cassação do prefeito paulo cezar
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EXCELENTÍSSIMA SENHORA JUÍZA ELEITORAL DA 164a ZONA ELEITORAL/ALAGOINHAS-BA.
A Coligação “ALAGOINHAS PODE MAIS”, devidamente
constituída pelos partidos PT, PC do B, PRP, PV, PSD, PRTB e PSDC,
através de seu representante legal, Edinaldo Oliveira de Jesus e
JOSEILDO RIBEIRO RAMOS, candidato ao cargo de Prefeito do Município
de Alagoinhas, vêm, perante Vossa Excelência, por meio dos patronos que
esta subscrevem, constituídos na forma do instrumento de mandato ora
acostado (Doc. 01), com fundamento no artigo 22 da Lei Complementar
nº 64/90 e art. 73 da Lei nº 9.504/97 e art. 21 e ss. da Resolução-TSE nº
23.367/11, propor a presente
A Ç Ã O D E I NV E S T I G A Ç Ã O J U D I C I A L E L E I T O R A L
em face de PAULO CEZAR SIMÕES, candidato ao cargo de Prefeito no
pleito de 2012 pela Coligação “Para Fazer Mais Por Alagoinhas”, tendo
endereço para notificações na sede da Prefeitura Municipal, localizada na
Praça Graciliano de Freitas, nº 01, Centro, CEP 48.010-110 - Alagoinhas-
BA, ou, ainda, no endereço ou fac-símile fornecidos no pedido de registro
de candidatura (Processo nº 292-14.2012.6.05.0164) e GERALDO
ALMEIDA SOUZA, candidato a Vice-Prefeito na chapa una e indivisível,
podendo, este, ser encontrado em seu domicílio, situado no Parque Havaí,
2
nº 152, Alagoinhas Velha, Alagoinhas, CEP 48.030-210 ou no endereço
cadastrado no Processo de Registro de Candidatura arquivado neste Juízo
(Processo nº 293-96.2012.6.05.0164), em virtude da prática de abuso de
poder econômico, abuso de poder político e conduta vedada aos agentes
públicos em campanhas eleitorais, consoante as razões fáticas e jurídicas
adiante expendidas.
I – DO ATENDIMENTO DOS PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS E DAS
CONDIÇÕES DA AÇÃO.
Em sede inicial, cumpre atestar a plena regularidade dos
requisitos e pressupostos aptos a dar ensejo ao prosseguimento válido e
regular da relação processual que ora se inicia.
Desse modo, a presente demanda se ancora na redação do
caput art. 22 da Lei Complementar nº 64/90, que assim aduz:
Art. 22. Qualquer partido político, coligação, candidato ou
Ministério Público Eleitoral poderá representar à Justiça
Eleitoral, diretamente ao Corregedor-Geral ou Regional,
relatando fatos e indicando provas, indícios e
circunstâncias e pedir abertura de investigação judicial
para apurar uso indevido, desvio ou abuso do poder
econômico ou do poder de autoridade, ou utilização
indevida de veículos ou meios de comunicação social, em
benefício de candidato ou de partido político, obedecido o
seguinte rito:
Os autores desta AIJE são justamente uma Coligação e um dos
candidatos às eleições majoritárias de Alagoinhas/BA, partes, portanto,
legitimadas à promoção da demanda, sendo certo que o pólo passivo deve
ser ocupado pelos também candidatos sobre os quais pesam as denúncias
de irregularidades logo adiante explicitadas.
3
Ademais, as circunstâncias elencadas como causa de pedir
caminham na direção da prática de reiterado e constante abuso de poder
econômico e político/de autoridade por parte dos Investigados, além de
atuações que dão conta de existência de conduta vedada aos agentes
públicos em campanha, sendo, ao final, trazida pretensão juridicamente
possível e adequada no âmbito do micro-sistema eleitoral vigente.
No que tange à competência deste MM. Juízo Eleitoral é ela
delineada com esteio no que determina o §2º do art. 2º da Resolução nº
23.367/20111.
Já em relação ao prazo para ajuizamento da demanda em
apreço, é pacífico na jurisprudência eleitoral o entendimento de que pode
a AIJE ser promovida até a data da diplomação, conforme demonstra
o seguinte julgado do C. TSE:
“EMENTA: Eleição Municipal. Investigação Judicial.
De acordo com a jurisprudência deste Tribunal, a investigação
judicial de que trata o art. 22 da Lei Complementar nº 64/90
pode ser ajuizada até a data da diplomação e versar sobre
fatos anteriores ao início da campanha ou ao período de
registro de candidaturas. (TSE, Acórdão nº 2.365, de
1º/12/09).”
Quanto à adequação da actio em foco, tem-se restar tal
exigência demonstrada, eis que a AIJE, segundo bem elucida Rodrigo
López Zílio2 tem por fim combater todo e qualquer ato abusivo – seja de
poder político, de autoridade, econômico ou uso indevido dos meios de
1 §2º - As representações e as reclamações que versarem sobre a cassação do registro ou
do diploma deverão ser apreciadas pelo Juízo Eleitoral competente para julgar o registro
de candidatos. 2 Direito Eleitoral, 3ª edição, Verbo Jurídico editora, p. 440.
4
comunicação social – que tenha interferência na normalidade do pleito,
independentemente de adequação típica prévia.
Demonstrada a aptidão para desenvolvimento válido e regular
do processo em questão, cumpre elencar os motivos que dão guarida à
busca da prestação jurisdicional necessária e adequada à hipótese em
foco.
II – DOS GRAVES FATOS QUE MOTIVAM A PROMOÇÃO DA AIJE E
DAS RESPECTIVAS CONSEQUÊNCIAS JURÍDICAS.
Conforme será detidamente demonstrado com as provas que
escoltam a presente demanda e também com aquelas produzidas no curso
da instrução processual, os Investigados, como já vem tornando um
triste hábito em suas condutas, vêm praticando toda a espécie de
irregularidade eleitoral com fins unicamente de tentar vencer a todo custo
o pleito que se avizinha.
Não é de hoje que os Investigados e todos aqueles ligados ao
seu grupo político vêm cometendo, na cidade de Alagoinhas/BA, as
maiores barbaridades no que pertine ao processo eleitoral, maculando-o
sobremaneira, notadamente com o flagrante uso indevido da máquina
pública administrativa em prol da campanha eleitoreira, bem como uso
abusivo do poder econômico para fins de angariar os votos dos mais
incautos.
O primeiro fato a ser trazido nesta demanda e que merece a
devida reprimenda desta Justiça Especializada diz respeito à criação e
designação, ilegal e inconstitucional, de 106 (cento e seis) funções
de confiança na Administração Municipal de Alagoinhas/BA por
parte do primeiro Investigado, o que foi feito com base no Decreto nº
3.569/2012 (Doc. 02), publicado no Diário Oficial inicialmente em 06 de
5
julho de 2012, aproveitando-se para desviar a finalidade de suas
prerrogativas como Chefe do Executivo.
Curioso notar que além de ter sido editada tal norma
regulamentar em pleno período de processo eleitoral, as mencionadas
funções de confiança foram criadas, veja só nobre magistrado (a), com
prazo de validade de 90 (noventa) dias, justamente período coincidente
com a duração da disputa de campanha!!!!
A falta de pudor com as regras que norteiam a Administração
Pública por parte do primeiro Investigado é tão gritante que, em 30 de
julho do corrente ano, republicou o mesmo Decreto no Diário Oficial (Doc.
03), asseverando-se agora que ao invés do prazo de validade de 90
(noventa) dias, as funções de confiança seriam avaliadas a cada 90
(noventa) dias, numa clara manobra tendente a esconder o verdadeiro
escopo que estaria por trás disso tudo, abusar de seu poder político em
benefício de sua candidatura.
A estratégia ardilosa causou tanto espanto no seio da
população local que foi ajuizada uma Ação Popular de nº 0004604-
60.2012.805.0004, perante a 2ª Vara Cível e Privativa da Fazenda Pública
de Alagoinhas/BA, questionando-se a ilegalidade de tais funções de
confiança.
Atenta ao nítido cunho eleitoreiro da manobra e sensível aos
princípios norteadores da Administração Pública, a nobre julgadora deferiu
medida liminar pleiteada na aludida Ação Popular (Doc. 04), no sentido de
determinar a suspensão do Decreto n. 3.569/2012, de 05 de julho de
2012, e seus anexos, tendo como consequência lógica a vedação de novas
nomeações para as funções de confiança por ele instituídas e a exoneração
imediata daqueles que com base nele já tenham sido nomeados.
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Neste particular, cumpre pontuar que não está sendo possível
acompanhar a edição de atos de pessoal por parte da Prefeitura Municipal
vez que o sítio eletrônico oficial do Município encontra-se “fora do ar”
desde o mês de agosto do corrente ano (Doc. 05).
Diante da maestria do raciocínio, impõe-se a transcrição de
passagem da citada liminar que bem examina o tema:
“No caso em tela, em cognição sumária, presentes se
encontram os requisitos essenciais ao deferimento parcial do
pedido. Pelos documentos juntados, verifica-se que a Lei
Complementar Municipal n. 081/2012 (fls. 10/11), conquanto
assevere genericamente criar a função de confiança que trata o
art. 37 da Constituição Federal (art. 2º), não traz qualquer
indicação quanto à denominação própria das referidas funções,
definindo as suas respectivas atribuições e fixando-lhes o
padrão de vencimentos, nem mesmo a fonte de recursos que
atenderá ao evidente aumento de despesas.”
Em seguida, assim consignou a douta magistrada:
“Ao revés, cria genericamente a função de confiança, sem
quaisquer especificações, sendo que o Chefe do Poder Executivo
ao regulamentá-la, através do Decreto n. 3.569/2012, de 05 de
julho de 2012, cria, inadvertidamente, 81 (oitenta e um)
funções de confiança, frise-se, sem também definir as suas
atribuições”.
Ao final deixa claro a digna sentenciante:
“Diante da evidente inconstitucionalidade do Decreto n.
3.569/2012, de 05 de julho de 2012, cria, inadvertidamente, 81
(oitenta e um) funções de confiança, frise-se, sem também as
suas respectivas atribuições, observa-se também o perigo da
demora consistente nos prejuízos ao erário público, com
reflexos sobre a Administração Municipal e, por conseguintes,
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sobre toda a municipalidade, com o pagamento àqueles que
ocupem aquelas funções irregularmente criadas. Ademais, soa
no mínimo simbólico o fato de terem sido criadas, por
decreto, as funções comissionadas, com prazo de
validade de 90 (noventa) dias, conforme art. 3º daquele
Decreto, período este, como salienta o Autor, coincidente
com o eleitoral” (negritou-se).
Vê-se, portanto, que se está diante de exemplo clássico de
abuso de poder político e de autoridade no âmbito eleitoral, no qual
o primeiro Investigado, valendo-se da facilidade de estar exercendo o
comando da Administração Municipal, abusa de forma manifesta de suas
prerrogativas e do poder que detém no sentido de desvirtuar a criação de
funções comissionadas no quadro de pessoal, agindo com nítida intenção
de angariar benesses eleitorais em detrimento não só do erário, mas,
principalmente, da moralidade administrativa e da lisura do prélio.
Cabe perceber que o primeiro Investigado age
despudoradamente no exercício do cargo de Prefeito, confundindo o
público com o privado e fazendo da Administração Municipal um mero
reforço de alavancagem de sua campanha política, não sem antes
espancar todos os preceitos e ditames legais que embasam uma gestão
proba e eficaz.
Em decorrência desta espécie de mácula comprometer o
certame, a jurisprudência na seara eleitoral vem de muito combatendo
atos como tais, especialmente o Eg. Tribunal Superior Eleitoral que assim
já se manifestou:
“O uso da máquina administrativa, não em benefício da
população, mas em prol de determinada candidatura, reveste-
se de patente ilegalidade, caracterizando abuso de poder
político, na medida em que compromete a legitimidade e
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normalidade da eleição (TSE, Acórdão nº 21.167, de
21.08.2003).
E que não se alegue que estaria o Investigado amparado na
ressalva contida na alínea “a” do inciso V do art. 73 da Lei nº 9.504/97,
uma vez que a exceção legal não ampara o comportamento abusivo e
deletério, efetivado de molde a conspurcar a legitimidade do prélio.
Com efeito, a norma aludida traz ressalva quanto à designação
de funções de confiança, desde que, por certo, sejam observados os
pressupostos e requisitos legais e constitucionais destas designações,
tendo por norte o fato de que tais postos são ocupados na Administração
por pessoas de confiança do gestor que acabam por abarcar maiores
atribuições e competências, o que é muito diferente da verdadeira farra
eleitoral com dinheiro público promovida pelo primeiro Investigado ao
criar, açodadamente e sem qualquer parâmetro ou critério legal,
mais de 100 (cem) funções de confiança na proximidade das eleições.
É bem de ver, inclusive, que sequer se observou o necessário
requisito constitucional (art. 37, V, da CF/88) no sentido de que as funções
de confiança são direcionadas a atribuições de direção, chefia e
assessoramento.
Há, pois, manifesto abuso quanto à ressalva permitida na
norma eleitoral, tendo-se transbordado os fins buscados pelo legislador
quando este decidiu pela exceção de nomeações quanto às funções de
confiança.
Como muito bem restou fundamentado na decisão liminar
proferida na Ação Popular acima transcrita, houve criação genérica e
inadvertida de funções de confiança, sem preocupação sequer em
esclarecer as especificações e atribuições das mesmas, em flagrante
inconstitucionalidade, ensejando, por conseguinte, ilícito eleitoral dos mais
graves.
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O caso concreto sub examine revela que a proporção da
designação das funções de confiança (mais de 100 postos foram criados),
bem como as circunstâncias envolvidas – proximidade com o pleito e prazo
de validade coincidente com as eleições – revelam o caráter nitidamente
abusivo do ato questionado, tendo-se configuração de desvio de
finalidade do poder político de que dispõe o primeiro Investigado por
estar ocupando a cadeira de Prefeito.
O ilustre estudioso da matéria Rodrigo López Zílio3 obtempera
em posição convergente:
“Assim, com o desiderato de preservar a isonomia entre os
candidatos, a exceção deve ter interpretação razoável, pois é
cláusula que, sem o devido temperamento, permite a
arregimentação de cabos eleitorais, através da nomeação de
cargos em comissão e funções de confiança, atraindo o voto
dos familiares e dependentes dos beneficiários da ilicitude.”
Desse modo, tem-se situação nos autos que está a
demonstrar, a todas as luzes, verdadeiro uso do aparelho do Estado
desviado de sua finalidade precípua e posto a serviço de um fim pessoal4,
objetivo este que é o do primeiro Investigado de, em detrimento dos
ditames da moralidade e da impessoalidade, auferir dividendos eleitorais
ainda que, para isso, desvirtue por completo os fins da Administração
Pública, ferindo de morte a lisura do pleito e, também, o bom e regular
uso dos recursos do erário.
Não menos grave do que a criação destas funções de confiança
com nítido fim eleitoreiro foi o verdadeiro espetáculo dos horrores que se
viu na cidade de Alagoinhas na noite do dia 27 de junho de 2012, durante
3 Op. Cit. p. 527. 4 Gomes, José Jairo. Direito Eleitoral, 7ª edição, Atlas editora, p. 220.
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a pseudo inauguração da Praça Santa Izabel e aqui tem-se o segundo fato
trazido nesta demanda.
Isso porque, sob a falsa idéia de se tratar de inauguração de
praça pública, com grande apelo junto à população da cidade, o que se
viu, em verdade, foi a prática desavergonhada de ato político de promoção
de candidatura e campanha eleitoral à custa de recursos públicos, com
realização de showmício e contratação de artistas de renome na música
para fins de alavancar politicamente o primeiro Investigado.
Mais uma vez o erário da Fazenda Municipal de Alagoinhas se
viu vilipendiado por parte do Alcaide, pretendente à reeleição, que,
aproveitando-se da condição de Prefeito e das prerrogativas inerentes ao
cargo, abusou do poder político de que é investido, realizando ato de
cunho manifestamente eleitoreiro, com uso de dinheiro público, o que
torna o fato, já absurdo de per se, detentor de gravidade máxima, tudo
consoante a mídia que escolta esta exordial, devidamente acompanhada
da necessária degravação (Doc. 06).
Tal fato, também configurador de propaganda extemporânea,
já foi levado ao conhecimento desta nobre Justiça Especializada, por meio
do processo nº 284-40.2012.6.05.0163, no qual foi proferida brilhante
sentença que segue aqui acostada em cópia (Doc. 07).
O citado evento levado a cabo pelo primeiro Investigado, como
esclarecido no próprio sítio jurídico da Prefeitura Municipal de Alagoinhas
(Doc. 08), tratou de ato apoteótico, com presença de mais de 10.000
(dez mil) pessoas, contando também com show pirotécnico e musical dos
grupos Xaveco, Fama e do cantor nacionalmente conhecido Pablo do
Arrocha.
Para que se tenha exata noção do descaso do primeiro
Investigado com os ditames legais e principiológicos que regem a
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Administração Pública, impende colacionar alguns judiciosos trechos da
decisão prolatada nos autos acima mencionados:
“As provas constantes dos autos não deixam dúvida de que o
representado violou os princípios da legalidade e isonomia,
divulgando sua imagem e feitos com a inequívoca intenção de
assegurar destaque entre os futuros pré-candidatos e
conquistar previamente o eleitorado”.
“(...) utilizou o ato de inauguração de uma praça pública para
divulgar seu nome e feitos realizados durante a sua gestão
como prefeito, ressalvando-se que logo após o seu discurso
vários artistas conhecidos e apresentaram para quase dez mil
pessoas.”
“A conduta do representado foi praticada com a finalidade de
conquistar o futuro eleitorado, fixando-se o seu nome, imagem
e supostos feitos perante os eleitores, tudo em detrimento da
igualdade de condições que deve nortear todos que concorrem
a cargos eletivos, ademais, quando os futuros eleitores são
atraídos para o local para assistirem shows”
“O Tribunal Superior Eleitoral e os Tribunais Estaduais repudiam
a conduta do representado, visto que se configura propaganda
extemporânea a divulgação de mensagens ‘informativas’ de seu
suposto empenho na concretização de certa obra ou feito para
determinado local, destacando-se que esta divulgação ocorreu
durante a realização de um evento que pode ser considerado
semelhante a um showmício, contrariando o disposto no art.
39, §7º, da Lei nº 9.504/97”.
O vídeo acostado com a presente vestibular dá conta, de forma
nítida e facilmente perceptível, das irregularidades eleitorais perpetradas
pelos Investigados e seus asseclas durante a realização do evento de
inauguração da aludida praça.
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Jogando luz sobre o tema em destaque, o culto eleitoralista
José Jairo Gomes5 pondera com propriedade:
“É intuitivo que a máquina administrativa não possa ser
colocada a serviço de candidaturas no processo eleitoral, já que
isso desvirtuaria completamente a ação estatal, além de
desequilibrar o pleito – ferindo de morte a isonomia que deve
permear as campanhas e imperar entre os candidatos – e
fustigar o princípio republicano, que repudia tratamento
privilegiado a pessoas ou classes sociais”.
Na mesma linha de raciocínio segue o magistério do preclaro
Prof. Emerson Garcia6, para quem:
“(...) o administrador público que não direciona seu obrar ao
interesse público, mas, sim, ao benefício próprio ou alheio,
visando ao pleito que se aproxima, incorre em flagrante
violação a toda ordem de princípios estabelecidos na
Constituição da República, que erigem-se como consectários
lógicos e razão de ser do próprio Estado Democrático e Social
de Direito”.
Aduz ainda o notável doutrinador:
“Desrespeitando o administrador público as regras e os
princípios norteadores do seu obrar, em detrimento da
normalidade e da legitimidade do procedimento eletivo, será
flagrante o abuso do poder político.”
A finalidade eleitoreira do evento salta aos olhos, comprovada
não somente pelas circunstâncias que envolvem a tal inauguração, mas
também pelo próprio discurso proferido pelo primeiro Investigado, o qual,
a todo o momento, como bem salientou a decisão judicial aqui encartada, 5 Op. Cit. p. 220. 6 Abuso de Poder nas Eleições, 3ª edição, Lúmen Júris, p.p. 24-25.
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teceu comentários favoráveis à sua gestão dando a entender ser a melhor
opção para a cidade de Alagoinhas, como se num comício político
estivesse!!!!!
Restando mais do que demonstrada a intenção de captar
antecipadamente os votos do eleitorado, conforme magistralmente
alinhado na sentença que examinou os mencionados autos, outra não pode
ser a conclusão a que se chega senão a da prática manifesta de abuso de
poder político e econômico também extraídos da malfadada inauguração
da praça pública.
De fato, ao organizar o evento da inauguração, com todo o
aparato e gastos elevados que lhe são inerentes (ampla divulgação,
montagem de palco, iluminação e sonorização, queima de fogos de
artifício, contratação de artistas de renome etc.), tudo custeado pelo
dinheiro público, e, neste ato, transformá-lo em evento eleitoreiro, como
palanque político de campanha eleitoral, o primeiro Investigado espancou
o princípio isonômico, fulminando a lisura que deve nortear a disputa,
agindo em flagrante abuso de poder político e econômico.
Realmente, a facilidade encontrada pelo Investigado em
decorrência de sua posição de comando no Executivo Municipal fez com
que, sem qualquer pudor, utilizasse a máquina administrativa em prol de
sua campanha, efetuando a realização de evento apoteótico e de
inquestionável impacto perante o eleitorado local e o que é pior: com
desvio de finalidade das verbas do erário.
Convergindo com o quanto ora delineado, já assentou o C.
TSE:
“o abuso de poder político é condenável por afetar a
legitimidade e normalidade dos pleitos e, também, por violar o
princípio da isonomia entre os concorrentes, amplamente
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assegurado na Constituição da República” (TSE, ARO nº
718/DF, DJ de 17-06-2005).
“Caracteriza-se o abuso de poder quando demonstrado
que o ato da Administração, aparentemente regular e
benéfico à população, teve como objetivo imediato o
favorecimento de algum candidato (TSE, Respe nº
25.074/RS, DJ 28-10-2005 – destaque acrescido).
De se notar, a seu turno, que o Investigado, ao promover em
benefício de sua candidatura showmício ou evento similar, afrontou
também o art. 39, §7º da Lei nº 9.504/97, c/c art. 9º, §4º da Resolução
do TSE nº 23.370/11, verbis:
Art. 39. (...)
§7º É proibida a realização de showmício e de evento
assemelhado para promoção de candidatos, bem como
apresentação, remunerada ou não, de artistas com a finalidade
de animar comício ou reunião eleitoral.
Art. 9º (...)
§4º É proibida a realização de showmício e de evento
assemelhado para promoção de candidatos, bem como
apresentação, remunerada ou não, de artistas com a finalidade
de animar comício ou reunião eleitoral, respondendo o infrator
pelo emprego de processo de propaganda vedada e, se for o
caso, pelo abuso do poder.
A proibição da norma eleitoral visa coibir os eventos de cunho
eleitoreiro – como a inauguração da praça pelo primeiro Investigado - nos
quais haja divertimento e entretenimento dos presentes, ou seja, intenta
vedar que os eleitores compareçam ao ato de cunho eminentemente
eleitoral e político apenas para se divertir ao invés de estar ali para ouvir e
conhecer as idéias e propostas do candidato.
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Isso porque, segundo nos ensina Rodrigo López Zílio em sua
festejada obra7:
“Visava-se, através de mega-shows, a conquista do eleitorado
pela apresentação de um espetáculo de entretenimento, com a
contratação de artistas com carisma popular, deixando em
plano secundário a apresentação de propostas de governo ao
eleitorado. Ao invés de projeto de administração, oferecia-se ao
eleitorado um espetáculo de diversão”.
Ora, foi justamente o que fez o primeiro Investigado e seus
correligionários, intentando angariar dividendos eleitorais com realização
de shows musicais pagos com recursos públicos.
Cabe de logo esclarecer que não há que se falar aqui em
litispendência da presente demanda com os autos acima referidos, uma
vez que, além dos pedidos serem completamente distintos – naquele feito
se buscou configurar propaganda extemporânea -, é sabido que na seara
eleitoral o mesmo fato pode ensejar diferentes tipos de consequências
previstas na legislação de regência.
Por sua vez, impõe-se lembrar, por oportuno, que embora a
grandiosidade do evento – ao qual compareceram cerca de 10 mil pessoas
– denote a manifesta potencialidade lesiva, apta a interferir no resultado
do pleito, o inciso XVI do art. 22 da LC nº 64/90, com redação inserida
pela Lei da Ficha Limpa (LC nº 135/2010), exige tão-somente a gravidade
das circunstâncias que envolvem o ato eivado de ilicitude a fim de
configurar a abusividade, verbis:
XVI – para a configuração do ato abusivo, não será considerada
a potencialidade de o fato alterar o resultado da eleição, mas
apenas a gravidade das circunstâncias que o
caracterizam. 7 Direito Eleitoral, 3ª edição, Verbo Jurídico editora, p.318.
16
O outro fato que embasa a demanda em apreço diz respeito
também ao uso da máquina administrativa municipal em prol da
candidatura do primeiro Investigado, ou seja, é mais um reforço dos fatos
anteriores, confirmando-os, demonstrando a reiterada utilização do poder
político em benefício de interesses pessoais do gestor concorrente à
reeleição.
Com efeito, tornou-se um hábito da Administração do primeiro
Investigado, enquanto Prefeito, realizar, durante o processo eleitoral em
curso, melhorias em ruas e localidades – a exemplo de tapa-buracos,
pintura de meio fio, limpeza de bueiros etc. – durante o dia enquanto, à
noite, promove atos políticos nesses locais como passeatas, caminhadas,
comícios etc.
Exemplos disso são os atos praticados nos Bairros do
Teresópolis (em 16/08/12), Alagoinhas Velha (em 28/08/12), Baixa do
Corte (em 30/08/12), Santa Terezinha (em 31/08/12), 21 de setembro
(em 04/09/12), Beco do Tubo (13/09/12) e Santo Antônio (em 18/09/12),
tudo consoante fartamente demonstrado pelos elementos ora adunados
(Doc. 09).
Ora, realmente é muito coincidente o fato de colocar a
máquina pública administrativa para realizar diversas intervenções em
localidades nas quais, veja só, à noite há justamente atos de campanha
dos Investigados, tudo para que se afirme na mente dos
moradores/eleitores a ligação entre a candidatura daquele e as atividades
físicas nos locais de passagem dos atos de campanha.
O estratagema do primeiro Investigado está mais do que claro,
tem anos no comando da Prefeitura para realizar as intervenções físicas de
melhorias nas localidades, mas somente o faz, vejam a coincidência, no
exato dia em que sua campanha realizará atividades políticas nos mesmos
e exatos locais.
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Há de se observar que no dia 13/09/12, na localidade
denominada Beco do Tubo, o Sr. Geraldo, candidato a Vice-Prefeito e
segundo investigado, proferiu o seguinte discurso (Doc. 10):
“Fala de Geraldo no Beco do Tubo.”
Abuso de poder político mais evidente do que esse é difícil de
encontrar!
O quarto fato elencado nesta inicial diz respeito ao
oferecimento de empregos por parte do Investigado Paulo Cezar em
comício realizado no Silva Jardim, no dia 08/09/12, em benefício do
candidato a Vereador Derman Macedo, no qual o Investigado assim se
pronunciou:
“Quem for carpinteiro, pedreiro, me procure, me entregue seu
curriculum, que a gente pode atender a necessidade dessas
pessoas que estão aí desempregadas"
Veja nobre julgador a que ponto chega a conduta dos
Investigados!!!!
A jurisprudência mais autorizada na matéria já se debruçou
também sobre este tema, asseverando-se:
Ementa:
Captação ilícita de sufrágio. Prova testemunhal.
1. A captação ilícita de sufrágio pode ser comprovada por meio de prova testemunhal, desde que demonstrada, de maneira consistente, a ocorrência do ilícito eleitoral.
2. Assentando o acórdão regional que testemunha confirmou em juízo as declarações prestadas no Ministério Público no sentido de que o candidato a prefeito teria diretamente cooptado seu voto, na fila de votação, mediante pagamento de quantia em dinheiro e oferta de emprego, deve ser reconhecida a prática do ilícito previsto no art. 41-A da Lei no 9.504/97.
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Agravo regimental não provido.
(TSE, AgR-REspe - Agravo Regimental em Recurso Especial Eleitoral nº 29776 - novo airão/AM, Rel. MIn. Arnaldo Versiani, DJE de 12/08/2011)
Tal conduta se encontra, de igual modo, demonstrada nesta
exordial a partir da mídia de gravação da fala do primeiro Investigado,
acompanhada da decida degravação (Docs. 11 e 12).
Por derradeiro, aponta-se, ainda, a utilização de veiculo oficial
em proveito da candidatura dos investigados. Trata-se do automóvel D 40,
de placa policial JOF 0609, de propriedade do Serviço Autônomo de Água e
Esgoto, autarquia municipal, inscrita no CNPJ sob o nº. 13.644.919/0001 –
60, conforme documentação em anexo (Doc. 13)
Os registros fotográficos revelam, claramente, a utilização do
veiculo em comento para afixação de placas publicitárias que promovem a
candidatura dos investigados bem como do candidato a vereador Luciano
Almeida, registrado com o nº. 25.123 (Doc. 14).
O texto legal é bastante claro ao elencar as condutas vedadas
aos agentes públicos em campanha eleitoral. Vejamos o que reza o art. 73
da Lei Federal nº. 9.504/97, em seu inciso I:
Art. 73. São proibidas aos agentes públicos, servidores ou não, as
seguintes condutas tendentes a afetar a igualdade de
oportunidades entre candidatos nos pleitos eleitorais:
I - ceder ou usar, em benefício de candidato, partido político
ou coligação, bens móveis ou imóveis pertencentes à
administração direta ou indireta da União, dos Estados, do
Distrito Federal, dos Territórios e dos Municípios, ressalvada a
realização de convenção partidária;
19
Ora, o que se verifica na situação ora apresentada nada mais
é que a cessão de bem móvel (veículo) pertencente a uma entidade da
administração indireta municipal (Serviço Autônomo de Água e Esgoto –
SAAE) em benefício de duas candidaturas, a majoritária (dos investigads)
e uma proporcional (Luciano Almeida – 25.123).
Observe-se que o legislador não exclui do inciso I nem
mesmo o uso do carro oficial para realização de atividades de campanha,
razão pela qual o VEÍCULO OFICIAL NÃO PODE SER UTILIZADO PELO
PREFEITO QUE BUSCA REELEIÇÃO, ou por vereadores, para a realização
de atos particulares de campanha eleitoral, sendo utilizados tão somente
para o exercício de atividades relacionadas aos cargos ocupados, o que
está longe de se ver no caso em tela.
Se já não é admissível o uso do carro oficial pelo Prefeito
candidato à reeleição, ainda que seja pago pelo partido ou coligação o
equivalente ao ressarcimento das despesas com o uso, muito pior é se
valer de veiculo de autarquia municipal em prol de sua candidatura...
O art. 76, da Lei nº. 9.504/97 dispõe acerca da possibilidade
especificamente do Presidente da República em utilizar o carro e avião
oficiais da Presidência desde que ressarcidas as despesas pelo partido ou
coligação, INEXISTINDO qualquer menção à possibilidade de Prefeitos
terem a mesma prerrogativa.
Caso fosse permitido que o Prefeito que visa reeleição
pudesse fazer uso do carro oficial mediante restituição das despesas, esta
teria previsão expressa na Res. TSE 23.370, que trata exclusivamente das
eleições municipais de 2012, a qual somente prevê a possibilidade de
utilização da residência oficial, sem menção ao veículo oficial (não há
qualquer remissão ao art. 76 da Lei nº. 9.504/97), que volta-se a dizer
não é o caso do veiculo em debate já que o mesmo pertence a autarquia e
não atende, rotineiramente, o Prefeito.
20
Daí decorre, por conseguinte, que os Investigados
praticaram abuso de poder político e abuso de poder econômico,
havendo de incidir, em caso, as proibições contidas nos dispositivos da
legislação eleitoral de regência.
III – DOS PEDIDOS.
Com esteio nas fortes razões acima alinhas e diante da farta
prova adunada aos autos, vêm os Investigantes requerer:
a) seja aplicado o rito previsto no art. 22 e ss. da Lei
Complementar nº 64/90, devendo-se notificar os Investigados para
responderem a presente demanda no prazo de 05 (cinco) dias, sob pena
de revelia;
b) com fulcro no art. 73, inc. I, da Lei nº 9.504/97 c/c o art.
22, inc. XIV, da LC nº 64/90, seja julgada totalmente procedente a
pretensão aqui deduzida, condenando-se os candidatos Investigados à
cassação do registro ou diploma, bem como aplicando-se a todos os
demandados a pena de multa na importância máxima prevista na norma
e a decretação de inelegibilidade pelo período de 08 (oito anos);
c) seja intimado o ínclito Presentante do Parquet
Eleitoral para manifestar-se nos presentes autos bem como para adotar
as medidas legais cabíveis em relação ao Diretor do SAAE e ao candidato
Luciano Almeida, o primeiro por ter cedido veiculo oficial, de placa JOF
0609, em prol das duas candidaturas e o segundo por ter se favorecido
com a cessão do referido bem;
d) seja deferida a produção de todos os meios de prova
admissíveis, em especial o depoimento pessoal dos demandados, a
oitiva de testemunhas (cujo rol segue abaixo e que comparecerão em
juízo independentemente de intimação), a produção de prova
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documental e pericial que se fizer necessária ao deslinde do presente
feito.
Nesses termos, pede-se deferimento.
Alagoinhas, 28 de setembro de 2012.
EDUARDO VAZ PORTO OAB/BA Nº 18.501
ANDRÉ CARNEIRO OAB/BA Nº 24.790
PAULO ARAGÃO OAB/BA Nº 20.857
CLEBER BOTELHO JR. OAB/BA Nº 17.795
ALEXSANDRO BURI CALDAS OAB/BA Nº 15.577
ALFREDO FERREIRA SOUZA OAB/BA Nº 8.520
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