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compilaes doutrinais
VERBOJURIDICO
O PAPEL E A INTERVENO DA ESCOLAEM SITUAES DE CONFLITO PARENTAL
___________
Antnio Jos FialhoJUIZ DE DIREITO
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VERBOJURIDICO O PAPEL E A INTERVENO DA ESCOLA EM SITUAES DE CONFLITO PARENTAL :2
O Papel e a Interveno da Escola
em situaes de conflito parental
Antnio Jos FialhoJUIZ DE DIREITO
As crianas aprendem mais com aquilo que os
adultos fazem - e com o que os pais lhes fazem - doque com o que os adultos lhes dizem.
Joana Amaral Dias(Dirio de Notcias - 12/06/2006)
- I -
EXERCCIO DAS RESPONSABILIDADES PARENTAIS
O exerccio das responsabilidades parentais configura-se como um conjunto de
faculdades cometidas aos pais no interesse dos filhos em ordem a assegurar
convenientemente o seu sustento, sade, segurana, educao, a representao e a
administrao dos seus bens (artigo 1878. do Cdigo Civil).
Os pais ficam automaticamente investidos na titularidade das responsabilidades
parentais, independentemente da sua vontade e por mero efeito da filiao, no podendo
renunciar a estas nem a qualquer dos direitos que as mesmas especialmente lhes conferem,
sem prejuzo do que legalmente se dispe a propsito da adopo (artigo 1882. do mesmo
Cdigo).
As responsabilidades parentais so um meio de suprimento da incapacidade de
exerccio de direitos por parte da criana (artigo 124. do citado Cdigo) e so preenchidas
por um complexo conjunto de poderes e deveres funcionais atribudos legalmente aos
progenitores para a prossecuo dos interesses pessoais e patrimoniais de que o filho
menor no emancipado titular.
Assim, deste carcter funcional das responsabilidades parentais, resulta que o
exerccio dos direitos e deveres que o integram, no tendo a ver com a realizao de
interesses prprios dos progenitores, encontra-se particularmente vinculado salvaguarda,
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promoo e realizao do interesse da criana e que se traduz na realizao das tarefas
quotidianas do filho.
Com a Lei n. 61/2008, de 31 de Outubro, so tambm entendidas como o conjunto
de poderes e deveres destinados a assegurar o bem-estar moral e material do filho,
designadamente tomando conta da pessoa do filho, mantendo relaes pessoais com ele,
assegurando a sua educao, o seu sustento, a sua representao legal e a administrao
dos seus bens (Princpio 1. do Anexo Recomendao n. R (84) sobre as
Responsabilidades Parentais adoptada pelo Comit de Ministros do Conselho da Europa
em 28 de Fevereiro de 1984).
Na exposio de motivos desta Recomendao, especialmente referido que o
objectivo () convidar as legislaes nacionais a considerarem os menores j no comosujeitos protegidos pelo Direito, mas como titulares de direitos juridicamente reconhecidos
() a tnica colocada no desenvolvimento da personalidade da criana e no seu bem-
estar material e moral, numa situao jurdica de plena igualdade entre os pais ()
exercendo os progenitores esses poderes para desempenharem deveres no interesse do filho
e no em virtude de uma autoridade que lhes seria conferida no seu prprio interesse (
3. e 6. da exposio de motivos).
Adoptando perspectiva idntica, a Conveno sobre os Direitos da Crianaconsagrou tambm o princpio de que ambos os pais tm uma responsabilidade comum na
educao e no desenvolvimento da criana e de que constitui sua responsabilidade
prioritria a educao e o bem estar global da criana (artigos 18., n. 1 e 27., n. 2).
Tambm a Conveno Europeia sobre os Exerccio dos Direitos da Criana,
celebrada no mbito do Conselho da Europa em 25 de Janeiro de 1996, utiliza a expresso
responsabilidades parentais a propsito da titularidade e do exerccio dos poderes-
deveres que integram as funes parentais (artigos 1., n. 3, 2., alnea b), 4., n. 1 e 6.,alnea a), desta Conveno).
Na definio e na repartio concreta das responsabilidades parentais devem atender-
se prioritariamente aos interesses e direitos da criana e, em segunda linha, aos demais
interesses e direitos atendveis (artigo 4., alnea a), da Lei de Promoo e Proteco das
Crianas e Jovens em Perigo ex vi do artigo 147.-A da Organizao Tutelar de
Menores).
Este interesse da criana constitui um critrio essencial de deciso, cujo contedo e
extenso carecem de um preenchimento reconduzvel a critrios objectivos. Tem-se
entendido que estes critrios devem respeitar o princpio da igualdade dos pais, promover a
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repartio das responsabilidades parentais mediante a adeso interna redutora dos
conflitos, a atender aos direitos da criana e s suas escolhas preferenciais, respeitar a
autonomia da famlia, em conformidade com o princpio da interveno mnima e mostrar-
se exequveis e de aplicao gil e fcil (artigo 4., alneas a), d), ef), da Lei de Promoo
e Proteco de Crianas e Jovens em Perigo ex vi do artigo 147.-A da Organizao
Tutelar de Menores).
O conceito de responsabilidades parentais permite ainda referenciar, de imediato, um
conjunto de poderes-deveres (responsabilidade de guarda, de educao, de representao,
de administrao de bens, de convvio e de relacionamento pessoal e de vigilncia
educativa) cujo exerccio competir, conjunta ou repartidamente, consoante o caso, a
ambos os pais.Por outro lado, susceptvel de facilitar tambm a identificao de uma unio
parental diferenciada da unio conjugal ou da unio marital, apontando para a necessidade
da sua permanncia e sobrevivncia aps a eventual dissoluo desta.
Ningum duvidar que, em situaes de dissociao familiar, o interesse da criana
deve ser identificado com o estabelecimento de condies psicolgicas, materiais, sociais e
morais favorveis ao seu desenvolvimento harmnico e sua progressiva autonomizao.
A garantia de tais condies depender, necessariamente, da insero da criana numncleo de vida familiar estvel e gratificante - do ponto de vista do seu bem-estar, da sua
proteco e da sua educao - da possibilidade de um amplo relacionamento pessoal e
directo com ambos os pais, e da promoo de um nvel de vida suficiente ao seu
desenvolvimento fsico, mental, espiritual, moral e social.
Assim, a realizao do interesse da criana parece estar essencialmente relacionada
com a observncia de dois princpios fundamentais: -
a) - o desenvolvimento harmnico da criana depende necessariamente de ambos os
progenitores, no podendo nenhum deles substituir a funo que ao outro cabe;
b) - as relaes paterno-filiais situam-se a um nvel diferenciado das relaes
conjugais ou maritais.
Evidencia o primeiro destes princpios a necessidade de promover a participao
interessada, a interveno concertada e a co-responsabilizao activa de ambos os pais pela
educao do filho enquanto que, do segundo, decorre a necessidade de garantir laos
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afectivos estveis e profundos entre a criana e ambos os pais, apesar da separao destes,
e de prevenir a sua instrumentalizao nos eventuais conflitos que os oponham.
ainda sabido que, na grande maioria das famlias portuguesas, o lugar dos filhos
expressa, sobretudo, a importncia que a maternidade e a paternidade detm na construo
de uma identidade social positiva para o indivduo e na representao da criana, enquanto
agente fundador da famlia ou fonte de gratificao pessoal, de continuidade, ou seja, como
um processo natural da vida, associado ideia de constituir famlia e de deixar
descendncia.
Assim, a parentalidade um processo de afectos mas tambm, e cada vez mais, um
processo de tomada de decises no qual, apesar da imagem social da criana poder traduzir
alguma fragilidade e dependncia - por carecerem do apoio e proteco dos adultos comvista ao seu desenvolvimento integral - tambm devem dispor de capacidade de autonomia,
de auto-determinao de acordo com a sua maturidade, sendo verdadeiros actores sociais e
portadores de uma perspectiva prpria sobre as decises que lhes dizem respeito.
Em suma, o contedo das responsabilidades parentais composto por um conjunto
de direitos dirigidos realizao da personalidade dos filhos, um conjunto de direitos e
deveres irrenunciveis, inalienveis e originrios, mediante os quais os pais assumem a
responsabilidade dos seus filhos.Definem-se como um poder funcional cujo exerccio obrigatrio ou condicionado,
acentuando-se a funcionalizao dos direitos dos pais aos interesses dos filhos, consistindo,
assim, no apenas no conjunto de direitos e obrigaes, mas tambm nos cuidados
quotidianos a ter com a sade, a segurana, a educao e a formao da criana, atravs
dos quais esta se desenvolve intelectual e emocionalmente.
A Constituio da Repblica Portuguesa consagra como princpio geral a igualdade
dos pais na educao dos filhos (artigo 36., n. 5) o que implica que, seja qual for a relaofamiliar entre os progenitores (matrimnio, unio de facto ou mesmo sem qualquer
coabitao), numa situao de dissociao familiar, o exerccio das responsabilidades
parentais continua a ser exercido em conjunto por ambos (artigos 1901., 1906., n. 1,
1911. e 1912., todos do Cdigo Civil, na redaco dada pela Lei n. 61/2008).
O exerccio das responsabilidades parentais exercido em exclusivo por um dos
progenitores quando o tribunal, atravs de deciso fundamentada, julgue o exerccio
conjunto contrrio aos interesses da criana (artigo 1906., n. 2 do mesmo Cdigo),
quando um dos pais no puder exercer as responsabilidades parentais, por ausncia,
incapacidade ou outro impedimento (artigo 1903. do citado Cdigo), por morte de um dos
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progenitores (artigo 1904. do referido Cdigo) ou quando um dos progenitores esteja
inibido do exerccio das responsabilidades parentais (artigos 1913. e seguintes do Cdigo
Civil).
Caso o exerccio das responsabilidades parentais (na altura denominado por
exerccio do poder paternal) tenha sido regulado no mbito do regime legal anterior Lei
n. 61/2008, de 31 de Outubro, este poderia ser exercido em conjunto mediante o acordo de
ambos os progenitores ou, na falta desse acordo, o mesmo era exercido pelo progenitor a
quem a criana fosse confiada (artigo 1906., n.os 1 e 2 do Cdigo Civil, na redaco dada
pela Lei n. 59/99, de 30 de Junho).
Em concluso, perante uma situao de divrcio ou de separao dos progenitores da
criana (dissociao familiar), haver que atender, em primeiro lugar, ao contedo doacordo ou da deciso de regulao do exerccio das responsabilidades parentais (ou do
poder paternal) mas, no estando este ainda regulado nem se verificando qualquer situao
que justifique o seu exerccio exclusivo, o mesmo exercido conjuntamente por ambos os
pais.
- II -
RESPONSABILIDADES PARENTAIS NO MBITO DA EDUCAO
Compete aos pais, no interesse dos filhos, dirigir a sua educao e, de acordo com as
suas possibilidades, promover o desenvolvimento fsico, intelectual e moral daqueles,
proporcionando-lhes, em especial aos diminudos fsica e mentalmente, adequada instruo
geral e profissional, correspondente, na medida do possvel, s aptides e inclinaes de
cada um (artigos 1878., n. 1 e 1885., ambos do Cdigo Civil).
O escopo da funo educativa dos progenitores o de formar um ser livre, j que
na liberdade que o adulto essencialmente se reconhece e se afirma.So os pais que tm o direito e o dever de educao dos filhos (artigo 36., n. 5 da
Constituio da Repblica Portuguesa) e o direito de escolher o gnero de educao a dar
aos filhos (artigo 26., n. 3 da Declarao Universal dos Direitos do Homem).
Por seu turno, os cnjuges tm iguais direitos e deveres quanto capacidade civil e
poltica e manuteno e educao dos filhos (artigos 36., n. 3 da Constituio da
Repblica Portuguesa e 16. da Declarao Universal dos Direitos do Homem).
O interesse superior da criana deve ser o guia dos que tm a responsabilidade da suaeducao e orientao e essa responsabilidade incumbe, em primeiro lugar, aos pais.
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Com efeito, a estrutura familiar na educao das crianas um elemento essencial
para o desenvolvimento do processo de socializao dos filhos atravs do qual se moldam
as estruturas afectivas, mentais e sociais do ser humano que, s dificilmente, podero ser
alteradas em momento ulterior.
A educao compreende todos os aspectos da socializao da criana ou o processo
pelo qual se lhe faz adquirir as atitudes, normas de comportamento, capacidades e
conhecimentos indispensveis para levar uma vida social e integrada, incumbindo ao
Estado garantir o apoio e reforo da funo educativa da famlia e o desenvolvimento da
aptido educativa dos pais (Conferncia dos Ministros Europeus para os Assuntos
Familiares realizada em Bona de 7 a 9 de Setembro de 1979).
Com expressa consagrao no ordenamento jurdico portugus, incumbe aos pais eencarregados de educao uma especial responsabilidade, inerente ao seu poder-dever de
dirigirem a educao dos seus filhos e educandos, no interesse destes, e de promoverem
activamente o desenvolvimento fsico, intelectual e moral dos mesmos (artigo 6., n. 1 do
Estatuto do Aluno do Ensino Bsico e Secundrio, aprovado pela Lei n. 3/2008, de 18 de
Janeiro1).
Com efeito, o direito educao constitui, hoje, nas sociedades modernas, um direito
fundamental de cidadania, de que depende o efectivo exerccio de outros direitos. Cabe,por isso, ao Estado assegurar a todos e cada um dos cidados iguais oportunidades de
explorar plenamente as suas capacidades e de adquirir as competncias e os conhecimentos
que promovam o seu desenvolvimento pessoal e lhes permitam dar um contributo activo
sociedade em que se integram.
Com a Lei n. 85/2009, de 27 de Agosto, foi introduzida a obrigatoriedade de
frequncia do ensino at aos dezoito anos de idade a todos os alunos que, no ano lectivo de
2009/2010, estivessem matriculados no 7. ano de escolaridade (artigos 6., n.
o
1 e 66., n.1, ambos da Lei de Bases do Sistema Educativo, aprovada pela Lei n. 46/86, de 14 de
Outubro, alterada pela Lei n. 115/97, de 19 de Setembro, pela Lei n. 49/2005, de 30 de
Agosto, e pela Lei n. 85/2009, de 27 de Agosto, e artigos 2., n. 1 e 8., n. 1, ambos desta
Lei n. 85/2009).
O investimento de confiana da comunidade e do Estado no regime da escolaridade
obrigatria, criando uma rede pblica de escolas e assegurando o corpo docente necessrio
1 O Estatuto do Aluno do Ensino Bsico e Secundrio aplica-se ao ensino pr-escolar na parte relativa responsabilidade e ao papel dos membros da comunidade educativa e vivncia na escola e os seus princpios soaplicveis ao estabelecimentos de ensino das redes privada e cooperativa que devero adaptar os respectivosregulamentos internos (artigo 3., n.os 1 a 3 do Estatuto do Aluno).
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ao ensino, responsabiliza o aluno e a sua famlia, atravs dos pais e encarregados de
educao, em ordem ao respectivo cumprimento.
O ensino obrigatrio e universal implica responsabilidade para a escola e para os
seus rgos de gesto, estruturas de orientao educativa e professores, verificando o dever
de frequncia assdua das actividades escolares, pelos alunos, informando e comunicando
aos pais e encarregados de educao a assiduidade dos alunos e assegurando a prestao de
servios de aco social, de sade, psicologia e orientao escolar, para apoiar e tornar
efectivo o cumprimento do dever de frequncia assdua dos alunos.
Com a escolaridade obrigatria, assumido o propsito de acompanhar uma
evoluo dos sistemas educativos modernos que tem sido marcada, em sucessivos
momentos, pela preocupao de alargar o tronco comum de formao geral oferecido pelaobrigatoriedade em frequentar a escola, de modo a que as novas geraes possam estar
mais preparadas para responder, quer s aspiraes individuais, quer aos desafios do
desenvolvimento e modernizao da sociedade.
Assim, so deveres especiais dos pais e encarregados de educao (artigos 2., n. os 1
e 4 e 12., n.os 1 e 2, ambos do Decreto-Lei n. 301/93, de 31 de Agosto2, 6., n. 2 do
Estatuto do Aluno do Ensino Bsico e Secundrio e 47., n. 1 do Regime de Autonomia,
Administrao e Gesto dos Estabelecimentos da Educao Pr-Escolar e dos EnsinosBsico e Secundrio3): -
a) - Proceder matrcula do seu filho e educando quando este se encontre em idade
escolar e assegurar o cumprimento do dever de frequncia das aulas;
b) - Acompanhar activamente a vida escolar do seu educando;
c) - Promover a articulao entre a educao na famlia e o ensino escolar;
d) - Diligenciar para que o seu educando beneficie efectivamente dos seus direitos e
cumpra rigorosamente os deveres que lhe incumbem, com destaque para os deveres de
assiduidade, de correcto comportamento e de empenho no processo de aprendizagem;
e) - Contribuir para a criao e execuo do processo educativo da escola e participar
na vida da escola;
2Estabelece o regime de matrcula e de frequncia do ensino bsico para as crianas e jovens em idade escolar. 3Aprovado pelo Decreto-Lei n. 75/2008, de 22 de Abril (revogou o Decreto-Lei n. 115-A/98, de 4 de Maio, alterado
pela Lei n. 24/99, de 22 de Abril).
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f) - Cooperar com os professores no desempenho da sua misso pedaggica, em
especial quando para tal forem solicitados, colaborando no processo de ensino e
aprendizagem dos seus educandos;
g) - Contribuir para a preservao da disciplina da escola e para a harmonia da
comunidade educativa, em especial quando para tal forem solicitados;
h) - Contribuir para o correcto apuramento dos factos em procedimento de ndole
disciplinar instaurado ao seu educando e, sendo aplicada a este medida correctiva ou
medida disciplinar sancionatria, diligenciar para que a mesma prossiga os objectivos de
reforo da sua formao cvica, do desenvolvimento equilibrado da sua personalidade, da
sua plena integrao na comunidade educativa e do seu sentido de responsabilidade;
i) - Contribuir para a preservao da segurana e integridade fsica e moral de todos
os que participam na vida da escola;
j) - Integrar activamente a comunidade educativa no desempenho das demais
responsabilidades desta, em especial informando-se, sendo informado e informando sobre
todas as matrias relevantes no processo educativo dos seus educandos;
k) - Comparecer na escola sempre que julgue necessrio e quando para tal for
solicitado;
l) - Conhecer o estatuto do aluno, o regulamento interno da escola e subscrever,
fazendo subscrever igualmente os seus filhos e educandos, declarao anual de aceitao
do mesmo e de compromisso activo quanto ao seu cumprimento integral;
m) - Participar na vida dos agrupamentos de escolas ou escola no agrupada atravs
da organizao e colaborao em iniciativas visando a promoo da melhoria da qualidade
e da humanizao daqueles estabelecimentos de ensino, em aces motivadoras de
aprendizagem e da assiduidade dos alunos e em projectos de desenvolvimento scio-
educativo do agrupamento de escolas ou escola no agrupada.
O encarregado de educao a me, o pai ou qualquer pessoa que acompanha e
responsvel pelo aproveitamento de uma criana ou adolescente menor, em idade escolar(Dicionrio da Lngua Portuguesa Contempornea, Academia de Cincias de Lisboa).
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A figura do encarregado de educao surgiu no sistema educativo com uma funo
facilitadora na relao que se estabelece entre a escola e a famlia da criana, entendendo-
se este como o interlocutor privilegiado nessa relao.
Para o efeito, as normas legislativas e regulamentares do sistema de ensino atribuem
figura do encarregado de educao um conjunto de prerrogativas, direitos e deveres tais,
como por exemplo, o dever de proceder primeira matrcula do aluno ou a faculdade de
requerer o adiamento desta.
O encarregado de educao definido como aquele que tenha menores sua guarda
pelo exerccio das responsabilidades parentais, por deciso judicial, pelo exerccio de
funes educativas na direco de instituies que tenham menores, por qualquer ttulo,
sua responsabilidade ou por delegao, devidamente comprovada, por parte de qualquerdas entidades referidas (n. 1.2. do Despacho SEE n. 14026/007, publicado no Dirio da
Repblica 2. srie n. 126 de 3 de Julho de 2007, rectificado pela Declarao n.
1258/2007, publicado no Dirio da Repblica 2. srie n. 155 de 13 de Agosto de 2007,
alterado pelo Despacho n. 13170/2009 publicado no Dirio da Repblica 2. srie n. 108
de 4 de Junho de 2009, e pelo Despacho n. 6258/2011 publicado no Dirio da Repblica
2. srie n. 71 de 11 de Abril de 2011).
Na falta de uma definio legal de um estatuto do encarregado de educao, qualquerconflito que se levante respeitante conduo da vida escolar de uma criana, o alcance e
os limites das prerrogativas, direitos e deveres que so conferidos ao encarregado de
educao devem ser apreciados, interpretados e decididos luz dos princpios gerais
estabelecidos na Constituio da Repblica Portuguesa e do Cdigo Civil, em particular
sobre o contedo e o alcance das responsabilidades parentais e sobre a sua gnese e os
respectivos limites.
Com efeito, o direito e o dever de educao dos filhos , no s um dever tico esocial, mas tambm um dever jurdico dos pais.
A direco e o acompanhamento da educao da criana podem compreender a
prtica de actos de particular relevncia pelo que, da simples indicao de um dos
progenitores como encarregado de educao, no resulta qualquer poder ou direito
acrescido ou implica para o outro progenitor qualquer poder ou direito diminudo.
Como primeira premissa, importa estabelecer que, da indicao de encarregado de
educao perante a escola resulta apenas que o progenitor indicado a pessoa que, por
acordo expresso ou presumido entre ambos, constitui o interlocutor privilegiado entre a
escola e a famlia, seja por dispor de maior disponibilidade para o efeito, seja por ter maior
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sensibilidade para o acompanhamento da vida escolar do filho, presumindo-se, at
qualquer indicao ou suspeita do contrrio que, qualquer acto que pratica relativamente ao
percurso escolar do filho, realizado por deciso conjunta do outro progenitor.
Como segunda premissa, importa ter presente que, quando o exerccio das
responsabilidades parentais seja exercido em conjunto, apenas os actos ou questes de
particular importncia que devem ser decididas em conjunto por ambos os progenitores,
mesmo em situaes de divrcio ou de separao dos progenitores, restando um conjunto
de actos (usuais ou da vida corrente) que qualquer dos progenitores pode praticar quando o
filho se encontre consigo (embora o progenitor no residente no possa contrariar as
orientaes educativas mais relevantes definidas pelo progenitor residente).
- III -
O DESACORDO DOS PAIS E A INTERVENO JUDICIAL
Com a Lei n. 61/2008, de 31 de Outubro, as responsabilidades parentais relativas s
questes de particular importncia para a vida do filho passaram a ser exercidas em comum
por ambos os progenitores, salvo nos casos de urgncia manifesta, em que qualquer dos
progenitores pode agir sozinho, devendo prestar informao ao outro logo que possvel
(artigo 1906., n. 1 do Cdigo Civil).
S o tribunal, atravs de deciso fundamentada, pode determinar que as
responsabilidades parentais sejam exercidas apenas por um dos progenitores quando o
exerccio conjunto - estabelecido como o regime regra - for julgado contrrio aos interesses
da criana (n. 2 do mesmo artigo).
O exerccio das responsabilidades parentais relativas aos actos da vida corrente do
filho4 cabem ao progenitor que com ele reside habitualmente, ou ao progenitor com quem
ele se encontra temporariamente; porm, este ltimo, ao exercer as suas responsabilidades,no deve contrariar as orientaes educativas mais relevantes5, tal como elas so definidas
pelo progenitor com quem o filho reside habitualmente (n. 3 do mesmo artigo).
4 A doutrina tem entendido que o preenchimento do conceito de actos da vida corrente tem que ser feito porcontraposio com o conceito de questo de particular importncia, abrangendo todos aqueles que se relacionem com oquotidiano da criana, nomeadamente as decises usuais relativas disciplina, ao tipo de alimentao actividades eocupao de tempos livres, os contactos sociais, o levar e ir buscar o filho regularmente escola, acompanhar nostrabalhos escolares e efectuar a respectiva matrcula, decises quanto higiene diria, ao vesturio e calado, imposiode regras de convivncia, decises sobre idas ao cinema e sadas noite, consultas mdicas de rotina, uso e utilizao de
telemvel e computador, etc.5As orientaes educativas mais relevantes so as que resultam de uma relao de maior proximidade da criana comum dos progenitores e que, por isso, define e transmite os valores, princpios e regras que lhe permitem estruturar a suapersonalidade e modelar o seu comportamento, designadamente os horrios de dormir e de tomar as refeies, os horriose cumprimento das obrigaes curriculares e extra-curriculares (preparar trabalhos de casa ou a frequncia de algumaactividade que a criana desenvolva habitualmente), as regras correctivas (retirada do telemvel e proibio de ir ao
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Por outro lado, se um dos pais praticar acto que integre o exerccio das
responsabilidades parentais, presume-se que age de acordo com o outro, salvo quando a lei
expressamente exija o consentimento de ambos os progenitores ou se trate de acto ou
questo de particular importncia, no sendo a falta de acordo oponvel a terceiro de boa f
(artigo 1902., n. 1 do mesmo Cdigo).
O terceiro deve recusar-se a intervir no acto praticado por um dos cnjuges quando
no se presuma o acordo do outro cnjuge ou quando conhea a oposio deste (n. 2 do
citado artigo).
Em caso de desacordo entre os pais sobre o exerccio das responsabilidades parentais
relativas a questes de particular importncia, confiada ao juiz a tarefa de o resolver.
Contudo, a interveno judicial assume um carcter excepcional e subsidirio face aoacordo dos pais, que consiste no modo principal do exerccio das responsabilidades
parentais, sendo exigido para a interveno judicial que: -
a) - A desavena entre os progenitores recaia sobre uma questo de particular
importncia, cuja existncia deve ser controlada pelo juiz;
b) - O juiz obrigado a tentar conciliar os progenitores, desempenhando uma funo
mediadora com vista a sugerir uma soluo e a dialogar com aqueles sobre a natureza do
conflito para que, com a sua ajuda, possa ser alcanado o acordo que, por si s, eles no
foram capazes de encontrar;
c) - O juiz ainda obrigado a ouvir o filho, salvo quando circunstncias ponderosas o
desaconselhem.
O primeiro requisito exige que se trate de actos ou questes de particular importncia
cuja indeterminao deve ser concretizada judicialmente na medida em que no existe
qualquer enumerao legislativa destes actos.
Assim, foi confiada doutrina e jurisprudncia a definio das situaes que
podero consubstanciar os actos e as questes de particular importncia que possam dar
origem a um conflito entre os progenitores e que deva ser resolvido pelo tribunal.
Vejamos.
cinema ou de sair impostos por comportamentos desadequados, como ter faltado s aulas, ter tirado uma nota negativapor falta de estudo, ter desobedecido a um dos progenitores ou desrespeitado um professor). por isso que o progenitorno residente deve respeitar essas orientaes sob pena de desautorizar o progenitor residente e violar as regraseducativas por ele impostas.
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A doutrina e a jurisprudncia no evidenciam um entendimento uniforme quanto
configurao da escolha e inscrio da criana em estabelecimento de ensino como questo
de particular importncia ou acto da vida corrente.
Tom dAlmeida Ramio entende que a matrcula em estabelecimento privado de
ensino constitui questo de particular importncia enquanto que o mesmo acto em
estabelecimento de ensino pblico constitui acto da vida corrente (O Divrcio e as
Questes Conexas - Regime Jurdico Actual, 2. edio - actualizada e comentada, Lisboa,
Quid Juris, 2010, pgs. 158-159); este entendimento foi igualmente seguido numa deciso
do Tribunal da Relao de vora (Ac. RE de 19/06/2008 in CJ, III, pg. 254).
Contudo, Helena Bolieiro e Paulo Guerra parecem entender como questo de
particular importncia a escolha do ensino particular ou oficial (A Criana e a Famlia -Uma Questo de Direito(s): Viso Prtica dos Principais Institutos do Direito da Famlia e
das Crianas e Jovens, Coimbra, Coimbra Editora, 2007, pg. 176).
Tambm Helena Gomes de Melo e outros entendem que se trata de questes de
particular importncia bem como a opo pelo tipo de ensino a frequentar pela criana
(Poder Paternal e Responsabilidades Parentais, 2. edio - revista, actualizada e
comentada, Lisboa, Quid Juris, 2010, pg. 142).
Ana Sofia Gomes afirma, por seu turno, que a escolha entre ensino pblico ouprivado e a colocao ou no do filho num colgio interno, bem como a mudana de
escola, so questes de particular importncia (Responsabilidades Parentais, 2. edio,
Lisboa, Quid Juris, 2009, pgs. 22-23 e 85).
Em sentido algo diverso, Armando Leandro entende que a matrcula da criana um
acto de particular importncia se respeitar ao futuro profissional no o sendo se se tratar de
inscrio no ensino obrigatrio (Poder Paternal: Natureza, contedo, exerccio e
limitaes. Algumas reflexes da prtica judiciria, Temas de Direito da Famlia, Ciclo deConferncias no Conselho Distrital do Porto da Ordem dos Advogados, Coimbra,
Almedina, 1986, pg. 130).
Tambm Maria de Ftima Abrantes Duarte considera que so actos de particular
importncia as inscries em estabelecimentos de ensino pblicos ou privado (O Poder
Paternal - Contributo para o estudo do seu actual regime, 1. reimpresso, Lisboa, AAFDL,
1994, pg. 162).
Num trabalho exaustivo sobre as questes de particular importncia no exerccio das
responsabilidades parentais, Hugo Manuel Leite Rodrigues defende que as questes
relativas escola e formao da criana devem ser consideradas como questes de
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particular importncia, utilizando os seguintes argumentos (Questes de Particular
Importncia no Exerccio das Responsabilidades Parentais, Centro de Direito da Famlia
22, Coimbra, Coimbra Editora, 2011, pgs. 153-157): -
A escola um ponto fundamental do desenvolvimento da pessoa. Todo o seu
futuro ser afectado pelo sucesso ou insucesso escolar, por uma boa ou m formao.
Os prprios valores da pessoa so afectados pela capacidade cultural e intelectual que
a escola consegue imprimir aos seus formandos.
A instruo escolar e a formao tcnica e profissional reconduzem-se
actividade dirigida promoo do desenvolvimento fsico, intelectual e cultural do
filho com vista a proporcionar-lhe um conjunto de competncias profissionais. Deste
modo, aos pais que cumpre a escolha da escola, bem como o ramo educacional,
algumas disciplinas como as lnguas, e mesmo a continuao ou abandono da escola
(...) Como tal, a escolha do estabelecimento bem como do tipo de ensino, parece-nos
ter uma importncia fundamental no desenvolvimento do menor.
Deste modo, entendemos que tanto a opo pelo ensino privado, como a opo
pelo ensino pblico, so questes de particular importncia. So questes que no se
enquadram nas decises quotidianas e sem relevo fundamental para a vida futura do
menor.
(...)
A escola fundamental para o desenvolvimento do menor. A sua exigncia e
condies tero sempre uma importncia decisiva na aprendizagem escolar e na
formao da pessoa. A escolha de um concreto estabelecimento de ensino fruto da
ponderao de vrios elementos. Por exemplo: a escolha entre uma escola
geograficamente perto da residncia do menor que, contudo, tem uma elevada taxa de
insucesso escolar e onde so frequentemente reportados casos de bullying e uma
escola longe da residncia do menor (que pode at ficar perto do local de trabalho de
um dos progenitores) mas com uma boa taxa de sucesso escolar e um ambiente seguro
e saudvel para o desenvolvimento da personalidade da criana, preterindo assim do
conforto de frequentar uma escola perto de casa pela qualidade do ensino e do
ambiente de outra escola. Destarte, devem ser ambos os pais - quando exeram em
comum as responsabilidades parentais (pelo menos quanto a questes de particular
importncia) - a decidir qual o concreto estabelecimento de ensino que o menor deve
frequentar, visto ser uma deciso rara e que susceptvel de moldar o futuro do
menor.
O mesmo se aplica em relao aos casos de mudana de estabelecimento de
ensino, pois trata-se, no fundo, da escolha de uma escola para o menor (...).
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Em suma, consideramos que quando est em causa o futuro da educao do
menor est-se perante questes/actos de particular importncia (...) Mas nem todos os
actos conexionados com a educao do menor so actos de particular importncia.
Assim, sero actos da vida corrente a assinatura de provas escritas de avaliao (paragarantir a tomada de conhecimento pelos pais dos resultados obtidos pelo menor), a
autorizao para uma visita de estudo (a no ser que pelos contornos do caso implique
algum risco para o menor v.g. se ele sofrer de asma que possa ser agravada pela visita
de estudo se esta for ao campo), a conversa com a directora de turma quando o assunto
abordado no dilogo no seja de particular relevncia - mas se o for j tal conversa
deve ser considerada um acto de particular importncia, por exemplo, quando o menor
altamente indisciplinado e a conversa tenha como objectivo encontrar uma soluo
para o menor, como a mudana de escola, ou o acompanhamento por psiclogo -, a
autorizao para a prtica de desporto escolar (salvo se representar risco para a sade
do menor).
Apesar de algumas divergncias, parece ser consensual que as questes relacionadas
com a educao de uma criana ou adolescente no permitem uma resposta unvoca no
sentido de podermos qualific-las como questes de particular importncia ou de actos da
vida corrente.
Assim, em primeiro lugar, importa densificar cada uma das questes relacionadas
com a educao e, em seguida, procurar dar o contributo para a sua qualificao.
Como princpio geral, importa ter presente que, nas relaes com terceiros - onde se
incluem os actos praticados pelos pais relativamente escola -, a aplicao rgida de uma
actuao conjunta, exigindo o consentimento de ambos os pais para a prtica de todos os
actos relativos pessoa da criana, seria impraticvel ou demasiado gravosa em muitos
casos, sendo necessrio conferir flexibilidade a estas regras, facilitando as tarefas e
actuaes quotidianas dos pais.
por isso que a lei prev, em relao a actos praticados com interveno de
terceiros, a possibilidade de um exerccio individual e indistinto das responsabilidades
parentais, ou seja, uma presuno de mandato tcnico recproco que permite a cada um dos
pais actuar sozinho e visando tambm proteger os terceiros que contratam com um dos pais
e promover a segurana no comrcio jurdico.
Esta presuno permite a cada um dos progenitores actuar sem o consentimento do
progenitor no actuante, dispensando-se de procurar obter o acordo daquele e de o provarperante terceiros.
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Cada um dos pais actua livremente desde que o outro no manifeste o seu desacordo
passando-se de uma regra de gesto conjunta para uma regra concorrencial, que favorece a
iniciativa pessoal do mais diligente, isto , daquele que primeiro agir s.
A presuno de consentimento apenas opera em relao prtica de actos da vida
corrente pois que, em relao aos actos de particular importncia, se exige sempre a
interveno de ambos os progenitores (artigo 1902., n. 2 do Cdigo Civil).
Aps a dissociao familiar, o funcionamento desta presuno persiste mas, pelo
facto de os pais viverem separados, na prtica, a educao quotidiana da criana realizada
apenas pelo progenitor com quem esta reside habitualmente, existindo uma primazia de
facto de um progenitor sobre o outro, fazendo com que seja o progenitor residente a
praticar a grande maioria dos actos usuais ou da vida corrente relativos vida e educaoda criana.
A educao constitui efectivamente uma escolha fundamental relativa pessoa da
criana e deveria ser o produto de uma aco comum dos pais. Porm, os mecanismos
usuais de coabitao relacionam-se com a vida quotidiana da criana e exigem a presena
desta, pressupondo sempre uma relao imediata e uma convivncia contnua entre o
progenitor e a criana que pode no existir em situaes de dissociao familiar mas em
que o exerccio das responsabilidades parentais continue a ser exercido em conjunto (artigo1906., n. 1 do Cdigo Civil).
Baseado numa presuno de consentimento (artigo 1902., n. 1 do Cdigo Civil), os
actos que implicam uma deciso conjunta so os actos de particular importncia e aqueles
para os quais se exige o consentimento de ambos, sendo a responsabilidade relativamente
pessoa da criana no dia a dia (disciplina, cuidados mdicos de rotina, relaes da criana
com terceiros, horrio e regime da alimentao, televiso, sono, higiene, vigilncia da
educao e das tarefas dirias) exercida pelo progenitor residente e que convivehabitualmente com a criana, embora no com carcter de exclusividade, enquanto que o
progenitor no residente tem competncia para a prtica daqueles actos usuais durante os
perodos em que a criana esteja consigo.
A prtica de qualquer dos actos ou questes de particular importncia quando o
exerccio das responsabilidades parentais exercido em conjunto, deve ser feita de comum
acordo, embora presumindo-se que, quando o progenitor pratica acto que integra o
exerccio das responsabilidades parentais, o faz de acordo com o outro (artigo 1901. do
Cdigo Civil).
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O conceito de actos da vida corrente ou de actos usuais consiste tambm numa
noo-quadro ou num conceito indeterminado na medida em que nenhuma definio legal
poderia abranger as infinitas variaes da realidade6.
Quando se trate de actos de reduzido interesse, no deve justificar-se uma
interveno exterior ao prprio casal, que deve dirimir entre si estas situaes7.
A delimitao entre os dois tipos de actos difcil de estabelecer em abstracto,
existindo uma ampla zona cinzenta formada por actos intermdios que tanto podem ser
qualificados como actos usuais ou de particular importncia, conforme os costumes de
cada famlia concreta e conforme os usos da sociedade num determinado momento
histrico8.
Porm, se a escola vier, por qualquer meio, a saber ou suspeitar seriamente quedeixou de existir esse acordo entre ambos quanto s decises que afectam a vida da
criana, dever abster-se de intervir, optando pela posio de um ou de outro progenitor
(mesmo daquele indicado como encarregado de educao) (artigo 1902., n. 2 do Cdigo
Civil).
O progenitor separado dos filhos no tem que ficar necessariamente afastado das
decises de menor importncia mas tem direito a intervir nelas se o desejar. Como no
possvel aos pais recorrerem judicialmente contra as decises quotidianas tomadas pelooutro, em caso de desacordo, deve comunicar ao progenitor residente o seu desacordo para
impedir a prtica do acto ou arguir a invalidade do mesmo, se este chegar a ser realizado,
estando o terceiro de m f.
Mais ainda, em caso de abuso sistemtico por parte do progenitor residente, usando a
sua posio privilegiada para agir contra a vontade do outro em assuntos de particular
importncia ou em actos da vida corrente, pode propor uma modificao do exerccio das
responsabilidades parentais que restrinja os poderes do outro progenitor.
6Cfr. Nota 4.7 por isso que sero os prprios progenitores (ou aquele com quem a criana se encontrar) que decidiro o que deve o
filho menor vestir, se este deve ou no ir a uma festa de aniversrio para que foi convidado, bem como outras questes doquotidiano (Jos Antnio de Frana Pito, Unio de Facto e Economia Comum, 2. edio, Coimbra, Almedina, 2006, pg.85).
8 Maria Clara Sottomayor enuncia um conjunto de critrios que, nas doutrinas francesa e espanhola, tm sidoutilizados para a determinao dos actos usuais e que se afiguram operativos para a realidade portuguesa. Assim, no casofrancs, ser acto usual aquele acto relativo ao perfil normal da vida de uma criana (acto usual quanto vida do filho) eaquele que, por sua natureza, se repete de tempos a tempos (acto usual quanto interveno dos pais), ou ainda, asiniciativas de pouca importncia, actos andinos, operaes correntes que no vale a pena realizar a dois e que usual
cumprir relativamente vida da criana, na ordem das suas actividades (tempos livres e estudos) e dos cuidados que elareclama, cobrindo um conjunto de actos no tecido da vida quotidiana das famlias.Por outro lado, na doutrina espanhola, so aquelas actuaes necessrias para o cumprimento ordinrio, quotidiano dos
deveres de guarda, educao, assistncia mdica e administrao dos bens do filho, cujas caractersticas gerais consistemna sua simplicidade, frequncia e carcter quotidiano (Regulao do Exerccio das Responsabilidades Parentais nosCasos de Divrcio, 5. edio - revista, aumentada e actualizada, Coimbra, Almedina, 2011, pgs. 275-285).
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Nos casos de atribuio do exerccio das responsabilidades parentais exclusivamente
a um dos progenitores - e sem o estabelecimento de qualquer reserva - efectivamente a
este que compete exerc-lo, sem, porm, se poder esquecer que ao progenitor que no
exera as responsabilidades parentais assiste o poder de vigiar as condies de vida e a
educao do filho e, consequentemente, ter direito a solicitar e receber da escola todas as
informaes relativas ao percurso e sucesso escolar do seu filho (artigo 1906., n.os 2 e 6 do
Cdigo Civil, na redaco dada pela Lei n. 61/2008)9.
Vejamos ento a primeira questo (matrcula e transferncia da criana em
estabelecimento de ensino pblico).
A frequncia de agrupamentos de escolas e dos estabelecimentos de educao pr-
escolar e escolas no agrupadas do ensino pblico e do ensino particular e cooperativoimplicam a prtica dos actos de matrcula ou de renovao da matrcula o qual deve ser
realizado no estabelecimento de ensino da rea de residncia da criana ou da actividade
profissional dos pais ou encarregado de educao ou, no caso do ensino particular e
cooperativo, na escola pretendida.
atravs do acto de matrcula que conferido o estatuto de aluno criana ou jovem
em idade escolar (artigo 11. do Estatuto do Aluno).
No acto da matrcula ou de renovao de matrcula, o aluno ou o encarregado deeducao deve indicar, por ordem de preferncia e sempre que o nmero de
estabelecimentos de educao pr-escolar ou de ensino o permita, cinco estabelecimentos
cuja frequncia seja pretendida, subordinando-se esta preferncia, no caso da educao
pr-escolar e do ensino bsico, aos agrupamentos de escola ou estabelecimentos de
educao ou de ensino no agrupados em cuja rea de influncia se situe a residncia ou a
actividade profissional dos pais ou encarregados de educao, ou ainda ao percurso
sequencial do aluno, enquanto que, no ensino secundrio, existncia de cursos, opes ouespecificaes pretendidos.
Assim, o estabelecimento de educao pr-escolar ou de ensino ir observar como
prioridades na matrcula das crianas a existncia de irmos a frequentar o estabelecimento
pretendido, a residncia dos pais ou encarregados de educao na rea de influncia do
estabelecimento ou o desenvolvimento da actividade profissional dos pais e encarregados
de educao na referida rea de influncia.
Durante a frequncia do ensino bsico, incluindo a transio entre ciclos, ou do
ensino secundrio, ou ainda na transio entre nveis de escolaridade, s so permitidas as
9Na redaco anterior (dada pela Lei n. 59/99, de 30 de Junho), ao progenitor que no exercesse o poder paternalassistia tambm o poder de vigiar a educao e as condies de vida do filho.
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transferncias de alunos entre escolas quando ocorra mudana de curso ou de disciplina de
opo ou especificao que no existam na escola anterior, por vontade expressa e
fundamentada do encarregado de educao ou do aluno quando maior ou na sequncia de
pena disciplinar que determine a transferncia de escola.
Facilmente se percebe que os critrios estabelecidos para a matrcula, renovao de
matrcula e transferncia de escola de uma criana dependem de diversos factores, de entre
os quais destacaramos os seguintes: -
a) - a residncia dos pais ou encarregados de educao na rea de influncia do
estabelecimento de educao pr-escolar ou de ensino;
b) - o exerccio da actividade profissional dos pais ou encarregados de educao na
rea de influncia do estabelecimento de educao pr-escolar ou de ensino.
Ambos os factores so determinantes na escolha do estabelecimento de educao
pr-escolar ou de ensino por ser nessa rea que ser mais vantajoso para os pais e
encarregados de educao terem os seus filhos e educandos a estudar e ser normalmente
nessa rea (de residncia) que as crianas iro desenvolver o seu ncleo de amigos, dentro
e fora da escola, ou que iro beneficiar do apoio familiar no incio e no termo dasactividades lectivas.
Assim sendo, parece-nos que a escolha de um estabelecimento de educao pr-
escolar ou de ensino pblico que observe qualquer um destes factores cabe ao progenitor
residente e no constitui acto ou questo de particular importncia.
No faria qualquer sentido que fosse exigido ao progenitor residente (habitualmente
tambm o encarregado de educao por opo expressa ou tcita de ambos os
progenitores) que respeitasse qualquer um destes critrios e depois sujeitasse essa escolha concordncia do outro progenitor. Mais ainda: - em caso de conflito ou desacordo entre os
progenitores sobre a escolha do estabelecimento de ensino e em que um deles tivesse
observado qualquer um daqueles critrios, que opo iria ser adoptada pelo tribunal a no
ser aquela que tem constitudo a orientao seguida pelos rgos de administrao escolar.
Vejamos agora a segunda situao (matrcula em estabelecimento de ensino
particular e cooperativo ou transferncia e mudana entre estabelecimento de ensino
pblico e estabelecimento de ensino particular e cooperativo).
Neste caso, o acto de matrcula deve ser realizado pelos pais ou encarregados de
educao na escola pretendida, podendo esta situar-se fora dos critrios de proximidade
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geogrfica em relao rea de residncia ou ao domiclio profissional de qualquer dos
pais ou encarregados de educao, sendo orientada, designadamente, pela oferta educativa
que possibilitam, pelos custos e encargos que os progenitores tero que suportar, pelos
servios associados que possibilitam (transporte, alimentao ou prolongamento de
horrio) ou pela prpria tradio familiar ou vontade manifestada pela criana (e.g. no caso
das instituies de ensino de feio militar ou confessional).
Esta opo dos pais pode assim constituir uma questo existencial grave e rara
sobre a vida da criana que a qualifique como questo de particular importncia, no
apenas pelas implicaes patrimoniais que implica para os progenitores (Ac. RE de
19/06/2008 in CJ, III, pg. 255) mas tambm pela opo realizada por estes relativamente
ao tipo de ensino escolhido, no se tratando necessariamente de decises quotidianas e semrelevo na vida da criana (no mesmo sentido, Tom dAlmeida Ramio, ob. cit., pg. 159;
Ana Sofia Gomes, ob. cit., pg. 85; Armando Leandro, ob. cit., pg. 130; Maria Clara
Sottomayor, Exerccio do Poder Paternal relativamente pessoa do filho aps o divrcio
ou a separao de pessoas e bens, 2. edio, Porto, Publicaes Universidade Catlica,
2003, pg. 474).
Vejamos uma terceira questo (decises envolvendo questes de disciplina grave
relativas criana ou adolescente).Aos pais e encarregados de educao incumbe, para alm das suas obrigaes legais,
uma especial responsabilidade, inerente ao seu poder dever de dirigirem a educao dos
seus filhos e educandos, no interesses destes, devendo, em especial, acompanhar
activamente a vida escolar do seu educando, diligenciar para que este cumpra os seus
deveres, contribuir para a preservao da disciplina na escola e contribuir para o correcto
apuramento dos factos em procedimento de ndole disciplinar instaurado ao seu educando,
diligenciando ainda para que este cumpra a medida disciplinar que lhe seja aplicada (artigo6., n.os 1 e 2, alneas a),f), e g), do Estatuto do Aluno).
A violao pelo aluno dos deveres legais ou previstos no regulamento interno, que se
revelem perturbadores do funcionamento normal das actividades da escola ou das relaes
no mbito da comunidade educativa, constitui infraco passvel da aplicao de medida
correctiva ou medida disciplinar sancionatria (artigo 23. do Estatuto do Aluno).
Entre o momento da instaurao do procedimento disciplinar ao seu educando e a sua
concluso, os pais e encarregados de educao devem contribuir para o correcto
apuramento dos factos e, sendo aplicada medida disciplinar sancionatria, diligenciar para
que a execuo da mesma prossiga os objectivos de reforo da formao cvica do
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educando, com vista ao desenvolvimento equilibrado da sua personalidade, da sua
capacidade de se relacionar com os outros, da sua plena integrao na comunidade
educativa, do seu sentido de responsabilidade e das suas aprendizagens (artigo 51. do
Estatuto do Aluno).
Consagrando um princpio de contratualizao entre parceiros educativos, os pais e
encarregados de educao devem conhecer o estatuto do aluno, o regulamento interno da
escola e subscrever, fazendo subscrever igualmente aos seus filhos e educandos,
declarao anual de aceitao do mesmo e de compromisso activo quanto ao seu
cumprimento integral (artigos 6., n. 2, alnea k), e 54., n. 2, ambos do Estatuto do
Aluno).
So previstas duas modalidades de medidas educativas disciplinares (correctivas esancionatrias), prosseguindo ambas finalidades pedaggicas, preventivas, dissuasoras e de
integrao, prosseguindo ainda as medidas sancionatrias finalidades punitivas (artigos
24., 26. e 27. do Estatuto do Aluno) e que podem resultar na aplicao de uma ordem de
sada da sala de aula ou demais locais em que se realize o trabalho escolar at
transferncia de escola.
As medidas disciplinares sancionatrias (repreenso registada, suspenso da escola
at dez dias teis ou transferncia de escola) so aplicadas em funo da especialrelevncia do dever violado e gravidade da infraco praticada e a sua aplicao pode
implicar a necessidade de ponderao sobre a prtica de factos impeditivos do
prosseguimento do processo de ensino e aprendizagem dos restantes alunos da escola, do
normal relacionamento com algum ou alguns dos membros da comunidade educativa,
garantia de frequncia de outro estabelecimento de ensino ou se este estabelecimento
estiver situado na mesma localidade ou localidade mais prxima, servida de transporte
pblico ou escolar (artigo 27., n.
os
8 e 9 do Estatuto do Aluno).Facilmente se compreende que a aplicao de medida educativa disciplinar
sancionatria pressupe a violao grave de deveres que incumbem ao aluno, cujas
consequncias podem traduzir-se em alteraes significativas no seu processo de
aprendizagem e nas prprias rotinas pessoais e familiares.
Assim sendo, como critrio seguro, entendemos que, quando esteja em causa deciso
que envolva questes de disciplina grave relativos criana ou adolescente, nomeadamente
aquelas que possam implicar a aplicao de medida educativa disciplinar sancionatria,
devem estas ser consideradas como questes de particular importncia.
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Vejamos uma quarta questo (decises sobre a participao numa actividade ou
numa visita de estudo por uma criana com cuidados especiais de sade).
As actividades ou visitas de estudo realizadas pelos estabelecimentos escolares ou de
ensino so actividades decorrentes do projecto educativo de escola e normalmente
enquadradas no mbito do desenvolvimento de projectos curriculares de escola e de turma,
em especial quando realizada fora do espao fsico da escola ou da sala de aula.
Assim, constituem actividades curriculares intencionalmente planeadas, servindo
objectivos para desenvolver ou complementar contedos de todas as reas curriculares
disciplinares e no disciplinares, de carcter facultativo, cuja operacionalizao dever
estar definida no regulamento interno do agrupamento ou escola no agrupada.
Cabe ao aluno participar nas mesmas de acordo com os deveres de frequncia e deassiduidade que lhe incumbem (artigo 15., alnea h), do Estatuto do Aluno) embora
possam ser justificados os motivos da no participao nestas actividades, nomeadamente
por razes de sade ou outras.
Embora estas actividades sejam consideradas pelos rgos de administrao escolar
como actividades lectivas e, consequentemente, estejam cobertas pelo seguro escolar
(artigos 3., 5. a 10., 27. e 29., todos da Portaria n. 413/99, de 8 de Junho), possvel
compaginar algumas actividades que no sero adequadas para alunos que necessitem decuidados mdicos especiais ou que evidenciem dificuldades ou limitaes na realizao
dessas actividades.
Tal como em qualquer outra deciso que diga respeito a uma criana, necessrio
atender ao seu superior interesse, diferente para cada famlia e para cada criana, tendo
como ncleo essencial o seu direito vida, segurana e sade.
Neste caso, ainda que a participao nessas actividades possa no envolver riscos
especiais para outras crianas, para uma determinada criana ou jovem pode implicarperigo para a sua sade, segurana ou at mesmo para a vida justificando a sua
qualificao como questo de particular importncia que deve ser decidida por ambos os
progenitores quando estes exercem conjuntamente as responsabilidades parentais.
Vejamos agora uma quinta questo (a deciso sobre a participao numa viagem ao
estrangeiro promovida pelo estabelecimento de ensino).
Cada vez mais, verifica-se um interesse crescente por parte dos estabelecimentos de
ensino, nacionais e estrangeiros, no desenvolvimento de programas de geminao,
intercmbio escolar e visitas de estudo ao estrangeiro, em particular a pases membros da
Unio Europeia, iniciativa que incentivada por diversas decises do Conselho da Europa.
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A participao dos alunos nestes programas proporciona uma relao intercultural e
favorece a tomada de conscincia de um espao europeu, reforando os valores da
democracia e contribuindo para a construo de uma verdadeira Europa dos Cidados.
por isso que os estabelecimentos de ensino promovem iniciativas de intercmbio
escolar que, no essencial, se traduzem em processos de permuta de alunos e docentes,
sendo entendido como uma actividade interdisciplinar de ndole pedaggica e cultural,
integrada no processo de ensino e aprendizagem, organizando segundo objectivos
previamente definidos, visando um melhor conhecimento mtuo, atravs da
correspondncia escolar, troca de material e participao na vida escolar do
estabelecimento de ensino.
As visitas de estudo ao estrangeiro consistem normalmente na deslocao de um oumais grupos de alunos de um estabelecimento de ensino ao estrangeiro, por um perodo
varivel, com objectivos de aprendizagem definidos, visando complementar os
conhecimentos terico-prticos previstos nos contedos programticos das diferentes
matrias de ensino.
Estabelece o artigo 44., n. 2 da Constituio da Repblica Portuguesa que a todos
garantido o direito de sair do territrio nacional e o direito de regressar 10.
A propsito da qualificao das sadas para o estrangeiro como actos da vida correnteou questes de particular importncia, a doutrina evidencia algumas divergncias.
Ana Sofia Gomes considera ser necessria a autorizao de ambos os progenitores
para que o menor viaje at ao estrangeiro, podendo essas autorizaes ser previamente
estabelecidas no acordo de regulao do exerccio das responsabilidades parentais (ob. cit.,
pgs. 64-65).
Tambm Maria de Ftima Abrantes Duarte e Maria Clara Sottomayor consideram ser
questo de particular importncia a deciso entre os pais para que a criana se desloque aoestrangeiro, devendo a autorizao ser assinada por ambos os progenitores; porm,
referido por aquela que o pedido de passaporte no se reveste do carcter de particular
importncia (Maria de Ftima Abrantes Duarte, ob. cit., pg. 162; Maria Clara Sottomayor,
Exerccio do Poder Paternal, pg. 505).
Armando Leandro considera o pedido de passaporte para efeitos de migrao ou
mudana de residncia como acto de particular importncia mas o mesmo no se aplica aos
pedidos de passaporte para efeitos de turismo (ob. cit., pg. 130).
10 por isso que na medida em que a sada do pas exija um ttulo adequado e esse ttulo seja um passaporte, existe umdireito ao passaporte (Gomes Canotilho e Vital Moreira, Constituio da Repblica Portuguesa Anotada, volume I, 4.edio revista e actualizada, Coimbra, Coimbra Editora, 2007, pg. 252).
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Helena Gomes de Melo e outros entendem que a deciso de levar a criana para o
estrangeiro no constitui questo de particular importncia, salvo quando se trata de pases
em conflito blico ou inseguros ou com pandemias, uma vez que pode estar em causa a
segurana e a sade da criana, tratando-se neste caso de questo de particular importncia
(ob. cit., pgs. 144-145); esta posio igualmente defendida por Tom dAlmeida Ramio
(ob. cit., pg. 159).
Hugo Manuel Leite Rodrigues defende que a sada da criana para pas estrangeiro
em turismo ou em viagem de lazer ou de estudo no constitui questo de particular
importncia, salvo se essa experincia implicar perigo para a sade, segurana ou prpria
vida da criana, caso em que a autorizao deve ser concedida por ambos os progenitores11
(ob. cit., pg. 162).Estabelece o artigo 16., n. 2 do Decreto-Lei n. 83/2000, de 11 de Maio (com as
alteraes introduzidas pelo Decreto-Lei n. 138/2006, de 26 de Julho) que a concesso de
passaporte comum para menor requerida por quem, nos termos da lei, exerce o poder
paternal (hoje responsabilidades parentais), a tutela ou curatela, mediante exibio pelo
respectivo representante dos documentos comprovativos dessa qualidade legal.
Por seu turno, o artigo 21. do mesmo diploma dispe que no pode ser emitido
passaporte comum quando, relativamente ao requerente, conste oposio por parte dequalquer dos progenitores manifestada judicialmente, no caso de menor, enquanto no for
judicialmente decidido ou suprido o poder paternal ou deciso dos rgos judiciais que
impea a concesso do passaporte.
Sobre a sada dos menores para o estrangeiro, dispe o artigo 23. do referido
diploma que os menores, quando no forem acompanhados por quem exera as
responsabilidades parentais, s podem sair do territrio nacional exibindo autorizao para
o efeito, devendo esta constar de documento escrito, datado e com a assinatura de quemexerce as responsabilidades parentais legalmente certificada, conferindo ainda poderes de
acompanhamento por parte de terceiros, podendo esta ser autorizao ser utilizada um
nmero ilimitado de vezes, dentro do prazo de validade que o documento mencionar que
no pode exceder o perodo de um ano civil ou, se no for mencionado outro prazo, sendo
vlida por seis meses, contados da respectiva data de emisso.
Assim sendo, salvo melhor opinio, afigura-se que a deciso de participao da
criana numa viagem ao estrangeiro promovida pelo estabelecimento de ensino no
constitui questo de particular importncia.
11Esta a posio igualmente defendida por Helena Bolieiro e Paulo Guerra (ob. cit., pg. 175, nota 24).
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Em primeiro lugar, no de prever que um qualquer estabelecimento de ensino
promova uma viagem ou visita de estudo a um pas estrangeiro que esteja a viver uma
situao de conflito, uma pandemia ou qualquer outra circunstncia que pudesse
representar, de alguma forma, perigo para as crianas envolvidas. certo que essa situao
de perigo pode ocorrer posteriormente, durante a viagem, j que algumas dessas
circunstncias so de ocorrncia incerta e imprevisvel (cataclismos, terramotos, cheias,
inundaes)12, outras podem ocorrer em espaos de tempo muito curto mas tambm de
forma inesperada (atentados, tumultos ou rebelies que conduzam a situaes de conflito)
mas, ainda assim, o juzo de prognose que feito sobre a escolha do destino de viagem
assenta numa situao de normalidade.
Em segundo lugar, mesmo que o transporte escolhido seja o avio, hoje em dia,viajar desta forma usual e massificado, to ou mais seguro do que viajar de automvel,
no envolvendo maiores riscos do que aqueles que ocorrem em relao a qualquer outra
viagem.
Finalmente, se o pedido de autorizao para a viagem implicar igualmente a emisso
de passaporte para efeitos de turismo13 - sem que implique a emisso de visto de residncia
- tambm este no constitui acto ou questo de particular importncia, sem prejuzo do
dever de informao que dever ser prestado pelo progenitor residente ao outro progenitor.Vejamos, em ltimo lugar, uma outra questo (deciso sobre a participao em
actividades formativas que, por razes fundamentadas, um dos pais considere ter impacto
negativo na vida do filho).
Constitui princpio geral do sistema educativo portugus que, no acesso educao e
na sua prtica, garantido a todos os cidados o respeito pelo princpio da liberdade de
aprender e de ensinar, com tolerncia para com as escolhas possveis, tendo em conta,
designadamente a no atribuio ao Estado do direito de programar a educao e a culturasegundo quaisquer directrizes filosficas, estticas, polticas, ideolgicas e religiosas, o
princpio da no confessionalidade do ensino pblico e a garantia do direito de criao de
escolas particulares e cooperativas (artigos 2., n. 3 da Lei de Bases do Sistema Educativo
e 4., n.os 3 e 4 da Lei da Liberdade Religiosa, aprovada pela Lei n. 16/2001, de 22 de
Junho).
12
Basta recordar que as zonas mais atingidas pelo tremor de terra e posterior deslocao da ondulao no mar(tsunami) ocorrido na zona do ndico e Sudoeste Asitico h alguns anos atrs afectaram especialmente pases ouregies fortemente ligadas ao turismo e ao lazer.
13A livre circulao de pessoas e bens no interior dos pases da Unio Europeia dispensa a necessidade de emisso depassaporte pelo que, nestes casos, tambm a viagem em turismo ou lazer no constitui acto ou questo de particularimportncia.
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A liberdade de conscincia, de religio ou de culto compreende, nomeadamente, o
direito de ter, no ter ou deixar de ter religio, escolher livremente, mudar ou abandonar a
prpria crena religiosa e praticar ou no praticar os actos de culto, particular ou pblico,
prprios da religio professada (artigo 8., alneas a), a c), da Lei da Liberdade Religiosa).
Os pais tm o direito de educao dos filhos em coerncia com as prprias
convices em matria religiosa, no respeito da integridade moral e fsica dos filhos e sem
prejuzo da sade destes, tendo os menores, a partir dos 16 anos de idade, o direito de
realizar por si as escolhas relativas liberdade de conscincia, religio e de culto (artigos
1886. do Cdigo Civil e 11. da Lei da Liberdade Religiosa).
Apesar do carcter no confessional do ensino pblico, permitida a possibilidade
das igrejas ou outras comunidades religiosas ministrarem ensino religioso nas escolaspblicas, sendo este opcional e no alternativo relativamente a qualquer outra rea ou
disciplinar curricular (artigo 24., n.os 1 e 2 da Lei da Liberdade Religiosa).
Contudo, no desta questo que cuidamos embora esta introduo se mostre
conveniente para situar o problema.
Com efeito, no obstante a natureza no confessional do ensino pblico ou o carcter
opcional da educao moral e religiosa, por vezes, no mbito das prprias actividades
lectivas ou curriculares usuais, podem ser realizadas iniciativas que envolvam os alunos eque colidam ou no sejam aceites por certas convices religiosas ou filosficas de um ou
de ambos os progenitores.
Basta pensar que, numa sociedade de tradio predominantemente crist, o
estabelecimento escolar ou de ensino promova uma iniciativa relacionada com a
celebrao do Natal ou da Pscoa (ou qualquer outro evento relacionado com a liturgia de
uma determinada convico religiosa) quando estas ocasies no so celebradas por outras
convices religiosas. Ou ainda numa iniciativa promovida pelo estabelecimento de ensinoque se inicie ou prolongue para depois do pr-do-sol quando um dos progenitores ou
ambos professam uma convico religiosa que os impede de realizar qualquer actividade
festiva depois desse momento.
A escolha da religio constitui uma questo que a doutrina, de forma maioritria,
classifica como questo de particular importncia.
Assim, Rosa Martins afirma que cabe aos pais decidir da educao religiosa do filho
at aos 16 anos, altura em que ele prprio passa a exercer sobre as suas prprias crenas
religiosas (Menoridade, (In)Capacidade e Cuidado Parental, Centro de Direito da Famlia
13, Coimbra, Coimbra Editora, 2008, pgs. 211-212).
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Tambm Pires de Lima e Antunes Varela afirmam que se trata incontestavelmente de
questo de particular importncia (Cdigo Civil Anotado, volume V, Coimbra, Coimbra
Editora, 1995, pg. 353); no mesmo sentido, pronunciam-se Tom dAlmeida Ramio (ob.
cit., pg. 159), Ana Sofia Gomes (ob. cit., pg. 85), Helena Bolieiro e Paulo Guerra (ob. cit.,
pg. 176) e Hugo Manuel Leite Rodrigues (ob. cit., pg. 147).
Tratando-se de uma questo de particular importncia cujo eventual desacordo dos
progenitores no tenha sido judicialmente resolvido, no deve o estabelecimento escolar ou
de ensino efectuar a integrao da criana numa iniciativa que possa implicar, partida, a
oposio de algum dos progenitores, caso tenha conhecimento dessa oposio (artigo
1902. do Cdigo Civil).
Contudo, se essa questo de particular importncia (a educao religiosa da crianamenor de dezasseis anos) tiver sido judicialmente resolvida e a participao na iniciativa
em causa estiver de acordo com essa orientao religiosa e tiver sido autorizada pelo
progenitor que pugnava por essa orientao, a oposio do outro progenitor no pode ser
considerada relevante uma vez que a frequncia e o modo como vivida a orientao
religiosa faz parte das decises quotidianas da criana.
por isso que, do mesmo modo, se a criana estiver temporariamente com o
progenitor que manifestou a sua oposio participao nessas iniciativas e este no olevar a participar na mesma, constitui um acto da vida corrente que esse progenitor pode
praticar, sendo apenas da sua responsabilidade quais as consequncias futuras que poder
ter sobre a vida do filho.
- IV -
O DIREITO DE INFORMAO DO PROGENITOR QUE NO EXERCE
AS RESPONSABILIDADES PARENTAIS
O progenitor que no exera as responsabilidades parentais tem o direito de vigiar as
condies de vida e a educao do filho pelo que, consequentemente, beneficia do direito a
solicitar e receber da escola todas as informaes relativas ao percurso e sucesso escolar do
seu filho (artigo 1906., n.os 2 e 6 do Cdigo Civil, na redaco dada pela Lei n. 61/2008,
de 31 de Outubro).
Por maioria de razo, este direito (de vigilncia sobre as condies de vida e de
educao do filho) extensivo aos progenitores que exeram conjuntamente asresponsabilidades parentais.
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difcil compatibilizar o dever de informao do encarregado de educao
(normalmente uma nica pessoa ou interlocutor com a escola) e o direito de informao
que assiste ao progenitor com quem a criana no reside ou a quem no foi confiado o
exerccio das responsabilidades parentais.
Existindo um direito legal de informao do progenitor com quem o aluno menor no
reside ou a quem no tenha sido confiado ou nem exera as responsabilidades parentais e,
no sendo esse que, normalmente, exerce as funes de encarregado de educao, no
podem os estabelecimentos de educao pr-escolar e de ensino (pblico, particular ou
cooperativo) adoptar qualquer procedimento que impossibilite aquele de obter informaes
sobre o rendimento escolar do filho, mesmo perante situaes de conflito parental.
Vejamos.Os instrumentos de registo da escolaridade de cada aluno so o processo individual,
o registo biogrfico, a caderneta escolar e a ficha trimestral de avaliao (artigo 26., n. 1
do Decreto-Lei n. 301/93, de 31 de Agosto).
O processo individual contm os elementos relativos ao percurso escolar do aluno,
devendo acompanh-lo ao longo de toda a escolaridade bsica e ser devolvido, no termo da
mesma, aos encarregados de educao (n. 2 do citado artigo)14.
O registo biogrfico contm os elementos relativos assiduidade e aproveitamentodo aluno, cabendo escola a sua organizao, conservao e gesto (n. 3 do mesmo
artigo).
A caderneta escolar contm as informaes da escola e do encarregado de educao,
bem como outros elementos relevantes para a comunicao entre a escola e os pais e
encarregados de educao, sendo propriedade do aluno e devendo ser por este conservada
(n. 4 do referido artigo).
A ficha de avaliao contm um juzo globalizante sobre o desenvolvimento dosconhecimentos e competncias, capacidades e atitudes do aluno e entregue no final de
cada perodo escolar ao encarregado de educao pelo professor, no 1. ciclo, ou, nos 2. e
3. ciclos, pelo director de turma (n. 5 deste artigo).
atravs destes instrumentos de registo que, normalmente, processada a
transmisso da informao sobre a situao do aluno aos pais e encarregados de educao
14 So registadas no processo individual do aluno as informaes relevantes do seu percurso educativo,
designadamente as relativas a comportamentos meritrios e a medidas disciplinares sancionatrias aplicadas e os seusefeitos, sendo as informaes contidas referentes a matria disciplinar e de natureza pessoal e familiar estritamenteconfidenciais, encontrando-se vinculados ao dever de sigilo todos os membros da comunidade educativa que a elastenham acesso (artigo 16., n.os 2 e 4 do Estatuto do Aluno). A consulta destes elementos deve ser permitida ao aluno eaos seus pais ou encarregados de educao (artigo 62. do Cdigo de Procedimento Administrativo e Lei de Acesso aosDocumentos Administrativos, aprovada pela Lei n. 46/2007, de 24 de Agosto).
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e, na verdade, o sistema no est preparado para garantir uma duplicao da informao
quando ocorra uma situao de dissociao familiar.
Com efeito, no caso particular dos elementos que so entregues aos pais e
encarregados de educao, apenas existe um processo individual, uma caderneta escolar e,
no final de cada perodo escolar, apenas elaborada uma ficha de avaliao que entregue
ao pai ou encarregado de educao que comparea na reunio convocada pelo professor
titular ou pelo director de turma ou que contacte com este posteriormente.
Perante uma situao de dissociao familiar, era ao progenitor residente que caberia
prestar as informaes que se mostrassem relevantes para que o outro progenitor
(exercendo ou no as responsabilidades parentais) pudesse exercer o seu direito de
vigilncia sobre as condies de vida e educao do filho comum, designadamenteenviando-lhe informaes sobre a identificao do professor titular ou director de turma,
horrio de atendimento, resultados ou necessidades escolares, comportamento escolar,
progresso nas aprendizagens, reunies de pais e encarregados de educao, permitindo
que este acompanhe efectivamente o percurso escolar do filho e compartilhe os seus
direitos e deveres parentais para com este.
Infelizmente, no isto que se verifica numa boa parte das situaes em que um dos
progenitores no cumpre os seus deveres de informao para com o outro, na prtica,impedindo ou dificultando o acesso aos elementos necessrios para que o outro progenitor
possa exercer o seu direito de vigilncia sobre a vida e educao do filho, apenas restando
o recurso ao estabelecimento de ensino para o efeito.
O direito de ser informado significa que esse progenitor tem o direito a exigir do
outro a informao relativa ao modo como o outro exerce a sua responsabilidade parental,
em particular no que se refere educao e condies de vida do filho, e que o outro tem o
correspectivo dever de as prestar (neste sentido, Tom dAlmeida Ramio, ob. cit., pg.158).
Mas o direito de ser informado no tem que ser exercido apenas relativamente ao
progenitor obrigado ao correlativo dever de prestar a informao, podendo s-lo
relativamente ao estabelecimento escolar ou de ensino sem que este possa eximir-se a essa
obrigao mesmo que a mesma j tenha sido legalmente cumprida perante aquele que foi
indicado como encarregado de educao.
S que, mesmo tendo conhecimento de uma situao de dissociao familiar que
envolva o aluno, no incumbe ao estabelecimento escolar ou de ensino indagar se foi
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cumprido o dever de informao por parte do progenitor a quem foram prestadas as
informaes na qualidade de encarregado de educao.
Sem qualquer dvida, o que lhe incumbe permitir que, perante um pedido
formulado pelo progenitor que no est indicado como encarregado de educao e que
normalmente no surge como o interlocutor privilegiado, sejam prestadas as informaes
que lhe sejam pedidas nas mesmas condies que so fornecidas ao encarregado de
educao.
Em suma, a iniciativa ter que caber ao progenitor relativamente ao qual no foi
cumprido o dever de informao sobre as condies de vida e educao do filho,
pertencendo a este a opo se as deve obter atravs do estabelecimento escolar ou de
ensino ou atravs de qualquer outra forma legalmente permitida.Perante esta iniciativa - que, em nosso entender, nem tem que ser fundamentada ou
justificada - o estabelecimento escolar ou de ensino deve prestar as informaes que lhe
forem solicitadas, nas mesmas condies que o faria relativamente ao outro progenitor e
encarregado de educao, salvo se lhe for dado conhecimento escrito de qualquer restrio
judicial que impea o acesso a essas informaes.
- V -
DELEGAO DAS FUNES DE ENCARREGADO DE EDUCAO
Estabelece o artigo 1906., n. 4 do Cdigo Civil que o progenitor a quem cabe o
exerccio das responsabilidades parentais relativas aos actos da vida corrente pode exerc-
las por si ou delegar o seu exerccio, actos esses que podem ser exercidos por qualquer um
dos progenitores quando a criana se encontra consigo.
Para alguns autores, ter-se- pretendido permitir que, na ausncia desse progenitor,
por motivos vrios e nomeadamente por razes profissionais, em que os filhos ficam aocuidados de ama, de familiar ou de instituies (infantrio ou creche), essas pessoas
possam exercer as responsabilidades parentais quanto aos actos da vida corrente e tomem
as decises adequadas nesses actos, presumindo-se que o progenitor, ao delegar essa
responsabilidade, transmitir as respectivas orientaes (neste sentido, Tom dAlmeida
Ramio, ob. cit., pg. 160).
Para outros autores, esta disposio normativa veio igualmente conferir relevncia ao
papel educativo cada vez mais importante e significativo que desempenhado pelosdenominados padrastros ou madrastas em situaes de reconstituio familiar (neste
sentido, Guilherme de Oliveira, A Nova Lei do Divrcio, in Lex Familiae, Ano 7, n. 13,
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Coimbra Editora, 2010, pg. 26) ou mesmo conferindo um estatuto jurdico ao crculo de
pessoas com quem o progenitor no residente se relacionava e a quem este incumbia da
realizao de tarefas atinentes aos filhos (neste sentido, Helena Gomes de Melo e outros,
ob. cit., pg. 57).
Nas famlias reconstitudas ou recompostas, dois adultos formam um casal, aps a
dissoluo da unio de um deles, ou de ambos, com outrem e com eles podem viver filhos
de ligaes anteriores, sendo usual a interferncia do novo companheiro do progenitor
residente na educao dos filhos menores, podendo contribuir para evitar os elementos
negativos associados vivncia ou estrutura monoparental, para criar ou agravar a
conflitualidade no lar ou mesmo para dificultar ou quebrar os contactos entre a criana e o
progenitor no residente (Jorge Duarte Pinheiro, O Direito da Famlia Contemporneo, 2.edio - reimpressso, Lisboa, AAFDL, 2009, pg. 322).
O legislador (Ministrio da Educao) parece admitir a possibilidade de delegao
das funes de encarregado de educao desde que esta seja devidamente comprovada15
por parte daquele que tenha menores sua guarda pelo exerccio das responsabilidades
parentais, por deciso judicial ou pelo exerccio de funes educativas na direco de
instituies que tenham menores sua responsabilidades (n. 1.2. do Despacho SEE n.
14026/007, publicado no Dirio da Repblica 2. srie n. 126 de 3 de Julho de 2007,rectificado pela Declarao n. 1258/2007, publicado no Dirio da Repblica 2. srie n.
155 de 13 de Agosto de 2007, alterado pelo Despacho n. 13170/2009 publicado no Dirio
da Repblica 2. srie n. 108 de 4 de Junho de 2009, e pelo Despacho n. 6258/2011
publicado no Dirio da Repblica 2. srie n. 71 de 11 de Abril de 2011).
Esta foi sempre a posio assumida pelo Ministrio da Educao na medida em que
se entendia compatvel com o exerccio do poder paternal a delegao de funes de
encarregado de educao, embora sujeita efectivao por ambos os progenitores quandoo exerccio do poder paternal fosse conjunto ou, ento, por aquele que exercesse o poder
paternal, sendo esta revogvel a todo o tempo mas sujeita a confirmao no incio de cada
ano lectivo (Parecer n. 43/2003 da Auditoria Jurdica do Ministrio da Educao16).
Contudo, esta amplitude no aceite por alguma doutrina que entende que o
encarregado de educao s poderia ser um terceiro quando algum dos progenitores
estivesse limitado ou inibido do exerccio do poder paternal, sendo essa figura diversa
15Uma simples consulta aos locais de internet de alguns estabelecimentos de ensino permite verificar que boa partedeles adoptaram um modelo ou formulrio prprio para a comprovao escrita da delegao das funes de encarregadode educao.
16O texto deste Parecer encontra-se disponvel no livro de Ftima Correia Leite e Esmeralda Nascimento, O NovoEstatuto do Aluno Anotado e Comentado, 2. edio, Coimbra, Almedina, 2008, pgs. 89-97).
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daquela prevista nos procedimentos a observar para as matrculas e suas renovaes
(Ftima Correia Leite e Esmeralda Nascimento, O Novo Estatuto do Aluno Anotado e
Comentado, 2. edio, Coimbra, Almedina, 2008, pg. 97).
legalmente prevista a possibilidade de delegao quanto aos actos usuais ou da
vida corrente da criana, delegao essa que pode ser realizada por qualquer dos
progenitores.
O factor de conflito que pode emergir da opo assumida nesta delegao radica
normalmente na circunstncia desta ser realizada em benefcio de algum (avs ou adultos
com quem o progenitor residente vive em relao conjugal ou marital) e o progenitor no
residente entender que poderia ser ele a exercer essas funes, participando mais na vida
do filho comum, ou entender que essa delegao vai aumentar os poderes de interfernciada pessoa a quem conferida essa delegao, em particular quando exista litgio entre o
progenitor no residente e essa pessoa.
Nas famlias em que ambos os membros do casal exercem actividade profissional,
muitas vezes so os avs ou outros familiares que desempenham um verdadeiro papel de
substituto dos progenitores durante a ausncia destes, assumindo uma funo educativa de
enorme importncia social. S que, normalmente, esse papel conferido aos ascendentes
com quem o progenitor residente tem maior proximidade e que, muitas vezes, no tem umaboa relao com o progenitor no residente ou que, antes da separao, nem sequer
desempenhava essa funo na medida em que esta era exercida pelo outro ramo familiar da
criana.
Como principal premissa, podemos afirmar que a delegao das funes de
encarregado de educao contempla um mbito ou um contedo mais vasto de direitos e
deveres funcionais do que a delegao quanto aos actos usuais ou da vida corrente da
criana na medida em que o exerccio das funes de encarregado de educao podeabranger no apenas actos da vida corrente mas tambm questes de particular
importncia.
Assim sendo, se o exerccio das responsabilidades parentais relativos criana for
exercido em conjunto por ambos os progenitores, a delegao das funes de encarregado
de educao deve ser conferida pelo pai e pela me da criana, sob pena de ficar limitada
ao exerccio dos actos da vida corrente e, desta forma, obrigar o estabelecimento escolar ou
de ensino a procurar obter o acordo dos pais quando esteja em causa acto ou questo de
particular importncia.
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Caso o exerccio das responsabilidades parentais seja exercido apenas por um dos
progenitores, a delegao das funes de encarregado de educao cabe apenas a esse
progenitor, sem prejuzo do direito de informao do outro progenitor sobre as condies
de vida e educao do filho comum (artigo 1906., n.os 2 e 4 do Cdigo Civil).
- VI -
A PROIBIO DE CONTACTOS PESSOAIS DA CRIANA
COM UM DOS PROGENITORES NO ESPAO ESCOLAR
A criana tem o direito de estabelecer, reatar ou manter uma relao directa e
contnua com o progenitor a quem no foi confiado, devendo este direito ser exercido no
interesse da criana, verdadeiro beneficirio desse direito de visita17, incumbindo ao
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