representação à câmara municipal - pedido de cassação do prefeito

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1 Fernando José Castro Cabral advogado — oab/mg 117.188 Excelentíssimo Senhor Presidente da Câmara Municipal de Bom Despacho-MG Haroldo de Souza Queiroz é um empresário falido e um prefeito corrupto. É da corrupção que trata essa denúncia. Entretanto, para que se possa entendê-la em sua plenitude é preciso entender como o empresário operava. Em 1983 Haroldo Queiroz criou a CONSTRUTORA ENDESTER. Seus tempos áureos foram no governo Newton Cardoso (1987-1991), seu padrinho político e empresarial. Nessa ocasião, a fim de facilitar a participação em licitações do governo do estado, Haroldo criou uma segunda empresa, a EXECUTA. Ela tinha o mesmo objeto social, funcionava no mesmo endereço e participava dos mesmos negócios. O término do governo Newton Cardoso, em dezembro 1991, levou as duas empresas à bancarrota. De lá para cá, embora Haroldo Queiroz ainda se intitule empresário, ele de empresário nada tem. Ele e suas empresas responderam ou respondem a 53 ações só na Comarca de Bom Despacho. São execuções fiscais, execuções de título extrajudicial, despejo, falência, insolvência civil, Praça Antônio Leite, 44 ap. 1000 – CEP 35600-000 – Bom Despacho–MG Telefone: (37) 3521-2183 - (37) 9988-8868 — [email protected]

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Fernando José Castro Cabraladvogado — oab/mg 117.188

Excelentíssimo Senhor Presidente da Câmara Municipal de Bom Despacho-MG

Haroldo de Souza Queiroz é um empresário falido e um prefeito corrupto. É da corrupção que trata essa denúncia. Entretanto, para que se possa entendê-la em sua plenitude é preciso entender como o empresário operava.

Em 1983 Haroldo Queiroz criou a CONSTRUTORA ENDESTER. Seus tempos áureos foram no governo Newton Cardoso (1987-1991), seu padrinho político e empresarial. Nessa ocasião, a fim de facilitar a participação em licitações do governo do estado, Haroldo criou uma segunda empresa, a EXECUTA.

Ela tinha o mesmo objeto social, funcionava no mesmo endereço e participava dos mesmos negócios.

O término do governo Newton Cardoso, em dezembro 1991, levou as duas empresas à bancarrota. De lá para cá, embora Haroldo Queiroz ainda se intitule empresário, ele de empresário nada tem.

Ele e suas empresas responderam ou respondem a 53 ações só na Comarca de Bom Despacho. São execuções fiscais, execuções de título extrajudicial, despejo, falência, insolvência civil, cobrança de cheque sem fundo. Há também ações em outras cidades.

Quebrado, Haroldo Queiroz tentou se salvar entrando para a política. Em 1992 elegeu-se vereador. Naquela época o eleitor ainda não sabia que tinha diante de si um empresário fracassado e um administrador incompetente.

De 1993 a 1996 Haroldo Queiroz pavimentou seu caminho para o executivo.

Eleito prefeito em 1996, fez um governo voltado para duas coisas apenas: asfaltar ruas e desviar dinheiro. Nada mais lhe interessava.

Mancomunado com empreiteiras, fez asfalto de baixa qualidade, superfaturou e embolsou quantias significativas. Porém, ao deixar a prefeitura, em 31 de dezembro de 2000, seu patrimônio ainda era o mesmo de quando entrara na política, em 1992: uma casa na Rua Padre Augusto e as cotas das empresas ENDESTER e EXECUTA.

Praça Antônio Leite, 44 ap. 1000 – CEP 35600-000 – Bom Despacho–MGTelefone: (37) 3521-2183 - (37) 9988-8868 — [email protected]

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Isso mostra que o dinheiro desviado naqueles quatro anos foram gastos em jogos, viagens e diversão. Ele não poupou e tampouco pagou suas dívidas.

Quando Haroldo Queiroz saiu, a prefeitura estava arruinada. Não apenas depauperada e endividada, mas também com seu quadro de servidores desmantelado. As máquinas deixadas eram só sucata.

Assim como a prefeitura, também suas empresas estavam irrecuperavelmente endividadas. Ele também estava insolvente, pois havia gastado em jogos, viagens e lazer todo o dinheiro vindo da corrupção.

Entre 2001 e 2004 Haroldo viveu do favor de parentes e amigos e de alguns bicos proporcionados pelo padrinho Newton Cardoso.

Em 2004 concorreu novamente ao cargo de prefeito. Nessa ocasião declarou ao TSE o mesmo patrimônio que tinha 14 anos antes: uma casa de morada e as cotas das empresas EXECUTA e ENDESTER.

Empossado em 2005, o patrimônio de Haroldo começou a crescer de forma impressionante.

Para se ter uma idéia, dos R$ 108 mil que recebeu em 2005, declarou ter economizado R$ 60.000,00. Uma poupança de fazer inveja a qualquer pão-duro. Ainda mais para quem ficara 4 anos desempregado e tinha uma dívida acumulada de 10 anos.

Esse dinheiro – esses R$ 60 mil que Haroldo Queiroz afirma ter economizado – ele não deixou na sua conta bancária e não investiu. Guardou em casa, sob o colchão, na forma de dinheiro vivo.

Assim, 2005 marcou o início de uma era diferente para Haroldo Queiroz. Em primeiro lugar, naquele ano ele conseguiu poupar 73% de sua renda depois de descontado o imposto de renda e a previdência. Uma façanha impressionante para qualquer pessoa. Mais ainda para ele, que esteve desempregado, endividado e tinha tradição de não poupar.

Em segundo lugar, a partir dali ele adotou o hábito de guardar dinheiro vivo em casa, o que não é comum nem entre empresários honestos nem entre cidadãos, pois todos têm medo da inflação, dos ladrões e da perda de oportunidade de investimentos.

Em terceiro lugar, é de se notar que Haroldo Queiroz consolidou o hábito de não pagar suas dívidas, ainda que tivesse dinheiro sonante para fazê-lo. Outro costuma que destoa daqueles cultivados por cidadãos e empresários honestos.

Pois bem.

Nos três anos seguintes Haroldo continuou com o mesmo padrão de economizar dinheiro, guardá-lo debaixo do colchão, não pagar seus credores e não colocar nada no seu nome. Enquanto ele juntava dinheiro, aumentavam as execuções dos seus credores.

De calote em calote, até 2008 Haroldo juntou R$ 150.000,00 em dinheiro vivo. Foi o que declarou ao TSE – Tribunal Superior Eleitoral. Enquanto isso, continuou aumentando suas dívidas de jogo, a emitir cheques sem fundo e a acumular um patrimônio paralelo, ilícito, colocado em nome de laranjas.

No final de 2008 esse patrimônio ilícito, paralelo, já somava mais de R$ 1 milhão. Dinheiro desviado da prefeitura. Mas não parou por aí. Até o início deste ano o patrimônio paralelo dele já ultrapassa R$ 2,5 milhões, como aqui está amplamente documentado.

A ocultação de bens e a lavagem de dinheiro

No seu primeiro governo Haroldo Queiroz gastou com mão direita o que coletou com a mão esquerda. Por isso viu-se na miséria tão logo perdeu o cargo. O pouquíssimo que lhe restou, logo perdeu no jogo.

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No segundo governo Haroldo voltou mais escolado e mais audacioso. Preparou fraudes de maior porte que lhe renderam valores bem mais vultosos.

Também aprendeu a declarar ter em casa dinheiro vivo que não tinha. Mas, principalmente, aprendeu que deveria poupar alguma coisa para viver após o término do mandato.

Assim, ao lado do dinheiro fictício declarado à Receita Federal e ao TSE, Haroldo Começou a formar um patrimônio verdadeiro, só que oculto sob o nome de testas de ferro.

Calha adiantar alguns exemplos.

Parte da propina pela canalização do Córrego das Palmeiras (chamado Córrego dos Machados) chegou às mãos de Haroldo na forma de um apartamento na Rua Três Corações, no Prado, em Belo Horizonte. Outra parte veio em dinheiro. Uma teceria parte veio na forma de concreto e ferro que ele usou na construção do seu prédio particular, na Rua Dona Tinuca, 132.

Assim como o apartamento de Belo Horizonte, também o prédio da Rua Dona Tinuca está em nome de laranjas.

Mas o prédio tem uma particularidade que merece ser destacada. Haroldo comprou suas fundações em maio de 2006, quando começou a canalização do Córrego dos Palmeias. Dessa forma foi-lhe possível usar o concreto e o ferro da obra pública em sua obra particular.

Mas Haroldo Queiroz não colocou o prédio em seu próprio nome, mas sim em nome de terceiros, entre eles, dois secretários municipais de sua absoluta confiança. Esses são dois parceiros em muitos dos golpes que ele aplica: José Eustáquio Dornelles Penido e Francisco Xavier Tavares.

Ao colocar o prédio em nome de terceiros, Haroldo Queiroz protegeu-se contra a ação dos credores, fugiu do fisco e lavou o dinheiro sujo do qual vinha se apropriando.

Ele fez o mesmo com os automóveis que comprou para si e para sua família. Em 2006 adquiriu um Ford Fiesta, mas não colocou em seu nome. Em 2007 comprou uma caríssima moto Harley-Davidson, mas também não colocou em seu nome.

No final de 2008 e início de 2009 deu a si mesmo uma caminhonete de presente. À sua mulher e a cada uma de suas três filhas maiores, deu um automóvel de luxo. Era presente de Natal. Mas era, também, comemoração pela vitória que o levava ao terceiro mandato. Juntos, os carros custaram em torno de R$ 400.000,00.

Registre-se que o salário que ele recebe como prefeito não é suficiente nem para pagar as prestações desses carros, mesmo se fossem financiados em 10 anos.

Mas circulando pelas ruas estão esses vistosos carros. Um é dourado e os outros são pretos. As placas, escolhidas a dedo, são as chamativas HHF-5000, HHF-6000, HMK-7000, HHF 8000, HLV-8000.

A beleza poética desses números é que as filhas receberam os números 5.000, 6.000 e 7.000. Pai e mãe, cada um ficou com o número 8.000. E as placas todas começam com a letra “H”, de Haroldo.

Exceto a Captiva, de placa HHF-8000, todos os demais veículos Haroldo colocou em nome de laranjas. Para sua tristeza, pois tão logo o fez, os credores entraram na justiça pedindo o impedimento judicial e a penhora do bem.

Vê-se, portanto, que diferentemente do primeiro mandato, dessa vez Haroldo Queiroz usou o dinheiro da corrupção para garantir o teto e o transporte da família. Garantiu a renda também, pois sua mulher e uma de suas filhas são secretárias municipais. O genro, também servidor municipal, recebe uma gratificação extra de 50%.

A construção do prédio de apartamentos era uma forma de ocultação de bens e também de lavagem de dinheiro. Mas, para aperfeiçoar o mecanismo, Haroldo Queiroz comprou uma

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churrascaria em Nova Serrana. Como é bem sabido por todos, churrascarias e restaurantes são típicas lavanderias de dinheiro sujo.

Criada e registrada com o nome de “Tradição Caipira”, Haroldo Queiroz a reformou e mudou seu nome para “Serrana Grill”. A mudança, porém, nunca foi registrada. Nela empregou seu secretário Acir Parreiras, sua filha Maria Isabel e seu genro Edson Queiroz. Vale lembrar que Maria Isabel é também secretária municipal e Edson Queiroz é servidor municipal.

Até aqui vimos que Haroldo Queiroz guardou dinheiro vivo sob o colchão, comprou uma frota de carros para a família, construiu um prédio com 8 apartamentos, ganhou um apartamento em Belo Horizonte e comprou uma churrascaria. Também é sabido – porque amplamente divulgado – que ele reiteradamente perde dinheiro em jogo, viaja para o exterior e dá festas ostentosas.

Importa agora dizer de onde vem o dinheiro para tudo isso.

Uma pequena fração vem do seu subsídio de prefeito. A maior parte porém, vem de fontes ilícitas.

A primeira delas é o conhecimento “mensalinho”. Isso é, uma cota que alguns contratados e ocupantes de cargos de confiança pagam mensalmente ao prefeito ou a seus prepostos.

A segunda delas são as propinas que o prefeito cobra para asfaltar ruas, liberar loteamentos e emitir certos alvarás. Parte vem em dinheiro, parte vem em lotes de terreno.

A quarta é o uso direto de máquinas, equipamentos e materiais da prefeitura.

A quinta fonte – aquela que será mais minuciosamente destrinchada nesta denúncia – é a fraude às licitações.

Das licitações, duas serão tratadas com maior minúcia: a compra superfaturada de 29 veículos e a canalização do Córrego das Palmeiras. Juntas, essas duas fraudes renderam R$ 5.250.737,00 ao prefeito e às quadrilhas

As provas desse desvio estão nos autos e foram rigorosamente demonstradas nas planilhas.

Mas entre as infrações perpetradas por Haroldo Queiroz estão aquelas que, embora não causem prejuízo direto ao Município, ofendem a dignidade e o decoro do cargo. Entre elas, a reiterada emissão de cheque sem fundo, a sonegação fiscal, a prática dos jogos de azar, o desrespeito às requisições da Câmara Municipal.

Advertência quanto à prestação de contas

Calha fazer uma advertência àqueles que pensam que cabe ao órgão fiscalizador demonstrar as irregularidades do prefeito. Ao contrário do que acontece no processo penal, onde cabe ao acusador provar todas as suas alegações, na Administração Pública vige regra diferente: cabe ao administrador provar que gastou o dinheiro público de forma proba, vantajosa para a comunidade e de acordo com a lei.

É isso que determina a Constituição da República que diz, em seu artigo 70:

Prestará contas qualquer pessoa física ou jurídica, pública ou privada, que utilize, arrecade, guarde, gerencie ou administre dinheiros, bens e valores públicos ou pelos quais a União responda, ou que, em nome desta, assuma obrigações de natureza pecuniária.

Portanto, antes de caber ao denunciante provar que o prefeito superfaturou compras e desviou dinheiro, cabe ao prefeito demonstrar que não o fez. Antes de caber ao denunciante provar que o prefeito não plantou as árvores na Avenida Dr. Roberto, cabe a ele demonstrar que plantou. Antes de caber ao denunciante demonstrar que o prefeito financiou a compra de

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carros de forma contrária à lei, e que pagou juros exorbitantes, cabe ao prefeito demonstrar que não o fez.

Essa norma constitucional tem sido conveniente esquecida pelo prefeito Haroldo Queiroz, por seus auxiliares e também por esta Casa. Isso, porém, não pode mais acontecer.

As licitações não se destinam apenas a garantir a proposta mais vantajosa

É preciso esclarecer, também, que as licitações não se destinam apenas a assegurar a proposta mais vantajosa para a Administração. Ela se destina, também, a assegurar a todos os interessados, o direito de concorrer como fornecedor à Administração Pública. Em especial, ela se destina a garantir a isonomia e os princípios básicos da legalidade, impessoalidade, moralidade, igualdade, publicidade e probidade.

Portanto, para que o prefeito seja ímprobo, não é necessário que cause prejuízo financeiro. Basta tão-somente que ofenda aos princípios que regem as licitações.

Nesse sentido, é certo que em várias ocasiões o prefeito Haroldo Queiroz causou prejuízos que financeiramente são pequenos – como aconteceu na compra do automóvel Ford Fusion – mas que são grandes quando vistos sob o ponto de vista da moralidade pública.

Finalmente, há os casos em que a omissão do prefeito ofende diretamente a dignidade e a independência da Câmara Municipal e dos vereadores. Por exemplo, quando recebeu R$ 400.000,00 de patrocínio da Caixa Econômica Federal e os gastou sem prestar contas à Câmara. Situação que permanece até o presente.

O impacto do desvio de dinheiro sobre a qualidade de vida

Nem sempre o cidadão tem noção clara de como o desvio de dinheiro público afeta a sua vida. Por isso convém dar alguns exemplos. Os R$ 5.250.737,00 desviados no Córrego das Palmeiras e na compra de 29 veículos seria suficiente para construir 15 escolas, 40 creches ou 20 postos de saúde. Seria suficiente, também, para asfaltar a estrada até a Passagem e até a Garça. Ou, ainda, asfaltar 170 mil metros quadrados de ruas.

Outro exemplo que mostra o prejuízo direto para o bolso do cidadão é o convênio assinado com a COPASA. Ao contrário do que muitos pensam, a COPASA não é uma empresa social, sem fins lucrativos. Ela é uma empresa com ações na bolsa de valores. Ela opera em busca do lucro. Do seu capital, 46,93% estão nas mãos de investidores privados. O maior deles, uma empresa americana chamada The Bank of New York Mellon Corporation.

Portanto, quando a COPASA libera R$ 4.600.000,00 para o Município, ela virá atrás dele acrescido de lucro. O que ela faz é um investimento, não é caridade.

Nesse caso – conforme demonstrado mais adiante – isso significa um acréscimo de R$ 6,76 na conta de cada consumidor de água de Bom Despacho. Valor que será pago todos os meses, durante 10 anos.

Obras que poderiam ser feitas

O prejuízo da corrupção é visível também naquilo que não temos: ambulâncias, escolas, creches, iluminação pública, boas estradas, boas ruas, plantonistas no Pronto Atendimento, professores e servidores públicos bem remunerados, material escolar.

É também visível quando pagamos nosso IPTU, ISS, IPVA: pagamos não para que novas obras sejam feitas, mas para pagar as dívidas que o prefeito cria por causa dos desvios.

Pior, porém, é o prejuízo moral. O desânimo que se abate sobre o contribuinte que vê o dinheiro dos seus impostos sumir pelo raro da corrupção.

É por causa dessas fraudes, pelos desvios de dinheiro, pelo desrespeito à lei e pela conduta incompatível com o cargo, que o vereador Fernando Cabral, na forma dos §§ 1o e 2o

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do artigo 89 da Lei Orgânica do Município de Bom Despacho c/c art. 5o e seguintes do Decreto-Lei no 201, de 27 de fevereiro de 1967, apresenta esta

DENÚNCIA

contra o Prefeito Municipal de Bom Despacho, Haroldo de Sousa Queiroz, por ofensa ao disposto nos incisos II, III, VI, VII e IX do art. 89 da Lei Orgânica do Município de Bom Despacho, bem como ao disposto nos incisos III, VI, VII, VIII, IX e X do art. 4 o do Decreto-Lei no 201/67. Por tais infrações político-administrativas pede sua cassação após o devido processamento na forma dos §§1o a 13 do art. 89 da LOMBD e art. 5o e seguintes do Decreto-Lei no 201/67 c/c art. 280 do Regimento Interno desta Casa.

Seguem a descrição das condutas e as respectivas provas.

A compra ilegal e o superfaturamento de veículos

No final de 2005 e início de 2006 o prefeito Haroldo Queiroz comprou 29 veículos mediante pregões no 2/2005 e 1/2006, ambos fraudados. Entre os veículos estavam sete caminhões, quatro automóveis, uma caminhonete, sete microônibus e dez kombis.

Essa fraude – que custou ao erário um prejuízo de R$ 1.926.420,53 – deu-se mediante três artifícios principais.

Primeiro, a licitação foi direcionada. Ou seja, dela só participaram as empresas que estavam mancomunadas. Foi um jogo de cartas marcadas.

Segundo, sob o falso pretexto de ter alugado veículos, o prefeito fez uma compra da financiada sem aprovação do Senado Federal e da Câmara Municipal. Portanto, trata-se de um negócio jurídico simulado.

Terceiro, o financiamento foi superfaturado, com taxas de juros que chegaram a 6,7% ao mês, quando o normal teria sido pagar 0,9% ao mês.

O direcionamento

O direcionamento – ou seja, o jogo de cartas marcadas – se evidencia nos seguintes fatos:

) A cotação prévia foi feita com um só fornecedor somente, quando a prática é cotar com pelo menos três. Mesmo assim, esse fornecedor não foi de Bom Despacho, da região, de Belo Horizonte, ou mesmo de Minas. Ainda é um mistério saber como a prefeitura só descobriu esse fornecedor de Goiás para produtos que estão disponíveis aqui, em Divinópolis, em Pará de Minas, por todo lado.

b) A empresa consultada que forneceu a cotação não é do ramo de venda de caminhões, ônibus e automóveis. Portanto, não poderia ter cotado e não deveria ter sido consultada.

c) Os secretários municipais, usaram um ofício padronizado, preparado no mesmo computador, impresso na mesma impressora, e emitidos na mesma data, nos quais pedem que os veículos sejam comprados mediante “locação com doação ao final”. Por si só esses fatos mostram o conluio. Mostra-o mais ainda o fato de que é uma coincidência improvável que oito secretários tenha a mesma idéia de adotar uma forma de aquisição que não faz sentido nem no mundo jurídico nem no mundo dos negócios. E, para completar, todas as secretarias precisavam dos veículos na mesma data e se propuseram a pagar na mesma forma e na mesma duração.

O ofício assinado pelo Secretário da Administração, Oranício Menezes, é tão exemplar quanto estapafúrdio, como mostra a transcrição abaixo:

Solicito a fineza de providenciar processo licitatório para locação com doação ao final dos pagamentos de 01 (um) veículo tipo automóvel de passeio, conforme descrição em requisição anexa, com início da locação em janeiro de 2006, para transporte de funcionários da área

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administrativa para desenvolverem trabalhos externos. Sendo a locação por um período de 24 (vinte e quatro meses) pago em parcelas mensais, iguais, fixas e irreajustáveis.

Todos os secretários também indicaram o mesmo fornecedor de Goiás e entregaram o ofício no mesmo dia 21 de novembro de 2005. Nesse caso, a fraude já começa no nome do mecanismo proposto para o negócio: “locação com doação final”. É uma coisa que não existe.

O prazo de preparo do edital

A lista cronológica apresentada a seguir evidencia uma celeridade impossível que também revela a fraude.

Assinados e entregues ao setor de licitação no dia 21 de novembro de 2005, até o dia 28 aconteceram operações que normalmente levariam semanas para acontecer. Foram elas:

Dia 21 – Oito secretários pedem a compra de um total de 29 veículos;

Dia 23 – Ficam prontos os orçamentos dos 29 veículos;

Dia 25 – a) declarada a existência de créditos orçamentários; b) compra aprovada pelo departamento de finanças; c) compra aprovada pelo prefeito; d) pedida a emissão do empenho – o que se registra como descabido, pois não se tinha nem o valor nem o nome da empresa beneficiária; e) o resumo do edital foi encaminhado para publicação.

Seria lisonjeiro pensar que a prefeitura de Bom Despacho tem a capacidade de realizar tudo isso em apenas uma semana. Entretanto, o que essa ligeireza revela não é agilidade, mas corrupção. A prefeitura municipal de Bom Despacho – e nenhuma outra prefeitura – tem os meios para produzir em 4 dias um edital com tal complexidade. Essa licitação envolveu oito tipos de veículos de portes muito variados, oito secretarias, vários milhões de reais e um conceito de financiamento inusitado. Tão inusitado que causaria espanto à Assessoria Jurídica e exigiria um estudo minucioso de suas implicações legais. Entretanto, não parece ter causado.

Some-se a isso o fato de que o resumo do edital foi encaminhado para publicação, o que também não deveria ter acontecido, já que a Procuradoria Jurídica ainda não havia se manifestado sobre a legalidade do edital.

Dia 28 – Na segunda-feira após o encaminhamento para publicação a Procuradoria Jurídica aprovou o edital e o processo, a despeito de suas inúmeras irregularidades – e a despeito da estranha forma de financiamento prevista. Também não parece ter atinado para o fato de que o edital já estava publicado.

Dias 1o a 7 de dezembro – Conforme fl. 60, 15 pessoas baixaram o edital. Dessas, porém, 6 eram servidores da própria prefeitura e uma entrou com CNPJ duplicado.

Notado um erro de especificação, o pregoeiro enviou e-mail de correção aos interessados. Entretanto, as mensagens, em sua maioria, não correspondem àqueles que baixaram o edital (fls. 60-74). Além disso, a mensagem para a empresa San Marco, que na fl. 67 do edital aparece como enviada às 17 h 12 min. do dia 7 de dezembro de 2005, na folha 74 aparece como enviada às 11 h 59 min. do dia 8 de dezembro de 2005. Portanto, temos aí uma falsificação.

Enfim, em 24 dias a prefeitura conseguiu realizar uma licitação dessa magnitude e complexidade, quando se sabe que a regra é que ela gaste meses. Na maioria das vezes, muitos meses.

O falso aluguel

No sistema jurídico brasileiro não existe a figura de um “contrato de locação com opção de doação”. Não existe e não faz sentido. Se o comprador paga o valor de um bem em 27 parcelas e ao final o recebe incondicionalmente, trata-se de venda a prazo. Agora, se o recebe

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por opção, mediante pagamento de parcela residual, trata-se de arrendamento mercantil, ou leasing.

O que a prefeitura fez foi uma compra a prazo, paga em 24 ou 27 prestações. É o que se extrai do edital, da proposta e do contrato, conforme trecho a seguir transcrito:

Primeiro pagamento no valor de R$ 64.965,00 (sessenta e quatro mil novecentos e sessenta e cinco reais), dividido em 03 (três) parcelas de R$ 21.655,00 (vinte e um mil seiscentos e cinquenta e cinco reais), sendo a primeira parcela com vencimento após a entrega do bem, a segunda após 30 dias, e a terceira após 60 dias da data da entrega do bem.

As demais parcelas remanescentes, no total de 24 (vinte e quatro) parcelas mensais, iguais, fixas e irreajustáveis no valor de R$ 12.084,79 (doze mil oitenta e quatro reais e setenta e nove centavos), com vencimento de 30 em 30 dias, sendo a primeira das 24 parcelas com vencimento 90 dias após a data de entrega e as demais a cada 30 dias respectivamente.

O nome “locação com doação ao final” é um engodo. Uma fraude. Primeiro, porque não houve locação; segundo, porque não houve doação.

Doação, nos termos do art. 538 do Código Civil, é um contrato em que uma pessoa, por liberalidade, transfere do seu patrimônio bens ou vantagens para o de outra. Portanto, não pode haver obrigação de doar. Entretanto, é isso que determina o contrato firmado pela prefeitura. Diz ele:

Tendo a Administração Pública, [sic] efetuado os pagamentos mencionados no sub item IV – das condições de pagamento, a empresa contratada, se obriga a transferir a propriedade dos bens objetos do contrato a ser celebrado, oriundo da presente licitação, sem nenhum ônus, ou despesas, entregando os documentos “Certificados de Propriedade” dos veículos devidamente preenchidos em nome do Município, assinados e com firma reconhecida, no prazo máximo de 30 (trinta) dias, após o término dos pagamentos (fl. 42 do processo licitatório do pregão no 2, de 14/12/2005.)

Ora, se desde o início a empresa contratada se obriga, a doar, então não se trata de doação, mas de obrigação contratual.

No presente caso, tratou-se de uma mal disfarçado financiamento com alienação fiduciária. Só que, perante a instituição financeira, quem tomou o financiamento foi a quadrilha e não a prefeitura.

Portanto, a “locação com doação” é um negócio simulado, com graves prejuízos para o Município.

O superfaturamento

Superfaturamento é a venda ilícita por preço superior ao de mercado. Diz-se ilícita porque a mera venda por preço alto não caracteriza o superfaturamento, uma vez que no Brasil vige o sistema de livre iniciativa e a regra é não haver controle de preços. Entretanto, quando há fraude à livre concorrência o preço alto se converte em superfaturamento e torna-se ilícito.

Um dos objetivos da licitação é evitar o superfaturamento. Para isso, a Administração deve observar se os preços pedidos pelas proponentes estão coerentes com os praticados no mercado. Para tanto, antes de lançar o edital, deve levantar os preços vigentes e elaborar um orçamento detalhado.

No presente caso, porém, isso não foi feito. A única empresa que o prefeito buscou para cotação foi a CIMEL, membro da quadrilha e sem condições legais de cotar os veículos que cotou.

Nos autos não há registro dos preços à vista que vigiam na época. Tampouco há qualquer indicação de que tenham sido verificadas as condições para compra a prazo, seja no mercado

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das financeiras, seja no mercado dos agentes de governo, como o BNDES e BDMG e agentes do FINAME.

O tamanho do golpe no erário pode ser conferido pelo exemplo proporcionado pelo financiamento de um ônibus escolar para 52 passageiros, fabricado pela Marcopolo, modelo Volare W8, a Diesel, ano 2005.

Segundo registro da FIPE – Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas – em dezembro de 2005 esse veículo custava R$ 131.154,00. O prefeito, porém, pagou por ele R$ 252.000,00. Isso representa o pagamento de R$ 120.846,00 de juros num período de 27 meses.

Esse mesmo ônibus, financiado às taxas de mercado para utilitários, sairia por R$ 147.079,98. Portanto, o lucro da quadrilha, só na intermediação desse ônibus, foi de R$ 104.920,02.

Ora, foram oito ônibus. Portanto, só nesse item o prefeito e a quadrilha embolsaram R$ 734.440,14.

O mesmo esquema mafioso repetiu-se em todos os outros veículos, conforme demonstrado nas planilhas anexas. No total, o dinheiro abocanhado pela corrupção foi de R$ 1.926.420,53. Isso, em dinheiro da época. Ajustado para moeda atual, o valor pula para R$ 2,4 milhões.

Além das demonstrações das planilhas anexas, vale a pena trazer os exemplos de sete prefeituras que, entre 2005 e 2011, compraram caminhões análogos aos coletores comprados pelo prefeito Haroldo Queiroz. Todas pagaram preços muito menores e juros muito menores.

Observe-se que os exemplos foram escolhidos para representar uma amostra de Minas e do Brasil. Por isso três prefeituras são de Minas, uma é do Paraná, uma é da Bahia, uma do Rio Grande do Norte e uma do Rio Grande do Sul.

Enquanto o prefeito Haroldo Queiroz pagava R$ 355.000,00 pelo caminhão, as outras sete prefeituras pagaram o preço médio de R$ 200.571,28.

Porém, mais claro do que o preço médio é o preço pago pela prefeitura de Santos Dumont: R$ 187.999,990. Isso, com carência de 6 meses e 54 meses para pagar.

O quadro abaixo ilustra os preços pagos pelas sete prefeituras mencionadas e os respectivos documentos estão anexados.

Guaíra-PR R$ 192.000,00

Cel. Fabriciano-MG R$ 200.000,00

Ipiau-BA R$ 200.000,00

Apodi-RN R$ 212.000,00

Gramado-RS R$ 218.000,00

Piumhi-MG R$ 194.000,00

Santos Dumont-MG R$ 187.999,00

Preço médio R$ 200.571,28

O quadro abaixo, por sua vez, apresenta os preços levantados pela Perícia do Ministério Público. Na coluna da direita pode-se constatar que o superfaturamento médio foi de 52,32%. Isso significa, essencialmente, que metade do dinheiro pago foi embolsado pelo prefeito e pela quadrilha.

Convém insistir que também o valor preço que o Ministério Público indica como preço de mercado já inclui os juros do financiamento. Não se trata de comparação entre preço à vista e preço a prazo.

Item Qt. Preço Preço Preço Diferença Diferença

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Cimel Contratado Mercadoa maior

(R$)a maior

(%)

Caminhão coletor 3 1.110.000,00 1.065.000,00 697.777,14 367.222,86 52,63%

Caminhão basculante 3 780.000,00 735.000,00 519.422,64 215.577,36 41,50%Caminhão de carroceria 1 205.000,00 195.000,00 128.899,28 66.100,72 51,28%

Uno Mille 4 225.000,00 148.800,00 116.009,28 32.790,72 28,27%Pick-up Strada 1 58.000,00 53.700,00 35.995,68 17.704,32 49,18%

Microônibus 7 1.890.000,00 1.764.000,00 1.059.173,57 704.826,43 66,54%

Kombi 10 760.000,00 762.500,00 544.080,00 218.420,00 40,14%

 Total  29 5.028.000,00 4.724.000,00 3.101.357,59 1.622.642,41 52,32%

Falta de aprovação pelo Senado Federal e pela Câmara Municipal

Conforme previsto no inciso V do art. 5o da Constituição da República e regulamentado pelo art. 3o da Resolução no 43/2003 do Senado Federal, compras financiadas como essa feita pelo município devem receber aprovação prévia dos senadores da república. Devem também receber aprovação dos vereadores, conforme determina o inciso XIX do art. 69 da Lei Orgânica. Aprovações que o prefeito não obteve.

Portanto, o prefeito não praticou somente fraude às licitações e fraude financeira. Ele também simulou negócio mediante o qual desrespeitou a Constituição e a Lei Orgânica.

Simulação essa que caracteriza a infração político-administrativa prevista nos incisos VII, VII e X do art. 4o do Decreto-Lei no 201/67, bem como o crime tipificado no artigo 90 do Estatuto das Licitações e a improbidade administrativa descrita nos inciso VIII do art. 10 da Lei no 8.429, de 2 de junho de 1992.

A fraude na canalização do Córrego das Palmeiras

O córrego que passa pela Avenida Dr. Roberto chama-se Córrego das Palmeiras. Esse é o nome que consta dos registros do IBGE e também da própria prefeitura. Ele teve também nomes populares, como córrego do Amador, do Quito, da Cerâmica, da Ponte Criminosa e do Matadouro.

Entretanto, para obter financiamento com a CODEVASF, o prefeito mudou seu nome para Córrego dos Machados. Isso porque o Córrego dos Machados é afluente direto do Rio São Francisco, enquanto que o Córrego das Palmeiras não o é.

Assim, onde não houver motivo para confusão, esta denúncia respeitará o topônimo oficial do córrego.

Isso explicado, registra-se que para canalizar o Córrego das Palmeiras, o prefeito Haroldo Queiroz recebeu R$ 4.168.572,48 da CODEVASF. O Município entrou com mais R$ 463.174,72, totalizando R$ 4.631.747,20 para a obra.

Assinado em 30 de dezembro de 2005, o convênio teve por testemunhas Newton Cardoso e Maria Lúcia Cardoso, padrinho e madrinha políticos de Haroldo de Sousa Queiroz.

Mais adiante – em 17 de junho de 2008 – o prefeito Haroldo Queiroz assinou com a COPASA o convênio no 08.1791, no valor de R$ 4.600.000,00 cujo objeto era o mesmo do convênio anterior. Dessa forma, o valor total disponível subiu para R$ 9.231.747,20.

Subsequentemente, o prefeito assinou novo aditivo com a empreiteira, mediante o qual aumento o valor do contrato para R$ 8.477.114,66.

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A fraude na licitação

A licitação foi jogo de cartas marcadas com a empresa Valadares Gontijo. Por isso ela não teve projeto básico, não teve projeto executivo e não teve orçamento. Três elementos essenciais a qualquer licitação de obras. Aliás, essenciais à própria execução da obra.

Mesmo sem esses elementos e sem o parecer jurídico, o aviso de licitação foi mandado à publicação no dia 10 de fevereiro de 2006 (fl. 17).

No dia 16 de março – véspera da data marcada para a abertura das propostas – o Controlador Interno registrou essas irregularidades dizendo:

Entende essa controladoria que para o atendimento ao disposto no art. 7o da Lei 8.666/93, deverá ser juntado aos autos a planilha orçamentária, todo o projeto básico, o projeto executivo e o memorial descritivo da obra, assinatura do RT nos projetos da obra e aprovação dos projetos pelos órgãos competentes para posterior prosseguimento (fl. 121).

Ou seja, a licitação não estava em condições de prosseguir1.

O parecer foi entregue ao Secretário de Planejamento às 17 horas e 30 minutos do dia 16 de março. Nas horas seguintes ele juntou aos autos duas plantas (fls. 76-77) e algumas especificações vagas (fls. 123-130).

As plantas são velhas, de 1998, são erradas e são irrelevantes para as obras. A única relacionada com a obra tem um erro tão grande que marca como 2.200 metros uma extensão que mal chega a 1.200 metros. Nenhuma delas tem registro no CREA. Algumas nem assinatura têm.

A juntada das especificações de fls. 123-130 é um verdadeiro deboche. Em primeiro lugar, porque é uma cópia fiel do que já estava nas folhas de 52-60. Em segundo lugar, porque não suprem a necessidade dos projetos básicos e executivo. Portanto, não passa de uma zombaria.

Já a planilha orçamentária juntada à fl. 131 é arbitrária nos seus valores e quantitativos. Não está fundamentada em cálculos e não traz qualquer documento de apoio, como referência de preços.

Mesmo assim, a licitação prosseguiu e as propostas foram abertas horas depois.

O preço do edital

O edital foi vendido ao preço de R$ 1.000,00. Essa venda, porém, é proibida pelo disposto no §5o do artigo 32 da Lei no 8.666/93. É proibida, também, porque representa cobrança de tributo não definido em lei. Ofende, portanto, as disposições dos artigos 145 e seguintes da Constituição da República bem como as disposições do artigo 3o do Código Tributário Nacional.

Exigências vedadas por lei

Também foi ilegal a exigência de que a empresa ou profissional responsável comprovasse ter executado obras com pelo menos 70% do tamanho dos quantitativos definidos para a canalização do Córrego das Palmeiras (fl. 27).

1 Nesse sentido, assim se manifestou o Tribunal de Contas da União a propósito de obra executada apenas com base em planilha orçamentária estimativa: Com efeito, os serviços foram licitados apenas com base em planilhas orçamentárias estimativas, em contrariedade ao que dispõe o artigo 7º, § 2º, inciso I, da Lei nº 8.666/93 . Brasil. TCU. Representação. Acórdão n. 1813/2008 - Plenário. Processo n. 002.127/2007-6. Órgão: Prefeitura Municipal da Juína-MT. Relator: Min. Benjamin Zymler. Ata 34/2008 - Plenário. Sessão de 27/08/2008. DOU 29/08/2008.

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A exigência é ilegal, porque ofende o disposto no inciso I do §1o do artigo 30 da Lei 8.666/93. É absurda, porque não faz sentido exigir que um profissional (ou empresa) demonstre ter cortado e dobrado 70% de 372 toneladas de ferro, ou que tenha plantado 70% de 17.100 metros quadrados de grama. É ridícula, porque não existe qualquer complexidade na construção de um passeio ou na colocação de ladrilhos hidráulicos.

Essas exigências ilegais, absurdas e ridículas apenas revelam a tentativa de eliminar a competição.

O conluio

As empresas Valadares Gontijo (fl. 86), Mello de Azevedo (fl. 87) compraram o edital um mês antes de sua publicação. A empresa Aterpa (fl. 84) comprou dois dias antes.

Por si sós, esses fatos revelam o conluio entre elas e a combinação com o Município. Mais revelador, porém, é o fato de que as empresas Valadares Gontijo e Mello de Azevedo foram à prefeitura e pegaram as guias de recolhimento no mesmo dia e horário. Isso é, 12 horas e 2 minutos do dia 18 de janeiro de 2006. Também pagaram no mesmo dia e horário, no mesmo caixa da Caixa Econômica Federal, agência de Bom Despacho. Finalmente, as duas empresas, no mesmo dia 24 de fevereiro de 2006, às 12 horas e 48 minutos, transmitiram cópias dos recibos para o fax da prefeitura, usando o mesmo fax da empresa Construtora Valadares Gontijo, de Belo Horizonte.

Essas datas, horários e o uso do mesmo aparelho de fax mostram que essas empresas estavam mancomunadas.

A reveladora bagunça do caderno dos autos

Os cadernos dos autos são uma bagunça só. Os documentos foram autuados de forma aleatória. Documentos e folhas estão fora da sequência lógica e cronológica. A prestação de contas do convênio da CODEVASF nem sequer tem folhas numeradas, o que viola qualquer noção de processo.

Observa-se, também, que falta à licitação a autorização de que fala o artigo 38 da Lei no

8.666/93. Portanto, o processo não poderia nem mesmo ter tido andamento. Por outro lado, como o prefeito adjudicou o objeto, assinou o contrato e pagou, deve-se entender que convalidou os atos e assumiu responsabilidade pessoal por suas ilegalidades.

Além disso, das 511 folhas de documentos trazidos pelas empresas Gontijo Valadares e Marco XX, somente três ou quatro dezenas são relevantes. Os resto não passa de volume para enganar os incautos.

Quantitativos e incoerência dos custos previstos

A planilha tardiamente juntada aos autos (fl. 131) não atende às exigências da Lei. Quanto aos quantitativos, não há memória de cálculo ou projeto básico que indique como os valores foram encontrados. Alguns estão grosseiramente errados. Outros são inconsistentes entre si e incoerentes com a realidade. Essas situações estão demonstradas pelas variações percentuais que apareceram nas tabelas anexas.

Além disso, os preços indicados na planilha não atendem às exigências do 112 da Lei n o

11.178. De fato, não há nos autos nenhum referência aos preços do SIAPI ou a qualquer outro sistema de referência de preços.

A irrelevância da planilha é tamanha que, embora juntada aos autos horas antes da abertura das propostas, isso em nada as afetou. Os concorrentes foram adiante normalmente, como se a planilha não existisse.

Se a planilha fosse séria, se a licitação fosse honesta, a juntada das plantas, das especificações e da planilha levariam as empresas a exigirem novo prazo para se adaptarem.

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Entretanto, isso não aconteceu. Os concorrentes aceitaram as mudanças de última hora sem reclamar. Esse é mais um indício da colusão.

Jogo de planilha, superfaturamento e outras ilegalidades

Na sua execução, a obra foi fraudada mediante superfaturamento, jogo de planilha, alteração de objeto, falso acréscimo de serviço e aplicação indevida de correção monetária.

Superfaturamento é a cobrança ilícita de valores marcadamente superiores aos preços de mercado. Por exemplo, na obra da prefeitura o prefeito Haroldo Queiroz pagou o concreto a R$ 330,77 o metro cúbico. Enquanto isso, na sua obra particular ele pagava apenas R$ 151,32 que era o preço correto do produto. Isso significa um superfaturamento de 119%.

Jogo de planilha é a diminuição ou eliminação de itens menos lucrativos e o aumento ou a inserção de itens mais lucrativos, de modo a aumentar artificial e ilicitamente a lucratividade do contrato. Um exemplo é a escavação de sole mole cuja previsão era de 4.750 metros cúbicos, mas se transformou em 16.465,27 metros cúbicos. O aumento foi de 247%.

Alteração de objeto é a inclusão de serviços não originalmente previstos no edital. No presente caso, a construção de pontes havia sido explicitamente excluída do objeto. Entretanto, mais tarde foram incluídos para justificar aumento no preço do contrato.

Além disso, o contrato recebeu correção monetária indevida bem como irregular aumento de 25%.

O que a lei permite é o reajuste dos preços dos itens não executados, de modo a ser preservado o equilíbrio econômico-financeiro do contrato. Isso não significa, de forma alguma, autorização para aplicação linear de correção monetária sobre todos os preços.

Quanto ao aumento permitido de 25%, ele deve decorrer de aumentos de quantitativos de itens já previstos na obra. Não se trata de autorização para elevar o valor do contrato em 25%, como aconteceu no presente caso.

No presente caso, a aplicação conjunta do índice inflacionário combinado com os 25% resultou num aumento ilícito de 51% no custo da obra. Ou seja, o contrato subiu de R$ 5.622.430,94 para R$ 8.477.114,66. Ou seja, 51%.

Os artifícios ilícitos e os prejuízos em espécie

Mostra-se, a seguir, como os quantitativos e preços foram manipulados de modo a proporcionar um superfaturamento e desvio de R$ 3.324.316,55.

Serviços preliminares

Os serviços preliminares envolvem três itens: locação da obra, colocação da placa de identificação da obra e construção do barracão. Orçados em R$ 20.800,04, por eles a prefeitura pagou R$ 198.104,60. Portanto, um superfaturamento médio de 852,42%. Os detalhes estão no quadro abaixo.

Serv. preliminares

Unit (R$)

(orçado)Qtd

prevista

Custo previsto

(R$)

Cobrado(Unitário-

R$) MediçãoPago(R$)

Locação da obra m2 1,60 9.500,00 15.200,00 14,90 8.914,00 132.818,60

Placa de obra m2 63,89 36,00 2.300,04 891,00 36,00 32.076,00

Barracão de obra m2 110,00 30,00 3.300,00 1.107,00 30,00 33.210,00

Total do superfaturamento nos serviços preliminares: R$ 117.618,60

Mesmo agora, cinco anos depois, esses ainda não custariam mais do que R$ 25.000,00. Muito longe, portanto, dos R$ 117.618,60 que custaram.

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Movimento de terra

Na movimentação de terra, o superfaturamento foi de R$ 635.896,59. Ou seja, de um total orçado de R$ 186.792,80 o custo subiu para R$ 822.689,39. Um aumento de 340,43% cujos detalhes estão no quadro abaixo.

Movimento de terra   Unit (R$) (orçado)

Qtd prevista

Custo previsto

(R$)

Cobrado(Unitário-

R$) MediçãoPago (R$)

Limpeza e transporte de entulho m2 0,98 9.500,00 9.310,00 3,38 28.474,80 96.244,82

Escavação de solo mole m3 23,80 4.750,00 113.050,00 22,95 16.465,27 377.877,95

Esc. Mec. Mat 1ª Categoria m3 3,42 6.840,00 23.392,80 12,15 5.159,00 62.681,85

Reaterro manual cop. 100% PN m3 6,00 6.840,00 41.040,00 14,20 20.132,73 285.884,77

Subtotais       186.792,80     822.689,39

Superfaturamento no movimento de terra: R$ 635.896,59

O quadro também mostra como foram usados o superfaturamento e o jogo de planilha. O reaterro manual, por exemplo, foi cotado pela prefeitura em R$ 6,00 o metro quadrado, para a execução de 6.840 metros quadrados. Entretanto, a empresa cotou a R$ 14,20 cobrou 20.132,73 metros quadrados. Portanto, um aumento de 194% no volume e um aumento de 597% no custo. Dessa forma o superfaturamento no item alcançou R$ 635.896,59.

Galeria em concreto armado

A análise financeira da parte relativa à galeria em concreto armado exige atenção, pois o valor cobrado parece estar R$ 1.043.271,22 a menos do que o custo previsto. Mesmo assim, na realidade houve prejuízo decorrente do jogo de planilha e do superfaturamento.

Observa-se, em primeiro lugar, o aumento dos custos unitários do enrocamento e do concreto magro. Depois observa-se que o consumo de ferro CA-50 sofreu queda de 323.939 quilos, em parte compensada pela introdução de 105.000 quilos de armação em tela. Também o concreto aparenta diminuição de 1.288 metros cúbicos.

Deve-se observar, porém, que a aparente economia havida na construção da galeria de concreto armado não aparece em lugar algum. Ao contrário, a obra ficou mais cara. Isso significa que o dinheiro que não foi lançado nesses itens foi lançado em outros itens cujos custos aumentaram. Como, por exemplo, a placa da, a locação, o enrocamento e outros.

O quadro abaixo resume o que aconteceu. Os detalhes estão nas planilhas anexas.

Descrição   Previsto Cobrado

Galeria em concreto armado Unid Unitário Quantidades Valor Unitário Medido Valor

enrocamento pedra mão/matacão m3 49 3.138,00 153.762,00 79,5 6.445,80 512.441,10

Concreto magro p/ regularização m2 168 941 158.088,00 232,2 752,66 174.767,65

Forma compensado resinado esp. 14mm m2 39,85 19.313,00 769.623,05 44,55 16.428,12 731.895,02

Corte, dobra, armação ferro CA-50 kg 5,58 372.400,00 2.077.992,00 4,59 48.460,70 222.434,61

Concreto fck 15,0 Mpa lançamento incluso m3 259,14 4.335,00 1.123.371,90 267,3                  -                  -   

Junta de dilatação fungimband m 137 490 67.130,00 44,65 550,4 24.575,36

Armação em tela kg              -      5,58 105.413,52 588.207,44

Geotextil 250g/m2  m2             -      5,19 272,5 1.414,28

Pedra de mão arrumada m2              -      31 1.388,00 43.028,00

Concreto fck 20,0 Mpa lançamento incluso m3              -      330,77 3.047,23 1.007.932,27

Subtotal   4.349.966,9

5   3.306.695,73R$ 375.358,75 (superfaturamento dos itens 3.1 e 3.2) + R$ 1.267.349,95 (ferro não aplicado) + R$ 333.712,72 (Concreto não aplicado).

Total = R$ 1.976.421,42

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É necessário registrar aqui um fenômeno intrigante. O boletim de medição no 10, de 27 de novembro de 2007 faz desaparecer 55.509,80 quilos de ferro cortado, dobrado, colocado, cobrado e pago, ao custo de R$ 254.789,98. Do mesma forma, fazer desaparecer 1.694,88 metros cúbicos de concreto lançado, medido e cobrado no valor de R$ 453.041,42.

Esse, mais do que um fenômeno contábil, é um fenômeno de engenharia: como a empresa conseguiu retirar da galeria 1.694,88 metros cúbicos de concreto fck 20 MPa armado com 55.509.80 quilos de ferro CA-50?

Esse é um fato que aguarda explicação.

Serviços complementares

Nos serviços complementares todos os itens estão fora do padrão. Três, porém, chamam a atenção: o passeio que ninguém fez, mas está lá, o ladrilho que não foi colocado, e as árvores que foram pagas, mas não foram plantadas.

Serviços complementaresUnit(R$) Qtd

Valor(R$)

Unitário(R$) Medição

Valor(R$)

Cerca c/mourão de concreto e tela m 33,08 1.281,60 42.395,33 74,93 600,00 44.958,00

Plantio de grama em placa m2 4,87 17.100,00 83.277,00 6,75 4.600,00 31.050,00

Plantio de árvores uni 8,48 2.144,00 18.181,12 31,05 2.144,00 66.571,20

Passeio de proteção (2,00m x 0,15m) m2 28,00 7.600,00 212.800,00 35,10 - - Piso de ladrilho hidráulico m2 30,00 7.600,00 228.000,00 25,65 - - Limpeza final da obra m2 0,50 9.500,00 4.750,00 1,62 3,00 4,86

Subtotais   589.403,45   142.584,06R$ 64.459,80 (árvores não plantadas) R$ 84.375,00 (grama plantada pela prefeitura) R$ 212.800,00 (passeio feito pela prefeitura) R$ 228.000,00 (ladrilho não colocado) R$ 4.745,14 (limpeza realizada pela prefeitura). Total: R$ 594.379,94

Quanto às árvores, observa-se que o contrato previa o plantio e rega de 2.144 árvores nativas e frutíferas (fl. 58-59). Dessas, 190 seriam plantadas ao longo do canal, de um lado e outro, a cada vinte metros de distância. As restantes 1.954 seriam plantadas nas nascentes do córrego, a uma distância de um metro uma da outra.

O que se constata, porém, é que o plantio foi feito como indicado no quadro abaixo.

Atendem Não atendem Não atendemGoiabeira 1 Acerola 8 Ligusto 9Araçá 3 Alamanda 8 Murta 5Ipê Variados 58 Amora 11 Pitanga 6Quaresmeira 2 Jamelão 84 Hibisco 2Jenipapeiro 4 Aroeira Salsa 11 Sete Copas 1

Buganvília 6 Covas vazias 22Dama da noite 10 Mudas mortas 2

Total = 253 68 138 47

Ou seja, somente 68 árvores são nativas. Só oito são nativas e frutíferas. Entre as demais mudas plantadas, 138 são de árvores ou arbustos exóticos e 47 são ornamentais. Portanto, das 2.144 árvores previstas, somente 68 foram plantadas. Como as árvores deveriam ter o custo de R$ 8,48 a unidade e a empresa plantou 68, ela deveria receber R$ 576,64. Invés disso, recebeu R$ 66.571,20 – um prejuízo de R$ 65.994,56.

Observe-se, ainda, que o trecho do canal entre a Rua da Fábrica e o Beco do Zeca do Couto não recebeu uma única muda. Nem mesmo de flor.

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Já o passeio e o ladrilho formam mais um caso de jogo de planilha. Quem fez o passeio foi a prefeitura. Os ladrilhos não foram colocados. Isso representou uma economia de R$ 440.800,00. Entretanto, esse dinheiro não retornou aos cofres da prefeitura. Ao contrário, foi para a conta da empreiteira, e de lá para o bolso do prefeito Haroldo Queiroz.

O gramado

O projeto previa o plantio de 17.100 metros quadrados de grama. Desses, a empreiteira plantou 4.600. Os outros 12.500 foram plantados pela prefeitura. Entretanto, assim como aconteceu no caso do passeio e do ladrilho, esse dinheiro também não voltou para os cofres da prefeitura. Um prejuízo de R$ 60.875,00.

Convênio com a COPASA

A COPASA negocia 46,93% de suas ações na bolsa de valores. A empresa americana The Bank of New York Mellon Corporation detém 5,02% do seu capital. Por esse e outros motivos, a COPASA não opera fazendo caridade. Ela faz investimentos para os quais espera retorno. Portanto, quando assinou um convênio de R$ 4.600.000,00 ela estava visando o lucro.

Entretanto, a obrigação de devolver esse dinheiro não ficou com a prefeitura, mas com o consumidor de água.

Ora, Bom Despacho tem cerca de 15.000 pontos de água. Para recuperar seu investimento em 10 anos, a uma taxa bruta de lucro de 2% ao mês, a COPASA cobrará de cada um deles, R$ 6,76 por mês. O valor será incluído na conta de água.

No presente caso, porém, o convênio é ilegal. Seu objeto é a “canalização do Córrego dos Machados”, é o mesmo objeto do convênio com a CODEVASF. Essa situação é vedada, como estabelece o art. 25 da IN/STN no 1, de 15 de janeiro de 1997.

A despeito disso, a COPASA já liberou R$ 1.543.542,41 do valor total previsto. Esse dinheiro foi repassado à empreiteira, conforme comunicado no 15/2011-DPCO/DVEO da COPASA.

Esse valor – segundo o prefeito – foi aplicado para estender a obra em 160 metros. Contudo, a informação é incorreta, uma vez que a obra financiada pela CODEVASF, desde o início, já tinha 1900 metros.

Alteração do objeto do convênio

A entrada desse convênio da COPASA introduz uma nova ilegalidade, que é a alteração do objeto, expressa no aditivo 5o (fl. 1016). Essa alteração – já se viu – é vedada pelo disposto no inciso X do artigo 1o da IN/STN no 1, de 15 de janeiro de 1997. Vedação que é repisada pelo inciso III do seu art. 8o e também no item 4.2 do Convênio no 1.93.95.0030-00 celebrado com a CODEVASF.

Prejuízos apurados na canalização do Córrego dos Machados

Em suma, a canalização do Córrego das Palmeiras resultou num gasto já comprovado de R$ 6.186.475,61. Restam ainda, a gastar, R$ 3.056.457,59 provenientes do convênio da COPASA. Se executado até o final, o custo da obra será elevado para R$ 9.242.933,20.

Cálculo do dinheiro desviado

Além do superfaturamento e do jogo de planilha, uma terceira forma de fraudar em obras de engenharia é no cálculo de extensões, áreas, volumes. Todos estão sujeitos a manipulações danosas aos interesses do contratante. De modo especial o está o cálculo de volumes, porque pequenas variações numa dimensão podem causar grandes variações no custo final.

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Uma quarta forma de fraudar é não executar os serviços previstos, mas cobrar os respectivos valores em outro item. Essa quarta forma, porém, é apenas uma variante extrema de jogo de planilha.

Na canalização do Córrego das Palmeiras, todas essas técnicas foram usadas.

Por exemplo, a placa de identificação da obra foi pura e simplesmente superfaturada. Escandalosamente superfaturada. Por um produto que deveria ter custado R$ 2.300,00 ou até menos, a prefeitura pagou R$ 32.076,00.

Outro exemplo é a locação da obra. Pelo valor de mercado de R$ 15.000,00 a prefeitura pagou R$ 117.618,60.

Nesses casos o valor desviado é calculado diretamente pela diferença entre o valor de mercado e o valor pago.

Há outros casos, porém, em que o cálculo do desvio requer engenhosidade. Por exemplo, o consumo de concreto FCK 15 estava previsto em 4.335 metros cúbicos e o ferro CA-50, em 372.400 quilos. Pela proposta da empresa, esses produtos custariam R$ 2.868.061,50.

O quadro abaixo mostra o que aconteceu.

Itens Orçado Proposto Cobrado

Ferro CA-50 2.077.992,00 1.709.316,00 222.434,61

Concreto FCK 15 1.123.371,90 1.158.745,50 0

Armação em tela 0 0 588.207,44

Concreto FCK 20 0 0 1.007.932,27

Totais 3.201.363,90 2.868.061,50 1.818.574,32

Ou seja, a prefeitura orçou em R$ 3.201.363,90, a empreiteira propôs executar por R$ 2.868.061,50 mas no final cobrou R$ 1.818.574,32. Uma aparente economia de R$ 1.382.789,58. Entretanto, esse dinheiro não voltou à prefeitura. Ele foi diretamente para o bolso da quadrilha.

Esse é um exemplo clássico e consumado de jogo de planilha: o consumo do item diminui, mas o valor supostamente economizado não aparece. Não retorna aos cofres públicos. O que é pior: no final do preço da obra ainda é aumentado, como acontece nesse exemplo.

Foi usando tais artifícios que o prefeito Haroldo Queiroz deram ao erário municipal um prejuízo de R$ 3.324.316,55, desviados dos R$ 6.186.475,61 pagos pela obra. Isso significa 54% do dinheiro investido pelo governo federal e pelo município.

Os crimes na canalização do Córrego dos Machados

Além de caracterizarem infrações político-administrativas, as irregularidades praticadas na canalização do Córrego das Palmeiras apontam também para os crimes tipificados nos artigos 90, 92 e incisos III, IV e V do artigo 96 da Lei das licitações bem como para o ato de improbidade administrativa previsto no inciso VIII do art. 10 da Lei no 8.429, de 2 de junho de 1992.

Provas das ilegalidades e desvio de dinheiro na canalização do Córrego dos Machados

O processo licitatório desrespeitou diversos dispositivos da Lei no 8.666/93, em especial aqueles dos artigos 3o, 7o e 38. A comparação dos boletins de medição com a planilha orçamentária e a proposta da empreiteira evidencia o superfaturamento e o jogo de planilha. Os termos dos convênios, do edital, do contrato e seus aditivos mostram violações às disposições da IN STN no 1/1997.

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Outras ilegalidades praticadas pelo prefeito Haroldo Queiroz na contratação de serviços

Em março de 2010, no plenário da Câmara, o prefeito Haroldo Queiroz declarou que todas as suas licitações e contratações são honestas e que – por causa disso – nunca foi apanhado pelo Tribunal de Contas.

Haroldo mentiu.

Ele já foi multado por diversas vezes e diversas vezes executado por irregularidades em licitações. Seguem alguns exemplos que mostram que ele mentiu perante este Plenário.

Certidão de débito no 1.079/2005

Essa certidão refere-se ao Processo Administrativo TCE/MG no 675.969, no qual Haroldo Queiroz foi condenado ao pagamento de multa em decorrência de irregularidades na aquisição de peças de reposição para tratores, retroescavadeira, pá carregadeira, patrol e material gráfico.

Certidão de débito no 632/2006

Essa certidão de débito refere-se ao Processo Administrativo no 606.607, que redundou na aplicação de multa de por infringência a preceitos da Lei no 4.320/64 e Súmula TC no 43.

Aplicação de multa no processo 742249/2007

Também o processo TCE/MG no 742249/2009 resultou em aplicação de multa a Haroldo Queiroz, conforme comunicado de 3/3/2010 do TCE/MG.

Ação de Improbidade Administrativa no 0074.04.022824-4

Essa ação contra o prefeito Haroldo Queiroz tramita nesta Comarca em busca de condenação e ressarcimento pela contratação irregular de serviços de coleta de lixo, manutenção da torre de TV e serviços de informática.

Ação de Improbidade Administrativa no 0026728-67.2010.8.13.0074

Também essa ação tramita no fórum local. Ela se refere a descumprimento de ordem judicial para que o prefeito providenciasse atendimento médico mínimo à população junto ao Pronto Atendimento.

Ação de execução fiscal no 0074.07.036430-7

Trata-se de ação de execução fiscal para receber a multa aplicada pelo TCE/MG, conforme certidão de débito no 632/2006, Processo Administrativo no 606.607, por violação a preceitos da Lei no 4.320/64 e da Súmula TC no 43.

A compra do automóvel Ford Fusion

A licitação que redundou na compra do Ford Fusion, placa HBP-0012, foi fraudada. Em primeiro lugar, porque o prefeito escolheu pessoal e antecipadamente o veículo que seria comprado. Escolheu também o fornecedor que o entregaria. Na verdade, encomendou o veículo antes mesmo que a licitação foi preparada.

A prova de que a licitação foi inteiramente direcionada está na especificação técnica que converge para o veículo escolhido. A outra prova está no fato de a prefeitura ter aceitado comprar um carro fabricado no ano anterior, o que não faz sentido, a não ser mediante um desconto substancial. Desconto que não houve.

Quanto ao superfaturamento, mostram os cadastros da FIPE (anexos), que o automóvel em questão, modelo 2010, vendido em dezembro de 2009 custava R$ 88.368,00. Com tanto

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mais razão seria mais barato em maio de 2010, pois, a despeito de 0 km, era um modelo de fabricação antiga e já desvalorizado.

Nesse caso, maior do que o prejuízo financeiro foi o prejuízo para a moralidade pública. O prefeito comprou o veículo para atender a seu desejo pessoal, e não para atender a uma necessidade da Administração. Fê-lo direcionando a compra para um modelo específico e um fornecedor específico.

Aliás, para tanto provar, basta comparar o anexo I do edital 17/2010 com o anexo I do edital 4/2010, o primeiro de fevereiro de 2010, o segundo de maio de 2010. No primeiro são especificados dois veículos. O primeiro, um automóvel “ano não inferior a 2010/2010” (o negrito é do original).

A especificação do segundo veículo, porém, destaca, em negrito: “ano de fabricação e modelo não inferior a 2009/2010”.

Por que, no início de 2010, a prefeitura insistiria em comprar um carro fabricado no ano anterior? Por que – no mesmo edital – exige que um carro seja 2010/2010 e o outro, 2009/2010?

Porque – como já esclarecido – o carro já estava encomendado e importado. O edital era apenas para sacramentar o negócio que já estava fechado. Direcionamento também confirmado pelas demais especificações.

O primeiro edital, porém, foi impugnado. O prefeito lançou segundo, que recebeu o número 17/2010. Ligeiramente alterada, a especificação passou a exigir “veículo de passeio, 0 Km, modelo 2010 (grifamos). Ou seja, foi removida a referência ao ano de fabricação. Para o caso de haver dúvidas, as demais especificações do edital ajudavam a caracterizar completamente o veículo desejado (fl. 36 do edital 17/2010).

Como se não fosse suficiente, o edital condicionou o prazo de entrega em 5 dias, o que só seria possível se o fornecedor já o tivesse em estoque. Principalmente em se tratando de um carro importado, como aconteceu nesse caso.

O crime

O direcionamento para a compra desse automóvel caracteriza o crime previsto no artigo 90 da Lei no 8.666/93, pois frustrou o caráter competitivo do certame. Caracteriza, também, improbidade administrativa e infração político-administrativa por descumprimento de preceito legal.

Compra de enciclopédias

No dia 20 de agosto de 2009 o prefeito Haroldo Queiroz assinou contrato para a compra de 10 enciclopédias, ao preço total de 19.980,00.

Embora se tratasse da compra de livros comuns, o prefeito simulou a contratação de serviços técnicos e contratou mediante inexigibilidade, conforme admitido pelo inciso I do artigo 13 da Lei das Licitações.

Uma fraude pura e simples.

Ademais, o livro é arremedo de enciclopédia. Basta ver que o vendedor diz dela: 11 volumes, com 40 matérias, 35.000 verbetes enciclopédicos, 3.500 verbetes históricos, 7.000 verbetes geográficos, 3.500 biografias de estrangeiros e 3.500 biografias de brasileiros. Isso totaliza 52.500 entradas.

Retirando as 320 páginas de ilustrações, nas outras 3.764 páginas de 14 x 22 cabem 3 linhas por verbete. Para um dicionário isso já seria palavra de menos para verbete demais. Mas, para uma enciclopédia que alega ter 7.000 biografias, o adjetivo não pode ser menos do que ridículo. Pura tapeação.

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A inexigibilidade da licitação

O andamento processual também é revelador e vale a pena ser sintetizado.

Primeiro dia – 18/8/2009

• A empresa enviou um orçamento para o Município (quem pediu o orçamento, não se sabe) (fl. 4);

• No próprio dia 18/9 a Secretária da Educação enviou memorando ao setor de licitações pedindo a compra da enciclopédia. Junto com o pedido veio a documentação da empresa fornecedora (fls. 2-3 e 4-26);

• Ainda no próprio dia 18/9 o setor de licitação encaminhou o pedido para o setor contábil fazer a reserva orçamentária. (fl. 27);

Segundo dia – 19/08/2009

• Aprovação pelo setor contábil (fl. 27);

• Aprovação pelo setor de finanças (fl. 27);

• Reunião da CPL para decidir pela inexigibilidade porque se trataria de estudo técnico, planejamento e projeto básico ou executivo, em consonância com o Artigo 13, inciso I da Lei 8.666/93. (Entretanto, tratava-se da mera compra de livro, não de estudo técnico ou planejamento.)

• Encaminhamento ao setor jurídico para parecer (fl. 30);

Terceiro dia – 20/08/2009

• Setor jurídico aprova a inexigibilidade (fls. 31-36);

• Encaminhamento à Controladoria Interna (fl. 39);

• Controladoria Interna aprova o processo (fls. 40-42);

• Prefeito ratifica a compra (fl. 44);

• Contrato elabora e assinado pelas partes (fls. 45-48);

• Encaminhado o extrato para publicação (fls. 49-50).

Portanto, em três dias, o prefeito Haroldo Queiroz conseguiu o prodígio de realizar um processo licitatório inteiro, desde o pedido inicial do setor interessado até a assinatura do contrato. Esse é um recorde notável, mesmo quando comparado com as outras licitações fraudadas da prefeitura.

Outro fato notável é que, a despeito de a vendedora morar no interior de São Paulo, compareceu imediatamente à prefeitura para assinar o contrato. Nenhuma delonga ou espera.

Essa licitação é uma fraude. A uma, porque o produto não atende a nenhuma necessidade das escolas de Bom Despacho. A duas, porque não se tratava de inexigibilidade, tal como definido pela Comissão de Licitação. A três, porque foi conduzida com o único objetivo de gerar o pagamento de propina.

Incidem, no caso, as penas previstas nos artigos 89 e 90 da Lei das Licitações. Os autos do processo administrativo no 77/2009 e a inexigibilidade no 7/2009 são provas suficientes da fraude.

Contratação da empresa ASSETEC INFORMÁTICA

Em 3 de março de 2009 o prefeito Haroldo Queiroz assinou contrato de prestação de serviço com a empresa ASSETEC INFORMÁTICA E SUPRIMENTOS EM GERAL LTDA. O valor foi de R$ 6.400,00 dividido em duas parcelas de R$ 3.200,00. Não houve licitação. Tampouco houve levantamento dos preços de mercado.

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Cinco meses depois – com base em licitação fraudada – o prefeito assinou novo contrato no valor de R$ 15.039,99 divididos em 5 parcelas. A primeira, de R$ 2.239.99; as outras quatro, de R$ 3.200,00.

Mediante aditivos, o valor do contrato foi duas vezes aumentado em R$ 19.200,00. A primeira vez, em 1o de setembro de 2009; a segunda vez, em data desconhecida, mas presumivelmente em julho de 2010, de modo a cobrir os pagamentos feitos entre agosto e dezembro de 2010. Os principais fatos estão mostrados no quadro abaixo.

Contrato de consultoria com a ASSETEC Informática

Documento Data Valor (R$)

Contrato s/n 03/03/2009 6.400,00

Contrato 61/2009 10/08/2009 15.039,99

Aditivo 1 1º/09/2009 – – – –

Aditivo 2 14/12/2009 19.200,00

Aditivo 3 (?) ??/??/2010 19.200,00

Total contratado 59.839,99

Limite legal para aditivar o contrato 61/2009: R$ 3.759,99 (25% de R$ 15.039,99)

Aumento total R$ 38.400,00 (255,32%) – Excesso: R$ 34.640,01 (230,32%)

O primeiro contrato é ilegal, foi feito sem licitação e sem levantamento de custos do mercado. O segundo, porque a licitação – sob a modalidade de carta convite – foi fraudada.

Também é ilegal o aditivo no 2, pois extrapola o limite legal do aumento de 25%. Com tanto mais razão é ilegal o terceiro aditivo, pois eleva o valor excedente para 821,28%.

Além do mais, a contratação da empresa ASSETEC para prestar consultoria fere o disposto no §3o do art. 22 da mesma lei, já que convite é a modalidade de licitação entre interessados do ramo pertinente ao seu objeto.

Entretanto – conforme demonstra a Certidão Simplifica Digital anexa – a empresa ASSETEC é explicitamente vedado de vender serviços de “análise de sistemas, programação e consultoria”.

Configurados, portanto, os crimes tipificados nos artigos 90 e 92 da Lei das Licitações.

O nepotismo cruzado

Finalmente, deve-se registrar que a empresa ASSETEC pertence a Paulo Sérgio Alves, que lhe detém 97,22% das cotas. Paulo Sérgio, por seu turno, é Secretário Municipal de Saúde em Araújos. Também por esse motivo estaria impedido de prestar serviços à prefeitura de Bom Despacho, já que tem dedicação exclusiva à prefeitura a que serve.

Acontece, porém, que Maria Izabel de Carvalho Queiroz – filha do prefeito Haroldo Queiroz – é servidora do Município de Araújos. Ali é subordinada ao Secretário Paulo Sérgio. Foi com o beneplácito dele que ela conseguiu afastar-se da prefeitura de lá para assumir em Bom Despacho o cargo de Secretária de Governo do seu pai, Haroldo Queiroz.

Caracterizado, portanto, o nepotismo cruzado.

O patrocínio da Caixa Econômica Federal: R$ 400.000,00 sem destino conhecido

Conforme consta da prestação de contas do prefeito, em 2009 a prefeitura recebeu R$ 400.000,00 a título de “patrocínio”.

Em 19/4/2010, conforme requerido pelo vereador Fernando Cabral, o Plenário requisitou ao prefeito o seguinte:

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Cópia do instrumento mediante o qual a Caixa Econômica Federal agraciou o Município de Bom Despacho com o valor de R$ 400.000,00, bem como demonstrativo da destinação do dinheiro, incluindo cópia dos processos de licitação, contrato e respectivas notas fiscais.

Passados 9 meses, o prefeito ainda não esclareceu por que a Caixa repassou esse dinheiro ao Município. Tampouco esclareceu onde o dinheiro foi gasto. Essa omissão caracteriza ofensa ao inciso III do art. 4o do Decreto-Lei no 201/67, o que enseja a cassação do prefeito.

As viagens internacionais que configuram crime de abandono de função

Repetidas vezes o prefeito Haroldo Queiroz tem viajado ao exterior sem autorização prévia da Câmara Municipal. A penúltima aconteceu entre os dias 26 de janeiro e 2 de fevereiro de 2011 e a última, entre os dias 4 e 14 de março.

Ao viajar ao exterior, o prefeito deixou o Município acéfalo.

Tal fato caracteriza o crime de abandono de função tipificado no art. 323 do Código Penal. Caracteriza, também, a infração político-administrativa prevista no inciso IX do art. 4o

do Decreto-Lei no 201/67.

Quando o prefeito viaja ao exterior, ele interrompe o exercício de suas funções. Por isso mesmo, só pode fazê-lo licitamente se receber licença prévia da Câmara Municipal. É isso o que dispõe o inciso IX do art. 69 da Lei Orgânica de Bom Despacho: compete à Câmara conceder licença ao Prefeito para interromper o exercício de suas funções.

Viagem ao exterior é interrupção do exercício de função. Nesse sentido esclarece o municipalista mineiro José Nilo de Castro:

Para ausência do País, não importa o tempo, impõe-se a autorização da Câmara, não podendo o Prefeito valer-se daquele prazo [previsto no inciso X do artigo 69 da LOMBD]. Ultrapassando a fronteira, o espaço aéreo e o mar territorial nacionais, tem-se a substituição no cargo. Daí a autorização legislativa que se impõe, sob pena de perda do mandato 2 (grifamos).

Além do mais, para se ausentar do país – mesmo autorizado pela Câmara – o prefeito tem a obrigação de passar o comando ao vice-prefeito para que a prefeitura não fique sem o Chefe do Executivo. Finalmente – por se tratar de viagem para tratar de assunto particular – tem que abrir mão dos subsídios enquanto a viagem perdurar.

Portanto, por ter-se ausentado do país sem autorização da Câmara, e também por ter recebido subsídios indevidamente, compete a essa casa cassar o prefeito Haroldo Queiroz, por ofensa ao disposto no inciso IX do art. 69 da Lei Orgânica c/c com inciso IX do Decreto-Lei no 201/67 e art. 323 do Código Penal, além da ofensa ao disposto no artigo 9 o, cabeça e inciso IX da Lei no 8.429 de 2 de junho de 1992.

Cessão de lotes em afronta às disposições legais

No dia 18 de outubro de 2010 o prefeito Haroldo de Sousa Queiroz concedeu permissão de uso dos lotes E e F da Rua A, do Condomínio Residencial Mirante. Foram beneficiados os senhores José Luiz de Lacerda Neto, CPF 030.525.686-63 e Marcos Vinícius Soares, CPF 092.902.996-99.

O prefeito, porém, não poderia ceder tais lotes. Em primeiro lugar, porque o terreno em que eles se encontram estava cedido à Associação Comunitária do Bairro Jaraguá e Condomínio Residencial Mirante (cópia anexa).

Em segundo lugar, por se tratar de área institucional, ela não pode ser destinada à moradia, conforme vedação inscrita no artigo 62 da Lei Municipal no 2.158/2010.

Essa cessão de uso de patrimônio público indisponível caracteriza improbidade administrativa por violação aos incisos I, II e VII do art. 10 da Lei de Improbidade 2 Castro, José Nilo de. A defesa dos prefeitos e vereadores em face do Decreto-Lei 201/67. 5. ed. rev. amp. atu. Belo Horizonte: Del Rey, 2002. p. 213.

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Administrativa, bem como negligência na defesa do patrimônio público sob sua administração.

Desatendimento a pedidos de informação da Câmara (DL 201/67, 4o, III)

Segundo inciso III do art. 4o do Decreto-Lei no 201, de 27 de fevereiro de 1967, constitui infração político-administrativa, sancionada com a cassação do mandato, “desatender, sem motivo justo, as convocações ou os pedidos de informações da Câmara, quando feitos a tempo e em forma regular”.

Pois bem.

No dia 19 de abril de 2010 o Plenário desta Casa aprovou requerimento no 41/2010 (cópia anexa) cujos itens abaixo relacionados não foram atendidos:

) Cópia dos extratos bancários conciliados em 31 de dezembro de 2008 e 31 de dezembro de 2009;

b) Relação dos bens estocados no almoxarifado em 31 de dezembro de 2008 e 31 de dezembro de 2009;

c) Relação das ações judiciais de cobrança da Dívida Ativa do Município nos anos de 2008 e 2009, especificando os números dos processos e os réus;

d) Relação dos processos administrativos instaurados em 2008 e 2009 para recuperação de créditos tributários lançados na Dívida Ativa do Município;

e) Cópia dos ajustes, contratos, reconhecimento de dívida, autuações ou documentos afins que justifiquem e esclareçam a dívida consolidada com o Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS), conforme lançado na prestação de contas;

f) Cópia do documento ou documentos que demonstrem a previsão de pagamento das inscrições de restos a pagar, conforme mencionado na página 10 do Relatório do Sistema de Controle Interno juntado à prestação de contas de 2009.

g) Cópia do estudo dos fatores geradores dos restos a pagar, mencionado na página 10 do Relatório do Sistema de Controle Interno juntado à prestação de contas de 2009.

h) Relação das certidões de lançamento da Dívida Ativa contendo seus elementos essenciais (art. 202 do Código Tributário Nacional);

i) Cópia dos decretos que cancelaram créditos orçamentários e instituíram créditos adicionais durante o ano de 2009;

j) Demonstrativo da destinação dos recursos decorrentes de multas de trânsito;

k) Relação dos precatórios pagos durante o ano de 2009;

l) Cópia da nota de empenho no 238, de 2/1/2009;

m) Cópia das notas de empenho no 24.093, 29.700, 40.584, respectivamente de 30/4, 2/6, 5/8 e 5/11 de 2009, a favor de EMCONBRAS EMPRESA CONS. BRASILEIRA LTDA., bem como respectivos contratos de prestação de serviços;

n) Cópia da nota de empenho no 56.962, de 21/12/2009, a favor de CONSTRUTORA VALADARES GONTIJO LTDA, bem como respectivo contrato de prestação de serviço;

o) Cópia da nota de empenho no 27, de 1/1/2009;

p) Cópia da prestação de contas relativa à obra na Praça Olegário Maciel (Praça da Estação);

q) Cópia da prestação de contas relativa à obra de canalização do Córrego dos Machados;

r) Cópia do instrumento mediante o qual a Caixa Econômica Federal agraciou o Município de Bom Despacho com o valor de R$ 400.000,00, bem como demonstrativo da destinação do dinheiro, incluindo cópia dos processos de licitação, contrato e respectivas notas fiscais.

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Embora a requisição tenha sido reiterada no dia 21 de junho de 2010 (requerimento 71/2010), a prefeito permaneceu omisso.

Igual desrespeito o prefeito Haroldo Queiroz manifestou ao requerimento no 115/2010, aprovado por este Plenário no dia 22/11/2010 (cópia anexa).

Omissão na prática de ato exigido em lei (DL 201/67, 4o,VIII)

A dívida ativa do Município sobe a mais de R$ 10 milhões de reais. Entretanto, em seis anos de governo, o prefeito Haroldo Queiroz não promoveu uma só ação executiva destinada a recuperar os créditos tributários do Município.

Segundo o inciso VIII do art. 4o do Decreto-Lei no 201/67, será cassado o prefeito que omitir-se ou negligenciar na defesa de rendas e direitos do Município.

Essa omissão caracteriza, o ato de improbidade administrativa descrito no art. 10 da Lei de Improbidade Administrativa, consistente na lesão ao erário provocado pela omissão na arrecadação; caracteriza ofensa ao disposto no inciso VIII do art. 4o do Decreto-Lei no 201/67 e viola o disposto no art. 11 da Lei de Responsabilidade Fiscal.

Proceder de modo incompatível com a dignidade e o decoro do cargo

O inciso X do art. 4o do Decreto-Lei no 201/67 define como infração que acarreta a perda do mandato qualquer ato incompatível com a dignidade e o decoro do cargo. Conforme demonstrado pelos documentos anexados, o prefeito Haroldo Queiroz é um renitente frequentador de jogos de azar em mesas clandestinas.

O prefeito é também contumaz emitente de cheque sem fundo, crime previsto no inciso VI do artigo 171 do Código Penal.

Além disso, Haroldo Queiroz é impenitente sonegador fiscal, conforme mostram a anexa relação de 53 ações intentadas contra ele pelo fisco e por seus credores.

Situação que só se agrava, vez que o próprio prefeito declarou ao TSE que guarda dinheiro vivo em casa. Portanto, se não paga, é porque escolheu não pagar, e não por falta de meios.

Acrescente-se que não se trata dívidas questionadas. De fato, na maior parte dos processos executivos a que responde, Haroldo Queiroz nem ao menos apresentou defesa. Ele parece confiar no fato de que seus bens penhoráveis estão protegidos, já que estão ocultos em nome de testas de ferro.

Emissão de cheques sem fundo

Bem sabido que Haroldo Queiroz é contumaz emitente de cheque sem fundo. Essa prática se estende às suas duas empresas, EXECUTA e ENDESTER. Atualmente ele mantém na Caixa Econômica, agência de Bom Despacho, a conta salário no 01010351-7 na qual se registram várias dezenas de cheques sem fundo ou fraudulentamente sustados.

Os anexos registros de protesto e as cópias dos cheques devolvidos demonstram o que se afirma.

É bom esclarecer que não se trata da eventual e involuntária emissão de um cheque sem fundo, mas do seu uso sistemático, reiterado, contumaz, com o fim de causar prejuízos a terceiros.

As condutas aqui narradas são incompatíveis com a dignidade e o decoro do cargo de Prefeito Municipal de Bom Despacho. Elas ofendem a cidadania e envergonham o cidadão que vê a maior autoridade municipal envolvida com jogos e fraudes, com cheque sem fundo e desrespeito ao judiciário e ao legislativo, com sonegação fiscal e calote.

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Por isso elas caracterizam a infração político-administrativa descrita no inciso X do art. 4o

do Decreto-Lei no 201/67 c/c inciso X do art. 89 da Lei Orgânica do Município de Bom Despacho. A pena para essas condutas é a perda do mandato político.

Secretários que ajudam o prefeito na prática das infrações

Para fraudar licitações e desviar dinheiro, o prefeito Haroldo Queiroz conta com a ajuda de secretários municipais e outros servidores. Entre eles, Oranício Menezes, José Eustáquio Dornelles Penido, Francisco Xavier Tavares, Conceição Maria de Sousa Azevedo, Acir Parreiras.

O julgamento das condutas desses secretários está fora da alçada desta Casa. Por isso mesmo esta denúncia não as detalha. Entretanto, releva mencionar alguns fatos que as caracterizam como necessárias à consumação das infrações político-administrativas e da consumação dos crimes praticados pelo prefeito.

Acir César Augusto Parreiras – Secretário de Assuntos Institucionais – É o principal testa de ferro do prefeito Haroldo Queiroz na administração da Churrascaria Serrana Grill, em Nova Serrana. É também o porta-voz do prefeito no relacionamento com a imprensa e age como responsável pelo relacionamento com a Câmara Municipal, como demonstrado pelos documentos por ele enviados à Câmara Municipal. Muitas vezes diz falar em nome do município, quando se sabe que essa é função, por força de lei, cabe ao prefeito e ao procurador do município.

Conceição Maria de Sousa Azevedo – Cuida da execução orçamentária e financeira. Responsável pela emissão das notas de empenho irregulares das quais decorreram o pagamento de recursos desviados nos contratos do financiamento dos veículos e da canalização do Córrego das Palmeiras.

Francisco Xavier Tavares – Secretário Municipal de muitas coisas, por muito tempo. Atualmente, secretário de serviços urbanos, acumulando como secretário de trânsito e transporte. Responsável pela assinatura de diversos boletins de medição. Entre eles, aquele que atesta o plantio de 1.644 árvores que jamais foram plantadas. É também um dos laranjas em cujo nome o prefeito colocou um de seus apartamentos na Rua Dona Tinuca.

José Eustáquio Dornelles Penido – Secretário Municipal do Meio Ambiente. É um dos responsáveis pelo convênio com a CODEVASF para a canalização do Córrego das Palmeiras. Foi quem assinou o pedido que instaurou o processo. Foi ele, também, quem assinou as plantas velhas, impertinentes e irrelevantes que compuseram tardiamente o processo licitatório. Assinou, também, alguns dos boletins de medição falsificados da canalização do Córrego das Palmeiras. Por exemplo, o no 1, onde reconhece a colocação de uma placa de 36 metros quadrados ao custo de R$ 32.076,00 quando na realidade seu preço real era de R$ 2.500,00. É também um dos laranjas em cujo nome o prefeito colocou um de seus apartamentos na Rua Dona Tinuca.

Oranício Menezes – Secretário Municipal de Administração. O setor de licitações opera sob sua ordem direta. Observa-se que foi ele quem assinou as notas de empenho e autorizações de pagamento relativas à canalização do Córrego das Palmeiras. Contudo – como ele mesmo declara – ele não é ordenador de despesa e não tem poder de assinar documentos como tal. Foi também um dos secretários que pediu a compra financiada de veículo sob simulação de locação.

Entretanto, é certo que a Câmara Municipal não tem competência para julgar as condutas desses secretários. Por causa disso, esta denúncia não se aprofunda na conduta de cada um, o que será feito perante os órgãos competentes.

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Enriquecimento sem causa e ocultação de bens

Lembra-se que quando Haroldo Queiroz entrou na política, em 1992, ele tentava deixar para trás sua vida de empresário fracassado. As empresas ENDESTER e EXECUTA deviam a fornecedores e ao fisco e não tinha mais contratos capazes de sustentá-las.

Aliás, bom notar – ainda que de passagem – que as duas empresas eram uma só. Foram criadas pela mesma pessoa, se instalaram no mesmo endereço e exerciam a mesma atividade, embora disfarçadas sob maquiagem leve. Veja-se, por exemplo, que enquanto uma tinha por objeto a “construção civil”, a outra cuidava de “construção de edifícios”; enquanto uma fazia “obras de terraplenagem”, a outra fazia “terraplenagem e serviços gerais conexos”, e assim sucessivamente.

Essa duplicidade de empresas com o mesmo objeto facilitava lograr os fornecedores e fraudar licitações. Permitia dar a impressão da existência de duas empresas independentes e concorrentes, onde só havia uma. Mesmo assim – a despeito da proteção e ajuda do amigo Newton Cardoso, e a despeito das licitações arranjadas – Haroldo Queiroz levou ambas as empresas à falência virtual.

Virtual porque a falência nunca foi decretada pela Justiça. Mas falência, pois essas empresas, desde 1994, estão irremediavelmente endividadas e inadimplentes com seus fornecedores e com o fisco. Contra elas e seus proprietários há 53 ações registradas no fórum de Bom Despacho3.

Diga-se mais: a Junta Comercial cancelou o registro das duas empresas por força do disposto nos artigo 60 da Lei no 8.934/94. Ademais, todas as cotas do sócio Haroldo Queiroz – embora nada valham – estão penhoradas a favor de um dos seus credores que dele tenta receber faz mais de 10 anos.

Pois bem.

Empresário quebrado, Haroldo Queiroz entrou na política para recuperar o dinheiro perdido. Em 1992 foi eleito vereador e pavimentou seu caminho para o executivo. Em 1997 tomou posse como prefeito e voltou a ganhar dinheiro. Não com seus subsídios, mas com propinas e fraudes em licitações (A esse respeito, vejam-se, por exemplo, as condenações no TCE/MG).

Porém, Haroldo Queiroz foi incapaz de poupar o dinheiro que recebeu no primeiro mandato. Dessa forma, verificamos que, na declaração de rendimentos de 2005, o prefeito

3 Executivas, possessórias e falimentares contra a empresa ENDESTER: 0032287-20.2001.8.13.0074, 0032303-71.2001.8.13.0074, 0035926-46.2001.8.13.0074, 0077371-10.2002.8.13.0074, 0080888-23.2002.8.13.0074, 0176254-55.2003.8.13.0074, 0176270-09.2003.8.13.0074, 0176296-07.2003.8.13.0074, 0257232-48.2005.8.13.0074, 0260954-90.2005.8.13.0074, 0260970-44.2005.8.13.0074, 0262398-61.2005.8.13.0074, 0262406-38.2005.8.13.0074.

Executivas, possessórias ou falimentares contra a EXECUTA: 0018302-81.2001.8.13.0074, 0023187-41.2001.8.13.0074, 0023195-18.2001.8.13.0074, 0023203-92.2001.8.13.0074, 0027592-23.2001.8.13.0074, 0093865-47.2002.8.13.0074, 0113745-88.2003.8.13.0074, 0452704-79.2008.8.13.0074, 0497459-57.2009.8.13.0074, 0007783-95.2011.8.13.0074.

Executivas, possessórias, despejo, insolvência ou falimentares contra HAROLDO DE SOUSA QUEIROZ: 0010812-08.2001.8.13.0074, 0012982-50.2001.8.13.0074, 0015365-98.2001.8.13.0074, 0023187-41.2001.8.13.0074, 0023195-18.2001.8.13.0074, 0023203-92.2001.8.13.0074, 0031404-73.2001.8.13.0074, 0032287-20.2001.8.13.0074, 0032303-71.2001.8.13.0074, 0035926-46.2001.8.13.0074, 0037435-12.2001.8.13.0074, 0076209-77.2002.8.13.0074, 0077371-10.2002.8.13.0074, 0081209-58.2002.8.13.0074, 0083858-93.2002.8.13.0074, 0109190-62.2002.8.13.0074, 0119411-70.2003.8.13.0074, 0137116-81.2003.8.13.0074, 0153634-49.2003.8.13.0074, 0191053-69.2004.8.13.0074, 0228244-51.2004.8.13.0074, 0244644-09.2005.8.13.0074, 0256549-11.2005.8.13.0074, 0260954-90.2005.8.13.0074, 0262281-70.2005.8.13.0074, 0266373-91.2005.8.13.0074, 0273676-59.2005.8.13.0074, 0294357-16.2006.8.13.0074, 0298200-86.2006.8.13.0074, 0300188-45.2006.8.13.0074, 0311821-53.2006.8.13.0074, 0328635-43.2006.8.13.0074, 0344358-68.2007.8.13.0074, 0360503-05.2007.8.13.0074, 0364307-78.2007.8.13.0074, 0486817-25.2009.8.13.0074, 0042063-29.2010.8.13.0074.

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declarou à receita ter o mesmo patrimônio que tinha quando se iniciou na política: uma casa de moradia e as cotas das empresas ENDESTER e EXECUTA. Os números estão no quadro abaixo.

Bem Valor em 2003 Valor em 2004

Casa residencial na Rua Padre Augusto, 170 R$ 31.304,27 R$ 31.304,27

Capital da empresa ENDESTER LTDA R$ 58.168,50 R$ 58.168,50

Capital da empresa EXECUTA LTDA. R$ 26,67 R$ 26,67

Total R$ 89.449,44 R$ 89.499,44

Entre 2001 e 2004 Haroldo Queiroz não teve renda. O fato é conformado pelo anexo ofício da Receita Federal. Naquela época ele vivia do favor de amigos e parentes. Em 2005, porém, voltou a receber subsídios de prefeito, num total bruto de R$ 108.108,65.

Naquele ano pagou R$ 3.451.72 de previdência e R$ 22.790,87 de imposto de renda, restando-lhe R$ 81.866,00 dos subsídios. Com esse dinheiro sustentou sua casa, com duas filhas menores e uma terceira que fazia faculdade em Belo Horizonte. Apesar dessas despesas, declarou ter poupado R$ 60.000,00 dos R$ 81.866,06 que lhe sobraram após os descontos compulsórios.

Nenhum pai de família da classe média acreditará nessas contas, mas a Receita Federal parece ter acreditado. Talvez porque pense que o contribuinte Haroldo Queiroz, embora endividado, seja um exemplo raro e espetacular de capacidade de poupança.

Bem Valor em 2004 Valor em 2005

Casa residencial na Rua Padre Augusto, 170 R$ 31.304,27 R$ 50.000,00

Capital da empresa ENDESTER LTDA R$ 58.168,50 R$ 58.168,50

Capital da empresa EXECUTA LTDA. R$ 26,67 R$ 26,67

Dinheiro em moeda corrente do país 0,00 60.000,00

Total R$ 89.449,44 R$ 168.195,17

Essa mesma formidável capacidade de poupança voltou a manifestar em 2006. É o que mostra o quadro abaixo. Sempre sem pagar seus credores, e sempre guardando o dinheiro debaixo do colchão, sua poupança passou para 95.023,00, depois de pagar R$ 3.645,12 de previdência, R$ 22.330,61 de imposto e R$ 12.687,00 de médicos e dentistas.

Bem Valor em 2005 Valor em 2006

Casa residencial na Rua Padre Augusto, 170 R$ 50.000,00 R$ 50.000,00

Capital da empresa ENDESTER LTDA R$ 58.168,50 R$ 58.168,50

Capital da empresa EXECUTA LTDA. R$ 26,67 R$ 26,67

Dinheiro em moeda corrente do país 60.000,00 90.000,00

Consórcio Novo Fiesta 0,00 5.023,00

Total R$ 168.195,17 R$ 203.218,17

Consta-se que Haroldo Queiroz poupava muito mas não pagava suas dívidas. Tampouco investia seu dinheiro. Nem mesmo o deixava na conta bancária. Ao contrário, deixa guardado em casa, em dinheiro vivo. Conforme mostra o quadro abaixo, esses hábitos foram mantidos em 2007.

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Bem Valor em 2006 Valor em 2007

Casa residencial na Rua Padre Augusto, 170 R$ 50.000,00 R$ 50.000,00

Capital da empresa ENDESTER LTDA R$ 58.168,50 R$ 58.168,50

Capital da empresa EXECUTA LTDA. R$ 26,67 R$ 26,67

Dinheiro em moeda corrente do país 90.000,00 150.000,00

Consórcio Novo Fiesta 5.023,00 13.908,60

Total R$ 203.218,17 R$ 272.103,77

Com a mesma renda, pagando os mesmos impostos e previdência, doou R$ 12.000,00 para sua filha Maria Isabel Carvalho Queiroz e ainda somou mais R$ 68.885,60 à sua poupança, que em 2007 montou a R$ 150.000,00 em dinheiro vivo e R$ 13.908,60 num consórcio de automóvel.

Portanto, naquele ano conseguiu viver, alimentar e vestir seus dependentes com R$ 4.469,72. Um gasto de menos de um salário mínimo por mês, que naquele ano era de R$ 380,00.

Em 2008, ao apresentar sua declaração de bens ao TSE, o prefeito Haroldo Queiroz retirou as empresas ENDESTER e EXECUTA do seu patrimônio. Dessa forma, assumiu o seu terceiro mandato com um patrimônio de R$ 213.900,00 representados por uma casa de moradia, um consórcio e R$ 150.000,00 guardados debaixo do colchão. Os fatos estão representados no quadro que segue.

Bem Valor

01 Casa residencial na rua Padre Augusto, 170 – Bairro Ozanan – Bom Despacho (MG) R$ 50.000,00

01 consórcio R$ 13.900,00

Dinheiro em espécie R$ 150.000,00

Total R$ 213.900,00

Pois bem.

Não há cidadão bom-despachense que não saiba que o prefeito Haroldo Queiroz e sua família ostentam sinais de riqueza incompatíveis com esse patrimônio e com sua renda. São seis automóveis e uma moto, um prédio de oito apartamentos na Rua Dona Tinuca, um apartamento em Belo Horizonte, uma churrascaria em Nova Serrana, pomposas e ostensivas festas de casamento e de aniversário e repetidas viagens nacionais e internacionais levando juntos não apenas a família inteira, mas também amigos e agregados.

Sem falar nas famosas noitadas de jogo de baralho em que o prefeito tem fama de perder dezenas e até centenas de milhares de reais.

Esse ostentoso e pródigo padrão de vida é mantido com dinheiro desviado da prefeitura. Vem de licitações fraudadas, de obras superfaturadas, de propinas para emissão de alvarás e licenças, do uso de máquinas e servidores públicos.

Os bens – tais como a churrascaria, os apartamentos, a moto e os carros – estão registrados em nome de laranjas, ou testas de ferros.

É de alguns desses bens ocultos que trataremos a seguir.

Churrascaria Serrana Grill

O prefeito Haroldo Queiroz declarou ter adquirido em Nova Serrana a churrascaria registrada como “Restaurante Tradição Caipira Ltda.”. Reformou o local e mudou seu nome para “Serrana Grill”. Colocou como seus gerentes o Secretário Municipal Acir Parreiras, a

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Secretária Municipal Maria Isabel Queiroz e o motorista Municipal Edson Araújo de Melo Queiroz. Maria Isabel é filha do prefeito. Edson Araújo é primo e genro do prefeito.

Embora o próprio prefeito, seus familiares e prepostos tenham tornado notório que ele é o verdadeiro proprietário da churrascaria, ela está registrada em nome de Nelson Faustino dos Santos e Marcílio Melo Resende Feltran Portela, conforme mostram registros da Junta Comercial de Minas e da Receita Federal do Brasil.

Acontece, porém, que o prefeito não tem renda lícita para comprar essa churrascaria. Seus prepostos, também não. Seu genro – gerente do empreendimento – tem renda pouco superior a um salário mínimo4 e nenhum patrimônio. Sua filha Maria Isabel, embora licenciada para ocupar cargo na prefeitura de Bom Despacho, é servidora pública do Município de Araújos, com renda pouco superior a um salário mínimo.

Essa churrascaria é um dos bens que o prefeito colocou em nome de laranjas. Sua aquisição tendia a cumprir dois objetivos: primeiramente, ocultar o dinheiro sob nome de terceiros; segundo, criar uma lavanderia para a lavagem do dinheiro público desviado.

Prédio de apartamentos na Rua Dona Tinuca, no 131

Em maio de 2006 o prefeito Haroldo Queiroz comprou das mãos do vereador Marcos Fidelis Campos as fundações de um prédio com construção iniciada na Rua Dona Tinuca, no

131, no Bairro Santa Lúcia.

O negócio não foi formalizado, mas o prefeito retomou a obra aproveitando material e dinheiro que desviava da obra de canalização do Córrego das Palmeiras.

Em dezembro de 2006 os então vereadores Ailton José de Assis e Bertolino da Costa Neto flagraram um caminhão que levava concreto da obra do Córrego das Palmeiras para o prédio do prefeito.

Alertado, o prefeito Haroldo Queiroz providenciou oito laranjas que assumiram a propriedade da obra. Assim, entre o flagrante de dezembro e o depoimento que prestou no início de 2007, Haroldo Queiroz havia tirado a obra do nome do vereador Marcos Fidelis e passado para o nome dos laranjas nomeados no quadro abaixo.

Laranjas em cujos nomes estão as cotas do condomínio da Rua D. Tinuca, 132

Nome Relação com o prefeito

Maria da Conceição Carvalho Costa Mulher e meeira

Maria Isabel Carvalho Queiroz Filha

Terezinha Cardoso de Carvalho Sogra

Guilherme de Sousa Queiroz Irmão

Haroldo de Oliveira Costa Cunhado

José Guilherme de Barros Costa Amigo e parceiro em negócios

José Eustáquio Dornelas Penido Amigo, secretário municipal e parceiro de negócios

Francisco Xavier Tavares Amigo, secretário municipal e parceiro de negócios

Veículos da família

O automóvel oficial do prefeito tem a placa HBP-0012. Não é coincidência. Como a maioria dos jogadores compulsivos, Haroldo Queiroz cultiva uma relação mística com os números, com as letras e com a realidade. Por exemplo, um dos seus antigos celulares tem o número 9985-0001, pois ele acredita que o “0001” o ajuda a se manter como prefeito, o primeiro da cidade, o número um.

4 Atualmente recebe também uma gratificação de 50% do salário. Essa gratificação lhe foi atribuída pelo sogro, conforme Decreto no 3.639, de 4 de julho de 2007.

Praça Antônio Leite, 44 ap. 1000 – CEP 35600-000 – Bom Despacho–MGTelefone: (37) 3521-2183 - (37) 9988-8868 — [email protected]

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Seu outro celular tem o número 9985-3737. Como “37” é o prefixo DDD da cidade, ele acredita que esses dígitos lhe darão sorte e poder no comando do Município.

O prefeito mantém uma relação mágica também com as placas iniciadas pela letra H, de Haroldo. Ele cultiva esse fetiche com tal zelo que ele acabou por se tornar uma forma assinatura, uma marca pessoal.

No caso do carro oficial comprado na licitação fraudada de 2010, o prefeito elevou seus sortilégios ao paroxismo. Na cabeça dele – conforme amplamente comentado entre os servidores – as três letras da placa – HBP – foram escolhidas para significarem Haroldo Bom Prefeito. O número 12 de “0012” é o número com que ele, por quatro vezes, concorreu ao cargo de prefeito. Como ganhou três das quatro, ele o tem como um número de sorte.

Esse fetiche o prefeito leva também para seus carros particulares, mesmo quando colocado em nome de laranjas. Conforme demonstra o quadro abaixo, todos os seus automóveis têm placas começadas com a letra H, de Haroldo.

Veículos da família Haroldo de Sousa Queiroz

Placa Cor Ano Marca/Tipo/Modelo Preço de aquisição (FIPE)

HHF-5000 Preto 2008/2009 Fiat Stilo 58.033,00

HHF-6000 Dourado 2008/2009 Peugeot/207HB XS 50.788,00

HMK-7000 Preto 2009/2010 Fiat Stilo 58.033,00

HHF-8000 Preto 2008/2009 Captiva Sport FWD 98.700,00

HLV-8000 Preto 2009/2010 Honda Civic 69.573,00

HDX-8500 Preto 2006/2006 Ford Fiesta 39.100,00

HBX-1440 Vinho 2007/2007 Harley-Davidson/FLSTF 67.875,00

Valor de aquisição dos veículos (preços FIPE) 442.102,00

Não se trata de coincidência. Nenhuma dessas sequências é típica de Bom Despacho. Uma é de Salinas, outra de Pirapora, uma terceira é de Pouso Alegre e outra é de Uberaba. Portanto, o prefeito escolheu a dedo cada uma das placas e as trouxe para Bom Despacho.

Ele cumpriu seu ritual mágico também na parte referente aos números. Os carros que deu a cada uma de suas três filhas receberam placas compatíveis com sua posição etária: 5.000, 6.000, 7.000. Para ele mesmo e sua mulher, escolheu o número 8.000, colocando os dois em posições iguais e superiores.

Aparentemente o prefeito vendeu a moto Harley-Davidson e o Ford Fiesta.

Importa, porém, registrar, que os veículos remanescentes foram comprados entre o final de 2008 e o início de 2009. Tratou-se de um presente para comemorar o Natal e – principalmente – a vitória do prefeito nas urnas. A inauguração de um novo governo de quatro anos assegurava ao prefeito Haroldo Queiroz que ele continuaria tendo duas fontes de dinheiro: uma lícita e limitada, representada pelo seu salário de prefeito e pelo salário de sua mulher e filha; e outra ilícita representada pelas propinas e pelo dinheiro desviado de obras, como a canalização do Córrego das Palmeiras.

Desses veículos, somente o Captiva está no nome do prefeito. Sobre ele, porém, recaem diversos impedimentos administrativos e judiciais, tal como indicado pelos processos 0074.06.031182-1 e 0074.09.048681-7 que tramitam no fórum de Bom Despacho. Os demais automóveis estão em nome de laranjas.

Conforme indicado no quadro, o valor de aquisição desses veículos na época da aquisição era de R$ 442.102,00.

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Apartamentos em Belo Horizonte

Pela obra de canalização do Córrego das Palmeiras, o prefeito Haroldo Queiroz recebeu não apenas o concreto e o ferro que foi desviado da obra para o seu prédio. Ele recebeu, também, um apartamento em Belo Horizonte (certidões anexas). Como o prefeito não pode colocar os imóveis no seu nome, eles permanecem no nome das empreiteiras DIRECIONAL ENGENHARIA LTDA E SPL ENGENHARIA, co-irmãs da empreiteira Valadares Gontijo que canalizou o Córrego das Palmeiras.

Conclusão

Não se desconhece a dificuldade de cassar um mandato popular. Mas isso se torna obrigatório quando a democracia é maculada pela demagogia; quando a coisa pública é capturada e usada como coisa particular; quando o mérito é substituído pelo nepotismo; quando o interesse de todos é massacrado sob os interesses de uma família. Principalmente, isso é necessário quando o dinheiro do contribuinte é dilapidado em viagens familiares, em festas e em mesas de jogo.

Assim, em vista dos graves fatos acima narrados impõe-se a essa Casa – após o devido processo legal – cassar o mandato do prefeito Haroldo de Sousa Queiroz.

As provas reunidas nos autos são robustas, abundantes, contundentes. Qualquer um que as examine se convencerá da veracidade do que nesta denúncia se afirma.

Portanto, é com base em provas robustas e convincentes que se pede a cassação do prefeito Haroldo Queiroz.

O pedido de impedimento dos vereadores

Princípio fundamental do Direito e da Justiça é que ninguém pode ser juiz de sua própria causa. Ninguém pode julgar sem que tenha absoluta independência e imparcialidade. Esse princípio irradia seus efeitos pela Constituição da República, passa pelos códigos de Processo Civil e Penal, chega Decreto-Lei no 201/67 e chega ao que está disposto nos artigos 84 e 281, §9o do Regimento Interno desta Casa, que diz:

O vereador que tiver interesse pessoal na deliberação da matéria não poderá votar, sob pena de nulidade da votação.

Esse princípio não se destina apenas a garantir um julgamento justo e isento. Ele se destina, também, a proteger a dignidade e credibilidade desta Casa e também de cada um dos seus julgadores.

Afinal, nenhum cidadão acreditará na imparcialidade de um inimigo. Da mesma forma, nenhum cidadão acreditará na independência de um julgador que deve favores ao julgado.

Portanto, o princípio abrigo no artigo 84 do Regimento Interno desta casa não deve ser visto como uma incriminação dos impedidos, mas, ao contrário, uma garantia que protegerá todos os interesses envolvidos: do acusado, do julgador e da Casa.

Portanto, é sob a luz desse princípio, é sob a égide desse artigo do Regimento Interno que digo que hoje temos nesta Casa quaro vereadores que não podem participar do julgamento do prefeito Haroldo Queiroz.

O primeiro sou eu mesmo. Por já ter convicção formada, não posso mais ser imparcial na avaliação das condutas que denuncio. Ao contrário, se eu não considerasse o prefeito culpado, não o denunciaria. Por isso mesmo, estou impedido de julgá-lo.

O segundo impedido de julgar o prefeito é o vereador Marcos Fidelis Campos, por causas das relações pessoais e profissionais que mantém com o prefeito Haroldo Queiroz, bem como em decorrência de negócios com ele entabulados. Senão, vejamos. a) o vereador, por ser presidente da Câmara, está na linha sucessória do prefeito. Por isso mesmo, é suspeito para

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julgá-lo; b) o vereador é o antigo proprietário do imóvel da Rua Dona Tinuca, no 131. Foi ele quem vendeu o imóvel ao prefeito. Além do mais atuou como testemunha de defesa do prefeito perante o Ministério Público. Por tudo isso, tem interesse pessoal, direto e imediato nos resultados desse julgamento; c) a pedido do vereador, dezenas de eleitores seus foram obsequiados com lotes que o prefeito lhes concedeu no Mato Seco e na cidade; d) com sua intercessão – e como um favor pessoal do prefeito – o vereador conseguiu uma função pública para seu amigo e protegido Fábio Miguelloti Muller;

O terceiro impedido é o vereador Pedro Paula Paiva, porque a) é companheiro do prefeito Haroldo Queiroz nas mesas clandestinas de jogo; b) ele mesmo disse que o prefeito é um perdedor nato que já lhe propiciou substanciais ganhos financeiros advindos do jogo, sendo as quantias suficientes para a compra de uma casa, dois carros e um sítio; c) ele declarou, também, que conhece tantas malfeitorias do prefeito Haroldo Queiroz que, se resolvesse falar, o prefeito seria cassado e preso no mesmo dia. Entretanto, sempre se recusou a trazer tais fatos ao conhecimento dos vereadores; d) como membro da Comissão de Meio Ambiente, foi encarregado pelo plenário de contar e relatar sobre o plantio de árvores na Avenida Dr. Roberto e nas nascentes do Córrego das Palmeiras. Entretanto, recusou-se a assinar o relatório, assim como se omitiu na emissão de relatório e voto próprios, caracterizando desídia que protege o prefeito; e) além disso, já declarou de público que já tomou decisão contra a cassação do prefeito e a favor da cassação do vereador denunciante.

Por todos esses motivos, o vereador Pedro Paulo Paiva não tem a imparcialidade, a isenção e a independência se que exige do julgador.

Finalmente, deve se afastar o vereador Gilmar Geraldo do Couto, Iru, porque: a) tal como o vereador Pedro Paula Paiva, recusou-se a assinar o relatório da Comissão de Meio Ambiente na contagem das árvores do Córrego das Palmeiras e tampouco fez o seu próprio relatório ou apresentou voto em separado, caracterizando favorecimento ao prefeito e desídia no cumprimento de suas obrigações b) embora fosse relator da CPI do mensalinho instalada nesta Casa, no auge das oitivas de testemunhas e reunião de documentos, em agosto de 2010 pediu e conseguiu que o prefeito Haroldo Queiroz nomeasse sua ex-mulher Joana Elisa Araújo do Couto, que começou a trabalhar na prefeitura em agosto de 2010. Ela ficou por dois ou três dias no setor de recursos humanos e depois foi encaminhada para trabalhar na Secretaria da Saúde, onde permanece.

Da mesma forma que acontece com os outros vereadores acima nominados, também o vereador Gilmar Couto encontra-se impedido no presente caso, visto que o seu julgamento está comprometido pelos benefícios que lhe foram concedidos pelo prefeito Haroldo Queiroz.

Dessa forma, para que seja preservada a lisura, a independência, a isenção e a imparcialidade do julgamento pugno para que os vereadores Fernando Cabral, Marcos Fidelis, Pedro Paula e Gilmar Couto sejam declarados impedidos, devendo seus suplentes serem convocados para atuarem em seus lugares em todos os aspectos relativos e decorrentes dessa denúncia.

O pedido de cassação

Assim, na forma do artigo 5o do Decreto-Lei no 201/67 c/c art. art. 89 da Lei Orgânica do Município de Bom Despacho e demais legislação aplicável à matéria, o vereador Fernando Cabral pede a esse Plenário que receba esta denúncia e, após o devido processo legal, seja o prefeito Haroldo de Sousa Queiroz reconhecido culpado pelas condutas acima alinhavados, sendo ao final cassado e afastado da vida política do Município especialmente pelos seguintes fatos a seguir resumidos:

) Desatendimento a pedidos de informações da Câmara, ofendendo assim, repetidamente, o disposto no inciso III do art. 4o do Decreto-Lei no 201/67;

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ii) Reiterada prática de improbidade administrativa, consubstanciada nas fraudes a licitações, com direcionamento e desvio de dinheiro mediante superfaturamento e outros artifícios, incidindo, portanto, nas iras do inciso VII do art. 4o do Decreto-Lei no 201/67;

iii) Reiterada negligência na defesa de bens, rendas, direitos e interesses do Município, conforme demonstrado pela inércia continuada na execução da dívida ativa, ofensa a dispositivos das leis no 4.320/64 e à Lei de Responsabilidade Fiscal, caracterizando assim a ofensa prevista no inciso VII do art. 4o do Decreto-Lei no 201/67;

iv) Prática reiterada de sonegação fiscal, emissão de cheque sem fundo, participação em jogos de azar, condutas essas que configuram ofensa ao disposto no inciso X do art. 4o do Decreto-Lei no 201/67;

v) Prática reiterada de abandono de cargo, consubstanciado em viagens internacionais realizadas em autorização prévia do Plenário da Câmara Municipal, caracterizando assim a ofensa ao inciso ao IX do art. 4o do Decreto-Lei no 201/67;

vi) Cessão ilegal de lotes, contrariando expressa disposição de lei, caracterizando assim ofenda ao disposto nos incisos VII e VIII do art. 4o do Decreto-Lei no 201/67;

vii) Falta de decoro por ter mentido a este Plenário dizendo jamais ter sido punido pelo TCE por irregularidades em licitações. A mentira caracteriza ofensa à dignidade e ao decoro do cargo de prefeito, tal qual previsto no inciso X do art. 4o do Decreto-Lei no 201/67;

Pede deferimento

Bom Despacho, 28 de fevereiro de 2011.

Fernando José Castro Cabral

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