composta no bairro - correio popular

Post on 23-Jan-2017

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Muitos podem achar que a busca dareaproveitamento dos resíduosorgânicos é menos importante do quea preocupação com o plástico ou como vidro, que na natureza demorammuito mais tempo para desaparecertotalmente. Contra esse argumento, oengenheiro José Furtado apresentanúmeros que mostram que oproblema é a quantidade de resíduosorgânicos que, se descartados aolixo comum, geram um grandevolume e, principalmente, maucheiro. A Prefeitura de São Paulo, porexemplo, estima que 50% do total deresíduos recolhidos são de origemorgânica. Em Campinas, só a Centraisde Abastecimento S.A. (Ceasa)recolhe cerca de 680 toneladas deresíduos por mês, mais de 80% deorigem orgânica.

Entenda como funciona a composteiraFAÇA EM CASA

Engenheiroquer levaro projetopara escolas

Fabiano OrmanezeESPECIAL PARA A AGÊNCIA ANHANGUERA

fabiano.ormaneze@rac.com.br

Uma solu-ção ambien-tal marcadapelo equilí-brio entre osseres vivos eo uso de pro-cessos naturais para diminuir aquantidade de lixo que vai paraos aterros. Essa é a proposta doengenheiro José Furtado, quevive no distrito de Barão Geral-do, em Campinas. No dia a dia,é comum que, depois da limpe-za de jardins ou quintais, folhase galhos parem no lixo comum,não raro dentro dos sacos pre-tos de plástico, à espera da cole-ta. Também é assim com os re-síduos que saem da mesa: res-tos de alimentos se juntam aplásticos, papéis e vidros e tudoisso colabora para a saturaçãodos espaços destinados ao des-carte do lixo. A proposta de Fur-tado propõe uma mudança: sóvai para os aterros o que, de for-ma caseira e barata, não podeser reaproveitado.

Quando estava na etapa fi-nal do curso de pós-graduaçãoem sustentabilidade e respon-sabilidade social na Universida-de Estadual de Campinas (Uni-camp), em 2008, ele resolveuproduzir seu trabalho de con-clusão pesquisando de que for-ma era possível reaproveitar,com eficácia e sem poluir, osrestos das podas das árvores eplantas da Praça São João, tam-bém em Barão Geraldo. Foi aíque ele iniciou uma práticaque, hoje, já conta com o apoiocomunitário. O local, por sinal,é um exemplo de sustentabili-dade: moradores da região nãoquerem que as ruas sejam asfal-tadas, pensando no escoamen-to da água das chuvas.

Na redondeza, ninguémmais coloca as folhas tiradasdo quintal ou do jardim na li-xeira: tudo vai para um cantoda praça. Duas vezes por sema-na, Furtado vai até lá para orga-nizar o material: deixa o mon-te no tamanho ideal, remexeas folhas e mede a temperatu-ra. Para se decompor rapida-mente, o ideal é que os resí-duos estejam úmidos, mas aomesmo tempo bem quentes,para gerar fermentação. Emcerca de dois ou três meses, asfolhas, que antes incomodam,se tornam adubo orgânico pa-ra fertilizar os próprios quin-tais de onde foram retiradas.“Com isso, resolvem-se doisproblemas. O primeiro é quevamos fazer a nossa parte paradiminuir a quantidade de lixo.O segundo é que evitaremos ouso dos fertilizantes químicosem casa, principalmente emfunção dos animais, crianças edos idosos, mais sensíveis”, dizo engenheiro.

ExpansãoA ideia deu tão certo que Furta-do decidiu também expandir aproposta e criou a Compo,uma composteira que utilizaminhocas para decompor res-tos de legumes, frutas, hortali-ças, cascas de ovos e até papelpicado. “Pode parecer pouco,mas tudo isso ia colaborar parao aumento da quantidade de li-xo. E o que seria pior: muitagente se esquece que o plásticodemora milhares de anos parase decompor e acomoda essesresíduos em sacos plásticos”,afirma.

A composteira é simples e játem sido adotada por organiza-ções não governamentais (ON-Gs) e, principalmente, por famí-lias. Num recipiente de plásti-co, é colocado substrato e cer-ca de 700 gramas de minhoca-vermelha-da-califórnia, espé-cie que, ao contrário da co-mum, não tem a necessidadede cavoucar, o que permiteque elas vivam e se reprodu-zam em espaços menores.Além das minhocas, a Compoutiliza também os micro-orga-nismos aeróbicos que se for-mam naturalmente no substra-to e nos alimentos para ajudarna decomposição.

HúmusO processo não tem cheiroruim e gera o húmus, rico com-plemento que pode ser utiliza-do em hortas, vasos e jardins.“Esse método dá para ser utili-zado inclusive em apartamen-tos”, afirma Furtado. Quempensa que isso vai acabar coma estética da casa, se engana: acomposteira é montada numrecipiente de plástico, que seassemelha a uma vasilha do ti-po utilizado para guardar ali-mentos. As cores e o design po-dem variar a critério do usuá-rio. Como é feita de plástico, adurabilidade é indefinida.

Entre as sobras de comida,as únicas que não conse-guem ser decompostas peloprocesso são as gordurosasou as carnes. Uma compostei-ra com cerca de 50 centíme-tros de comprimento e 30 delargura é capaz de decompor,em média, os resíduos deduas pessoas. O tempo neces-sário varia de acordo com ca-da alimento. Um pedaço defruta, como uma manga, porexemplo, leva cerca de umasemana para se transformarem húmus.

Composteira promoveo equilíbrio natural

SAIBA MAIS

1. Num recipiente deplástico, são colocados

substrato e minhocas.

2. Restos de alimentoscomo hortaliças, cascas

de frutas e ovos, pó de café,legumes, pães, folhas e floressão depositados, deslocandodelicadamente cerca de dois

centímetros do substrato.Para facilitar a decomposição,resíduos duros como brócolise cenoura podem ser picadosem pedaços menores.

3. Para manter atemperatura, por cima, é

colocado papel picado. Emdias muito quentes, será

preciso borrifar água paramanter a umidade necessáriapara a compostagem.

4. Quando o substratoestiver ocupando pouco

mais da metade da altura dorecipiente, é hora de iniciar aretirada do húmus. Para queas minhocas não saiam junto,

um tática é puxar o substratodelicadamente,acumulando-o de um lado dorecipiente. Em seguida,comece a colocar os resíduosapenas no lado vazio. Aospoucos, as minhocas irãomigrar para a parte com osalimentos e o húmus poderáser retirado sem as minhocas.

Além de reduzir descarte em lixões, processo produz adubo

O engenheiro José Furtado,criador da composteira, tam-bém se preocupa em geraruma proposta de educação am-biental. Como ele mora próxi-mo à Sociedade Promenor,que atende crianças e adoles-centes carentes, ele decidiu aju-dar na decomposição dos resí-duos orgânicos. Todos os res-tos de alimentos, principalmen-te cascas e restos de frutas e le-gumes são levados para o quin-tal do engenheiro para seremdecompostos. “Com isso, a gen-te também ajuda as crianças aentenderem a importância dese pensar em alternativas”, afir-ma Furtado.

A ideia do engenheiro é ex-pandir o projeto também paraescolas, com o objetivo de unira proposta de educação am-biental também a outras disci-plinas, como matemática e geo-grafia. “Com a composteira, dápara desenvolver atividades in-terdisciplinares, envolvendocálculos de porcentagem e pro-porção, além de discutir os ti-pos de solos e suas característi-cas”, explica.

O projeto da composteirade Furtado já está sendo reco-nhecido. Na semana que vem,ele vai apresentá-la durante aMostra de Tecnologias Susten-táveis, do Instituto Ethos, emSão Paulo. A Compo está entreos produtos selecionados paraparticipar do evento por um co-mitê curador, composto por re-presentantes de entidades liga-das à sustentatiblidade, a partirde critérios como a potenciali-dade de reaplicação, evidên-cias de melhorias comprova-das no meio ambiente, na qua-lidade de vida ou no desenvolvi-mento sustentável. (FO/AAN)

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A MINHOCAA minhoca-vermelha-da-califórnia, cujo nome científico é Lumbricus rubellus, é a espécie de minhoca mais criada nos Estados Unidos e no Brasil,e considerada o melhor tipo para criação comercial, também por causa da sua capacidade de adaptação às mais diversas regiões. O diferencial éque elas não precisam cavar o solo, já que conseguem sobreviver com pouca terra e sob as folhas que caem das árvores. Elas também são maisrápidas na produção do húmus.

Pesquisador estimulaprocessamento caseirodo lixo com a Compo

Fotos: Augusto de Paiva/AAN

MEIO AMBIENTE ||| RESÍDUOS

O engenheiro José Furtado na Praça São João, em Barão Geraldo, onde realiza um trabalho de compostagem com o apoio da população

A12 CORREIO POPULAR CIDADESCampinas, quinta-feira, 6 de maio de 2010

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