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DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO
NÚCLEO DE REVISÃO DE COMISSÕES
TEXTO COM REDAÇÃO FINAL
ESPECIAL - PEC 98A/99 - VICE-PREFEITOEVENTO: Audiência pública Nr.: 0871/00 DATA: 22/08/2000INÍCIO: 14h25min TÉRMINO: 16h24min DURAÇÃO: 1h59minTEMPO DE GRAVAÇÃO: 2h02min PÁGINAS: 36 QUARTOS: 25REVISÃO: IRMA, LUCIENE, MARIA TERESASUPERVISÃO: J. CARLOS, MÁRCIACONCATENAÇÃO: NEUSINHA
DEPOENTE/CONVIDADO - QUALIFICAÇÃO
RÉGIS DE OLIVEIRA - Vice-Prefeito de São PauloNÍZIO JOSÉ CABRAL - Presidente da Comissão Nacional de Vice-PrefeitosMARCOS SANT'ANNA - Vice-Prefeito de Belo Horizonte
SUMÁRIO: Exposições acerca da competência do Município de fixação das atribuições doVice-Prefeito.
OBSERVAÇÕES
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINALNome: ESPECIAL - PEC 98A/99 - VICE-PREFEITONúmero: 0871/00 Data: 22/08/00
O SR. PRESIDENTE (Deputado Coriolano Sales) - Declaro aberta a 4ª reunião da
Comissão Especial destinada a proferir parecer à PEC nº 98-A/99, que estuda o acréscimo de
inciso ao art. 30 da Constituição Federal, conferindo competência ao Município para
determinar atribuições do Vice-Prefeito.
Convido para tomar assento à Mesa, atendendo aos objetivos da Ordem do Dia, o Dr.
Regis de Oliveira, Vice-Prefeito de São Paulo, nosso ex-colega na Câmara dos Deputados,
com quem tivemos o melhor relacionamento. Seja bem-vindo, caro amigo; Dr. Nízio José
Cabral, Presidente da Comissão Nacional de Vice-Prefeitos e Prefeito, em exercício, da
cidade de São Vicente, no Estado de São Paulo.
Registro também a presença do Vice-Prefeito de Belo Horizonte, Dr. Marcos
Sant'Anna, a quem convido para tomar assento à Mesa; do Vice-Prefeito de Bertioga; do Sr.
Acácio Siqueira Neto, Chefe de Gabinete do Prefeito de São Vicente; Sr. Pérsio Dias Pinto,
Secretário de Comissão de Bertioga, São Paulo. Antes de passar a palavra aos Srs.
convidados, chamo a atenção dos Srs. Deputados para os seguintes pontos estabelecidos para
as audiências públicas: o tempo destinado a cada convidado é de vinte minutos, que poderá
ser prorrogado, dependendo de sua manifestação; terminadas as exposições, passaremos aos
debates; os Srs. Deputados que desejarem participar dos debates podem se inscrever ou se
manifestar após as conclusões das palestras.
Concedo a palavra ao eminente Vice-Prefeito de São Paulo, Dr. Regis de Oliveira,
para fazer sua exposição.
O SR. REGIS DE OLIVEIRA - Sr. Presidente, querido amigo da Comissão de
Constituição e Justiça e de Redação, que no momento preside esta PEC, ilustre Relator,
Deputado Joaquim Francisco, ilustre proponente da PEC, querido amigo Deputado Fernando
Zuppo, atuais e ex-colegas, ilustres companheiros que vêm tratando da inserção na
Constituição da República de um dispositivo que possa estabelecer, instituir ou fixar as
atribuições do Vice-Prefeito.
Sr. Presidente, minha passagem pela Vice-Prefeitura de São Paulo foi — todos os
jornais amplamente noticiaram — terrivelmente desastrosa. Já na minha primeira afirmação,
começo fazendo quase uma conclusão. De duas, uma: ou se elimina a figura do Vice-Prefeito
da Constituição da República ou se dá a ele alguma atribuição, seja ela qual for. Na proposta
do ilustre Deputado Fernando Zuppo, que ela seja fixada através de lei complementar.
Para ilustrar a minha passagem, devo dizer que, se há uma sintonia exata entre o
Prefeito e o Vice-Prefeito, seja de que partido forem, se há concordância política na
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respectiva atividade, não há nenhum tipo de problema. Eles surgem, realmente, quando não
se cumprem promessas de coligação — e a minha ida para a Vice-Prefeitura foi através de
uma coligação: o candidato a Prefeito era do PPB, mas eu integrava, à época, o PFL. Nessa
coligação houve uma série de compromissos, com destinação de espaços para o partido que
então eu representava. Mas esses compromissos não foram cumpridos. E mais. A partir da
hora em que o Vice-Prefeito, vendo ilegalidades, denuncia-as, cobra comportamentos do
Prefeito ou da estrutura burocrática que ele representa, essa pessoa não interessa, tem que ser
alijada, tem que ser afastada, não serve.
Trouxe aqui, Sr. Presidente, alguns exemplos significativos das reportagens da época:
"São Paulo fica sem Prefeito por cinco dias". Na Lei Orgânica do Município está estabelecido
que a substituição do Vice-Prefeito só ocorre quando o afastamento se der por mais de quinze
dias. Portanto, ele pode afastar-se durante catorze dias, retornar um dia a São Paulo, voltar no
dia seguinte para a Europa, por exemplo, e a cidade ficar sem Prefeito. Ou seja, uma das
maiores cidades do mundo fica acéfala ou dirigida pelo Secretário de Governo, pelo
Secretário de Justiça ou por quem o Prefeito designar, enquanto aquele que foi eleito por
meio do voto popular, numa coligação eleitoral, fica afastado de qualquer tipo de atividade.
No mesmo instante, em setembro de 1997, enviei ofício ao Sr. Presidente da Câmara
indagando-o se eu teria que assumir ou não esse cargo. Na época, questionei a
constitucionalidade do dispositivo municipal. Eis a notícia do Diário Popular da época:
"Vice-Prefeito questiona se deve substituir Pitta". Há outra: "Pitta viaja, mas seu Vice não
assume".
Questionei, então, os procedimentos da Prefeitura. O jornal a Folha da Tarde — que
não existe mais —, de 16 de junho de 1997, em sua manchete principal traz: "Vice-Prefeito
acusa desvio do dinheiro da educação". Eu era o Secretário de Educação e exigia o repasse
das verbas. Para V.Exas. terem uma idéia, eram 132 escolas sem merenda escolar, por mera
mesquinharia do então Secretário de Governo. Eu questionava o fato de a molecada passar
literalmente fome nas escolas, por questão de economia de R$250 mil no Município de São
Paulo. Tenho aqui todos os ofícios em que cobrei esse repasse, dizendo ser fundamental.
Mais do que isso: que a Lei de Diretrizes e Bases da Educação estabelece que o órgão
encarregado das finanças tem que repassar a cada dez dias os recursos correspondentes à
educação, sob pena de responsabilidade civil e criminal. Então, para isentar-me da
responsabilidade criminal, encaminhei ao Sr. Secretário de Finanças ofício para que
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remetesse à educação os recursos que lhe eram próprios. Encaminhei também peça ao
Ministério Público, para processar tanto o Secretário de Finanças quanto o da Educação.
Daí, Sr. Presidente, na seqüência dos jornais ("Pitta demite o seu Vice do cargo de
Secretário") ocorreu o pior. A demissão de um funcionário é absolutamente corriqueira e
normal, especialmente de um secretário, cargo de absoluta confiança do Prefeito. Contudo, na
seqüência: "Vice é despejado do gabinete pelo Prefeito". O que S.Exa. fez? Retirou o
gabinete; determinou seu fechamento pela Polícia Militar. Eis as reportagens do dia 20 de
agosto dos jornais O Estado de S. Paulo e Diário Popular: "Pitta demite o seu
Vice-Prefeito".
Houve o despejo, mas não passou à agressão. Volto a insistir: a destituição ou a
exoneração, para ser mais técnico, do cargo de Secretário de Educação é um ato
absolutamente rotineiro em qualquer administração. Absolutamente, não me ofendeu, mesmo
sendo Vice-Prefeito. Qualquer Secretário que não esteja em sintonia com o Governo tem que
ser realmente afastado, portanto exonerado de seu cargo.
A partir daí, houve a retaliação, ou seja, não satisfeito com isso, houve o fechamento
do gabinete do Vice-Prefeito — que era na própria Prefeitura —, o recolhimento do carro de
representação do Vice-Prefeito, até do celular. Os jornais noticiaram isso jocosamente à
época. E, também, a demissão de todos os assessores. No dia seguinte, o Vice-Prefeito não
tinha sequer onde se sentar na Prefeitura de São Paulo. V.Exas. podem dizer: "Mas esse é um
fato isolado". Não é um fato isolado, pois isso ocorre em muitos e muitos Municípios.
Volto à minha premissa inicial: ou se extingue o cargo de Vice-Prefeito e o Presidente
da Câmara exerce essa função, pois ele tem mandato adequado, tem cargo próprio, ou se
atribui alguma função ao Vice-Prefeito. Qual? Não sei. A Câmara, na sua alta sapiência, é que
vai poder determinar.
Houve demissão de todos os assessores do meu Gabinete; ou seja, o Vice-Prefeito de
São Paulo, no dia seguinte, exatamente em 21 de agosto, não tinha sequer uma sala para
entrar, nem um assessor.
Aqui estão todos os ofícios que encaminhei reclamando as verbas da educação que
não era repassadas e também os que encaminhei ao Ministério Público, para que fossem então
processados os Srs. Secretários das Finanças e do Governo. Isso, Sr. Presidente, Sr. Relator,
são dezenas e dezenas de acusações não feitas pelo Vice-Prefeito, porque a partir daí tudo
redundou num mar de lama total, como se demonstra até hoje.
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No dia 3 de setembro: "Ministério Público vai investigar a compra do leite";
"Fornecedor vende pão mais caro a São Paulo"; "Enquanto a Prefeitura de São Bernardo
compra a R$0,09, São Paulo compra a R$0,13"; "São Paulo está pagando R$5,78, quando o
leite custa R$2,70". Aqui são os problemas do LEVLEITE e da anistia. O Prefeito quis abrir
mão de R$50 milhões. Enfim, houve outras acusações: de superfaturamento, de lixo. "O lixo
que sujou" é a manchete do jornal que tenho em mãos. Enfim, há pesquisas e pesquisas
traçando um comportamento não só do Prefeito anterior, mas também do atual — e vou usar
um eufemismo, Sr. Presidente: um comportamento menos nobre.
Enfim, participei de dezenas e dezenas, porque tinha o dever específico de ser decente
no exercício de um cargo público. Inicialmente, é claro, houve toda uma tentativa de
comunicar ao Sr. Presidente e ao Sr. Prefeito o problema que ocorria, mas nada disso
adiantou. Culminaram, então, nessas denúncias todas.
A partir daí, Sr. Presidente, Sr. Relator, Sras. e Srs. Deputados, ingressei com uma
ação judicial, para que o juiz estabelecesse, dentro dos princípios constitucionais, se o
Vice-Prefeito, uma vez que não ocupe cargo público, mas exerce um mandato eletivo, teria
ou não direito a ocupar um espaço qualquer na Prefeitura do Município, com gabinete de
representação, segurança, veículo, recursos materiais e todo o necessário e imprescindível
para o exercício de um mandato.
A decisão foi proferida em março de 2000, julgando absolutamente procedente a ação.
Vou ler o dispositivo da sentença: "(...) para reconhecer que seja assegurado ao Vice-Prefeito
o uso e utilização do Gabinete, criado por um decreto, que sejam mantidos os recursos
materiais e humanos necessários previstos na legislação acima citada, que seja observada a
substituição do Prefeito pelo Vice-Prefeito, nos casos de afastamento, com ou sem licença da
Câmara, ou impedimento do mesmo, independentemente de qualquer período." Portanto,
felizmente provoquei uma decisão judicial para trazer esses subsídios para V.Exas.
Este foi o meu périplo, na verdade. Houve uma tentativa de sintonizar o discurso do
Vice com o do Prefeito. Ao longo do tempo, como todos os jornais e os três processos de
impeachment demonstraram, realmente o diálogo era impossível. Daí a minha conclusão de
que o Vice-Prefeito é peça essencial ao funcionamento de Prefeitura. No dia em que fui
demitido, ou exonerado, como queiram, da Secretaria de Educação, abri mão dos meus
vencimentos, do meu subsídio de Vice-Prefeito. Desde agosto de 1997 não recebo um real da
Prefeitura, nem do período em que exerci efetivamente o cargo de Prefeito.
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No entanto, caso eu tivesse resolvido ficar comodamente na minha casa, trabalhando
em meu escritório, usufruiria de um ordenado bem grande para a população brasileira, R$3
mil, o salário de um Vice-Prefeito ou Secretário de São Paulo. Poderia tranqüilamente estar
percebendo R$3 mil brutos sem trabalhar. Isso é absolutamente inconstitucional.
Mas abri mão do meu ordenado; fui afastado de toda e possível "mordomia" — entre
aspas — que o cargo pudesse oferecer.
Eu começo a me perguntar: para que Vice-Prefeito, para que essa figura meramente
decorativa, se, em uma situação de confronto, de conflito, eu não diria político, mas
meramente ético, ele não pode agir? Diante disso, acho que a alternativa que se coloca é: ou
se dá alguma atribuição válida ao Vice-Prefeito, para que ele possa realmente exercer o poder
de fiscalização, uma atribuição qualquer junto ao colegiados (firmar convênios com outras
entidades, estruturar consórcios com outros Municípios, enfim, ter uma vida política útil e
saudável em benefício da população), ou essa figura é desnecessária e seria exercida pelo
Presidente da Câmara, ou a Câmara elegeria, então, outro Prefeito no afastamento do titular
do cargo.
É assim que me posiciono, para ser bastante breve, para não fazer com que V.Exas.
percam tempo. Eu sei o quanto ele é precioso, uma vez que integrei esta Casa, embora,
lamentavelmente, apenas por dois anos, pois parti para uma infeliz caminhada à Prefeitura de
São Paulo.
De qualquer maneira, minha vinda foi em homenagem à Comissão, ao Sr. Proponente
da PEC, à V.Exa., queridíssimo amigo, aos Srs. Deputados e especialmente ao Sr. Relator.
Era isso, Sr. Presidente.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Fernando Zuppo) - Agradeço ao Deputado, digo
Vice-Prefeito, Régis de Oliveira. Ainda estamos com o cacoete de chamá-lo de Deputado. É
sinal de que para aqui retornará mais adiante.
Ouviremos agora o Presidente da Comissão Nacional de Vice-Prefeitos, Dr. Nízio
José Cabral, que, no momento, ocupa a Prefeitura de São Vicente.
O SR. NÍZIO JOSÉ CABRAL - Obrigado, Deputado. Boa tarde ilustres Deputados,
Sr. Presidente da Comissão Especial e Sr. Relator.
Gostaria de começar esta breve explanação, colocando um questionamento inicial em
que me vi, após ser eleito Vice-Prefeito de São Vicente, nossa cellula mater da
nacionalidade.
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Em São Vicente, durante o período de campanha eleitoral, sempre levei aos palanques
e ao eleitor a proposta de que deveria ser um Vice-Prefeito atuante e participativo. Fomos
eleitos em 1996 e, no dia 1º de janeiro de 1997, tomamos posse, o Prefeito, eu e todo o
secretariado — o primeiro ato do Prefeito foi nomear o secretariado. Vi-me, então, em uma
situação, já, naquele momento, constrangedora. O Prefeito assumiu, foi para o seu ambiente,
o seu gabinete, os Secretários se dirigiram cada um aos seus respectivos gabinetes, e para
onde iria o Vice-Prefeito? Foi a primeira questão junto ao Prefeito. Como vou cumprir aquele
compromisso de campanha de ser um Vice-Prefeito atuante e participativo? Cumprindo,
obviamente, aquilo que havia sido combinado, o Prefeito me disse: "Provisoriamente, você
fica aqui, ao lado, no salão nobre da Prefeitura." E ali comecei a atender a população e
desenvolver meu trabalho como Vice-Prefeito. Posteriormente, o Prefeito pediu que eu
assumisse uma das Secretarias do Município. Assumi durante um período, mas pude verificar
que não era aquele exatamente o papel que me havia proposto na campanha eleitoral. Não era
o papel de Secretário de uma Prefeitura Municipal. O papel seria exatamente o de
Vice-Prefeito, o segundo homem que deveria estar pronto a administrar e assumir os destinos
do Município no caso de impedimento do Sr. Prefeito Municipal. Como Secretário, eu estava
apenas atento àquela pasta específica, para a qual tinha sido designado, correndo o risco até
mesmo de ser demitido, a qualquer momento, se não estivesse cumprindo as diretrizes
emanadas do Sr. Prefeito.
Entendi, então, que deveria ser formado um gabinete específico do Vice-Prefeito e
parti para esse intuito. Através de lei municipal, foi criado o Gabinete do Vice-Prefeito, não
com atribuições específicas de Vice-Prefeito, mas com a sua estrutura, as instalações e tudo
mais. Até hoje desempenho essa atividade condignamente, com toda a estrutura de gabinete.
Mas pude verificar que não era isso o que ocorria com os demais Vice-Prefeitos de nossa
região. Tive a iniciativa de promover um encontro dos Vice-Prefeitos e constatei, através das
manifestações dos companheiros, que nossas necessidades eram as mesmas. Ou seja, todos
eram Vice-Prefeitos mas não tinham exatamente o que fazer nas Prefeituras, não sabiam qual
eram suas atribuições específicas.
Quando esse encontro acabou, devido a sua divulgação, através da imprensa
televisada e escrita, o Instituto Brasileiro de Administração Municipal no Rio de Janeiro
tomou conhecimento das propostas, entrou em contato comigo e resolveu promover o 1º
Encontro Nacional de Vice-Prefeitos, no Rio de Janeiro. Lá, formamos uma comissão e
pudemos constatar que em São Paulo ocorria a mesma situação de nossa região.
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Naquele dia, no Rio de Janeiro, estavam mais de 150 Vice-Prefeitos representando
quatorze capitais, e todos foram unânimes em afirmar que, de fato, não existiam atribuições,
não havia o que cada um fazer especificamente. Alguns depoimentos eram verdadeiros
absurdos. Existem Vice-Prefeitos ganhando cerca de R$9 mil a R$12 mil e sendo proibidos
até de entrar na Prefeitura. Uma verdadeira afronta à nossa Constituição!
Esse Encontro Nacional deu origem a essa Comissão Nacional, da qual fazem parte o
Dr. Régis Oliveira e Dr. Marcos Sant'Anna, formando quatorze Vice-Prefeitos, sendo cinco
de Capitais. Desenvolvemos um trabalho, com vários encontros regionais em outros Estados.
Chegamos a um ponto de estudo, junto com o Instituto Brasileiro de Administração
Municipal, na parte mais técnico-legislativa, analisando várias leis orgânicas municipais e a
nossa Constituição Federal, concluindo que, de fato, existe uma lacuna em nossa legislação.
As leis orgânicas dos Municípios brasileiros se baseiam, como as Constituições
Estaduais, em nossa Constituição Federal, com relação à figura do vice. Com relação ao
Vice-Presidente da República, a Constituição Federal estabelece que suas atribuições são
definidas por lei complementar. As Constituições dos Estados estabelecem que as atribuições
dos Vice-Governadores serão estabelecidas através de lei complementar. E as leis orgânicas,
em sua grande maioria, estabelecem que as atribuições dos Vice-Prefeitos serão estabelecidas
por lei complementar.
Concluímos que o caminho para corrigir essa lacuna seria exatamente a Constituição
Federal determinar aos Municípios a obrigatoriedade da existência dessa lei complementar.
Da forma como consta em algumas leis orgânicas, ela se liga ou ao Prefeito ou à Câmara
Municipal. Não estão claramente estabelecidas as atribuições nem a quem compete fazer a lei
complementar.
Por intermédio do Instituto Brasileiro de Administração Municipal, fizemos um
levantamento e chegamos à conclusão de que existem 5.507 Vice-Prefeitos. Entre subsídios,
subvenções, salários diretos e indiretos, isso consome em torno de 250 milhões de reais por
ano. E simplesmente não está determinado em lei o que cada um deve fazer. O depoimento do
ilustre Vice-Prefeito Regis de Oliveira expõe claramente essa situação.
Na verdade, existe unanimidade por parte dos Vice-Prefeitos. De diversas formas,
todos têm manifestado a real necessidade de que sejam definidas, por meio de lei
complementar das Câmaras Municipais, as suas atribuições. Isso, porém, não está
determinado na Constituição Federal. E algumas Câmaras Municipais não aceitaram como
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constitucional proposta de lei complementar de iniciativa do Prefeito ou de Vereador, por
entenderem que a Constituição não dá essa competência ao Município.
Em uma de nossas grandes reuniões promovidas na Baixada Santista, tivemos a grata
satisfação de receber o Deputado Fernando Zuppo, que tomou conhecimento mais
profundamente do assunto. Tivemos várias reuniões com S.Exa. e entendemos a real
necessidade de apresentar proposta de emenda constitucional que, na verdade, vai apenas
acrescentar um inciso ao art. 30, que diz respeito às competências dos Municípios e especifica
a obrigatoriedade de instituírem essa lei complementar.
No momento que se avizinha, vemos no Vice-Prefeito figura bastante marcante nas
campanhas eleitorais. Todos os candidatos a Prefeito obviamente procuram um Vice que
some votos. Não existe nenhum candidato a Prefeito que procure um Vice que lhe tire votos.
E trouxe alguns jornais e artigos da minha região que mostram que os Vice-Prefeitos têm
militância e experiência política, querem maior participação e prometem serviço.
Na verdade, nós, que estamos trabalhando nessa proposta de emenda constitucional,
sabemos da impossibilidade de realizarem o que propõem. Por quê? Porque não existe
dispositivo legal que lhes dê qualquer tipo de competência. O Vice-Prefeito, na situação atual,
é uma mera figura decorativa.
Trata-se de agente político eleito que detém mandato, mas não precisa estar
trabalhando de fato. O Vice-Prefeito pode simplesmente ficar em sua casa ou em seu
escritório, realizando qualquer outra atividade que não a sua atribuição específica de agente
político eleito e com mandato.
Tive oportunidade de conceder entrevistas a vários órgãos de imprensa, inclusive
televisionada, e os jornalistas ficaram impressionados quando disse que os estava recebendo
no gabinete, mas poderia fazê-lo na praia, em São Vicente, tomando uma cerveja, uma
caipirinha, um chope, comendo camarão, ganhando o mesmo para atender à comunidade.
Neste momento de reforma política, em que o novo milênio se avizinha, o Congresso
Nacional não pode conviver com essa verdadeira afronta à nossa boa política. Entendo que as
atribuições do Vice-Prefeito objetivadas nesta proposta de emenda constitucional não
constituem divisão de poder, mas de trabalho.
Os Vice-Prefeitos querem trabalho, porque à remuneração eles já têm direito, como
previsto no art. 29, inciso V, da Constituição Federal. Na verdade, não existe na Constituição
algo que assegure aos Vice-Prefeitos direito ao trabalho. No nosso entendimento, meu e da
Comissão Nacional dos Vice-Prefeitos, é um verdadeiro absurdo a Constituição remunerar
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esse agente político e não lhe dar trabalho. No momento em que convivemos com tantos
escândalos e absurdos, não podemos permitir que, por ano, 250 milhões de reais sejam
jogados no lixo, porque os Vice-Prefeitos não têm legalmente determinadas suas atribuições.
Desafio qualquer Vice-Prefeito a dizer que tem por escrito, no seu Município, o que deve
fazer.
Sr. Presidente, Sr. Relator e Srs. Deputados, entendo que o Vice-Prefeito deve ter suas
atribuições devidamente definidas, com divisão de trabalho, dentro de nova política e nova
visão de como administrar os Municípios, a fim de que esteja preparado para, a qualquer
momento, substituir o titular e não permitir que o Município fique paralisado em virtude de
seu desconhecimento acerca do funcionamento da própria máquina administrativa.
Era o que eu tinha a dizer. Fico à disposição dos Srs. Deputados para maiores
esclarecimentos.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Coriolano Sales) - Agradeço ao Dr. Nízio Cabral a
intervenção.
Estando presente o Vice-Prefeito de Belo Horizonte, consulto o Relator e os demais
Srs. Deputados se podemos ouvi-lo hoje, tendo em vista o fato de que estamos em período
eleitoral e, portanto, com dificuldades de realizamos reuniões. Possivelmente, apenas no mês
de outubro, voltaremos a nos encontrar, e sua contribuição será importante na discussão dessa
PEC. (Pausa.)
Com o assentimento dos nobres colegas, passamos a palavra ao Sr. Marcos Sant'Anna.
O SR. MARCOS V. SANT'ANNA - Muito obrigado. Sr. Presidente, Sr. Relator,
prezados companheiros, Dr. Nízio José Cabral, Presidente da Comissão Nacional de
Vice-Prefeitos, Vice-Prefeito Regis de Oliveira, Deputado autor dessa proposta de emenda à
Constituição, Sras. e Srs. Deputados, fico muito honrado com esta oportunidade de trazer
minha contribuição.
Minha experiência na vida política é muito pequena — este é o meu primeiro mandato
político —, mas não posso negar que minha experiência de vida é bastante grande. Dois fatos
me têm enriquecido: primeiro, a dedicação exclusiva a essa função nos últimos quatro anos
— embora não precisasse fazê-lo, como já foi dito aqui — e a convivência com os
companheiros no Fórum dos Vice-Prefeitos, onde pude cotejar e aprender muita coisa.
Quanto às manifestações que gostaria de fazer, algumas já foram postas aqui. Não
quero me reportar a especificidades do meu exercício de Vice-Prefeito, tive problemas de
alguma natureza, mas estes não se parecem com os enfrentados pelo companheiro Regis de
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Oliveira. Portanto, nada teria a acrescentar sobre essa experiência. Algumas situações por que
passei — e não precisamos especificá-las — ajudam a entender a importância da discussão
dessa proposta nesta Comissão. A primeira já foi mencionada.
A despeito do que disse o Dr. Nízio José Cabral, no sentido de que o Prefeito escolhe
alguém que efetivamente contribua com o processo, vou permitir-me contestar e dizer: quem
dera que realmente sempre escolhessem assim. Na realidade, às vezes, a conveniência
eleitoral impõe ao candidato a Prefeito um nome que não é o de sua preferência, e isso é
muito pior. Antes fosse sempre escolha do candidato, um somatório eleitoral forte escolhido
por ele. Nas coligações que, todos sabemos, acontecem aqui e acolá, ele acaba tendo de
aceitar — e não estou dizendo que precisa aceitar qualquer nome que lhe é imposto, não
chego a tanto — um nome que dá aquele dividendo conveniente para sua eleição, sem ter
muita convicção a respeito da escolha.
No meu caso particular — e isso não é desdouro algum — fui escolhido pelo meu
partido por uma coligação, e o Prefeito sequer me conhecia. Ele me conheceu no dia em que
foi comunicado que o candidato oferecido pela coligação era eu. Não falo com falsa modéstia
ou envaidecido, mas ele não tinha razões para me vetar. Como a conveniência eleitoral era
muito forte, talvez, mesmo que tivesse, fosse obrigado a me engolir. Não foi o caso. Espero
que não tenha sido tão grave assim essa aceitação.
No momento inicial, essa combinação atende fortemente à conveniência eleitoral de
uma coligação partidária, nem sempre com a participação do Prefeito. Quero dizer que isso
não deve ser bom para o Prefeito — e não é também para o Vice nem para o Município. Esta
é primeira constatação.
A segunda merece uma análise dos efeitos. O Presidente Nízio José Cabral, com
muita propriedade, mencionou as tarefas na Lei Orgânica dos Municípios. No caso do meu
Município, e acredito que o mesmo ocorra na maioria deles, as duas missões específicas
estabelecidas Lei Orgânica para o Vice-Prefeito são a substituição do Prefeito nos seus
impedimentos e tarefas delegadas.
Gostaria de fazer uma pequena análise dos dois casos, começando pela segunda, a
delegação. Não é muito cômodo e não é muito simples a delegação, exatamente porque o
Vice-Prefeito, ainda que a reboque da eleição do Prefeito, é um mandatário popular, que
recebeu, mesmo que por tabela, o mesmo número de votos do Prefeito. Então, o de
Vice-Prefeito não é exatamente um cargo de confiança do Prefeito, em que essa delegação é
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simples como outra qualquer, em que quem nomeia, delega e cobra responsabilidade, se não
der certo, demite e acabou. Nesse caso, não é tão simples.
Se confiar, o Prefeito delega, claro, mas não tem a opção de cobrar no caso de a
delegação não ser executada a contento, porque o cargo não é seu, não é de confiança, o
mandato do Vice é popular, tão legítimo quanto o seu, embora menos visível.
Então, em diversos casos, a delegação costuma ser complexa, como ocorreu com o
Presidente Nízio e comigo. Pode ainda ser forma suave, como, por exemplo, quando o
Vice-Prefeito ocupa uma Secretaria. Também ocupei, até dezembro do ano passado, uma
Secretaria. Pedi para sair por motivos políticos. Mas não é esse o problema, mesmo que
estivesse lá, não mudaria a figura.
O Vice-Prefeito, ao exercer uma Secretaria, enfrenta problemas de várias naturezas.
Primeiro, bem ou mal, querendo ou não, é um Secretário privilegiado em relação aos demais,
mas legalmente tem o mesmo nível de autoridade, ou menos, na prática, se o outro for
Secretário da Fazenda ou de Governo. Apesar de legalmente os Secretários estarem na mesma
hierarquia, na prática, há Secretários e Secretários. De acordo com as funções que lhes são
atribuídas, carregam determinado poder de decisão.
Há, porém, uma incoerência, algo que pode vir a ser muito complicado. Quando o
Vice-Prefeito ocupa uma Secretaria que não é a mão-de-ferro da Administração, o conflito
costuma aparecer. Ele está numa situação privilegiada porque não é passível de demissão, tem
visibilidade pública, legitimidade do voto popular e algumas outras prerrogativas que o cargo
lhe dá, mas, ao mesmo tempo, não tem o poder decisório e de gestão como outros Secretários.
Só isso já representa conflito.
O segundo conflito que considero lamentável, de certa forma, pode custar caro em
alguns casos. Esse não foi o meu caso, felizmente. Não estou me queixando, assumi e aceitei
a menor Secretaria da Administração e, além de ser a menor, não era, digamos, uma
Secretaria Executiva, mas formuladora. Portanto, era muito mais tranqüilo. No caso do
Vice-Prefeito Regis de Oliveira e outros que ocuparam a Secretaria da Educação ou a da
Saúde, não tiveram tempo para mais nada. É preciso praticamente tirar férias do cargo de
Vice-Prefeito, porque não há tempo nem condições para participar do conjunto da
Administração, quando se está, por exemplo, na Secretaria de Educação ou de Saúde. Como
disse, esse não foi o meu caso. Fui Secretário de Indústria e Comércio, a menor Secretaria do
Município, responsável por formulação, portanto, não enfrentei esse problema. Mas a maioria
o enfrenta quando exerce uma Secretaria demandante como uma dessas que mencionei.
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Por melhor que realize sua gestão como Secretário, do ponto-de-vista da primeira ou
da segunda função de eventual substituto do Prefeito, há perda para a cidade, pois não terá
tempo nem condições de aprender a ser Prefeito. E uma das melhores formas de aprender é
dentro da Casa, não por meio de leituras. Ele perde a oportunidade de conhecer toda a
máquina, de ter visão global dos problemas, o que o especialista muitas vezes não tem e é o
que mais faz falta a alguns de nossos Prefeitos, Governadores e até Presidentes.
Não acrescenta nada um Presidente, um Governador ou um Prefeito especialista em
uma ou duas áreas, porque não é essa a necessidade, não é isso que se espera do governante.
Do governante geral espera-se visão global dos problemas, capacidade de articular e de gerir
uma complexidade de questões. Ele não precisa conhecer todos os problemas, porque isso é
até impossível. Se ele se especializar em alguma área, perde a oportunidade de fazer o
aprendizado.
O outro aspecto é o mais importante: a eventual substituição que poderia acontecer e é
cômoda para alguns. Já foi mencionado também que o Vice-Prefeito poderia ficar em casa,
recebendo ou não o seu pró-labore, isso é o menos relevante no processo, esperando a
eventualidade de ser chamado para substituir o Prefeito em um impedimento.
Ora, se de fato ele ficar em casa, provavelmente não estará com um walkie-talkie
ligado com a Prefeitura. Se ficar em casa, estará cuidando da sua vida, dos seus interesses,
dos seus negócios, sem sintonia com a Administração da qual participa. Se um dia for
chamado para substituir o Prefeito, mesmo em uma dura eventualidade de substituição
obrigatória, estará tão ou até menos despreparado como qualquer outro, apesar de ter tido a
chance de aprender e, às vezes, até ter recebido para isso durante dois, três anos. Um dia, ele é
chamado e está completamente despreparado para assumir o cargo.
Isso pode não ser ruim para ele, mas para a cidade é péssimo. Perdeu-se tempo.
Enquanto exerceu o cargo de Vice-Prefeito, poderia estar fazendo duas coisas importantes
para a cidade, mais do que para ele: primeiro, aprendendo a conhecer as funções do cargo,
com um pouco menos de responsabilidade, claro. Isso lhe daria a chance de aprender a
gerenciar e administrar a Prefeitura, qualquer que fosse ela. Seja qual fosse o tempo que
ficasse ali, o aprendizado seria riquíssimo, porque estaria por dentro da situação, sabendo o
que ninguém de fora conhece. Por mais transparente que seja a administração, ninguém
aprende, exceto estando ali dentro, dia a dia assistindo aos problemas, às soluções, às
dificuldades. A perda da oportunidade do aprendizado, no caso de se ter de fazer uma
substituição efetiva, representa perda também para a sociedade.
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Independente do processo de reeleição — e que Deus nos livre de outra experiência
igual —, mas numa sucessão natural, poucas pessoas estariam mais qualificadas para o cargo
de Prefeito de uma cidade do que aquele que, de perto, teve uma visão global. Não estou
dizendo isso por ter exercido a função, não sou candidato. Se um Secretário já é bom, porque
participou da Administração e já adquiriu determinada experiência, o Vice, que participou de
tudo, tem mais condição de dar ao Município continuidade administrativa com conhecimento
de causa do que um novato na política.
Essa visão é muito importante. Dessa forma, há dois extremos: o Vice-Prefeito
ausente, que fica em casa, não aprende nada e não dará contribuição se for chamado, e o
participativo, que não está em uma Secretaria especial, principalmente de muita demanda.
Nesse caso, começa a acontecer um tipo de problema causado pela fofoca política e
burocrática e de invejável competência: "Esse Vice-Prefeito está te fazendo sombra"; "Esse
Vice-Prefeito está diminuindo sua ação"; "Esse Vice-Prefeito está te incomodando"; "Esse
Vice-Prefeito está querendo ser mais". Conheço o caso concreto de um Prefeito que disse ao
seu Vice: "Por favor, pare de agir, porque já está incomodando." Aí começa a fofoca de toda
natureza: "O Prefeito é lerdo, o Vice está aparecendo mais do que ele" etc. E se cria aquele
clima, que também não ajuda nada se ele for atuante.
Uma solução — e concordo com o Vice-Prefeito Regis —, é a extinção. Para isso há
modelos europeus muito claros, com Câmaras e Conselhos Municipais. Muitas vezes, o
Prefeito é um dos conselheiros. Eventualmente, há necessidade de um substituto, e o trauma é
menor. Acho muito lógico que o conselheiro seja o Vice-Prefeito. Outra maneira seria
determinar legalmente atribuições, responsabilidades, limites, instrumentos de atuação, de
modo que ele esteja tranqüilo para exercer suas atividades dentro dos limites que a lei lhe
facultar, com instrumentos e autonomia para exercê-las, porque tem um mandato, não um
cargo de confiança. Nesse período, nesse campo de atuação que lhe é dado, o aprendizado
será muito útil no caso de substituição.
Tenho uma convicção mais recente, cuja conclusão nem transmiti aos companheiros
da Frente. Talvez fosse conveniente a PEC contemplar que, nas substituições eventuais, em
ausências curtas, de dez, quinze dias, um mês, não me preocupo em fixar o tempo, por
viagem ou doença, ele nem deveria assumir o cargo. Acho lógica a substituição automática, e
não me importaria, sinceramente, que o Prefeito tivesse a prerrogativa de credenciar, de dar
uma procuração transitória, estando prevista ou não na lei, a um dos seus Secretários — este,
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sim, um cargo de confiança —, para exercer a sua substituição. Porque quando há conflito
com o Vice-Prefeito, o problema já se agrava brutalmente.
Exemplo disso ocorreu recentemente numa cidade de Minas Gerais. Nos três anos
iniciais, o Prefeito se ausentou por prazo menor do que o previsto na Lei Orgânica, e o
Vice-Prefeito não assumiu. Ele tentou até judicialmente assumir, mas não conseguiu. A
cidade ficava sem Prefeito, porque, não ficando este fora por tempo superior ao previsto, o
Vice não podia assumir. E o Vice não concordava, já havia uma ruptura. Determinado dia, o
Prefeito fez uma viagem, e, de tanto entrar na Justiça, o Vice conseguiu assumir. Quarenta e
oito horas depois, o Prefeito voltou. O Vice-Prefeito fez o diabo — não estou fazendo juízo
de sua ação, por sinal ele é correligionário meu —, no dia em que assumiu, mudou deus e o
mundo, revolucionou. E o Prefeito teve de voltar correndo. Não estou entrando no mérito da
questão nem fazendo juízo de valor, mas para a cidade isso não é bom.
Nessas substituições rotineiras e transitórias, provocadas pela ausência do Prefeito,
por viagem, doença ou até merecidas férias, que não fazem mal a ninguém, especialmente
para quem trabalha muito, deveria assumir a Administração um dos seus Secretários, alguém
que a lei previsse ou que ele nomeasse. E o Vice-Prefeito estaria preservado para assumir
apenas no caso de uma substituição mais definitiva — e ninguém está desejando isso —, ou
pelo menos de mais longo prazo, quando pudesse exercer na plenitude a responsabilidade do
cargo, o que não é possível em dez, quinze ou trinta dias. O Vice tem de aceitar tudo o que já
estava estabelecido. Portanto a legitimidade do mandato popular não lhe vale nada. Ou, ao
contrário, revoluciona toda a Administração, troca os Secretários — como aconteceu há
pouco tempo no Pará, onde, em poucos dias, o substituto fez uma revolução. Depois, o
substituído volta e muda tudo. E, nesse ponto, dane-se a cidade.
Estou bastante convicto da importância de uma emenda constitucional que force os
Municípios a terem na sua Lei Orgânica, portanto, na sua Constituição, parâmetros bem
definidos para a ação do Vice-Prefeito — limites, atribuições, responsabilidades, recursos,
instrumentos, autoridade definida e responsável. Essa medida poderá evitar alguns problemas
ou até mesmo, se for o caso, eliminar a figura do Vice.
Hoje, falo mais à vontade, não só pela experiência que adquiri, como pelo fato de não
estar pleiteando a continuidade no cargo. Já estou na reta final do processo, nos últimos
quatro meses. E, muito à vontade, falo também em nome da minha cidade, em particular, e
das cidades em geral.
Muito obrigado.
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O SR. PRESIDENTE (Deputado Coriolano Sales) - Agradeço ao Vice-Prefeito de
Belo Horizonte, Dr. Marcos Sant'Anna. Vamos passar agora à segunda etapa da nossa
reunião, ouvindo o Relator-Geral.
O SR. DEPUTADO JOAQUIM FRANCISCO - Sr. Presidente, Vice-Prefeitos
Regis de Oliveira e Marcos Sant'Anna e Dr. Nízio José Cabral, realmente estamos diante de
tema complexo.
Fui Prefeito de Recife por duas vezes. Na primeira, não existia a figura do
Vice-Prefeito. Então, de fato e de direito, quem exercia essa função era o Presidente da
Câmara Municipal de Recife, de partido de oposição a mim. E, por incrível que pareça, não
enfrentei problemas com os dois Vice-Prefeitos que tive nesse período. Prefeito pela segunda
vez, eleito juntamente com um correligionário de coligação, tive problemas, depois
superados, apesar de haver certo entendimento sobre as atribuições do Vice-Prefeito. No caso
de Recife, o Vice-Prefeito tem gabinete e estrutura administrativa, dispõe de veículo. Enfim,
ao longo de tempo, houve uma história de convivência harmônica.
Se fosse instado agora a oferecer um parecer, se o Sr. Presidente e os Srs. Deputados
dissessem que hoje é o último dia, eu proporia o fim da figura de Vice-Prefeito,
substituindo-o pelo Presidente da Câmara. Por quê? Porque este é um representante do povo e
tem atribuições definidas em lei. E não haveria conflito, como também não houve no
Governo de Pernambuco, onde durante longo período o Presidente da Câmara substituía o
Governador, porque o Presidente da Câmara tem atribuições fixas. Já o Vice-Prefeito, como
disseram aqui os dois Vice-Prefeitos, não tem espaço próprio. É próprio da natureza humana
esse tipo de conflito, sobretudo num sistema político como o nosso, onde se fazem coligações
partidárias as mais extravagantes na maioria das vezes.
Então, como atribuir ao Vice-Prefeito espaço político estabelecido se esse espaço
pode, em curto ou médio prazo, levar a conflito eleitoral direto com o Prefeito?
Há cerca de dois anos fui convidado pela Universidade Álvares Penteado, em São
Paulo, para fazer uma palestra sobre o curso de Gerentes de Cidades. Como é do
conhecimento de V.Exas., existiam cursos de Gerentes de Cidades. Os Estados Unidos
adotam isso como praxe: o Prefeito contrata um executivo privado, que não é do quadro da
Prefeitura. Por exemplo, na Cidade de Minnesota, contrataram um executivo da Chrysler,
ganhando 20 mil dólares por mês, para exercer o papel de Gerente da Cidade. Ou seja, ele é
quem vai, de fato, no dia-a-dia, desobstruir o canal, limpar a cidade, para que o Prefeito e o
Vice-Prefeito fiquem mais com atribuições de relações públicas, de intensa atividade política.
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Lembro-me bem de que proferi e concordei com essa tese, com esse modelo, que
algumas cidades brasileiras já estão adotando, onde o clima político não é tão tenso. Convidei
o Prefeito de Recife, Roberto Magalhães, para fazer uma palestra. O Prefeito é um homem
lúcido, jurista, ex-companheiro nesta Casa, e, durante os debates, como é muito franco,
disse: "Eu jamais botaria um Gerente de Cidade, porque esse será o meu concorrente, será o
próximo candidato a Prefeito. Ele vai comandar quinze Secretários, vai aparecer nas ruas no
dia-a-dia no meu lugar. E depois? Aí a cobra vai me engolir. Eu vou criar uma cobra cascavel
para me dar uma dentada."
Então, no meu entender, é um fato político. Esse conflito é de difícil solução,
encontrar o modus vivendi em nosso sistema partidário, com trinta e tantos partidos, é muito
complexo. Vemos no dia-a-dia na Câmara a dificuldade para se formular acordos etc.
O segundo aspecto é jurídico. Na realidade, iríamos decidir, no caso inverso, uma
espécie de pré-relatório inicial. Seria, juridicamente, incluirmos no art. 30 um inciso X,
dizendo: "Lei complementar fixará as atribuições de Vice-Prefeito." Há dez anos existe algo
semelhante no parágrafo único do art. 79 da Constituição, e nunca saiu a lei complementar.
Traz o referido artigo:
Art. 79..................................................................
Parágrafo único. O Vice-Presidente da República, além de outras atribuições que lhe
forem conferidas por lei complementar, auxiliará o Presidente, sempre que por ele
convocado para missões especiais."
Não sei se o Presidente Fernando Henrique tem medo de Marco Maciel, pelo menos
assistimos a uma convivência pacífica durante esse período todo, mas ele nunca se arriscou.
Os Governadores nunca nos mandaram lei complementar, pelos menos que eu
conheça. Em Pernambuco, o Vice-Governador Mendonça Filho é o pai da emenda da
reeleição e amigo pessoal do Governador. E o Governador pode pensar: " "In dubio pro reo.
Deixa lá o Mendonça, ele tem seu espaço, tem seu gabinete", e nunca mandou a lei
complementar. Então, diante do fato político, o fato jurídico quase se perde. Vamos incluir.
Não acho que seja pretensão despropositada. Ao contrário, é lógica, tem cadência. Podemos
incluir na Constituição o inciso X do artigo 30: "Lei complementar disporá...", mas o
problema permanecerá. Alguns Prefeitos têm harmonia.
Se assim decidirmos, estaremos lançando uma semente para que amanhã o Prefeito de
São Vicente se harmonize com o Dr. Nízio José Cabral e diga: "Eu vou fazer uma lei
complementar, já que a Constituição me assegura".
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Creio que o Dr. Regis de Oliveira, jurista muito mais estudioso do Direito do que eu,
sabe que a aplicação da lei complementar, se os Municípios quisessem, já poderia ser
adotada, porque lei federal assim determina, como as leis estaduais. Como há omissão em
relação à lei municipal, não haveria empecilho para que se copiasse as Constituições Federal
ou Estadual.
A Lei Orgânica do Município de Recife, feita na época em que fui Prefeito pela
segunda vez, está em vigor e estabelece as atribuições do Vice-Prefeito. Na época, não julguei
conveniente fazê-lo, omiti-me. Os Vereadores não exigiram, e, de fato, dei espaço ao
Vice-Prefeito, gabinete e estrutura. O meu pai já dizia: "Praga de urubu não mata cavalo
velho". Mas, às vezes, há aquela sensação de que o Vice-Prefeito poderia fazer isso.
Prefeito do Município de Recife por duas vezes, enfrentei problemas apenas durante
um mês e com o meu terceiro Vice-Prefeito. Não são problemas que mereçam registro e
dizem respeito à demarcação de espaço. Esse Vice-Prefeito era de um partido coligado e
queria que a Lei Orgânica já determinasse suas atribuições, mas, na ocasião, eu não me senti
seguro politicamente para tanto. Posteriormente, chegamos a compô-la.
Sr. Presidente, deixo registradas essas duas observações. O fato político é muito mais
denso e mais palpável do que o fato jurídico. Do ponto de vista jurídico, não vejo
impedimento para que dezenas de Municípios já tenham as disposições e atribuições do
Vice-Prefeito expressas em suas leis orgânicas .
Esta nossa iniciativa, no primeiro momento, é apenas pedagógica. Devemos expor a
proposta para que a comunidade comece a debatê-la. Na hora em que formos discutir, em
campanha eleitoral, quais as atribuições do Vice-Prefeito, será necessário que haja por parte
do candidato a Prefeito o compromisso de que encaminhará lei complementar à Câmara dos
Deputados fixando as atribuições do Vice-Prefeito.
No caso específico de Pernambuco, nesta eleição, há quatro Deputados Federais,
colegas nossos, candidatos a Vice-Prefeito. No Município de Recife, o Deputado Sérgio
Guerra; no Município de Jaboatão, os Deputados Luciano Bivar e José Múcio Monteiro, e, no
Município de Caruaru, o Deputado Antônio Geraldo. Pela densidade que têm esses parceiros,
— candidatos a Vice-Prefeito —, caso sejam eleitos, o problema será evidenciado.
Essa é a minha opinião preliminar.
Agradeço a V.Exas. a oportunidade. Vi que só agora temos clareza, uma percepção
mais intensa dos problemas que ocorrem nos 5.567 Municípios brasileiros. Parece-me que a
maioria, ou a quase totalidade, não regulamentou a matéria.
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O SR. PRESIDENTE (Deputado Coriolano Sales) - Com a palavra o Deputado
Fernando Zuppo, autor da proposição.
O SR. DEPUTADO FERNANDO ZUPPO - Sr. Presidente, Sr. Relator, senhores
convidados, Dr. Nízio José Cabral, Dr. Regis Oliveira — nosso colega na Câmara Federal e
Vice-Prefeito de São Paulo —, Dr. Marcos Sant'Anna, o assunto é realmente complexo.
Inicio o meu pronunciamento levando em consideração o que foi dito pelo ilustre
Relator, Deputado Joaquim Francisco. Em princípio, sou contrário a que o Presidente da
Câmara de Vereadores suceda o Prefeito, porque o Presidente da Câmara de Vereadores foi
eleito para o Poder Legislativo. E ele não é o companheiro de chapa do Prefeito, não é aquele
que foi aos palanques durante a campanha e assumiu compromissos junto com o seu parceiro
para governar a cidade.
Vejo o Vice-Prefeito, em princípio, se for do mesmo partido, como stand-by, alguém
que tem não apenas a expectativa de assumir, mas que também acompanha os passos do
Prefeito e é co-responsável por todas as propostas de campanha.
No caso das coligações, Deputado, a situação vai ficando cada vez mais paradoxal,
porque não existe compromisso. O Vice-Prefeito passa a ser o companheiro de palanque, de
caminhão. No dia da posse, como disse o Dr. Cabral, o Vice-Prefeito já é deixado de lado.
Mas não quero falar de especificidades. Quero globalizar, embora os três convidados tenham
dado testemunhos pessoais da vida política no exercício do cargo.
Sr. Presidente, se ao invés de três convidados fossem três mil, ainda assim os
depoimentos seriam bastante semelhantes. Por quê? Porque não existe nada que discipline o
assunto, que está ao deus-dará, ao poder de persuasão, da flexibilidade do Prefeito em
administrar esses problemas dentro do Município. É o que acontece, embora alguém diga que
os proventos seriam de somenos, mas não é bem assim. O Estado tem de pagar os
Vice-Prefeitos, e muitos deles precisam desse salário porque, ao ocuparem o cargo, acabam
se desligando das suas atividades particulares, até por incompatibilidade, dependendo da
função que ocupe. E passa a viver daquilo.
O exemplo do Dr. Regis é uma exceção, uma vez que, na condição de Deputado
Federal, renunciou ao mandato para disputar a Vice-Prefeitura de São Paulo. Vejo, na prática,
que muitos Vice-Prefeitos acabam se submetendo às exigências do Prefeito para poderem
ocupar o cargo de Secretário Municipal e terem parcela do poder.
O Governo manda para cá o Código de Conduta da Alta Administração Federal
disciplinando certas funções, e o que tenho visto é Vice-Prefeito se calando. Existe corrupção
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na máquina administrativa, e isso tem de ser disciplinado. Temos de achar uma maneira de
dar soberania ao Vice-Prefeito, o status que ele merece ter. Não acredito que seja o caso de
acabarmos com o cargo de Vice-Prefeito. Ao contrário, é preciso definir o cargo e verificar as
suas possibilidades. Se ele assumir uma Secretaria por escolha do Prefeito e vier a ser
demitido, tem de recuar, mas deve ocupar o seu espaço, o de Vice-Prefeito, e não fica
devendo favor a ninguém. Exerceria a sua função com soberania e poderia até ser um fiscal
do Prefeito, se necessário fosse.
Às vezes, fico um pouco preocupado, porque a Câmara Federal é composta mais por
ex-Prefeitos do que por ex-Vice-Prefeitos. Está aqui o Deputado Rubens Furlan, o grande
Prefeito de Barueri, que, aliás, acabou conciliando essa função com habilidade. Preocupa-me
também o risco de começarmos a ver o caso apenas sob o enfoque do Prefeito e não do
Vice-Prefeito.
O Deputado Joaquim Francisco disse que contornou os problemas existentes e não
teve conflitos com o Vice-Prefeito. Agora, vamos pegar o Vice-Prefeito da época do
Deputado Joaquim Francisco e colocá-lo sentado ali. Ele vai dizer: "Contornei os problemas
do Município e não tive problemas com o Prefeito".
Vale para um lado e para o outro também. Mas fica esse jogo de acerto, de boa
vontade, sem ter regras claras e bem estabelecidas. E quem acaba perdendo com isso é a
população e o Município, haja vista que a Constituição prevê, em caso de vacância do cargo
de Prefeito, nova eleição no Município. Não é o Vice que assume, ou seja, ele continua
relegado, quando, na verdade, deveria sentar ao lado do Prefeito, participar de reuniões do
Secretariado e estar a par de tudo que ocorre no Município, para ser capaz de assumir na
ausência do Prefeito.
Há brigas pelo País inteiro. Em alguns Estados, há casos até de o Vice-Prefeito ser
acusado de mandar matar o Prefeito. Por que tudo isso? Porque não existem regras definidas
para o poder hierárquico nas Prefeituras. E nós, ao elaborarmos esta PEC — aliás, o que me
motivou a apresentá-la foi justamente isso — devemos achar um caminho. Não tenho certeza
de qual seria, mas parece-me, salvo melhor juízo, que a Constituição Federal deveria mandar
o Prefeito apresentar projeto de lei complementar. Não poderia ser da vontade exclusiva do
Prefeito mandar ou não mandar. Ele teria de mandar.
Essa sentença, apresentada pelo Deputado Regis de Oliveira e proferida pela Justiça
de São Paulo, assegura ao Vice-Prefeito participação mínima, pelo menos um gabinete ou
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uma porta. Isso é fundamental. Peço a S.Exa., se for possível, que nos dê cópia dessa sentença
para que, ao examinarmos o problema, possamos levá-la em consideração.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Coriolano Sales) - Muito bem lembrada a sua
proposta, Deputado.
Devo me retirar, porque tenho audiência com o Presidente do Senado, às 16h,
conforme já havia informado a alguns companheiros. Deixo a presidência dos trabalhos com
o Relator-Geral.
Agradeço ao Dr. Regis de Oliveira a presença. As contribuições de S.Exa. foram da
melhor qualidade para o deslinde dos trabalhos que vamos desenvolver nesta Comissão.
Agradeço também ao Dr. Nízio José Cabral e ao Dr. Marcos Sant'Anna a presença. Como
disse o Relator-Geral, estamos buscando um norte para divisar uma proposta de
regulamentação dessa matéria.
Sem dúvida, causa perplexidade o fato de muitos Vice-Prefeitos receberem
remuneração sem ter outra ocupação.
Considero a matéria relevante e parabenizo o Deputado Fernando Zuppo pela
iniciativa. Acredito que poderemos começar a discussão de maneira mais abalizada.
Ao me retirar, deixo consignados os meus agradecimentos e saliento fato relevante: o
Deputado Regis de Oliveira não percebe remuneração à frente da Vice-Prefeitura de São
Paulo desde 1997. Esse fato deve ser registrado nos Anais não apenas da Comissão, mas
desta Casa. S.Exa., entendendo que não exerce atribuições no cargo de Vice-Prefeito, julgou
adequado não receber a remuneração. Esta é uma demonstração pública de ética e moral.
Passo a presidência dos trabalhos ao Deputado Joaquim Francisco.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Joaquim Francisco) - Dando prosseguimento à
nossa reunião, passo a palavra ao Deputado Márcio Matos.
O SR. DEPUTADO MÁRCIO MATOS - Sr. Presidente, nobres convidados, não
compartilho da idéia de extinção do cargo de Vice-Prefeito. Concordo com o nobre Deputado
Fernando Zuppo: se o Vice ausente não está habilitado a substituir o Prefeito, quanto mais o
Presidente da Câmara, que trabalha apenas com aspectos legislativos, não com executivos.
Entendo que o Vice-Prefeito — principalmente agora, sob o novo enfoque da Lei de
Responsabilidade Fiscal — tem de ser co-responsável pela administração. Para tal, devemos
incluir algumas coisas na minuta apresentada. Primeiro, a obrigatoriedade das férias dos
Prefeitos. Qualquer cidadão tem de tirar férias. Vemos uma série de situações em que o
Prefeito não tira férias para não dar chance alguma ao Vice. Por quê? Porque, quando foi feita
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a coligação, levou-se em consideração apenas o aspecto eleitoral e não a co-responsabilidade
e o compromisso com o projeto político de administração.
É lógico que não podemos impor aos Municípios a lei que queremos, mas devemos
incluir na minuta a co-responsabilidade do Vice. O Prefeito tem de tirar férias. Enquanto Vice
e co-responsável, tem de participar das assinaturas em conjunto de convênios importantes e
atos administrativos de relevância, como, por exemplo, empréstimos e coisas desse tipo.
Devemos fazer com que o Vice seja mais responsável pela administração. Conseqüentemente,
estaremos fazendo com que o Prefeito, ao escolher o Vice, não opte apenas por aquele que vai
lhe trazer votos. Temos a responsabilidade do que foi dito no palanque, que tem de estar mais
ou menos ordenado com o que apresentamos no plano plurianual e na LDO. O Vice também
tem de ser responsável por isso.
Sinceramente, gostaria que a PEC fosse aprovada e que a Associação dos
Vice-Prefeitos desse ampla divulgação da matéria, para que seja incluído na proposta de lei
complementar o que estou ressaltando em termos de responsabilidade.
Com relação ao Presidente da Câmara assumir a Vice-Prefeitura, concordaria se fosse
temporariamente. Mas é como foi dito: se o Vice não está participando; o Presidente da
Câmara, muito menos. Se conseguirmos isso, vamos ter mais responsável compromisso
eleitoral com as cidades.
Há uma cidade, cujo nome não vou citar, onde o Vice é inimigo do Prefeito, mas estão
se candidatando juntos, porque só assim vão chegar à vitória. Infelizmente, o Vice vai ter
duas ou três Secretarias para dar aos parentes. Acredito que o Vice nem deveria ser
Secretário. No máximo, poderia ser coordenador das Secretarias, porque ele é mais que um
Secretário. Essa é minha posição.
Fica registrada a sugestão de incluir na minuta, assim que a PEC for aprovada, algo
que faça com que o Vice fique mais engajado e responsável. O Prefeito não deve querer
assumir tudo. Depois, ninguém sabe como ficará a situação no caso de o Prefeito se afastar e,
de repente, o Vice ter de assumir um monte de "pepinos" — entre aspas —, como acontece
em inúmeras cidades do Brasil.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Joaquim Francisco) - Antes de passar a palavra ao
Deputado Rubens Furlan, faço um esclarecimento: disse que, se fosse instado a oferecer hoje
um parecer na condição de Relator — diante da objetividade que se estava querendo dar ao
fato, que não é só jurídico, mas também político —, não haveria solução, com minha
experiência de Prefeito. Ressalto agora, porém, a excelente contribuição dada pelos três
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participantes desta reunião. Se chegarmos à conclusão de que vamos introduzir uma emenda
que servirá de referência e parâmetro para que as Câmaras Municipais, no futuro, editem suas
medidas complementares, tudo bem. Não estamos dizendo que, a partir do dia "x" do
próximo ano, a cidade de Recife terá uma lei complementar fixando as atribuições do
Vice-Prefeito. Vamos induzir, vamos dar um passo para que isso ocorra.
O Deputado Márcio Matos se referiu à Lei de Responsabilidade Fiscal. Eu presidi a
Comissão que trata da Lei de Responsabilidade Fiscal. Houve uma marcha com 1.500
Prefeitos, que vieram dizer que eu estava querendo colocar os Prefeitos na cadeia, acabar a
autonomia municipal, e não se podia admitir que o Congresso Nacional interferisse na
competência municipal. Isso foi há pouco tempo. Terminou no dia 5 de maio.
A lei foi aprovada com 386 votos a favor e 80 contrários, o que, na minha opinião, é
um indicador altamente salutar na política brasileira. Estamos em ano eleitoral, com uma lei
duríssima, com 75 artigos, praticamente proibindo, de uma vez por todas, que se gaste mais
do que se arrecada. Há restrições de fim de mandato, proibindo que os atuais Prefeitos
candidatos, de alguma forma, utilizem a máquina administrativa para sua reeleição. E o
Congresso Nacional a aprovou com 386 votos. As coisas estão mudando positivamente.
O Dr. Regis tem experiência de jurista e advogado. Há interferência do Governo
Federal no Município que restringe e estabelece o quanto deve ser transferido para a Câmara
Municipal. Há também interferência do Poder Judiciário.
Em alguns debates de que participei, chamaram-me de algoz do Poder Judiciário,
porque fixamos 3% da receita corrente e líquida para o Legislativo e Tribunal de Contas e 6%
para o Poder Judiciário. "Como pode? Isso é inconstitucional. Trata-se de autonomia
financeira dos Poderes. Está na moda, a União nunca fez tanta arbitrariedade contra a
autonomia municipal como agora".
Por isso, devemos encontrar o meio termo, procurar o equilíbrio, para que não
estejamos, mais uma vez, atribuindo ao Congresso Nacional a responsabilidade da Câmara
Municipal. Vamos ficar esperançosos, introduzindo o inciso X no art. 30. Dessa forma, as
Câmaras Municipais, os Prefeitos e os Vice-Prefeitos passarão a ter suas atribuições
regulamentadas, o que é justo.
O fato de um companheiro eleito no mesmo palanque ser alijado do processo é uma
barbaridade. Não deveríamos nem estar debatendo a existência disso.
O SR. DEPUTADO FERNANDO ZUPPO - Sr. Presidente, com a devida
aquiescência do Deputado Rubens Furlan, há um ditado popular que diz: "O que é combinado
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não é caro". Hoje, não se combina como se vai administrar o Município. Por isso sai caro.
Uma vez empossado o Prefeito e vitoriosa a coligação, existem as cobranças políticas. V.Exa.
mencionou isso com a maior perfeição possível. É um fato político. Aliás, fiz parte da
Fundação Álvares Penteado e dei aulas no curso de Formação de Gerentes. Eu estava no
curso de São José do Rio Preto, com o Liberato Caboclo, amigo do Dr. Regis, e senti a
preocupação de alguns Prefeitos com relação aos gerentes, porque, como estavam preparados,
passavam a ser adversários em potencial. Todavia, por outro lado, havia um fator positivo,
porque o gerente muito poderia contribuir para que administração daquele Prefeito fosse cada
vez melhor. Devemos superar o fato político e tentar amarrar isso juridicamente, para que a
população não seja enganada, porque as promessas de campanha não correspondem às
realizações da administração. No momento da posse já existe a dicotomia, a separação.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Joaquim Francisco) - Apenas para complementar,
quero dizer que quando aprovamos a Lei de Responsabilidade Fiscal incluímos o que já
existe na Lei Orçamentária, ou seja, a obrigatoriedade do Plano Plurianual. Lembro-me da
discussão com o Ministro Martus Tavares, o Deputado Pedro Novais, Relator da Comissão,
que fez um excelente trabalho, e um grupo de Deputados no Ministério do Orçamento.
Discutiu-se então o prazo para que apresentássemos o Plano Plurianual.
O candidato a Governador, a Presidente da República ou a Prefeito teria prazo até 30
de julho — depois, passou para 30 de setembro — para apresentar o Plano Plurianual para os
quatro anos. Disseram que o prazo era curto, mas argumentei que o Plano Plurianual é o
documento da campanha. Do contrário, poder-se-ia mentir a campanha inteira. Acreditavam
que sete meses — de janeiro a julho — não era tempo suficiente para encaminhar o Plano
Plurianual .
O Plano Plurianual é apresentado em julho, agosto, setembro até outubro, na
campanha. Quando o candidato é eleito, vai somar o projeto de campanha, colocá-lo num
papel e mandar para a Câmara, ou então fará um discurso e na prática não vai querer fazer
mais o que prometeu. O Presidente vetou isso sob o pressuposto de que realmente o prazo era
curto.
Na minha modesta opinião, temos de ter muita cautela com essas incoerências brutais.
O Presidente vetou porque foi pressionado por quem julga curto o prazo de seis meses para
mandar o Plano Plurianual depois de ter sido eleito. É um faz-de-conta, um jogo de
hipocrisia, que atenta contra qualquer organização.
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Temos de ter um pouco de cautela nessa discussão, porque senão entraremos em
brutais contradições. Admitir um discurso que não corresponde a um Plano Plurianual ou
pedir o dobro do prazo para apresentar um plano apresentado na rua é um desrespeito à
inteligência do eleitor.
O SR. DEPUTADO RUBENS FURLAN - Sr. Presidente, Deputado Joaquim
Francisco, meu amigo Regis de Oliveira, Vice-Prefeito de São Paulo, Dr. Nízio Cabral,
Presidente da Comissão Nacional de Vice-Prefeitos, Dr. Marcos Sant'Anna, Vice-Prefeito de
Belo Horizonte, perdi a oportunidade de ouvi-los porque só agora pude chegar a Brasília em
função dos compromissos em Barueri, região oeste da Grande São Paulo. Fui Prefeito por
duas vezes e trago grande e positiva experiência em relação ao cargo de Vice-Prefeito, porque
sempre entendi que o Vice-Prefeito é tão votado quanto o Prefeito. Assim é com o
Vice-Governador e o Vice-Presidente da República. Afinal de contas, quando da articulação
da campanha, vamos buscar o Vice que convenha eleitoralmente. Ou ele é militante de
alguma classe social ou é detentor de parcela do eleitorado que buscamos.
Agora mesmo ouvimos o relato de um colega sobre dois candidato que, juntos,
ganham a eleição; separados, perdem. Portanto, o Vice-Prefeito, nessa composição, também
está sendo votado. Na ocasião, o PFL detinha significativa parcela do eleitorado em São
Paulo, por isso o interesse pela candidatura Regis de Oliveira. Não fosse assim, haveria
dificuldades e poderia até ter perdido a eleição para outras candidaturas bem articuladas.
Descontado o eleitorado do Regis — o do PFL —, a história de São Paulo teria sido mudada.
Sempre entendi isso. Em 1982, quando fui eleito Prefeito de Barueri, o meu Vice-Prefeito foi
meu Secretário de Obras, porque o seu eleitorado vinha de todos os serviços prestados à
comunidade.
Na minha segunda Legislatura na Prefeitura de Barueri, meu Vice-Prefeito foi o meu
Chefe de Gabinete. E o seu eleitorado o via como alguém capaz de articular os vários
segmentos do Governo para a prosperidade da cidade. Essa inclusão, para mim, é o mesmo
caso da discriminação que se faz com a mulher. A lei obriga que 20% das chapas sejam
ocupadas por mulheres. Considero isso uma discriminação. Poderia ter 50%, 70%, 80%, mas
que a representação acontecesse naturalmente em qualquer chapa política. Somos obrigados
a fazer isso por conta daqueles que não observam que o Vice também foi eleito, senão ele
levaria qualquer um.
Em Guarulhos temos uma experiência fantástica. O candidato a Prefeito se julgava o
detentor dos votos da maioria, levou a filha para a Vice e perdeu a eleição. Subestimou o
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eleitor, desclassificou e renegou a classe política. Perdeu uma eleição já ganha. Ele estava
com 70% da preferência do eleitorado; foi caindo, fechou o primeiro turno com 48% e
terminou com 10%, 15%. Foi um erro estratégico de uma das pessoas que mais subestimou a
figura do Vice. Pagou com grande derrota.
Esse tipo de situação tem de ser observada por todos os que articulam uma campanha
eleitoral. O Vice é votado e tem de ser respeitado. Ao desrespeitar o Vice, desrespeita-se o
eleitor.
Apesar de ter perdido a oportunidade de ouvi-los, tenho certeza de que sairia daqui
com mais consistente opinião a favor dessa causa. Mas não há problema, a experiência que
ganhamos ao longo da vida pública é suficiente para dizer a V.Exas. que estou perfeitamente
de acordo com o Deputado Fernando Zuppo e os demais integrantes da Comissão. Vamos
atender às reivindicações dos Vices. Afirmo que isso não seria preciso se todos os homens
públicos deste País tivessem consciência de que a figura do Vice é importante para se ganhar
uma eleição.
Portanto, na minha concepção, o Vice sempre foi votado e tem de ser respeitado,
porque é detentor de parcela do eleitorado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Joaquim Francisco) - Com a palavra o Deputado
Simão Sessim.
O SR. DEPUTADO SIMÃO SESSIM - Sr. Presidente, não era desejo nosso fazer
uso da palavra, até porque chegamos depois da explanação feita pelos nobres convidados.
Saliento que sinto muito orgulho de termos como convidados o Sr. Regis de Oliveira,
eminente jurista e político; o Vice-Prefeito de Belo Horizonte, Sr. Marcos Sant'Anna, e o Dr.
Nízio José Cabral. Associo-me às saudações feitas e cumprimento o nobre colega e meu
sempre Presidente da Comissão, Deputado Fernando Zuppo, pela iniciativa de apresentar essa
proposta.
Como o Deputado Rubens Furlan, fui Prefeito. Fico a me perguntar o que representa a
função do Prefeito em todo o Brasil. Na hora da escolha é como disse o Deputado Rubens
Furlan: cada um busca o melhor. Às vezes, há a preocupação de que o Vice-Prefeito seja um
parente, para evitar o sentimento de desconfiança de que, no futuro, ele possa até provocar o
impeachment do Prefeito.
Há uma série de conjecturas que dão margem a que o Vice-Prefeito passe a ser figura
importante durante a campanha, ele é tido como grande companheiro, a grande namorada,
mas, depois da eleição, passa a ser desprezado, não é ouvido.
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Só para botar um pouco de lenha na fogueira, pergunto aos nobres convidados ou ao
nobre autor do projeto de lei complementar se não haveria possibilidade, logicamente
emendando a Constituição, de se estabelecer algumas obrigatoriedades jurídicas, mesmo
dentro da administração, que conferissem personalidade política eleitoral ao Prefeito.
Por exemplo, o Plano Plurianual é elaborado, como disse o Deputado Joaquim
Francisco, durante a campanha, juntamente com o Vice-Prefeito. Por que não obrigar que, ao
ser enviado para a Câmara, contenha a assinatura do Vice-Prefeito, que seria assim
co-responsável e teria a vantagem de, além de dar respaldo ao plano, participar da sua
elaboração?
Entendo que o orçamento também deveria ter a participação do Vice-Prefeito. Dar-lhe
função administrativa é normal, o projeto está muito bem elaborado. Não devemos, porém,
delegar-lhe somente a função administrativa, mas obrigá-lo a participar de determinadas
decisões.
Durante a campanha, as propostas do Plano Plurianual e do orçamento seriam uma
forma de vincular o Vice-Prefeito ao Prefeito. Isso evitaria algumas atitudes, porque há
Prefeitos que torcem contra.
Tenho dúvidas se haveria possibilidade de dar ao Vice-Prefeito alguma condição de
participar da elaboração do Plano Plurianual e dos orçamentos que são encaminhados à
Câmara, já que hoje ele não tem função alguma.
Era o que tinha a dizer.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Fernando Zuppo) - Deputado Simão Sessim, a
Mesa acolhe as suas propostas.
Passo a palavra ao Dr. Regis de Oliveira, que gostaria de se manifestar sobre o
assunto.
O SR. REGIS DE OLIVEIRA - Ilustre Deputado Simão Sessim, estendo minha
homenagem a V.Exa. e ao Deputado Rubens Furlan.
A postulação que ora se faz é exatamente esta: evitar que o Vice-Prefeito seja apenas
um elemento decorativo na Administração Municipal, que receba sem trabalhar. Se ele não
tem função institucional, não está obrigado, institucional ou legalmente, a fazer nada, pode
ficar — como já comentamos — gostosa e saudavelmente à beira da praia, tomando uma
bebida qualquer e, ao final do mês, receber seu salário ou seu subsídio, como se diz na
terminologia atual, sem que haja nenhum tipo de sanção para isso.
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A idéia proposta e as discussões feitas em torno do assunto têm exatamente o sentido
de fixar atribuições ao Vice-Prefeito. Quais? Aquelas que a Câmara entender cabíveis e
devidas, ou seja, que ele possa participar do colegiado, de discussões, que possa subscrever a
proposta orçamentária, o Plano Plurianual e a LDO juntamente com o Prefeito. Enfim,
assumir compromissos e deveres, como disse o Deputado Rubens Furlan, objetos de
campanha no palanque, em público, e, ao mesmo tempo, ter responsabilidade. Mas, de outro
lado, deve ter suas próprias atribuições.
Na Cidade de São Paulo, não existe Gabinete de Vice-Prefeito. Hoje, para V.Exa. ter
idéia, não tenho um funcionário na Prefeitura de São Paulo, não tenho assessor, não tenho
nada. O Vice-Prefeito não tem quem atenda ao telefone, quem faça um ofício, quem trabalhe
com o computador. Não tem absolutamente nenhum funcionário. Como já disse, não recebo
subsídios. Abri mão deles em agosto de 1997, quando rompi com o atual Prefeito.
Então, é fundamental que o Congresso Nacional defina as atribuições do
Vice-Prefeito. Até apresentei uma alternativa: se o Vice-Prefeito não faz nada, então que se
extinga a sua figura. Ele não serve para nada!
O Deputado Fernando Zuppo e outros ponderaram sobre as promessas de campanha,
se é que existiram, e sobre a vinculação do Prefeito à Presidência da Câmara. No caso, o
Vice-Prefeito assumiria o mandato do Prefeito e poderia não estar em sintonia com ele,
poderia pertencer a outro partido, ter outra ideologia, não estar disposto a cumprir os
compromissos que o Prefeito vinha desenvolvendo, as obras de que vinha tratando. Enfim,
para evitar essa falta de sintonia entre ambos, no caso de manutenção da figura do
Vice-Prefeito, que a ele fossem estabelecidos direitos e, de outro lado, deveres, sujeitando-o
também às sanções da Lei de Responsabilidade Fiscal. Além disso, que tenha pelo menos um
gabinete de trabalho, com funções adequadas, estrutura própria, veículo de representação —
afinal, ele também representa o Município, ainda que em caráter secundário —; que tivesse
atribuições delimitadas em lei.
Até sugeri, ao pé do ouvido do ilustre Presidente Joaquim Francisco, que
estabelecesse disposição transitória, caso acolha a proposta do Deputado Fernando Zuppo,
fixando um prazo de seis meses para o encaminhamento do projeto de lei complementar, sob
pena de perder o poder de iniciativa. A Câmara é que faria esse projeto. Dei essa idéia a
S.Exa.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Fernando Zuppo) - Deputado Simão Sessim,
V.Exa. quer fazer alguma observação?
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O SR. DEPUTADO SIMÃO SESSIM - Não, Sr. Presidente. Ao contrário, com a
resposta dada pelo Dr. Regis de Oliveira, ex-Deputado Federal, Vice-Prefeito e
desembargador, obtive a complementação do que imagino.
Vejo que começa a emergir na Casa esse sentimento. É preciso explorá-lo logo, para
que tenhamos essa emenda aprovada o mais rapidamente possível, a fim de que, se houver
tempo, possa vigorar a partir desta eleição.
Fiquei satisfeito. Era exatamente isso o que eu queria. Devemos institucionalmente
dar ao Vice-Prefeito deveres, mas também funções que possam enobrecê-lo e fazer com que
participe da administração.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Fernando Zuppo) - Com a palavra o Deputado
Rubens Furlan.
O SR. DEPUTADO RUBENS FURLAN - Não concordo com o Deputado Joaquim
Francisco quando S.Exa. diz que haveria ingerência do Parlamento em relação aos
Municípios.
Desde que a Constituição instituiu a figura do Vice-Prefeito, acho absolutamente
necessário que ela crie um mecanismo para que o Vice-Prefeito possa ser útil. Acho até que
questões da natureza da LDO já deveriam ser estabelecidas nessa emenda.
Gostei da idéia do Deputado Simão Sessim no sentido de que não fique por conta de
cada Câmara Municipal. Alguma coisa já deveria ser atribuída por meio de uma lei nossa,
para que não se apresente uma situação em que um Município faz e outro não. O Deputado
Simão Sessim falou dos compromissos assumidos em campanha. Normalmente o
Vice-Prefeito, no palanque, complementa o discurso do Prefeito. Quando se unem duas
ideologias numa só candidatura, um vem entendendo que deve fazer um trabalho social mais
forte; o outro, que se deve fazer um trabalho de infra-estrutura mais forte. No palanque,
porém, os dois se compatibilizam, e o povo, naturalmente, acredita no discurso dos dois.
Então a minha opinião é a de que, principalmente no que diz respeito ao orçamento e
à LDO, deve haver co-responsabilidade, e os dois seguirem juntos. A partir daí, quanto ao
entendimento deles, se vão ser ou não amigos, já não é problema nosso. Agora, o que vai
acontecer na Câmara de Vereadores é que a força de um Prefeito vai determinar, num
primeiro momento, a posição do Vice, que talvez comece a criar um problema que não seja
tão adequado aos discursos que fizeram: "Sou mais!"
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Precisamos mudar a própria cultura política, que é muito ruim. No nosso País, as
pessoas não dão valor ao que elas próprias dizem. Essa cultura tem de ser mudada, e tem de
começar pelo Congresso Nacional. É o meu ponto de vista.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Fernando Zuppo) - Antes de passar a palavra ao Dr.
Nízio Cabral e ao Dr. Marcos Sant' Anna para que apresentem suas considerações finais,
quero agradecer ao Dr. Régis de Oliveira que, por ter viagem marcada, precisa ausentar-se da
Comissão.
Sua presença, Dr. Régis, foi valiosíssima para prosseguirmos nossos trabalhos.
Passo a palavra ao Dr. Nízio Cabral e, em seguida, ao Dr. Marcos Sant'Anna, para que
possamos fechar a reunião.
O SR. NÍZIO JOSÉ CABRAL - Na condição de Presidente Nacional da Comissão
de Vice-Prefeitos, quero expressar minha satisfação em poder estar aqui neste momento e
constatar que os Srs. Deputados têm o mesmo sentimento dos Vice-Prefeitos que participam
dos vários encontros e reuniões que realizamos em todo o nosso País. Inclusive, sábado
próximo, estarei em Belo Horizonte, no 3º Encontro Nacional de Vice-Prefeitos. Por ocasião
do 2º Encontro, também em Belo Horizonte, reunimos mais de 180 Vice-Prefeitos, dos mais
longínquos recantos do País.
O Deputado Rubens Furlan, com muita propriedade, abordou a necessidade de se
mudar nossa cultura política, nossa mentalidade política, o que deixou muito emocionado.
Durante o debate, frisamos muito a necessidade de mudança da mentalidade política
com relação à figura do Vice-Prefeito. Porque na verdade, uma vez eleitos Prefeito e
Vice-Prefeito, o povo de fato quer ver também a atuação do Vice-Prefeito. E ele é cobrado
nesse sentido, mas não dispõe de mecanismos para dar ao povo, ao eleitor, no dia-a-dia, o que
prometeu na campanha, nos comícios.
O Deputado Simão Sessim abordou muito bem a questão da participação do
Vice-Prefeito no que respeita à própria Lei de Responsabilidade Fiscal, do orçamento
público.
Vejam V.Exas. que o primeiro ato do Prefeito eleito é exatamente o de nomear o seu
Secretariado, e, na grande maioria dos casos, não há aí a mínima participação do
Vice-Prefeito, quando esse ato deveria conjunto dos dois eleitos, Prefeito e Vice-Prefeito. E
isso não ocorre, o que é motivo de debate nas nossas reuniões, nos nossos encontros e nos
nossos seminários.
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Quanto à idéia de o Presidente da Câmara Municipal assumir a posição de Prefeito,
eliminando-se a figura do Vice-Prefeito, com certeza também não é boa e não contribui para a
democracia. Porque se a Prefeitura estiver numa crise institucional ou política, o Prefeito
pode muito bem se licenciar. E quem irá assumir e resolver aquela crise? O Presidente da
Câmara. No momento em que a crise estiver resolvida, o Prefeito reassume o cargo. E, de
fato, o Presidente da Câmara não foi eleito para a esfera do Executivo e sim para a esfera do
Legislativo.
De forma bastante calorosa, quero externar a minha satisfação aos Srs. Deputados
quanto a este debate, porque ouvi nesta Casa, neste Plenário depoimentos que vêm ao
encontro do sentimento dos Vice-Prefeitos de todo o País e, tenho certeza, de toda nossa
população.
Obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Fernando Zuppo) - Com a palavra o Dr. Marcos
Sant' Anna.
O SR. MARCOS V. SANT'ANNA - Obrigado, Sr. Presidente. Nessas palavras
finais, quero dizer que quando concordei com o Vice-Prefeito Régis de Oliveira sobre a
possibilidade de extinção, eu não quis dizer que essa fosse uma proposta preferencial.
Entretanto, a permanecer como está, para não ter nenhuma responsabilidade, então talvez
fosse melhor sim. Somente neste caso, não é uma proposta preferencial.
Da mesma forma, quando mencionei a possibilidade de ser substituído pelo Presidente
da Câmara, também não é esta a minha proposta preferencial. Quero dizer apenas que não se
trata de nenhuma calamidade. Nos regimes europeus, em vários países que conheço, no caso a
Itália, a Suíça e a Inglaterra, o Poder Executivo Municipal é exercido pelos conselheiros
municipais, portanto pelos Vereadores, e até mesmo em sistema de rodízio. Por exemplo, na
Suíça, o Prefeito tem o mandato de um ano, na Inglaterra também. Um dos conselheiros faz o
rodízio dentro da própria Câmara. Portanto, não seria uma calamidade. Mas esta também não
é uma proposta prioritária, cito apenas para comparar com o estado de coisas atual.
Não foi mencionado — e acho importante lembrar — o compromisso que têm
Prefeito e Vice-Prefeito desde a campanha. Disse e repito: muitas vezes é uma conjuntura
meramente eleitoral, o que foi reforçado aqui por todos, e, portanto, tem muitas chances para
não dar certo. Se até o casamento, instituição sagrada da nossa civilização — e digo isso
muito à vontade, porque tenho 35 anos de casado — é um negócio que pode não dar certo,
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apesar do compromisso de intenção inicial, o que dirá de um compromisso eleitoral
momentâneo, numa conjuntura conveniente naquele momento.
E, também muito à vontade, digo mais: havendo conflito, depois daquele
compromisso inicial, sendo eu Vice-Prefeito, acho que a prioridade é do Prefeito, sim.
Embora eu seja seu substituto, a prioridade é do Prefeito. O Prefeito é que tem a preferência
nesse conflito. Se tiver de haver alguma preferência, terá de ser ao Prefeito, porque foi nele,
de fato, apesar da legitimidade do voto dado ao Vice-Prefeito, que votaram. Concordo que a
preferência seja dele.
A minha preocupação — e garanto que não estou preocupado com o bem-estar nem
dos Vice-Prefeitos nem dos Prefeitos —, é com a cidade. O prejuízo maior desse conflito,
dessa falta de regras é da cidade. Pouco importa se sai prejudicado o Prefeito ou o
Vice-Prefeito. Nesse processo, essa é uma questão menor. A cidade é que sai prejudicada,
quando o conflito se instala. E, repito, há muitas razões para se instalar: eleitorais, políticas,
pessoais etc. e tal.
Foi mencionado outro ponto muito importante. Sugeriu-se atribuir ao Vice-Prefeito
determinado nível de autonomia e responsabilidade. Concordo com tudo isso. Não me
furtaria, quer dizer, não teria medo algum de participar dessa responsabilidade. Mas a
responsabilidade que ele deve e precisa ter é a que lhe dá autoridade. E reclamamos isso. Mas
esse é um conflito maior que está mal resolvido nas nossas administrações. E cito como
exemplo — não preciso localizar esse caso — o caso de um Prefeito que demitiu o auditor
do Município.
Ora, no setor privado, por exemplo — sou desse setor —, a empresa gasta dinheiro
para ter um auditor, para dizer quando ela estiver errando, e paga porque, por meio desse
grande serviço que o auditor presta, pode evitar errar ou consertar o erro que cometeu.
Sei de caso em que o auditor municipal aponta um erro e, como resultado, é demitido.
Quer dizer, quem está defendendo o cidadão? O auditor é demitido porque apontou um erro
da administração. Ora, presta um grande serviço público e é demitido!
O Vice-Prefeito — e esse é o problema —, porque tem mandato, não é demissível, ele
tem autonomia. E se vier a ter de assinar junto, como proposto e é de minha concordância, o
plano plurianual, o orçamento e outros atos, ele passa a ter essa autoridade, e não pode ser
demitido. Ele será útil, sim. Aí é uma espécie de fiscal não demissível, coisas que as
economias modernas fazem com o banco.
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O Presidente do Banco Central, tese que não cabe aqui, é independente e não pode ser
demitido pelo Presidente. Existem figuras, como a do gerente da cidade, que em alguns
lugares é nomeado e não é demissível, ele tem mandato garantido em várias outras ...
O SR. PRESIDENTE (Deputado Fernando Zuppo) - Ele assina compromisso de que
não vai ser candidato.
O SR. MARCOS V. SANT'ANNA - Pois é, ele pode assinar o compromisso de não
ser candidato, tudo bem, mas ele tem mandato garantido. Essa é a figura mais importante.
Quando o Deputado Joaquim Francisco mencionou o fato de o gerente do prezado Prefeito
Roberto Magalhães, por quem tenho muita admiração e respeito, data venia, não me agradou
sua manifestação. Se a figura do gerente for boa para cidade, não será por que ele poderia
ameaçar o Prefeito que não deverá ser aceito. Então, é importante definir isso.
Devemos ser prudentes, comedidos e sérios. As atribuições que se espera sejam dadas
ao Vice-Prefeito também devem ser moderadas, porque elas lhes darão autoridade, embora
pequena, e limitações de campo de autoridade, de autonomia, de responsabilidade e de
instrumento. Isso é da maior importância para a comunidade, na medida em que o
Vice-Prefeito estará imune a ser demitido por não ocupar cargo de confiança — embora tenha
sido desde o dia da composição até à eleição, alguém da confiança do Prefeito.
Então, é fiscal, sim. E a cidade precisa de fiscais. Já é difícil o Poder Legislativo
exercer o seu papel fiscalizador. Os Srs. Deputados sabem o quanto é difícil o Poder
Legislativo desempenhar esse papel. Nas Câmaras de Vereadores com mais razão ainda;
também os Tribunais de Conta não conseguem realizar o seu trabalho. Se tivesse alguém no
Poder Executivo não demissível, não cooptável, não subordinado a determinados
procedimentos, poderia ser um fiscal, e quem ganharia com isso não seria o Vice-Prefeito.
Digo isso muito à vontade, porque estou saindo. O ganhador seria a sociedade que teria na
administração alguém atento e preservado na sua autoridade, ainda que limitada, para uma
fiscalização permanente, o que certamente exigiria do Poder Executivo Municipal maior
cuidado.
Portanto, sou defensor dessa tese. Não sei dizer o que deve ser feito, embora
comungue com a proposição do Deputado Fernando Zuppo. Participei de algumas discussões
com os companheiros Vice-Prefeitos. V.Exas. estão no caminho certo, mas é necessário que
algo seja feito, porque quem ganha, nesse processo, não é o Vice-Prefeito, repito, mas a
cidade, e de maneira bastante clara.
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Agradeço à Comissão a oportunidade de manifestar meu ponto de vista, e o faço com
muita tranqüilidade exatamente pelo fato de ter adquirido experiência nesse sentido. E não
estou fazendo, de maneira alguma, postulações de natureza pessoal.
Era o que tinha a dizer. Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Joaquim Francisco) - Agradeço aos Srs. Regis de
Oliveira, Nízio José Cabral e Marcos Sant'Anna as importantes participações.
Vou encerrar a presente reunião, antes convocando para amanhã, às 14h, reunião
interna, a pedido do Presidente Coriolano Sales, para traçarmos um roteiro de trabalho para o
mês de outubro.
Está encerrada a reunião.
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