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A VIOLÊNCIA SIMBÓLICA NAS RELAÇÕES DE PAIS E SEUS
FILHOS HOMOSSEXUAIS: PROPOSTAS PARA UM NOVO
OLHAR SOBRE AS SEXUALIDADES
AMORA, Kauan1
RESUMO
O seguinte artigo pretende se debruçar a investigar de forma breve e panorâmicao exercício da violência simbólica, conceito do sociólogo Pierre Bourdieu, nas relaçõesde pais quando descobrem a homossexualidade de seus filhos, para, então, defender assexualidades humanas como um conhecimento que não pertence ao domínio da razão eoferecer um novo olhar sobre as mesmas – através de uma ‘implosão das categoriassexuais’ – , um olhar transversal , dialogando sempre com o pensamento dos filósofosDeleuze e Guattari.
Palavras-chave: Violência simbólica; Sexualidades; Transversalidade.
1 Mestrando no Programa de Pós-Graduação em Artes ICA/UFPA. Contato: kauan_cineflo@hotmail.com
Fone: (091) 8337-6369.
mailto:kauan_cineflo@hotmail.commailto:kauan_cineflo@hotmail.commailto:kauan_cineflo@hotmail.commailto:kauan_cineflo@hotmail.com
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A violência simbólica nas relações entre pais e seus filhos homossexuais é como
uma espada que rasga a pele dos dois lados. Essa violência agride e, por vezes,
consequentemente, cala – em um silêncio imobilizador e cego – ambos os lados, tanto
daquele que sofre a violência – geralmente os filhos – quanto daquele que a produz, e
que por produzir a reitera.
Ao acreditar que a heterossexualidade – e só ela – é a sexualidade normal, por
ser socialmente aceita e, portanto, objetivo ao qual todos devem alcançar, cria-se uma
expectativa, uma idealização, seja do pensamento, do corpo ou da vida. Isto gera, às
vezes, uma irreversível sensação de fracasso ao não tê-la alcançado. Isso me leva a
acreditar que a idealização da heterossexualidade como sexualidade legítima é uma das
fontes da violência, do preconceito.
Nas relações de pais e seus filhos homossexuais, quando a “estrada de tijolos
amarelos” é desviada se inicia uma grande decepção e sensação de fracasso, às vezes, de
ambas as partes.
A violência simbólica é um conceito do sociólogo francês Pierre Bourdieu,
conceito muito difundido, porém pouco conhecido em sua complexidade. A violência
simbólica está presente nas relações de dominação e pressupõe todo tipo de violência
que não a física. Com a definição clara dos papéis de dominador e de dominado, neste
caso, o pai e o filho homossexual, respectivamente, a violência simbólica se origina a
partir do reconhecimento tácito da autoridade do dominador. Esta violência simbólica
está ligada a forças sociais e a dinâmica das normas do campo social em que estesindivíduos estão inseridos. No caso, as normas referidas são as aspirações do pai que
sonha com o fato de que seu filho possa seguir seu caminho de trivialidades, encontrar
uma mulher que ame, constituir uma família e que lhe dê netos posteriormente, porém
quando este sonho é destruído o pai, que se encontra em uma posição legitimada e de
dominação por representar a normalidade e ter autoridade por ser o provedor – na
maioria dos casos – da família, se vê obrigado a ajustar suas expectativas. No entanto,
durante este processo a violência simbólica – e em grande parte dos casos, a físicatambém – se tornará presença constante.
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Segundo Bicalho e Diniz (2009, p. 4), Rosa caracteriza a violência simbólica
como:
A violência simbólica representa uma forma de violência invisível quese impõe numa relação do tipo subjugação-submissão, cujoreconhecimento e a cumplicidade fazem dela uma violência silenciosaque se manifesta sutilmente nas relações sociais e resulta de umadominação cuja inscrição é produzida num estado dóxico das coisas,em que a realidade e algumas de suas nuanças são vividas comonaturais e evidentes. Por depender da cumplicidade de quem a sofre,sugere-se que o dominado conspira e confere uma traição a si mesmo.(2007, p. 40).
Para compreendermos a totalidade do conceito de violência simbólica cabe
conhecer a forma como o conceito de violência é investigado no âmbito das pesquisas
acadêmicas. Comumente o conceito de violência é abordado sob a égide da
criminalidade e do assédio moral, sempre se restringindo aos atos físicos que exigem o
gasto de energia, tais atos são “associados à violência propriamente dita, como roubo,
violência sexual, danos físicos, crimes, dentre outros” (WESTIN, 2008, p. 8 apud
BICALHO; DINIZ; 2009, p. 2). Para além destas fronteiras, poucos são os estudos
acadêmicos que versam sobre as manifestações invisíveis da violência, a chamada
violência simbólica.
Antes de me aprofundar no conceito de violência simbólica, é necessário me
arriscar aos domínios do poder simbólico. Este, por sua vez, é um poder que exige
relações de força onde são determinados os papéis de dominador e de dominado, este se
torna um poder real porque é legitimado por ambas as partes à sua lógica discursiva.
Ademais, o poder simbólico é exercido, unicamente, com acooperação e conivência daqueles sujeitos que lhe são subordinados,uma vez que eles o constroem como um poder real, aderindo à lógicadiscursiva que impulsiona a integração moral e que,consequentemente, possibilita a construção e reprodução do consensoacerca da ordem social instituída (BICALHO; DINIZ; 2009, p. 3).
Bourdieu nos oferece uma descrição sintética sobre o poder simbólico:
O poder simbólico como poder de construir o dado pela enunciação,de fazer ver e fazer crer, de confirmar ou de transformar a visão domundo e, desse modo, a ação sobre o mundo, portanto o mundo, poder
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quase mágico que permite obter o equivalente daquilo que é obtido pela força (física ou econômica) graças ao efeito específico demobilização, só se exerce se for reconhecido, quer dizer, ignoradocomo arbitrário. Isto significa que o poder simbólico não reside nos«sistemas simbólicos» em forma de uma «illocutionary force» masque se define numa relação determinada – e por meio desta – entre osque exercem o poder e os que lhe estão sujeitos, quer dizer, isto é, na própria estrutura do campo em que se produz e se reproduz a crença.O que faz o poder das palavras e das palavras de ordem, poder demanter a ordem ou de a subverter, é a crença na legitimidade das palavras e daquele que as pronuncia, crença cuja produção não é da
competência das palavras (BOURDIEU, 2007, pp. 14-15).
No seu artigo Violência Simbólica: uma Leitura a partir da Teoria Crítica
Frankfurtiana (2009), Bicalho e Diniz discutem sobre as variações do conceito de
violência e suas possíveis leituras – leitura arendtiana, frankfurtiana e bourdieusiana –
com o objetivo de discutir o conceito de violência simbólica proposto por Bourdieu e
reformulá-lo sob a luz da Teoria Crítica Frankfurtiana, com o trabalho de Theodor
Adorno.
As pesquisadoras defendem que estas três leituras da violência, leituras já
citadas acima, têm uma coisa em comum, a saber: a naturalização de aspectos sociais,
através da racionalização e da justificação das manifestações de violências.
Subjaz a essas três distintas leituras atinentes à violência – arendtiana,a frankfurtiana e a bourdieusiana – a sua naturalização, que se refere aum processo sócio histórico de racionalização e justificação daocorrência de violências, bem como à decorrente passivizaçãoindividual e coletiva (BICALHO; DINIZ; 2009, p. 3).
A naturalização da violência não é um objetivo, mas é um processo, e este é
longo e complexo. Certos aspectos da sociedade são considerados inquestionáveis,
sejam eles de natureza religiosa, política, sexual ou até mesmo assuntos familiares, isto
gera uma incapacidade de enxerga-los como aspectos construídos social, cultural e
discursivamente, exigindo uma naturalização dos mesmos. Esta naturalização vai criar e
legitimar o exercício do poder simbólico.
As formas e significações que o sujeito dá à sua realidade nem sempreconcordam com a verdade. Muitas vezes, certos aspectos do mundosocial são considerados inquestionáveis, como se sua existência fosse
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natural e, não, uma construção sócio histórica. Construindo elegitimando esta leitura distorcida e conivente com o instituído,encontramos o exercício do poder simbólico (BICALHO, DINIZ;2009, p. 3).
Tendo refletido sobre as concepções bourdieusianas de poder e violência
simbólica sinto que posso contextualizá-las para o objeto desta pesquisa: as relações de
pais e seus filhos homossexuais, a fim de, finalmente, propor um novo olhar sobre as
sexualidades.Quando discuto sobre esta relação, pai e filho, estou me filiando a concepção
clássica e tradicional de família, da família patriarcal, de classe média e até cristã – não
concordando com este modelo de família, mas reconhecendo que este modelo como
hegemônico e como o que vigora no seio da instituição familiar no país.
Esta família que tem no pai a figura de provedor do seu sustento, este que
fornece todos os subsídios para o esteio familiar, e que, portanto, tem seu papel de
dominador legitimado para tomar grandes decisões, na maioria das vezes o pai exerce
papel dominante muito mais do que a mãe, já que esta se empenha a exercer apenas suas
tarefas domésticas, maternas e de esposa. Deste modo, o filho se revela o outro extremo
nesta relação de força. O pai – aqui me refiro somente ao pai por uma escolha
metodológica, já que é na relação pai e filho homem que delimito meu objeto – é o
dominador e o filho, o dominado.
O que não pretendo, de maneira alguma, é a partir desta definição de papéis
oferecer uma interpretação moral-cristã identificando o pai como dominador e, portanto,
mal, ao passo que o filho por ser o dominado se torna a vítima, portanto, bom. Esta
interpretação seria apressada e limitada.
Para além desta dicotomia bom/mal a manifestação da violência simbólica nas
relações de pais e seus filhos homossexuais é muito mais complexa do que podemos
imaginar, afinal, ela tem em suas bases o desconhecimento de ambas as partes
provocado pela falta de questionamento sobre tal assunto, as sexualidades. Sobre isto
Bourdieu aponta:
Violência suave, insensível, invisível as suas próprias vítimas, que seexerce essencialmente pelas vias puramente simbólicas da
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comunicação e do conhecimento, ou, mais precisamente, dodesconhecimento, do reconhecimento ou, em última instância, dosentimento (BOURDIEU, 2003, p. 7-8 apud BICALHO; DINIZ;2009, p. 4).
Destarte, podemos concluir que existem diversos fatores que corroboram para a
manifestação de uma violência invisível e sutil nas relações de pais e seus filhos
homossexuais. São eles, como já vimos: a naturalização de aspectos sociais, naturalizá-
los os torna dados imutáveis gerando resignação compulsória – esta naturalizaçãoacontece porque é permitida por um longo processo de racionalização - o que torna o
individuo mais passivo perante tais discussões, afinal, se ele não pode mudar a situação
por qual motivo vai se contrapor a ela? Este individuo acaba encontrando motivos para
justificar tal violência. Além da capacidade de questionamento, nas relações de pais e
filhos, o que deve predominar é o diálogo, este sempre aliado a problematização de tais
questões, a fim de provocar uma relação aberta, horizontal e mútua.
Tendo refletido sobre a violência simbólica e os possíveis fatores que a produz
initerruptamente, sigo para a segunda parte deste artigo, a saber: a proposta de outro
olhar sobre as sexualidades.
A PROPOSTA DE UM OLHAR TRANSVERSAL SOBRE AS SEXUALIDADES
HUMANAS
Em sua tese de doutoramento que foi publicada com o nome de A história da
Loucura, Foucault se debruça a investigar a relação conflituosa entre razão e não-razão
na sociedade ocidental:
E é a partir dessa divisão entre a razão e a não-razão que Foucault busca fazer a história de um momento muito preciso de nossa cultura – quando a razão busca apoderar-se da não-razão para lhe arrancar suaverdade, isto é, para desdobrar, o que ela parece, entretanto, excluir, asmalhas de seu poder sob a tripla forma de discursos de saber, deinstituições e de práticas. (REVEL, 2005, p. 72).
“Existe, portanto, um momento em que a repartição fundadora entre a razão e a
não-razão toma a forma da racionalidade” (REVEL, 2005, p. 72). A racionalidade tal
como temos conhecimento hoje nasce no século XVII ocidental, ou seja, na Idade
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Clássica. A partir de então, ela ganha mais poder e autonomia a partir do momento em
que a cesura entre razão e não-razão se estabelece.
Foucault, desta forma, investigará como esta hegemonia da racionalidade vai
atuar na aplicação e reiteração do exercício do poder em diversos campos, como no
campo da ciência, do Estado e dos comportamentos.
Essa racionalização tem diferentes faces: uma racionalidade científicae técnica que se torna cada vez mais importante no desenvolvimentodas forças produtivas e no jogo das decisões políticas; umaracionalidade de Estado que impõe formas de governamentalidade e procedimentos de controle complexos; uma racionalidade docomportamento que fixa a medida social da norma e do desvio etc.(REVEL, 2005, p.72).
É neste sentido que acredito e defendo que enxergar as sexualidades unicamente
sob a perspectiva da racionalidade faz com que surjam mais hierarquias, violências e
segregações nas relações familiares, ou qualquer outro tipo de relação, quando se trata
de qualquer outra sexualidade que não seja a aceita, pois a racionalidade coloca osdiscursos para agirem dentro dos regimes de verdade em busca da sua legitimação. Por
isso, lanço mão neste texto de uma estratégia de abordagem que possa oferecer outro
olhar, um olhar transversal sobre as sexualidades.
Em minhas pesquisas acadêmicas, sempre opto por oferecer um olhar transversal
sobre as sexualidades. O princípio da cartografia, este que é um dos que compõem o
pensamento rizomático e que foi absorvido da geografia pela filosofia, se debruça em
mapear territórios, desenhar linhas sobre espaços, reconfigurando a realidade, o pensamento e o conhecimento. Oferecendo uma aparência supostamente caótica e sem
sentido, a cartografia possui diversas linhas de acesso e rupturas. Como um dos
princípios que compõem o rizoma, essa nova configuração contrapõe a organização
arborescente do pensamento – que necessita de um tronco de onde saem as ramificações
e para onde todas retornam – que implica em hierarquizações. No entanto, não podemos
afirmar que essa reconfiguração da vida, nesse caso, das sexualidades, se quer
horizontal e nem vertical.
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A transversalidade é uma dimensão que pretende superar os doisimpasses, quais sejam o de uma verticalidade pura e de uma simpleshorizontalidade; a transversalidade tende a se realizar quando ocorreuma comunicação máxima entre os diferentes níveis e, sobretudo, nosdiferentes sentidos. (GUATTARI, 2004 [1964], p.111 apud MATIAS,2008, p. 72).
Opero neste momento com o conceito de transversalidade, criado na década de
1960, por Guattari: “Transversalidade são os movimentos do rizoma, que seguem uma
forma aparentemente caótica, sem prioridades de circulação, como em um labirinto”(NUNES, 2012, p. 65).
A transversalidade, apropriada pela filosofia da matemática, pode ser
considerada uma pertinente estratégia de retorno a valorização da multiplicidade, da
pluralidade das subjetividades, aqui, em especial, das sexualidades. O conceito
guattariano já tem sido utilizado e aplicado por vários pesquisadores em diversas áreas
do conhecimento na tentativa de recuperar este olhar subjugado pela razão e pela
homogeneização do pensamento. Matias dialoga-o com a questão do currículo escolar:
É nesse sentido que o conceito de transversalidade de Félix Guattariamplia a discussão, evidenciando os movimentos transversais dorizoma, mobilidade que aponta para o reconhecimento da produção damultiplicidade, para a atenção à diferença e à diferenciação.Currículos transversais seriam, assim, currículos que não teriamsimplesmente o poder de diferenciar, de classificar, de organizar, deincluir e de excluir, mas levariam a micro revoluções na educação.Revoluções moleculares que permitiriam mobilidade, flexibilidade,abertura entre os saberes e trânsito por conhecimentos que sedesvinculam da tentativa de homogeneização, de modelo, de uno, parao reconhecimento do múltiplo e da diferença. Não se comprometendomais com a produção do igual, o currículo pode se envolver naconstrução de subjetividades plurais, a partir de múltiplos referenciais,em processos de heterogênese, de singularização que afirmam asdiferenças. (MATIAS, 2008, p. 63).
Sem separar as duas áreas do conhecimento - educação e sexualidade -, acredito
e defendo que um currículo transversal, tal como propõe Matias, poderia provocar
grandes mudanças significativas na educação, provocando assim outras mudanças em
cadeia, no sentido de que este currículo poderia abrir a visão de seus indivíduos e istofaria com que estes fossem capazes de enxergar para além da superficialidade da vida e
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das relações, compreendendo e enxergando as subjetividades plurais dos sujeitos,
aceitando todas as diferenças, sejam elas de caráter étnico, racial ou sexual e etc.
A transversalidade rizomática, por sua vez, aponta para oreconhecimento da pulverização, da multiplicação, para a atenção àsdiferenças e à diferenciação, construindo possíveis trânsitos pelamultiplicidade de saberes, sem procurar integrá-los artificialmente,mas estabelecendo policompreensões infinitas. (GALLO, 2003, p.96apud MATIAS, 2008, p. 73).
Nós compreendemos o mundo a partir de uma racionalidade cartesiana, tal
racionalidade defende que o conhecimento é dominado pela razão e tem bases exatas e
matemáticas. A racionalidade cartesiana se define basicamente em dividir o todo em
partes menores para que possamos categorizá-las e assim analisa-las do objeto mais
fácil até chegar ao mais difícil. É desta forma cartesiana que compreendemos as
sexualidades. Criamos rótulos – gay, heterossexual, bissexual - e guardamos corpos,
indivíduos e comportamentos em ‘gavetas’ onde podemos ter vigilância e controle
absolutos, é a partir desta organização que criamos hierarquias e, por conseguinte,
violências. O que quero dizer é que necessitamos de uma ‘implosão das categorias
sexuais’, para que possamos criar uma nova forma de organização das sexualidades,
esta forma é a transversal. Um olhar transversal – não horizontal e tampouco vertical –
nos permite criar e movimentar cartografias das várias formas de se viver as
sexualidades, estas cartografias, como mapas, possuem inúmeras linhas de acesso e
inúmeras linhas de fugas que não geram hierarquias e nem violências. Só assim
poderemos compreender que cada indivíduo é livre para viver sua sexualidade de forma
particular e singular. Desse modo, posso entender que alguém que sempre se relacionou
afetiva e sexualmente com pessoas do mesmo sexo pode, em um determinado momento
da vida, se relacionar com alguém do sexo oposto ou vice e versa. Lanço uma questão-
desafio: Imagine o mundo sem tais classificações, como gay, heterossexual e bissexual!
As categorias sexuais, elas podem nos auxiliar a entender de forma racional as
sexualidades, mas nos fazem pagar um grande preço, a violência, a exclusão, a
padronização. A entrada e saída constante de tais ‘gavetas’ confunde o organização
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lógica e racional, esta confusão gera medo e a primeira reação de um individuo em face
ao desconhecido é a violência, seja ela física ou simbólica.
Esta forma transversal de se enxergar as sexualidades humanas pode ser o
primeiro passo para uma tentativa genealógica de recuar no tempo com uma questão
presente e descobrir em que momento, por quem e com que objetivos tais categorias
sexuais foram criadas, para então, fazermos análises críticas acerca do valor dos valores
morais. Digo isto profundamente influenciado e inspirado pelo pensamento genealógico
de Nietzsche.
Entendo que esta proposta de mudança de organização do olhar sobre as
sexualidades não deve acontecer imediatamente, afinal, tais valores já estão tão
disseminados e cravados no nosso imaginário que o mais simples e singelo toque pode
gerar um refluxo catastrófico, mas é uma forma processual e cotidiana de se propor um
novo olhar, não só para pais e filhos, mas para a sociedade como um todo.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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GUATTARI, Félix. A transversalidade (1964). In: Psicanálise e transversalidade:ensaios de análise institucional. Aparecida /S.P: Ideias & Letras, 2004;
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MATIAS, Virgínia Coeli Bueno de Queiroz . A transversalidade e a construção de
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NUNES, Kauan Amora. Os trânsitos do Armário: Um estudo cartográfico de um
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REVEL, Judith. Michel Foucault: conceitos essenciais. Tradução Maria do Rosário
Gregolin, Nilton Milanez, Carlo Piovesani. São Carlos : Claraluz, 2005.
WESTIN, Vera Lígia Costa; CANASSA, Marly; LEITE, Maria Ruth Siffert DinizTeixeira; DUARTE, Vanda Catarina. Escola, Violência e Estratégias deEnfrentamento: o Projeto Escola Viva Comunidade Ativa em Belo Horizonte. In:ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PÓS-GRADUAÇÃO EMADMINISTRAÇÃO, 32, 2008, Rio de Janeiro. Anais... Rio de Janeiro: ANPAD, 2008.
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