cavalo imóvel / luiza leite e tatiana podlubny

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cavalo imóvel

ZAZIE EDIÇÕES

EditoresLaura ErberKarl Erik Schøllhammer

CriaçãoLaura Erber

DesignMarcus Moraes

Contatozazieedicoes@gmail.comwww.zazie.com.br

Exemplar de cortesia. Venda proibida.Rio de Janeiro, 2015.

cavalo imóvelLuiza Leite e Tatiana Podlubny

Ninguém Mais Sabe

C o L e ç ã o

ZAZ IE E D I Ç Õ E S

meus cavalões irmõesAna Cristina Cesar

stasis in darknessSylvia Plath

santo deus, vamos embora!Robert Creeley

a viagem começa no escuro.a viagem começa com alguma luz

[engarrafamento na Dutra, círculos desfocados, parque néon].

ao contrário, a viagem começa iluminada.estupendamente iluminada [na cercania de Aldebaran].

estamos a léguas de distância, peixes calados por toda parte. guelras, algum chão e as asas.

do trajeto guardamos pouco [ou tanto que nada retemos].os ossos mudam de tamanho, posição, propósito. ao redor vai se fechando o espaço, antes de sentirmos alguma fome, alguma sede.

o pulmão arde toda vez que nascemos.

[você leva o pano de prato ao rosto depois de tirar a travessa do forno. você diz amor como quem leva um susto. toco de leve o perímetro da sua escápula].

descobrimos primeiro o tato. depois a parede da Caverna de Chauvet onde os cavalos galopam, estáticos.

há alguma contradição nisso?

um dia deixamos de ver no S o rabicho, dizemos que não há árvores com as copas azuladas ou braços que saem das cabeças, abandonamos o emaranhado de linhas que as crianças chamam de elefante, cíclope, universo.

sim, insistimos, queremos o cavalo doido.

debaixo da chuva finao cavalo é mais silencioso [asceta, insone ou cansado]e pensa [se pensasse]na madrugada tudo é disforme planta submarinao corpo cede à planíciee se esquece do que já sabe a raiva requintada, os bons modosos badulaquesprefere os sentimentos brutosos desfiladeiros [de onde sai mais surrado, sujo, enternecido]prefere os palavrõesas miudezaso apelido que lhe deram na escola [não sabíamos as regras da nossa linguagem ////// ainda é assim]o quarto item na lista de supermercadovai dar tempo de fazer tudo?a pergunta é imensaà luz da lâmpada de 40 watts na varanda da oficina mecânicalá atrás na estradaonde rumina o cavaloque imaginamos

está tudo bem contigo? está tudo bem comigo?esse equilíbrio é tão delicado.não sabemos se no quadro na parede do restaurante há algum cavalo mais à frente dos outros. a diferença de dois milímetros entre os bichos talvez pudesse ser medidanão fossem as faíscas o vento a cafeína que você disse cair bem com cachaçadentro do copoas pedras degelam aos poucostlim tlim tlim não fosse o silêncio saberíamos se alguém relincha entre os cascos e as crinasse alguém desliza entre a sorte, a coragem e a cegueira o cavalo mais veloz é lustrosoprecisovoraztalvez esteja nervosoou extremamente alegredentro do corpo

falta quanto pra gente chegar?não sei.não sabemos.muito ou pouco?depende.acho que falta muito.acho que falta pouco.é salutar não pensar nisso.especialmente aqui, no meio do nada.para aquele cavalo ali, aqui é algum lugar.

cavalo

o nome do corpoo peso do nome

vento vento vento //////////

alado azul maciço

O desenho é linha, trajeto. É plano, página entre os dedos.

Desenhar para mim sempre foi como tentar atender ao desejo da minha mão, nunca o contrário.

O desenho é mais a mão, o braço, o corpo, e menos a ideia.

Uma vez tive uma ideia para um desenho e tempos depois descobri em um caderno antigo que minha mão já tinha tido a mesma ideia.

Gosto de desenhar as pessoas no ônibus e no metrô. Mas as pessoas não gostam que você fique olhando muito para elas.

Também não gosto que me vejam desenhando, nunca sei o que a minha mão vai fazer. Baixei um aplicativo de desenho no celular. Em geral prefiro os cadernos, mas com o celular passo despercebida.

Só sei desenhar vendo a coisa que estou desenhando. Como sou inepta para os arranjos dos volumes no mundo, acabo desenhando mais as coisas que vejo na minha cabeça.

Tatiana Podlubny

Os desenhos que dão a impressão de que poderiam ter sido feitos por qualquer pessoa e ao mesmo tempo só por aquela sempre me fascinaram. No meu dicionário de façanhas são esses, e não outros, os grands jetés, pois me fazem pensar: sei desenhar/não sei desenhar/por isso desenho.

Neste livro, a escrita ruminou ao redor dos desenhos até encontrar algo para dizer. Raramente fazemos livros em que partimos de trabalhos acabados. Escrita e desenho vão se fazendo no percurso e se influenciando mutuamente. Ao escrever estou à beira do desenho. À beira do desenho encontro palavras.

Há algo que morre em toda pessoa que aprende a diferenciar rabiscos e letras, como se, após a alfabetização, o desenho se tornasse um dom dos talentosos ou insistentes, quando desenhar sempre esteve (está?) lá, não fosse a imensa legitimidade da escrita.

Me interesso pelas múltiplas modalidades de contágio, sobreposição e continuidade entre texto e imagem. O desenho desarticula a escrita linear e a lógica sequencial das páginas. Torna a relação do olhar com o espaço na página muito livre. É meio dervixe, nômade, insubmisso.

Luiza Leite

Luiza Leite é escritora e pesquisadora. Tatiana Podlubny é designer e artista gráfica. A dupla investiga as múltiplas formas de relação entre imagem e texto nas publicações do selo independente Fada inflada, criado em 2011.

luIZA lEItE e tAtIANA poDlubNy

Coleção Ninguém Mais Sabe

Zuca Sardan brabuletas

Carla Guagliardi onde está o tempo que deixei neste espaço

Anne-lise broyer anaga

Dan perjovischi dRaw

tove Storch my head, my hand

Sebastian Diaz Morales blue prints

luiza leite e tatiana podlubny cavalo imóvel

omar Sözen (Omar é um menino de 8 anos)Dodonezia

Raïssa de Góes algumas ideias de uma pequena criatura

Maíra Senise /the country goose/ habitantes cegos tocam sobre pedras paredes ou papéis/

Fernanda lopes desenhos involuntários

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Coleção Ninguém Mais Sabe

O que é um desenho? Ninguém mais sabe Algoque não requer que você espere secar enquanto você está fazendo?Algo sobre papel? John Cage*

*tradução de Rogério Duprat,Em: De segunda a um ano, Editora Cobogó.

Reunindo artistas visuais, designers, cartunistas, desenhis-tas por acaso, amadores e pessoas miúdas, esta coleção se interessa pelas infinitas possibilidades de compreensão do desenho a partir de suas práticas contemporâneas.

ZAZ IEE D I Ç Õ E S

www.zazie.com.br

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