cama de cimento - pronto
Post on 15-Feb-2015
515 Views
Preview:
TRANSCRIPT
CHIAVERINI, Tomás. Cama de Cimento: uma reportagem sobre o povo das ruas.
1º ed. Rio de Janeiro: Ediouro, 2007.
Tomás Chiaverini nasceu em São Paulo no ano de 1981, formado em
jornalismo em 2004, pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Logo que se
formou começou a trabalhar como free-lancer, passou cinco meses na região do
Amazônia elaborando reportagens sobre conflitos indígenas.
No ano de 2005 dedicou-se para a elaboração do livro Cama de Cimento, que
retrata a vida dos moradores de rua. Para isso, teve que se disfarçar de morador de
rua, passando as noites nas ruas ou em baixo de viadutos, e algumas noites em
albergues da prefeitura. Com isso alem, de presenciar a vida dos mendigos pode
entrevistar vários desabrigados, saber o que os levaram a tal situação e a
possibilidade de sair das ruas.
Cama de cimento: uma reportagem sobre o povo das ruas trata-se de um
livro-reportagem, publicado no Rio de Janeiro pela editora Ediouro no ano de 2007.
E tem como objetivo falar sobre as pessoas desabrigadas de São Paulo, os
albergues das prefeituras e a marginalidade contra os moradores de ruas.
Em sua obra Tomas conta a historia de alguns moradores, o que os levaram a
serem moradores de ruas, na maioria dos casos, a procura de uma oportunidade de
emprego em São Paulo fez com que eles saíssem de suas cidades, alguns relatam
que foi devido a briga familiar, ou devido a vícios que mantinham e a família não
aceitava. Há ainda crianças que saem de casa e vão para as ruas, pois em casa são
agredidas, geralmente pelo companheiro de seu pai/mãe.
Quase que unanime, os moradores de ruas tornam-se viciados, geralmente
em álcool, por ser uns dos vícios mais barato para se manter. Usam o vicio como
uma forma de saída para esquecer os problemas e até mesmo para suportar os frios
das madrugadas de inverno.
Tomas traz no texto alguns dados sobre os vícios no Brasil, sendo no topo do
ranking o álcool com 68,7% do total, seguido pelo cigarro com 41,1%, pela
maconha, 6,9%. Os solventes estão em quarto lugar com 5,8% e a cocaína ocupa a
sétima posição com 2,3%.
O álcool quando ministrado juntamente com outra droga faz com que seu
efeito seja ainda maior e pode até mesmo levar a morte, mais ainda levando em
consideração que os moradores de ruas não possuem uma alimentação adequada,
dificilmente quando comem.
Durante a noite os albergues da cidade que são mantidos pela prefeitura,
recolhem os desabrigados para passar apenas a noite nessas casas. Alguns se
recusam a ir, devido não ser mais acostumados a terem regras, pois nos albergues
tem hora para comer, para tomar banho, para dormir e para sair, além das estruturas
serem na maioria dos casos precárias.
A obra traz um fato curioso que não foi possível ser provado. No ano de 1960,
no estado de Guanabara, atualmente Rio de Janeiro, o então governador Carlos
Lacerda, foi acusado de esta promovendo a higienização do estado através do
extermínio dos mendigos, pois foram encontrados vários corpos boiando no rio
Guandu. Pela falta de provas, nada foi feito.
Fazendo uma ligação da obra com a Constituição Federal nos deparamos
com a violação de alguns fundamentos constitucionais. Podemos citar a principio a
dignidade da pessoa humana.
Para que se possa viver com dignidade é necessário o mínimo existencial. A
dignidade é essencialmente um atributo da pessoa humana pelo simples fato de ser
humana, merece respeito, independente da sua origem, a sua raça, sexo, idade,
estado civil ou independentemente da sua condição social e econômica.
A dignidade da pessoa humana é um principio fundamental, sendo inerente a
todas as pessoas, visa proteger o ser humano contra tudo que lhe possa levar ao
menoscabo.
Segundo Ingo Wolfgang Sarlet, cada ser humano, em virtude de sua
dignidade, merecedor de igual respeito e consideração no que diz com sua condição
de pessoa, e que tal dignidade não poderá ser violada ou sacrificada, nem mesmo
para preservar a dignidade de terceiros.
No segundo fundamento violado destacamos o que traz o art 3°, “erradicar a
pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais”. Na
emenda constitucional n° 31, de 14 de dezembro de 2000, temos no art. 80 o que
compõem o fundo de combate à erradicação da pobreza. Mesmo com tantas normas
para se respaldar, o numero de moradores de ruas, os que vivem em condições de
pobreza esta em ascensão. Talvez a forma adotada pelo Brasil em suas infinitas
bolsas (família, gás, novela, etc.,) não seja a mais adequada, pois em alguns casos,
as pessoas tem a ajuda do governo e preferem continuar na pobreza para ter essa
ajuda do que estudar e procurar um emprego, acaba que sendo cômodo.
No art 5°, onde se trata dos direitos e garantias fundamentais, temos a
violação da igualdade e da segurança. No dicionário de direitos humanos, a
definição de igualdade é como um valor que reconhece que todos são iguais perante
a lei. O conceito esta ligado ao principio da não discriminação, portanto não pode
haver discriminação entre pessoas por terem realizado determinadas escolhas. É
nítido a desigualdade social em relação aos moradores de ruas, esses que nem são
notados pela sociedade, a não ser quando esta atrapalhando a passagem em
alguma loja, ou quando estão pedindo o que comer, mas também não se pode
generalizar, pois alguns desses moradores de ruas são uma ameaça para a
sociedade, por matarem ou roubarem, mas isso também se da devido a falta de um
Estado com políticas publicas para adaptação e reinserção desse individuo na
sociedade.
A segurança faz as pessoas se sentirem confortáveis, tranquilas, sem medos
e ameaças constantes. É um direito individual, o Estado deve assegurar a todos os
residentes e domiciliados a ter segurança garantida. Assim como a igualdade a
segurança também deixa a desejar. É fato a violência contra os moradores de ruas,
que às vezes parte até mesmo daqueles que praticam a segurança publica, os
próprios policiais. Como retratado no livro, pessoas abastadas comete violência a
esses que estão jogados nas ruas, ateiam fogo e se deslumbrar por ver os mendigos
ser queimados vivo. Esses desocupados usam isso como mera distração, aventura,
e são capazes de se enaltecerem por tamanha ousadia.
O art 6° da constituição traz: “são direitos sociais a educação, a saúde, a
alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a
proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma
desta constituição”. Este artigo só confirma o total descaso do Estado com os
desabrigados, pois nenhum desses direitos é respeitado.
Pelo conteúdo descritivo da obra, dos fatos verídicos coletado nas ruas de
São Paulo, Cama de Cimento é uma obra recomendada para todas as pessoas que
desenvolve alguma atividade voltada para as relações humanas, até mesmo para
pessoas que acham que esses que moram na rua não são humanos que não
precisam de ajuda, é uma obra indicada para a população em geral, e ainda serve
como uma base para abrirmos os olhos para a realidade de muitos e para termos
capacidade e fundamento de cobrar de nossos políticos, que em época de
campanha comprometem-se em varias quesitos mais quando são eleitos, não fazem
o mínimo que se falou, esquecendo-se dos menos favorecidos que são os que mais
necessitam de apoio do Estado, precisam de oportunidades para aprender uma
profissão e poder voltar para o mercado de trabalho e ter a capacidade de se
sustentarem, para que sejam garantidos seus direitos de acordo como esta na
constituição.
top related