cicero matias - monografia - versão final
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHO
CENTRO DE CINCIAS SOCIAIS
CURSO DE DIREITO
CCERO MATIAS FERREIRA DO NASCIMENTO NETO
IMPLANTAO DO PROCESSO JUDICIAL ELETRNICO NA JUSTIA DO TRABALHO: um importante passo para a modernizao do judicirio
trabalhista
So Lus
2013
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CCERO MATIAS FERREIRA DO NASCIMENTO NETO
IMPLANTAO DO PROCESSO JUDICIAL ELETRNICO NA JUSTIA DO TRABALHO: um importante passo para a modernizao do judicirio
trabalhista
Monografia apresentada ao Curso de Direito da Universidade Federal do Maranho para obteno do ttulo de Bacharel em Direito.
Orientador: Prof. MSc. James Magno Arajo
Farias
So Lus
2013
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CCERO MATIAS FERREIRA DO NASCIMENTO NETO
IMPLANTAO DO PROCESSO JUDICIAL ELETRNICO NA JUSTIA DO TRABALHO: um importante passo para a modernizao do judicirio
trabalhista
Monografia apresentada ao Curso de Direito da Universidade Federal do Maranho para obteno do ttulo de Bacharel em Direito.
Aprovada em ____/____/
BANCA EXAMINADORA
______________________________________________________________
Prof. James Magno Arajo Farias (Orientador) Mestre em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco
Universidade Federal do Maranho
______________________________________________________________
1 Examinador
______________________________________________________________ 2 Examinador
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A Deus, fonte de toda inspirao.
A Maria Eduarda, querida filha, pelo sorriso e
alegria constantes, que do um colorido todo
especial aos meus dias e fazem qualquer esforo
valer a pena.
A minha esposa, Daniela, pelo apoio, carinho e
compreenso constantes.
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AGRADECIMENTOS
Agradecemos a todos aqueles que direta ou indiretamente contriburam para
que a elaborao deste trabalho fosse possvel, em especial ao professor James
Magno Arajo Farias pela disposio constante e orientao segura.
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Devemos o progresso aos insatisfeitos.
Aldous Huxley
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R E S U M O
O processo eletrnico no judicirio trabalhista. O processo instrumento empregado
pelo estado para resoluo de conflitos, funcionando como meio de pacificao
social. Nos ltimos anos, um movimento iniciado pelo Conselho Nacional de Justia
(CNJ) tem ganhado fora. Tal movimento tem por fim a implantao de um processo
eletrnico em mbito nacional e que integre todas as jurisdies atravs de um
sistema eletrnico de informaes. A filosofia do processo judicial eletrnico (PJe)
faz uso de vrias tecnologias, dentre elas a certificao digital, que fundamental no
que tange segurana e confiabilidade do PJe. O Processo Judicial Eletrnico da
Justia do Trabalho (PJe-JT) a contribuio do judicirio trabalhista para o projeto
do CNJ. O PJe-JT tem por base vrios diplomas legais, dentre os quais merecem
destaque a Medida Provisria n 2.200-2/2001, a Lei Nacional do Processo Judicial
Eletrnico (Lei n 11.419/2006), e a Resoluo n 94/2012 do Conselho Superior da
Justia do Trabalho. O PJe-JT j uma realidade no mbito do Judicirio
Trabalhista. Ele j est em pleno funcionamento em vrios Regionais e em pouco
tempo deve estar presente em 100% da jurisdio especial do Trabalho.
Palavras-chave: Direito Eletrnico. Processo Judicial Eletrnico. Justia do Trabalho.
Direito Processual do Trabalho.
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A B S T R A C T
The electronic process in court labor. The process state is an instrument
employed by the for conflict resolution, working as a means of social pacification. In
recent years, a movement started by the National Council of Justice (CNJ) has
gained strength. This move is aimed to implement a nationwide electronic process
which integrates all jurisdictions through an electronic information system. The
philosophy of the judicial process electronic (PJe) makes use of various
technologies, among them digital certification, which is key when it comes to safety
and reliability of the PJe. The Judicial Process Electronic Labor Justice (PJe-JT) is
the contribution of the court labor for the CNJs project. The PJe-JT is based on
various legal texts, noteworthy among which the Provisional Measure No. 2.200-
2/2001, the National Law Lawsuit Electronic (Law No. 11.419/2006), and Resolution
No. 94/2012 of the Supreme Council the Labour Court. The PJe-JT is already a
reality within the Judiciary Labour. He is already up and running in several Regional
and soon should be present in 100% of the special jurisdiction of Labour.
Keywords: Electronic Law. Electronic Judicial Process. Labor Court. Procedural Law of Labor.
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LISTA DE ILUSTRAES
Figura 1: (a) Certificados digitais em Carto. (b) Leitora de Certificado. (c) Token............... 49 Figura 2: Analogia entre o processo de expedio de um RG e de um certificado digital..... 51 Figura 3: Estrutura da ICP-Brasil. ........................................................................................ 56 Figura 4: Tela inicial do Sistema PJe-JT .............................................................................. 66 Figura 5: Tela para informao do PIN no Sistema PJe-JT .................................................. 66 Figura 6: Tela inicial do PJe-JT, apresentada ao usurio autenticado ................................. 67 Figura 7: Menus do PJe-JT .................................................................................................. 67
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LISTA DE ABREVEATURAS E SIGLAS
AC Autoridade Certificadora AC-Raiz Autoridade Certificadora Raiz AR Autoridade de Registro Art. Artigo CF Constituio Federal CLT Consolidao das Leis do Trabalho CNJ Conselho Nacional de Justia CPC Cdigo de Processo Civil CSJT Conselho Superior da Justia do Trabalho DEJT Dirio Eletrnico da Justia do Trabalho ICP Infraestrutura de Chaves Pblicas IN Instruo Normativa ITI Instituto Nacional de Tecnologia da Informao JDT Justia do Trabalho PJe Processo Judicial Eletrnico PJe-JT Processo Judicial Eletrnico da Justia do Trabalho Portal-JT Portal da Justia do Trabalho TRT Tribunal Regional do Trabalho TST Tribunal Superior do Trabalho
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S U M R I O
LISTA DE ILUSTRAES .................................................................................................... 9
LISTA DE ABREVEATURAS E SIGLAS ............................................................................ 10
INTRODUO .................................................................................................................... 13
1 PROCESSO: VISO GERAL ................................................................................... 15
1.1 O Estado e o Processo ........................................................................................... 15
1.2 Estado, conflito e jurisdio ................................................................................... 16
1.2.1 Conceito de jurisdio ............................................................................................... 19
1.2.2 Princpios da jurisdio ............................................................................................. 20
1.2.3 Espcies de jurisdio ............................................................................................... 21
1.3 Processo, Procedimento e Autos .......................................................................... 24
1.4 Processo do Trabalho: histrico, conceito, caractersticas e autonomia ........... 25
1.5 Primeiros passos na informatizao do processo ............................................... 28
2 A REGULAMENTAO LEGAL DO PROCESSO JUDICIAL ELETRNICO ......... 30
2.1 A Medida Provisria n 2.200-2/2001 ...................................................................... 30
2.2 A Lei 11.419 de 19 de dezembro 2006 .................................................................... 33
2.2.1 Da informatizao do processo judicial ..................................................................... 34
2.2.2 Da comunicao eletrnica dos atos processuais ..................................................... 36
2.2.3 Do Processo Eletrnico ............................................................................................. 38
2.2.4 Das disposies gerais ............................................................................................. 39
2.3 A Instruo Normativa (IN) n. 30 do Tribunal Superior do Trabalho - TST ........ 40
2.3.1 O Peticionamento Eletrnico e o e-DOC ................................................................... 41
2.4 A Resoluo CSJT n 94, de 23 de maro de 2012 ............................................... 43
2.4.1 Viso geral da Resoluo 94/2012 ............................................................................ 43
2.4.2 Dos Comits Gestores .............................................................................................. 45
2.5 A vigncia da IN 30/2007 do TST e a Resoluo n. 90/2012 do CSJT ................. 46
3 O PJe-JT E SUAS TECNOLOGIAS ......................................................................... 48
3.1 O que o PJe-JT? ................................................................................................... 48
3.2 As tecnologias envolvidas ..................................................................................... 49
3.2.1 Certificado Digital ...................................................................................................... 49
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3.2.2 Assinatura digital e assinatura digitalizada ................................................................ 51
3.2.3 A Infraestrutura de Chaves Pblicas Brasileira (ICP-Brasil) ...................................... 52
3.3 A Questo da segurana da informao ............................................................... 56
3.4 Vantagens do PJe-JT .............................................................................................. 60
3.4.1 A economia processual ............................................................................................. 61
3.4.2 A celeridade processual ............................................................................................ 61
3.4.3 A responsabilidade socioambiental ........................................................................... 62
3.4.4 A ubiquidade do processo ......................................................................................... 63
3.5 PJe-JT, o software................................................................................................... 64
3.6 Acessando o Sistema ............................................................................................. 65
3.6.1 Os atores do sistema ................................................................................................ 67
3.6.2 O jus postulandi no PJe-JT ....................................................................................... 68
4 CONCLUSO ........................................................................................................... 70
REFERNCIAS ................................................................................................................... 71
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INTRODUO
O Estado moderno tem dentre suas funes, aquela de absorver para si a
resoluo de conflitos, e o faz por meio da prestao jurisdicional. O processo tem,
pois, funo de grande relevncia no meio social, j que por meio dele,
observados os princpios que o norteiam contraditrio, ampla defesa, razovel
durao, publicidade etc. que possvel figura estatal dirimir as questes que a
ela so apresentadas.
Nesse sentido, todo esforo que se afigure til para melhoria da prestao
jurisdicional valido e deve ser incentivado. Pensando dessa forma, o Conselho
Nacional de Justia deu inicio a um projeto com vistas implantao do Processo
Judicial Eletrnico (PJe) em mbito nacional. Esse esforo conta com o apoio de
vrios outros rgos do judicirio e j est em plena implantao na Justia do
Trabalho. O principal produto oriundo desta iniciativa um sistema de informao, o
Processo Judicial Eletrnico da Justia do Trabalho, ou PJe-JT.
Diante disso e por meio da utilizao do mtodo dedutivo, procurou-se no
presente trabalho analisar as vantagens da implantao da filosofia do processo
judicial eletrnico na Justia do Trabalho. Aplicou-se para tanto, tcnicas de
pesquisa documental e bibliogrfica, por meio de anlise doutrinria acerca do tema,
bem como consulta a matrias e documentos veiculados preferencialmente em sites
governamentais.
O trabalho divide-se da seguinte forma: no primeiro captulo do trabalho faz-
se breves consideraes acerca da teoria geral do processo, abordado conceitos
com estado, conflito e jurisdio. Acerca da jurisdio, falou-se dos princpios que a
norteiam, trazendo ainda as espcies de jurisdio. No que tange ao processo,
houve a necessidade de apresentar a diferena entre a figura do processo, do
procedimento e dos autos processuais. Neste captulo deu-se nfase ao processo
do trabalho, quando se tratou de sua histria, conceito caractersticas e autonomia
em relao ao direito processual de forma geral. Por fim, encerrando a viso geral
do processo, falou-se dos primeiros esforos rumo informatizao processual.
O segundo captulo destinou-se abordagem da legislao correlata
questo do Processo Eletrnico, de forma que foram abordados alguns diplomas
legislativos essenciais efetivao de um Processo Judicial Eletrnico nos moldes
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do PJe-JT. Dentre as normas tratadas, esto a Medida Provisria n 2.200-2/2001, A
Lei Nacional 11.419/2006, A Instruo Normativa n 30/2007 do Tribunal Superior do
Trabalho e a Resoluo n 94/2012 do Conselho Superior da Justia do Trabalho. O
estudo de forma holstica deste arcabouo normativo permite perceber a estrutura
legal em que se sustenta o PJe-JT.
O Captulo terceiro destinou-se anlise das tecnologias envolvidas na
construo do PJe-JT, bem como a fazer uma breve apresentao do Sistema de
Informao que representa o Processo Judicial Eletrnico. Nele so abordadas
questes com a certificao digital, assinaturas eletrnicas, criptografia,
infraestrutura de chaves pblicas e segurana da informao. Ainda neste captulo
foram apresentadas algumas das principais vantagens do Processo Eletrnico,
como a economia e celeridade processuais, a responsabilidade socioambiental e a
ubiquidade do processo em meio virtual. Enfim, feita uma apresentao do novo
Sistema Processual da Justia do Trabalho para a tramitao eletrnica de
processos. Algumas ilustraes do Sistema so apresentadas e tecidos comentrios
sobre a estrutura deste, falando-se por exemplo, dos atores do Sistema e da
questo do Jus Postulandi ante o PJe-JT.
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1 PROCESSO: VISO GERAL
1.1 O Estado e o Processo
O nascimento do processo e do direito processual esto intimamente ligados
ao surgimento do Estado moderno. Tal premissa se fundamenta no fato de que
quando o homem firmou com seus pares um acordo implcito, cedendo parte de sua
liberdade em favor do bem comum, originando assim o ente abstrato a que
conhecemos como Estado, ele outorgou a este ente a prerrogativa de chamar para
si a resoluo dos conflitos que se instalam no seio social.
Rousseau (2007, p. 10), lanando as bases da figura estatal, bem
caracterizou esta situao, quando falou daquilo que conceituou como contrato
social. Segundo ele, cada um de ns pe em comum sua pessoa e toda a sua
autoridade, sob o supremo comando da vontade geral, e recebemos em conjunto,
cada membro como parte indivisvel do todo.
O filsofo segue dizendo:
Logo, ao invs da pessoa particular de cada contratante, esse ato de associao produz um corpo moral e coletivo, composto de tantos membros quanto a assembleia de vozes, o qual recebe desse mesmo ato sua unidade, seu eu comum, sua vida e sua vontade. A pessoa pblica, formada assim pela unio de todas as outras, tomava outrora o nome de cidade, e toma hoje o de repblica ou corpo poltico, o qual chamado por seus membros: Estado, quando passivo; soberano, quando ativo; autoridade, quando comparado a seus semelhantes. No que concerne aos associados, adquirem coletivamente o nome de povo, e se chamam particularmente cidados, na qualidade de participantes na autoridade soberana, e vassalos, quando sujeitos s leis do Estado. (ROSSEAU, 2007, p.10, grifo nosso).
Acerca da funo do Estado moderno Grinover, Cintra e Dinamarco (2010,
p. 31) colocam:
Afirma-se que o objetivo-sntese do Estado contemporneo o bem comum, e quando se passa ao estudo da jurisdio, licito dizer que a projeo particularizada do bem-comum nessa rea a pacificao com justia. O estado brasileiro quer uma ordem social que tenha como base o primado do trabalho e como objetivo o bem-estar e a justia sociais (art. 193) e considera-se responsvel pela sua efetividade. Para o cumprimento desse desiderato, prope-se a desenvolver a sua variada atividade em benefcio da populao, inclusive intervindo na ordem econmica e na
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social na medida em que isso seja necessrio consecuo do desejado bem-comum, ou bem-estar social.
Assim, cabe ao Estado promover o bem comum, a paz e a justia sociais, e
uma das formas de isso se concretizar atravs da boa administrao da justia.
Por isso, tem lugar a figura do Processo como meio para a resoluo das lides
atravs de um sistema estruturado, guiado por princpios e normas que busca, de
forma imparcial e justa, dirimir os conflitos, reconhecendo aquele que tem a razo e
prestando a atividade jurisdicional.
1.2 Estado, conflito e jurisdio
O conflito elemento constitutivo e natural do meio social. caracterstica
do homem a individualidade, a comear da estrutura fsica, onde as caractersticas
variam imensido e sequer as digitais de um so iguais do outro; assim, diversas
outras caractersticas tanto de ordem fsica, quanto psicolgica, diferenciam as
vrias personalidades humanas; de outro modo no acontece com relao aos
desejos, anseios, objetivos, expectativas e tendncias da figura humana.
Assim, a harmonia na convivncia intersubjetiva se mostra permeada de
choques de interesses e vontades, onde, de quando em quando, eclode uma
pendenga entre os atores sociais, a qual, a bem da coletividade, deve ser sanada o
quanto antes, pois a indefinio nascida da no resoluo dos litgios que afloram no
grupo fonte de insatisfao, de instabilidade e de insegurana. Por isso mesmo,
pode-se asseverar que o conflito uma antinomia, ou uma patologia social, logo
indesejada, e que precisa ser expurgada do meio para que os cidados vivam
melhor.
Uma das formas de se considerar a resoluo dos conflitos sob o prisma
de onde parte a soluo. Assim sendo, a eliminao dos conflitos pode ser verificada
por obra de um ou de ambos os litigantes, ou por interferncia de um terceiro.
Quando a resoluo se d pela atuao unicamente dos prprios conflitantes, pode-
se ter a autocomposio na qual uma ou ambas as partes fazem concesses
recprocas para resolver a pendncia , ou a autotutela (tambm chamada
autodefesa), onde uma parte sacrifica o interesse alheio atravs da fora. Quando
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h a influncia de um terceiro, pode se falar em defesa de terceiro, conciliao,
mediao ou processo.
Na primitividade da civilizao, por conta da inexistncia de um Estado
suficientemente forte e organizado para se imiscuir nas questes particulares,
resolver o conflito e impor suas decises, a autotutela foi bastante utilizada como
forma de resoluo dos litgios, lembrando que sequer havia normas de carter geral
a serem aplicadas nas decises das lides que surgiam. Desta forma, aquele que
pretendesse alguma coisa pertencente a outrem, deveria, por meio de sua fora,
conseguir o bem da vida desejado. Disto se vislumbra duas caractersticas da
autotutela que seriam (1) a ausncia de juiz distinto das partes e (2) a imposio da
vontade de uma das partes outra. A autodefesa mecanismo precrio, vez que
no se baliza em critrios que busquem a justia, o dar a cada um o que seu,
mas se baseia na lei do mais forte. desencorajada e, mesmo reprovada, no
ordenamento jurdico atual. Nessa linha, Silva (2003, p. 08) ratifica:
A necessidade do processo judicial representa um custo para todos os titulares de direitos ou de outros interesses legalmente protegidos pela ordem jurdica estatal, medida que, estabelecido o monoplio da jurisdio, como uma decorrncia natural da formao do Estado, afasta-se definitivamente a possibilidade das reaes imediatas tomadas pelos titulares para a pronta observncia e realizao do prprio direito. A ideia de processo afasta a ideia de instantaneidade da reao que o titular do direito ofendido poderia ter, se no tivesse de submet-lo, antes, ao crivo de uma investigao sempre demorada, tendente a determinar sua prpria legitimidade (grifos nossos).
No que tange autocomposio, ela se estende, de forma residual, at os
dias atuais e consiste numa espcie de acordo entre as partes, sem a ingerncia de
terceiros. A autocomposio pode se dar de trs formas, a saber, a desistncia,
onde a parte renuncia sua pretenso; a submisso, onde a parte desiste de
oferecer resistncia pretenso; e a transao, na qual h concesses recprocas.
de se perceber que todas essas formas de resoluo de conflitos partilham da
caracterstica de dependerem da vontade das partes envolvidas, de ambas, ou de
uma delas, o que pode, muitas vezes levar a resoluo da lide demora excessiva,
ou inviabiliz-la. Tal fato levou os indivduos a preferirem a busca de rbitros,
pessoas de sua confiana, normalmente sacerdotes ou ancios, para decidirem
suas lides, evitando assim as formas autocompositivas.
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Acerca destes institutos autotutela, autocomposio e arbitragem
anteriormente ao surgimento do Estado como o conhecemos hoje, Grinover, Cintra e
Dinamarco (2010, p. 28) destacam que, na autotutela, aquele que impunha sua
vontade ao adversrio no cogitava da possibilidade de apresentar ou pedir
declarao da existncia de direito a outrem, mas simplesmente satisfazia sua
pretenso pelo emprego da fora. J na autocomposio e na arbitragem, o que
havia era a mera fixao da existncia ou no do direito, pois o cumprimento da
deciso, naqueles tempos iniciais, continuava a depender da imposio de soluo
violenta parcial, ou seja, atravs da autotutela.
A participao do Estado na soluo dos conflitos e a sua tendncia em
absorver a autoridade de fulminar os litgios, foi se dando paulatinamente, medida
que o ente estatal foi se afirmando e conseguindo impor-se aos particulares, atravs
da invaso da esfera de liberdade destes.
Mais uma vez so Grinover, Cintra e Dinamarco (2010) que fazem uma
breve viagem histrica para delimitar no tempo o lanamento das bases da figura
estatal como centralizadora da resoluo de conflitos no seio da sociedade. Os
autores destacam o surgimento da figura do pretor e do legislador, por volta do
sculo II a.C., destacando que o juiz, representado esta poca pelo pretor, surgiu
primeiro que o legislador, pois este s veio aparecer quando se percebeu a
necessidade de procurar facilitar a sujeio das partes s decises do terceiro, o
que foi buscado atravs do estabelecimento de regras abstratas, destinadas a servir
de critrio objetivo e vinculativo para tais decises, objetivando afastar o temor de
julgamentos arbitrrios e subjetivos. Nasceu a a figura do legislador, que tem como
marco a Lei das XII tbuas, datada de 450 a.C.
O passo seguinte nessa evoluo histrica veio com a invaso, pelo pretor
de rea que antes no lhe pertencia. Este, contrariando a ordem preestabelecida
passou conhecer ele prprio do mrito dos litgios entre os particulares, proferindo a
sentena diretamente, em vez de nomear um rbitro para faz-lo, como era de praxe
at ento. Com isso concluiu-se um ciclo histrico do que se convencionou chamar
justia privada, tendo incio a justia pblica, onde o Estado, agora j fortalecido, se
impe aos particulares e, prescindindo da vontade destes, impe-lhes
autoritariamente a soluo para os conflitos interpessoais.
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1.2.1 Conceito de jurisdio
Rocha (2010, p. 64) conceitua jurisdio como a funo estatal que tem a
finalidade de garantir a eficcia dos direitos em ltima instancia no caso concreto,
inclusive recorrendo fora, se necessrio. Pela jurisdio os juzes agem em
substituio s partes, que no podem fazer justia com as prprias mos, j que no
estado moderno vedada a autodefesa. Aos jurisdicionados, que no mais podem
agir, resta-lhes a possibilidade de fazer o Estado agir, provocando o exerccio da
funo jurisdicional.
Perceba-se que a jurisdio forma de resoluo heternoma de conflitos,
de cunho eminentemente estatal, j que, por meio dela que o Estado resolve os
conflitos intersubjetivos na sociedade moderna. Exaltando a importncia da
jurisdio, bem como situando a jurisdio trabalhista no bojo da Constituio
Federal vigente, Nascimento (2009, p. 23) pontua:
A jurisdio para a soluo de conflitos a mais generalizada possvel, porque no h pas que proba a soluo de conflitos trabalhistas pelo Poder Judicirio, de modo que a diferena entre os pases est na maior ou menor atuao jurisdicional e na sua especializao ou no. A jurisdio, vista no plano histrico, resultada da passagem da ao fsica (autodefesa) para a ao jurdica (processo judicial). Maiores so as possiblidades de um desfecho justo e pacfico do conflito, desde que, realmente, fonte de deciso se atribuam a fora e a independncia necessrias. Por tal motivo a jurisdio funo do Estado, porque tem condies melhores para fazer cumprir as decises que provm de um rgo constitudo para o fim especfico de decidir, o Poder Judicirio. A jurisdio trabalhista est fundada na Constituio Federal, que prev, entre os poderes que integram a Repblica, o Judicirio (CF, art. 92 e s.) inclusive tribunais e juzes do trabalho (art. 111), e assegura a inafastabilidade do direito ao exerccio da jurisdio (art. 5, XXXV).
Vale lembrar ainda que a jurisdio pode ser vista sobre trs aspectos, a
saber: poder, funo e atividade. Como poder ela a manifestao da prerrogativa
estatal de decidir imperativamente e de impor suas decises ao jurisdicionado.
Como funo se consubstancia no encargo ou dever do ente estatal de pacificar os
conflitos intersubjetivos que eclodam no seio social, e que requeiram sua atuao. A
efetivao da funo jurisdicional se d por meio do processo, buscando a
concretizao do direito de forma justa. J o vis da jurisdio como atividade
consiste no conjunto de atos do juiz ao desenvolver o processo, onde este, atravs
do poder do qual investido, cumpre a funo que lhe compete.
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1.2.2 Princpios da jurisdio
Noticiam-nos Grinover, Cintra e Dinamarco (2010, p. 155) que em todos os
pases a jurisdio informada por alguns princpios fundamentais, os quais, com ou
sem expressa previso em lei, so universalmente aceitos. Dentre estes, os autores
destacam: a) investidura; b) aderncia ao territrio; c) indelegabilidade; d)
inevitabilidade; e) inafastabilidade; f) juiz natural; g) inrcia. Analisemos de forma
sinttica cada um deles, sob a tica dos autores citados.
O princpio da investidura informa que a jurisdio s ser exercida por que
tenha sido regularmente investido na autoridade de juiz. J se disse que a jurisdio
monoplio da pessoa jurdica estatal, a qual a exerce atravs de pessoas fsicas,
que so seus agentes. Essas pessoas so os juzes.
O princpio da aderncia ao territrio ou da territorialidade preconiza que a
jurisdio somente atua dentro dos limites territoriais de soberania do Estado.
Considerando ainda que os juzes so distribudos em comarcas (Justias
Estaduais) ou entrncias (Justia Federal), decorre que cada magistrado tem
atuao limitada ao territrio sujeito sua jurisdio por determinao legal.
O princpio da indelegabilidade tem previso constitucional expressa e
informa que defeso a qualquer dos poderes delegar suas atribuies. a prpria
Constituio Federal que fixa o contedo as atribuies do Poder Judicirio e nem
mesmo a lei infraconstitucional pode alterar tal distribuio de atribuies.
O princpio da inevitabilidade diz que, por ser a jurisdio prerrogativa
estatal, ela se impe por si mesma, independente da vontade das partes . A situao
das partes ante o Estado-juiz de sujeio, que independe da vontade destas e
consiste na impossibilidade de evitar que sobre elas e sobre sua esfera de direitos
seja exercida a autoridade estatal.
Tem fulcro no artigo 5, inciso XXX1 da Constituio federal o princpio da
inafastabilidade e aduz que uma vez trazida uma pretenso a juzo, no pode o
Estado se esquivar de dar uma resposta a esta pretenso. Perceba-se que
possvel haver lacuna na lei, mas no no direito. Da que o Cdigo de Processo Civil
1 A lei no excluir da apreciao do Poder Judicirio leso ou ameaa a direito; (CF, art. 5, inc. XXXV)
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reza no artigo 126 que o juiz no poder se eximir de sentenciar ou despachar
alegando lacuna ou obscuridade na lei. No julgamento da lide caber-lhe- aplicar as
normas legais e, em no as havendo, recorrer analogia, aos costumes e aos
princpios gerais do direito.
Tem-se em decorrncia do princpio do juiz natural que ningum ser
privado de julgamento por magistrado independente e imparcial, indicado pelas
normas constitucionais e legais. A Constituio da Repblica veda ainda a
possiblidade de existncia dos chamados tribunais de exceo.
J o princpio da inrcia informa que o judicirio, em regra, no pode agir de
ofcio, mas somente em decorrncia da provocao do jurisdicionado. Como
fundamento para este princpio, lembre-se que existem outras formas de resoluo
de conflitos, tais como a autocomposio, a conciliao extraprocessual, a
arbitragem etc. O Estado deve deixar aos particulares que procurem os meios
possveis, e que eles mesmos venham a provoc-lo caso no consigam resolver a
lide de outra forma.
1.2.3 Espcies de jurisdio
A jurisdio, considerada como o poder soberano do Estado, a rigor no
comporta divises:
[...] falar em diversas jurisdies num mesmo Estado significaria afirmar a existncia, a, de uma pluralidade de soberanias, o que no faria sentido. A jurisdio , em si mesma, to una e indivisvel quanto o prprio poder soberano. A doutrina, porm, fazendo embora tais ressalvas, costuma falar em espcies de jurisdio, como se esta comportasse classificao em categorias (GRINOVER; CINTRA; DINAMARCO, 2010, p. 160).
A diviso costumeira feita pela doutrina majoritria classifica a jurisdio nas
seguintes espcies: (1) sob a tica de seu objeto: jurisdio penal ou civil; (2) tendo
em vista os rgos judiciais que a exercem: especial ou comum; (3) considerando o
vis da hierarquia dos rgos jurisdicionais: superior ou inferior, e, por fim, (4) pelo
critrio da fonte do direito, em que se funda o julgamento: jurisdio de direito e de
equidade. Passamos, a seguir, a analisar cada uma dessas espcies, procurando
destacar as suas peculiaridades.
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Jurisdio penal ou civil
comum se dividir as demandas judiciais em penais e no penais. Estas
ltimas, chamadas de demandas civis, so, por excluso, todas aquelas que no
tm cunho penal, sendo que estas tm natureza punitiva, e, via de regra, podem
afetar a esfera de liberdade do indivduo, sendo por isso mesmo, a ultima ratio do
Estado, s devendo se empregadas quando todos os demais meios se mostrarem
ineficazes. A jurisdio penal exercida pelos juzes estaduais comuns, Justia
Militar Federal, Justia Federal e Justia Eleitoral. Vale destacar que apenas a
Justia do Trabalho no tem atribuio de competncia penal.
Percebe-se que a jurisdio civil bastante ampla, j que abarca todo o
resduo da jurisdio dita penal. Considerando-a em sentido latu, ela exercida
pelas Justias Federal, Estadual, Trabalhista e Eleitoral, s no cabendo Justia
Militar. Se considerada de forma estrita, onde atuar apenas nas demandas que
envolvam o processo civil, ela competir apenas s Justias Estadual e Federal.
Jurisdio comum ou especial
Essa diviso feita pela doutrina considerando as regras de competncia
definidas na prpria Lei Maior. Assim, aqueles organismos judicirios cuja prpria
natureza das demandas em que atuam apresenta alguma especialidade ou
especificidade, incluem-se na esfera da chamada jurisdio especial. Da tem-se
como justias especiais, a Trabalhista, a Eleitoral e a Militar. A jurisdio comum
ocupa-se, por excluso, de toda a matria que no abarcada por algum dos ramos
especiais da jurisdio. Compem a jurisdio comum a Justia Federal e as
Justias Estaduais ordinrias.
Jurisdio superior ou inferior
A existncia de graus de jurisdio se funda no fato de que o ser humano
inconformado por natureza. Deste modo, aquele que sucumbe em uma demanda
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23
judicial deseja ver a questo reexaminada por rgo diferente daquele que proferiu a
sentena. Assim, o rgo jurisdicional que examina inicialmente a matria tido
como jurisdio inferior, no sentido de estar hierarquicamente abaixo daquele outro
rgo que reapreciar a questo em sede recursal, sendo este ltimo, por isso
mesmo conhecido como jurisdio superior. Os rgos da jurisdio inferior so
chamados de rgos de primeira instncia, e os de jurisdio superior, de rgos de
segunda instncia.
No mbito trabalhista, a primeira instncia exercida pelos juzes do
trabalho, titulares ou substitutos, rgos monocrticos; j a segunda instncia
representada pelos Tribunais Regionais do Trabalho, rgos de natureza colegiada.
Jurisdio de direito e de equidade
Grinover, Cintra e Dinamarco (2010, p. 166) classificam ainda a jurisdio
como podendo ser de direito e de equidade. A jurisdio de equidade, em
contraposio de direito, tem previso no art. 27 do Cdigo de Processo Civil, que
assim reza: o juiz s decidir por equidade nos casos previstos em lei. A deciso
por equidade consiste em decidir o julgador sem as amarras impostas pela lei, e
cabvel quando o legislador constri a lei, deixando certa margem para a
individualizao da norma pelo poder judicirio, caso a caso. Sobre o tema,
transcreve-se os autores citados:
Decidir por equidade significa decidir sem as limitaes impostas pela precisa regulamentao legal; que s vezes o legislador renuncia a traar desde logo na lei a exata disciplina de determinados institutos, deixando uma folga para a individualizao da norma atravs dos rgos judicirios (CC, arts.400 e 1.456). nesses casos que o juiz exerce a jurisdio de equidade, a que se refere a doutrina em contraposio jurisdio de direito. No direito processual civil, sua admissibilidade e excepcional (CPC, art. 127), mas nos processos arbitrais podem as partes convencionar que o julgamento seja feito por equidade (LA, art. 11, inc. II). Na arbitragem ajustada perante os juizados especiais, o julgamento por equidade sempre admissvel, independentemente de autorizao pelas partes (lei n. 9.099, de 26.9.1995, art.25). No processo penal o juzo de equidade a regra geral (individualizao judiciaria da pena- CB art. 42); tambm nos feitos de jurisdio voluntria, e m que o juiz pode "adotar em cada caso a soluo que reputar mais conveniente ou oportuna (CPC, art. 1.109).
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24
1.3 Processo, Procedimento e Autos
O conceito de processo no mbito do direito no raramente confundido
com a ideia de procedimento, ou mesmo com os autos. Analisemos cada um desses
institutos procurando afastar as controvrsias que reinam no tocante conceituao
dos mesmos, sempre lembrando que o ato de conceituar terreno perigoso e
escorregadio, cujo esforo se justifica principalmente pela questo didtica.
O processo, do ponto de vista jurdico, pode ser visto como o instrumento do
qual se vale o Estado para dirimir os litgios que a ele so submetidos, prestando a
tutela jurisdicional. Etimologicamente, o termo processo significa marcha avante ou
caminhada, provindo do latim (procedere = seguir adiante). Este fato fez com que,
durante muito tempo fosse o processo confundido com a simples sucesso de atos
processuais, sendo que isto, na verdade consiste na ideia de procedimento.
Entretanto, o processo bem mais do que o conjunto de procedimentos
atravs dos quais ele se externa: h, no processo, uma fora que motiva e justifica
a prtica dos atos de procedimento, interligando os sujeitos processuais
(GRINOVER; CINTRA; DINAMARCO, 2010, p. 301). Assim, o processo pode ser
comparado a uma fora, ou vontade, a do Estado, que, uma vez provocado pela
jurisdicionado, inicia o processo e perpassa transversalmente os atos processuais,
interligando-os, ao tempo em que tambm conjuga nesse bojo os atores
processuais, ou seja, as partes, o juiz, os serventurios da justia etc. Integra o
processo ainda a lgica com que os atos se do, bem como a ordem cronolgica em
que o mesmo se desenvolve. Giglio (1997, p.02), nesse sentido conceitua processo
nos seguintes termos: processo, em sentido amplo significa sequncia ordenada e
predeterminada de atos destinados a compor litgios.
Nas palavras de Dinamarco (2005, p. 25):
Processo uma srie de atos interligados e coordenados ao objetivo de produzir a tutela jurisdicional justa, a serem realizados no exerccio de poderes ou faculdades ou em cumprimento de deveres ou nus. Os atos interligados em seu conjunto so o procedimento.
Perceba-se que a noo de processo teleolgica ou finalstica, vez que ele
se instaura com o objetivo da prestao jurisdicional, e uma vez que este objetivo
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atingindo ele se extingue, o que autoriza se afirme que o processo tem natureza de
instrumento, no sendo um fim em si mesmo.
Nessa esteira, o procedimento consiste no meio extrnseco pelo qual o
processo se apresenta, instaurando-se, desenvolvendo-se e terminando. Enquanto
avana o processo no tempo, ele vai deixando seus passos, suas marcas de
existncia e essas marcas so os procedimentos, os quais podem ser vistos e
palpveis, pois se materializam em peas processuais jungidas aos autos.
Quanto aos autos processuais, esses se consubstanciam na forma fsica,
tangvel oriunda da prestao jurisdicional. Grinover, Cintra e Dinamarco (2010, p.
301) assim os caracterizam: autos, por sua vez, so a materialidade dos
documentos nos quais se corporificam os atos do procedimento; no se deve falar,
por exemplo, em fases do processo, mas do procedimento; nem em consultar o
processo, mas os autos. Com o advento da virtualizao do processo, a tendncia
que se apresenta a paulatina diminuio do nmero de autos fsicos ou impressos,
at a sua total extino, uma vez que todas as peas processuais passaro a existir
em forma digital, originando o que se pode chamar de autos virtuais.
1.4 Processo do Trabalho: histrico, conceito, caractersticas e autonomia
Nascimento (2009, p. 47) informa que na histria dos rgos trabalhistas no
Brasil tm importncia, enquanto fatos histricos, a previso legal dos conselhos
permanentes de conciliao e arbitragem (1907) e dos tribunais rurais (1922). Tanto
os conselhos permanentes de conciliao e arbitragem, quanto os tribunais rurais
no tiveram maior desenvolvimento, e a sua importncia se deve ao fato de
mostrarem os primeiros movimentos para a institucionalizao da Justia do
Trabalho, bem como os rudimentos primrios dessa justia especializada, tendo,
portanto, carter meramente histrico.
Como rgos que efetivamente atuaram nas questes trabalhistas, a histria
d conta das Comisses Mistas de Conciliao e as Juntas de Conciliao e
Julgamento, surgidas em 1932. As primeiras nasceram com o intuito nico conciliar
matrias relativas a dissdios individuais; no havendo acordo, a demanda seria
submetida s Juntas de Conciliao e Julgamento para deciso. Destaque-se que
tais rgos tinham atuao administrativa, mas j inauguravam a chamada
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26
institucionalizao da Justia do Trabalho, e constituiriam o embrio para o
nascimento mais tarde, do judicirio trabalhista.
Foi o decreto-lei n. 9.777, de 09 de setembro de 1946, que organizou a
Justia do Trabalho como rgo integrante do Poder Judicirio, sendo que, no
mesmo ano, essa organizao foi levada ao plano constitucional (NASCIMENTO,
2009, p. 54). O autor sintetiza bem o processo evolutivo da Justia do Trabalho, que
culminou com atribuio de status constitucional a esta justia especializada:
A integrao da Justia do Trabalho no Poder Judicirio consequncia natural da evoluo histrica dos acontecimentos. Na sociedade empresarial, as controvrsias entre trabalhadores e empresrios assumem especial significado. O Estado, intervindo na ordem econmica e social, no pode limitar-se a dispor sobre matria trabalhista. Necessita, tambm, de aparelhamento adequado para a soluo dos conflitos de interesses, tanto no plano individual como no coletivo. Assim, a existncia de um rgo jurisdicional do Estado para questes trabalhistas o resultado da prpria transformao da ideia de autodefesa privada em processo judicial estatal, meio caracterstico de deciso dos litgios na civilizao contempornea. (NASCIMENTO, 2009, p. 55).
Tecidas essas consideraes procuremos conceituar o direito processual do
trabalho, no com vistas a engess-lo ou delimit-lo, mas para melhor nos situarmos
na seara em que ora palmilhamos. Nascimento (2009, pg. 59) o conceitua como
sendo o ramo do direito processual destinado soluo judicial dos conflitos
trabalhistas. J Schiavi (2010, p. 93) o define como sendo o conjunto de princpios,
normas e instituies que regem a atividade da Justia do Trabalho, com o objetivo
de dar efetividade legislao trabalhista e social e assegurar o acesso do
trabalhador Justia.
No tocante autonomia do Direito Processual do Trabalho em relao aos
demais ramos do direito processual, como o processual civil e o processual penal, a
doutrina diverge. Neste sentido, destacam-se duas teorias, a saber: a teoria monista
e a teoria dualista. A teoria monista defende que o direito processual uno e como
tal no comporta divises, pelo que o direito processual do trabalho no existe como
ramo autnomo, mas como mero desdobramento do direito processual em sua
unidade. Para a teoria monista, as normas processuais no se diferem
substancialmente para justificar-se o desdobramento e a autonomia de ramos do
direito processual. A teoria monista nega ainda a autonomia do direito processual do
trabalho sob a alegao de que o processo do trabalho est em fase de construo,
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no tendo, sequer, autonomia legislativa, vez que no se tem um Cdigo de
Processo do Trabalho.
O entendimento majoritrio, entretanto, consubstanciado na teoria dualista,
para dizer que o direito processual do trabalho autnomo em relao ao direito
processual comum. Vrios argumentos interessantes so utilizados para ratificar
esse entendimento, como o fato de o direto processual do trabalho ter princpios
prprios, autonomia didtica, doutrinria e jurisprudencial. Destaca-se ainda o fato
de ele servir-se do direito do trabalho, direito material, o qual autnomo, e por isso
o processo do trabalho tambm teria autonomia. Neste sentido, trazemos os
argumentos para defender a teoria dualista, de Nascimento (2009, p. 64), que
destaca, dentre outros: (1) a jurisdio especial destinada a julgar dissdios
individuais; (2) a existncia do dissdio coletivo econmico, jurdico e de greve como
uma das particularidades do processo trabalhista; (3) A existncia de lei processual
especfica, embora com larga aplicao subsidiria do direito processual comum.
Outras caractersticas peculiares do direito processual do trabalho corroboram para
a sua autonomia, a exemplo do princpio do jus postulandi e a figura da sentena
normativa.
Feitas essas consideraes de cunho histrico e de ordem geral sobre a
teoria processual, buscou-se situar o campo de atuao do processo, com nfase no
direito processual do trabalho, lanando-se assim, as bases do estudo que aqui se
passa a fazer acerca do Processo Judicial Eletrnico na Justia do Trabalho (PJe-
JT). Preparou-se o terreno para o aprofundamento acerca do tema, considerando-se
os obstculos que vm se apresentando ao judicirio como um todo, o que no
diferente em relao Justia do Trabalho, a exemplo do grande nmero de
demandas que a ela chegam, em especial com a ampliao de sua competncia,
por fora da Emenda Constitucional n 45/2004.
Lanar o olhar sobre a histria e as caractersticas do direito laboral, bem
como sobre conceitos inerentes teoria processual, tais como Estado, conflito e
jurisdio, auxiliam o pesquisador a entender o contexto em que nasce o Processo
Judicial Eletrnico na Justia Trabalhista, quais os problemas que ele precisar
enfrentar e em que ponto de avano ele encontra a situao da processualstica
laboral, permitindo assim um melhor desenrolar do estudo do PJe-JT, e um possvel
vislumbre de solues e sadas que possam vir a se somar nesta luta por um
processo mais clere e que atenda aos anseios da sociedade contempornea.
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1.5 Primeiros passos na informatizao do processo
A insero das tecnologias na rotina processual no data de agora. Ela vem
sendo feita desde a admisso das mquinas de escrever na elaborao de peas
processuais. Na conjuntura atual, praticamente impensvel o trabalho no mbito
de uma Vara Trabalhista sem a utilizao de computadores ligados Internet. Basta
ver que no incomum chegar-se a um cartrio judicial e este encontrar-se
inoperante sob a alegao, por exemplo, de que o rgo encontra-se sem acesso
Internet, ou de que o sistema est fora do ar. Da j se percebe o impacto da
Tecnologia da Informao no contexto dos rgos jurisdicionais. E essa um a
dependncia que s tende a aumentar, o que no algo ruim, pois ela trs
benefcios, como o da celeridade.
Quando se fala da insero das tecnologias no contexto do judicirio, vale
mencionar a Lei 9.800/1999, conhecida com Lei do Fax. Ele foi um importante
esforo para permitir a utilizao da Tecnologia da Informao na execuo de atos
processuais, pois admitiu o envio de peas por meio de aparelhos de Fax:
permitida s partes a utilizao de sistema de transmisso de dados e imagens tipo
fac-smile ou outro similar, para a prtica de atos processuais que dependam de
petio escrita. (BRASIL. Lei 9.800/1999, art. 1).
No se pode negar a importncia histrica desta Lei, como um primeiro
esforo para se admitir a transmisso eletrnica de peas processuais. Ela, porm,
no trouxe grande avano do ponto de vista ftico, uma vez que exigiu daqueles que
se utilizassem do fax para realizao de atos processuais, a entrega dos originais,
posteriormente. A entrega deveria acontecer, necessariamente at cinco dias da
data da recepo do material enviado via fax. Tal exigncia tornou a permisso de
envio apenas uma forma de evitar-se a perda de prazos, j que o jurisdicionado
continuava obrigado a entregar os documentos fsicos em seguida.
Vale lembrar que a Lei 9.800/1999 tem aplicao subsidiria no mbito do
processo do trabalho, e com respeito Justia do Trabalho, outras inovaes no
tocante tecnologia j vm sendo amplamente empregadas, a exemplo da
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utilizao do sistema Bacen Jud2, da Certido Nacional de Devedores Trabalhistas3,
da Carta Precatria Eletrnica, do Dirio Eletrnico da Justia do Trabalho, dentre
outros. Tais avanos no mbito de utilizao da tecnologia da informao como
aliada na melhoria do sistema processual trabalhista demonstra a razo que leva a
justia do trabalho a uma posio de vanguarda no judicirio brasileiro, se
mostrando com uma das Justias mais cleres do pas.
2 O Bacen Jud 2.0 um instrumento de comunicao eletrnica entre o Poder Judicirio e instituies financeiras bancrias, com intermediao, gesto tcnica e servio de suporte a cargo do Banco Central. Por meio dele, os magistrados protocolizam ordens judiciais de requisio de informaes, bloqueio, desbloqueio e transferncia de valores bloqueados, que sero transmitidas s instituies bancrias para cumprimento e resposta. (Banco Central do Brasil, 2013). 3 A lei n 12.440/2011 alterou a CLT e a Lei das Licitaes (n 8666/1993), para criar a Certido Negativa de Dbitos Trabalhistas - CNDT. Para expedio da CNDT, organizou-se o Banco Nacional de Devedores Trabalhistas - BNDT, centralizado no Tribunal Superior do Trabalho, a partir de informaes remetidas por todos os 24 Tribunais Regionais do Trabalho do pas. Deste Banco BNDT constam as pessoas fsicas e jurdicas que so devedoras inadimplentes em processo de execuo trabalhista definitiva. (Tribunal Superior do Trabalho. O que CNDT)
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2 A REGULAMENTAO LEGAL DO PROCESSO JUDICIAL ELETRNICO
Com respeito ao regramento legal do Processo Judicial Eletrnico, pode-se
dizer que este comeou a se delinear no ano de 2001, com a edio da Medida
Provisria n 2.200-2/2001, a qual instituiu e regulamentou a Infraestrutura de
Chaves Pblicas Brasileira, organismo fundamental para a existncia de uma
filosofia processual nos moldes em que tem sido forjado o PJe-JT.
Outro diploma legal de suma relevncia nesse contexto foi a Lei Nacional n
11.419/2006, conhecida com Lei do Processo Eletrnico, a qual traa linhas gerais
atinentes ao tema PJe. No mbito da Justia do Trabalho, em especfico, podemos
destacar um esforo inicial feito pelo TST, em dar cumprimento ao que preconiza a
referida lei, editando, j em 2007, a Instruo Normativa (IN) n. 30, que
regulamentou o Processo Judicial Eletrnico no mbito de competncia desta Corte
Superior.
Nessa esteira, cumpre mencionar ainda a Resoluo n. 94, de 23 de maro
2012, do Conselho Superior da Justia do Trabalho (CSJT), a qual institui o Sistema
Processo Judicial Eletrnico da Justia do Trabalho (PJe-JT) como sistema de
processamento de informaes e prtica de atos processuais, estabelecendo
tambm os parmetros para sua implementao e funcionamento. Uma vez que
esses diplomas legais so de grande relevncia para a compreenso e criao de
uma viso holstica acerca do PJe-JT, eles sero abordadas em maior profundidade
neste captulo.
2.1 A Medida Provisria n 2.200-2/2001
Em 27 de julho de 2001 foi editada a MP 2.200-1, a qual foi reeditada, sob o
nmero 2.200-2, em 24 de agosto do mesmo ano. Embora no tenha sido convertida
em lei, ainda tem vigncia plena, uma vez esta MP estava em vigor quando da
edio da Emenda Constitucional n 32 de 11 de setembro de 2001. Esta Emenda
trouxe profundas alteraes atinentes ao regime das MP, e previu em seu artigo 2
que as Medidas Provisrias editadas em data anterior da sua publicao
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continuariam em vigor at que medida provisria ulterior as revogasse
explicitamente ou at deliberao definitiva do Congresso Nacional.
A MP 2200-2/2001 instituiu a Infraestrutura de Chaves Pblicas Brasileira,
mais conhecida pela sigla ICP-Brasil. A ICP-Brasil visa garantir a autenticidade, a
integridade e a validade jurdica de documentos em forma eletrnica, das aplicaes
de suporte e das aplicaes habilitadas que utilizem certificados digitais, bem como
a realizao de transaes eletrnicas seguras (BRASIL. Medida Provisria n
2.200-2, Art. 1).
Acerca da MP 2.200-2/01, deve ficar claro que ela traa os padres da ICP-
Brasil, definindo algumas figuras, entre elas, a Autoridade Gestora de Polticas,
autoridade esta que ser exercida pelo Comit Gestor, o qual vinculado Casa
Civil da Presidncia da Repblica, e cuja estrutura est disposta no art. 3 da
referida norma4. O Comit Gestor ter obrigatoriamente em sua composio cinco
representantes da sociedade civil, integrantes de setores interessados, os quais
devem ser designados pelo Presidente da Repblica. Essa exigncia da norma
certamente visa a dar maior participao da sociedade civil na Gesto do ICP-Brasil,
conferindo ao comit carter democrtico e transparente.
A MP 2.200-2/01 define ainda as atribuies do Comit Gestor, as quais se
encontram exageradas no art. 4 do diploma legal, tendo este Comit carter de
gesto e fiscalizao. Dentre as atribuies elencadas, de cunho exemplificativo,
esto:
Estabelecer a poltica, os critrios e as normas tcnicas para o
credenciamento das AC, das AR e dos demais prestadores de servio de
suporte ICP-Brasil, em todos os nveis da cadeia de certificao;
Estabelecer a poltica de certificao e as regras operacionais da AC-
Raiz;
4 Art. 3 A funo de autoridade gestora de polticas ser exercida pelo Comit Gestor da ICP-Brasil, vinculado Casa Civil da Presidncia da Repblica e composto por cinco representantes da sociedade civil, integrantes de setores interessados, designados pelo Presidente da Repblica, e um representante de cada um dos seguintes rgos, indicados por seus titulares: I - Ministrio da Justia; II - Ministrio da Fazenda; III - Ministrio do Desenvolvimento, Indstria e Comrcio Exterior; IV - Ministrio do Planejamento, Oramento e Gesto; V - Ministrio da Cincia e Tecnologia; VI - Casa Civil da Presidncia da Repblica; e VII - Gabinete de Segurana Institucional da Presidncia da Repblica.
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Homologar, auditar e fiscalizar a AC-Raiz e os seus prestadores de
servio;
Estabelecer diretrizes e normas tcnicas para a formulao de polticas
de certificados e regras operacionais das AC e das AR e definir nveis da
cadeia de certificao;
Aprovar polticas de certificados, prticas de certificao e regras
operacionais, credenciar e autorizar o funcionamento das AC e das AR,
bem como autorizar a AC-Raiz a emitir o correspondente certificado;
Atualizar, ajustar e revisar os procedimentos e as prticas estabelecidas
para a ICP-Brasil, garantir sua compatibilidade e promover a atualizao
tecnolgica do sistema e a sua conformidade com as polticas de
segurana.
Outra importante figura definida pela MP a AC-Raiz, primeira autoridade da
cadeia de certificao. Ela a autoridade executora das Polticas de Certificados e
normas tcnicas e operacionais aprovadas pelo Comit Gestor do ICP-Brasil e suas
principais competncias esto expressas no art. 5 da Medida Provisria em
comento. AC-Raiz vedado emitir certificados para usurio final. Ela deve
gerenciar os certificados das Autoridades Certificadoras de nvel imediatamente
inferior ao seu, ou seja, as AC de primeiro nvel.
Com respeito s Autoridades Certificadoras (AC), tambm reguladas pela
MP em tela, elas so
[...] entidades credenciadas a emitir certificados digitais vinculando pares de chaves criptogrficas ao respectivo titular, compete emitir, expedir, distribuir, revogar e gerenciar os certificados, bem como colocar disposio dos usurios listas de certificados revogados e outras informaes pertinentes e manter registro de suas operaes (BRASIL. Medida Provisria n 2.200-2, Art. 6).
exigncia da norma que o par de chaves seja gerado sempre pelo prprio
titular do certificado, e que sua chave privada de assinatura seja de seu exclusivo
controle, uso e conhecimento. Dessa forma, o certificado digital no poder ser
gerado por terceiros para posterior entrega ao seu destinatrio, mas deve s-lo na
presena deste, com sua efetiva participao tanto na entrega dos documentos
exigidos, quanto no ato de informar sua senha de acesso, ou PIN, para gerao do
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33
par de chaves. Adotando essas exigncias legais, o processo de emisso do
certificado certamente denotar mais lisura.
Vale dizer que esse trabalho de conferncia da documentao necessria,
bem como da gerao do par de chaves, na presena, e com a participao do
destinatrio do certificado, papel das Autoridades de Registro (AR), outra figura da
cadeia da ICP-Brasil, as quais so entidades operacionalmente vinculadas a
determinada AC (BRASIL. Medida Provisria n 2.200-2, Art. 6).
A Medida Provisria n. 2.200-2/01 ao mesmo tempo em que institui a figura
da Autoridade Certificadora Raiz da Infraestrutura de Chaves Pblicas Brasileira,
imprime ao Instituto Nacional de Tecnologia da Informao, ITI, essa competncia
em seu artigo 13, transformando-o em autarquia federal, vinculada ao Ministrio da
Cincia e Tecnologia. Dessa forma, o ITI hoje a AC-Raiz da ICP-Brasil, sendo o
detentor de todas as prerrogativas de gesto, controle e fiscalizao outorgadas pela
norma em tela Autoridade Certificadora Raiz.
Os conceitos pincelados neste item, tais como Certificao Digital,
Autoridades Certificadoras, Comit Gestor etc. sero abordados em maior
profundidade em captulo especfico. Foram rapidamente citados aqui apenas por
estarem inseridos no contexto da Medida Provisria em comento.
2.2 A Lei 11.419 de 19 de dezembro 2006
A Lei 11.419/2006 a norma que regulamenta o Processo Judicial
Eletrnico em mbito nacional, definido regras gerais. Ela se compe de quatro
captulos, a saber: Captulo I Da Informatizao do Processo Judicial; Captulo I
Da Comunicao Eletrnica dos Atos Processuais; Captulo III Do Processo
Eletrnico; e Captulo IV Disposies Gerais e Finais.
Como mencionado, o diploma legal em tela uma lei nacional, sendo
aplicada em todo o territrio ptrio, traando regras gerais de aplicao
informatizao do processo judicial. O teor da norma de carter processual e
nesse sentido, ela faz alteraes em dispositivos da lei processual civil,
especificamente na Lei 5.689/1973, o Cdigo de Processo Civil.
Por fora de seu artigo 22, a Lei 11.4219/2006 teve um vacatio legis de 90
dias, entrando em vigor em 19 de junho de 2007.
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34
de se notar a relevncia do presente dispositivo legal no cenrio do
processo eletrnico em nvel nacional, pelo que procuraremos analisar alguns
pontos importantes da referida norma de forma mais detida, como segue.
2.2.1 Da informatizao do processo judicial
O art. 1 da Lei em tela informa, de logo, o seu fim precpuo, que o de
regulamentar o uso do meio eletrnico pra tramitao de processos judiciais,
comunicao de atos processuais ou transmisso de peas processuais. Em seu
1, este artigo destaca que a Lei se aplica indistintamente aos processos civil, penal
e trabalhista, bem como aos juizados especiais em qualquer jurisdio. Dessa forma
percebe-se a inteno do legislador de incentivar a utilizao e a cultura do processo
eletrnico, estendendo o seu alcance s vrias jurisdies.
Ainda no art. 1, 2, o legislador procura conceituar alguns termos bastante
comuns no mbito do processo eletrnico, como o que seria meio eletrnico,
transmisso eletrnica, assinatura eletrnica e assinatura digital, conceitos esses
sero abordados de forma mais profunda em captulo prprio. Desde j vale
ressaltar as duas formas de assinatura eletrnica que a lei contempla, sendo a
assinatura digital, com base em certificao digital, e aquela que o usurio adquirir
mediante cadastro junto ao Poder Judicirio, de forma que esta ltima modalidade
dever ser objeto de regulao pelos respectivos rgos.
Tal credenciamento junto ao rgo judicirio onde o interessado deseje atuar
tratado no art. 2 da Lei em epgrafe. Este credenciamento tanto pode ser mantido
em separado por cada rgo do Poder Judicirio a Justia do Trabalho pode ter
seu prprio cadastro de usurios credenciados, por exemplo , como tambm
possvel a criao de um cadastro nico para tal fim, conforme permisso do art. 2,
3 da Lei.
de se perceber que a criao de um cadastro nico se mostra uma
soluo inteligente e prtica, pois desta forma o profissional do direito poder
realizar um nico cadastro eletrnico e dele se utilizar nos diferentes rgos do
Poder Judicirio, evitando a necessidade de recredenciamento cada vez que tivesse
necessidade de comear a atuar em novo rgo da justia, repetindo um
procedimento j realizado.
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A necessidade do cadastro junto ao rgo em que se deseja atuar pode ser
elidida pela figura do Certificado Digital, o qual possui um par de chaves que permite
a assinatura digital e expedido por uma Autoridade Certificadora credenciada,
conforme se ver em mais detalhes adiante. Todo esse processo relativo
certificao digital tem regulamentao legal prpria (vide tpico especfico sobre a
Medida Provisria 2.200-2/2002, neste trabalho). O certificado digital funciona com
uma carteira de identidade virtual, e atravs de mecanismos de criptografia e
outras tcnicas de segurana da informao, se destina a garantir que a pessoa que
diz estar assinando o documento realmente aquela a quem a Autoridade
Certificadora outorgou o referido Certificado Digital.
A figura da certificao digital ainda pouco difundida no Brasil, mas tem se
mostrado bastante vivel e confivel, pelo que nos parece ser a forma mais eficiente
de se atuar no ambiente do Processo Judicial Eletrnico.
A importncia da assinatura digital, assim como, na falta desta, da
assinatura eletrnica, clara quando se sabe que um dos principais entraves
confiabilidade e aceitao do Processo Judicial Eletrnico a dificuldade de se
garantir que os atores do processo em meio virtual so quem realmente dizem ser, e
que no se est diante de alguma forma de fraude. Mas como veremos adiante,
esse problema tem sido resolvido a contento pelas tcnicas de segurana aplicadas
pela tecnologia da informao.
No tocante aos prazos processuais, a Lei informa em seu artigo 3 que
Consideram-se realizados os atos processuais por meio eletrnico no dia e hora do
seu envio ao sistema do Poder Judicirio, do que dever ser fornecido protocolo
eletrnico, devendo-se frisar, ainda que o prazo para envio, com vistas a atender os
ditames legais, de at s 24 (vinte e quatro) horas do seu ltimo dia de prazo. Isso
quer dizer que um ato efetuado pelo advogado, de seu computador pessoal, ou de
qualquer outro meio de acesso ao sistema judicial, com o uso da Internet, deve ser
finalizado antes de findado o ltimo minuto do ltimo dia do prazo. Assim, a ttulo de
exemplo, se o prazo processual termina em 01.12.2012, o ato deve ser finalizado, no
mximo, dentro do 59 minuto da 23 terceira hora do dia 01.12.2012. Destaque-se
que o atendimento desse requisito ser aferido com base na hora constante do
protocolo eletrnico fornecido pelo sistema, e se prope a comprovar que o ato
processual foi realizado tempestivamente, conforme seu tipo e os requisitos legais.
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36
2.2.2 Da comunicao eletrnica dos atos processuais
Esse captulo da Lei 11.419/2006 trata de como os atos processuais sero
comunicados aos interessados. Nesse sentido, o diploma legal autoriza aos tribunais
a criao de Dirio da Justia Eletrnico em stio da rede mundial de computadores.
Tal Dirio se destina tanto publicao de atos judiciais quanto administrativos
prprios do tribunal ou de seus rgos subordinados, como tambm de
comunicao em geral.
A Justia do Trabalho, atendendo disposio legal em anlise, editou o Ato
Conjunto n 26 TST/CSJT, o qual Institui o Dirio Eletrnico da Justia do Trabalho e
estabelece normas para envio, publicao e disponibilizao de matrias dos
rgos da Justia do Trabalho. O artigo 2 do referido Ato melhor esclarece sobre
finalidade do Dirio e informa o link de acesso para ele na rede mundial de
computadores:
O Dirio Eletrnico da Justia do Trabalho o instrumento de comunicao oficial para disponibilizao e publicao dos atos dos rgos da Justia do Trabalho, do Conselho Superior da Justia do Trabalho e da Escola Nacional de Formao e Aperfeioamento de Magistrados do Trabalho, e estar acessvel na rede mundial de computadores, no Portal da Justia do Trabalho, pelo endereo eletrnico www.jt.jus.br, possibilitando a qualquer interessado o acesso gratuito, independentemente de cadastro prvio. (BRASIL. CONSELHO SUPERIOR DA JUSTIA DO TRABALHO. Ato Conjunto n. 15/CSJT.TST.GP, de 5 de junho de 2008, Art. 2)
Vale ressaltar que uma vez realizada a publicao nos moldes preceituados
na Lei, esta publicao substitui qualquer outro meio oficial, para todos os efeitos
legais, ressalvando-se os casos que exijam por lei a intimao ou vista pessoal.
esta a informao insculpida no artigo 4, 2 da Lei 11.419/2006. Esse destaque da
norma de grande importncia, pois afasta a necessidade de qualquer outra forma
de publicao, uma vez que esta j foi feita em meio virtual. Tal mecanismo d fora
ao processo eletrnico, impulsionando-o e permitindo que cada vez mais o judicirio
se afaste da necessidade dos documentos fsicos ou impressos, ao tempo em que
privilegia a economia, tanto financeira, quanto de pessoal, pois a concretizao dos
atos processuais passa a migrar do rol de obrigaes dos serventurios da justia,
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37
se localizando no conjunto de obrigaes das partes, que so as grandes
interessadas em sua consecuo.
Percebe-se de logo uma das vantagens do Processo Judicial Eletrnico no
tocante economia de recursos, tanto financeiros, quanto humanos, os quais podem
ser empregados em outras demandas no menos importantes, a exemplo da
prestao jurisdicional em si.
No se pode olvidar tambm a celeridade que se adquire em relao
concretizao de tais atos, uma vez que a publicao no Dirio da Justia eletrnico,
j basta para t-los como realizados. Dessa forma, o prprio Tribunal pode fazer sua
publicao diretamente, no havendo necessidade de enviar as informaes a outro
rgo, como o Dirio Oficial da Unio.
Com respeito s intimaes, a Lei 11.419/2006, no artigo 5, informa que
estas sero feitas em portal prprio, aos que se cadastrarem, o que dispensar a
publicao no rgo oficial, mesmo o eletrnico. Aqui notria a celeridade que se
ganha, pois no h necessidade de deslocamento de oficial de justia at o
endereo informado pela parte, lembrando que muitas vezes tal visita infrutfera,
no conseguindo o serventurio da justia concretizar a intimao. Temos aqui,
claramente o emprego do PJe, com vistas ao atingimento da celeridade processual
to almejado pelos jurisdicionados e que hoje direito assegurado
constitucionalmente nos termos do artigo 5, LXXVIII, includo pela Emenda
Constitucional n 45 de 2004, que deu status constitucional ao princpio da razovel
durao do processo.
O artigo 6 da Lei em questo prev ainda a possibilidade de citao por
meio eletrnico, e o seu artigo 7 informa que cartas precatrias, de ordem, e, de um
modo, todas as comunicaes que transitem entre rgos do judicirio, ou entre os
deste e dos demais Poderes, sero feitas por meio eletrnico, preferencialmente.
Mais uma vez a Lei Nacional do PJe estimula o uso dos meios eletrnicos para
realizao dos atos processuais, em uma clara tentativa de fazer a PJe ganhar
espao no Judicirio.
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2.2.3 Do Processo Eletrnico
no terceiro captulo da Lei 11.419/2006 que o legislador trata da figura do
Processo Eletrnico em si. Neste captulo, encontra-se a permisso para o Poder
Judicirio desenvolver sistemas eletrnicos de processamento de aes judiciais
que se utilizem de autos total ou parcialmente digitais. A norma destaca ainda a
necessidade de que todos os atos processuais do processo eletrnico sejam
assinados digitalmente na forma estabelecida na prpria Lei.
Em se tratando do processo nativamente eletrnico, qual seja, aquele que
nasce de forma eletrnica, tendo, desde a sua origem, a tramitao em meio
virtual, a Lei requer que todas as citaes, intimaes e notificaes, mesmo
aquelas destinadas Fazenda Pblica que ordinariamente detm prerrogativas
diferenciadas quando demandada em juzo sejam feitas por meio eletrnico. Tal
exigncia encontra-se presente no art. 9, caput. A Lei traz uma exceo a essa
regra, que se consubstancia nos casos em que, por algum motivo tcnico seja
invivel o uso do meio eletrnico para a realizao de citao, notificao ou
intimao. Nestes casos, os atos processuais devero ser praticados seguindo as
regras processuais ordinrias, procedendo-se, posteriormente, digitalizao do
documento fsico, seguido de sua destruio.
A exigncia de posterior destruio do documento fsico, permanecendo
apenas a verso digital, mais uma vez privilegia a tramitao eletrnica do feito,
chancelando o PJe e encorajando os jurisdicionados utilizao desta nova filosofia
no mbito do processo.
O artigo 10, 2 trs importante norma de defesa do jurisdicionado contra
possveis falhas tcnicas dos sistemas eletrnicos dos Tribunais. Segundo o referido
pargrafo, caso haja indisponibilidade do sistema por motivo tcnico, o prazo
automaticamente se prorroga para o primeiro dia til subsequente resoluo do
problema. Deve-se observar que tal extenso automtica de prazo s se aplica caso
a falha se d por problema tcnico no sistema ou nos equipamentos do Judicirio,
impossibilitando, desta forma o acesso a qualquer usurio, e no por culpa exclusiva
do jurisdicionado, tal com dificuldade ou falta de acesso rede mundial de
computadores em decorrncia de problemas em sua conexo com a Internet, bem
como outros problemas de ordem tcnica de sua inteira responsabilidade.
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39
Buscando potencializar o acesso ao judicirio, o diploma legal em epgrafe
exige, em seu artigo 10, 3: Os rgos do Poder Judicirio devero manter
equipamentos de digitalizao e de acesso rede mundial de computadores
disposio dos interessados para distribuio de peas processuais. Tal exigncia
busca, sem dvida, dar efetividade ao direito do amplo acesso justia, evitando
que o advento do PJe seja um entrave possibilidade de os jurisdicionados
exercerem seu direito por no possurem os equipamentos necessrios ou mesmo
uma conexo com a rede mundial de computadores.
Embora se saiba que em regra os atos processuais so pblicos, existem
casos em que estes podem correr em segredo de justia, conforme dispe o CPC,
no art. 155. Neste sentido, e visando zelar pela intimidade das partes, o legislador
previu no art. 12, 1 da Lei do Processo Eletrnico que os autos eletrnicos devem
ser protegidos por sistemas que garantam a segurana no acesso das informaes,
bem como um armazenamento que garanta preservao e integridade dos dados. O
referido pargrafo dispensa ainda a necessidade de formao de autos
suplementares. Ainda nesse sentido, o 6 do mesmo artigo reza que os
documentos digitalizados nos processos eletrnicos estaro disponveis apenas s
partes, seus advogados e ao Ministrio Pblico.
2.2.4 Das disposies gerais
O artigo 18 da Lei incumbe aos rgos do Poder Judicirio a
regulamentao do diploma legal no mbito de suas competncias.
Ela ainda convalida os atos processuais praticados por meio eletrnico at a
data de sua publicao, desde que tenham tais atos atingido sua finalidade e deles
no tenha havido prejuzo para as partes. Vemos aqui a aplicao do princpio da
instrumentalidade das formas, segundo o qual o processo, e seus procedimentos,
so meios de se atingir um fim, que a prestao jurisdicional, e por isso, no se
pode sobrevalorizar as formas em detrimento das finalidades alcanadas. Isto , se
um ato processual, embora eivado de vcio menos grave, atingiu com eficincia seu
propsito, no resultando disso prejuzo para as partes, no h porque anul-lo, mas
sim aproveit-lo, privilegiando outros princpios, como o da celeridade e economia
processuais.
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O artigo 20 do diploma legal altera vrios dispositivos da Lei 5.869/73, o
Cdigo de Processo Civil, adequando-o para admitir o Processo Judicial Eletrnico.
O artigo 38 do CPC, que trata das procuraes, passou a conter o Pargrafo
nico, o qual aduz que podem as procuraes ser assinadas digitalmente com base
em certificado emitido por Autoridade Certificadora credenciada, na forma da lei
especfica.
A lei especfica de que trata o artigo em epgrafe a Medida Provisria
2.200-2 de 24 de agosto 2001, a qual tem fora de Lei, uma vez que anterior
Emenda Constitucional (EC) n 32 de 11 de setembro de 2001. A referida Emenda
dispe, no artigo 2, que as Medidas Provisrias editadas anteriormente sua
publicao, continuaro em vigor at que medida provisria ulterior as revogue
explicitamente ou at deliberao da matria, de forma definitiva, pelo Congresso
Nacional.
Assim como o artigo 38 do CPC, vrios outros artigos desse diploma legal
precisaram sofrer alteraes para se adaptarem nova filosofia do processo
eletrnico, e desta forma permitirem a produo, transmisso e armazenamento de
forma eletrnica de atos e termos processuais (CPC, Art. 154, Pargrafo nico,
2), a assinatura de documentos de forma digital (CPC, Art. 164, Pargrafo nico), a
expedio da carta de ordem, carta precatria ou carta rogatria na forma eletrnica
(Art. 169, 3), a realizao de intimaes por meio eletrnico (CPC, Art. 237,
Pargrafo nico), dentre outras mudanas necessrias, que, pelo menos
parcialmente, adaptaram o Cdigo de Processo Civil para receber o PJe.
2.3 A Instruo Normativa (IN) n. 30 do Tribunal Superior do Trabalho - TST
Atendendo determinao da Lei Nacional n 11.419/06, que trata sobre a
informatizao do processo judicial e dispe em seu artigo 18 que Os rgos do
Poder Judicirio regulamentaro esta Lei, no que couber, no mbito de suas
respectivas competncias, o TST editou a instruo Normativa n 30, de 13 de
setembro de 2007, que regulamenta a referida Lei no mbito do judicirio trabalhista.
A seguir sero destacados os principais pontos da IN 30 do TST.
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2.3.1 O Peticionamento Eletrnico e o e-DOC
Com respeito ao Peticionamento Eletrnico no mbito da Justia do
Trabalho, a Instruo Normativa n 30 destaca que para a prtica de atos
processuais por meio eletrnico, seja pelas partes, advogados ou peritos, deve-se
fazer uso do Sistema Integrado de Protocolizao e Fluxo de Documentos
Eletrnicos, o e-DOC. O e-DOC um sistema on-line, disponvel no stio do TST,
especfico desta justia especializada, o qual foi originalmente oferecido para envio
facultativo de peties online, mesmo em casos de processos com tramitao fsica.
Na Justia do Trabalho, est presente o princpio do jus postulandi, o qual
est insculpido no artigo 791 da CLT. Segundo este princpio, empregados e
empregadores podem reclamar pessoalmente perante a Justia do Trabalho e
acompanhar as suas reclamaes at o final. Quer-se dizer que as partes no
carecem da assistncia de advogado para ajuizarem suas reclamaes na esfera
trabalhista, tampouco para acompanhamento destas. Vale ressaltar que por fora da
Smula 425 do TST, o jus postulandi das partes limite-se s Varas do Trabalho e
aos Tribunais, no sendo aplicvel ao rescisria, ao cautelar, ao mandado
de segurana e aos recursos de competncia do TST.
em homenagem ao princpio do jus postulandi que a Instruo Normativa
em comento admite o cadastramento da parte para utilizao do sistema e-DOC e
consequente peticionamento, conforme reza o art. 5, 4 da Instruo: A parte
desassistida de advogado que desejar utilizar o sistema do e-DOC dever se
cadastrar, antes, nos termos desta Instruo Normativa.
Uma restrio tcnica do Sistema e-DOC, presente na IN n 30, aquela
que diz respeito ao formato em que os arquivos anexados devem ser
confeccionados. O formato exigido o PDF, sigla em ingls para Portable Document
Format, Formato de Documento Portvel, em traduo livre. A definio de um
formato nico para os anexos das peties tem grande utilidade na prtica, pois
facilita ao sistema a leitura e exibio do documento de forma correta, pois j se
sabe, a priori, o formato esperado do documento, e consequentemente, a correta
forma de leitura e exibio, bem como qual o aplicativo/programa deve ser utilizado
para exibio do documento. O Artigo 6 define ainda o tamanho mximo, em
Megabytes destes anexos, sendo este de 2 (dois) Megabytes por operao.
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42
O Captulo IV da Instruo Normativa n 30 do TST trata da Comunicao e
Informatizao dos Atos Processuais no Portal da Justia do Trabalho, o Portal-JT.
O art. 14 da IN procura definir o que o portal-JT, informando que ele o stio
corporativo da instituio, abrangendo todos os Tribunais trabalhistas do pas,
gerenciado pelo Conselho Superior da Justia do Trabalho e operado pelo Tribunal
Superior do Trabalho e pelos Tribunais Regionais do Trabalho.
O artigo 14 informa ainda as principais funcionalidades que podem ser
encontradas no portal-JT, das quais citamos algumas:
O Dirio Eletrnico da Justia do Trabalho (DEJT), para publicao de
atos judiciais e administrativos dos Tribunais e Varas do Trabalho;
Sistemas de Pesquisa de Jurisprudncia, de Legislao Trabalhista e
Atos Normativos da Justia do Trabalho, de acompanhamento
processual, de acervo bibliogrfico, com Banco de Dados Geral integrado
pelos julgados e atos administrativos de todos os Tribunais trabalhistas
do pas;
Informaes gerais sobre os Tribunais e Varas do Trabalho, incluindo
memria da Justia do Trabalho, dados estatsticos, magistrados,
concursos e licitaes, entre outros;
Informaes sobre o Conselho Superior da Justia do Trabalho (CSJT),
incluindo seu Regimento Interno, suas resolues e decises, alm de
seus integrantes e estrutura do rgo;
Informaes sobre a Escola Nacional de Formao e Aperfeioamento
de Magistrados do Trabalho (ENAMAT), incluindo quadro diretivo, de
professores, de alunos e de cursos, bem como disponibilizando ambiente
para o ensino distncia;
Sistemas de Assinatura Eletrnica, Peticionamento Eletrnico (e-DOC) e
de Carta Eletrnica (CE);
Informaes sobre a Corregedoria-Geral da Justia do Trabalho.
A publicao no DEJT substitui qualquer meio de publicao oficial,
conforme reza o art. 15 da IN, para todos os efeitos legais, excetuando os casos que
exigem intimao ou vista pessoal, por lei.
Vale dizer que muito do contedo da Instruo Normativa refora trechos da
Lei Nacional do Processo Eletrnico como forma de frisar que as disposies desta
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Lei se aplicam Justia do Trabalho, sem necessidade de adequaes nesses
pontos especficos.
2.4 A Resoluo CSJT n 94, de 23 de maro de 2012
2.4.1 Viso geral da Resoluo 94/2012
O Conselho Superior da Justia do Trabalho rgo administrativo do
Judicirio Trabalhista, com assento constitucional, previsto no art. 104-A, 2, II da
CF, onde se encontram suas atribuies constitucionais, quais sejam: exercer, na
forma da lei, a superviso administrativa, oramentria, financeira e patrimonial da
Justia do Trabalho de primeiro e segundo graus, como rgo central do sistema,
cujas decises tero efeito vinculante.
Atendendo ao comando constitucional, o CSJT, exercendo sua superviso
administrativa no tocante implantao do PJe, no mbito da Justia Trabalhista,
editou a Resoluo n 94/2012, a qual Institui o Sistema Processo Judicial
Eletrnico da Justia do Trabalho PJe-JT como sistema de processamento de
informaes e prtica de atos processuais e estabelece os parmetros para sua
implementao e funcionamento.
Esta Resoluo se dispe, assim com a Instruo normativa n 30/20075 do
TST, a regulamentar a instalao do PJe no mbito do judicirio trabalhista,
atendendo ao comando legal da Lei Nacional n 11.419/2006.
foroso reconhecer que, naquilo que a Resoluo CSJT n 94/2012 for
contrria IN TST n 30/2007, haver revogao tcita desta, com a ressalva de
que tal revogao se dar no mbito dos tribunais e das Varas do Trabalho, no
atingindo o TST, j que este no est subordinado s decises do CSJT, conforme
j mencionado.
A Resoluo em tela traz, no artigo 3, alguns conceitos familiares e
fundamentais operao do PJe e que devem ser do conhecimento daqueles que
se propem a utilizar o sistema. Estes conceitos j foram tambm intentados na Lei
Nacional do PJe e mesmo na Instruo Normativa n 37 do TST, mas percebe-se
5 Para mais informaes sobre a IN n 30 do TST, consultar o subitem 2.3 deste Trabalho.
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maior clareza e objetividade na conceituao trazida pela resoluo em epgrafe, o
que aceitvel, j que ela trata do PJe em seu vis de Sistema de Informao, e
no de forma conceitual, como o fazem os outros diplomas legais.
Os conceitos so os seguintes:
Autos do processo eletrnico ou autos digitais: conjunto de documentos
digitais correspondentes a todos os atos, termos e informaes do processo;
Digitalizao: Consiste no processo de converso de um documento
originalmente confeccionado em papel para o formato digital por meio de dispositivo
apropriado, como um scanner. Segundo Ferreira (2010), scanner um perifrico
que realiza a transformao de imagens em dados digitais, geralmente na forma de
uma matriz de pontos. Os perifricos por sua vez so dispositivos eletrnicos
conectados ao computador com funo de permitir a entrada (teclado, mouse,
scanner), sada (impressoras e monitores convencionais) ou entrada e sada
(monitores sensveis ao toque touchscreen) de dados.
Documento digital: qualquer documento codificado em dgitos binrios,
acessvel por meio de sistema computacional. Assim, pode ser considerado um
documento digital tanto um arquivo de texto, uma imagem digital, um arquivo de
udio ou vdeo, um e-mail etc.
Meio eletrnico: Qualquer forma de armazenamento ou trfego de
documentos e arquivos digitais. Pode-se citar como exemplo de meio eletrnico, os
discos rgidos (hard disk HD), as pendrive, os cartes de memria, as mdias de
CD, DVD e Blu-Ray. As fitas magnticas tambm so exemplo de meio eletrnico de
armazenamento menos conhecido do pblico em geral. Elas so utilizadas
geralmente para o armazenamento de grandes volumes de dados, servindo como
forma de realizao de cpias de segurana (backups) de informaes importantes,
pela sua grande capacidade de armazenamento. Acerca deste meio de
armazenamento:
A fita magntica possui uma longa histria de uso como uma mdia de armazenamento secundrio. Embora seja relativamente permanente e possa manter grandes volumes de dados, a fita magntica lenta quando comparada aos discos magnticos e ticos. [...] As fitas so usadas principalmente para backup, para armazenamento de informaes de uso pouco frequente e como uma mdia off-line para a transferncia de informao de um sistema para outro. (SILBERSCHATZ; KORTH; SUDARSHAN, 2008, p. 307).
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Vale dizer ainda que a Internet e as redes de dados em geral so, tambm,
meios eletrnicos.
Transmisso eletrnica: toda forma de comunicao distncia com a
utilizao de redes de comunicao, preferencialmente a rede mundial de
computadores. A transmisso eletrnica consiste no transporte de dados em meio
virtual, e consiste, por exemplo, no envio de um e-mail ou na transmisso de uma
videoconferncia, pois em ambos os casos h o uso das redes de comunicao.
Usurios internos: magistrados e servidores da Justia do Trabalho, bem
como outros a que se reconhecer acesso s funcionalidades internas do sistema de
processamento em meio eletrnico (estagirios, prestadores de servio, etc.).
Usurios externos: todos os demais usurios, includos as partes, os
advogados, os membros do Ministrio Pblico, os peritos e os leiloeiros. Qualquer
usurio que no se inclua na categoria de usurio interno , portanto, usurio
externo, de forma que a lista de usurios externos trazida pela Resoluo
meramente exemplificativa.
Os usurios (tanto internos quanto externos) so os atores do PJe e so os
responsveis pela criao do contedo dentro do Sistema. atravs da atuao
desses atores que o Sistema ganhar vida, por assim dizer. Os advogados do o
passo inicial do processo no ambiente virtual, quando submetem uma demanda ao
Sistema. Os juzes e serventurios da justia ao impulsionarem o processo estaro
alimentando o Sistema, permitindo que a demanda processual se desenvolva,
caminhando para o atingimento do objetivo processual, que a prestao da justia.
Outros conceitos mais relevantes e de maior complexidade, tambm
tratados na Resoluo, a exemplo do certificado digital, sero abordados em
profundidade, em outro momento neste trabalho.
2.4.2 Dos Comits Gestores
A Resoluo CSJT n. 94/2012 prev a criao de comits gestores do PJe,
em mbito nacional e regional, os quais sero compostos tanto de usurios internos
quanto externos do sistema.
Com respeito ao Comit Gestor Nacional, este supervisionar o
gerenciamento, a especificao, o desenvolvimento, a implantao, o suporte e a
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manuteno corretiva e evolutiva do Processo Judicial Eletrnico da Justia do
Trabalho (art. 30). Suas atribuies esto elencadas no artigo 32 da Resoluo
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