cicero matias - monografia - versão final

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS CURSO DE DIREITO CÍCERO MATIAS FERREIRA DO NASCIMENTO NETO IMPLANTAÇÃO DO PROCESSO JUDICIAL ELETRÔNICO NA JUSTIÇA DO TRABALHO: um importante passo para a modernização do judiciário trabalhista São Luís 2013

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Monografia Processo Judicial Eletrônico na Justiça do Trabalho - PJe-JTSão Luís - Maranhão - Brasil

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  • UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHO

    CENTRO DE CINCIAS SOCIAIS

    CURSO DE DIREITO

    CCERO MATIAS FERREIRA DO NASCIMENTO NETO

    IMPLANTAO DO PROCESSO JUDICIAL ELETRNICO NA JUSTIA DO TRABALHO: um importante passo para a modernizao do judicirio

    trabalhista

    So Lus

    2013

  • CCERO MATIAS FERREIRA DO NASCIMENTO NETO

    IMPLANTAO DO PROCESSO JUDICIAL ELETRNICO NA JUSTIA DO TRABALHO: um importante passo para a modernizao do judicirio

    trabalhista

    Monografia apresentada ao Curso de Direito da Universidade Federal do Maranho para obteno do ttulo de Bacharel em Direito.

    Orientador: Prof. MSc. James Magno Arajo

    Farias

    So Lus

    2013

  • CCERO MATIAS FERREIRA DO NASCIMENTO NETO

    IMPLANTAO DO PROCESSO JUDICIAL ELETRNICO NA JUSTIA DO TRABALHO: um importante passo para a modernizao do judicirio

    trabalhista

    Monografia apresentada ao Curso de Direito da Universidade Federal do Maranho para obteno do ttulo de Bacharel em Direito.

    Aprovada em ____/____/

    BANCA EXAMINADORA

    ______________________________________________________________

    Prof. James Magno Arajo Farias (Orientador) Mestre em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco

    Universidade Federal do Maranho

    ______________________________________________________________

    1 Examinador

    ______________________________________________________________ 2 Examinador

  • A Deus, fonte de toda inspirao.

    A Maria Eduarda, querida filha, pelo sorriso e

    alegria constantes, que do um colorido todo

    especial aos meus dias e fazem qualquer esforo

    valer a pena.

    A minha esposa, Daniela, pelo apoio, carinho e

    compreenso constantes.

  • AGRADECIMENTOS

    Agradecemos a todos aqueles que direta ou indiretamente contriburam para

    que a elaborao deste trabalho fosse possvel, em especial ao professor James

    Magno Arajo Farias pela disposio constante e orientao segura.

  • Devemos o progresso aos insatisfeitos.

    Aldous Huxley

  • R E S U M O

    O processo eletrnico no judicirio trabalhista. O processo instrumento empregado

    pelo estado para resoluo de conflitos, funcionando como meio de pacificao

    social. Nos ltimos anos, um movimento iniciado pelo Conselho Nacional de Justia

    (CNJ) tem ganhado fora. Tal movimento tem por fim a implantao de um processo

    eletrnico em mbito nacional e que integre todas as jurisdies atravs de um

    sistema eletrnico de informaes. A filosofia do processo judicial eletrnico (PJe)

    faz uso de vrias tecnologias, dentre elas a certificao digital, que fundamental no

    que tange segurana e confiabilidade do PJe. O Processo Judicial Eletrnico da

    Justia do Trabalho (PJe-JT) a contribuio do judicirio trabalhista para o projeto

    do CNJ. O PJe-JT tem por base vrios diplomas legais, dentre os quais merecem

    destaque a Medida Provisria n 2.200-2/2001, a Lei Nacional do Processo Judicial

    Eletrnico (Lei n 11.419/2006), e a Resoluo n 94/2012 do Conselho Superior da

    Justia do Trabalho. O PJe-JT j uma realidade no mbito do Judicirio

    Trabalhista. Ele j est em pleno funcionamento em vrios Regionais e em pouco

    tempo deve estar presente em 100% da jurisdio especial do Trabalho.

    Palavras-chave: Direito Eletrnico. Processo Judicial Eletrnico. Justia do Trabalho.

    Direito Processual do Trabalho.

  • A B S T R A C T

    The electronic process in court labor. The process state is an instrument

    employed by the for conflict resolution, working as a means of social pacification. In

    recent years, a movement started by the National Council of Justice (CNJ) has

    gained strength. This move is aimed to implement a nationwide electronic process

    which integrates all jurisdictions through an electronic information system. The

    philosophy of the judicial process electronic (PJe) makes use of various

    technologies, among them digital certification, which is key when it comes to safety

    and reliability of the PJe. The Judicial Process Electronic Labor Justice (PJe-JT) is

    the contribution of the court labor for the CNJs project. The PJe-JT is based on

    various legal texts, noteworthy among which the Provisional Measure No. 2.200-

    2/2001, the National Law Lawsuit Electronic (Law No. 11.419/2006), and Resolution

    No. 94/2012 of the Supreme Council the Labour Court. The PJe-JT is already a

    reality within the Judiciary Labour. He is already up and running in several Regional

    and soon should be present in 100% of the special jurisdiction of Labour.

    Keywords: Electronic Law. Electronic Judicial Process. Labor Court. Procedural Law of Labor.

  • LISTA DE ILUSTRAES

    Figura 1: (a) Certificados digitais em Carto. (b) Leitora de Certificado. (c) Token............... 49 Figura 2: Analogia entre o processo de expedio de um RG e de um certificado digital..... 51 Figura 3: Estrutura da ICP-Brasil. ........................................................................................ 56 Figura 4: Tela inicial do Sistema PJe-JT .............................................................................. 66 Figura 5: Tela para informao do PIN no Sistema PJe-JT .................................................. 66 Figura 6: Tela inicial do PJe-JT, apresentada ao usurio autenticado ................................. 67 Figura 7: Menus do PJe-JT .................................................................................................. 67

  • LISTA DE ABREVEATURAS E SIGLAS

    AC Autoridade Certificadora AC-Raiz Autoridade Certificadora Raiz AR Autoridade de Registro Art. Artigo CF Constituio Federal CLT Consolidao das Leis do Trabalho CNJ Conselho Nacional de Justia CPC Cdigo de Processo Civil CSJT Conselho Superior da Justia do Trabalho DEJT Dirio Eletrnico da Justia do Trabalho ICP Infraestrutura de Chaves Pblicas IN Instruo Normativa ITI Instituto Nacional de Tecnologia da Informao JDT Justia do Trabalho PJe Processo Judicial Eletrnico PJe-JT Processo Judicial Eletrnico da Justia do Trabalho Portal-JT Portal da Justia do Trabalho TRT Tribunal Regional do Trabalho TST Tribunal Superior do Trabalho

  • S U M R I O

    LISTA DE ILUSTRAES .................................................................................................... 9

    LISTA DE ABREVEATURAS E SIGLAS ............................................................................ 10

    INTRODUO .................................................................................................................... 13

    1 PROCESSO: VISO GERAL ................................................................................... 15

    1.1 O Estado e o Processo ........................................................................................... 15

    1.2 Estado, conflito e jurisdio ................................................................................... 16

    1.2.1 Conceito de jurisdio ............................................................................................... 19

    1.2.2 Princpios da jurisdio ............................................................................................. 20

    1.2.3 Espcies de jurisdio ............................................................................................... 21

    1.3 Processo, Procedimento e Autos .......................................................................... 24

    1.4 Processo do Trabalho: histrico, conceito, caractersticas e autonomia ........... 25

    1.5 Primeiros passos na informatizao do processo ............................................... 28

    2 A REGULAMENTAO LEGAL DO PROCESSO JUDICIAL ELETRNICO ......... 30

    2.1 A Medida Provisria n 2.200-2/2001 ...................................................................... 30

    2.2 A Lei 11.419 de 19 de dezembro 2006 .................................................................... 33

    2.2.1 Da informatizao do processo judicial ..................................................................... 34

    2.2.2 Da comunicao eletrnica dos atos processuais ..................................................... 36

    2.2.3 Do Processo Eletrnico ............................................................................................. 38

    2.2.4 Das disposies gerais ............................................................................................. 39

    2.3 A Instruo Normativa (IN) n. 30 do Tribunal Superior do Trabalho - TST ........ 40

    2.3.1 O Peticionamento Eletrnico e o e-DOC ................................................................... 41

    2.4 A Resoluo CSJT n 94, de 23 de maro de 2012 ............................................... 43

    2.4.1 Viso geral da Resoluo 94/2012 ............................................................................ 43

    2.4.2 Dos Comits Gestores .............................................................................................. 45

    2.5 A vigncia da IN 30/2007 do TST e a Resoluo n. 90/2012 do CSJT ................. 46

    3 O PJe-JT E SUAS TECNOLOGIAS ......................................................................... 48

    3.1 O que o PJe-JT? ................................................................................................... 48

    3.2 As tecnologias envolvidas ..................................................................................... 49

    3.2.1 Certificado Digital ...................................................................................................... 49

  • 3.2.2 Assinatura digital e assinatura digitalizada ................................................................ 51

    3.2.3 A Infraestrutura de Chaves Pblicas Brasileira (ICP-Brasil) ...................................... 52

    3.3 A Questo da segurana da informao ............................................................... 56

    3.4 Vantagens do PJe-JT .............................................................................................. 60

    3.4.1 A economia processual ............................................................................................. 61

    3.4.2 A celeridade processual ............................................................................................ 61

    3.4.3 A responsabilidade socioambiental ........................................................................... 62

    3.4.4 A ubiquidade do processo ......................................................................................... 63

    3.5 PJe-JT, o software................................................................................................... 64

    3.6 Acessando o Sistema ............................................................................................. 65

    3.6.1 Os atores do sistema ................................................................................................ 67

    3.6.2 O jus postulandi no PJe-JT ....................................................................................... 68

    4 CONCLUSO ........................................................................................................... 70

    REFERNCIAS ................................................................................................................... 71

  • 13

    INTRODUO

    O Estado moderno tem dentre suas funes, aquela de absorver para si a

    resoluo de conflitos, e o faz por meio da prestao jurisdicional. O processo tem,

    pois, funo de grande relevncia no meio social, j que por meio dele,

    observados os princpios que o norteiam contraditrio, ampla defesa, razovel

    durao, publicidade etc. que possvel figura estatal dirimir as questes que a

    ela so apresentadas.

    Nesse sentido, todo esforo que se afigure til para melhoria da prestao

    jurisdicional valido e deve ser incentivado. Pensando dessa forma, o Conselho

    Nacional de Justia deu inicio a um projeto com vistas implantao do Processo

    Judicial Eletrnico (PJe) em mbito nacional. Esse esforo conta com o apoio de

    vrios outros rgos do judicirio e j est em plena implantao na Justia do

    Trabalho. O principal produto oriundo desta iniciativa um sistema de informao, o

    Processo Judicial Eletrnico da Justia do Trabalho, ou PJe-JT.

    Diante disso e por meio da utilizao do mtodo dedutivo, procurou-se no

    presente trabalho analisar as vantagens da implantao da filosofia do processo

    judicial eletrnico na Justia do Trabalho. Aplicou-se para tanto, tcnicas de

    pesquisa documental e bibliogrfica, por meio de anlise doutrinria acerca do tema,

    bem como consulta a matrias e documentos veiculados preferencialmente em sites

    governamentais.

    O trabalho divide-se da seguinte forma: no primeiro captulo do trabalho faz-

    se breves consideraes acerca da teoria geral do processo, abordado conceitos

    com estado, conflito e jurisdio. Acerca da jurisdio, falou-se dos princpios que a

    norteiam, trazendo ainda as espcies de jurisdio. No que tange ao processo,

    houve a necessidade de apresentar a diferena entre a figura do processo, do

    procedimento e dos autos processuais. Neste captulo deu-se nfase ao processo

    do trabalho, quando se tratou de sua histria, conceito caractersticas e autonomia

    em relao ao direito processual de forma geral. Por fim, encerrando a viso geral

    do processo, falou-se dos primeiros esforos rumo informatizao processual.

    O segundo captulo destinou-se abordagem da legislao correlata

    questo do Processo Eletrnico, de forma que foram abordados alguns diplomas

    legislativos essenciais efetivao de um Processo Judicial Eletrnico nos moldes

  • 14

    do PJe-JT. Dentre as normas tratadas, esto a Medida Provisria n 2.200-2/2001, A

    Lei Nacional 11.419/2006, A Instruo Normativa n 30/2007 do Tribunal Superior do

    Trabalho e a Resoluo n 94/2012 do Conselho Superior da Justia do Trabalho. O

    estudo de forma holstica deste arcabouo normativo permite perceber a estrutura

    legal em que se sustenta o PJe-JT.

    O Captulo terceiro destinou-se anlise das tecnologias envolvidas na

    construo do PJe-JT, bem como a fazer uma breve apresentao do Sistema de

    Informao que representa o Processo Judicial Eletrnico. Nele so abordadas

    questes com a certificao digital, assinaturas eletrnicas, criptografia,

    infraestrutura de chaves pblicas e segurana da informao. Ainda neste captulo

    foram apresentadas algumas das principais vantagens do Processo Eletrnico,

    como a economia e celeridade processuais, a responsabilidade socioambiental e a

    ubiquidade do processo em meio virtual. Enfim, feita uma apresentao do novo

    Sistema Processual da Justia do Trabalho para a tramitao eletrnica de

    processos. Algumas ilustraes do Sistema so apresentadas e tecidos comentrios

    sobre a estrutura deste, falando-se por exemplo, dos atores do Sistema e da

    questo do Jus Postulandi ante o PJe-JT.

  • 15

    1 PROCESSO: VISO GERAL

    1.1 O Estado e o Processo

    O nascimento do processo e do direito processual esto intimamente ligados

    ao surgimento do Estado moderno. Tal premissa se fundamenta no fato de que

    quando o homem firmou com seus pares um acordo implcito, cedendo parte de sua

    liberdade em favor do bem comum, originando assim o ente abstrato a que

    conhecemos como Estado, ele outorgou a este ente a prerrogativa de chamar para

    si a resoluo dos conflitos que se instalam no seio social.

    Rousseau (2007, p. 10), lanando as bases da figura estatal, bem

    caracterizou esta situao, quando falou daquilo que conceituou como contrato

    social. Segundo ele, cada um de ns pe em comum sua pessoa e toda a sua

    autoridade, sob o supremo comando da vontade geral, e recebemos em conjunto,

    cada membro como parte indivisvel do todo.

    O filsofo segue dizendo:

    Logo, ao invs da pessoa particular de cada contratante, esse ato de associao produz um corpo moral e coletivo, composto de tantos membros quanto a assembleia de vozes, o qual recebe desse mesmo ato sua unidade, seu eu comum, sua vida e sua vontade. A pessoa pblica, formada assim pela unio de todas as outras, tomava outrora o nome de cidade, e toma hoje o de repblica ou corpo poltico, o qual chamado por seus membros: Estado, quando passivo; soberano, quando ativo; autoridade, quando comparado a seus semelhantes. No que concerne aos associados, adquirem coletivamente o nome de povo, e se chamam particularmente cidados, na qualidade de participantes na autoridade soberana, e vassalos, quando sujeitos s leis do Estado. (ROSSEAU, 2007, p.10, grifo nosso).

    Acerca da funo do Estado moderno Grinover, Cintra e Dinamarco (2010,

    p. 31) colocam:

    Afirma-se que o objetivo-sntese do Estado contemporneo o bem comum, e quando se passa ao estudo da jurisdio, licito dizer que a projeo particularizada do bem-comum nessa rea a pacificao com justia. O estado brasileiro quer uma ordem social que tenha como base o primado do trabalho e como objetivo o bem-estar e a justia sociais (art. 193) e considera-se responsvel pela sua efetividade. Para o cumprimento desse desiderato, prope-se a desenvolver a sua variada atividade em benefcio da populao, inclusive intervindo na ordem econmica e na

  • 16

    social na medida em que isso seja necessrio consecuo do desejado bem-comum, ou bem-estar social.

    Assim, cabe ao Estado promover o bem comum, a paz e a justia sociais, e

    uma das formas de isso se concretizar atravs da boa administrao da justia.

    Por isso, tem lugar a figura do Processo como meio para a resoluo das lides

    atravs de um sistema estruturado, guiado por princpios e normas que busca, de

    forma imparcial e justa, dirimir os conflitos, reconhecendo aquele que tem a razo e

    prestando a atividade jurisdicional.

    1.2 Estado, conflito e jurisdio

    O conflito elemento constitutivo e natural do meio social. caracterstica

    do homem a individualidade, a comear da estrutura fsica, onde as caractersticas

    variam imensido e sequer as digitais de um so iguais do outro; assim, diversas

    outras caractersticas tanto de ordem fsica, quanto psicolgica, diferenciam as

    vrias personalidades humanas; de outro modo no acontece com relao aos

    desejos, anseios, objetivos, expectativas e tendncias da figura humana.

    Assim, a harmonia na convivncia intersubjetiva se mostra permeada de

    choques de interesses e vontades, onde, de quando em quando, eclode uma

    pendenga entre os atores sociais, a qual, a bem da coletividade, deve ser sanada o

    quanto antes, pois a indefinio nascida da no resoluo dos litgios que afloram no

    grupo fonte de insatisfao, de instabilidade e de insegurana. Por isso mesmo,

    pode-se asseverar que o conflito uma antinomia, ou uma patologia social, logo

    indesejada, e que precisa ser expurgada do meio para que os cidados vivam

    melhor.

    Uma das formas de se considerar a resoluo dos conflitos sob o prisma

    de onde parte a soluo. Assim sendo, a eliminao dos conflitos pode ser verificada

    por obra de um ou de ambos os litigantes, ou por interferncia de um terceiro.

    Quando a resoluo se d pela atuao unicamente dos prprios conflitantes, pode-

    se ter a autocomposio na qual uma ou ambas as partes fazem concesses

    recprocas para resolver a pendncia , ou a autotutela (tambm chamada

    autodefesa), onde uma parte sacrifica o interesse alheio atravs da fora. Quando

  • 17

    h a influncia de um terceiro, pode se falar em defesa de terceiro, conciliao,

    mediao ou processo.

    Na primitividade da civilizao, por conta da inexistncia de um Estado

    suficientemente forte e organizado para se imiscuir nas questes particulares,

    resolver o conflito e impor suas decises, a autotutela foi bastante utilizada como

    forma de resoluo dos litgios, lembrando que sequer havia normas de carter geral

    a serem aplicadas nas decises das lides que surgiam. Desta forma, aquele que

    pretendesse alguma coisa pertencente a outrem, deveria, por meio de sua fora,

    conseguir o bem da vida desejado. Disto se vislumbra duas caractersticas da

    autotutela que seriam (1) a ausncia de juiz distinto das partes e (2) a imposio da

    vontade de uma das partes outra. A autodefesa mecanismo precrio, vez que

    no se baliza em critrios que busquem a justia, o dar a cada um o que seu,

    mas se baseia na lei do mais forte. desencorajada e, mesmo reprovada, no

    ordenamento jurdico atual. Nessa linha, Silva (2003, p. 08) ratifica:

    A necessidade do processo judicial representa um custo para todos os titulares de direitos ou de outros interesses legalmente protegidos pela ordem jurdica estatal, medida que, estabelecido o monoplio da jurisdio, como uma decorrncia natural da formao do Estado, afasta-se definitivamente a possibilidade das reaes imediatas tomadas pelos titulares para a pronta observncia e realizao do prprio direito. A ideia de processo afasta a ideia de instantaneidade da reao que o titular do direito ofendido poderia ter, se no tivesse de submet-lo, antes, ao crivo de uma investigao sempre demorada, tendente a determinar sua prpria legitimidade (grifos nossos).

    No que tange autocomposio, ela se estende, de forma residual, at os

    dias atuais e consiste numa espcie de acordo entre as partes, sem a ingerncia de

    terceiros. A autocomposio pode se dar de trs formas, a saber, a desistncia,

    onde a parte renuncia sua pretenso; a submisso, onde a parte desiste de

    oferecer resistncia pretenso; e a transao, na qual h concesses recprocas.

    de se perceber que todas essas formas de resoluo de conflitos partilham da

    caracterstica de dependerem da vontade das partes envolvidas, de ambas, ou de

    uma delas, o que pode, muitas vezes levar a resoluo da lide demora excessiva,

    ou inviabiliz-la. Tal fato levou os indivduos a preferirem a busca de rbitros,

    pessoas de sua confiana, normalmente sacerdotes ou ancios, para decidirem

    suas lides, evitando assim as formas autocompositivas.

  • 18

    Acerca destes institutos autotutela, autocomposio e arbitragem

    anteriormente ao surgimento do Estado como o conhecemos hoje, Grinover, Cintra e

    Dinamarco (2010, p. 28) destacam que, na autotutela, aquele que impunha sua

    vontade ao adversrio no cogitava da possibilidade de apresentar ou pedir

    declarao da existncia de direito a outrem, mas simplesmente satisfazia sua

    pretenso pelo emprego da fora. J na autocomposio e na arbitragem, o que

    havia era a mera fixao da existncia ou no do direito, pois o cumprimento da

    deciso, naqueles tempos iniciais, continuava a depender da imposio de soluo

    violenta parcial, ou seja, atravs da autotutela.

    A participao do Estado na soluo dos conflitos e a sua tendncia em

    absorver a autoridade de fulminar os litgios, foi se dando paulatinamente, medida

    que o ente estatal foi se afirmando e conseguindo impor-se aos particulares, atravs

    da invaso da esfera de liberdade destes.

    Mais uma vez so Grinover, Cintra e Dinamarco (2010) que fazem uma

    breve viagem histrica para delimitar no tempo o lanamento das bases da figura

    estatal como centralizadora da resoluo de conflitos no seio da sociedade. Os

    autores destacam o surgimento da figura do pretor e do legislador, por volta do

    sculo II a.C., destacando que o juiz, representado esta poca pelo pretor, surgiu

    primeiro que o legislador, pois este s veio aparecer quando se percebeu a

    necessidade de procurar facilitar a sujeio das partes s decises do terceiro, o

    que foi buscado atravs do estabelecimento de regras abstratas, destinadas a servir

    de critrio objetivo e vinculativo para tais decises, objetivando afastar o temor de

    julgamentos arbitrrios e subjetivos. Nasceu a a figura do legislador, que tem como

    marco a Lei das XII tbuas, datada de 450 a.C.

    O passo seguinte nessa evoluo histrica veio com a invaso, pelo pretor

    de rea que antes no lhe pertencia. Este, contrariando a ordem preestabelecida

    passou conhecer ele prprio do mrito dos litgios entre os particulares, proferindo a

    sentena diretamente, em vez de nomear um rbitro para faz-lo, como era de praxe

    at ento. Com isso concluiu-se um ciclo histrico do que se convencionou chamar

    justia privada, tendo incio a justia pblica, onde o Estado, agora j fortalecido, se

    impe aos particulares e, prescindindo da vontade destes, impe-lhes

    autoritariamente a soluo para os conflitos interpessoais.

  • 19

    1.2.1 Conceito de jurisdio

    Rocha (2010, p. 64) conceitua jurisdio como a funo estatal que tem a

    finalidade de garantir a eficcia dos direitos em ltima instancia no caso concreto,

    inclusive recorrendo fora, se necessrio. Pela jurisdio os juzes agem em

    substituio s partes, que no podem fazer justia com as prprias mos, j que no

    estado moderno vedada a autodefesa. Aos jurisdicionados, que no mais podem

    agir, resta-lhes a possibilidade de fazer o Estado agir, provocando o exerccio da

    funo jurisdicional.

    Perceba-se que a jurisdio forma de resoluo heternoma de conflitos,

    de cunho eminentemente estatal, j que, por meio dela que o Estado resolve os

    conflitos intersubjetivos na sociedade moderna. Exaltando a importncia da

    jurisdio, bem como situando a jurisdio trabalhista no bojo da Constituio

    Federal vigente, Nascimento (2009, p. 23) pontua:

    A jurisdio para a soluo de conflitos a mais generalizada possvel, porque no h pas que proba a soluo de conflitos trabalhistas pelo Poder Judicirio, de modo que a diferena entre os pases est na maior ou menor atuao jurisdicional e na sua especializao ou no. A jurisdio, vista no plano histrico, resultada da passagem da ao fsica (autodefesa) para a ao jurdica (processo judicial). Maiores so as possiblidades de um desfecho justo e pacfico do conflito, desde que, realmente, fonte de deciso se atribuam a fora e a independncia necessrias. Por tal motivo a jurisdio funo do Estado, porque tem condies melhores para fazer cumprir as decises que provm de um rgo constitudo para o fim especfico de decidir, o Poder Judicirio. A jurisdio trabalhista est fundada na Constituio Federal, que prev, entre os poderes que integram a Repblica, o Judicirio (CF, art. 92 e s.) inclusive tribunais e juzes do trabalho (art. 111), e assegura a inafastabilidade do direito ao exerccio da jurisdio (art. 5, XXXV).

    Vale lembrar ainda que a jurisdio pode ser vista sobre trs aspectos, a

    saber: poder, funo e atividade. Como poder ela a manifestao da prerrogativa

    estatal de decidir imperativamente e de impor suas decises ao jurisdicionado.

    Como funo se consubstancia no encargo ou dever do ente estatal de pacificar os

    conflitos intersubjetivos que eclodam no seio social, e que requeiram sua atuao. A

    efetivao da funo jurisdicional se d por meio do processo, buscando a

    concretizao do direito de forma justa. J o vis da jurisdio como atividade

    consiste no conjunto de atos do juiz ao desenvolver o processo, onde este, atravs

    do poder do qual investido, cumpre a funo que lhe compete.

  • 20

    1.2.2 Princpios da jurisdio

    Noticiam-nos Grinover, Cintra e Dinamarco (2010, p. 155) que em todos os

    pases a jurisdio informada por alguns princpios fundamentais, os quais, com ou

    sem expressa previso em lei, so universalmente aceitos. Dentre estes, os autores

    destacam: a) investidura; b) aderncia ao territrio; c) indelegabilidade; d)

    inevitabilidade; e) inafastabilidade; f) juiz natural; g) inrcia. Analisemos de forma

    sinttica cada um deles, sob a tica dos autores citados.

    O princpio da investidura informa que a jurisdio s ser exercida por que

    tenha sido regularmente investido na autoridade de juiz. J se disse que a jurisdio

    monoplio da pessoa jurdica estatal, a qual a exerce atravs de pessoas fsicas,

    que so seus agentes. Essas pessoas so os juzes.

    O princpio da aderncia ao territrio ou da territorialidade preconiza que a

    jurisdio somente atua dentro dos limites territoriais de soberania do Estado.

    Considerando ainda que os juzes so distribudos em comarcas (Justias

    Estaduais) ou entrncias (Justia Federal), decorre que cada magistrado tem

    atuao limitada ao territrio sujeito sua jurisdio por determinao legal.

    O princpio da indelegabilidade tem previso constitucional expressa e

    informa que defeso a qualquer dos poderes delegar suas atribuies. a prpria

    Constituio Federal que fixa o contedo as atribuies do Poder Judicirio e nem

    mesmo a lei infraconstitucional pode alterar tal distribuio de atribuies.

    O princpio da inevitabilidade diz que, por ser a jurisdio prerrogativa

    estatal, ela se impe por si mesma, independente da vontade das partes . A situao

    das partes ante o Estado-juiz de sujeio, que independe da vontade destas e

    consiste na impossibilidade de evitar que sobre elas e sobre sua esfera de direitos

    seja exercida a autoridade estatal.

    Tem fulcro no artigo 5, inciso XXX1 da Constituio federal o princpio da

    inafastabilidade e aduz que uma vez trazida uma pretenso a juzo, no pode o

    Estado se esquivar de dar uma resposta a esta pretenso. Perceba-se que

    possvel haver lacuna na lei, mas no no direito. Da que o Cdigo de Processo Civil

    1 A lei no excluir da apreciao do Poder Judicirio leso ou ameaa a direito; (CF, art. 5, inc. XXXV)

  • 21

    reza no artigo 126 que o juiz no poder se eximir de sentenciar ou despachar

    alegando lacuna ou obscuridade na lei. No julgamento da lide caber-lhe- aplicar as

    normas legais e, em no as havendo, recorrer analogia, aos costumes e aos

    princpios gerais do direito.

    Tem-se em decorrncia do princpio do juiz natural que ningum ser

    privado de julgamento por magistrado independente e imparcial, indicado pelas

    normas constitucionais e legais. A Constituio da Repblica veda ainda a

    possiblidade de existncia dos chamados tribunais de exceo.

    J o princpio da inrcia informa que o judicirio, em regra, no pode agir de

    ofcio, mas somente em decorrncia da provocao do jurisdicionado. Como

    fundamento para este princpio, lembre-se que existem outras formas de resoluo

    de conflitos, tais como a autocomposio, a conciliao extraprocessual, a

    arbitragem etc. O Estado deve deixar aos particulares que procurem os meios

    possveis, e que eles mesmos venham a provoc-lo caso no consigam resolver a

    lide de outra forma.

    1.2.3 Espcies de jurisdio

    A jurisdio, considerada como o poder soberano do Estado, a rigor no

    comporta divises:

    [...] falar em diversas jurisdies num mesmo Estado significaria afirmar a existncia, a, de uma pluralidade de soberanias, o que no faria sentido. A jurisdio , em si mesma, to una e indivisvel quanto o prprio poder soberano. A doutrina, porm, fazendo embora tais ressalvas, costuma falar em espcies de jurisdio, como se esta comportasse classificao em categorias (GRINOVER; CINTRA; DINAMARCO, 2010, p. 160).

    A diviso costumeira feita pela doutrina majoritria classifica a jurisdio nas

    seguintes espcies: (1) sob a tica de seu objeto: jurisdio penal ou civil; (2) tendo

    em vista os rgos judiciais que a exercem: especial ou comum; (3) considerando o

    vis da hierarquia dos rgos jurisdicionais: superior ou inferior, e, por fim, (4) pelo

    critrio da fonte do direito, em que se funda o julgamento: jurisdio de direito e de

    equidade. Passamos, a seguir, a analisar cada uma dessas espcies, procurando

    destacar as suas peculiaridades.

  • 22

    Jurisdio penal ou civil

    comum se dividir as demandas judiciais em penais e no penais. Estas

    ltimas, chamadas de demandas civis, so, por excluso, todas aquelas que no

    tm cunho penal, sendo que estas tm natureza punitiva, e, via de regra, podem

    afetar a esfera de liberdade do indivduo, sendo por isso mesmo, a ultima ratio do

    Estado, s devendo se empregadas quando todos os demais meios se mostrarem

    ineficazes. A jurisdio penal exercida pelos juzes estaduais comuns, Justia

    Militar Federal, Justia Federal e Justia Eleitoral. Vale destacar que apenas a

    Justia do Trabalho no tem atribuio de competncia penal.

    Percebe-se que a jurisdio civil bastante ampla, j que abarca todo o

    resduo da jurisdio dita penal. Considerando-a em sentido latu, ela exercida

    pelas Justias Federal, Estadual, Trabalhista e Eleitoral, s no cabendo Justia

    Militar. Se considerada de forma estrita, onde atuar apenas nas demandas que

    envolvam o processo civil, ela competir apenas s Justias Estadual e Federal.

    Jurisdio comum ou especial

    Essa diviso feita pela doutrina considerando as regras de competncia

    definidas na prpria Lei Maior. Assim, aqueles organismos judicirios cuja prpria

    natureza das demandas em que atuam apresenta alguma especialidade ou

    especificidade, incluem-se na esfera da chamada jurisdio especial. Da tem-se

    como justias especiais, a Trabalhista, a Eleitoral e a Militar. A jurisdio comum

    ocupa-se, por excluso, de toda a matria que no abarcada por algum dos ramos

    especiais da jurisdio. Compem a jurisdio comum a Justia Federal e as

    Justias Estaduais ordinrias.

    Jurisdio superior ou inferior

    A existncia de graus de jurisdio se funda no fato de que o ser humano

    inconformado por natureza. Deste modo, aquele que sucumbe em uma demanda

  • 23

    judicial deseja ver a questo reexaminada por rgo diferente daquele que proferiu a

    sentena. Assim, o rgo jurisdicional que examina inicialmente a matria tido

    como jurisdio inferior, no sentido de estar hierarquicamente abaixo daquele outro

    rgo que reapreciar a questo em sede recursal, sendo este ltimo, por isso

    mesmo conhecido como jurisdio superior. Os rgos da jurisdio inferior so

    chamados de rgos de primeira instncia, e os de jurisdio superior, de rgos de

    segunda instncia.

    No mbito trabalhista, a primeira instncia exercida pelos juzes do

    trabalho, titulares ou substitutos, rgos monocrticos; j a segunda instncia

    representada pelos Tribunais Regionais do Trabalho, rgos de natureza colegiada.

    Jurisdio de direito e de equidade

    Grinover, Cintra e Dinamarco (2010, p. 166) classificam ainda a jurisdio

    como podendo ser de direito e de equidade. A jurisdio de equidade, em

    contraposio de direito, tem previso no art. 27 do Cdigo de Processo Civil, que

    assim reza: o juiz s decidir por equidade nos casos previstos em lei. A deciso

    por equidade consiste em decidir o julgador sem as amarras impostas pela lei, e

    cabvel quando o legislador constri a lei, deixando certa margem para a

    individualizao da norma pelo poder judicirio, caso a caso. Sobre o tema,

    transcreve-se os autores citados:

    Decidir por equidade significa decidir sem as limitaes impostas pela precisa regulamentao legal; que s vezes o legislador renuncia a traar desde logo na lei a exata disciplina de determinados institutos, deixando uma folga para a individualizao da norma atravs dos rgos judicirios (CC, arts.400 e 1.456). nesses casos que o juiz exerce a jurisdio de equidade, a que se refere a doutrina em contraposio jurisdio de direito. No direito processual civil, sua admissibilidade e excepcional (CPC, art. 127), mas nos processos arbitrais podem as partes convencionar que o julgamento seja feito por equidade (LA, art. 11, inc. II). Na arbitragem ajustada perante os juizados especiais, o julgamento por equidade sempre admissvel, independentemente de autorizao pelas partes (lei n. 9.099, de 26.9.1995, art.25). No processo penal o juzo de equidade a regra geral (individualizao judiciaria da pena- CB art. 42); tambm nos feitos de jurisdio voluntria, e m que o juiz pode "adotar em cada caso a soluo que reputar mais conveniente ou oportuna (CPC, art. 1.109).

  • 24

    1.3 Processo, Procedimento e Autos

    O conceito de processo no mbito do direito no raramente confundido

    com a ideia de procedimento, ou mesmo com os autos. Analisemos cada um desses

    institutos procurando afastar as controvrsias que reinam no tocante conceituao

    dos mesmos, sempre lembrando que o ato de conceituar terreno perigoso e

    escorregadio, cujo esforo se justifica principalmente pela questo didtica.

    O processo, do ponto de vista jurdico, pode ser visto como o instrumento do

    qual se vale o Estado para dirimir os litgios que a ele so submetidos, prestando a

    tutela jurisdicional. Etimologicamente, o termo processo significa marcha avante ou

    caminhada, provindo do latim (procedere = seguir adiante). Este fato fez com que,

    durante muito tempo fosse o processo confundido com a simples sucesso de atos

    processuais, sendo que isto, na verdade consiste na ideia de procedimento.

    Entretanto, o processo bem mais do que o conjunto de procedimentos

    atravs dos quais ele se externa: h, no processo, uma fora que motiva e justifica

    a prtica dos atos de procedimento, interligando os sujeitos processuais

    (GRINOVER; CINTRA; DINAMARCO, 2010, p. 301). Assim, o processo pode ser

    comparado a uma fora, ou vontade, a do Estado, que, uma vez provocado pela

    jurisdicionado, inicia o processo e perpassa transversalmente os atos processuais,

    interligando-os, ao tempo em que tambm conjuga nesse bojo os atores

    processuais, ou seja, as partes, o juiz, os serventurios da justia etc. Integra o

    processo ainda a lgica com que os atos se do, bem como a ordem cronolgica em

    que o mesmo se desenvolve. Giglio (1997, p.02), nesse sentido conceitua processo

    nos seguintes termos: processo, em sentido amplo significa sequncia ordenada e

    predeterminada de atos destinados a compor litgios.

    Nas palavras de Dinamarco (2005, p. 25):

    Processo uma srie de atos interligados e coordenados ao objetivo de produzir a tutela jurisdicional justa, a serem realizados no exerccio de poderes ou faculdades ou em cumprimento de deveres ou nus. Os atos interligados em seu conjunto so o procedimento.

    Perceba-se que a noo de processo teleolgica ou finalstica, vez que ele

    se instaura com o objetivo da prestao jurisdicional, e uma vez que este objetivo

  • 25

    atingindo ele se extingue, o que autoriza se afirme que o processo tem natureza de

    instrumento, no sendo um fim em si mesmo.

    Nessa esteira, o procedimento consiste no meio extrnseco pelo qual o

    processo se apresenta, instaurando-se, desenvolvendo-se e terminando. Enquanto

    avana o processo no tempo, ele vai deixando seus passos, suas marcas de

    existncia e essas marcas so os procedimentos, os quais podem ser vistos e

    palpveis, pois se materializam em peas processuais jungidas aos autos.

    Quanto aos autos processuais, esses se consubstanciam na forma fsica,

    tangvel oriunda da prestao jurisdicional. Grinover, Cintra e Dinamarco (2010, p.

    301) assim os caracterizam: autos, por sua vez, so a materialidade dos

    documentos nos quais se corporificam os atos do procedimento; no se deve falar,

    por exemplo, em fases do processo, mas do procedimento; nem em consultar o

    processo, mas os autos. Com o advento da virtualizao do processo, a tendncia

    que se apresenta a paulatina diminuio do nmero de autos fsicos ou impressos,

    at a sua total extino, uma vez que todas as peas processuais passaro a existir

    em forma digital, originando o que se pode chamar de autos virtuais.

    1.4 Processo do Trabalho: histrico, conceito, caractersticas e autonomia

    Nascimento (2009, p. 47) informa que na histria dos rgos trabalhistas no

    Brasil tm importncia, enquanto fatos histricos, a previso legal dos conselhos

    permanentes de conciliao e arbitragem (1907) e dos tribunais rurais (1922). Tanto

    os conselhos permanentes de conciliao e arbitragem, quanto os tribunais rurais

    no tiveram maior desenvolvimento, e a sua importncia se deve ao fato de

    mostrarem os primeiros movimentos para a institucionalizao da Justia do

    Trabalho, bem como os rudimentos primrios dessa justia especializada, tendo,

    portanto, carter meramente histrico.

    Como rgos que efetivamente atuaram nas questes trabalhistas, a histria

    d conta das Comisses Mistas de Conciliao e as Juntas de Conciliao e

    Julgamento, surgidas em 1932. As primeiras nasceram com o intuito nico conciliar

    matrias relativas a dissdios individuais; no havendo acordo, a demanda seria

    submetida s Juntas de Conciliao e Julgamento para deciso. Destaque-se que

    tais rgos tinham atuao administrativa, mas j inauguravam a chamada

  • 26

    institucionalizao da Justia do Trabalho, e constituiriam o embrio para o

    nascimento mais tarde, do judicirio trabalhista.

    Foi o decreto-lei n. 9.777, de 09 de setembro de 1946, que organizou a

    Justia do Trabalho como rgo integrante do Poder Judicirio, sendo que, no

    mesmo ano, essa organizao foi levada ao plano constitucional (NASCIMENTO,

    2009, p. 54). O autor sintetiza bem o processo evolutivo da Justia do Trabalho, que

    culminou com atribuio de status constitucional a esta justia especializada:

    A integrao da Justia do Trabalho no Poder Judicirio consequncia natural da evoluo histrica dos acontecimentos. Na sociedade empresarial, as controvrsias entre trabalhadores e empresrios assumem especial significado. O Estado, intervindo na ordem econmica e social, no pode limitar-se a dispor sobre matria trabalhista. Necessita, tambm, de aparelhamento adequado para a soluo dos conflitos de interesses, tanto no plano individual como no coletivo. Assim, a existncia de um rgo jurisdicional do Estado para questes trabalhistas o resultado da prpria transformao da ideia de autodefesa privada em processo judicial estatal, meio caracterstico de deciso dos litgios na civilizao contempornea. (NASCIMENTO, 2009, p. 55).

    Tecidas essas consideraes procuremos conceituar o direito processual do

    trabalho, no com vistas a engess-lo ou delimit-lo, mas para melhor nos situarmos

    na seara em que ora palmilhamos. Nascimento (2009, pg. 59) o conceitua como

    sendo o ramo do direito processual destinado soluo judicial dos conflitos

    trabalhistas. J Schiavi (2010, p. 93) o define como sendo o conjunto de princpios,

    normas e instituies que regem a atividade da Justia do Trabalho, com o objetivo

    de dar efetividade legislao trabalhista e social e assegurar o acesso do

    trabalhador Justia.

    No tocante autonomia do Direito Processual do Trabalho em relao aos

    demais ramos do direito processual, como o processual civil e o processual penal, a

    doutrina diverge. Neste sentido, destacam-se duas teorias, a saber: a teoria monista

    e a teoria dualista. A teoria monista defende que o direito processual uno e como

    tal no comporta divises, pelo que o direito processual do trabalho no existe como

    ramo autnomo, mas como mero desdobramento do direito processual em sua

    unidade. Para a teoria monista, as normas processuais no se diferem

    substancialmente para justificar-se o desdobramento e a autonomia de ramos do

    direito processual. A teoria monista nega ainda a autonomia do direito processual do

    trabalho sob a alegao de que o processo do trabalho est em fase de construo,

  • 27

    no tendo, sequer, autonomia legislativa, vez que no se tem um Cdigo de

    Processo do Trabalho.

    O entendimento majoritrio, entretanto, consubstanciado na teoria dualista,

    para dizer que o direito processual do trabalho autnomo em relao ao direito

    processual comum. Vrios argumentos interessantes so utilizados para ratificar

    esse entendimento, como o fato de o direto processual do trabalho ter princpios

    prprios, autonomia didtica, doutrinria e jurisprudencial. Destaca-se ainda o fato

    de ele servir-se do direito do trabalho, direito material, o qual autnomo, e por isso

    o processo do trabalho tambm teria autonomia. Neste sentido, trazemos os

    argumentos para defender a teoria dualista, de Nascimento (2009, p. 64), que

    destaca, dentre outros: (1) a jurisdio especial destinada a julgar dissdios

    individuais; (2) a existncia do dissdio coletivo econmico, jurdico e de greve como

    uma das particularidades do processo trabalhista; (3) A existncia de lei processual

    especfica, embora com larga aplicao subsidiria do direito processual comum.

    Outras caractersticas peculiares do direito processual do trabalho corroboram para

    a sua autonomia, a exemplo do princpio do jus postulandi e a figura da sentena

    normativa.

    Feitas essas consideraes de cunho histrico e de ordem geral sobre a

    teoria processual, buscou-se situar o campo de atuao do processo, com nfase no

    direito processual do trabalho, lanando-se assim, as bases do estudo que aqui se

    passa a fazer acerca do Processo Judicial Eletrnico na Justia do Trabalho (PJe-

    JT). Preparou-se o terreno para o aprofundamento acerca do tema, considerando-se

    os obstculos que vm se apresentando ao judicirio como um todo, o que no

    diferente em relao Justia do Trabalho, a exemplo do grande nmero de

    demandas que a ela chegam, em especial com a ampliao de sua competncia,

    por fora da Emenda Constitucional n 45/2004.

    Lanar o olhar sobre a histria e as caractersticas do direito laboral, bem

    como sobre conceitos inerentes teoria processual, tais como Estado, conflito e

    jurisdio, auxiliam o pesquisador a entender o contexto em que nasce o Processo

    Judicial Eletrnico na Justia Trabalhista, quais os problemas que ele precisar

    enfrentar e em que ponto de avano ele encontra a situao da processualstica

    laboral, permitindo assim um melhor desenrolar do estudo do PJe-JT, e um possvel

    vislumbre de solues e sadas que possam vir a se somar nesta luta por um

    processo mais clere e que atenda aos anseios da sociedade contempornea.

  • 28

    1.5 Primeiros passos na informatizao do processo

    A insero das tecnologias na rotina processual no data de agora. Ela vem

    sendo feita desde a admisso das mquinas de escrever na elaborao de peas

    processuais. Na conjuntura atual, praticamente impensvel o trabalho no mbito

    de uma Vara Trabalhista sem a utilizao de computadores ligados Internet. Basta

    ver que no incomum chegar-se a um cartrio judicial e este encontrar-se

    inoperante sob a alegao, por exemplo, de que o rgo encontra-se sem acesso

    Internet, ou de que o sistema est fora do ar. Da j se percebe o impacto da

    Tecnologia da Informao no contexto dos rgos jurisdicionais. E essa um a

    dependncia que s tende a aumentar, o que no algo ruim, pois ela trs

    benefcios, como o da celeridade.

    Quando se fala da insero das tecnologias no contexto do judicirio, vale

    mencionar a Lei 9.800/1999, conhecida com Lei do Fax. Ele foi um importante

    esforo para permitir a utilizao da Tecnologia da Informao na execuo de atos

    processuais, pois admitiu o envio de peas por meio de aparelhos de Fax:

    permitida s partes a utilizao de sistema de transmisso de dados e imagens tipo

    fac-smile ou outro similar, para a prtica de atos processuais que dependam de

    petio escrita. (BRASIL. Lei 9.800/1999, art. 1).

    No se pode negar a importncia histrica desta Lei, como um primeiro

    esforo para se admitir a transmisso eletrnica de peas processuais. Ela, porm,

    no trouxe grande avano do ponto de vista ftico, uma vez que exigiu daqueles que

    se utilizassem do fax para realizao de atos processuais, a entrega dos originais,

    posteriormente. A entrega deveria acontecer, necessariamente at cinco dias da

    data da recepo do material enviado via fax. Tal exigncia tornou a permisso de

    envio apenas uma forma de evitar-se a perda de prazos, j que o jurisdicionado

    continuava obrigado a entregar os documentos fsicos em seguida.

    Vale lembrar que a Lei 9.800/1999 tem aplicao subsidiria no mbito do

    processo do trabalho, e com respeito Justia do Trabalho, outras inovaes no

    tocante tecnologia j vm sendo amplamente empregadas, a exemplo da

  • 29

    utilizao do sistema Bacen Jud2, da Certido Nacional de Devedores Trabalhistas3,

    da Carta Precatria Eletrnica, do Dirio Eletrnico da Justia do Trabalho, dentre

    outros. Tais avanos no mbito de utilizao da tecnologia da informao como

    aliada na melhoria do sistema processual trabalhista demonstra a razo que leva a

    justia do trabalho a uma posio de vanguarda no judicirio brasileiro, se

    mostrando com uma das Justias mais cleres do pas.

    2 O Bacen Jud 2.0 um instrumento de comunicao eletrnica entre o Poder Judicirio e instituies financeiras bancrias, com intermediao, gesto tcnica e servio de suporte a cargo do Banco Central. Por meio dele, os magistrados protocolizam ordens judiciais de requisio de informaes, bloqueio, desbloqueio e transferncia de valores bloqueados, que sero transmitidas s instituies bancrias para cumprimento e resposta. (Banco Central do Brasil, 2013). 3 A lei n 12.440/2011 alterou a CLT e a Lei das Licitaes (n 8666/1993), para criar a Certido Negativa de Dbitos Trabalhistas - CNDT. Para expedio da CNDT, organizou-se o Banco Nacional de Devedores Trabalhistas - BNDT, centralizado no Tribunal Superior do Trabalho, a partir de informaes remetidas por todos os 24 Tribunais Regionais do Trabalho do pas. Deste Banco BNDT constam as pessoas fsicas e jurdicas que so devedoras inadimplentes em processo de execuo trabalhista definitiva. (Tribunal Superior do Trabalho. O que CNDT)

  • 30

    2 A REGULAMENTAO LEGAL DO PROCESSO JUDICIAL ELETRNICO

    Com respeito ao regramento legal do Processo Judicial Eletrnico, pode-se

    dizer que este comeou a se delinear no ano de 2001, com a edio da Medida

    Provisria n 2.200-2/2001, a qual instituiu e regulamentou a Infraestrutura de

    Chaves Pblicas Brasileira, organismo fundamental para a existncia de uma

    filosofia processual nos moldes em que tem sido forjado o PJe-JT.

    Outro diploma legal de suma relevncia nesse contexto foi a Lei Nacional n

    11.419/2006, conhecida com Lei do Processo Eletrnico, a qual traa linhas gerais

    atinentes ao tema PJe. No mbito da Justia do Trabalho, em especfico, podemos

    destacar um esforo inicial feito pelo TST, em dar cumprimento ao que preconiza a

    referida lei, editando, j em 2007, a Instruo Normativa (IN) n. 30, que

    regulamentou o Processo Judicial Eletrnico no mbito de competncia desta Corte

    Superior.

    Nessa esteira, cumpre mencionar ainda a Resoluo n. 94, de 23 de maro

    2012, do Conselho Superior da Justia do Trabalho (CSJT), a qual institui o Sistema

    Processo Judicial Eletrnico da Justia do Trabalho (PJe-JT) como sistema de

    processamento de informaes e prtica de atos processuais, estabelecendo

    tambm os parmetros para sua implementao e funcionamento. Uma vez que

    esses diplomas legais so de grande relevncia para a compreenso e criao de

    uma viso holstica acerca do PJe-JT, eles sero abordadas em maior profundidade

    neste captulo.

    2.1 A Medida Provisria n 2.200-2/2001

    Em 27 de julho de 2001 foi editada a MP 2.200-1, a qual foi reeditada, sob o

    nmero 2.200-2, em 24 de agosto do mesmo ano. Embora no tenha sido convertida

    em lei, ainda tem vigncia plena, uma vez esta MP estava em vigor quando da

    edio da Emenda Constitucional n 32 de 11 de setembro de 2001. Esta Emenda

    trouxe profundas alteraes atinentes ao regime das MP, e previu em seu artigo 2

    que as Medidas Provisrias editadas em data anterior da sua publicao

  • 31

    continuariam em vigor at que medida provisria ulterior as revogasse

    explicitamente ou at deliberao definitiva do Congresso Nacional.

    A MP 2200-2/2001 instituiu a Infraestrutura de Chaves Pblicas Brasileira,

    mais conhecida pela sigla ICP-Brasil. A ICP-Brasil visa garantir a autenticidade, a

    integridade e a validade jurdica de documentos em forma eletrnica, das aplicaes

    de suporte e das aplicaes habilitadas que utilizem certificados digitais, bem como

    a realizao de transaes eletrnicas seguras (BRASIL. Medida Provisria n

    2.200-2, Art. 1).

    Acerca da MP 2.200-2/01, deve ficar claro que ela traa os padres da ICP-

    Brasil, definindo algumas figuras, entre elas, a Autoridade Gestora de Polticas,

    autoridade esta que ser exercida pelo Comit Gestor, o qual vinculado Casa

    Civil da Presidncia da Repblica, e cuja estrutura est disposta no art. 3 da

    referida norma4. O Comit Gestor ter obrigatoriamente em sua composio cinco

    representantes da sociedade civil, integrantes de setores interessados, os quais

    devem ser designados pelo Presidente da Repblica. Essa exigncia da norma

    certamente visa a dar maior participao da sociedade civil na Gesto do ICP-Brasil,

    conferindo ao comit carter democrtico e transparente.

    A MP 2.200-2/01 define ainda as atribuies do Comit Gestor, as quais se

    encontram exageradas no art. 4 do diploma legal, tendo este Comit carter de

    gesto e fiscalizao. Dentre as atribuies elencadas, de cunho exemplificativo,

    esto:

    Estabelecer a poltica, os critrios e as normas tcnicas para o

    credenciamento das AC, das AR e dos demais prestadores de servio de

    suporte ICP-Brasil, em todos os nveis da cadeia de certificao;

    Estabelecer a poltica de certificao e as regras operacionais da AC-

    Raiz;

    4 Art. 3 A funo de autoridade gestora de polticas ser exercida pelo Comit Gestor da ICP-Brasil, vinculado Casa Civil da Presidncia da Repblica e composto por cinco representantes da sociedade civil, integrantes de setores interessados, designados pelo Presidente da Repblica, e um representante de cada um dos seguintes rgos, indicados por seus titulares: I - Ministrio da Justia; II - Ministrio da Fazenda; III - Ministrio do Desenvolvimento, Indstria e Comrcio Exterior; IV - Ministrio do Planejamento, Oramento e Gesto; V - Ministrio da Cincia e Tecnologia; VI - Casa Civil da Presidncia da Repblica; e VII - Gabinete de Segurana Institucional da Presidncia da Repblica.

  • 32

    Homologar, auditar e fiscalizar a AC-Raiz e os seus prestadores de

    servio;

    Estabelecer diretrizes e normas tcnicas para a formulao de polticas

    de certificados e regras operacionais das AC e das AR e definir nveis da

    cadeia de certificao;

    Aprovar polticas de certificados, prticas de certificao e regras

    operacionais, credenciar e autorizar o funcionamento das AC e das AR,

    bem como autorizar a AC-Raiz a emitir o correspondente certificado;

    Atualizar, ajustar e revisar os procedimentos e as prticas estabelecidas

    para a ICP-Brasil, garantir sua compatibilidade e promover a atualizao

    tecnolgica do sistema e a sua conformidade com as polticas de

    segurana.

    Outra importante figura definida pela MP a AC-Raiz, primeira autoridade da

    cadeia de certificao. Ela a autoridade executora das Polticas de Certificados e

    normas tcnicas e operacionais aprovadas pelo Comit Gestor do ICP-Brasil e suas

    principais competncias esto expressas no art. 5 da Medida Provisria em

    comento. AC-Raiz vedado emitir certificados para usurio final. Ela deve

    gerenciar os certificados das Autoridades Certificadoras de nvel imediatamente

    inferior ao seu, ou seja, as AC de primeiro nvel.

    Com respeito s Autoridades Certificadoras (AC), tambm reguladas pela

    MP em tela, elas so

    [...] entidades credenciadas a emitir certificados digitais vinculando pares de chaves criptogrficas ao respectivo titular, compete emitir, expedir, distribuir, revogar e gerenciar os certificados, bem como colocar disposio dos usurios listas de certificados revogados e outras informaes pertinentes e manter registro de suas operaes (BRASIL. Medida Provisria n 2.200-2, Art. 6).

    exigncia da norma que o par de chaves seja gerado sempre pelo prprio

    titular do certificado, e que sua chave privada de assinatura seja de seu exclusivo

    controle, uso e conhecimento. Dessa forma, o certificado digital no poder ser

    gerado por terceiros para posterior entrega ao seu destinatrio, mas deve s-lo na

    presena deste, com sua efetiva participao tanto na entrega dos documentos

    exigidos, quanto no ato de informar sua senha de acesso, ou PIN, para gerao do

  • 33

    par de chaves. Adotando essas exigncias legais, o processo de emisso do

    certificado certamente denotar mais lisura.

    Vale dizer que esse trabalho de conferncia da documentao necessria,

    bem como da gerao do par de chaves, na presena, e com a participao do

    destinatrio do certificado, papel das Autoridades de Registro (AR), outra figura da

    cadeia da ICP-Brasil, as quais so entidades operacionalmente vinculadas a

    determinada AC (BRASIL. Medida Provisria n 2.200-2, Art. 6).

    A Medida Provisria n. 2.200-2/01 ao mesmo tempo em que institui a figura

    da Autoridade Certificadora Raiz da Infraestrutura de Chaves Pblicas Brasileira,

    imprime ao Instituto Nacional de Tecnologia da Informao, ITI, essa competncia

    em seu artigo 13, transformando-o em autarquia federal, vinculada ao Ministrio da

    Cincia e Tecnologia. Dessa forma, o ITI hoje a AC-Raiz da ICP-Brasil, sendo o

    detentor de todas as prerrogativas de gesto, controle e fiscalizao outorgadas pela

    norma em tela Autoridade Certificadora Raiz.

    Os conceitos pincelados neste item, tais como Certificao Digital,

    Autoridades Certificadoras, Comit Gestor etc. sero abordados em maior

    profundidade em captulo especfico. Foram rapidamente citados aqui apenas por

    estarem inseridos no contexto da Medida Provisria em comento.

    2.2 A Lei 11.419 de 19 de dezembro 2006

    A Lei 11.419/2006 a norma que regulamenta o Processo Judicial

    Eletrnico em mbito nacional, definido regras gerais. Ela se compe de quatro

    captulos, a saber: Captulo I Da Informatizao do Processo Judicial; Captulo I

    Da Comunicao Eletrnica dos Atos Processuais; Captulo III Do Processo

    Eletrnico; e Captulo IV Disposies Gerais e Finais.

    Como mencionado, o diploma legal em tela uma lei nacional, sendo

    aplicada em todo o territrio ptrio, traando regras gerais de aplicao

    informatizao do processo judicial. O teor da norma de carter processual e

    nesse sentido, ela faz alteraes em dispositivos da lei processual civil,

    especificamente na Lei 5.689/1973, o Cdigo de Processo Civil.

    Por fora de seu artigo 22, a Lei 11.4219/2006 teve um vacatio legis de 90

    dias, entrando em vigor em 19 de junho de 2007.

  • 34

    de se notar a relevncia do presente dispositivo legal no cenrio do

    processo eletrnico em nvel nacional, pelo que procuraremos analisar alguns

    pontos importantes da referida norma de forma mais detida, como segue.

    2.2.1 Da informatizao do processo judicial

    O art. 1 da Lei em tela informa, de logo, o seu fim precpuo, que o de

    regulamentar o uso do meio eletrnico pra tramitao de processos judiciais,

    comunicao de atos processuais ou transmisso de peas processuais. Em seu

    1, este artigo destaca que a Lei se aplica indistintamente aos processos civil, penal

    e trabalhista, bem como aos juizados especiais em qualquer jurisdio. Dessa forma

    percebe-se a inteno do legislador de incentivar a utilizao e a cultura do processo

    eletrnico, estendendo o seu alcance s vrias jurisdies.

    Ainda no art. 1, 2, o legislador procura conceituar alguns termos bastante

    comuns no mbito do processo eletrnico, como o que seria meio eletrnico,

    transmisso eletrnica, assinatura eletrnica e assinatura digital, conceitos esses

    sero abordados de forma mais profunda em captulo prprio. Desde j vale

    ressaltar as duas formas de assinatura eletrnica que a lei contempla, sendo a

    assinatura digital, com base em certificao digital, e aquela que o usurio adquirir

    mediante cadastro junto ao Poder Judicirio, de forma que esta ltima modalidade

    dever ser objeto de regulao pelos respectivos rgos.

    Tal credenciamento junto ao rgo judicirio onde o interessado deseje atuar

    tratado no art. 2 da Lei em epgrafe. Este credenciamento tanto pode ser mantido

    em separado por cada rgo do Poder Judicirio a Justia do Trabalho pode ter

    seu prprio cadastro de usurios credenciados, por exemplo , como tambm

    possvel a criao de um cadastro nico para tal fim, conforme permisso do art. 2,

    3 da Lei.

    de se perceber que a criao de um cadastro nico se mostra uma

    soluo inteligente e prtica, pois desta forma o profissional do direito poder

    realizar um nico cadastro eletrnico e dele se utilizar nos diferentes rgos do

    Poder Judicirio, evitando a necessidade de recredenciamento cada vez que tivesse

    necessidade de comear a atuar em novo rgo da justia, repetindo um

    procedimento j realizado.

  • 35

    A necessidade do cadastro junto ao rgo em que se deseja atuar pode ser

    elidida pela figura do Certificado Digital, o qual possui um par de chaves que permite

    a assinatura digital e expedido por uma Autoridade Certificadora credenciada,

    conforme se ver em mais detalhes adiante. Todo esse processo relativo

    certificao digital tem regulamentao legal prpria (vide tpico especfico sobre a

    Medida Provisria 2.200-2/2002, neste trabalho). O certificado digital funciona com

    uma carteira de identidade virtual, e atravs de mecanismos de criptografia e

    outras tcnicas de segurana da informao, se destina a garantir que a pessoa que

    diz estar assinando o documento realmente aquela a quem a Autoridade

    Certificadora outorgou o referido Certificado Digital.

    A figura da certificao digital ainda pouco difundida no Brasil, mas tem se

    mostrado bastante vivel e confivel, pelo que nos parece ser a forma mais eficiente

    de se atuar no ambiente do Processo Judicial Eletrnico.

    A importncia da assinatura digital, assim como, na falta desta, da

    assinatura eletrnica, clara quando se sabe que um dos principais entraves

    confiabilidade e aceitao do Processo Judicial Eletrnico a dificuldade de se

    garantir que os atores do processo em meio virtual so quem realmente dizem ser, e

    que no se est diante de alguma forma de fraude. Mas como veremos adiante,

    esse problema tem sido resolvido a contento pelas tcnicas de segurana aplicadas

    pela tecnologia da informao.

    No tocante aos prazos processuais, a Lei informa em seu artigo 3 que

    Consideram-se realizados os atos processuais por meio eletrnico no dia e hora do

    seu envio ao sistema do Poder Judicirio, do que dever ser fornecido protocolo

    eletrnico, devendo-se frisar, ainda que o prazo para envio, com vistas a atender os

    ditames legais, de at s 24 (vinte e quatro) horas do seu ltimo dia de prazo. Isso

    quer dizer que um ato efetuado pelo advogado, de seu computador pessoal, ou de

    qualquer outro meio de acesso ao sistema judicial, com o uso da Internet, deve ser

    finalizado antes de findado o ltimo minuto do ltimo dia do prazo. Assim, a ttulo de

    exemplo, se o prazo processual termina em 01.12.2012, o ato deve ser finalizado, no

    mximo, dentro do 59 minuto da 23 terceira hora do dia 01.12.2012. Destaque-se

    que o atendimento desse requisito ser aferido com base na hora constante do

    protocolo eletrnico fornecido pelo sistema, e se prope a comprovar que o ato

    processual foi realizado tempestivamente, conforme seu tipo e os requisitos legais.

  • 36

    2.2.2 Da comunicao eletrnica dos atos processuais

    Esse captulo da Lei 11.419/2006 trata de como os atos processuais sero

    comunicados aos interessados. Nesse sentido, o diploma legal autoriza aos tribunais

    a criao de Dirio da Justia Eletrnico em stio da rede mundial de computadores.

    Tal Dirio se destina tanto publicao de atos judiciais quanto administrativos

    prprios do tribunal ou de seus rgos subordinados, como tambm de

    comunicao em geral.

    A Justia do Trabalho, atendendo disposio legal em anlise, editou o Ato

    Conjunto n 26 TST/CSJT, o qual Institui o Dirio Eletrnico da Justia do Trabalho e

    estabelece normas para envio, publicao e disponibilizao de matrias dos

    rgos da Justia do Trabalho. O artigo 2 do referido Ato melhor esclarece sobre

    finalidade do Dirio e informa o link de acesso para ele na rede mundial de

    computadores:

    O Dirio Eletrnico da Justia do Trabalho o instrumento de comunicao oficial para disponibilizao e publicao dos atos dos rgos da Justia do Trabalho, do Conselho Superior da Justia do Trabalho e da Escola Nacional de Formao e Aperfeioamento de Magistrados do Trabalho, e estar acessvel na rede mundial de computadores, no Portal da Justia do Trabalho, pelo endereo eletrnico www.jt.jus.br, possibilitando a qualquer interessado o acesso gratuito, independentemente de cadastro prvio. (BRASIL. CONSELHO SUPERIOR DA JUSTIA DO TRABALHO. Ato Conjunto n. 15/CSJT.TST.GP, de 5 de junho de 2008, Art. 2)

    Vale ressaltar que uma vez realizada a publicao nos moldes preceituados

    na Lei, esta publicao substitui qualquer outro meio oficial, para todos os efeitos

    legais, ressalvando-se os casos que exijam por lei a intimao ou vista pessoal.

    esta a informao insculpida no artigo 4, 2 da Lei 11.419/2006. Esse destaque da

    norma de grande importncia, pois afasta a necessidade de qualquer outra forma

    de publicao, uma vez que esta j foi feita em meio virtual. Tal mecanismo d fora

    ao processo eletrnico, impulsionando-o e permitindo que cada vez mais o judicirio

    se afaste da necessidade dos documentos fsicos ou impressos, ao tempo em que

    privilegia a economia, tanto financeira, quanto de pessoal, pois a concretizao dos

    atos processuais passa a migrar do rol de obrigaes dos serventurios da justia,

  • 37

    se localizando no conjunto de obrigaes das partes, que so as grandes

    interessadas em sua consecuo.

    Percebe-se de logo uma das vantagens do Processo Judicial Eletrnico no

    tocante economia de recursos, tanto financeiros, quanto humanos, os quais podem

    ser empregados em outras demandas no menos importantes, a exemplo da

    prestao jurisdicional em si.

    No se pode olvidar tambm a celeridade que se adquire em relao

    concretizao de tais atos, uma vez que a publicao no Dirio da Justia eletrnico,

    j basta para t-los como realizados. Dessa forma, o prprio Tribunal pode fazer sua

    publicao diretamente, no havendo necessidade de enviar as informaes a outro

    rgo, como o Dirio Oficial da Unio.

    Com respeito s intimaes, a Lei 11.419/2006, no artigo 5, informa que

    estas sero feitas em portal prprio, aos que se cadastrarem, o que dispensar a

    publicao no rgo oficial, mesmo o eletrnico. Aqui notria a celeridade que se

    ganha, pois no h necessidade de deslocamento de oficial de justia at o

    endereo informado pela parte, lembrando que muitas vezes tal visita infrutfera,

    no conseguindo o serventurio da justia concretizar a intimao. Temos aqui,

    claramente o emprego do PJe, com vistas ao atingimento da celeridade processual

    to almejado pelos jurisdicionados e que hoje direito assegurado

    constitucionalmente nos termos do artigo 5, LXXVIII, includo pela Emenda

    Constitucional n 45 de 2004, que deu status constitucional ao princpio da razovel

    durao do processo.

    O artigo 6 da Lei em questo prev ainda a possibilidade de citao por

    meio eletrnico, e o seu artigo 7 informa que cartas precatrias, de ordem, e, de um

    modo, todas as comunicaes que transitem entre rgos do judicirio, ou entre os

    deste e dos demais Poderes, sero feitas por meio eletrnico, preferencialmente.

    Mais uma vez a Lei Nacional do PJe estimula o uso dos meios eletrnicos para

    realizao dos atos processuais, em uma clara tentativa de fazer a PJe ganhar

    espao no Judicirio.

  • 38

    2.2.3 Do Processo Eletrnico

    no terceiro captulo da Lei 11.419/2006 que o legislador trata da figura do

    Processo Eletrnico em si. Neste captulo, encontra-se a permisso para o Poder

    Judicirio desenvolver sistemas eletrnicos de processamento de aes judiciais

    que se utilizem de autos total ou parcialmente digitais. A norma destaca ainda a

    necessidade de que todos os atos processuais do processo eletrnico sejam

    assinados digitalmente na forma estabelecida na prpria Lei.

    Em se tratando do processo nativamente eletrnico, qual seja, aquele que

    nasce de forma eletrnica, tendo, desde a sua origem, a tramitao em meio

    virtual, a Lei requer que todas as citaes, intimaes e notificaes, mesmo

    aquelas destinadas Fazenda Pblica que ordinariamente detm prerrogativas

    diferenciadas quando demandada em juzo sejam feitas por meio eletrnico. Tal

    exigncia encontra-se presente no art. 9, caput. A Lei traz uma exceo a essa

    regra, que se consubstancia nos casos em que, por algum motivo tcnico seja

    invivel o uso do meio eletrnico para a realizao de citao, notificao ou

    intimao. Nestes casos, os atos processuais devero ser praticados seguindo as

    regras processuais ordinrias, procedendo-se, posteriormente, digitalizao do

    documento fsico, seguido de sua destruio.

    A exigncia de posterior destruio do documento fsico, permanecendo

    apenas a verso digital, mais uma vez privilegia a tramitao eletrnica do feito,

    chancelando o PJe e encorajando os jurisdicionados utilizao desta nova filosofia

    no mbito do processo.

    O artigo 10, 2 trs importante norma de defesa do jurisdicionado contra

    possveis falhas tcnicas dos sistemas eletrnicos dos Tribunais. Segundo o referido

    pargrafo, caso haja indisponibilidade do sistema por motivo tcnico, o prazo

    automaticamente se prorroga para o primeiro dia til subsequente resoluo do

    problema. Deve-se observar que tal extenso automtica de prazo s se aplica caso

    a falha se d por problema tcnico no sistema ou nos equipamentos do Judicirio,

    impossibilitando, desta forma o acesso a qualquer usurio, e no por culpa exclusiva

    do jurisdicionado, tal com dificuldade ou falta de acesso rede mundial de

    computadores em decorrncia de problemas em sua conexo com a Internet, bem

    como outros problemas de ordem tcnica de sua inteira responsabilidade.

  • 39

    Buscando potencializar o acesso ao judicirio, o diploma legal em epgrafe

    exige, em seu artigo 10, 3: Os rgos do Poder Judicirio devero manter

    equipamentos de digitalizao e de acesso rede mundial de computadores

    disposio dos interessados para distribuio de peas processuais. Tal exigncia

    busca, sem dvida, dar efetividade ao direito do amplo acesso justia, evitando

    que o advento do PJe seja um entrave possibilidade de os jurisdicionados

    exercerem seu direito por no possurem os equipamentos necessrios ou mesmo

    uma conexo com a rede mundial de computadores.

    Embora se saiba que em regra os atos processuais so pblicos, existem

    casos em que estes podem correr em segredo de justia, conforme dispe o CPC,

    no art. 155. Neste sentido, e visando zelar pela intimidade das partes, o legislador

    previu no art. 12, 1 da Lei do Processo Eletrnico que os autos eletrnicos devem

    ser protegidos por sistemas que garantam a segurana no acesso das informaes,

    bem como um armazenamento que garanta preservao e integridade dos dados. O

    referido pargrafo dispensa ainda a necessidade de formao de autos

    suplementares. Ainda nesse sentido, o 6 do mesmo artigo reza que os

    documentos digitalizados nos processos eletrnicos estaro disponveis apenas s

    partes, seus advogados e ao Ministrio Pblico.

    2.2.4 Das disposies gerais

    O artigo 18 da Lei incumbe aos rgos do Poder Judicirio a

    regulamentao do diploma legal no mbito de suas competncias.

    Ela ainda convalida os atos processuais praticados por meio eletrnico at a

    data de sua publicao, desde que tenham tais atos atingido sua finalidade e deles

    no tenha havido prejuzo para as partes. Vemos aqui a aplicao do princpio da

    instrumentalidade das formas, segundo o qual o processo, e seus procedimentos,

    so meios de se atingir um fim, que a prestao jurisdicional, e por isso, no se

    pode sobrevalorizar as formas em detrimento das finalidades alcanadas. Isto , se

    um ato processual, embora eivado de vcio menos grave, atingiu com eficincia seu

    propsito, no resultando disso prejuzo para as partes, no h porque anul-lo, mas

    sim aproveit-lo, privilegiando outros princpios, como o da celeridade e economia

    processuais.

  • 40

    O artigo 20 do diploma legal altera vrios dispositivos da Lei 5.869/73, o

    Cdigo de Processo Civil, adequando-o para admitir o Processo Judicial Eletrnico.

    O artigo 38 do CPC, que trata das procuraes, passou a conter o Pargrafo

    nico, o qual aduz que podem as procuraes ser assinadas digitalmente com base

    em certificado emitido por Autoridade Certificadora credenciada, na forma da lei

    especfica.

    A lei especfica de que trata o artigo em epgrafe a Medida Provisria

    2.200-2 de 24 de agosto 2001, a qual tem fora de Lei, uma vez que anterior

    Emenda Constitucional (EC) n 32 de 11 de setembro de 2001. A referida Emenda

    dispe, no artigo 2, que as Medidas Provisrias editadas anteriormente sua

    publicao, continuaro em vigor at que medida provisria ulterior as revogue

    explicitamente ou at deliberao da matria, de forma definitiva, pelo Congresso

    Nacional.

    Assim como o artigo 38 do CPC, vrios outros artigos desse diploma legal

    precisaram sofrer alteraes para se adaptarem nova filosofia do processo

    eletrnico, e desta forma permitirem a produo, transmisso e armazenamento de

    forma eletrnica de atos e termos processuais (CPC, Art. 154, Pargrafo nico,

    2), a assinatura de documentos de forma digital (CPC, Art. 164, Pargrafo nico), a

    expedio da carta de ordem, carta precatria ou carta rogatria na forma eletrnica

    (Art. 169, 3), a realizao de intimaes por meio eletrnico (CPC, Art. 237,

    Pargrafo nico), dentre outras mudanas necessrias, que, pelo menos

    parcialmente, adaptaram o Cdigo de Processo Civil para receber o PJe.

    2.3 A Instruo Normativa (IN) n. 30 do Tribunal Superior do Trabalho - TST

    Atendendo determinao da Lei Nacional n 11.419/06, que trata sobre a

    informatizao do processo judicial e dispe em seu artigo 18 que Os rgos do

    Poder Judicirio regulamentaro esta Lei, no que couber, no mbito de suas

    respectivas competncias, o TST editou a instruo Normativa n 30, de 13 de

    setembro de 2007, que regulamenta a referida Lei no mbito do judicirio trabalhista.

    A seguir sero destacados os principais pontos da IN 30 do TST.

  • 41

    2.3.1 O Peticionamento Eletrnico e o e-DOC

    Com respeito ao Peticionamento Eletrnico no mbito da Justia do

    Trabalho, a Instruo Normativa n 30 destaca que para a prtica de atos

    processuais por meio eletrnico, seja pelas partes, advogados ou peritos, deve-se

    fazer uso do Sistema Integrado de Protocolizao e Fluxo de Documentos

    Eletrnicos, o e-DOC. O e-DOC um sistema on-line, disponvel no stio do TST,

    especfico desta justia especializada, o qual foi originalmente oferecido para envio

    facultativo de peties online, mesmo em casos de processos com tramitao fsica.

    Na Justia do Trabalho, est presente o princpio do jus postulandi, o qual

    est insculpido no artigo 791 da CLT. Segundo este princpio, empregados e

    empregadores podem reclamar pessoalmente perante a Justia do Trabalho e

    acompanhar as suas reclamaes at o final. Quer-se dizer que as partes no

    carecem da assistncia de advogado para ajuizarem suas reclamaes na esfera

    trabalhista, tampouco para acompanhamento destas. Vale ressaltar que por fora da

    Smula 425 do TST, o jus postulandi das partes limite-se s Varas do Trabalho e

    aos Tribunais, no sendo aplicvel ao rescisria, ao cautelar, ao mandado

    de segurana e aos recursos de competncia do TST.

    em homenagem ao princpio do jus postulandi que a Instruo Normativa

    em comento admite o cadastramento da parte para utilizao do sistema e-DOC e

    consequente peticionamento, conforme reza o art. 5, 4 da Instruo: A parte

    desassistida de advogado que desejar utilizar o sistema do e-DOC dever se

    cadastrar, antes, nos termos desta Instruo Normativa.

    Uma restrio tcnica do Sistema e-DOC, presente na IN n 30, aquela

    que diz respeito ao formato em que os arquivos anexados devem ser

    confeccionados. O formato exigido o PDF, sigla em ingls para Portable Document

    Format, Formato de Documento Portvel, em traduo livre. A definio de um

    formato nico para os anexos das peties tem grande utilidade na prtica, pois

    facilita ao sistema a leitura e exibio do documento de forma correta, pois j se

    sabe, a priori, o formato esperado do documento, e consequentemente, a correta

    forma de leitura e exibio, bem como qual o aplicativo/programa deve ser utilizado

    para exibio do documento. O Artigo 6 define ainda o tamanho mximo, em

    Megabytes destes anexos, sendo este de 2 (dois) Megabytes por operao.

  • 42

    O Captulo IV da Instruo Normativa n 30 do TST trata da Comunicao e

    Informatizao dos Atos Processuais no Portal da Justia do Trabalho, o Portal-JT.

    O art. 14 da IN procura definir o que o portal-JT, informando que ele o stio

    corporativo da instituio, abrangendo todos os Tribunais trabalhistas do pas,

    gerenciado pelo Conselho Superior da Justia do Trabalho e operado pelo Tribunal

    Superior do Trabalho e pelos Tribunais Regionais do Trabalho.

    O artigo 14 informa ainda as principais funcionalidades que podem ser

    encontradas no portal-JT, das quais citamos algumas:

    O Dirio Eletrnico da Justia do Trabalho (DEJT), para publicao de

    atos judiciais e administrativos dos Tribunais e Varas do Trabalho;

    Sistemas de Pesquisa de Jurisprudncia, de Legislao Trabalhista e

    Atos Normativos da Justia do Trabalho, de acompanhamento

    processual, de acervo bibliogrfico, com Banco de Dados Geral integrado

    pelos julgados e atos administrativos de todos os Tribunais trabalhistas

    do pas;

    Informaes gerais sobre os Tribunais e Varas do Trabalho, incluindo

    memria da Justia do Trabalho, dados estatsticos, magistrados,

    concursos e licitaes, entre outros;

    Informaes sobre o Conselho Superior da Justia do Trabalho (CSJT),

    incluindo seu Regimento Interno, suas resolues e decises, alm de

    seus integrantes e estrutura do rgo;

    Informaes sobre a Escola Nacional de Formao e Aperfeioamento

    de Magistrados do Trabalho (ENAMAT), incluindo quadro diretivo, de

    professores, de alunos e de cursos, bem como disponibilizando ambiente

    para o ensino distncia;

    Sistemas de Assinatura Eletrnica, Peticionamento Eletrnico (e-DOC) e

    de Carta Eletrnica (CE);

    Informaes sobre a Corregedoria-Geral da Justia do Trabalho.

    A publicao no DEJT substitui qualquer meio de publicao oficial,

    conforme reza o art. 15 da IN, para todos os efeitos legais, excetuando os casos que

    exigem intimao ou vista pessoal, por lei.

    Vale dizer que muito do contedo da Instruo Normativa refora trechos da

    Lei Nacional do Processo Eletrnico como forma de frisar que as disposies desta

  • 43

    Lei se aplicam Justia do Trabalho, sem necessidade de adequaes nesses

    pontos especficos.

    2.4 A Resoluo CSJT n 94, de 23 de maro de 2012

    2.4.1 Viso geral da Resoluo 94/2012

    O Conselho Superior da Justia do Trabalho rgo administrativo do

    Judicirio Trabalhista, com assento constitucional, previsto no art. 104-A, 2, II da

    CF, onde se encontram suas atribuies constitucionais, quais sejam: exercer, na

    forma da lei, a superviso administrativa, oramentria, financeira e patrimonial da

    Justia do Trabalho de primeiro e segundo graus, como rgo central do sistema,

    cujas decises tero efeito vinculante.

    Atendendo ao comando constitucional, o CSJT, exercendo sua superviso

    administrativa no tocante implantao do PJe, no mbito da Justia Trabalhista,

    editou a Resoluo n 94/2012, a qual Institui o Sistema Processo Judicial

    Eletrnico da Justia do Trabalho PJe-JT como sistema de processamento de

    informaes e prtica de atos processuais e estabelece os parmetros para sua

    implementao e funcionamento.

    Esta Resoluo se dispe, assim com a Instruo normativa n 30/20075 do

    TST, a regulamentar a instalao do PJe no mbito do judicirio trabalhista,

    atendendo ao comando legal da Lei Nacional n 11.419/2006.

    foroso reconhecer que, naquilo que a Resoluo CSJT n 94/2012 for

    contrria IN TST n 30/2007, haver revogao tcita desta, com a ressalva de

    que tal revogao se dar no mbito dos tribunais e das Varas do Trabalho, no

    atingindo o TST, j que este no est subordinado s decises do CSJT, conforme

    j mencionado.

    A Resoluo em tela traz, no artigo 3, alguns conceitos familiares e

    fundamentais operao do PJe e que devem ser do conhecimento daqueles que

    se propem a utilizar o sistema. Estes conceitos j foram tambm intentados na Lei

    Nacional do PJe e mesmo na Instruo Normativa n 37 do TST, mas percebe-se

    5 Para mais informaes sobre a IN n 30 do TST, consultar o subitem 2.3 deste Trabalho.

  • 44

    maior clareza e objetividade na conceituao trazida pela resoluo em epgrafe, o

    que aceitvel, j que ela trata do PJe em seu vis de Sistema de Informao, e

    no de forma conceitual, como o fazem os outros diplomas legais.

    Os conceitos so os seguintes:

    Autos do processo eletrnico ou autos digitais: conjunto de documentos

    digitais correspondentes a todos os atos, termos e informaes do processo;

    Digitalizao: Consiste no processo de converso de um documento

    originalmente confeccionado em papel para o formato digital por meio de dispositivo

    apropriado, como um scanner. Segundo Ferreira (2010), scanner um perifrico

    que realiza a transformao de imagens em dados digitais, geralmente na forma de

    uma matriz de pontos. Os perifricos por sua vez so dispositivos eletrnicos

    conectados ao computador com funo de permitir a entrada (teclado, mouse,

    scanner), sada (impressoras e monitores convencionais) ou entrada e sada

    (monitores sensveis ao toque touchscreen) de dados.

    Documento digital: qualquer documento codificado em dgitos binrios,

    acessvel por meio de sistema computacional. Assim, pode ser considerado um

    documento digital tanto um arquivo de texto, uma imagem digital, um arquivo de

    udio ou vdeo, um e-mail etc.

    Meio eletrnico: Qualquer forma de armazenamento ou trfego de

    documentos e arquivos digitais. Pode-se citar como exemplo de meio eletrnico, os

    discos rgidos (hard disk HD), as pendrive, os cartes de memria, as mdias de

    CD, DVD e Blu-Ray. As fitas magnticas tambm so exemplo de meio eletrnico de

    armazenamento menos conhecido do pblico em geral. Elas so utilizadas

    geralmente para o armazenamento de grandes volumes de dados, servindo como

    forma de realizao de cpias de segurana (backups) de informaes importantes,

    pela sua grande capacidade de armazenamento. Acerca deste meio de

    armazenamento:

    A fita magntica possui uma longa histria de uso como uma mdia de armazenamento secundrio. Embora seja relativamente permanente e possa manter grandes volumes de dados, a fita magntica lenta quando comparada aos discos magnticos e ticos. [...] As fitas so usadas principalmente para backup, para armazenamento de informaes de uso pouco frequente e como uma mdia off-line para a transferncia de informao de um sistema para outro. (SILBERSCHATZ; KORTH; SUDARSHAN, 2008, p. 307).

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    Vale dizer ainda que a Internet e as redes de dados em geral so, tambm,

    meios eletrnicos.

    Transmisso eletrnica: toda forma de comunicao distncia com a

    utilizao de redes de comunicao, preferencialmente a rede mundial de

    computadores. A transmisso eletrnica consiste no transporte de dados em meio

    virtual, e consiste, por exemplo, no envio de um e-mail ou na transmisso de uma

    videoconferncia, pois em ambos os casos h o uso das redes de comunicao.

    Usurios internos: magistrados e servidores da Justia do Trabalho, bem

    como outros a que se reconhecer acesso s funcionalidades internas do sistema de

    processamento em meio eletrnico (estagirios, prestadores de servio, etc.).

    Usurios externos: todos os demais usurios, includos as partes, os

    advogados, os membros do Ministrio Pblico, os peritos e os leiloeiros. Qualquer

    usurio que no se inclua na categoria de usurio interno , portanto, usurio

    externo, de forma que a lista de usurios externos trazida pela Resoluo

    meramente exemplificativa.

    Os usurios (tanto internos quanto externos) so os atores do PJe e so os

    responsveis pela criao do contedo dentro do Sistema. atravs da atuao

    desses atores que o Sistema ganhar vida, por assim dizer. Os advogados do o

    passo inicial do processo no ambiente virtual, quando submetem uma demanda ao

    Sistema. Os juzes e serventurios da justia ao impulsionarem o processo estaro

    alimentando o Sistema, permitindo que a demanda processual se desenvolva,

    caminhando para o atingimento do objetivo processual, que a prestao da justia.

    Outros conceitos mais relevantes e de maior complexidade, tambm

    tratados na Resoluo, a exemplo do certificado digital, sero abordados em

    profundidade, em outro momento neste trabalho.

    2.4.2 Dos Comits Gestores

    A Resoluo CSJT n. 94/2012 prev a criao de comits gestores do PJe,

    em mbito nacional e regional, os quais sero compostos tanto de usurios internos

    quanto externos do sistema.

    Com respeito ao Comit Gestor Nacional, este supervisionar o

    gerenciamento, a especificao, o desenvolvimento, a implantao, o suporte e a

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    manuteno corretiva e evolutiva do Processo Judicial Eletrnico da Justia do

    Trabalho (art. 30). Suas atribuies esto elencadas no artigo 32 da Resoluo