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Conteúdo Informacional e Dimensão Expressiva

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  • 5. Contedo informacional + dimenso expressiva: a equao-chave na

    anlise documentria de fotografias1

    Miriam Paula Manini

    Resumo

    Este trabalho aborda aspectos informacionais que envolvem o tratamento documental de

    fotografias. Enfoca as mudanas de paradigma sofridas desde sua criao, destacando a

    importncia de modificar as formas de seu tratamento informacional, de modo a acompanhar

    as transformaes de produo e recepo. A indexao de documentos fotogrficos deve

    considerar alguns conceitos e utilizar determinadas regras que resultem num exerccio

    adequado de tratamento do contedo informacional que representem uma segurana quanto

    recuperao destas informaes. Apresenta aproximaes relativas aos contedos genrico e

    especfico e ao significado das imagens fotogrficas. Nesta perspectiva, e de maneira mais

    conclusiva, pergunta como estes contedos e este significado se manifestam de modo a

    recuperar imagens integrando a dimenso expressiva das fotografias. Questes a se destacar: a

    importncia de considerar a fotografia como discurso, passvel de leitura, que deve ser

    aprendida e efetuada como um processo necessariamente anterior anlise documentria,

    com vistas a melhorar a recuperao de informaes; questionamentos com relao a como

    escolher os elementos de representao; necessidade de definio de parmetros que

    relacionem tais elementos, para garantir a consistncia na transposio do imagtico para o

    escrito; finalmente, a importncia de se considerar a dimenso expressiva da imagem

    fotogrfica no levantamento de termos de indexao.

    Palavras-chave

    Anlise documentria. Fotografia. Indexao de imagens. Dimenso expressiva. Leitura de

    imagens.

    1 Introduo

    A fotografia, da forma como a conhecemos tradicionalmente, possui um carter

    testemunhal inequvoco. Os aparatos tecnolgicos trouxeram, contudo, outro aspecto a ser

    levado em considerao: no mundo digital j no se pode falar em fotografia simplesmente,

    mas em imagem fotogrfica. Surgem dvidas sobre a mudana conceitual que teria vindo a

    reboque das alteraes tcnicas sobre a fotografia ainda ser ou no uma escrita com a

    1 Este trabalho resultado de discusses de pesquisas que esto em desenvolvimento no mbito do Grupo IMI

    Imagem, Memria e Informao (Blog: http://www.grupoimmi.blogspot.com/; Diretrio dos Grupos de Pesquisa

    do CNPq: http://dgp.cnpq.br/diretorioc/fontes/detalhegrupo.jsp?grupo=0240607RZ8KT1A), sediado na

    Faculdade de Cincia Informao da Universidade de Braslia.

  • luz. Da mesma forma, na recepo, paira um questionamento sobre a indicialidade2 da

    imagem fotogrfica digital permanecer a mesma com relao fotografia tradicional.

    Como estas imagens passaram tambm a compor acervos, os profissionais da

    informao encarregados de seu tratamento devem se preocupar com a guinada que aconteceu

    nas formas de comunicao, onde o visual tomou lugar de destaque ao mesmo tempo em que

    o selo testemunhal da fotografia perdeu legitimidade. Pode-se deparar, na internet, com sites

    de hospedagem e compartilhamento de imagens fotogrficas, como o Flickr; ou com o

    programa de edio e busca de fotografias digitais Picasa, e os similares digiKam, F-Spot e

    iPhoto. Observar o visual com olhos informacionais se torna tarefa urgente para os tratadores

    de informao; a visualizao intensa requer uma tambm intensa aprendizagem visual

    documentria.

    Interessa apontar os aspectos a serem considerados na leitura de imagens fotogrficas

    para fins documentrios, focalizando a passagem do momento da fotografia como documento

    e objeto de memria para a fase da fotografia como signo, objeto da linguagem; tentar

    formular respostas para as questes que se colocam no digital, envolto no simulacro, de forma

    a satisfazer s exigncias da Cincia da Informao, quais sejam: tratar fidedignamente as

    informaes contidas nos documentos fotogrficos com mxima conexo com a realidade

    representada.

    No paradigma ps-moderno subjaz a linguagem fotogrfica, a fotografia como signo.

    Antes, fotografia se imputava muito mais apenas o carter indicial, denotador de que o

    referente existiu e que, como tal, mostrou-se passvel de ser registrado e, posteriormente,

    memorizvel.

    No momento, uma das principais questes que se coloca como tratar

    documentariamente uma imagem fotogrfica digital depositada em acervo institucional

    notadamente num arquivo no que tange sua fidedignidade com relao realidade

    retratada.

    No primeiro tero do sculo XX, Benjamin (1987) destaca a patente inteno

    documental da fotografia, sendo ela um cdigo de referncia obrigado realidade.

    2 Referncia trade peirceana cone (espelho do real), ndice (prova do real) e smbolo (transformao do real).

  • Tambm na esteira dos tericos da modernidade, Barthes (1984 e 1990) aponta que o

    sentido da imagem o fotografado, o objeto fotogrfico, estando o fotgrafo (como operador)

    em segundo plano, e o meio fotogrfico tambm: esta a Fotografia Documental. O objeto

    o referente real; o isto foi3, ou seja, algo da ordem da memria.

    Em seu ensaio O herosmo da viso, Sontag (1981) aponta, tambm, para o carter

    no-intervencionista do fotgrafo na realidade; exprimir o belo do mundo, da natureza e das

    pessoas era o objetivo principal no incio do sculo XX. A noo de realismo foi modificada

    por uma fotografia que no queria apenas registrar a realidade, mas ser a forma como as

    coisas parecem aos olhos do mundo. Sob este aspecto, o fotgrafo relator da realidade e no

    seu intrprete, crtico ou denunciador.

    O carter documental abalado pela nova ordem que se estabelece na metade do

    sculo XX: a nfase no autor. A fotografia autoral, da qual podemos citar Henry Cartier-

    Bresson4 como seu maior representante, traz a interveno subjetiva como principal marca; o

    meio fotogrfico intermedirio entre o sujeito fotgrafo e o sujeito fotografado.

    Figura 1: Behind Saint-Lazare Station

    Fonte: (Henri Cartier-Bresson, Paris, Frana, 1932)

    Fonte: http://www.henricartierbresson.org/hcb/home_en.htm

    Pergunta-se qual seria a melhor forma de descrever tais fotografias de autor no mbito

    documental informacional. O selo da verdade do referente perde sua tinta; e a fotografia,

    alm de ndice fortemente marcado pelo isto foi, passa a receber com mais frequncia a

    marca de cone e de smbolo, caractersticas mais fortemente produzidas pelo olhar do

    3 Barthes (1984, p. 115) afirma que, se algo foi fotografado porque isto foi (a fotografia e seu anlogo).

    4 Henri Cartier-Bresson (1908-2004), fotgrafo francs de grande expresso e importncia no sculo XX.

    Cunhou e colocou em prtica o conceito de momento decisivo, segundo o qual a fotografia resultado de espera

    para o melhor disparo, no instante ideal, para registro mais desejvel pelo fotgrafo.

  • fotgrafo e do receptor. Se antes havia total credibilidade na fotografia, com a fotografia

    autoral o gesto do retratado muda totalmente a imagem e a credibilidade se torna aparente e

    no legtima.

    O sentido no est na imagem, mas na trama de um conjunto de coisas: fotgrafo,

    filtros, objeto fotografado, etc. Este conjunto de possibilidades, especialmente os recursos

    tcnicos, contribuiro decisivamente para a escolha de imagens pelos usurios, no momento

    da recuperao de informaes visuais, a partir da Dimenso Expressiva das fotografias5.

    importante ressaltar que existem fotografias autorais que registram momentos

    pertencentes realidade cotidiana como no caso de Robert Capa6. Deve-se avaliar, neste

    caso, qual a importncia da montagem e da representao nestas imagens, e se, de fato, elas

    mostram fatos, momentos, coisas relativas realidade humana.

    Figura 2: Imigrantes recm-chegados

    Fonte: (Robert Capa, Haifa, 1949)

    Fonte: http://universosdarte.blogspot.com/2011/05/ola-amigos-nesta-semana-em-mais-uma-de.html

    Com a mudana do paradigma cientfico e, por consequncia, do paradigma

    informacional inicia-se uma transio epistemolgica e tecnolgica; a epistemologia

    conceitual debilita-se, tornando-se o fotogrfico um campo heterogneo e concreto ontolgico

    (sculo XXI) em constante transformao. A oposio sempre existente entre arte e

    documentao se desenvolve e se fortalece. O sculo XXI descortina uma grande fragilidade

    da fotografia em servir de documento: um novo carter subjetivo da memria emerge; surge

    mais um ponto nevrlgico para reflexes em torno de como agir em termos informacionais.

    5 Uma imagem fotogrfica deve ser analisada no s pelo seu contedo informacional, mas tambm por sua

    dimenso expressiva, ou seja, pela forma como aquele contedo foi produzido. 6 Robert Capa (1913-1954), fotgrafo hngaro cujo nome de batismo era Endre Friedman conhecido por ter

    realizado o registro de diversas guerras na primeira metade do sculo XX.

  • Seguindo adiante com estes apontamentos, focalizando a questo da imagem

    fotogrfica hbrida (mistura de captura da realidade com efeitos digitais de todo tipo),

    pergunta-se: h possibilidade de sentido na imagem fotogrfica sem o referente ou com este

    referente deturpado tecnicamente? Na fotografia autoral, ideolgica, o discurso fotogrfico

    transforma o referente; sempre haver algo mais que o fotografado: no s o fotgrafo fez sua

    leitura da realidade, mas a leitura (repertrio estocstico do receptor) tambm preenche a

    imagem. Essa possibilidade legitima o uso da fotografia pela Histria, pela Documentao e

    pela Cincia da Informao, entre outras cincias. Entretanto, o algo mais que o fotografado

    muitas vezes foge ao conhecimento e ao controle do profissional da informao, responsvel

    pelo tratamento documentrio de imagens fotogrficas digitais.

    Descrever uma fotografia e dela extrair significados lingusticos no tarefa simples e

    destituda de regras. Embora se possa utilizar algumas receitas7, h uma srie de dificuldades

    em definir, na prtica, parmetros para a extrao de unidades de indexao (descritores ou

    palavras-chave8).

    Os principais problemas que se pode apontar so: em primeiro lugar, h

    questionamentos com relao a como escolher as unidades, os elementos de representao;

    em segundo lugar, preciso definir os parmetros que relacionem tais unidades, tais

    elementos, para garantir a consistncia na transposio do imagtico para o escrito.

    2 A narrativa fotogrfica

    A fotografia um objeto, e dele emanam, j de incio, informaes como processo

    fotogrfico utilizado, formato, dimenso, cromia, etc. A fotografia uma imagem; e na leitura

    de seus aspectos informacionais o olhar ocidental percorre a imagem de cima para baixo, da

    esquerda para a direita; algumas vezes a ateno recai sobre um ponto mais sedutor ou

    significativo, dado pelo enquadramento ou composio, que so recursos tcnicos.

    Nesta varredura se vai reconhecendo lugares, pessoas e objetos. Se tais locais,

    indivduos e coisas so reconhecidos e nomeados porque esto relacionados ao

    7 Shatford (1984 e 1986), Smit (1989) e Shatford Layne (1994).

    8 Descritores so termos controlados, previamente includos e listados num tesauro; as palavras-chaves, por seu

    turno, so elementos resultantes de uma livre escolha de termos de indexao (realidade da maioria dos acervos).

  • conhecimento enciclopdico do receptor, que j busca sentidos e significados para a imagem.

    Nesta decupagem se pode tambm auscultar dados da produo da imagem, ligados

    dimenso expressiva: lente utilizada, ngulo escolhido, opo de velocidade e de abertura do

    diafragma, etc. O que o fotgrafo quis narrar imageticamente com estas escolhas que a tcnica

    lhe permite?

    A fotografia um documento impar e diferenciado dentro das instituies, onde o

    documento escrito tem sido o objeto principal de anlise e tratamento, h muito apreendidos e

    aplicados. A anlise documentria de fotografias, entretanto, tema recente, especialmente no

    Brasil. A preservao de seu contedo informacional apresenta aos profissionais detalhes que

    fazem perceber sua especificidade.

    Resumir ou descrever uma fotografia muito diferente de realizar esta mesma

    operao com textos escritos; estes trazem, j, palavras, tornando a escolha de termos mais

    rpida e objetiva. A polissemia traz os entraves e demanda solues. O que privilegiar? O que

    preterir? Quais os critrios de escolha?

    Igualmente envolto em questionamentos est o levantamento de termos de indexao;

    mais que o resumo, aparecero como pontos-chave na recuperao da informao imagtica.

    Alm de escolher termos que designem coisas, eventos, pessoas e lugares, na indexao

    tambm devem estar presentes termos relacionados Dimenso Expressiva da imagem.

    Este aspecto da captura do contedo informacional da fotografia para fins de

    indexao um aprendizado feito logo aps certo letramento visual. A leitura de imagens ,

    de fato, um caso parte, uma habilidade que se deve buscar e apreender, independente do

    mtodo ou da cartilha que se escolha9.

    Alm desse aprendizado do alfabeto visual, da linguagem fotogrfica e de tantos

    tipos de leitura que ela demanda e permite, igualmente fundamental uma iniciao s

    tcnicas fotogrficas histricas, do analgico ao digital, pois isso ser tambm importante no

    momento de reconhecer a forma e a data de produo de uma fotografia num acervo material

    ou virtual, alm de fornecer dados relacionados Dimenso Expressiva.

    9 A respeito de letramento visual, ver o trabalho de Carneiro (2008) e Manini & Carneiro (2009).

  • 3 Dimenso expressiva da fotografia

    Como no texto escrito, os termos verbais, lingusticos, empregados para indexar uma

    fotografia esto tambm sob a ao das regras da polissemia, da homonmia e da antonmia;

    por isso so adotados os vocabulrios controlados.

    Certamente h diferenas entre a elaborao da descrio de um texto e a descrio de

    uma imagem. Apesar de se partir da imagem na indexao de fotografias, logo se chega ao

    texto (descritores ou palavras-chaves). A operao de leitura imagtica ocorre, ento, no

    primeiro plano, sendo o restante do processo da ordem do texto escrito, presidido, ento, pela

    Lingustica e suas regras.

    Smit (1996) afirma que os procedimentos aplicados indexao de documentos

    escritos no podem ser simplesmente transpostos para a indexao de fotografias pelo fato do

    estatuto da imagem fotogrfica ser diferente do texto escrito e que, alm do contedo

    informacional, a Dimenso Expressiva da fotografia deve ser considerada. Prope, ento, a

    equao Imagem = Contedo Informacional + Dimenso Expressiva.

    Dimenso Expressiva a parte da imagem fotogrfica dada pela tcnica: a aparncia

    fsica atravs da qual a fotografia expressa seu contedo informacional, a extenso

    significativa da fotografia manifesta pela forma como a imagem se apresenta (revelada pela

    tcnica).

    Em 1984, Shatford apresenta conceitos relacionados descrio especfica de imagens

    e as diferenas com relao a outros documentos e prope o desenvolvimento de uma base

    terica relacionada imagem justamente para fornecer aos usurios os seus meios de

    avaliao, adaptao e aplicao.

    Shatford (1986) traz a proposta de identificao e classificao das temticas que uma

    imagem pode conter atravs da utilizao de princpios previamente estabelecidos: traz as

    idias do DE Genrico, DE Especfico e SOBRE10

    , alm das proposies Quem, O que, Onde,

    Como e Quando (perguntas relativas ao que aparece na imagem).

    Em texto de 1994, Sara Shatford Layne aborda o assunto da indexao de imagens,

    afirmando que ela deve ser feita com a finalidade de preparar o acesso s imagens baseado

    10

    Uma leitura genrica e especfica DE que a imagem e SOBRE o que a imagem.

  • nos atributos das mesmas. Tal acesso deve ser dado a imagens isoladas e tambm a grupos de

    imagens.

    Quando se descreve uma fotografia, no apenas se reduz o seu texto imagtico em

    termos da unidade de contedo que ela representa, mas se escolhe uma entre vrias

    possibilidades de leitura que uma imagem permite (por causa da polissemia).

    Segundo Smit (1997), a lgica da fotografia est em que ela manifesta um contedo

    informacional; tal contedo foi obtido com a concorrncia de uma srie de intenes. O

    documento resultante do processo pode ser tratado e recuperado, independente do tipo de

    instituio que o estoca.

    Neste sentido, h um questionamento importante (SMIT, 1997, p. 2): por que a

    bibliografia da rea da informao preconiza o tratamento da fotografia exclusivamente pelo

    que esta mostra, ou seja, pelo seu contedo informacional (...) desprezando sua Dimenso

    Expressiva?

    A experincia com usurios de fotografias demonstra que a eles interessam tanto o

    objeto fotografado quanto a Dimenso Expressiva da imagem.

    E Smit categoriza trs parmetros de anlise: 1) o que a fotografia mostra (o contedo

    informacional); 2) como a fotografia mostra (a forma usada para mostrar tal contedo: a

    Dimenso Expressiva); 3) onde a fotografia mostra (o documento fotogrfico enquanto objeto

    fsico).

    A Dimenso Expressiva de uma fotografia algo ligado forma da imagem que se

    encontra em justaposio ao seu contedo informacional. Os mtodos tradicionais de

    indexao de imagens se preocupam com a recuperao baseada no contedo. H a

    necessidade, entretanto, de se considerar tambm a recuperao da informao visual baseada

    na forma.

    (...) a fotografia apresenta esses dois aspectos: imagem e objeto. Acrescentaramos

    ainda um outro, estreitamente relacionado imagem, e que diz respeito sua

    expresso. Essa expresso seria a forma como uma imagem mostrada, estando

    ligada a uma linguagem que lhe prpria e que envolve a tcnica especfica

    empregada, a angulao, o enquadramento, a luminosidade, o tempo de exposio,

    entre outros. Essas trs dimenses do registro fotogrfico contedo, expresso e forma que constrem, em ltima instncia, a mensagem que informa. (LACERDA, 1993, p. 47)

  • A importncia de considerar a Dimenso Expressiva na anlise documentria de

    fotografias est no fato de que o ponto decisivo de escolha de uma imagem (a partir de um

    conjunto, fornecido num sistema de recuperao de informaes visuais) pode estar

    justamente na forma como a mensagem imagtica foi construda para transmitir determinado

    contedo informacional.

    O sistema oferece um sem-nmero de fotografias com determinado contedo

    informacional e o que vai presidir a escolha de uma ou mais fotografia(s) pelo usurio a sua

    Dimenso Expressiva.

    O que constri ou d vida Dimenso Expressiva a tcnica fotogrfica utilizada na

    produo da fotografia: aqui temos um caso evidente de produo interferindo na recepo.

    Um exemplo seria a fotografia de um lder tomada de baixo para cima; o resultado ofereceria

    toda uma imponncia, uma sensao mesmo de liderana e de poder do personagem visto

    como algum maior, engrandecido. Outro exemplo: o close, que pode dar dramaticidade ou

    suscitar emoes variadas: posio da cmera = tcnica = Dimenso Expressiva.

    A composio, igualmente, interfere na expresso da fotografia: fazemos retratos,

    registramos paisagens, fotografamos naturezas mortas. O equipamento tambm interfere na

    expresso: uma lente grande-angular pode dar uma sensao de deformao imagem; uma

    teleobjetiva oferece pouca profundidade de campo. Da mesma maneira, o formato do filme

    utilizado 35 mm (usado comercialmente), 6 X 6 cm, 3 X 4 cm (fotografias de documentos)

    participa desta construo. H uma interferncia formal: muito da tcnica concorre para que

    o contedo informacional acontea.

    A proposta de grade de anlise documentria de fotografias deste trabalho (Quadro 1)

    se baseia em quadro proposto por Smit (1997) e por Shatford Layne (1994) e acrescenta a

    questo da tcnica dando origem Dimenso Expressiva. A coluna da Dimenso Expressiva

    ser preenchida segundo dados observveis na tabela de Recursos Tcnicos e Variveis (ver

    Anexo 1).

    Quadro 1: Grade de Anlise Documentria de Fotografias

    Contedo Informacional Dimenso

    Expressiva

    DE SOBRE

    Categoria Genrico Especfico

  • Quem/O Que

    Onde

    Quando

    Como

    Sistematizando as ideias apresentadas at o momento, no sentido de propor uma srie

    de perguntas e uma grade de anlise fotografia, com vistas indexao atravs de palavras-

    chave, as fotografias sero submetidas aos seguintes procedimentos: srie de perguntas

    quem/o que, onde, quando e como; grade de Smit (1997, p. 5) que o cruzamento das

    perguntas acima com o DE Genrico, o DE Especfico e o SOBRE de Shatford (1986)

    somada grade de anlise aqui proposta, que contempla a Dimenso Expressiva.

    Exemplo:

    Figura 3: Primavera

    Fonte: (Duane Michals)

    Fonte: http://coldfish.tumblr.com/post/2050369250/primavera-by-duane-michals

    Resposta s perguntas: quem/o que homem jovem; onde nada consta; quando

    antes de 17/10/2011; como flores saem da boca do homem, que parece estar anunciando a

    chegada da primavera (informao da legenda).

    Quadro 2: Grade de Anlise Documentria da Fotografia do Exemplo

    Contedo Informacional Dimenso

    Expressiva

    DE SOBRE

    Categoria Genrico Especfico

  • Quem/O Que

    Homem

    jovem

    Primavera

    - Retrato

    - Pose

    - Fotomontagem

    - Close

    Onde

    Quando Antes de 17/10/2011

    Como

    Flores saem da boca do Homem

    Palavras-chaves: Flor, Homem. Informaes de legenda: Primavera. Termos

    relacionados Dimenso Expressiva: Retrato, Pose, Close, Fotomontagem.

    Espera-se que esta nova grade traga melhorias para a indexao de imagens

    fotogrficas uma vez que fornece no s dados sobre o contedo informacional, mas dados

    formais onde a tcnica concorre para evidenciar a Dimenso Expressiva da fotografia.

    Se, para responder quem, o que, quando, onde e como com relao quilo DE que uma

    fotografia trata genericamente se realiza uma descrio da imagem; e se, para responder

    quem, o que, quando, onde e como com relao quilo DE que uma fotografia trata

    especificamente se faz uma anlise da imagem; ento, para responder SOBRE o que uma

    fotografia se faz uma anlise de seu significado; e para responder como a imagem expressa

    sua informao se faz perguntas mais relacionadas tcnica de produo da fotografia.

    4 Concluses

    O aporte da Lingustica a todas estas questes sobre indexao de textos e de

    fotografias indiscutvel. Contudo, a Lingustica est restrita linguagem articulada, e as

    questes do signo fotogrfico e da expresso do contedo das imagens fotogrficas requerem

    outro vis de anlise. A Dimenso Expressiva da imagem fotogrfica apareceu como uma

    opo promissora.

    A indexao de imagens fotogrficas tem como grande finalidade facilitar o acesso

    no a um maior nmero de imagens, mas s imagens que melhor atendam s necessidades do

    usurio.

    Talvez a indexao de fotografias no necessite de uma reviso e de reformulaes to

    profundas nos seus mtodos e tcnicas, mas o contato com os acervos e com os profissionais

  • da informao nos faz pensar que preciso transformar o modo de uso que se faz, atualmente,

    no Brasil, das tcnicas existentes e/ou conhecidas. Fica evidenciado, no contato com as

    instituies brasileiras, que os acervos fotogrficos necessitam adotar, esclarecer ou

    reformular mtodos de indexao de fotografias.

    Indo ao encontro da adoo, do esclarecimento e da reformulao acima mencionados,

    tem-se a impresso que a sada pela anlise da Dimenso Expressiva da imagem tem sido

    prolfica.

    Ao conseguir avanar nesta direo e introduzir a perspectiva da Dimenso Expressiva

    das imagens na indexao de fotografias, possibilita-se um levantamento de palavras-chaves

    que se coaduna melhor aos anseios dos usurios de imagens.

    O que a fotografia expressa e como ela expressa o que quer que seja o ponto crucial

    desta proposta: a resposta a estas perguntas, quando transformada em palavras-chaves, o

    principal diferencial que o usurio busca (at sem saber, por vezes) na pesquisa de fotografias.

    Depois da recepo da imagem na recuperao dentro de um sistema, o que norteia a escolha

    final justamente a Dimenso Expressiva fotogrfica. O contedo informacional est para a

    busca/recuperao/recepo (uso que se faz da imagem) assim como a dimenso expressiva

    da fotografia est para a escolha final do usurio (critrio de escolha da imagem).

    Ou seja: a Dimenso Expressiva vem se justapor ao contedo informacional,

    geralmente funcionando como um filtro na busca de imagens. Dificilmente algum busca uma

    imagem porque esteja enquadrada em plano americano, por exemplo, mas busca a imagem de

    Fulano em plano americano (e, portanto, no a imagem de Fulano em close...).

    As metodologias de anlise conhecidas notadamente a importante contribuio de

    Shatford Layne abordam a faceta o que a fotografia mostra. Entretanto, queremos crer que o

    usurio de acervos fotogrficos no se concentra apenas naquilo que a fotografia traz como

    contedo, mas na maneira como este contedo expresso, como ele aparece enquanto registro

    imagtico.

    Quando se resume uma fotografia, no apenas se reduz o seu texto imagtico em

    termos da unidade de contedo que ela representa, mas se escolhe uma entre vrias

    possibilidades de leitura que uma imagem permite (por causa da polissemia).

  • O processo de elaborao de resumos de imagens fotogrficas e de levantamento de

    termos para indexao est na base dessas preocupaes, pois neste momento que o

    profissional da informao realiza a tarefa mais importante em termos de anlise de contedo:

    a hora de reunir as palavras que faro com que o usurio se interesse ou no pelo

    documento.

    O objetivo da anlise documentria elaborar representaes condensadas daquilo que

    aparece em determinado documento e expressar o seu contedo de forma a facilitar a

    recuperao de suas informaes.

    Entretanto, no no emissor e na mensagem que se completam os objetivos da

    Cincia da Informao, que so organizar, comunicar e dar a conhecer a informao. Cabe ao

    receptor transformar a informao em conhecimento e estar imbudo de certa disposio

    epistemolgica e, assim, potencialmente, gerar outras informaes.

    Estas qualidades do receptor, usurio de instituies coletoras de informao, so

    igualmente importantes e necessrias na compreenso da descrio e da representao que se

    faz dos documentos no processo de documentao da informao, de suas regras e

    procedimentos.

    Alm disso, so desafios da Cincia da Informao (da Documentao, da

    Arquivologia, da indexao): volume (gradao) e deteco da realidade do referente para, em

    tempos digitais, bem atender ao pesquisador; por isso importante indexar o contedo

    informacional e a dimenso expressiva.

    Referncias

    BARTHES, Roland. A cmara clara: nota sobre a fotografia. 2 ed. Rio de Janeiro: Nova

    Fronteira, 1984. 185p.

    ______. A mensagem fotogrfica. In O bvio e o obtuso: ensaios crticos III. Rio

    de Janeiro: Nova Fronteira, 1990, p. 11-25.

    BENJAMIN, Walter. Pequena histria da fotografia, in Obras escolhidas; magia e tcnica,

    arte e poltica. 3 ed. So Paulo: Brasiliense, 1987, p. 91-107.

    CARNEIRO, Liliane B. Leitura de imagens da literatura infantil; desafios e perspectives na

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    LACERDA, Aline L. Os sentidos da imagem: fotografias em arquivos pessoais. Acervo, Rio

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    imagens fotogrficas para fins documentrios. 2002. 226p. Tese (Doutorado em Cincias

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    Miriam Paula Manini

    Doutora em Cincias da Comunicao pela Universidade de So Paulo USP. Professor Adjunto III da Universidade de Braslia UnB.

    E-mail: mpmanini@uol.com.br

    ANEXO 1

    Tabela 1: Tabela de Recursos Tcnicos Fotogrficos

    RECURSOS

    TCNICOS

    VARIVEIS

    Efeitos

    Especiais

    - fotomontagem - estroboscopia - alto-contraste - trucagens - esfumao

    tica - utilizao de objetivas (fish-eye, lente normal, grande-angular, teleobjetiva, etc.) - utilizao de filtros (infravermelho, ultravioleta, etc.)

    Tempo de

    Exposio

    - instantneo - pose - longa exposio

    Luminosidade - luz diurna - luz noturna - contraluz - luz artificial

    Enquadramento - enquadramento do objeto fotografado (vista parcial, vista geral, etc.) enquadramento de seres vivos (plano geral, mdio, americano, close, detalhe)

    Posio de

    Cmera

    - cmara alta - cmara baixa - vista area - vista submarina - vista subterrnea - microfotografia eletrnica - distncia focal (fotgrafo/objeto)

    Composio - retrato - paisagem - natureza morta

    Profundidade

    de Campo

    - com profundidade: todos os campos fotogrficos ntidos (diafragma mais fechado) sem profundidade: o campo de fundo sem nitidez (diafragma mais aberto)

    Fonte: (baseada em Smit, (1997, p. 6), com sugestes complementares. As variveis destes recursos tcnicos

    representam os termos referentes Dimenso Expressiva na anlise documentria de fotografias. Esta tabela no

    exaustiva nem completa. Est aberta s consequncias das transformaes tecnolgicas, como a fotografia

    digital e suas peculiaridades.

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