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ANALISANDO A RELAÇÃO ENTRE EVASÃO ESCOLAR E METODOLOGIAS DE
ENSINO NA EJA.
Autora: SOELENE DE FÁTIMA FONSECA DA LUZ1
Orientadora: RITA DE CÁSSIA DA SILVA OLIVEIRA2
Resumo
O presente artigo busca analisar as metas estabelecidas pela pesquisa realizada no
Caderno Pedagógico do Plano de Desenvolvimento Educacional (PDE) do Instituto
de Ensino Superior (IES) - Universidade Estadual de Ponta Grossa no CEEBJA
Professor Ignácio Alves de Souza Filho, de Jaguariaíva – Paraná. Os dados
estatísticos colhidos são originários dos alunos, ex-alunos e professores do período
noturno do Ensino Fundamental Fase II. Pretende-se aqui, constituir subsídios para
minimizar a evasão escolar e também proporcionar metodologias diferenciadas aos
alunos que anseiam pela conclusão de uma fase escolar. Também é objetivo deste
artigo fazer o chamamento dos evadidos e estimular os alunos ativos a
permanecerem no ambiente escolar para concluírem seus estudos, com o intuito de
demonstrar que a Educação de Jovens e Adultos (EJA) é uma modalidade de ensino
que acolhe bem seus alunos. Entender a prática na escola, a concepção que os
demais integrantes do grupo possuem dessa prática, no cotidiano escolar é tarefa do
mediador do conhecimento para interação educador e/ou educando sobre qual o
entendimento e significado sobre o trabalho de conscientização da importância do
estudo e da permanência dos alunos na escola. Os resultados apontam que há
entendimento, por parte de todos os envolvidos, que na maioria das vezes são os
fatores externos que influenciam na desistência dos alunos, uma vez que são
cientes da importância da conclusão de uma etapa escolar, mas que muitas vezes a
situação do momento faz com que deixem os bancos escolares. Percebe -se que o
grande desafio dos pedagogos é de uma ação coletiva, no sentido de contribuir para
um trabalho pedagógico voltado para a formação plena, possibilitando o
desenvolvimento da autonomia do aluno e a busca pela concretização de uma
realidade social mais justa e fraterna.
1 Professora pedagoga do CEEBJA Professor Ignácio Alves de Souza Filho. 2 Professora doutora da Universidade Estadual de Ponta Grossa – UEPG.
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Palavras-chave: Evasão Escolar; Metodologias Diferenciadas; Aluno-Professor; EJA.
1 Introdução
O Plano de Desenvolvimento Educacional (PDE) do Estado do Paraná, hoje,
é sem dúvida, o melhor dos avanços, como formação continuada articulada com a
progressão na carreira dos professores da rede pública e consequentemente para o
Paraná. Ele subsidia os professores permitindo sua inovação, aprimoramento, para
que a escola cresça e os alunos ganhem com a melhoria e a qualidade de ensino
que poderá ser transformada à medida que o professor PDE se disponha em
acrescentar, a somar na instituição a que pertence.
Após a intenção de cada professor participante, do diagnóstico da realidade
da escola e com a orientação do professor do Instituto de Ensino Superior, a
intervenção ocorreu na escola, tendo como referencial o material didático
pedagógico - Caderno Pedagógico - preparado que permeará toda a investigação,
inclusive servindo de suporte para o Grupo de Estudos em Rede (GTR), e para o
desenvolvimento desta pesquisa, que relatará os procedimentos para a busca de
resultados do presente artigo.
Pretende-se, inicialmente, relatar as experiências da implementação
pedagógica realizada no CEEBJA Professor Ignácio Alves de Souza Filho, na cidade
de Jaguariaíva – Paraná.
A intervenção in loco teve início em agosto de dois mil e onze, e para tanto
será utilizada a metodologia da pesquisa-ação, que Franco (2005) definiu:
a pesquisa -ação leva em consideração a voz dos sujeitos investigados e suas perspectivas com parte da metodologia da investigação. É de caráter formativo-emancipatório, pois permite tomar consciência das transformações que vão ocorrendo no processo e, mediante a participação consciente, os sujeitos da pesquisa passam a ter oportunidades de se libertar de mitos e preconceitos que organizam suas defesas a mudanças e reorganizam a sua auto concepção de sujeitos históricos.”(FRANCO 2005, p.486)
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O trabalho de pesquisa, coleta de dados, discussão e elaboração de material,
contou com a aplicação de questionários a dez ex-alunos, dez alunos e dez
professores das disciplinas do ensino fundamental fase II do CEEBJA. Realizou -se
também quatro grupos de estudos, totalizando dezesseis horas, com docentes,
pedagogos e direção, no qual foram tratados temas relevantes da EJA, como a
reflexão do contexto escolar, metodologias e práticas de ensino, que somados aos
relatos, trocas de experiências, interação, socialização e criatividade, pretende -se
reformular o tema em questão para a superação de barreiras, quebra de
paradigmas, criando uma nova perspectiva e consequentemente um novo olhar
pedagógico.
A permanência e o sucesso do aluno é prioridade no propósito da discussão
realizada junto à comunidade docente evitando a exclusão e a evasão dos alunos,
na busca do desenvolvimento profissional e pessoal de todos que retornam ao
banco da escola e que acreditam no seu potencial, de transformar a sociedade,
levando o aluno a enfrentar o contexto escolar, sabendo lidar com sua relação e
experiência de vida, pois segundo Demo (2007, p. 31) “Menos que dominar
conteúdos que envelhecem e desaparecem rapidamente, é importante que o
professor consiga, faça com que o aluno saiba pensar, por que esta habilidade
representa a aprendizagem que se confunde com a vida”.
Há que se buscar a autonomia do aluno, colocando-o no centro do processo
de ensino e de aprendizagem, saber cuidar, ter compromisso ético, para mantê-lo na
escola, até concluir seus estudos, obter êxito e estar preparado para prosseguir com
segurança, no trabalho, na sociedade e na vida.
2 Desenvolvimento
Cada dia mais o mundo do trabalho, as empresas cobram o jovem e adulto
para a necessidade de continuar estudando e estes têm grandes chances de
atualização, do direito de estudar, como estratégia de mudar, melhorar de vida, de
renovação da profissão.
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Eles chegam à EJA e já de imediato são apresentadas as possibilidades e
forma de organização, a estrutura do curso. São as normas, a organização do
trabalho, as diretrizes, os rumos que serão tomados, não só por respeito aos alunos,
mas também para aproveitamento adequado do tempo e maximização do esforço de
todos. As DCE colocam que:
A Educação de Jovens e Adultos (EJA), como modalidade educacional que atende a educandos trabalhadores, tem como finalidades e objetivos o compromisso com a formação humana e com o acesso à cultura geral, de modo que os educandos aprimorem sua consciência crítica, e adotem atitudes éticas e compromisso político, para o desenvolvimento da sua autonomia intelectual. (SEED, 2006, p. 27).
A educação de jovens e adultos fundamenta-se na organização de
informações e experiências, a um conjunto de processos com abordagem crítica do
agir e pensar até o sentir de uma comunidade ou classe social, para desencadear
novas formas de agir, no sentido de seus interesses, conforme as Diretrizes
Curriculares da Educação de Jovens e Adultos no Estado do Paraná (DCE’s) que
devem ser levadas em conta devido à pluralidade de sujeitos.
Os alunos hoje necessitam ser respeitados como autores de si mesmo
(direitos e necessidades), não apenas os considerar como receptores passivos do
que a sociedade lhes oferece, mas principais protagonistas de sua própria
educação.
2.1 A Evasão Escolar e suas possíveis causas
Nas pesquisas das causas do fracasso escolar é possível constatar que
estudos nos apontam a fatores vinculados aos alunos, as suas capacidades,
motivação, como fatores determinantes. Outras perspectivas enfatizam
principalmente os fatores políticos sociais e culturais. O fato é que, as classes
socialmente desfavorecidas, são em geral as que mais apresentam porcentagem
5
superior de fracasso. É comum alguns autores afirmarem que o fracasso escolar é
produto da interação de três fatores, que são eles: psicológicos, socioculturais e
institucionais e diante disso, constata-se a necessidade de mudança, no olhar
pedagógico e nas questões relativas ao âmbito escolar. A esse respeito
Vasconcellos (1995), diz que a falta de adaptação do aluno somado ao método de
ensino das escolas são os responsáveis em grande parte pelo fracasso escolar, e
que:
O grande problema da metodologia expositiva do ponto de vista pedagógico, é seu alto-risco de não aprendizagem, em função do baixo nível de interação sujeito-objeto de conhecimento-realidade (a grande probabilidade de interação significativa é muito baixa). ( Vasconcellos, 1995, p.22).
Afirma ainda que após pesquisas pedagógicas realizadas sobre o
aproveitamento escolar de um ano para o outro, o aproveitamento é de apenas 10%
a 20% relacionado ao conteúdo ensinado.
Isso impulsiona e leva a buscar, tentar descobrir, a definir ações, caminhos,
estratégias, metodologias para compreensão do processo de assimilação dos
conteúdos a serem trabalhados, bem como se a evasão escolar se da apenas por
fatores externos ou causados por fatores da própria escola.
Partindo desse pressuposto é que se inicia a pesquisa, os questionários
foram aplicados aos alunos do Ensino Fundamental Fase II, matriculados nas
diversas disciplinas da organização coletiva e/ou individual, entre os dias 27/09/11 à
15/12/11 no período noturno, e para os ex-alunos em suas casas, entre as datas
10/09/11 e 15/12/11. Obteve-se a contribuição de todos para responder e participar
da pesquisa, os mesmos concordaram em participar e isso certamente servirá de
suporte para o avanço e mobilização da comunidade escolar, na busca de
alternativas, para reduzir a evasão escolar.
No momento da aplicação do questionário aos alunos, procurou-se utilizar os
métodos e aportes da pesquisa ação, para compreender a realidade e tentar
modificá-la. A princípio, constatou-se que: os alunos são na maioria assalariados
(baixa renda), desempregados, domésticas, outros sem profissão definida e que, no
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início do ano procuram a escola e pouco a pouco se evadem, alguns sem nenhuma
justificativa, outros alegam ter dificuldade em se relacionar com os demais, outros
dizem ter muita dificuldade na escrita (ortografia) e na leitura.
Percebe-se que realmente necessitam de leitura diversificada, do professor
oportunizar momentos para fazer uso da linguagem espontânea e até formal e
propiciar momentos de leitura, onde toda turma possa ler textos variados, para se
desinibirem e consequentemente melhorar sua oralidade, capacidade de expressão,
tão importante, para saber se colocar e se identificar como cidadão participativo na
sociedade.
As atividades de leitura assim se fundamentam nas DCE:
Nestas Diretrizes, compreende-se a leitura como um ato dialógico, inter locutivo, que envolve demandas sociais, históricas, políticas, econômicas, pedagógicas e ideológicas de determinado momento. Ao ler, o indivíduo busca as suas experiências, os seus conhecimentos prévios, a sua formação familiar, religiosa, cultural, enfim, as várias vozes que o constituem. (SEED, 2008, p. 54)
Cabe ao CEEBJA viabilizar o acesso ao universo de textos, para que os
alunos possam produzi-los e interpretá-los nas diferentes disciplinas que estudam.
Entretanto, a evasão escolar está interligada a diversos outros fatores,
cabendo à escola, direção, equipe pedagógica e corpo docente, refletir, questionar,
qual poderá ser sua contribuição e buscar metas e ações que possam minimizar ou
diminuir sensivelmente a evasão escolar.
Propostas ruins geram desinteresse pela escrita. Reescrever textos é uma
valiosa ferramenta para que o aluno desenvolva o seu processo autoral. Segundo o
Instituto Educar para Crescer (Revista Nova Escola, Nº 240/março2011), bastam
quinze minutos por dia para mergulhar num livro, para você se dar melhor nos
estudos e na vida.
Ainda segundo a revista, o leitor solta sua imaginação, estimula sua
criatividade, aumenta seu vocabulário, apresenta facilidade na escrita, amplia seu
conhecimento geral, a comunicação, o senso crítico e apresenta significativa
melhora na vida profissional.
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Pensando nessas propostas é que se elaboraram os questionários aos
professores, para verificar a importância, as contribuições que as metodologias de
ensino podem trazer aos alunos para que não se evadam e não se excluam.
No entanto, no processo contínuo de reflexão sobre essas práticas
pedagógicas, sentindo que o ensino seja adequado a todos os alunos, considerando
as experiências e percurso de cada professor, é que se pretende dispor desse
questionário, dessa possibilidade, para enriquecer o dia a dia da sala de aula
despertando, o interesse de todos pelo CEEBJA, para organizar o tempo escolar à
partir do tempo dos alunos com possibilidades de tratar do mesmo conteúdo, texto,
de formas e tempos diferenciados, para que ele permaneça na escola e melhore
suas condições de aluno e de vida.
Os questionários foram respondidos por dez ex-alunos do ensino fundamental
fase II, que serão aqui tratados, identificados como “Ex”; dez alunos ativos, que
serão identificados como “A”, e também por dez professores que serão identificados
como “P”.
A pesquisa mostra os fatores relacionados ao abandono, o que os estudantes
pensam, apontam de acordo com a Tabela 1, evidenciada em seguida pelo Gráfico
1:
Tabela 1: Impeditivo para continuidade dos estudos
Quantidade Percentual
Ex A Ex A
Condições sócio-econômicas; 3 1 30% 10%
Não conseguem conciliar trabalho e escola;
5 4 50% 40%
Dificuldade em aprender; 2 2 20% 20%
Cansaço; 1 10%
Falta de tempo; 1 10%
Família, doença; 1 10%
Fonte: Questionário – elaboração da autora
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Gráfico 1: Impeditivo para continuidade dos estudos
Fonte: Questionário – elaboração da autora
Entende-se que é no Projeto Político Pedagógico do CEEBJA que estas
questões devam estar presentes, devendo ser pautadas e debatidas. Para isso, é
necessário que a escola identifique, reconheça os diferentes sujeitos evadidos e os
condicionantes sociais que determinam o sucesso ou fracasso escolar, de forma que
possa criar condições de enfrentamento a todos esses problemas existentes e para
que possa garantir o direito ao acesso e a permanência com qualidade no processo
educacional.
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2.2 Conhecendo o perfil dos alunos para melhor acolhê -los no CEEBJA.
A pesquisa feita com os alunos indica importante características de seu perfil,
que também estão associados a sua exclusão devido à complexidade e a dificuldade
de não conseguirem permanecer no CEEBJA.
Tabela 2: Perfil dos pesquisados
Quantidade Percentual
Ex A Ex A
Sexo Masculino 3 6 30% 60%
Sexo Feminino 7 4 70% 40%
Casados, constituem família 7 3 70% 30%
Trabalhadores 7 6 70% 60%
Donas de casa 4 2 40% 20%
Desempregados 4 3 40% 30%
Fonte: Questionário – elaboração da autora
Gráfico 2: Perfil dos
pesquisados
Fonte: Questionário – elaboração da autora
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A compreensão do perfil dos alunos da EJA é de fundamental importância
para que se concretize a permanência do aluno, pois muitas vezes acaba por se
deixar de lado a experiência de vida e a realidade sócio-historico-cultural tão
eficazes para essa modalidade de ensino.
Ainda em relação ao perfil dos pesquisados pode-se constatar em relação a
faixa etária entre os ex-alunos que 60% tem entre 30 e 39 anos; 30% tem entre 40 e
45 anos; 10% entre 18 e 29 anos; e entre os alunos 50% tem entre 18 e 29 anos;
40% entre 30 e 39 anos e 10% entre 40 e 45 anos.
Constata-se que esses alunos necessitam de desenvolvimento estratégico
para melhor aproximá-los da escola, criando uma nova cultura, para torná-la mais
atraente e socialmente valorizada, com a missão, um propósito de ensinar o que
está previsto no currículo e de inserir também o que realmente essa comunidade
necessita, repensando na definição de ações, estratégias para comprometer-se com
resultados significativos, elaborados em consenso e aplicados com justiça, para
assim ser possível avançar na melhoria do desempenho e na diminuição do
abandono escolar.
Mas o estudo aponta também que aspectos relacionados à própria relação
aluno/CEEBJA são significativamente importantes e provocam uma perda razoável
entre os que teriam um propósito maior de permanecer na escola.
Tabela 3: O que mais desmotiva o jovem e o adulto
Quantidade Percentual
Ex A Ex A
Falta de tempo para estudar
4 40%
Dificuldade em Aprender
6 4 60% 40%
A aula não ser interessante
2 20%
Os conteúdos não serem bem elaborados
4 40%
Fonte: Questionário – elaboração da autora
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Gráfico 3: O que mais desmotiva o jovem e o adulto
Fonte: Questionário – elaboração da autora
Percebe-se que quanto mais o aluno passa dificuldade, não conseguindo
acompanhar a disciplina, maior são as chances de abandonar a escola.
Não há, porém, uma disciplina que possa ser identificada como responsável
pela desistência dos alunos.
Quanto às disciplinas constatou-se entre os ex-alunos que 60% tem
preferência pela Língua Portuguesa e que 40% tem preferência por Matemática;
50% consideram Língua Portuguesa e História as disciplinas mais fáceis e 50%
consideram Língua Inglesa e Matemática como as disciplinas mais difíceis.
Em relação aos alunos pode-se observar que 40% tem preferência pela
Língua Portuguesa e 60% tem preferência por Matemática; 40% consideram Língua
Portuguesa e História as disciplinas mais fáceis e 60% consideram Língua Inglesa e
Matemática como as disciplinas mais difíceis.
Vislumbrar que o estudo lhe trará melhores oportunidades na vida aumenta
as chances de permanência do aluno na escola, perceber se o aluno está
acompanhando o que está sendo apresentado, ensinado, usar metodologias mais
dinâmicas e instigantes para apresentar os conteúdos, as atividades e eles
desenvolverem as tarefas, atribuições.
Percebe-se que a escola precisa motivá-los para a continuidade do estudo,
buscando a valorização da trajetória de toda uma vida, a família, a comunidade,
mostrando, como as ações do presente, de hoje, impactam, ajudam ou atrapalham o
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futuro de cada pessoa e por fim criar espaços para sensibilizar a todos sobre a
importância de ter o CEEBJA como possibilidade de concluir seus estudos e obter
êxito, ter perspectiva de dias melhores.
O aluno precisa ser envolvido afetivamente, avaliá-lo toda hora, tendo como
ponto de partida sua autonomia, orientá-lo procurando convencê-lo, envolvê-lo, mas
ao mesmo tempo exigindo, mostrando, cultivando sua capacidade e sua condição de
sujeito, de fazer sua própria história, conhecendo seus direitos de igualdade quanto
à diferença. Segundo Demo (2007), a aprendizagem é processo reconstrutivo, de
dentro para fora, nada entra na mente que não seja interpretado pelo sujeito.
Maturana (1995) coloca que:
Vivemos uma cultura que desvaloriza as emoções, e não vemos o entrelaçamento cotidiano entre a razão e a emoção, que constitui nosso viver humano, e não nos damos conta de que todo sistema racional tem um fundamento emocional. (MATURANA, 1995, p.15.)
É papel do professor, apoiar o aluno do modo mais contagiante possível,
exigindo o melhor desempenho, levá-lo ao desafio, estabelecendo com ele uma
relação pedagógica desafiadora, para que adquira confiança, segurança, de que vai
conseguir, vai vencer e permanecer na escola.
2.3 As contribuições das metodologias de ensino.
Embora considerando que a reflexão é elemento básico para o conhecimento,
é sabido que se vive numa sociedade onde a reflexão é pouco incentivada. Isso
aumenta, cada vez mais, a responsabilidade de fazer da escola um espaço capaz de
incentivar essa capacidade tão fundamental a alunos, professores, enfim a toda
comunidade escolar.
No entanto, no processo contínuo de reflexão sobre a prática pedagógica, e
sentindo a necessidade que o ensino seja adequado aos que ingressam na escola
ou retornam a ela fora do tempo regular, que o professor proponha, execute e
registre as ações que desenvolve, para atingir os objetivos propostos de modo a
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permitir aos alunos da EJA percorrerem trajetórias de aprendizagens, pois
respeitando o ritmo próprio de cada um no processo de apropriação do
conhecimento é que se elaborou os questionários para os professores realizarem
uma análise de como vem transcorrendo sua prática pedagógica e também a
reflexão sobre a realidade da EJA como uma possibilidade de usar metodologias
diferenciadas, como uma estratégia de recurso para que os alunos se interessem e
tomem gosto pela escola.
Evidenciada a dimensão dos aspectos que envolvem a problemática da
evasão escolar e as infinitas possibilidades de intervenção pedagógica, capaz de
minimizar e/ou superar as causas da evasão no contexto escolar, sugere- se que
cada um, autor do seu fazer pedagógico, seu plano de trabalho docente, pense na
sua proposta, conforme as necessidades dos alunos, e com iniciativa, para que se
possa pontuar a perspectiva de trabalho e fortalecer a dinâmica “ação - reflexão-
ação”, provocando o diálogo entre todos os envolvidos.
Trata-se do processo de investigação teórica que pauta a ação prática,
identificando o conjunto de determinados princípios e recursos que serão utilizados
pelos professores buscando alçar os objetivos propostos.
A perspectiva de trabalho aqui indicada visa, instigar o pensar-criar, o diálogo
como experiência de abertura aos desafios, anseios e novas possibilidades para
mudança, pois segundo Freire (2002 p.154) “O sujeito que se abre ao mundo e aos
outros inaugura com seu gesto a relação dialógica em que se confirma como
inquietação e curiosidade, como inconclusas em permanente movimento na
história”.
A organização dos cursos, a metodologia de trabalho, os currículos precisam
ser estruturados em conformidade com a legislação vigente, tendo a preocupação
com as características do alunado, seus interesses, condições de vida e de trabalho,
para que se possa oportunizar a realização e conclusão da escolarização, nos níveis
de educação básica, haja vista que este é um problema nacional.
No que se refere a experiência profissional de cada professor, constatou -se
que 60% atuam na EJA entre 1 a 5 anos, 20% entre 5 a 10 anos e 20% a mais de 15
anos.
Recentemente houve fixação do padrão de professores no CEEBJA, um
número significativo de professores novos atuando na EJA, infelizmente com pouca
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experiência sobre essa modalidade, mas observa-se muita força de vontade,
interesse em aprender a trabalhar, conforme demonstra os dados a seguir:
Tabela 4: Novos professores na EJA
Quantidade Percentual
Preocupam -se com a realidade sócio cultural do aluno e a relacionam com os conteúdos
5 50%
Estudo e preparo as aulas mais ligadas à realidade dos alunos
4 40%
Buscando experiência com outros professores do CEEBJA
1 10%
Fonte: Questionário – elaboração da autora
Gráfico 4: Novos professores na EJA
Fonte: Questionário – elaboração da autora
Com relação a opinião que os professores possuem sobre os alunos da EJA,
constatou-se que 70% consideram os alunos interessado-motivados; 20%
consideram os alunos informados, com boa aprendizagem e 10% consideram os
alunos razoáveis, com grande dificuldade em acompanhar o conteúdo.
15
Há que se considerar fator muito importante essa fixação dos professores,
pois na medida em que se tem mais professores lotados na EJA, mais
fortalecimento a escola terá, para participar de processos de mudança, para
adquirirem seus saberes em cursos de formação continuada e na prática.
Discute-se, dessa forma, o papel da EJA, pensando na possibilidade do
professor, na sua participação mais ativa, no desenvolvimento da autonomia e na
sua capacidade de trabalhar como mediador do conhecimento.
Dallari (1998) afirma que:
A cidadania expressa um conjunto de direitos que dá à pessoa a possibilidade de participar ativamente da vida e do governo de seu povo. Quem não tem cidadania está marginalizado ou excluído da vida social e da tomada de decisões, ficando numa posição de inferioridade dentro do grupo social. (DALLARI, 1998. p.14.)
Ao refletir sobre a quantidade de evadidos na escola pode-se constatar entre
os professores que 80% tem idéia do índice de evasão e veem possibilidades em
resgatá-los e que 20% não tem idéia do índice de evasão, mas veem possibilidades
em resgatá-los. Evidenciou-se também que 70% dos professores atribuem a
desistência por dificuldades na aprendizagem e pelo cansaço e que 30% dos
professores atribuem a evasão a fatores externos.
Para a articulação entre o conhecimento científico, o conhecimento informal e
as políticas da EJA, e também pensando na relação dialógica, apontamos algumas
questões e procedimentos referentes à sala de aula, a prática pedagógica para cada
professor preencher sua planilha e constatamos os resultados representados no
quadro a seguir:
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Leia e assinale o que você julgar pertinente conforme sua atuação.
Sim
Não
Às vezes
Muito poucas vezes
1-Preparo minha aula suficientemente?
100% P-1,2,3,4,5,6,7,8,9 e 10.
2-Organizo- as reflexivamente?
100% P-1,2,3,4,5,6,7,8,9 e 10.
3-Utilizo informações suficientes antes de desenvolvê -las?
90% P-2,3,4,5,6,7,8,9 e 10.
10% P-1
4-Improviso em alguns momentos?
40% P-2,3,5,10
10% P-9
50% P -1,4,6,7,8,
5-Utilizo adequadamente todos os recursos disponíveis?
60% P-3,4,6,7,9,10
40% P-1,2,5,8
6-Realizo uma seqüência adequado de atividades ?
100% P-1,2,3,4,5,6,7,8,9 e 10.
7-Consigo fazer com que as atividades se adaptem à tipologia dos alunos?
60% P-1,3,6,7,9,10
10% P-2
30% P-4,5,8,
8-As atividades são dirigidas, permitem autonomia para meu aluno?
100% P-1,2,3,4,5,6,7,8,9 e 10.
9-Faço acompanhamento pessoal para cada aluno?
100% P-1,2,3,4,5,6,7,8,9 e 10.
10-Forneço a meus alunos recursos ou esquemas dos temas de minha aula?
80% P-1,2,3,4,5,8,9e10
10% P-6
10% P-7
11-Reflito sobre a forma de dar a aula?
90% P-1,2,3,4,5,6,7,8e10
10% P-9
12-Submeto a minha atuação à consideração de outros colegas?
70% P-1,2,3,5,6,9e10
10% P-7
20% P- 4,8
13-Realizo minha própria auto avaliação?
70% P- 1,2,4,6,7,9 e 10
30% P-3,5 e 8
14-Você acha que deve propor novas estratégias na elaboração do PTD para que o aluno não desista e permaneça na escola?
50% P-3,4,8,9e10
20% P-2e6
30% P-1,5e7
15-Acha que precisa propor novas decisões sobre sua metodologia?
60% P- 3,4,5,7,9 e 10
20% P- 2 e 6
20% P-1 e 8
17
16-Acha que precisa introduzir modificações no tratamento dos alunos?
20% P- 2 e 9
40% P- 3,6,7e10
40% P-1,4,5,8
Fonte: Questionário – elaboração da autora
Legenda: P – Professor
1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9 e 10 – nomenclatura alfanumérica de cada professor pesquisado.
Constata-se nessa perspectiva, que cada docente deva definir suas
estratégias e metodologias de forma coletiva, traduzindo-as em ações, para dar
visibilidade às necessidades de cada aluno, contextualizando toda e qualquer ação,
num espaço agregador das práticas sociais, o compromisso de todos os envolvidos,
na perspectiva de melhorar o contexto escolar, refletir sobre a concepção de EJA,
enfrentamento e a conscientização profissional diante da prática, pois segundo
Pollak (1992 p.202), “há uma relação do professor-aluno, do ambiente no qual a
aprendizagem acontece, seja esse o familiar, seja o escolar, seja o do mundo dos
livros, bem como a relação dos mecanismos pedagógicos em uso”.
Após análise dos questionários foram fixados na escola os resultados da
pesquisa, e realizado o convite aos educadores e alunos para observarem os
registros pontuados.
2.4 Análise das atividades elaboradas
O Grupo criado passou a chamar-se “Organização do Processo Ensino
Aprendizagem” e foi composto por 18 componentes: sendo 15 professores, 02
pedagogos e o diretor, e ficou aberto para todo e qualquer elemento integrador da
comunidade escolar que desejasse se integrar.
Como já mencionado, a frase chave do CEEBJA é: “Organização do processo
ensino aprendizagem”, que passou a dar nome ao grupo de estudos, que elencou
como principais desafios e objetivos:
Refletir sobre o plano de trabalho docente, tendo em vista a adequação
da metodologia de ensino ao perfil dos alunos;
18
Identificar e analisar a relação entre as metodologias utilizadas e a
evasão escolar;
Observar os efeitos que a metodologia vigente aproxima/distancia os
alunos da sala de aula;
Tentar minimizar ou diminuir sensivelmente os evadidos do CEEBJA.
Para isso, o cronograma abaixo apresentado foi executado pelo grupo
conforme datas, temas e tarefas realizadas:
Dia:12/0811 Dia:21/08/11 Dia:06/09/11 Dia:29/09/11
ETAPA I ETAPA II ETAPA III ETAPA IV
Evasão escolar e suas possíveis causas; Conhecendo o perfil dos alunos.
Professor Inovador/Pensador do Futuro; Cuidando da aprendizagem.
As contribuições das metodologias de ensino- uma proposta de análise metodológica e abordagens pedagógicas da EJA.
As contribuições das metodologias de ensino- uma reflexão sobre as questões curriculares e as práticas pedagógicas.
Na Etapa I foram realizadas leituras e reflexões sobre o tema com aportes
teóricos do caderno pedagógico, discutindo o índice de evasão coletados,
perspectivas para a minimização da evasão escolar, a mobilização da comunidade
escolar em busca do resgate dos evadidos, a auto estima dos alunos e as propostas
de trabalho docente para reformulação da dinâmica em sala de aula.
Como ação propositiva do grupo para resgatar os evadidos, foram realizados
os seguintes encaminhamentos:
Ofício para a rádio local, com a relação dos alunos para o
chamamento;
Definição dos objetivos e metas a serem estabelecidas;
Determinação de atividades e tarefas para resgatar a auto estima dos
alunos;
Avaliação da possibilidade de aplicar novas metodologias, algumas
práticas inovadoras, que vão permear o trabalho do docente, levando a uma ação
mais imediata.
19
Um bom professor exerce influência decisiva sobre o desempenho e a
permanência dos alunos na Escola. É a aquisição de conhecimentos realizada por
meio da interação entre professor/aluno/sala de aula, que o aprendizado
adequadamente organizado resulta em envolvimento e que respectivamente faz com
que o aluno se anime, tome gosto e não desista da escola, pois de acordo com
Vygotsky (2010), as interações são a base para que o indivíduo consiga
compreender as representações mentais do seu grupo social.
Serrano (2002) aponta:
Os valores e as atitudes são fomentados sempre em contextos de realidade, de relação e interação da pessoa com os outros, com o meio e com a realidade em que vive. Não é algo abstrato que se aprende e que se incorpora conceitualmente na estrutura do conhecimento. Traduzem-se em atividades e em comportamentos concretos, comprometidos com a realidade. (SERRANO, 2002, p. 115)
Na etapa II foi abordada a autonomia do aluno, colocando-o no centro do
processo ensino-aprendizagem, sendo que há necessidade do professor envolver,
avaliar, elaborar, pesquisar, orientar e relacionar-se pedagogicamente com o aluno.
Diante destas sinalizações foram elaboradas algumas alternativas para
motivar os alunos a estudarem e construírem textos com mão própria:
Uma vez por semana, o professor de cada disciplina, fará leitura
coletiva, individual, com textos instigantes, referente ao conteúdo abordado e
solicitará que um ou mais aluno, crie um texto, dando sentido, significado ao que
aprendeu.
Propuseram-se as seguintes sugestões de leituras: receitas culinárias,
bula de remédios, dicas de qualidade de vida, cuidados com o meio ambiente,
primeiros socorros, doenças sexualmente transmissíveis, informações sobre droga,
violência infantil, violência da mulher, caminhos para um futuro melhor.
Na etapa III realizou-se uma crítica sobre o tema “As contribuições das
metodologias de ensino e uma proposta de análises metodológicas e abordagens
pedagógicas”, observando no Plano de Trabalho Docente a prática pedagógica
realizada em cada disciplina e os elementos necessários para compreensão dos
alunos, tentando criar possibilidades para construir laços mais humanos na escola,
20
tendo como princípios a criatividade, a sustentabilidade, a criticidade e a
solidariedade.
Percebe-se que na natureza humana, tudo pode ser transformado, que o
educador pode e precisa assumir seu papel, recriando propostas, oportunidades,
que cheguem à sala de aula em virtude das necessidades e curiosidades de seus
alunos. Pertinente é elaborar atividades, conteúdos de modo integrado e
interdisciplinar, propondo caminhos, alternativas, e outras possibilidades de ensinar,
como ensinar, como acompanhar, como integrar e organizar a sala de aula, de modo
que, todos consigam aprender os conteúdos, conhecimentos, apresentados,
observando se o uso do material esta sendo adequado, verificando de que maneira
os alunos estão sendo acolhidos, respeitados, valorizados na escola, se está sendo
realizado um trabalho coletivo e compartilhado.
Questionou-se também se os instrumentos avaliativos básicos são as opções
metodológicas do professor em sala de aula, pois existem variadas opções
metodológicas que poderão servir como mecanismos avaliativos, tais como:
debates, seminários, avaliações escritas e orais, trabalhos individuais, em grupos e
pesquisas diversas.
As metodologias pedagógicas são parte constante do cotidiano
professor/aluno, pois é através delas que se tem maior facilidade para atingir os
objetivos previstos de formas diferenciadas, levando em consideração as
individualidades de cada aluno. Dessa forma, haverá uma maior possibilidade de
captar e sanar as dificuldades relacionadas ao modo de ensinar, a fim de conduzir
os alunos à construção do conhecimento dentro de sua realidade peculiar.
A aprendizagem é um processo reconstrutivo, pois para efetivá-la há a
necessidade de uma sondagem constante do professor em relação ao aluno,
buscando perceber o que necessita ser retomado com o aluno. É através do
“feedback”, que o professor obtém cotidianamente e encontra novos caminhos para
chegar à efetivação de uma aprendizagem consistente em todos os momentos.
Os alunos são capazes de construir conhecimento com suas próprias mãos e
saberes, se tiverem acesso a diversificados instrumentos para consulta e se
puderem contar com a direção e o apoio constante do professor, como mediador e
não somente como transmissor de informações prontas e acabadas e sim como
21
seres pensantes, terão todas as condições de participarem ativamente da
construção verdadeira do conhecimento, obtendo êxito nessa proposição.
As análises feitas sobre os resultados da aprendizagem dos alunos ou da
escola levam em consideração os resultados do aproveitamento e quando há
necessidade realiza-se a retomada dos conteúdos e temas abordados para que haja
a efetivação do conhecimento. Verifica-se também a necessidade de mudança de
postura do professor, reformulando as estratégias e metodologias a fim de
contemplar todos seus alunos, sem distinção, considerando as diferenças existentes
no tempo de apreensão do conhecimento de cada aluno.
O professor é decisivo no processo ensino aprendizagem, é ele que orienta,
motiva, avalia, elabora, pesquisa, buscando a autonomia do aluno, colocando-o no
centro do processo ensino aprendizagem, propondo meios mais apropriados, mais
adequados, para que a aprendizagem se efetive, para que os alunos tenham
sucesso, que aprendam e permaneçam na escola.
Pode-se considerar Professor Inovador como aquele que reflete, investiga,
trabalha, que requer de si muito esforço e determinação para inventar, reinventar
metodologias e estratégias para que o aluno aprenda e obtenha êxito e sucesso.
Na etapa IV deu-se início a reflexão sobre “As questões curriculares e as
práticas pedagógicas”, tomando por base a Proposta Curricular do CEEBJA que tem
como principal objetivo o diálogo, pois é nele que estão nítidas as diferentes
interpretações do que colocamos em questão, o texto, o conteúdo que será
abordado e apresentado durante o tempo de permanência do aluno nessa
modalidade de ensino.
Tendo os aportes teóricos atualizados, o Projeto Político Pedagógico e o
Regimento Escolar haverá a diminuição das dificuldades para a realização de
iniciativas na escola, com momentos abertos para a discussão das temáticas
propostas, com elaboração de metodologias diferenciadas, abertas para a troca de
experiências nas diferentes disciplinas, identificando dessa forma as prioridades,
preferências e necessidades imediatas da comunidade escolar para com os alunos.
O plano de trabalho docente deve ser flexível, pois a adequação pode ser
feita a todo o momento, sendo encaminhado para a equipe pedagógica, para que a
mesma acompanhe e o professor desenvolva seu trabalho.
22
Os principais motivos que levam o professor a mudar sua prática pedagógica
estão em propor novas metodologias, que venham ao encontro das dificuldades da
aprendizagem dos alunos, para que venham assimilar os conteúdos de forma prática
e efetiva.
Após discussão e análise dos documentos citados acima, elaborou-se um
texto pontuando as dificuldades que serão enfrentadas e as possibilidades de
avanços que nortearão toda ação pedagógica em sala de aula, para que o corpo
docente sinta -se capaz de trilhar seus caminhos com segurança e sensatez.
Ao se tratar do plano de trabalho docente foi elaborado o plano de ensino,
respeitando as orientações das Diretrizes Curriculares da EJA e da Proposta
Pedagógica Curricular do Estabelecimento de Ensino, para melhor conhecer o perfil
dos alunos da EJA, objetivando o respeito no processo ensino aprendizagem de
cada jovem, adulto e idoso, organizando conteúdos de forma interdisciplinar,
avaliando de forma contínua e paralela o desenvolvimento do processo.
Esses alunos são pessoas que não puderam efetuar seus estudos na idade
regular, que ingressaram precocemente no mercado de trabalho e que buscam na
escola melhorar sua qualificação profissional, todavia há de se destacar nesse
contexto o compromisso da escola com a formação humana e com o acesso à
cultura geral. Cabe aos alunos participarem das aulas, das atividades escolares,
aprimorando o desenvolvimento da autonomia intelectual e moral.
Na proposta são previstos encaminhamentos metodológicos específicos para
cada disciplina, bem como os conteúdos, respeitando-se as Diretrizes Curriculares
Estaduais da EJA, de forma coerente com o compromisso de educar no que se
refere à formação humana e ao acesso à cultura geral, considerando -se a
diversidade, a inclusão das pessoas com deficiência e o perfil dos alunos.
A EJA é uma modalidade educativa determinada por suas especificidades,
pelos sujeitos envolvidos e em termos de legislação, as recomendações são claras e
direcionam para a necessidade de se buscar condições, alternativas e currículos
adequados à realidade dos alunos da EJA, ou seja, uma prática que leve em conta
os saberes, os conhecimentos até então produzidos e as experiências de vida dos
alunos.
No CEEBJA tem-se uma proposta pedagógica pensada e estabelecida a
partir de reflexões sobre a diversidade cultural do educando, sua história, suas
23
crenças e valores, respeitando suas necessidades relativas à aprendizagem e tempo
disponível para a frequência às aulas.
A Proposta Curricular visa compreender o perfil do aluno da EJA, através de
um olhar cuidadoso sobre questões que podem interferir na motivação do aluno em
sala de aula, uma vez que um dos fatores que dificultam a aprendizagem se
encontra no fato do aluno iniciar ou recomeçar a escolarização na fase adulta.
Ser professor de EJA é mais do que meramente “dar aula”, pois o
compromisso com o indivíduo o torna um agente com a possibilidade de instigar
processos de conscientização que requer acima de tudo, analisar o processo de
constituição da identidade dos sujeitos envolvidos na EJA.
O Regimento Escolar traz concepções e propostas de EJA comprometidas
com a formação humana que passam necessariamente, por entender quem são os
sujeitos e que processos pedagógicos deverão ser desenvolvidos para dar conta de
suas necessidades e desejos, garantindo o direito à formação na especificidade de
seu tempo humano e assegurar-lhes a permanência e a continuidade dos estudos,
com respeito por pessoas e princípios, pois a EJA estimula o desenvolvimento de
alunos com valores éticos universais e uma consciência comunitária comprometida,
oportunizando o diálogo e o respeito à pluralidade, a dignidade e os direitos
humanos de cada um, assegurando aos alunos matriculados oportunidades
educacionais apropriadas, considerando as características do aluno, seus
interesses, condições de vida e de trabalho. Prima-se pela identidade pessoal de
cada aluno, valorizando sua experiência extracurricular e propondo a vinculação
entre educação escolar, o trabalho e as práticas sociais.
O Planejamento define o que se almeja à curto, médio e longo prazo. Isto
significa que o planejamento leva a prever situações, organizar atividades, dividir
tarefas, para facilitar o trabalho e avaliar o que já foi feito. Para o professor
comprometido com o seu trabalho, o planejamento faz parte do processo de tomada
de decisão sobre a sua forma de agir, no dia a dia de sua prática pedagógica. Nele
estão envolvidas ações e situações que se dão de forma continuada entre professor
e alunos e alunos entre si.
Na EJA os conteúdos devem permitir aos alunos o exercício pleno da
cidadania, o saber indispensável às suas ações que vão desde desempenhar uma
profissão até participar de sua comunidade.
24
Um Plano de Trabalho Docente precisa apresentar uma metodologia de
ensino que atenda a especificidade da EJA, como forma de identidade, nessa
modalidade da educação ainda marcada pelo preconceito.
Educar jovens e adultos, hoje, não é apenas ensiná-los a ler e escrever seu
próprio nome. É oferecer-lhes uma escolarização ampla e com muita qualidade. E
isso requer atividades contínuas, com o uso de metodologias adequadas e
diversificadas. Além disso, a educação de jovens e adultos deve ocupar-se de fato
com a cultura do aluno, com sua preparação para o trabalho e como prevista nas
Diretrizes Curriculares da EJA, a função de reparar, qualificar e equalizar o ensino.
Novas práticas de ensino devem ser buscadas, planejadas com objetivos de o
educador perceber o aluno como um ser pensante, cheio de capacidade e portador
de idéias, que se apresentam espontaneamente em uma conversação simples e em
suas críticas aos fatos do dia a dia.
O professor deve usar uma metodologia que favoreça o aluno de modo que
este entenda que tem muito a contribuir para o processo de ensino e aprendizagem,
não só por ser um trabalhador, mas pelo conjunto de ações que exerce na família e
na sociedade.
Embora ainda exista muito preconceito com relação à EJA, é inegável o
benefício que essa modalidade tem prestado às pessoas que não puderam estudar
na época apropriada.
Observando o Grupo de Trabalho em Rede, com o propósito de investigar a
possível “Relação entre Evasão Escolar e Metodologias de ensino”, objetivou-se
investigar a relação do professor pedagogo, professor e/ou aluno, na tentativa de
conhecer as expectativas profissionais que cada um tem do tema, entender a razão
de uma ação pedagógica conjunta e analisar sua influência no trabalho pedagógico
como um todo, tentando reparar a fuga dos alunos.
Nos Fóruns e Diários utilizou-se a técnica de analisar as respostas, trocas de
experiências e os relatos dos cursistas, para tentar minimizar a evasão escolar. O
saber relacional, percebido com apoio dos sete participantes, como valor de suporte
foi gratificante, a interação ocorreu de forma consciente, ademais da evasão de
muitos cursistas, comprovando que até com professores a evasão acontece, que é
25
preciso criar mecanismos que superem essa dificuldade, talvez pelo cansaço dos
professores pedagogos, ou até mesmo pelo desinteresse do tema abordado.
Os cursistas participantes acreditam que o sucesso de nosso trabalho
depende, sobretudo, das relações estabelecidas no Projeto Político Pedagógico
entre todos os envolvidos no processo ensino aprendizagem da escola, cuja
finalidade definirá as possibilidades e os limites de atuação, para que se consiga
alcançar o objetivo, que é a permanência do aluno na escola e sua conclusão de
curso.
Um trabalho fundamentado nas relações de todos os envolvidos, com um
compromisso ético de fazer valer os direitos e deveres de todos, para que haja
conhecimento formal, de maneira prazerosa, onde os alunos se sintam valorizados,
respeitados, enquanto “peça” fundamental do processo ensino aprendizagem é um
dos maiores objetivos dessa proposta.
Percebe-se que é necessário autonomia e aproximação junto a equipe técnico
pedagógica, com objetivo de controlar os índices de evasão escolar, buscando a
integração, a multiplicidade no espaço da relação, em busca de um conhecimento
significativo, que permita o aluno como cidadão, enfrentar os desafios, propondo
aulas diferenciadas, para inovar e aprimorar o conhecimento que é elaborado,
trocado, compartilhado na escola, pois Morin (2006, p6) retrata que “O desafio que
se faz, por meio da relação e da organização, é o da interação, da promoção , da
interdependência das partes entre elas e delas com o todo, mantendo -os diferentes
para que, na diferença, tenham o que trocar”.
Essa troca de experiências vivida no Grupo de Trabalho em Rede pode somar
na organização do trabalho pedagógico da escola e na busca de subsídios para
elaboração de materiais e também do atuar na escola, proporcionando melhores
condições, melhores oportunidades, melhores dias, para que se garanta a
permanência do aluno na escola.
26
3 Considerações finais
Espera -se que este estudo elaborado possa contribuir como instrumento
auxiliar ao professor em algumas questões que são evidentes na comunidade
escolar, os valores que servirão de base para permear as práticas de sala de aula,
tendo em vista a característica de cada aluno.
O professor atualizado no processo ensino aprendizagem e que dispõe de
conhecimentos e práticas sempre renovadas, é capaz de cuidar da aprendizagem e
do aluno para que permaneça na escola até que consiga concluir seus estudos para
prosseguir na vida e obter êxito.
É pensando na necessidade de agregação das nossas ações articuladas às
diretrizes curriculares, a metodologia e as práticas pedagógicas, que se estruturou
essa proposta, incluindo a afetividade, o cuidado, a amorosidade, como pressuposto
básico, para todo e qualquer enfrentamento do processo educacional,
principalmente em se tratando dessa fase do processo educativo escolar - dos
jovens e adultos - que com certeza precisam e devem ser muito valorizados,
inclusive pela lição de vida que constantemente transmitem.
Um aspecto interessante de ser ressaltado é o fato de alguns professores
trazerem para o grupo experiências vivenciadas, não necessariamente ligadas à
educação, mas que influenciaram no modo de observarem o trabalho na escola, pois
no cotidiano da profissão, o agir, o fazer, o pensar, o falar, são formas de expressão,
que nos encontros realizados constituíram base sólida, forte para o trabalho
pedagógico junto ao CEEBJA.
O envolvimento dos professores com os alunos, na vida cotidiana da escola, é
o caminho para a transformação e construção de uma escola democrática pública de
qualidade, constituída não somente através de muito trabalho, horas de estudo,
dedicação e discussão, mas também feita de muitas alegrias e realizações, da
participação coletiva, promovendo uma profunda transformação no processo ensino
aprendizagem desses jovens e adultos, pois como bem coloca Freire (2003): “é o
professor que conduz o aluno a acreditar no seu potencial, para aprender, criticar, e
transformar a si próprio e o mundo que o cerca”.
27
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