foi reduzido.
Os modelos 3 e 5 se apresentaram viáveis para análise.
XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção
Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015.
13
O terceiro modelo apresenta a contribuição da Fabricação de bebidas sobre a produção
de açúcar. A figura 6 ilustra a distribuição normal dos resíduos e o ajustamento da regressão.
Figura 6 – Distribuição normal do resíduo e ajustamento da regressão
Fonte: Elaborado pelos autores
O modelo foi estatisticamente significativo e apresentou alto grau de explicação (R² =
42,9%). Esta estimativa foi estatisticamente significativa a 1%. Na relação entre o valor da
produção industrial na indústria de alimentos sobre a produção física de açúcar, verifica-se
que a cada Real produzido na indústria de bebidas gera-se 179,8 unidades de açúcar
produzido. Portanto, há impacto positivo da produção de alimentos sobre o açúcar,
comprovando a hipótese deste trabalho e os pressupostos teóricos (ASSUMPÇÃO, 2001;
TOMAS et al., 2014).
O quinto modelo estimou a contribuição da indústria de alimentos sobre a produção do
açúcar. O modelo foi estatisticamente significativo e apresentou alto grau de explicação (R² =
40%). A cada Real produzido na indústria de alimentos são geradas 196 unidades na produção
de açúcar.
Estes modelos demonstraram a importância da indústria de alimentos como
demandante do açúcar. Fica evidente a integração entre estes dois setores que, embora
possuam estratégias distintas, possuam atividades complementares (BATALHA e SILVA,
2013).
XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção
Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015.
14
5. Considerações finais
Este artigo mostra, por meio de modelos econométricos, a relação entre a produção de
açúcar e de alimentos doces e de bebidas, analisando dados no período entre 1996 a 2012.
Os modelos foram ajustados para demonstrar o impacto da produção da indústria
alimentícia sobre a produção de açúcar. A regressão linear foi utilizada para garantir o efeito
isolado de cada variável controlada pelo modelo. Constatou-se que o segmento de alimentos e
doces impacta mais fortemente a produção de açúcar que o segmento de bebidas, embora
ambos sejam influenciadores no crescimento da produção de açúcar.
Propõe-se que estudos futuros apresentem maior variabilidade dos dados, por
exemplo, tratar da produção mensal dos setores, evitando problemas estatísticos.
Vale lembrar, que a produção de açúcar tem o mercado internacional como
demandante de grande parcela do açúcar produzido no Brasil, maior exportador de açúcar do
mundo.
6. Referências Bibliográficas
ASSUMPÇÃO, Maria Rita Pontes. Difusão tecnológica e integração da cadeia de suprimento. RECITEC.
Revista de ciência e tecnologia, Recife, v. 2, n.1, p. 119-128, 1998.
_______. A Liga do Açúcar: Integração da Cadeia Produtiva do Açúcar à Rede de Suprimento da Indústria de
Alimentos. São Paulo. Universidade de São Paulo, Escola Politécnica, 2001. Tese (Doutorado).
_______. Reflexão para Gestão Tecnológica em Cadeias de Suprimentos. Gestão & Produção, v. 10, n. 3, p.
345-362, Dezembro, 2003.
BATALHA, Mário Otávio. As cadeias de produção agroindustriais: uma perspectiva para o estudo das inovações
tecnológicas. Revista de Administração, São Paulo, v. 30, n. 4, p. 43-50, out./dez. 1995.
_______; SILVA, Andrea Lago da. Gerenciamento de Sistemas Agroindustriais: Definições e Correntes
Metodológicas. In: Gestão Agroindustrial. São Paulo: Atlas, 2013. 2 ed. v. 1.
BIANCHINI, Vivian Karina. Estruturas de governança no suprimento de açúcar ao mercado industrial de
alimentos processados. São Carlos. Universidade Federal de São Paulo - UFSCar, 2007. Dissertação
(Mestrado).
CAPITANIO, Fabian; COPPOLA, Adele; PASCUCCI, Stefano. Product and process innovation in the Italian
food industry. Agribusiness, v. 26, n. 4, p. 503-518. 2010.
COASE, Ronald Harry. The Nature of the Firm. Economica, n.4, nov. 1937.
XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção
Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015.
15
GREENE, William. Econometric Analysis. New Jersey: Prentice-Hall, seventh edition, 2012.
HARTWICH, Frank; NEGRO, Carlos. The role of collaborative partnerships in industry innovation: lessons
from New Zealand’s dairy sector. Agribusiness, v. 26, n. 3, p. 425-459. 2010.
HERRMANN, Roland. The distribution of product innovations in the food industry: economic determinants and
empirical tests for Germany. Agribusiness, v. 13, n. 3, p. 319-334. 1997.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Estatística. Disponível em: <http://
http://www.ibge.gov.br/home/. asp.> Acesso em: 09 out. 2014.
KIM, Dong Young; KUMAR, Vinod; KUMAR, Uma. Relationship between quality management practices and
innovation. Journal of Operations Management, v. 30, n. 4, p. 295-315. 2012.
KUPFER, David. Mudança estrutural nas empresas e grupos líderes da economia brasileira na década de
90. Rio de Janeiro: UFRJ/Instituto de Economia, 2001. (Relatório de Pesquisa). 19p.
LAMBERT, Douglas; COOPER, Martha e PAGH, Janus D. Supply Chain Management: Implementation Issues
and Research Opportunities. The International Journal of Logistics Management, 1998. Vol. 9 , 2 pp. 1 – 20.
MORAES, Márcia Azanha Ferraz Dias de. A desregulamentação do setor sucroalcooleiro do Brasil. Piracicaba.
Universidade de São Paulo, Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, 1999. Tese (Doutorado).
NEVES, Marcos Fava; PINTO, Mairun Junqueira; CONEJERO, Marco Antonio; TROMBIN, Vinicius Gustavo.
Food and fuel: the example of Brazil. Wageningen Academic Publishers. 2011.
SANTOS, Antônio; RICHETI, Alceu. O sistema integrado de produção de frango de corte em minas gerais: uma
análise sob a ótica da ECT. Revista Organizações Rurais e Agroindustriais. UFLA. v. 2, n. 2, p. 34-43.
Jul/Dez. 2000.
SCHUBERT, Maycon Noremberg; WAQUIL, Paulo Dabdab. Análise dos custos de transação nas cooperativas
da cadeia produtiva do leite no Oeste de Santa Catarina. Revista Organizações Rurais e Agroindustriais.
UFLA. v. 16, n. 4, p. 435-449. Dez. 2014.
SHOENHERR, Tobias; SWINK, Morgan. Revisiting the arcs of integration: cross-validations and extensions.
Journal of Operations Management, v. 30, n. 1/2, p. 99-115. 2012.
SLACK, Nigel; CHAMBERS, Stuart; JOHNSTON, Robert. Administração da Produção. São Paulo: Atlas,
2009. 3° ed. 703 p.
TRAIL, W. Bruce; MEULENBERG, Matthew. Innovation in the food industry. Agribusiness, v. 18, n. 1, p. 1-
21. 2002.
TOMÁS, Robson Nogueira; ROSALES, Fabrício Pini; BATALHA, Mario Otávio; ALCANTARA, Rosane
Lúcia Chicarelli. Analyzing effects of external integration on innovations outcomes in large and non-large
Brazilian food companies. British Food Journal, v. 116, n. 6, p. 984 – 999. 2014.
UNIÃO DA AGROINDÚSTRIA CANAVIEIRA DE SÃO PAULO (UNICA). Estatística. Disponível em:
<http://www.unica.com.br/pages/estatisticas. asp.> Acesso em: 09 out. 2014.
VIAN, A. C. F. Inércia e mudança institucional: estratégias competitivas do complexo canavieiro no
Centro-Sul do Brasil. 289p. Tese (Doutorado) – Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2002.
ZHAO, Xiande; HUO, Baofeng; SELEN, Willem; YEUNG, Jeff Hoy Yang. The impact of internal integration
and relationship commitment on external integration. Journal of Operations Management, v. 29, n. 1/2, p. 17-
32. 2011.
XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção
Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015.
16
ZYLBERSZTAJN, David. Governance Structures and Agribusiness Coordination: a transaction cost economics
based approach. In: GOLDBERG, R. A. (ed.). Research in Domestic and International Agribusiness
Management. London: IAI Press, 1996.
WILLIAMSON, Oliver. Vertical Integration: Theory and Policy, In: The Economic Institutions of Capitalism,
The Free Press, 1985, cap. 4.
_______. Transaction Cost Economics: The Natural Progression. Journal of Retailing, v. 86, n. 3, p. 215-226.
2010.
WOOLDRIDGE, Jeffrey. Introductory Econometrics. 4 ed. South-Western. 2010.
top related