antologia de escritores contemporâneos · 2020. 6. 9. · escritores contemporÂneos. o...
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Antologia de escritores
Contemporâneos
Volume 03
Fevereiro/2020 1ª Edição
Copyright © 2019 by autores. O conteúdo desta obra é de
responsabilidade dos autores, proprietários do Direito Autoral.
Todos os direitos reservados. Proibido a reprodução no todo ou em parte, sem autorização prévia dos autores e editora, sejam quais forem
os meios empregados. A violação dos direitos do autor é crime
estabelecido no Código Penal.
Organizadora: Dolores Flor Revisão: Ireneu Bruno Jaeger| Simone de Sousa Naedzold| Antonio Cesar Gomes da Silva
DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO (CIP)
Carla Lopes Ferreira (Bibliotecária CRB1-2960)
Índices para catálogo sistemático
Literatura brasileira: poesia 82-1 Literatura brasileira: poesia B869.91
EDITORA AÇÕES LITERÁRIAS
CAIXA POSTAL 785 – SINOP- 78.551-350
FONE (66) 9 9643-5501 www.escritorescontemporaneos.com.br
Leite, Dolores Flor da Cruz (Org.)
Antologia de escritores contemporâneos /
Dolores Flor da Cruz Leite (Org.).– 1. ed. – Sinop,
MT: Ações Literárias Editora, 2020.
100 p. ; 14x21cm.
Volume III
ISBN 978659901454-3
1. Literatura brasileira - poesia. 2. Versos. I.
Título.
CDU 82-1 CDD B869.91
L632a
SUMÁRIO
Ao Leitor .............................................. 10
NOSSA HISTÓRIA NOSSOS ESCRITORES ... 12
Marcelo Afonso Portes ......................... 12
Falando com nosso homenageado ........ 14
Marcelo Afonso Portes ........................... 14
Fé real ................................................ 20
Aprender a ser ..................................... 22
A Chave .............................................. 23
Chuva ................................................. 24
Leni Zilioto ........................................... 28
Harmonia ............................................ 28
Minuano .............................................. 28
Mensagem .......................................... 29
Marlete Dacroce ................................... 30
A arte de viver ..................................... 30
Loucuras da paixão ............................... 31
Jacinaila Ferreira ................................. 32
Definindo o indefinível ........................... 32
Marilene Sousa Henning ....................... 34
A flor de laranjeira................................ 34
Saudade ............................................. 35
Andréa Miriam Laurindo ....................... 36
Começo e fim ...................................... 36
Estranho ............................................. 37
Maria Clara Flor ................................... 38
Meu gatinho ........................................ 38
Antonio Cesar ...................................... 40
Meu verão preferido .............................. 40
Rumos da vida ..................................... 41
Toni Coelho de Almeida ........................ 42
O despertar do espectro ........................ 42
Josiane Domeni Lima ........................... 44
Amanhecer .......................................... 44
Acordar ............................................... 45
Priscilla Caroline Grandi Lopes ............. 46
Minha amada Laura. ............................. 46
Quanto dura meu amor por ti ................. 46
O sangue estrangeiro que corre em minhas
veias .................................................. 47
Bernadete Crecêncio Laurindo .............. 48
MATEMÁTICA DO TEMPO ....................... 48
TESTAMENTO ...................................... 49
Dolores Flor ......................................... 50
No elo ................................................ 50
Sonho................................................. 51
Luan da Silva Moreno ........................... 52
Atibaia ................................................ 52
Mafalda Moreno ................................... 54
MOMENTO ........................................... 54
Josivaldo Constantino dos Santos ........ 56
MEU RETRATO ..................................... 56
NA CIDADE ......................................... 57
Maria Cristina de Sá Pereira ................. 58
Silêncio ............................................... 58
Lua .................................................... 59
Camila Lazarotto .................................. 60
A magia do bom dragão ........................ 60
Chamille Larissa Miranda Bergo ........... 62
Devassidão .......................................... 62
Amanda Lima de Oliveira ..................... 64
Verbo Barros ....................................... 64
Exposição ............................................ 65
Vilson Roque Bocca .............................. 66
Sonhe comigo ...................................... 66
Amor Indômito..................................... 67
Valter Figueira ..................................... 68
Tempo ................................................ 68
Infinito ............................................... 69
Anna Figueira ...................................... 70
NÃO ................................................... 70
Rosane Gallert Bet ................................ 72
Desuso ............................................... 72
Lágrima .............................................. 73
Valéria Luz ........................................... 74
Coração em frangalhos.......................... 74
Marcelo Pininga Teixeira ...................... 76
Quidquid luce fuit, tenebris agit .............. 76
Shirlei Alexandra da Silva .................... 80
Ciúme................................................. 80
O menino branco que era negro ............. 81
Prof. Ireneu Bruno Jaeger .................... 86
Às vezes é melhor não saber. ................. 86
Simone de Sousa Naedzold .................. 90
O encantador de borboletas ................... 90
Manoel Rodrigues Leite ........................ 94
NA FILA .............................................. 94
=== POESIAS ===
==CONTOS ==
Ao Leitor
A Ações Literárias Editora, apresenta seu terceiro volume da ANTOLOGIA ESCRITORES CONTEMPORÂNEOS. O homenageado desta obra e o professor Marcelo autor de vários escritos e também ilustrador, junto com ele mais 29 escritores fazem parte do registro deste momento.
Dolores Flor Editorial
NOSSA HISTÓRIA NOSSOS ESCRITORES
Marcelo Afonso Portes
Nasceu em Curitiba (PR) e concluiu o
curso de pedagogia em 2009, pela
Universidade Estadual do Noroeste do
Paraná, UNOPAR. Está preste a terminar
o curso de Arquitetura. Ilustrou o livro O
melhor lugar do mundo (2019) de
Antonio Cesar, colaborou com a
publicação de um artigo no livro
Práticas Pedagógicas (2019) com
outros professores da Escola Municipal
Sadao Watanabe. Atualmente é
professor da rede municipal na cidade de
Sinop.
Falando com nosso homenageado Marcelo Afonso Portes
1- AL: Na hora de escrever sua poesia, o
que você faz para buscar as palavras
certas?
Marcelo: Concentro-me no tema central, na
problemática ou até mesmo no apreço
sentimental.
2 - AL: Além dos poemas, você também
desenha. O que é mais importante na
produção de um desenho?
Marcelo: Dizem que poucas pessoas podem ter
o dom de desenhar, mas o importante mesmo
é dedicar- se, pois, o treinamento leva a
perfeição, técnicas de desenho como desenhar
com o lado esquerdo do cérebro, aprimorar o
uso da luz e sombra ajudam a dar acabamento
na ilustração mais também tende a se
preocupar com o nível de imaginação do ilustrador.
3 - AL: Tanto os poemas quanto as
ilustrações que fazem parte de sua
produção, que importância você dá a cada
uma?
Marcelo: Acredito que a devida relação está
ligada na inserção do indivíduo na linguagem,
pois a literatura infantil necessita de imagens,
a familiaridade da criança com a escrita neste
momento começa a se construir com esquemas
cognitivos se apegando nos sentidos.
4 - AL: Você gosta mais de escrever ou
ilustrar? Por quê?
Marcelo: A mais de 22 anos trabalhando com
crianças, me identifico muito com a literatura
infantil e a mesma no meu ponto de vista é
imprescindível o uso de ilustrações para
dinamizar a criatividade e criticidade do
indivíduo.
5 - AL: Que sentimentos suas criações lhe surgem enquanto as cria?
Marcelo: Algo que gosto muito de fazer é de
levar minhas criações para observar a reação
das crianças, pois sabem muito de avaliação e
são extremamente honestos com a qualidade e
entendimento do propósito, e quando vejo que
alcancei a satisfação dos pequeninos, a
satisfação é mútua.
6 - AL: Como você pensa a sua arte?
Marcelo: Como um fragmento de muitas
percepções que irá ajudar alguém de alguma forma, dando direção, orientação e
principalmente fomentar a criatividade infantil
que está sendo sepultado com o mau uso das
tecnologias informativas.
7 - AL: Quais projetos você deixou para
trás e quais destes ainda pretende
reviver?
Marcelo: Este é um defeito que tenho, penso
na ideia, início a construção mais não termino
e durante um longo tempo me disperso com
outras futilidades momentâneas, acredito que
parte desta falência produtiva estava na
dificuldade de publicar minhas produções, onde
o primordial se baseava principalmente no
quantificar deixando a qualidade de lado, ou
seja, tiragem ou desistência.
8 - AL: O que você está produzindo
atualmente?
Marcelo: Agora com o grandioso trabalho da
Editora que precede as produções de vários
autores possibilitando o materialismo da arte
produzida posso concretizar minhas literaturas
infantis que ficaram guardadas.
9 - AL: O que tem em mente para o futuro,
quais projetos tanto de poesia quanto de
ilustrações gostaria de dar vida e o que
estas obras tem de relevante para as
pessoas?
Marcelo: Bem, gosto muito de pegar uma problemática e traduzi-la em forma de
conscientização infantil e infanto-juvenil.
10 - AL: Fale-nos um pouco do seu trajeto
literário. Marcelo: Eu nunca fui de leituras, mais gostava
de ler algo diferente que me despertasse o lado
curioso sobre as coisas do mundo, já na escola,
faculdade era necessário ler as temáticas
aplicadas, aprendi muito mais ainda percebo
uma fragilidade da literatura de se tornar um
consumo necessário, no passado uma classe
social detinha o habito da leitura, ou seja,
poucas pessoas possuíam a linguagem culta,
Mais hoje está cada vez pior a criatividade em
falta e a necessidade de achar tudo pronto das
novas gerações necessitam de atenção para
reverter esta situação.
11 - AL: Quais são os seus próximos
projetos literários? Marcelo: Tenho alguns, infantis como Florinda
a abelhinha; Elias come tudo; Gramaticolândia;
Maria Maria; Machadinho e O lápis mágico.
12 - AL: Quais são seus escritores / livros
favoritos? Marcelo: Não tenho muitos, de literatura gosto
do tempero imaginário de Monteiro lobato, Eva
Furnari à J.R.R.Tolkien.
13 - AL: Qual dica você deixaria para
escritores ou ilustradores iniciantes, com base em suas próprias experiências? Marcelo: Não busque uma só vertente pesquise
mais, experimente mais no mundo há várias
dimensões e principalmente seja original, em
nossa realidade precisamos de pessoas
confiantes e confiáveis não meros copistas.
Poesias do Escritor
Fé real
Preste atenção em sua capacidade,
Pois muitos duvidam que você a tenha.
Uma criança não nasce com maldade,
É o aprendizado de um mundo que a condena.
Um ser em construção manifesta o seu valor,
No contexto de sua suada trajetória.
Os arquipélagos de seu fervor,
Que o intitula maestro de sua história.
A constante busca pela superação,
É forjada em seus pilares morais.
Que tais decisões de sua ação,
Encadeiam sim ou não artifícios fatais.
Quando um ser nasce,
Cheio de dinamismo e acrescido de progredir,
Justifica a sua racionalidade,
Mas que o prejudica ao transgredir.
O simples pensamento do ser,
Configura sua vasta diferença do animal.
Projetando sua vitrine da existência,
Se sobrepondo ao seu lado transcendental.
O ser racional,
Pode estar extinto em sua totalidade.
Mas como hoje somos muitos,
Só alguns grãos de moralidade.
Aprender a ser
Saber ser não é ser existencial,
Mas ser e saber ser para vida
Como saber se não sei correr atrás
Como viver se não sei responder o que me faz
Pensar que já sou sem sentir a ação
É o mesmo que sentir a vida sem ter pulsação
Sentir a existência é acordar de um sono
É tomar o movimento relativo
É não ser um cão sem dono É prever o impossível
Saber viver é ser o devemos ser
Depende da escolha do princípio não ou sim
Sempre tem início
Mas nunca tem um fim...
A Chave
Abrir a porta da existência
Não é tarefa para um
O ser existe pela insistência
De laços guiados de Norte a Sul
Somos peças intrigantes de uma história
Que procura sentido e significado
Mais a data de validade retórica
Limita a vida e o aprendizado
Ter a ferramenta para abrir os dilemas
Direcionando as tortuosas trilhas da vida
É ser egoísta de aprender com seus problemas
E dividir a trilha percorrida
Chuva
Que molha a terra
Que viaja sem sela
Que fala ao estrondo
Que amedronta o lobo
Que sacia a cede
E purifica a rede
Que tranquiliza com seu som
Orquestrando a música em tons
Que lava a face do choro caído
Que inspira força do sonho persistido
Seu cheiro, seu carinho, seu frescor
Chuva molha a alma levando a dor.
Existência
Se a vida é mesmo uma árdua passagem
que todos os seres passam, porque
desprezá-la, ignorá-la ou esquecê-la, não
enfrentá-la e deixar como esteja.
São fotos que desejamos rever pelo
sentido da vida ou sentido de morrer.
São cômodos de uma nova casa que
queremos conhecer, saber se há um fim
ou se há um renascer.
Porque estamos nela até o último capítulo
desta novela acontecer.
Escritores
Contemporâneos
Leni Zilioto Sinop-MT
Harmonia
Não somos únicos.
Não somos especiais.
Normais, odiamos e amamos,
até o esgotamento dos dois.
Todas as histórias, iguais, em telas naturais,
são espetáculos únicos, especiais!
Minuano
Você quer saber o que estou vestindo,
o que fiz durante o dia.
Você me diz: Cuidado!
Cuidado é amor.
Amor! Um caminho florido.
Com você...
Um tempo. Tranquilo, brincalhão.
Propostas verdes, águas, você.
Eu sou seu dia.
Banho azul! Fotografia do dia.
Nós.
Entreguei-me ao sono, aos sonhos,
na preguiça do sol,
com o convite da lua, para ser sua.
Um jantar doce, vermelho, iluminado.
Amanhã? Sabores molhados e cabelos ao
vento.
Um voo.
Cuidado.
Cuidado é amor!
Cuida meu sono, Minuano!
Amo você.
Mensagem
Vagando pela internet,
ocupando o tempo para dormir depois,
uma lágrima escapa.
Deixa-a rolar, arranhar o rosto. Uma lágrima com unhas afiadas. Viva.
Ana precisava sentir essa dor.
Abriu uma mensagem:
“Não coloque palavras em minha boca.
Coloque uvas, mel e maçãs, que sou uma
deusa.”
Pensou em tudo.
Em todos. No que foi. No que fez.
E no que desejava seu coração.
A lágrima se transformou em soluço abafado.
E a dor em amor.
Ana imaginou-se deusa...
“Recebendo.
... uvas, mel e maçãs. ”
Marlete Dacroce Sinop-MT
A arte de viver
Viver
É conquistar
Sentir
Valorizar
Viver com desprendimento
Com sabedoria
E discernimento
Aceitar o que não
pode ser mudado
Mas... O que
depender de mim
Ah! Isso sim!
Tudo é possível
Buscar...
Canalizar energias Enquanto ser
E evoluir
O segredo
Equilíbrio físico
Mental
E, espiritual
Assim, a vida se
harmoniza Se enche de luz
E com o eu
existencial
Fortalecido
Até o sofrimento
Faz sentido
Sendo possível
degustar
Todos os segundos
Da mais incrível de
todas as experiências
A dádiva de ter
vivido...
Loucuras da paixão
Noite de luar
Seu homem esperava
E com um simples toque
Ela o aguçava
Luzes
Fantasias
A suave melodia os conduzia
Para algo mais voraz
Uma taça de vinho
Aos poucos Na pele degustada
Corpos excitados
Nus
Entregues sobre os lençóis
Na busca um do outro
Lábios sedentos
Como a abelha
O néctar da flor
A pele ardente a transpirar
Mãos descompassadas
Buscando a água viva Para a sede saciar
E no momento máximo do desejo
A fonte da vida
Eclode feito um vulcão
Num orgasmo extasiante entre os amantes
O auge do tesão...
Transformado no anestésico da paixão
Jacinaila Ferreira Sinop-MT
Definindo o indefinível
Às vezes penso
Que saudade
Tem outro nome...
Um nome tão grande
Que não cabe no dicionário...
É uma ausência
Presente
No âmago do ser...
Que na verdade não é!
É o amor transformado
Em distância
Do que se quer perto!
Saudade
Tem infinitas faces...
Pode ter a forma
Do vento
Que bate no silêncio Profundo...
Do mar...
Ondas...
Luar...
Ou
Imensidões de estrelas
Pode trazer
Um átomo
De esperança ao mundo!
Mas, saudade também é alma
E tem a forma exata do rosto
De quem se ama...
A palavra bate...
Bate…bate...
Bate FORTE!
Tentativa vã...
De se definir
O indefinível ...
Marilene Sousa Henning Sinop-MT
A flor de laranjeira
Quando estou em teus braços
Envolto no teu abraço
Sentido o cheiro da flor
A exalar do teu peito másculo
Ah! Meu amor
Como é bom sentir o teu cheiro
Penetrando em minhas narinas
Como se fosse um calmante
Esse cheiro tão suave
Como o da macieira
Mas não se engane
É o puro frescor
O olor da laranjeira
Que vem perfumar
O nosso altar
Através do cheiro do teu corpo
Consagrando o nosso leito de amor!
Saudade
Saudades do meu tempo de mocidade
Onde o vento me beijava no rosto
Trazendo consigo o doce cheiro de felicidade
Saudades daquelas manhãs
Olhando as aves a voar
E em cada bater de asas
A brisa a me tocar
Ai que saudades
Daquele tempo de menina
Onde não havia maldade
E eu brincando a sonhar
Com essa tal liberdade
Hoje, somente em minhas lembranças
Dos tempos de outrora que me encanta
Trago dentro do peito, saudade, doce saudade
Andréa Miriam Laurindo Maringá-PR
Começo e fim
Tudo na vida se define assim
No meio
Dúvidas, satisfação, prazer Filhos, casas, contas, suor
E pobreza e sensações
E desespero e êxtase
Extremos que guardam
Momentos que persistem
Fotos amarelas
Páginas passadas
Cada vida é um passado
Olhando esperanças futuras
Cada vida é sentimento
Envasado em lágrimas ou sorrisos
Cada vida tem explicação Como as palavras de um gago
Se houver paciência
Tudo bem
Se não, não há como saber
Estranho
Um estranho habita minha alma
Desconhecido, me surpreende com suas falhas
Não me reconheço nele,
Não me animo em sua presença
Mas sei que ele me reflete
Sei que é minha metade em remissão
Metade desnuda, metade cheia de esperança
Pronta para domar!
Reconheço sua dor, seu pavor
E vejo que também me sinto acuada
Dividida
Sei quem sou, mas sei como me criei em mim
E sei o que deixei passar, o que limei com
minhas penúrias
Tudo são sombras a criar o desconhecido em
mim
Alimentam suas esperanças
Nutrem seu crescimento
E eu, persigo-o, não por raiva ou angústia
Mas para ver o que deixei para trás
Maria Clara Flor 09 aninhos
Sinop-MT
Meu gatinho
Tenho um gato chamado chuvisco
Pequenininho,
Parece que usa bota
Pois suas patinhas são tão escurinhas e
peludinhas,
Que se confunde com o veludo de uma bota
Ele morde tudo que vem pela frente.
Mas no final,
Eu amo meu gatinho de botas
Antonio Cesar Sinop-MT
Meu verão preferido
Meu verão preferido é aquele que o dia é tão
claro
que tudo está iluminado.
Nada escapa da luz.
A areia da praia, quentinha de sol observa o
mar brincar com ela;
para lá e para cá.
O restaurante com paredes de vidro na beira
da estrada
é uma janela clara que chega a iluminar a
alma.
As nuvens no alto formam desenhos num
misto de alvura branca com um cinza bem clarinho.
As músicas tocam num ritmo de festa
envolvendo sorrisos combinados com alegria.
Esse é o meu verão preferido,
gruda na memória como a melhor coisa da
vida,
iluminando tudo o que toca,
num contentamento eterno.
Rumos da vida
Adormeço aqui nesta noite densa,
Os sonhos vêm me fazer companhia
A mim o breu às vezes acorrenta
Pois a luz está sim, longe do dia
Deixa a existência toda sonolenta
Mas ao amanhecer tudo floria
Um brilho sutil, lúcido desperta
Então a vida acorda e recomeça.
O tempo que nos resta
Para expressar a ti o meu apreço
Pouco e não manifesta
Obtuso a ti pareço
Então em mim apenas te enalteço
As sentenças honestas
A você, deste breve arranjo ofereço
Ainda que modestas
Meu coração emprestas
Toda a admiração que conheço
Repentino admoesta
A vida os rumos escusos desconheço
Mostra a mim indigesta
Via oculta que peço
Se foi o melhor ente, entristeço.
Toni Coelho de Almeida Sinop-MT
O despertar do espectro
Acordo, O Sol lá fora se esconde atrás das nuvens,
Tão forte, mas a chuva, quando aparece é
mais ainda.
Levanto,
A Vida lá fora mostra sua cara para todos ver,
Tão frugal, mas a Morte quando chega, finda.
Uma ponta de luz invade minha janela
E diz:
- Desperta! Ou te despareço como a noite
quando chega.
Observo,
O Sol do Norte já brilha com o calor do meio
dia,
E eu, me olho, minha cor cintila.
Revindita
Meu nêmesis me fita, olhos de sangue me faz
de alvo,
O troco valerá o mesmo, mas o câmbio pode
ser desfavorável,
É a vida, cada um atua o roteiro do destino,
E se eu errar na performance,
E se eu seguir um revide hiperbólico?
Verão cruel, jorra seu calor em meus olhos
sem entusiasmo,
Me expande,
Me liberta,
Me explode em fúria.
A distância encurta e a cólera cresce,
Hoje o sofrimento padecerá
Mas antes que o rival surja
Eu vejo a última estrela apagar seu brilho.
E naquele momento coisa nenhuma importa mais.
Josiane Domeni Lima Alta Floresta-MT
Amanhecer
Amanhece. O Sol torna a brilhar,
Os pássaros a cantar,
As horas a passar,
E, o pensamento só a acelerar.
Tento uma fuga inquietante.
Um desviar alucinante.
E, o pensamento:
Insiste, persiste e não desiste
De atormentar...
Mãos juntas em prece Pedem que o dia cesse
Na esperança de um amanhecer melhor.
Acordar
Hoje acordei rosa
Talvez, verde ou azul,
Na verdade, vermelho.
Sei lá, está colorido, estou feliz!
A cor dar não é difícil.
Vivo a vida no preto e branco
Mas, hoje acordei, Assim, feliz! E a cor dei.
Priscilla Caroline Grandi Lopes Sinop-MT
Minha amada Laura.
Num jardim de um paraíso primavalesco
Entre tantas relvas, Deus criador
Em sublimidade, grandiosidade e formosura
Concebeu no floreio das boungainvillas a mais
graciosa em flor,
Laura.
Quanto dura meu amor por ti
Te amar dura constelações,
Te amar transborda a beira de um
mar de águas profundas
Te amar é uma música de infinitas
notas
Te amar só não seria infindável
Se o caminho para o fim de todo o
fim não fosse perpétuo...
O sangue estrangeiro que corre em
minhas veias
Não é minha pátria, mas é minha terra
Meu sangue, minha raça, minha origem e
minha casta
Com orgulho profiro: Minha descendência não
é daqui
De ventre estrangeiro nasci
De solo imigrante eu vim
Aos que renunciaram o seu lar por um pedaço
de pão
Minha homenagem pela coragem
Por enfrentar a intolerância e hostilidade
A antepaixão e discriminação
De quem não sabe o que é não ter um pedaço
de pão.
Bernadete Crecêncio Laurindo Sinop-MT
MATEMÁTICA DO TEMPO
O tempo
Faz cálculo, faz cálculo! Faz cálculo!...
Soma saudades, lembranças, lições,
arrependimentos...
Diminui a esperança, a estrada, a caminhada,
os verões...
Fraciona atenções, corações...
Multiplica insônias, mas com os anos, é todo
parcimônia!
Divide solidão...
Ah, tempo!... Não faz cálculo, não!...
TESTAMENTO
Faço versos
Fotografo-me
Nos versos que
Ficarão quando
Eu me for
Sobreviverão
Ao cataclismo
Que decidirá o fim
Da pessoa e de seus dias
Serão meu rastro,
Meu eco, o registro
Da minha passagem
A cria obedecendo
À ordem natural das coisas
Faço versos,
Ficarão...
Dolores Flor Sinop-MT
No elo
No elo
ou
desvelo,
trilha o
AMOR maiúsculo,
amor minúsculo.
Joga-se
nos resíduos d’alma,
altera nas artérias.
Jogado ou pisoteado
no chão, quebrado...
Sempre se recolhe
- fortalece
e
caminha
na mesma
direção...
Sonho
Um dia sonhei
com um amor;
Um amor bonito,
Sem dor,
Sem rejeição,
Sem traição.
Entre os desejos
E a saudade
Acordei.
Como é fria a noite!
Que solidão a noite traz!
Comecei a entender o amor, Pensei em você.
Na verdade,
Você começara a fazer
Parte da minha vida
Há muito
Tempo.
Luan da Silva Moreno Várzea Grande – MT
Atibaia
Hoje ao caminhar na praia
Lembro-me de Atibaia
Tempos difíceis que me mudou
Não me comparem mais ao Tim Maia
Fugi da melancolia da qual ele vivia
Ou nós...
Larguei o blues a sós
Agora só vou acompanhado
Com a morena do lado aos lençóis
Faminto eu me sinto
Mas de saudade dela
Minha cara metade, bela.
Minha eterna aquarela.
Mafalda Moreno Várzea Grande – MT
MOMENTO
Momento de escrever,
Momento de concentrar.
Mergulhar dentro de si,
E lá encontrar seu ”eu”.
Tirar do livro da vida
As emoções escondidas,
De tudo que se aprendeu.
Abrir a caixinha mágica
Da nossa capacidade,
Onde sempre encontramos
Inovações pra contar.
Transmitir as novidades,
Por em prática a liberdade
Que temos para contar
O computador da mente
É o mais perfeito de todos,
Nele não existem falhas
Só basta saber clicar.
Abrir nosso coração
E registrar tudo de bom
Que o amor tem pra nos dar.
Usar nossa inteligência
E registar com carinho
Tudo que ali está gravado,
E com alegria viver.
Conhecer bem o seu “eu”
Erguer os olhos pro céu.
E a Deus agradecer.
Josivaldo Constantino dos Santos Sinop/MT
MEU RETRATO
Este meu corpo em desenvolvimento
Um corpo são, com uma bela alma
Nele reside, amargura e calma
E a saudade de um doce alento.
Este meu rosto, belo e varonil
Trazendo as marcas de um duro passado Estes meus dedos, não estão calejados
Mas sempre fazem maravilhas mil.
As minhas pernas, fortes e sadias
Correndo atrás de algo que passa
Estes meus braços, que também abraçam
O rotineiro andar do meu dia.
Estes meus olhos que a tudo observa
Estes meus lábios, com os quais sinto o gosto
Meu coração que é um colosso
E o meu ser, que destrói e conserva.
E no futuro?
Como será? O meu corpo ainda será belo?
Eu poderei elogiá-lo a sério?
Eu... não sei...
Vou esperar.
NA CIDADE
A cidade tão grande e enfeitada
As pessoas indo e voltando A ponte, o rio atravessando
E os carros, correndo pela estrada.
O mendigo andando na calçada
Um ou outro que passa, vai olhando
Pouco a pouco a lua vem baixando
E a cidade sempre iluminada.
As senhoras, as portas vão fechando
O comércio, até então, diminuiu
A noite fria na cidade cai
Toca o relógio no alto da praça
-“É meia noite” diz alguém que passa
E já pra casa, bocejando vai.
Maria Cristina de Sá Pereira Sinop/MT
Silêncio
Quando tu te calas
Eu me calo.
E nesse silencio
São ditas mais de
Mil palavras... Se me calo
Tu te calas
E é assim
Que nossos corações
Se falam.
Lua
Lua senhora da noite
Testemunha muda
De sonhos e mazelas Testemunha viva
De amores e dores
Testemunha que se vai
Com o alvorecer
Deixando pra traz
Os sonhos e as mazelas
Os amores e as dores
A seguirem caminhos
Enluarados e solitários.
Camila Lazarotto Sinop/MT
A magia do bom dragão
Quem imaginaria
Que por trás de toda magia
As cores que ofuscam o dia
Que traz alegria ao mendigo sem dente
Seria Azulino alegrando
O dia de toda gente
Talvez lá no fundo
Azulino sentisse
O orgulho transbordar no mundo
Solidão companheira em muita ocasião
E a guerra acabando com cada coração
Então se fez a própria canção
A que canta em cada nascer das cores
Faz a rima virar poesia
O esquecimento tornar-se alegria
O olhar da criança
Brilha, brilha
Olhando o céu com tanta alegria
Todos se encantam
Vendo o quão lindo está o dia
Por fim
Azulino
Cumpriu sua missão
Trouxe um pouco de paz
A uma sociedade tão incapaz
Em um momento sagaz.
Chamille Larissa Miranda Bergo Sinop-MT
Devassidão
Te vejo com os olhos fechados Sinto seu toque apertado
A imaginação me sucumbe
O desejo me arrasa
O fervor me domina
Encontra-me! Encontra-me!
Desejo sentir-te intensamente
Profundo e profundamente
De novo e novamente!
Envolva-me! Envolva-me!
Seu beijo caliente
Olhar atraente
Menina desejo
Deseja-me! Deseja-me!
Óh imaginação...
Óh meu coração...
Não engane-me nessa devassidão
Devolva-me! Devolva-me!
Tome o teu coração!
Retorne a mim, a solidão.
Amanda Lima de Oliveira Sinop-MT
Verbo Barros
Tudo pode ser verbo
Eu Barros
Ele Barros
Nós Barros
Mas nem todo verbo precisa ser conjugado.
O verbo Barros
é delírio
é silêncio
Tem gosto de infância brincada no quintal
No quintal onde as cores criam vida
Viram passarinhos.
O verbo Barros tem cheiro de invenção
Cada letra é um vazio sem limites
Que preenche a realidade inventada.
É um verbo inútil
(eu sei)
Mas há quem entenda da inutilidade das
coisas.
Exposição
Aos poucos
Já não resta nada
Só vazio
Vazio
Falta
Pessoas vazias lá,
Mentes vazias cá,
Discursos vazios por todos os lados.
Por onde andarás?
Onde andarás o amor?
A tolerância?
A humildade?
A empatia?
A busca pela sabedoria?
Poema este que não tem fim.
Vilson Roque Bocca Sinop/MT
Sonhe comigo
Sonhe comigo esta noite
Vem ser meu abrigo.
Deite-se ao meu lado
Beije-me e me deixe calado.
Em você encontro guarida No momento... ou na vida.
Gosto do seu jeito
Quando me afaga o peito.
Faz-me adormecer
Sentindo seu querer.
Inspira-me, na harmonia
Faz-me viajar na fantasia.
Vem, sem demora,
Na quietude, no agora.
Com um olhar lenitivo
Acalmar o dia cansativo.
No semblante lasso Um afetuoso abraço.
Mergulhe na quimera
No que é, ou no que era.
E no que mais oferece
Na mais humilde prece.
E no fazer ou no sentir
No chorar e no sorrir.
Quero, sua alegria
No despertar, de um novo dia.
Amor Indômito
Há um amor indômito
Que, recôndito,
Em silencio vive.
No coração que pulsa
Na incessante busca.
Nos limites do sonho. Preso em reminiscências,
Incógnitas e dubiedades
Nos limites do desconhecido
Vai se (re)conhecendo
Longe de ser efêmero
Perto de ser eterno.
Valter Figueira Carlinda-MT
Tempo
Talvez os sonhos acontecem,
e o caminhar seja suave;
Talvez o canto seja lírico,
e a poesia suave;
Talvez o fardo seja leve;
e a vida não seja breve.
Talvez a dúvida se conserte;
E a curva se torne uma reta.
Talvez o amanhecer seja sereno,
e o dia produtivo.
Talvez a crônica inspira,
e o conto deslanche.
Talvez o talvez não apronte,
e tudo caminhe como deva caminhar.
Infinito
Para onde vai o ar que respiro
quando bate o vento?
Essa brisa que me acompanha
e depois se perde no horizonte,
para onde vai?
Para onde vão as imagens
que são esquecidas no firmamento?
Para onde vãos os rostos de ontem,
rostos que mudam com o tempo?
Para onde vai essa luz e esta sombra
companheira de atalhos e abismos?
Quando formos já não teremos sombra
e as pegadas se apagam.
Para onde vão a tristezas e os sorrisos
as imagens e os horizontes?
E as flores das janelas, os aromas
de teu amor distante?
Para onde irão esses versos
perdidos de tantas perguntas?
Anna Figueira Carlinda-MT
NÃO
Ela sempre disse nas Entre linhas
Ele nunca leu...
Nas entre linhas
Estava cego
Ou já era cego
Pois não foi a
Primeira vez
Ela gritava nas
Entre linhas
Ele... nem sabe o que é Entre linhas
Agonia, só ele
Não via, inapto de ver
Ou tolo de não perceber
Mensagens subliminares
Nada A Ocultar
Tão
Qual a razão dessa
Persistência no NÃO
Ver a tal razão ou é
Incerteza de exclusão
Pois ela é poesia, mas ele
Não sabe declamar,
Ela é o vento que estar a ventar,
E ele acha que ela é o mar, que pode se
navegar
Isso não é capaz.
Não, volte a traz. Esquece.
Não adianta tentar.
Dava agonia, de tanto falar,
Não adiantava tentar,
Se não mudar.
E ainda ele não sabia ler nas entrelinhas.
O que adiantaria escrever
A história novamente.
Se a pessoa não era competente.
Indiferente, não tenho nenhuma vontade de continuar.
Rosane Gallert Bet Sinop/MT
Desuso
As linhas desenhadas no rosto
São estradas percorridas
Lutas de uma vida
Conquistas e desgostos.
Nas mãos trêmulas
A insegurança
De uma criança
Que se sente nula.
Pensamentos confusos
Memórias perdidas e achadas
Histórias apagadas
Hoje um ser em desuso.
Lágrima
O
que
se vê
em meus
olhos agora
é a dor profunda
que a alma não
suporta mais
carregar
Valéria Luz Sinop-MT
Coração em frangalhos
Posso sofrer as desilusões
Que a vida me trouxe...
Posso passar dias chorando...
Sentir o meu coração em pedaços...
Posso não ter forças
Para levantar me, ao amanhecer...
Sentir a vida se desvairir
Entre minhas dores...
Posso até perder
As esperanças de uma vida...
Cheia de amores e flores
Posso até morrer aos poucos...
Morrer a esperança...
Sentir a alegria se apagar
A força tornar se em fraqueza....
Sorriso em choro...
Mas, uma coisa é certa...
Deus com seu imenso
Poder e misericórdia...
Tornará tristezas em paz...
Entre tanta dor é fragilidade...
Torna me forte nos braços Dele...
Traz me consolo ao meu coração...
Enxuga as lágrimas do meu rosto...
E transforme em flores no coração de quem ...
Um dia quase desistiu
De viver em plenitude...
Marcelo Pininga Teixeira Sinop-MT
Quidquid luce fuit, tenebris agit
Hoje é um daqueles dias em que o medo
me domina. Após um certo período (quase uma
semana) com a autoestima elevada, o que
sinto... - agora mesmo, enquanto olho para
esta folha em branco imaginando como
transmitir, por meio dos vocábulos disponíveis
à minha capacidade de expressão, a sensação
de isolamento, esquecimento - sinto que a falta
de afeto nunca me fez tanta falta quanto faz
neste instante; sinto que minha prisão interior
foi criada por mim mesmo (talvez na tentativa
de manter distância dos olhares da minha
vulnerabilidade, da sensibilidade que - ao gritar
no meu âmago - transforma-me num outro ser
de transparência única); sinto o que eu não
queria sentir, pois o que eu queria perdeu-se
no espaço entre mim e o "eu usurpador" e
encontrar-se-á perdido novamente pelos
terrenos ainda desconhecidos... desconhecidos
da minha existência.
São duas horas e quarenta e sete
minutos da madrugada. O sono bate à minha
porta, mas meus pensamentos
aleatórios/confusos não o permitem me
possuir. O barulho da chuva, lá fora, se
ofenderia caso eu o chamasse de "barulho",
pois cai com tanta suavidade que tem sua
melodia invejada pelos maiores músicos desta
época. Sinceramente não tenho certeza de
onde surgiu esta tristeza que se instalou em
mim. Ela está intensa e tem a face pintada por
um artista surrealista, as vestes desenhadas
por um estilista pós-moderno sem inspiração
alguma. Seria a tristeza minha metade que - às
vezes penso - falta? Se assim o for, neste
momento estou completo.
Tenho tentado enfrentar, sozinho, os
meus mais temíveis demônios. Sempre que
peço ajuda, ouço, com veemência, as seguintes
palavras - tal como se profere um imperativo -
: "pare de ser dramático!". Mal sabem as vozes
que cantam este hino como sou dilacerado ao
ouvir pretensiosa crucificação. O que sabem
elas (as vozes) sobre drama? O que sabem
sobre mim? Tenho fugido, ainda que por
caminhos escuros, destes julgamentos
falaciosos. Tenho fingido, como improvisam os
atores premiados por grandes títulos, ser forte
o bastante para enfrentar (solitariamente) cada
um dos falsos juízes que se lançam diante de
mim. Um enfrentamento tortuoso, porém,
fortalecedor.
Vivi, até agora, num mundo de mentiras
e de falsas amizades. Os amigos mais próximos
deixaram de ser amigos para tornarem-se
espectadores do teatro da minha vida -
sentados, sem mãos, bocas, ouvidos e com
olhos parcialmente vendados -, e estão ali (nos
assentos do fundo), mas não aplaudem, não
gritam elogios ou sussurram entre si, não
ouvem nada do que falo ou os gritos de socorro
que manifesto por metáforas; enxergam minha
casca, mas não meu caroço. Eles apenas
ESTÃO ali. Por vezes fracassei na tentativa de
disfarçar meu egoísmo, e esta foi uma delas.
Mas se quiserem saber o que desejo, o
que desejo de verdade, contarei: "levantem-se
dessas poltronas enrijecidas e cansadas,
ajudem-me a me libertar desta narrativa mal
inventada!". Mas será esta a minha prisão e, ao
mesmo tempo, meu refúgio? Quidquid luce
fuit, tenebris agit (em latim: "seja o que a luz
fizer, a escuridão faz").
Shirlei Alexandra da Silva
Sinop/MT
Ciúme
O ciúme minha gente,
Deixa a gente descontente,
Pega a gente de repente,
Faz fantasiar coisas na mente,
Que parece ser cena quente,
Uma conversa inocente...
Isso nos mostra claramente,
Que o amor está presente,
Quando o sangue ficar quente,
O coração pula pra frente,
E se alguém perguntar pra gente:
— É mentira, certamente...
O menino branco que era negro
No início do ano letivo Dona Maria levou
seu filho João para se matricular em uma
escola próxima ao seu bairro. Era o primeiro
ano que João iria à escola, estava
empolgadíssimo. Havia muitas mães com seus
filhos na fila à espera de uma vaga, todas com
a documentação das crianças nas mãos,
encostadas no muro ou sentadas no chão
esperando que abrissem o portão.
Ao soar a sineta das sete horas da manhã
os portões foram abertos e Dona Maria que
estava numa posição não muito favorável na
fila puxa a mão de João para que ele não
ficasse para trás. Depois de quase cinco horas
de espera, Dona Maria consegue entrar na
secretaria da escola.
A secretária, que usava óculos
rebaixados nos olhos, disparou logo após a
saída de uma mãe com a criança:
— Próximo!
Enfim era a vez de Dona Maria e João!
Entraram, sentaram e então a secretária
solicita:
— A documentação da criança, por favor.
— Aqui está! – Disse a mãe em prontidão.
— Muito bem Seu João, é seu primeiro
ano na escola?
— É sim senhora! – Disse o menino todo
empolgado.
— Pois bem, vamos ao questionário!
Então, iniciou-se uma entrevista com
perguntas relacionadas às características
sociais, econômicas e culturais da família do
mais novo estudante da escola. Perguntas
parecidas com as aplicadas pelo agente do
IBGE quando vão às casas das pessoas.
Dona Maria respondia a todas de forma
educada e serena. Mas uma pergunta em
especial acabou por perturbar a mulher. A
jovem senhora aparentava ter cerca de uns
quarenta anos, já era mãe de cinco outros
filhos, que frequentavam outra escola, pois já
estavam em um nível mais avançado do que o
pequeno João, o caçula da família.
Veridiana, a secretária, pergunta:
— Qual é a cor/raça da criança?
— Branco! – Disse a mãe com toda
convicção.
A secretária ergue os olhos, olha bem
para o menino e volta a perguntar incrédula:
— Qual é a cor mãe?
— Branco! Ora, pois, não está vendo? –
Indagou a mãe revoltada apontando para o
menino.
O pequeno João era negro, assim como a
mãe, o pai e os outros cinco irmãos. Mas a mãe
que sempre sofreu com preconceito e
discriminação, achou por bem, negar sua raça
como se assim pudesse protegê-lo dos
sofrimentos que outras pessoas pudessem
causar ao tão pequenino garoto.
Quando a secretária ia assinalar a
resposta na ficha do questionário, eis que o
pequeno João interveio:
— Mãe, — disse docemente abraçando
carinhosamente Dona Maria – Acho que eu não
sou branco e a senhora também não é. Há
muito tempo queria dizer isso para a senhora,
mas tinha medo de que a senhora não
aceitasse. Eu, você, o papai e meus irmãos
somos todos negros e você é linda assim, do
jeito que é.
Depois das sábias palavras do menino a
secretária e mãe não se contiveram e caíram
em lágrimas. Eram as palavras mais puras e
verdadeiras que ouviram na vida.
E então, Dona Maria retificou-se
seguramente:
— Negro! Meu filho é negro e é o menino
mais lindo e inteligente do mundo!
Prof. Ireneu Bruno Jaeger Sinop/MT
Às vezes é melhor não saber.
Após o treino de vôlei, já no vestiário, o
técnico fechou a porta e passou a chave e
disse:
— Meus amigos, vou pedir um favor. Não
estranhem. Sentem nos bancos, coloquem as
mochilas aos seus pés e depois cubram o rosto
com as camisetas. Tudo será explicado.
Não entendíamos. Estávamos em
catorze: o time A, o time B e dois reservas.
Gostávamos de treinar e jogar vôlei.
Admirávamos nosso técnico, pessoa proba em
que confiávamos cegamente. Mas nos sentimos
assombrados, perdidos.
Já todos acomodados com os rostos
vendados, o técnico falou:
— Foi roubada uma carteira com dinheiro
de um de vocês. Dou um tempo para o ladrão
devolver sobre a mesa. Também ficarei de
olhos vendados.
Passado o tempo, ninguém se
apresentou.
O técnico então continuou:
— Vou pedir a um de vocês revistar
bolsos e mochilas. Quando achar a carteira,
colocará sobre a mesa e me toca no ombro.
Continuemos de olhos vendados.
Ouvíamos as moscas, o ar condicionado
e um mexer em bolsas. Baixara um silêncio
inquietante. Lá fora uma moça estragava um
canto fino, petulante... demorou uns quinze
minutos. Alguns suavam frio. Que situação!
Enfim o técnico falou:
— Já recuperamos a carteira. O dono
pode pegá-la na mesa. Minutos eternos...
— Agora podem tirar as vendas.
— Senhor, mas quem foi que roubou? —
Perguntou alguém.
— Meu amigo, não sei, que também
estava de olhos fechados. E é bom que você
também não saiba. Continue amigo de todos e
não desconfie de ninguém. O ladrão já deve ter
aprendido a lição.
Simone de Sousa Naedzold Sinop/MT
O encantador de borboletas III
Júlio nasceu em meio a uma família muito
humilde. Seus pais trabalhavam na roça
plantando mandioca para vender e fazer
farinha para o próprio sustento. Além da
mandioca, também cultivavam milho,
amendoim, café, bananeiras e muitas árvores
frutíferas.
Moravam em uma casa modesta, sem
forro e com parte das paredes de tijolos e outra
de pau a pique. O frio do inverno por muitas
noites gelou os corpos do casal.
Quando Júlio nasceu, seu pai estava
muito doente e pouco podia fazer. Sua mãe
nem teve tempo de amamentá-lo direito, pois,
a poucos dias do parto, já estava limpando a
roça de mandioca para arrancar e vender.
Com seis meses de nascido, Júlio perde o
pai e mais tarde, em suas lembranças, haverá
um soluço de dor, de desespero e de angústia.
Soluços de sua mãe nas noites frias e chuvosas
de inverno sem seu companheiro tão amado.
Júlio, por ter mamado pouco, segundo a mãe,
vivia doente. Não crescia na medida das outras
crianças de sua idade, nem engordava.
A mãe amorosa lhe cobria de carinho e
de amor. Dava-lhe chás, garrafadas de
remédios, fazia simpatias recomendada por
essa ou por aquela pessoa. Por um tempo
misturava na comida de Júlio a multimistura,
produzido pela Pastoral da Criança, movimento
ligado à Igreja Católica. A multimistura era um
composto de farelo de arroz, de trigo,
sementes de gergelim, girassol, abóbora,
melancia e melão, além de folhas de abóbora e
batata doce, tudo moído, mas não adiantava.
Júlio crescia a passos lentos e era franzino.
Num tempo em que a criança não queria
comer nada, a mãe levou-o ao médico por
ocasião em que a Prefeitura da cidade
organizou um mutirão para atender pessoas
doentes de várias comunidades.
Um médico examinou o menino que
insistia em viver e a mãe que insistia em amá-
lo. Este médico chamou a mãe e disse a ela que
Júlio precisava respirar o ar puro da natureza,
pois a poluição de onde viviam iria trazer
muitos prejuízos à saúde da criança.
Recomendou que lhe desse SADOL, um
fortificante. A mãe, mesmo com as
adversidades financeiras, comprou e deu ao
menino, mas, assim com os demais, pouco
efeito fez. A mão de Júlio não tinha condições
de mudar-se naquele momento e, por isso,
continuaram morando na mesma casa.
Manoel Rodrigues Leite Sinop/MT
NA FILA
Nunca gostei de ir em bancos, acredito
que o tempo que se perde na espera é para
valorizar o produto e o serviço que em sua
maioria é de péssima qualidade. Sim existem
alguns bancos com atendimentos um pouco
melhor, mesmo assim fazer esperar ainda é
uma prática.
Só que infelizmente ir esperar em banco
tem sido constante, fui transferido de cidade e
como essa é uma condição temporária não quis
transferir a minha agência. E como a empresa
em que trabalho tem convênio com o tal banco,
o jeito é ir e esperar. Outra coisa que também
nunca tive muita paciência foi para joguinhos
de celular, e ver tantas pessoas jogando
qualquer coisa só para matar o tempo é de
matar. Mas eu também tinha que passar o meu
tempo, afinal duas a três vezes por mês
precisava ir ao banco seja para serviços
realizados exclusivamente no caixa, ou no
atendimento com algum funcionário para
assinar ou mudar alguma coisa simples, que
pela burocracia não podia ser feito online.
Acontece que nas últimas semanas a
minha frequência tornara-se mais constante.
Eu perdera meus cartões e com isso meu
acesso as minhas movimentações ficara ainda
mais restrito. Foi nesse período que comecei a
observar mais as pessoas que frequentam e
esperam, esperam, reclamam e esperam para
serem atendidas. Algumas chamam a atenção,
mas tem um senhor em especial que se
destaca. Eu já o havia visto algumas outras
vezes a um mês talvez a dois meses, mas não
me chamara a atenção. Contudo, nas últimas
semanas comecei a observá-lo. Ele é um
senhor alto, forte, parece ter boa formação,
usa óculos redondos e um jeito como se
conhecesse todo mundo, o que eu não duvido
pela frequência com que ele vai ao banco
poderia muito bem substituir qualquer
funcionário, do gerente ao vigilante, e
certamente não só atenderia melhor como
saberia o nome de todos os clientes.
Certo dia eu estava sentado atrás de uma
jovem quando ele chegou, pediu permissão
para sentar e perguntou se fazia muito tempo
que ela estava ali. Aí começou o discurso:
— É sempre assim, na hora que tem mais
movimento sempre os funcionários saem para
o almoço ou qualquer outro motivo e deixa a
gente esperando. Se mudássemos de banco ou
fôssemos no Procon tudo mudaria.
— Só que ir no Procon seria mais outra
fila, e mudar de banco nem se falar. O jeito é
torcer para ser atendida rápida. — Falou a
jovem.
E como ela aparentemente não queria
mais conversa fingiu ler uma mensagem
urgente no celular. Ficando em silêncio até ser
atendida.
Passou o tempo e outro senhor sentou ao
seu lado. E percebi que ele iniciara conversa
muito parecida. E notei que sempre ele puxava
assunto, alguns pareciam ser conhecidos, mas
para ele isso era de menos, o importante era
falar do banco e do tempo que ser perdia.
Certa vez por coincidência sentei ao seu
lado, e da mesma forma puxou assunto
comigo. Falei pouco, apenas que era de outra
cidade e que a minha permanência ali era
temporária. Quis saber muito de minha vida,
falei pouco. Aconselhou-me muito, ouvi pouco.
Quando a senha dele foi chamada, senti um
alivio, acho que mais do que se chamasse a
minha. Fiquei pensando por que tanto ele ia, e
sempre puxando conversa com o mesmo
assunto.
Esperei, esperei e me chamaram na
mesma mesa que ele havia sido atendido.
Todavia ele ainda continuava sentado em uma
das cadeiras, calmo e não transmitindo
nenhuma pressa em sair dali.
O funcionário veio entregou-lhe alguns
papeis, mostrou o local para assinatura e
confirmou que ele deveria autenticar para dar
procedimento ao processo. Ele saiu e fiquei
curioso como alguém fica muito tempo
esperando e sai como se tivesse cumprido uma
missão, onde em outro momento daria
continuidade.
Não resisti e perguntei ao funcionário:
— Como alguém pode vir com tanta
frequência, e ainda sair de bem humor.
— Há o senhor Leopoldo, é cliente antigo.
Na verdade, ele trabalhou em banco toda a sua
vida. Sempre aparece para realizar alguma
movimentação, muitas delas poderia ser
online. Mas sempre vem.
— Eu preferia aproveitar meu tempo em
outro lugar.
— Eu também! Mas, no que posso
atendê-lo? — Perguntou os funcionários.
Enquanto era atendido passou pela
minha cabeça, o quanto sempre queremos
estar aonde não estamos. Inclusive o senhor
Leopoldo que ia ao banco, pois não queria ficar
talvez aonde se sentisse ocioso, ou que era o
único a esperar alguma coisa na vida. Esperar
por alguma oportunidade, ou simplesmente o
momento em que fosse chamado para encerrar
a sua conta na vida.
ANTOLOGIA DE ESCRITORES
CONTEMPORÂNEOS
Cada mês uma nova História, somos muitos
espalhados em viagens encantadoras. O
objetivo e ajudar você a dar o primeiro passo, ou se você já faz parte deste universo, juntar-
-se a nós, e ser parte deste sonho que navega
por mares profundos das letras.
Participe!
A História acontece...
WhatsApp (66) 9.9643-5501
Ações Literárias
EDITORA AÇÕES LITERÁRIAS
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