barreiras e determinantes da intenÇÃo de procura de...
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BARREIRAS E DETERMINANTES DA INTENÇÃO DE PROCURA DE AJUDA INFORMAL NA DEPRESSÃO
Luís Manuel de Jesus Loureiro(1)
(1) Professor Adjunto; ESEnfC-UICISA:E. Escola Superior de Enfermagem de Coimbra
luisloureiro@esenfc.pt
No âmbito do projeto Educação e Sensibilização para a Saúde Mental: Um Programa de Intervenção com base na Escola para Adolescentes e Jovens [PTDC/CPE-CED/112546/2009], inscrito na UICISA:E da ESEnfC, financiado por fundos nacionais através da FCT/MCTES (PIDDAC) e co-financiado pelo FEDER através do COMPETE – POFC do QREN.
Abstract:Depression is a highly prevalent disorder in adolescents and young adults, and may
significantly affect their development potential and endanger the personal and
professional future. In this sense, seeking informal help is considered a first step to
accessing health care, avoiding the worsening of problems and its evolution to
chronicity situations.
Data from the present quantitative study (descriptive-correlational), [framed in a project
(PTDC/CPE-CED/112546/2009), funded by national funds FCT/MCES (PIDDAC) and
co-financed by FEDER through COMPETE - POFC of QREN], were collected through
the application of QuALiSMental (Loureiro, Pedreiro & Correia, 2012) to a sample of
4938 adolescents and young people, who attend 3rd cycle and secondary education
schools in the center region of mainland Portugal. The results of the study show that 3
in every 5 adolescents and young people would ask for help in a depression situation.
Familiarity with depression does not contribute to help seeking neither the accentuated
personal and perceived stigma about depression. We conclude that it is essential to
intervene in terms of the creation and development of programs aimed at increasing
mental health literacy of adolescents and young people.
Keywords: Mental health literacy; adolescents and youth; help-seeking; depression
Resumo:
733International Journal of Developmental and Educational Psychology INFAD Revista de Psicología, Nº1-Vol.1, 2013. ISSN: 0214-9877. pp: 733-746
A depressão é uma perturbação com elevada prevalência nos adolescentes e jovens,
podendo afectar de modo significativo o seu potencial de desenvolvimento e
comprometer o futuro pessoal e profissional. Neste sentido, a procura de ajuda informal
é considerada um primeiro passo para o acesso aos cuidados de saúde, evitando o
agravamento dos problemas e a sua evolução para situações de cronicidade.
Os dados do presente estudo quantitativo (descritivo-correlacional), [enquadrado num
projecto (PTDC/CPE-CED/112546/2009), financiado por fundos nacionais
FCT/MCTES (PIDDAC) e cofinanciado pelo FEDER através do COMPETE – POFC
do QREN], foram colhidos a partir da aplicação do QuALiSMental (Loureiro, Pedreiro
& Correia, 2012) a uma amostra de 4938 adolescentes e jovens, que frequentam escolas
do 3.º ciclo e Ensino Secundário da região centro de Portugal Continental.
Os resultados do estudo mostram que 3 em cada 5 adolescentes e jovens pediriam ajuda
numa situação de depressão. A familiaridade com a depressão não contribui para a
procura de ajuda nem o acentuado estigma pessoal e percebido acerca da depressão.
Conclui-se que é fundamental intervir em termos da criação e desenvolvimento de
programas cujo objectivo se centre no incremento da literacia em saúde mental de
adolescentes e jovens.
Palavras-chave: Literacia saúde mental; adolescentes e jovens; procura de ajuda; depressão
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Barriers and determinants in the intention of informal help seeking for depression
Introdução
A procura de ajuda em saúde mental tem sido afirmada como uma componente
significativa a ter em conta nos programas de educação, promoção e sensibilização para
a saúde e prevenção das doenças mentais, especificamente entre adolescentes e jovens
(Rickwood, Deane, Wilson, & Ciarrochi, 2005; Biddle, Donovan, Sharp, & Gunnell,
2007). A maioria das perturbações mentais tem o seu pico na adolescência, sendo que
50% das pessoas que virão a sofrer de uma perturbação mental terão o seu primeiro
episódio antes dos 18 anos (Kelly et al., 2011).
Os estudos revelam que a maioria das pessoas não acede aos serviços de saúde
mental e por isso não recebe cuidados de saúde adequados (Rickwood & Thomas,
2012), estimando-se que aproximadamente 70% das pessoas que sofrem de alguma
perturbação mental não procuram ajuda especializada em saúde mental (Farrer, Leach,
Griffiths, Christensen, & Jorm, 2008). Acresce ainda o facto de a procura de ajuda ser
menos provável ocorrer entre os 16 e os 24 anos (Andrews, Issakidis, & Carter, 2001;
Biddle et al., 2007), a que não é alheio o facto de os adolescentes e jovens serem os
grupos com menor contacto com os serviços de saúde.
O conceito de procura de ajuda em saúde mental é complexo, tendo subjacente
um conjunto de teorias e modelos diferenciados, contudo todos os modelos referem a
necessidade de ter em conta o peso dos aspetos psicológicos e sociais nos
comportamentos de procura de ajuda em saúde (Gulliver, Griffiths, Christensen, &
Brewer, 2012; Jorm, 2012; Loureiro et al., 2012; Rickwood & Thomas, 2012).
O conceito de procura de ajuda em saúde mental, pode ser entendido, segundo
Rickwood et al., (2005), como um processo que envolve a decisão de partilhar um
domínio pessoal e íntimo (da pessoa em sofrimento) para o domínio interpessoal da
relação com o profissional de saúde.
Esta procura comporta diferentes estágios, nomeadamente o reconhecimento e
consciência que o indivíduo tem do seu problema e do modo como este o afecta,
requerendo a ajuda de outra pessoa; a perceção de que é capaz de expressar através da
linguagem o que sente (sintomas) e que o outro (profissional) o entende e valoriza; a
análise da disponibilidade das fontes de ajuda que podem contribuir para a resolução do
problema; vontade em procurar ajuda e decisão para a ação.
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A literatura evoca uma ordem diversa de fatores que são considerados como
potenciadores, quer do favorecer, quer do inibir ou adiar da procura de ajuda. Destaca-
se a literacia em saúde mental (Jorm, 2012), e o estigma pessoal e percebido acerca da
depressão (Loureiro, Dias e Oliveira, 2008; Calear, Griffiths, & Christensen, 2011),
sendo o estigma uma barreira invisível muito relevante.
No caso dos adolescentes e jovens, os estudos permitem observar, ao nível dos
comportamentos de procura de ajuda na depressão, que são valorizadas as fontes de
ajuda informal, especificamente pais, namorados, amigos e professores (Rickwood et
al., 2005; Jorm, 2012), muitas vezes em detrimento dos profissionais de saúde. Ainda
que seja fundamental a ajuda destas pessoas, isto porque a intenção de procura de ajuda
aumenta quando esta é aconselhada por alguém próximo, é muitas vezes referido que a
escuta dos familiares e pares pode adiar ou impedir a procura de ajuda profissional
(Jorm, 2012).
Existem diferentes impedimentos ou barreiras à procura de ajuda, destacando-se,
entre outros, as características pessoais (ex.: timidez), anonimato, confidencialidade,
acessibilidade, crenças acerca dos tratamentos e estigma percebido (Jorm, 2000; 2012)
que podem ser um entrave à procura de ajuda.
No caso Português, existe um número escasso de estudos que avaliem as
barreiras e determinantes da intenção de procura de ajuda informal na depressão, assim
como intervenções e programas centrados na promoção da procura de ajuda, excepção
para o programa «Feliz Mente» (http://felizmente.esenfc.pt) comparativamente ao que
vem sendo feito noutros países (Austrália; Reino Unido; Canada; EUA). Contudo, o
plano português para a saúde mental (Ministério da Saúde, 2008) prevê a realização de
programas e acções de educação e promoção da saúde e prevenção das perturbações
mentais junto de adolescentes, jovens, incluindo os profissionais de educação.
Neste sentido foi desenvolvido o presente estudo com os seguintes objectivos: a)
caracterizar a intenção de procura de ajuda informal, barreiras percebidas, estigma
pessoal e percebido em relação à depressão, dos adolescentes e jovens entre os 14 e os
24 anos que frequentam escolas do 3.º ciclo e ensino secundário da região centro de
Portugal Continental; b) identificar os preditores da intenção da procura de ajuda em
saúde mental ao nível da depressão.
Metodología:
Questões de investigação:
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De modo a dar resposta aos objectivos apresentados foi desenvolvido um estudo
de natureza quantitativa, descritivo-correlacional com as seguintes questões de
investigação:
Q1: Quais as barreiras percebidas como impedimento à intenção de procura de
ajuda e níveis de estigma pessoal e percebido acerca da depressão?
Q2: Quais as pessoas privilegiadas pelos adolescentes e jovens em termos de
intenção de procura de ajuda informal ao nível da depressão?
Q3: Quais os preditores da intenção da procura de ajuda informal ao nível da
depressão?
Amostra:
A amostra deste estudo é constituída por 4938 adolescentes e jovens
selecionados dos alunos que frequentam as escolas do 3.º ciclo dos ensinos básico e
secundário da Direção Regional de Educação do Centro (DREC), tendo sido utilizada
uma amostragem multi-etapas por clusters, recorrendo ao Random Sequence Generator
para a seleção das escolas e turmas.
Relativamente às características sociodemográficas da amostra, 43.3% são do
género masculino e 56.7% do género feminino, com idades compreendidas entre os 14 e
os 24 anos, sendo que 69.6% têm idade inferior a 18 anos, enquanto 30.4% tem idade ≥
18 anos. A média de idade da amostra é de 16.75 anos com um desvio padrão de 1.62
anos).
Instrumento:
Dado que as diversas variáveis em estudo (intenção de procura de ajuda;
barreiras à procura e fontes informais de ajuda; estigma pessoal e estigma percebido;
familiaridade com a depressão), incluindo as sociodemográficas (género e idade) são
componentes da literacia em saúde mental, foram utilizados itens de diferentes
subescalas do Questionário de Avaliação da Literacia em Saúde Mental –
QuALiSMental. A descrição detalhada do instrumento encontra-se em Loureiro,
Pedreiro & Correia (2012). Todas as questões são precedidas por uma vinheta relatando
um caso de depressão de uma jovem com 16 anos chamada Joana, de acordo com os
critérios de diagnóstico da DSM IV-TR (Associação Americana de Psiquiatria, 2006),
que se apresenta de seguida:
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«A Joana é uma jovem de 16 anos que se tem sentido invulgarmente triste durante as últimas semanas. Sente-se sempre cansada e tem problemas para adormecer e manter o sono. Perdeu o apetite e ultimamente tem vindo a perder peso. Tem dificuldade em concentrar-se no estudo e as suas notas desceram. Mesmo as tarefas do dia-a-dia lhe parecem muito difíceis, pelo que tem adiado algumas decisões. Os seus pais e amigos estão muito preocupados com ela».
Procedimentos de colheita de dados:
O instrumento de colheitas de dados foi submetido à Direcção-Geral de
Inovação e de Desenvolvimento Curricular do Ministério da Educação do Governo
Português e foi enviado à Comissão de Ética da Unidade de Investigação em Ciências
da Saúde: Enfermagem da Escola Superior de Enfermagem de Coimbra. Em ambos os
casos o parecer foi positivo, tendo sido aprovada a sua utilização e autorizada para a sua
aplicação. Dadas as características da amostra (na maioria menores de idade), o
instrumento era acompanhado pelo formulário de consentimento informado para assinar
pelos pais/encarregados de educação, ou, nos casos em que os jovens tinham idade
superior a 18 anos, um formulário de consentimento próprio.
Tratamento de dados:
O tratamento de dados foi realizado com recurso ao software SPSS Statistics (V.
20 IBM SPSS IL), tendo sido calculadas as estatísticas resumo adequadas e as
frequências absolutas e percentuais pelo procedimento de Tabelas de Respostas
Múltiplas, como análises de Regressão Logísticas pelo método enter e Forward LR.
Resultados:
Quando questionados sobre se pediriam ajuda numa situação semelhante à
descrita na vinheta, 61.7% (Intervalo de confiança 95.00%: 60.33% - 63.04%) da
amostra refere que pediria ajuda.
Posteriormente e no sentido de caracterizar as barreiras percebidas como
impedimentos à intenção de procura de ajuda e níveis de estigma pessoal e percebido
acerca da depressão, calcularam-se, fazendo recurso ao procedimento de tabelas de
respostas múltiplas, as frequências absolutas e percentuais para os itens dos
impedimentos, tendo por base a contagem das concordâncias. Para o estigma pessoal e
percebido acerca da depressão, calcularam-se as estatísticas resumo dos scores das
subescalas.
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Como se pode observar (tabela 1), o que constitui impedimento para a procura
de ajuda: ser tímido e ter vergonha (47.6%), pensar que a pessoa pode contar a outra
(39.7%), pensar que nada poderá ajudar (35.9%) e não valorização os sintomas (35.6%).
O item com menor percentagem de concordância é os adolescentes e jovens pensarem
que as outras pessoas estão a ter ajuda de um profissional de saúde (7.2%).
Relativamente ao estigma pessoal e percebido, verifica-se que em média é
superior o estigma percebido (=21.61), comparativamente ao estigma pessoal (=15.50).
Tabela 1 - Distribuições de frequências absolutas e percentuais das concordâncias assinaladas nos impedimentos à procura de ajuda e estatísticas resumo dos scores do
estigma pessoal e percebido (N=4938)Barreiras: n.º %
Pensar que a pessoa fica com uma opinião negativa sobre mimPensar que a pessoa não valoriza o que eu digoPensar que a pessoa possa vir a contar a outras pessoasPensar o que a pessoa possa vir a pensar sobre mimPensar que nada me poderá ajudarPensar que se poderá saber que estou a ter ajuda de um profissional de saúdePensar que poderei ter dificuldades em aceder a essa pessoa/profissional de saúdePensar que o tratamento tem efeitos secundáriosSer muito tímido, sentir vergonha
121016791871105516933394647152242
25.735.639.722.435.97.29.815.247.6
Scores: sEstigma pessoal acerca da depressão Estigma percebido acerca da depressão
15.5021.61
3.775.34
De modo a dar resposta à 2.ª questão de investigação (quais as pessoas
privilegiadas pelos adolescentes e jovens em termos de intenção de procura de ajuda
informal em saúde mental, ao nível da depressão?) procedeu-se à realização de uma
análise de regressão logística tendo como critério a resposta à intenção de pedido de
ajuda (Não=0; Sim=1), no caso de sofrer de um problema idêntico ao da Joana. Como
preditores foram consideradas as fontes informais de ajuda: mãe, pai, amiga(o),
namorada(o) e professor(a). O formato de resposta para cada fonte é de 1 (de modo
nenhum) a 5 (seguramente) pontos.
Assim e como se pode observar da tabela 2, a regressão logística revelou que a
mãe (bmãe = 0.434; χ2(1)
Wald = 150.188; p<0.001; OR = 1.544), o pai (bpai = 0.222; χ2(1)
Wald = 50.191; p<0.001; OR = 1.248), o professor (bprofessor = 0.299; χ2(1)
Wald= 67.046;
p<0.001; OR = 1.349) e o namorado (bnamorado = 0.089; χ2(1)
Wald= 7.815; p<0.01; OR =
1.093), apresentam um efeito estatisticamente significativo sobre o Logit da
probabilidade de pedir ajuda de acordo com o modelo Logit ajustado (G2(5) = 632.944;
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p<0.001; R2 Cox & Snell = 0.147; R2 Nagelkerke=0.200). O amigo não apresenta efeito
estatisticamente significativo (p>0.05).
Neste sentido, sobressai o facto dos adolescentes e jovens que têm intenção de
pedir ajuda no caso de sofrer de uma depressão, ser mais provável que o façam com a
mãe, o professor(a), o pai e ainda a/o namorada (o), contrariamente aos que não têm
intenção de pedir ajuda.
Tabela 2 - Coeficientes Logit do modelo de regressão logística da variável “pedido de ajuda” em função das pessoas a quem recorreria (N=4938)
Fontes informais: B E.P. χ2 Wald#
Exp(B)
IC 95% EXP(B)Inferior Superior
MãePaiAmiga(o)Namorada(o)Professor(a)Constante
.434
.222
.012
.089
.299-2.930
.035
.031
.036
.032
.037
.192
150.188***
50.191***
.1067.815**
67.046***
233.105***
1.5441.2481.0121.0931.349.053
1.4401.174.9431.0271.256
1.6551.3271.0861.1641.449
G2(5) = 632.944; p<.001; R2 Cox & Snell = .147; R2 Nagelkerke=.200
# Graus de liberdade = 1; ** p <0.01; *** p <0.001
Relativamente à 3.ª questão de investigação (quais são os preditores da intenção
da procura de ajuda informal em saúde mental, ao nível da depressão?) procedeu-se à
realização de uma nova análise de regressão logística com o método Forward: LR
(tabela 3). Nesta análise foi mantida a variável dependente ou critério (intenção de
pedido de ajuda no caso de sofrer de uma depressão (Não=“0” e Sim=“1”) e foram
incluídos, além dos scores das subescalas de estigma (pessoal e percebido), a
familiaridade com a depressão (Não=“0” e Sim=“1”), o género (Feminino = “0” e
Masculino = “1”), a idade e os itens das barreiras (formato de resposta: Não=“0” e Sim=
“1”) que constam na tabela 1.
Assim e como se pode observar da tabela 3, o modelo de regressão logística
obtido apenas contempla as variáveis com significado estatístico, tendo sido excluídas
do modelo final, os itens 2, 3, 4 e 6, o género e a idade.
Os resultados do novo modelo calculado revelam que os itens que apresentam
um efeito estatisticamente significativo sobre o Logit da probabilidade de pedir ajuda de
acordo com o modelo Logit ajustado (G2(5) = 304.528; p<.001; R2 Cox & Snell = 0.061;
R2 Nagelkerke = 0.083) são: 1 - “pensar que a pessoa fica com uma opinião negativa
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sobre mim” (b(i1) = -0.178; χ2(1)
Wald = 6.125; p<0.01; OR = 0.837), 5 - “pensar que
nada me poderá ajudar” (b(i5) = -0.428; χ2(1)
Wald = 43.941; p<0.001; OR = 0.652), 7 -
“pensar que poderei ter dificuldades em aceder a essa pessoa/profissional de saúde”
(b(i7) = 0.264; χ2(1)
Wald = 5.229; p<0.05; OR = 1.302), 8 - “pensar que o tratamento tem
efeitos secundários” (b(i8) = 0.330; χ2(1)
Wald = 12.150; p<0.001; OR = 1.391), e 9 - “ser
muito tímido, sentir vergonha” (b(i9) = -0.296; χ2(1)
Wald = 22.911; p<0.001; OR =
0.744). Também apresentam significado estatístico a familiaridade (b(familiaridade) = -0.104;
χ2(1)
Wald = 146.995; p<0.001; OR =0.901), o estigma pessoal (b(estigma pessoal) = -0.016;
χ2(1)
Wald = 7.177; p<0.01; OR = 0.984) e o estigma percebido (b(estigma percebido) = -0.404;
χ2(1)
Wald = 41.230; p<0.001; OR = 0.667).
Tabela 3 - Coeficientes Logit do modelo de regressão logística da variável “pedido de ajuda” em função em função das perceções relativamente às barreiras percebidas,
familiaridade e estigma pessoal e percebido acerca da depressão (N=4938)
Itens/variáveis:
B E.P. χ2 Wald#
Exp(B)
IC 95% EXP(B)
Inferior Superior(i1) Opinião negativa sobre mim…(i5) Pensar que nada me poderá ajudar…(i7) Dificuldades em aceder profissional…(i8) Efeitos secundários…(i9) Ser muito tímido, sentir vergonha…Familiaridade (1)Estigma pessoal acerca da depressãoEstigma percebido acerca da depressãoConstante
-.178-.428.264.330-.296-.104-.016-.4042.911
.072
.065
.115
.095
.062
.009
.006
.063
.187
6.125**
43.941***
5.229*
12.150***
22.911***
146.995***
7.177**
41.230***
243.566***
.837
.6521.3021.391.744.901.984.667
18.380
.727
.5741.0381.155.659.886.973.590
.964
.7401.6321.675.840.916.996.755
G2(9) = 304.528; p<.001; R2 Cox & Snell =.061; R2 Nagelkerke=.083
# Graus de liberdade = 1; * p <0.05; ** p <0.01; *** p <0.001
Realça-se deste modo que os adolescentes e jovens que têm intenção de pedir
ajuda no caso de sofrer de uma depressão, é mais provável que não receiem que as
pessoas tenham uma opinião negativa de si, não perspetivem que não há nada que se
possa fazer. Contudo, consideram que é difícil aceder aos profissionais, nos efeitos
secundários da medicação, mas não consideram que ser tímido e ter vergonha tenha
influência como impedimento ao pedir ajuda.
Não ter familiaridade ou contacto com doentes, é um preditor significativo da
intenção de pedir ajuda, assim como níveis mais baixos de estigma pessoal e estigma
percebido, comparativamente com aqueles que não têm intenção de pedir ajuda.
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Discussão/conclusão:
Em termos de intenção de procura de ajuda em saúde mental os estudos revelam
que os indivíduos apresentam maior intenção de procura de ajuda para a depressão,
comparativamente a outras perturbações mentais recorrentes nestas faixas etárias
(Wright, Jorm, & Mackinnon, 2011).
Os resultados do presente estudo revelam que existe uma margem considerável
de adolescentes e jovens, que têm intenção de pedir ajuda (61.7%) caso venham a sofrer
de um problema similar ao relatado na vinheta, um valor ainda assim inferior à
apresentada noutros estudos (Burns & Rapee, 2006; Jorm, Wrigth & Morgan, 2007;
Reavley & Jorm, 2011).
Poderá ajudar a explicar estes resultados o facto da procura de ajuda implicar a
expressão do domínio da vida pessoal e íntima, e neste sentido alguns jovens receiam a
exposição aos outros, sejam eles familiares, namorados ou mesmo amigos, o que poderá
aumentar relativamente aos profissionais de saúde mental.
É provável que muitos adolescentes e jovens não consigam colocar-se ou
entender a situação descrita na vinheta, quer seja por imaturidade emocional (Rickwood
et al., 2005; Jorm, 2012), desconhecimento, quer ainda por considerar que estes
sintomas constituam aquilo que se designa habitualmente como “crise da idade”, uma
situação transitória que passa com o tempo. As implicações que decorrem destes
factores têm impacto na intenção de procura de ajuda, podendo aumentar o tempo que
decorre entre o aparecimento dos primeiros sintomas e o recurso à ajuda profissional. É
um facto assumido que o atraso na procura de ajuda tem implicações directas nos
resultados em saúde (Jorm, 2012).
Relativamente ao estudo das fontes informais de ajuda, os estudos evidenciam
diferentes pessoas a quem os adolescentes e jovens podem recorrer para procurar ajuda
e apoio, nomeadamente, familiares, amigos e inclusive professores. Existe também
documentado na literatura o facto de os adolescentes e jovens preferirem as fontes
informais de ajuda (Sheffield, Fiorenza, & Sofronoff, 2004; Rickwood et al., 2005;
Jorm, 2012).
No presente estudo, à excepção dos amigos, todas as restantes pessoas são
consideradas para o pedido de ajuda, assumindo a mãe um papel de destaque. O não
considerar os amigos como pessoas com quem falariam, pode dever-se a muitos
factores, nomeadamente não lhe reconhecerem competências para prestar ajuda,
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questões de anonimato e confidencialidade e inclusivamente a percepção de que eles
desconhecem e não valorizam os sintomas.
Ainda que estes resultados sejam promissores em termos de saúde mental
salienta-se que as fontes informais são importantes mas não suficientes. Podem mesmo
ser prejudiciais se a informação prestada for imprecisa e sem utilidade, tendo como
consequência o agravamento dos sintomas e o atraso na procura de ajuda especializada
(Power, Eiraldi, Clarke, Mazzuca, & Krain, 2005; Jorm, 2012). Uma das respostas
possíveis para estes problemas, passa por exemplo pela generalização da formação e
sensibilização da população sobre as questões da primeira ajuda em saúde mental.
Relativamente à 3.ª questão de investigação, os resultados encontrados são
idênticos aos observados noutros estudos (Jorm et al., 2007; Calear et al., 2011).
Diversos fatores poderão ser evocados para justificar estes resultados. Observa-
se que o medo da opinião dos outros, o pensar que nada poderá ajudar e a timidez e
vergonha não constituem barreiras à intenção de procura de ajuda, pelo contrário,
podem conduzir à procura. É provável que se trate de um resultado das campanhas de
sensibilização da opinião pública acerca da depressão, que apresentam esta perturbação
como algo que pode acontecer a qualquer pessoa em qualquer momento, não sendo
sinónimo de fraqueza pessoal (Loureiro et al., 2008).
No entanto, as dificuldades em aceder aos profissionais de saúde mental e o
medo dos efeitos secundários dos psicofármacos são considerados impedimentos ao
pedido de ajuda. Relativamente aos profissionais e serviços de saúde, pode dever-se à
complexidade e acessibilidade à rede de cuidados de saúde mental. Tanto os jovens
como os adultos tendem a não saber aceder e navegar nos cuidados de saúde mental,
quando esta componente é fundamental para a procura de ajuda, como referem
Rickwood et al. (2005).
No que concerne aos efeitos dos medicamentos, o resultado obtido é também
semelhante ao de outros estudos, tanto em populações jovens como de adultos. Existe a
crença generalizada de que dos psicofármacos causam dependência, não resolvem os
problemas e têm o «efeito zombie» (Loureiro et al., 2008; Jorm, 2012). O principal
dado a reter neste caso vem da evidência que sugere que estas crenças podem implicar a
não utilização dos medicamentos quando prescritos e a descontinuidade dos tratamentos
(Jorm et al., 2007).
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Em termos de estigma pessoal e percebido, os resultados evidenciam uma
discrepância entre aquilo que os adolescentes e jovens pensam da depressão e aquilo
que eles pensam que a sociedade pensa. Esta diferença, patente noutros estudos
(Griffiths, Christensen, Jorm, Evans, & Groves, 2004; Griffiths et al., 2006; Jorm &
Wright, 2008; Calear et al., 2011;) é preocupante, por um lado pelo efeito que as
expectativas sociais podem criar nos adolescentes e jovens, levando-os a sobrevalorizar
o estigma percebido, por outro poderá reforçar o efeito negativo que esta barreira
invisível tem na decisão de procura de ajuda (Rickwood et al., 2005; Rickwood &
Thomas, 2012).
Atendendo aos resultados deste estudo, conclui-se a necessidade emergente de
desenvolver programas ao nível da literacia em Saúde Mental, quer para os adolescentes
e jovens, quer ainda para pais e profissionais de educação. A título de exemplo pode-se
referir dois programas a decorrer em Portugal e no qual se enquadra este estudo,
nomeadamente o programa «Feliz Mente» (http://felizmente.esenfc.pt) e o programa de
Primeira Ajuda em Saúde Mental (Escola Superior de Enfermagem de Coimbra),
desenvolvido a partir do Mental Health First Aid (www.mhfa.com.au).
Potenciar a procura de ajuda quando necessário significa reduzir o tempo que
medeia o aparecimento dos primeiros sintomas e a prestação de cuidados de saúde
adequados. Sendo a adolescência e juventude períodos críticos em termos de
desenvolvimento, a intervenção precoce ao nível da saúde mental evita o agravamento
dos sintomas, não comprometendo o futuro pessoal e profissional dos indivíduos.
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