acessibilidade dos sítios web dos governos estaduais brasileiros

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Texto sobre o acesso à sítios eletrônicos em diferentes esferas.

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  • rap rio de Janeiro 43(2):395-414, Mar./aBr. 2009

    issn0034-7612

    Acessibilidade dos stios web dos governos estaduais brasileiros: uma anlise quantitativa entre 1996 e 2007*

    andr pimenta Freire** Mrio de Castro*** renata pontin de Mattos Fortes****

    Sumrio : 1. Introduo; 2. Acessibilidade na web e governo eletrnico; 3. Metodolo-gia para avaliao da acessibilidade dos stios web dos governos estaduais brasileiros; 4. Resultados das avaliaes; 5. Concluses.

    Summary : 1. Introduction; 2. Web accessibility and e-government; 3. Method for evaluating the accessibility of the Brazilian state government websites; 4. Evaluation results; 5. Conclusions.

    PalavraS-chave: acessibilidade na web; governo eletrnico; incluso digital; anlise quantitativa; mtricas de acessibilidade.

    Key wordS: web accessibility; e-government; digital inclusion; quantitative analysis; accessibility metrics.

    A utilizao da web para a disponibilizao de informaes e servios de rgos governamentais para os cidados tem se tornado cada vez mais expressiva. Assim, a

    * Artigo recebido em abr. e aceito em dez. 2008. Os autores agradecem ao CNPq pelo apoio financeiro para o desenvolvimento do trabalho que deu origem a este artigo.** Mestre em cincias da computao pelo Instituto de Cincias Matemticas e de Computao da Universidade de So Paulo (ICMC/USP); pesquisador do Projeto Tidia-Ae da Fapesp no Laborat-rio Intermdia ICMC/USP. Endereo: Av. do Trabalhador So-carlense, 400 Centro Caixa Postal 668 CEP 13560-970, So Carlos, SP, Brasil. E-mail: apfreire@gmail.com.*** Doutor em estatstica pelo Instituto de Matemtica e Estatstica da Universidade de So Paulo (IME/USP); professor doutor do Departamento de Matemtica Aplicada e Estatstica do ICMC/USP. Endereo: Av. do Trabalhador So-carlense, 400 Centro Caixa Postal 668 CEP 13560-970, So Carlos, SP, Brasil. E-mail: mcastro@icmc.usp.br.**** Doutora em fsica computacional pelo Instituto de Fsica de So Carlos da Universidade de So Paulo (IFSC/USP); professora associada do Departamento de Cincias de Computao do ICMC/USP. Endereo: Av. do Trabalhador So-carlense, 400 Centro Caixa Postal 668 CEP 13560-970, So Carlos, SP, Brasil. E-mail: renata@icmc.usp.br.

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    garantia de que esses contedos e servios possam ser acessveis a qualquer cidado imprescindvel, independentemente de necessidades especiais ou de quaisquer outras barreiras. No Brasil, o Decreto-Lei no 5.296/2004 determinou que todos os rgos governamentais deveriam adaptar seus stios na web de acordo com critrios de acessibilidade at dezembro de 2005. Com o objetivo de verificar a evoluo da acessibilidade ao longo dos anos e como foi o impacto dessa legislao, este artigo analisa a acessibilidade dos stios dos governos estaduais brasileiros por meio de amostras coletadas entre 1996 e 2007. Foram efetuadas anlises por meio de mtricas, obtidas por avaliaes com ferramentas automticas. Os resultados indicam que a legislao teve pouco impacto para a melhoria real da acessibilidade dos stios no perodo indicado, com uma melhora somente em 2007. Verifica-se que se faz neces-srio adotar polticas pblicas mais efetivas para que as pessoas com necessidades especiais tenham os seus direitos para acesso a informaes e aos servios pblicos na web assegurados mais amplamente.

    Accessibility of Brazilian state government websites: a quantitative analysis between 1996 and 2007The use of the web to provide government information and services to citizens has become more and more significant. Ensuring that any citizen can access these con-tents and services is essential, regardless of disabilities or other barriers they may have. In Brazil, Executive Act no. 5.296/2004 ruled that all government agencies should adapt their websites according to accessibility guidelines until December 2005. In order to check the trend of accessibility over the years and the impact of such legislation, this article analyzes the accessibility of the Brazilian state government websites from 1996 to 2007. Analyses were carried out by means of metrics, obtained by evaluations with automatic tools. The results indicate that the legislation has had little impact on the accessibility of the sites, with an improvement in 2007. Thus, it indicates that it is necessary to adopt more effective public policies to guarantee that people with disabilities have insured their rights to access information and public services on the web.

    1. Introduo

    O uso da web1 para disponibilizao de informaes para os cidados nas diversas esferas da administrao pblica tem se ampliado com enorme ra-pidez. Cada vez mais, rgos dos governos federal, estaduais e municipais tm utilizado a web para prover diversos tipos de servios para os cidados (Rezende, 2007).

    1 Adotamos o termo web para referenciar a world wide web, por ser amplamente disseminado.

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    As possibilidades que a web oferece para que esses servios estejam ao alcance dos diversos cidados so do interesse de todos. Entretanto, para ga-rantir que qualquer cidado realmente possa ter acesso a essas informaes e servios, necessrio levar em conta diversas questes, como a disponibilida-de de infraestrutura de comunicao e os meios tecnolgicos utilizados para a disponibilizao dos contedos.

    Nesse quesito, a acessibilidade se apresenta como um aspecto essencial para promover a incluso na sociedade da informao. Em particular, observar a acessibilidade em contedos disponveis nos stios pblicos e governamen-tais na web fundamental para garantir acesso participativo e universal do cidado brasileiro ao conhecimento, independente de deficincias ou qualquer outra barreira.

    Em 2004, a promulgao do Decreto-Lei no 5.296 marcou a primeira determinao por vias legais sobre a necessidade da observncia de questes de acessibilidade em portais e stios governamentais.

    O conhecimento sobre as implicaes para o desenvolvimento do con-tedo na web, da legislao de acessibilidade brasileira, ainda reduzido no Brasil, segundo estudos recentes realizados pelo primeiro autor deste artigo (Freire, 2008). De acordo com um levantamento realizado em 2007, com mais de 600 participantes de todo o pas, entre pessoas envolvidas com desenvol-vimento para web em rgos do governo, academia e indstria, mais de 40% afirmaram nunca ter ouvido falar da legislao, e 32% afirmaram s ter ouvi-do falar ou conhecer vagamente.

    Pesquisas tm mostrado que a acessibilidade nos contedos dos s-tios e portais governamentais ainda no est totalmente de acordo com as recomendaes de acessibilidade, apesar da determinao do Decreto-Lei no 5.296/2004 de que esses contedos deveriam ter sido adaptados at de-zembro de 2005 (Ferreira et al., 2007).

    Apesar da existncia de avaliaes sobre portais especficos e do conheci-mento sobre os problemas com acessibilidade desses stios, ainda no existem estudos amplos e fundamentados em dados quantitativos que demonstrem o estado atual da acessibilidade em stios governamentais no Brasil.

    Neste artigo foi realizado um estudo sobre a acessibilidade dos stios dos governos estaduais do Brasil por meio da obteno de mtricas. Foram utilizadas amostras de verses das pginas nos ltimos nove anos, entre 1996 e 2007. A partir da obteno de dados quantitativos, por meio de mtricas de acessibilidade, foi possvel efetuar anlises estatsticas e verificar a evoluo da acessibilidade dos stios, bem como realizar testes estatsticos a fim de ve-

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    rificar a aderncia legislao em momentos especficos do perodo estudado na linha do tempo.

    Este artigo est organizado da seguinte forma: na seo 2 so apre-sentados conceitos fundamentais relacionados acessibilidade na web e suas implicaes no mbito do governo eletrnico; na seo 3 vemos a metodolo-gia utilizada para a pesquisa realizada; na seo seguinte so apresentados e discutidos os principais resultados obtidos na pesquisa; e, na ltima seo, sintetizamos as principais concluses e propostas de trabalhos futuros.

    2. Acessibilidade na web e governo eletrnico

    A world wide web foi concebida com o principal intuito de fornecer uma tec-nologia para disponibilizao de contedo em um formato padro simples e poderoso, atravs de informaes apresentadas como hipertexto, utilizando a linguagem HTML (W3C, 1999). Desde a concepo da web, Tim Berners Lee2 destacou que o poder da web est em sua universalidade. Ser acessada por todos, independentemente de deficincia, um aspecto essencial.

    Com o desenvolvimento e difuso da web, diversas tecnologias que no seguem padres foram criadas para estender as possibilidades da linguagem HTML, e grande parte dos criadores de pginas e empresas que desenvolvem navegadores deixaram de seguir os principais padres que garantiam a uni-versalidade da web. A no utilizao desses padres e princpios que acompa-nham a motivao original da criao da web trouxe diversas consequncias para sua evoluo, uma vez que a utilizao da web por usurios com softwa-res no convencionais, e mesmo para o uso da web em dispositivos mveis, dificultada pela falta de padronizao.

    O avano das novas tecnologias de computao mvel e ubqua que utilizam a web, assim como os avanos sociais para incluso das pessoas com necessidades especiais tm colocado o tema de acessibilidade na web em des-taque nos ambientes acadmicos, empresariais e governamentais.

    Acessibilidade na web corresponde a possibilitar que qualquer usu-rio, utilizando qualquer agente (software ou hardware que recupera e exibe contedo web), possa entender e interagir com o contedo disponvel nos stios web. Acessibilidade incorpora ainda a ideia de que todas as pessoas tm o direito de ser includas na sociedade, independente de deficincias,

    2 Inventor da web e diretor do World Wide Web Consortium (W3C).

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    localizao geogrfica, barreiras de linguagem, ou outro fator (Thatcher et al., 2002).

    Durante o desenvolvimento de um stio (website o termo usado em ingls) na web necessrio que no se leve em conta s os usurios que uti-lizam tecnologias similares s utilizadas pelo desenvolvedor. preciso ter em mente que a web pode ser usada em diferentes contextos por pessoas que, por exemplo (W3C, 1999a):

    t sejam incapazes de ver, ouvir, se deslocar, ou interpretar determinados tipos de informaes;

    t tenham dificuldade em ler ou compreender textos;

    t no tenham um teclado ou mouse, ou no sejam capazes de utiliz-los;

    t possuam tela que apresenta apenas texto, ou com dimenses reduzidas, ou ainda uma conexo lenta com a internet;

    t no falem ou compreendam fluentemente o idioma em que o documento foi escrito;

    t estejam com seus olhos, mos ou ouvidos ocupados (por exemplo, ao volan-te, a caminho do trabalho, ou em um ambiente barulhento);

    t possuam uma verso ultrapassada de navegador web, diferente dos habitu-ais, um navegador por voz, ou um sistema operacional pouco convencional.

    A partir desses exemplos, pode-se verificar que o tema acessibilidade na web no diz respeito somente ao acesso web por usurios com defici-ncias. A utilizao dos padres e recomendaes de acessibilidade traz be-nefcios para muitos outros grupos de usurios, e para a web como um todo (Hull, 2004).

    Em 2000, 14,5% da populao brasileira possua algum tipo de necessi-dade especial, e 9,6% da populao tinha mais de 60 anos de idade. Especial-mente essa parcela da populao de indivduos com mais de 60 anos bastan-te substancial, e representa uma grande poro de potenciais clientes de stios de comrcio eletrnico, usurios de servios do governo, visitantes de stios de entretenimento, entre outros. Assim, a preocupao com acessibilidade na web deve ser ainda maior em um futuro prximo, pois a parcela da populao idosa, por exemplo, est crescendo expressivamente com o aumento da expec-tativa de vida. Segundo projees do IBGE (IBGE, 2005), estima-se que em 2030 cerca de 20% da populao mundial ter mais de 65 anos.

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    Tambm se deve considerar que existe uma estreita relao entre a faixa etria e o surgimento de deficincias. A proporo de pessoas portadoras de necessidades especiais com menos de 21 anos de 10%, enquanto para pes-soas com mais de 65 anos essa proporo de 47,3% (IBGE, 2005).

    No cenrio mundial, diversos esforos tm sido dedicados para se aper-feioar mtodos de suporte ao desenvolvimento de aplicaes web acessveis. Alm disso, diretrizes tm sido propostas para facilitar o desenvolvimento de interfaces acessveis. O principal documento referente a diretrizes de acessibi-lidade o WCAG Web content accessibility guidelines (W3C, 1999a) do W3C World Wide Web Consortium.

    Os primeiros pases que idealizaram parmetros de acessibilidade na internet foram Canad, Estados Unidos e Austrlia, em 1997. Nos Estados Unidos, em 1998, entrou em vigor a section 508, uma lei determinando que a tecnologia eletrnica e de informao dos rgos federais seja acessvel s pessoas com necessidades especiais. Segundo essa lei, a tecnologia inacessvel interfere na capacidade individual de adquirir e usar a informao de maneira rpida e fcil. A section 508 foi decretada para eliminar barreiras na tecnologia da informao, disponibilizando novas oportunidades para as pessoas com necessidades especiais e incentivando o desenvolvimento de tecnologias que as auxiliem a atingir esses objetivos (US Government, 1998).

    Com o objetivo de tornar a web acessvel a um nmero cada vez maior de pessoas e maximizar a interoperabilidade, o W3C criou a iniciativa para a acessibilidade na web (web accessibility initiative, WAI). Entre outras atribui-es, essa WAI mantm grupos de trabalho para elaborar conjuntos de reco-mendaes para garantir a acessibilidade do contedo da web s pessoas com necessidades especiais ou que acessam a web em condies especiais de am-biente, equipamento, navegador e outras ferramentas web. Como resultado desse trabalho, em 1999 foi publicada a primeira verso das recomendaes para a acessibilidade do contedo da web (WCAG 1.0, W3C, 1999a), principal referncia mundial em termos de acessibilidade na web.

    Alm dessa iniciativa, tambm em 1999, Portugal regulamentou a ado-o de regras de acessibilidade informao disponibilizada na internet pela administrao pblica para pessoas com necessidades especiais. Essa iniciati-va transformou Portugal no primeiro pas da Europa e o quarto no mundo a legislar sobre acessibilidade na web. Em 2000, ao aprovar o plano de ao e-Europe 2002 (que inclui o compromisso da adoo das recomendaes sobre acessibilidade do W3C nos stios pblicos), o Conselho Europeu estendeu a iniciativa portuguesa aos 15 pases da Unio Europeia.

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    No Brasil, o modelo de acessibilidade de governo eletrnico (e-MAG) (Governo brasileiro, 2008) foi elaborado pelo Ministrio do Planejamento, Oramento e Gesto para a construo e a adaptao dos contedos governa-mentais (informaes, servios etc.) na internet. Nesse modelo so fornecidas: uma viso do cidado (conceitual) e uma viso tcnica (na forma de cartilha) com recomendaes fundamentadas no conjunto de regras do W3C, mas com indicaes simplificadas e priorizaes adaptadas realidade e s necessida-des brasileiras. Essas recomendaes visam que o processo para tornar os con-tedos do governo brasileiro acessveis seja conduzido de forma padronizada, de fcil implementao, coerente com as necessidades brasileiras, e em con-formidade com os padres internacionais. Esse modelo a referncia de todas as instituies governamentais brasileiras para a construo e adaptao das suas solues de governo eletrnico com interface web. O e-MAG foi criado especificamente para atender ao Decreto-Lei no 5.296/2004, que regulamenta as Leis nos 10.048/2000 e 10.098/2000.

    A avaliao da acessibilidade de portais de governo eletrnico no Brasil foi o alvo de um trabalho de pesquisa desenvolvido por Ferreira e colaborado-res (2007). No trabalho, foi efetuada a avaliao automtica de 351 stios da administrao pblica ou de interesse pblico em trs momentos: em novem-bro de 2005 (um ms antes do prazo para finalizar as adaptaes, de acordo com o Decreto-Lei no 5.296/2004), em maro de 2006 e em maro de 2007. As avaliaes foram efetuadas por meio da ferramenta daSilva (DaSilva, 2008).

    No estudo, verificou-se que em novembro de 2005 apenas cinco stios foram classificados com o conceito AAA (atende aos nveis de prioridade 1, 2 e 3) de acordo com o WCAG do W3C e somente quatro com conceito AAA de acordo com o e-MAG. Nos testes realizados em maro de 2006, apenas um stio obteve conceito AAA. Em maro de 2007, 22 stios foram classificados com conceito AAA.

    De acordo com os dados do estudo, pde-se verificar que poucas insti-tuies estavam em observncia da legislao brasileira de acessibilidade. O estudo de Ferreira e colaboradores (2007) apresentou dados relevantes sobre a acessibilidade nos stios governamentais brasileiros. Contudo, a forma como a avaliao foi efetuada no permitiu fazer anlises estatsticas mais apuradas.

    Em pesquisa anterior, Freire e colaboradores (2007) investigaram sobre as formas de processamento automtico para obteno de dados quantitativos que possibilitassem monitorar a acessibilidade de stios web. Essa pesquisa realizou coleta de informaes de uma amostra de pginas de stios de gover-nos municipais brasileiros e props um mtodo prtico para o processamento

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    do levantamento de dados e respectivo clculo das mtricas relativas a atendi-mento dos critrios de acessibilidade.

    Neste artigo, a proposta para avaliao se restringe a um cenrio mais especfico, dos governos estaduais. A avaliao proposta envolve o uso de m-tricas de acessibilidade, que permitem que anlises mais apuradas sejam efe-tuadas. Alm disso, tambm feita a anlise da acessibilidade com amostras dos stios desde 1996 at 2007.

    3. Metodologia para avaliao de acessibilidade dos stios web dos governos estaduais brasileiros

    O objetivo principal da realizao deste artigo foi o de verificar a evoluo da acessibilidade dos stios web dos governos estaduais entre 1996 e 2007. Em dezembro de 2004, com a promulgao do Decreto-Lei no 5.296/2004, esta-beleceu-se um prazo de 12 meses para que todos os portais governamentais fossem adequados para acomodar requisitos de acessibilidade. Assim, tambm foi proposta a verificao da hiptese de que essa determinao tenha sido realmente cumprida ou no no prazo estipulado.

    Assim, props-se como abordagem para verificar a adequao dos stios dos governos estaduais a utilizao de mtodos de avaliao nas verses das pginas em diferentes anos, com a anlise quantitativa dos resultados.

    Para recuperar as verses antigas das pginas, foi utilizada a ferramenta way back machine (Internet Archive, 2008) do Projeto Internet Archive. No projeto, foram feitas amostragens de pginas de toda a internet em diferentes dias, desde 1996. Essas pginas foram armazenadas em um servidor para pos-terior recuperao.

    Na anlise, para a coleta da amostra para cada ano utilizou-se a primei-ra ocorrncia vlida do stio de cada governo estadual. Para o ano de 2007, utilizou-se a verso do dia 1o de setembro de 2007 obtida diretamente pelo stio web de cada estado, pois, at a data da realizao, as amostras do ano de 2007 no estavam disponveis por meio do way back machine.

    Para obter avaliaes mais precisas, alm da avaliao da pgina princi-pal de cada stio, tambm foram avaliadas todas as pginas que se encontra-vam no nvel de hierarquia imediatamente abaixo da pgina principal. Logo, um total de 1.232 pginas foram avaliadas, correspondendo a uma mdia de 45,63 pginas por stio. A ferramenta HTTrack (HTTrack, 2008) foi utilizada para efetuar a varredura dos links nas pginas e para fazer cpia de todos os arquivos das pginas a serem avaliadas. Essa etapa levou aproximadamente 10 horas para completar o processamento.

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    Normalmente, na maioria das avaliaes de acessibilidade de stios web encontradas na literatura, utiliza-se a classificao por nveis A, AA ou AAA, do WCAG (W3C, 1999a). Nessa classificao, temos que:

    t o nvel A indica que todos os pontos de verificao de prioridade 1 (signi-ficando prioridade mais importante, cujos pontos devem ser observados) foram atendidos;

    t no nvel AA, todos os pontos de prioridade 1 e 2 foram atendidos;

    t no nvel AAA, todos os pontos de prioridade 1, 2 e 3 foram atendidos na avaliao.

    Contudo, verifica-se que tal avaliao no fornece um ferramental ade-quado para fazer comparaes mais apuradas dos nveis de acessibilidade. Por exemplo, existem diversos stios que no atendem sequer ao nvel A, e tam-bm existe bastante variao entre stios dentro de um mesmo nvel.

    Dessa forma, neste artigo, props-se a utilizao de mtricas de acessi-bilidade, que calculam o nmero de problemas de acessibilidade em relao ao nmero de problemas em potencial. Por exemplo, se uma imagem pode re-presentar um problema de acessibilidade caso no tenha um texto alternativo (que pode prejudicar a utilizao por uma pessoa com deficincia visual), ela representa um problema em potencial.

    Alm do clculo da razo entre problemas de acessibilidade em relao ao nmero de problemas em potencial, tambm so utilizados pesos para di-ferenciar problemas com diferentes nveis de prioridade.

    A expresso utilizada para calcular as medidas de acessibilidade foi a da mtrica WAB (web accessibility barrier, Parmanto e Zenj, 2005). A seguir, ilustrado o clculo da mtrica, onde NP o nmero total de pginas do stio; Bbp o nmero de barreiras do tipo b encontradas em uma pgina p; Pbp o nmero de barreiras em potencial do tipo b encontradas em uma pgina p; e Wb o peso associado a cada tipo de barreira, de acordo com o inverso do n-vel de prioridade de cada barreira definido pelo WCAG (W3C, 1999a). Assim, pontos com nveis de prioridade 1 tm peso 1, com prioridade 2 tm peso 1/2 e com prioridade 3 tm peso 1/3.

    WABstio = SNP S possvel barreira b WCAG 1.0 Bbp

    (Wb)p=1 ( ) pbp NP

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    Para efetuar a avaliao do grande nmero de pginas coletadas foram utilizadas ferramentas automticas. Vale observar que tais ferramentas no so capazes de avaliar todas as diretrizes e pontos de verificao de acessi-bilidade, uma vez que muitos deles s podem ser identificados a partir de uma avaliao efetuada manualmente. Contudo, os pontos avaliados por fer-ramentas automticas podem fornecer importantes indicativos dos problemas de acessibilidade.

    No quadro so apresentados os pontos de verificao do WCAG (W3C, 1999a) que foram possveis de ser utilizados nas avaliaes automticas. Os pontos de verificao (PV) esto dispostos da maneira que se apresentam nas diretrizes (D). Tambm so identificados os nveis de prioridade de cada um deles.

    Pontos de verificao de acessibilidade do WCAG, avaliados automaticamente

    Diretrizes (D) e pontos de verificao (PV) Prioridade

    d 1: prover alternativas equivalentes para contedo audiovisual.

    pv 1.1: fornecer um equivalente textual a cada elemento no-textual. 1

    pv 1.5: fornecer links textuais redundantes para cada regio ativa dos mapas de imagem no cliente.

    3

    d 3: utilizar linguagem de marcao e folhas de estilo e faz-lo de maneira apropriada.

    pv 3.2: criar documentos passveis de validao por gramticas formais, publicadas. 2

    pv 3.3: utilizar folhas de estilo para controlar a paginao (disposio em pgina) e a apresentao.

    2

    pv 3.4: utilizar unidades relativas, e no absolutas, nos valores dos atributos da linguagem de marcao e nos valores das propriedades das folhas de estilo.

    2

    pv 3.5: utilizar elementos de cabealho indicativos da estrutura do documento, de acordo com as especificaes.

    2

    d 4: simplificar o uso de linguagem natural.

    pv 4.3: identificar o principal idioma utilizado nos documentos. 3

    d 5: criar tabelas, que tipos de tabela? passveis de transformao harmoniosa.

    pv 5.5: fornecer resumos das tabelas. 3

    d 6: garantir que pginas com novas tecnologias tenham transformao harmoniosa.

    pv 6.2: assegurar que os equivalentes de contedo dinmico sejam atualizados sempre que esse contedo mudar.

    1

    pv 6.3: assegurar que todas as pginas possam ser utilizadas mesmo que os programas interpretveis, os applets ou outros objetos programados tenham sido desativados ou no sejam suportados.

    1

    Continua

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    Diretrizes (D) e pontos de verificao (PV) Prioridade

    pv 6.5: assegurar que todas as pginas possam ser utilizadas mesmo que os programas interpretveis, os applets ou outros objetos programados tenham sido desativados ou no sejam suportados.

    2

    d 7: garantir o controle do usurio sobre mudanas de contedo temporizadas.

    pv 7.4: no criar pginas de atualizao automtica peridica, at que os agentes do usurio possibilitem parar essa atualizao.

    2

    pv 7.5: no utilizar marcaes para redirecionar as pginas automaticamente, at que os agentes do usurio possibilitem parar o redirecionamento automtico.

    2

    d 9: projetar pensando na independncia de dispositivos.

    pv 9.5: fornecer atalhos por teclado que apontem para links importantes. 3

    d 10: utilizar solues de transio.

    pv 10.2: assegurar o posicionamento correto de todos os controles de formulrios que tenham rtulos implicitamente associados.

    2

    pv 10.4: incluir caracteres predefinidos de preenchimento nas caixas de edio e nas reas de texto, at que os agentes do usurio tratem corretamente os controles vazios.

    3

    pv 10.5: inserir, entre links adjacentes, caracteres que no funcionem como link e sejam passveis de impresso (com um espao de incio e outro de fim).

    3

    d 11: utilize tecnologias e diretrizes do w3C.

    pv 11.1: utilizar tecnologias do w3C sempre disponveis e adequadas a uma determinada tarefa; utilizar as verses mais recentes, desde que suportadas.

    2

    pv 11.2: evitar funcionalidades desatualizadas de tecnologias do w3C. 2

    d 12: fornecer informaes de orientao e de contexto.

    pv 12.1: dar, a cada frame, um ttulo que facilite a identificao dos frames e sua navegao.

    1

    pv 12.2: descrever a finalidade dos frames e o modo como se relacionam entre si, se isso no for bvio a partir unicamente dos ttulos.

    2

    pv 12.3: dividir grandes blocos de informao em grupos mais fceis de gerenciar, sempre que for o caso.

    2

    pv 12.4: associar explicitamente os rtulos aos respectivos controles. 2

    Utilizando a frmula WAB, o valor mximo de ndice de barreiras de acessibilidade que poderia ser atingido de 12,5. Deve-se ressaltar que um ndice de barreiras baixo no indica necessariamente que os stios estejam completamente acessveis, mas que no apresentam grande nmero de pro-blemas em relao aos pontos de verificao que podem ser verificados auto-maticamente.

    Para automatizar o clculo das mtricas, foram analisadas diferentes ferramentas de avaliao de acessibilidade disponveis. A ferramenta escolhi-

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    da foi a Hera (Benavdez et al., 2006), por ser uma ferramenta de cdigo aber-to e de fcil manipulao, e por ser bastante popular entre pessoas envolvidas com desenvolvimento para web. As ferramentas brasileiras disponveis no so de cdigo aberto, e por isso o trabalho para adaptao para automatizao dos clculos seria bastante complicado.

    Na figura 1 ilustrada uma tela com o resultado de uma avaliao de acessibilidade efetuada pela ferramenta Hera. Na figura pode-se notar que, por exemplo, na pgina sob avaliao, os pontos de verificao 3.2 e 3.5, que possuem prioridade 2, foram infringidos.

    F i g u r a 1Exemplo de resultado parcial de avaliao de acessibilidade

    com a ferramenta Hera

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    rap rio de Janeiro 43(2):395-414, Mar./aBr. 2009

    Dessa forma, com o uso dos crawlers para recuperao e amostragem das pginas e com a ferramenta Hera, foram efetuadas as avaliaes utili-zadas para conduzir as anlises da acessibilidade dos stios dos governos estaduais.

    Na prxima seo so apresentados os principais resultados e as anli-ses estatsticas das mtricas obtidas por meio da metodologia descrita.

    4. Resultados das avaliaes

    A partir do processamento das avaliaes de acessibilidade efetuadas por meio da ferramenta Hera, foi efetuada uma anlise estatstica dos dados obtidos, por meio da observao do comportamento das mtricas de acessi-bilidade e da realizao de inferncias com o objetivo de verificar se houve evoluo da acessibilidade, principalmente no perodo entre 2004 e 2006, em que os stios deveriam ter sido adaptados, de acordo com a legislao brasileira.

    No grfico da figura 2 possvel observar a evoluo no nmero de esta-dos com stios web em cada ano. Verifica-se que, em 1996, apenas um estado (Cear) possua um stio web arquivado no internet web archive. Em 1999, 12 estados j tinham stio na web, enquanto em 2000 havia 21 estados com stios na web. Dessa forma, verifica-se que nesse perodo ocorreu o maior crescimen-to de implantao de stios web dos governos estaduais no Brasil. A partir de 2003, todos os estados brasileiros j possuam stios web.

    A seguir so apresentados os grficos com a evoluo dos ndices de barreiras de acessibilidade dos stios dos governos estaduais no decorrer dos anos. Vale notar que os nmeros altos correspondem a stios com ndi-ces mais altos de barreiras. importante ressaltar que um ndice baixo de barreiras com essa avaliao no indica necessariamente que o stio no tenha problemas de acessibilidade, uma vez que s foi utilizado o mtodo de avaliao automtica, que no garante cobertura total dos problemas de acessibilidade.

    Nos grficos da figura 3, com as sries histricas das avaliaes com a mtrica WAB, pode-se verificara evoluo dos ndices de barreiras dos stios dos governos estaduais agrupados por regies geogrficas.

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    408 andr piMenta Freire Mrio de Castro renata pontin de Mattos Fortes

    F i g u r a 2 Quantidade de unidades da Federao (UFs) com

    stios web arquivados, de acordo com o ano

    Em geral, pode-se observar que nos anos correspondentes a trocas de governos ocorrem mudanas mais perceptveis em alguns estados, geral-mente advindas de processos de reestruturao estabelecidos pelas novas equipes de governo. Observa-se tambm que os ndices so considerados relativamente altos.

    Na regio Norte, verifica-se que em geral h poucas variaes bruscas dos ndices de barreiras de acessibilidade. Nos anos mais recentes (entre 2006 e 2007), observa-se que somente um estado (Rondnia) teve uma diminuio mais substancial do ndice de barreiras de acordo com os critrios examinados pela ferramenta automtica.

    No caso da regio Centro-oeste, observa-se uma tendncia de dimi-nuio nos ndices de barreiras, que s foi mais substancial em um estado (Mato Grosso).

    Na regio Nordeste, que congrega o maior nmero de estados, observa-se que alguns estados tiveram diminuio no ndice de barreiras de seus stios, enquanto outros tiveram at aumento nos perodos mais recentes. S se nota uma diminuio mais expressiva no stio do governo do Cear, em 2007.

    25

    20

    15

    10

    5

    0

    Ano

    1996

    1997

    1998

    1999

    2000

    2001

    2002

    2003

    2004

    2005

    2006

    2007

    Nm

    ero

    de U

    Fs

    1

    3

    8

    12

    21 21

    23

    27 27 27 27 27

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    rap rio de Janeiro 43(2):395-414, Mar./aBr. 2009

    Na regio Sudeste, verifica-se que nos anos mais recentes houve poucas mudanas nos ndices, com exceo do estado de So Paulo, que teve uma diminuio mais substancial. Na regio Sul, os ndices tambm no tiveram grandes variaes, com exceo do estado de Santa Catarina, que teve um aumento do ndice de barreiras mais expressivo entre 2006 e 2007.

    A partir dessa anlise, pode-se ressaltar que o problema da acessibilida-de nos stios web dos governos estaduais ocorre em todas as regies do pas.

    F i g u r a 3Sries histricas da mtrica WAB dos stios web dos governos

    estaduais brasileiros

    5

    4

    3

    2

    1

    0

    ano

    1996

    1997

    1998

    1999

    2000

    2001

    2002

    2003

    2004

    2005

    2006

    2007

    Nortew

    aB

    5

    4

    3

    2

    1

    0

    ano

    1996

    1997

    1998

    1999

    2000

    2001

    2002

    2003

    2004

    2005

    2006

    2007

    Centro-Oeste

    waB

    5

    4

    3

    2

    1

    0

    ano

    1996

    1997

    1998

    1999

    2000

    2001

    2002

    2003

    2004

    2005

    2006

    2007

    Nordeste

    waB

    5

    4

    3

    2

    1

    0

    ano

    1996

    1997

    1998

    1999

    2000

    2001

    2002

    2003

    2004

    2005

    2006

    2007

    Sudeste

    waB

    5

    4

    3

    2

    1

    0

    ano

    1996

    1997

    1998

    1999

    2000

    2001

    2002

    2003

    2004

    2005

    2006

    2007

    Sul

    waB

    ro

    Mt

    sp

    Ce

    sC

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    410 andr piMenta Freire Mrio de Castro renata pontin de Mattos Fortes

    Tambm interessante observar que os stios anteriores a 2000 em geral ti-nham ndices de barreiras de acessibilidade menores. Uma possvel explicao para o aumento no ndice nos anos seguintes o uso de novas tecnologias para interao sem o devido cuidado com a adequao para a acessibilidade.

    Alm das anlises efetuadas por meio das sries histricas, foi efetuada anlise estatstica sobre os dados de acessibilidade dos stios nos anos 2004 e 2006, perodo que compreende as verses imediatamente anteriores pro-mulgao do Decreto-Lei no 5.296/2004 e imediatamente aps o prazo para adequao das pginas. Na figura 4 exibido o grfico de disperso com a relao entre os ndices de barreiras WAB dos stios dos governos estaduais nos anos de 2004 (eixo das abscissas) e 2006 (eixo das ordenadas). Assim, os estados representados na parte inferior correspondem aos que tinham, em 2004, um ndice de barreiras de acessibilidade maior do que em 2006. J os estados representados na parte superior correspondem aos estados que ti-nham em 2006 um ndice de barreiras de acessibilidade maior do que o ndice de barreiras em 2004.

    F i g u r a 4Grfico de disperso da mtrica WAB entre os anos de 2004 e 2006

    5

    4

    3

    2

    1

    WAB ano: 2004

    1 2 3 4 5

    WAB

    a

    no: 2

    006

  • 411aCessiBilidade dos stios weB dos governos estaduais Brasileiros

    rap rio de Janeiro 43(2):395-414, Mar./aBr. 2009

    Pode-se observar no grfico da figura 4 que grande parte dos estados no sofreu mudanas mais expressivas no ndice de barreiras de acessibili-dade. Muitos estados tiveram at mesmo aumento no ndice de barreiras, ao invs de diminuio.

    Alm da anlise por meio do grfico de disperso, tambm foram efe-tuados testes estatsticos (teste t de Student para dados pareados e teste de Wilcoxon) para verificar se h indcios de mudanas significativas nos ndices de barreiras.

    F i g u r a 5Grfico de disperso da mtrica WAB entre os anos de 2004 e 2007

    5

    4

    3

    2

    1

    0

    WAB ano: 20040 1 2 3 4 5

    WAB

    a

    no: 2

    007

    No teste t obteve-se um nvel descritivo p = 0,3842, e no teste de Wil-coxon obteve-se p = 0,6790. Com esses valores, ambos os testes indicam que, com nvel de significncia de 5%, as mudanas nos valores dos ndices de barreiras no foram significativas.

    A partir desses resultados, somos levados a concluir que a promulgao do Decreto-Lei no 5.296/2004 no causou o efeito desejado, de diminuio dos ndices de barreiras de acessibilidade nos stios dos governos estaduais no Brasil dentro do prazo indicado.

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    412 andr piMenta Freire Mrio de Castro renata pontin de Mattos Fortes

    Contudo, com a anlise entre a diferena das mdias da mtrica entre os anos de 2004 e 2007, pode-se notar que existem indcios de mudanas nos n-dices de acessibilidade, com nvel descritivo p = 0,0004 no teste t de Student para dados pareados e p = 0,0002 no teste de Wilcoxon.

    Na figura 5, possvel observar que um nmero maior de estados en-contra-se abaixo da linha de identidade no grfico. Isso significa que houve um nmero maior de estados com diminuio no ndice de barreiras em suas pginas entre 2004 e 2007.

    5. Concluses

    A utilizao da web tem se tornado cada vez mais frequente para a disponibili-zao de informaes de rgos pblicos para os cidados no Brasil e em todo o mundo. Garantir que essas informaes possam ser acessveis a todas as pes-soas, independentemente de deficincias, determinante para que a democra-tizao do acesso ao governo seja efetiva tambm nos meios eletrnicos.

    No Brasil, verifica-se que o atendimento aos critrios de acessibilidade em stios dos rgos pblicos ainda no satisfatrio no perodo estipulado pelo Decreto-Lei no 5.296, que determinava que todos os stios governamen-tais deveriam ser adaptados de acordo com critrios de acessibilidade at de-zembro de 2005.

    Neste artigo foi efetuada uma anlise da acessibilidade dos stios dos governos estaduais das 27 unidades da Federao do Brasil, por meio de ava-liao automtica com clculo de mtricas quantitativas. Foram avaliadas amostras de pginas recuperadas de arquivos na internet no perodo entre 1996 e 2007.

    A partir das anlises de grficos e de testes estatsticos, confirmou-se a hiptese de que no houve mudana significativa na acessibilidade dos stios dos governos estaduais dentro do perodo estipulado, apesar das determina-es da legislao. Os indicativos de mudanas e de diminuio dos ndices de barreiras s foram identificados nas amostras de 2007.

    Embora a maioria desses stios na web apresente a tendncia de reduo no nmero de barreiras (figuras 4 e 5), um acompanhamento com frequncia regular, amplo (incluindo avaliaes por amostragem, com usurios reais) e que fosse divulgado publicamente possibilitaria melhor aproveitamento dos recursos da tecnologia de informao para a populao brasileira.

    Os graves problemas de acessibilidade que existem nos stios governa-mentais criados para disponibilizar informaes para todos os cidados indi-

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    rap rio de Janeiro 43(2):395-414, Mar./aBr. 2009

    cam que ainda necessrio propor polticas pblicas mais efetivas para garan-tir o acesso universal do cidado brasileiro ao contedo na web.

    Como trabalhos futuros, pretendemos efetuar anlises mais detalhadas utilizando as diretrizes do e-MAG e abrangendo outros rgos do governo.

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