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A trajetória intelectual de J. R. R. Tolkien: o caso da contenda geracional por uma
reformulação dos contos de fadas no começo do século XX.
José Willem Carneiro Paiva*
Resumo
O seguinte artigo tem como objetivo analisar o conflito empreendido pelo escritor J. R. R.
Tolkien acerca de uma reformulação da concepção de conto de fadas. Para tanto, discute-se,
primeiramente, os conceitos centrais para o entendimento do contexto sócio-histórico no qual
o autor inseriu-se, quais sejam, o de intelectual, estruturas de sociabilidade, geração e campo.
A relação próxima com os professores das instituições de ensino pelas quais passou e,
concomitantemente, a sua efetiva participação em inúmeros grupos de leitura e debate, são
importantes fatores a serem considerados na análise dos posicionamentos intelectuais do
literato inglês. Adota-se, como fonte principal a ser examinada, o ensaio “Sobre Histórias de
Fadas”, no qual Tolkien disserta sobre o estatuto do conto de fadas moderno, o que ele é e,
principalmente, o que ele deveria ser. Conclui-se que o contexto histórico do campo literário
inglês do início do século XX e a posição em desvantagem que o escritor assume dentro desse
campo, são os principais elementos que o levam a realizar esta discussão.
Palavras-chave: J. R. R. Tolkien; conto de fadas; campo intelectual; História dos intelectuais.
1. Introdução
O estudo sistemático acerca dos intelectuais, a partir de um viés propriamente
historiográfico, vem ganhando considerável notoriedade nas produções acadêmicas a partir do
final do século XX - mais especificamente a partir da segunda metade da década de 70 -, e
vem se consolidando cada vez mais como um campo de pesquisa distinto e definido, com
perspectivas teóricas e metodológicas próprias de sua seara. Alguns fatores são
preponderantes para a efetivação dessa supracitada guinada. Primeiramente, devido ao
contexto de forte divergência com o paradigma tradicional impulsionado pelos Annales, havia
uma tendência geral de associação da análise histórica dos intelectuais com a História
* Graduando em História pela Universidade Federal do Ceará – UFC. Bolsista do Programa de Educação Tutorial
(PET-História/MEC-Sesu). E-mail: willem.paiva@yahoo.com.br.
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Política. A suposta individualização do sujeito que é objeto de observação e,
concomitantemente, a concepção de que o grupo dos intelectuais faz parte de uma “elite”
social (ou que são, necessariamente, exemplos das “grandes personalidades” atribuídas como
principio importante da abordagem tradicional), são aspectos que levaram grande parte dos
historiadores a fazer a associação referida. Em seguida, constatamos ainda uma inconsistência
conceitual relativa à concepção de intelectual, e que os sujeitos aí inseridos eram considerados
como um grupo social impreciso, de difícil delimitação e de tamanho reduzido, o que os
afastava dos então crescentes estudos dedicados às massas. A reformulação desses
questionamentos e dessas discussões levou a uma posterior apropriação pelos historiadores do
grupo social em questão, principalmente devido à melhor delimitação conceitual, teórica e
metodológica associada às problemáticas enfrentadas (SIRINELLI, 1996).
A partir destas reflexões, intenta-se, com este texto, analisar historicamente alguns
aspectos da trajetória intelectual do literato e filólogo sul-africano, radicado na Inglaterra,
John Ronald Reuel Tolkien (1892-1973). Pretendemos analisa-lo a partir de reflexões que nos
ajudem a compreendê-lo como sujeito histórico e social, utilizando-se, para isso, de princípios
teóricos que viabilizam a percepção do escritor dentro de um horizonte de sociabilidades,
conflitos e contradições. Nesse aspecto, nos ajudarão na discussão o historiador francês Jean-
François Sirinelli e o sociólogo de mesma nacionalidade Pierre Bourdieu. No entanto, temos a
intenção de fazer um recorte específico de análise, a saber, a discussão (ou polêmica) que
Tolkien empreendeu acerca da concepção literária de conto de fadas, em conflito,
principalmente, com uma tradição que remonta ao contexto dos séculos XVIII e XIX. Aqui,
traremos para o debate o historiador americano Robert Darnton, a professora de literatura
portuguesa e literatura infantil da Universidade de São Paulo Nelly Novaes Coelho e a
pesquisadora em estudos de literatura inglesa Silvia Raposeira.
A título de apresentação rápida, como uma introdução mínima a vida de J.R.R.
Tolkien, traremos, para tanto, alguns aspectos biográficos1. O escritor nasce em 1892 em
Bloemfontein, no Estado Livre de Orange, hoje pertencente à África do Sul. Pela via materna
(o nome de sua mãe era Mabel Suffield), era descendente de uma família decadente de
comerciantes oriunda da região de West Midlands, na Inglaterra. Pela via do pai (Arthur
Tolkien), era membro de uma família que, por volta ainda do século XVIII, chegou à
Inglaterra vinda da Saxônia, na atual Alemanha. Eram, em geral, artesãos especializados na
feitura de pianos, porém, viam-se também, na época do nascimento de Tolkien, em situação
1 Para os apontamentos de cunho biográfico, durante toda a escritura deste texto, foi utilizado a obra Tolkien:
A Biography, de Humphrey Carpenter, publicada em 2000 pela editora Houghton Mifflin.
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financeira não muito favorável. Aos três anos, Tolkien muda-se para Birmingham, na
Inglaterra, logo após a morte do pai, e lá se estabelece até meados dos anos 10. Estudou,
durante os estudos secundários, na tradicional escola King Edward’s, onde teve seus
primeiros contatos com a língua e a literatura clássicas, como também com a literatura
oriunda de uma tradição medieval, mais especificamente a inglesa, nórdica e germânica.
Neste ambiente social (o escolar), Tolkien empreendia relações próximas com pessoas
provenientes de setores privilegiados da sociedade, apesar de ele mesmo fazer parte de
famílias de instrução elevada, porém, naquele momento, desprovidas materialmente. Na
posterior juventude, apesar de ter conseguido a aprovação somente na segunda tentativa,
estudou língua e literatura inglesas na Exeter College, da Universidade de Oxford. Após o
retorno da Primeira Guerra Mundial, Tolkien torna-se professor da Universidade de Leeds em
1920, onde leciona por dois anos. Logo em seguida, consegue a cátedra Rawlinson and
Bosworth como professor de Anlgo-Saxão da Universidade de Oxford, e, desta vez,
permanece aí até o final de sua carreira acadêmica. Durante toda a sua trajetória de estudos,
Tolkien sempre manteve relações sociais parecidas, a saber, com intelectuais (professores e
amigos de classe) que o acompanhavam nas instituições pelas quais passou. Essas relações
sociais sempre eram materializadas em formações de grupos de debate e parcerias que,
frequentemente, resultavam em trabalhos acadêmicos ou literários. Tolkien é mundialmente
conhecido por ser autor de obras de fantasia, tais como O senhor dos anéis e O hobbit, estas
traduzidas para um grande número de línguas e vendendo milhões de cópias em diversos
países. Em 1972, apenas um ano antes de sua morte, Tolkien recebe da rainha Elizabeth II o
título de Commander of the Order of the British Empire (Comandante da Ordem do Império
Britânico), por serviços prestados à literatura inglesa.
Como anteriormente mencionado, intentaremos, neste texto, desenvolver uma análise
inicial acerca do conflito existente entre Tolkien e um costume (ou uma tradição), que em
suas críticas parece estar relacionado fundamentalmente aos séculos XVIII e XIX. A fonte
principal que utilizaremos para efetivarmos os objetivos é o ensaio Sobre contos de fadas2,
escrito em 1938 e comunicado em forma de palestra na Universidade St. Andrews em 1939.
Analisaremos o texto e suas nuances, relacionando-o, continuamente, com o contexto
histórico e social do autor, buscando entender quais motivos levaram Tolkien a ficar
insatisfeito com aquilo que se entendia como conto de fadas, ou ainda, quais motivos o
levaram a propor uma concepção distinta daquela corrente.
2 TOLKIEN, John Ronald Reuel. Sobre histórias de fadas. 2ª Ed. São Paulo: Conrad Editora do Brasil, 2010.
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Algumas questões nos guiarão: o que é ser intelectual? E quanto a sê-lo na Inglaterra
nos inícios do século XX? Como Tolkien se posicionou no campo intelectual no qual esteve
inserido? Quais as relações básicas que empreendeu com seus pares? O que é conto de fadas?
Que tipo de conto de fadas Tolkien quis combater? Por fim, por quais motivos históricos e
sociais levou a cabo esta polemica? Buscaremos problematizar estes questionamentos no
decorrer deste escrito.
2. As relações de um intelectual com seu campo e seu tempo
A título de início de discussão, consideramos como apropriado e de necessidade
primeira a conceituação própria de intelectual. Podemos, desta forma, delimitar a concepção
em duas frentes. Como nos mostra Marleti,
“Em primeiro lugar, ele (o intelectual) designa uma categorial ou classe social
particular, que se distingue pela instrução e pela competência, científica, técnica ou
administrativa, superior à média, e que compreende aqueles que exercem atividades
ou profissões especializadas. [...] Ao lado desta primeira acepção do termo,
encontra-se muito frequentemente, [...] uma segunda acepção, [...] para a qual
Intelectuais são os escritores engajados”. (MARLETI, 1997).
Dito isto, podemos compreender que a primeira concepção é mais ampla, podendo englobar
sujeitos largamente distintos, de estudantes secundários a professores universitários, músicos,
pintores e literatos. Por outro lado, a segunda realiza uma delimitação mais precisa,
restringindo o termo a sujeitos que, de alguma forma, ganharam notoriedade e autoridade nas
discussões de caráter público. Em relativa consonância com Marletti está o historiador
especialista em História Política e História dos Intelectuais Jean-François Sirinelli, o qual
destaca, igualmente, duas formas de se pensar o conceito, onde “uma ampla e sociocultural,
englobando os criadores e os “mediadores” culturais, a outra mais estreita, baseada na noção
de engajamento”. (SIRINELLI, 1996). Em seguida a esta citação, em seu texto, o autor faz
uma observação interessante, afirmando que o historiador (dos intelectuais e do político) não
deve levar em consideração as duas concepções separadamente, mas, pelo contrário e sempre
que possível, situar o objeto no âmbito mais amplo e posteriormente “fechar a lente”, num
esforço de análise integradora que consiga abarcar mais responsavelmente aquilo que se
estuda.
Continuando ainda com Sirinelli, podemos agora avançar um pouco mais no debate.
Introduzida a discussão conceitual, devemos agora tratar sobre este sujeito dentro das
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instâncias sociais nas quais estava inserido. Para tanto, Sirinelli recorre ao que ele chama de
“estruturas elementares da sociabilidade”, que denotam polos de atração onde os intelectuais
constituem suas “redes” de interação (tais como as revistas, os concelhos editoriais, os clubes,
etc.). Segundo ele,
“O meio intelectual constitui, ao menos para seu núcleo central, um “pequeno
mundo estreito”, onde os laços se atam, por exemplo, em torno da redação de uma
revista ou do conselho editorial de uma editora. A linguagem comum homologou o
termo “redes” para definir tais estruturas”. (SIRINELLI, 1996).
É interessante, ainda, assinalar os âmbitos não objetivo ou concreto das relações entre os
sujeitos, que se configuram como afinidades afetivas e ideológicas, servindo como elos de
comunhão que mantem as redes ligadas e em funcionamento. Derivando disso, toma forma o
que Sirinelli chama de “microclimas”, ou seja, as redes, através das afinidades existentes em
seu interior, constituem uma atmosfera onde os sujeitos aí relacionados adotam uma espécie
de modus operandi semelhante. (SIRINELLI, 1996). Como exemplos bastante conhecidos
destas redes e microclimas, temos os grupos que conhecemos como os Annales e a New Left.
Os dois têm em comum o fato de suas estruturas de sociabilidade, ou seja, seus polos de
atração onde os pares convergem, serem revistas, a “Annales d'histoire économique et sociale”
e a “New Left Review” respectivamente. Nesses periódicos, os sujeitos estabelecem relações
de aproximação “afetiva e ideológica” (para usar as palavras de Sirinelli), nas quais, a partir
disso, se partilham concepções comuns e se atua no meio intelectual a partir de princípios, no
geral, invariantes. Porém, evidentemente, devido às circunstancias históricas que permeiam
cada contexto, as dissidências e desentendimentos entre os participantes destas congregações
se faz perfeitamente possível.
Uma outra questão interessante a se discutir é a das relações geracionais. Grande parte
das movimentações de ideias, dos motivos de inquietações de sujeitos no que tange a
discussões, entre eles, acerca das problemáticas de seu tempo, são oriundas de congruências
ou conflitos entre um indivíduo ou grupo e seus predecessores.
“É preciso contudo, ao que nos parece, ir adiante e levar em consideração os efeitos
da idade e os fenômenos de geração. E isto por duas razões, pelo menos. No meio
intelectual, os processos de transmissão cultural são essenciais; um intelectual se
define sempre por referência a uma herança, como legatário ou como filho pródigo:
quer haja um fenômeno de intermediação ou, ao contrário, ocorra uma ruptura e uma
tentação de fazer tábua rasa, o patrimônio dos mais velhos é portanto elemento de
referência explícita ou implícita”. (SIRINELLI, 1996).
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Continuando ainda a discussão teórica, traremos ao debate algumas concepções que
poderão nos ajudar quando intentamos pensar sobre as relações práticas dos indivíduos
atuantes dos setores sociais. Com isso, o conceito de campo definido por Pierre Bourdieu nos
auxilia bastante na resolução das questões gerais deste artigo. Por campo se entende um
espaço social delimitado e distinto onde sujeitos mantem relações objetivas que visam a
manutenção das estruturas do campo, ou a sua modificação. Os agentes de cada campo estão
dispostos internamente em posições, e é dessas posições que se constituem relações de força
para que se realizem, nesse espaços, as modificações ou manutenções que entendem como
necessárias. A efetivação ou não das intenções reivindicadas vai depender do estado de
distribuição de capital simbólico entre os indivíduos e as suas respectivas posições, ou seja,
dependerá do crédito, ou ainda, do reconhecimento socialmente conferido àqueles que
imprimem concepções que alcancem determinada aceitação pelos pares. (BOURDIEU, 2004).
Ainda sobre o conceito de campo, afirma Bourdieu:
“Minha hipótese consiste em supor que, entre esses dois polos, [...] existe um
universo intermediário que chamo o campo literário, artístico, jurídico ou científico,
isto é, o universo no qual estão inseridos os agentes e as instituições que produzem,
reproduzem ou difundem a arte, a literatura ou a ciência. Esse universo é um mundo
social como os outros, mas que obedece a leis sociais mais ou menos específicas”.
(BOURDIEU, 2004).
Assim, quando Bourdieu discute sobre a abordagem que geralmente se faz das biografias que
tratam da trajetória dos intelectuais ou artistas, afirma:
“[...] somente podem ser compreendidas inteiramente se forem recolocadas no
campo ideológico de que fazem parte e que exprime, de uma forma mais ou menos
transfigurada, a posição de uma categoria particular de escritores na estrutura do
campo intelectual, por sua vez incluído em um tipo específico de campo político,
cabendo uma posição determinada à fração intelectual e artística”. (BOURDIEU,
1992).
Expostas essas idéias, iremos iniciar, a partir de agora, uma análise sobre alguns
aspectos da trajetória da vida de J.R.R. Tolkien em relação direta com as discussões que
levamos a cabo até então. Pontos como (já discutidos a cima) as estruturas de sociabilidade,
os conflitos de gerações e a relação do escritor com os pares de seu campo, serão levados em
conta para que se possa ter em vista alguns condicionamentos que levarão Tolkien a efetivar a
polêmica (que será analisada mais adiante) acerca dos contos de fadas.
Dois fatores são de grande valia para entendermos como Tolkien estabeleceu suas
relações em termos de geração e inserção nas estruturas de sociabilidade, quais sejam, o
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contato com os professores e amigos nas instituições de ensino e a sua participação em clubes
de debate e leitura.
Comecemos então com a questão dos professores. Antes de tratarmos especificamente
dos mestres ligados as escolas e às universidades, temos que assinalar que Tolkien recebeu
instrução antes de começar seus estudos formais nas instituições de ensino. Sua mãe, Mabel
Suffield, lhe iniciou nos estudos de latim e francês quando ele ainda não tinha chegado aos
cinco anos de idade. (CARPENTER, 2000). No ano de 1900, consegue uma bolsa e inicia os
estudos na famosa escola de Birmingham, King Edward’s. Passados alguns anos, Tolkien
começa suas aulas de literatura inglesa com o professor George Brewerton, um especialista no
assunto e considerado um medievalista. Tolkien fora muito influenciado por ele,
principalmente pelo estímulo ao estudo da literatura em inglês médio e por que fora com ele
que Tolkien começou seus estudos acerca do inglês antigo (Anglo-Saxão). Durante sua
permanência em King Edward’s, angariou relações com alguns professores que lhe passaram
uma herança que, como atestado posteriormente, foram de extrema importância para a sua
configuração como sujeito participante de uma determinada posição do campo literário e
intelectual de sua época, tais como Robert C. Gilson, professor de estudos clássico em 1907
(estimulava bastante o estudo, principalmente, da tradição grega). Já na Universidade de
Oxford, instituição na qual iniciou os estudos em 1911, um professor em particular exerceu
atração especial em Tolkien, era Joseph Wright, um natural de Yorkshire (nordeste da
Inglaterra) que iniciou seus estudos em línguas em escolas noturnas quando ainda era
cardador de lã, e, posteriormente, foi para Heidelberg, na Alemanha, estudar filologia
comparada. Dedicara-se fortemente ao ensino de línguas, e, posteriormente, escreveu um
manual de língua gótica (que Tolkien apreciava bastante) e o English Dialect Dictionary
(dicionário de dialetos ingleses), publicado em seis volumes. Tolkien e Wright mantiveram
uma relação de mestre e pupilo, com o professor estimulando-o ao estudo, principalmente, de
línguas antigas. (CARPENTER, 2000).
Um outro fator de sociabilidade importante na vida de Tolkien, como já mencionado, é
a sua participação em clubes de debates e leituras. Existiram vários, porém nos atentaremos
em dois, a saber, o “T.C., B.S.” e “Os Inklings”, o primeiro oriundo da adolescência, e o
segundo da fase madura. Era muito comum e tradicional na escola King Edward's, a
administração da biblioteca ficar a cargo de alguns estudantes mais destacados. Tolkien, já
próximo a sua saída da escola, em 1911, participou de uma leva de alunos que se
responsabilizaram pela biblioteca durante algum tempo. Junto a Christopher Wiseman e a
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Robert Quilter Gilson (filho do diretor de King Edward's), que também faziam parte do grupo,
criaram o “Tea Club” (clube do chá), que posteriormente viria a se tornar o “Tea Club,
Barrovian Society” (ou “T.C., B.S.”), com reuniões quase todos os dias após o horário de
aula. (CARPENTER, 2000). Em comum os estudantes tinham o gosto pela cultura e literatura
clássicas, apesar de assumirem consideráveis diferenças. Dentro desta sociedade, Tolkien
trocava experiências estudantis que se revelaram muito importantes no desenrolar de sua
trajetória, principalmente no que concerne a afinidade com os outros membros e na sua
formação como intelectual. Alguns anos mais tarde, já no começo da década de 1930,
Tolkien, junto a outros escritores e professores da Universidade de Oxford, participa do grupo
“The Inklings”. Os componentes deste grupo partilhavam de algumas características
fundantes, quais sejam, estimarem o gênero literário da fantasia, serem, quase na totalidade,
cristãos, e, como já dito, provirem do professorado da Universidade. Compunham o quadro de
participantes dos Inklings intelectuais e escritores como Clives Staples Lewis (autor de As
Crônicas de Nárnia), Owen Barfield, Charles Williams e Roger Lancelyn Green.
Concluída a rápida discussão acerca das sociabilidades que permearam a vida de
Tolkien, pretendemos, a partir de então, situá-lo rapidamente dentro das perspectivas de
campo e de conflito geracional, as quais não podem deixar de serem entendias em conjunto. A
partir da discussão que Tolkien empreendeu sobre o conto de fadas, ele estabelecia,
concomitantemente, uma querela geracional e demonstrava uma insatisfação com as
concepções que estavam em voga em sua própria época. O campo, como já debatemos,
constitui-se como um espaço social regido por leis próprias, agregando sujeitos que mantém
relações de força para que suas concepções, de manutenção ou mudança, sejam efetivadas em
relação às próprias estruturas do campo (BOUDIEU, 2004). Neste sentido, Tolkien, inserido
no campo intelectual de sua época (mais especificamente no campo literário), procura
estabelecer alguns “responsáveis” pela “distorção” da concepção de conto de fadas, os quais
estão majoritariamente alocados nos séculos XVIII e XIX (querela geracional), e, em paralelo,
procura modificar um aspecto da estrutura do campo em que está inserido (relações objetivas
do campo intelectual). Sobre o caso desta polêmica desenvolvida por Tolkien, trataremos de
analisá-la a seguir.
3. J.R.R. Tolkien e o caso da contenda dos contos de fadas
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Tomaremos como ponto de partida e, de uma forma geral, como fonte principal acerca
desta temática, o ensaio “Sobre histórias de fadas” de J.R.R. Tolkien. Este texto foi
originalmente escrito entre os anos de 1938 e 39, quando o autor já estava às voltas com a
redação de O Senhor dos Anéis e quando já era, na verdade há algum tempo, professor em
Pembroke College na Universidade de Oxford. Foi redigido especialmente para uma
comunicação específica na Universidade de St. Andrews, na Escócia, e tinha como intuito
inicial comentar a obra do romancista e folclorista escocês Andrew Lang. Porém, o texto em
si discute questões bem mais amplas, abrindo espaços para conflitos que trazem à tona as
aspirações e objetivos de um escritor preocupado com o modo como se desenvolveu, ou como
foi tratada, uma questão específica do campo literário do qual faz parte, qual seja, o que é, e,
em seguida, o que deveria ser, segundo Tolkien, o conto de fadas.
Poderemos iniciar a análise trazendo para a discussão um trecho do texto de Tolkien,
dentro do qual podemos vislumbrar algo de sua concepção acerca dos contos populares e
como ele entendia as formas pelas quais estes contos eram apreendidos pelas pessoas de sua
época. Ao tratar do então aumento do volume de publicação de compilações de contos
fantásticos, e comentando em especial a compilação de Andrew Lang, Tolkien afirma:
“Não o analisarei, apesar de uma análise poder ser interessante, mas observo de
passagem que, das histórias deste Blue Fairy Book, nenhuma é primariamente sobre
“fadas”, e poucas se referem a elas. A maioria dos contos provém de fontes
francesas: na época foi de certo modo uma escolha justa, como talvez ainda seja (se
bem que não para meu gosto, o atual ou o de minha infância). Seja como for, a
influência de Charles Perrault tem sido tão forte – desde que seus Contes de ma
Mère l’Oye foram traduzidos pela primeira vez para o inglês, no século XVIII, e de
outros excertos do vasto repertório do Cabinet des Fées, que se tonaram famosos –
que, se pedíssemos para uma pessoas citar ao acaso um típico “conto de fadas”,
suponho que ela muito provavelmente ainda mencionaria uma daquelas coisas
francesas, como O Gato de Botas, Cinderela ou Chapeuzinho Vermelho. Algumas
pessoas poderão lembrar-se primeiro dos contos de Grimm”. (TOLKIEN, 2010).
No decorrer do ensaio, Tolkien enumera incontáveis observações acerca destas “coisas
francesas” e sua suposta influencia na mudança de concepção que se tinha sobre os contos de
fantasia. Um dos fatores analisados pelo literato é, segundo ele, a frequente confusão que se
fazia entre os contos de fadas e histórias de outros tipos, como os contos de viajante e as
fábulas de animais. De acordo com Tolkien, histórias como Os Contos de Gulliver (contos de
viajante), de Jonathan Swift, e Os Três Porquinhos (fábula de animais), rompem com um
princípio básico da “verdadeira” estrutura de um conto de fadas, qual seja, o de não poder
haver, dentro do próprio conto, nenhum fator que acuse uma possível irrealidade ou ilusão da
história contada. Nesse sentido, o autor tece uma crítica a famosa obra Alice no País das
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Maravilhas, de Lewis Carroll, que, como afirma, não são histórias de fada pelo motivo de
estarem recobertas “com sua moldura e com suas passagens de sonhos”, que atribuiria uma
inadmissível aura de irrealidade tácita ao enredo. Tolkien aponta como um possível motivo
gerador destas distorções e mudanças ocorridas, a entrada dos contos nos setores mais
favorecidos da sociedade, “Talvez seja natural que na Inglaterra, onde o amor pelo delicado e
fino frequentemente ressurgiu na arte, a fantasia se volte, nesta questão, para o gracioso e o
diminuto, assim como na França ela foi à corte e se cobriu de pó de arroz e diamantes”.
(TOLKIEN, 2010).
Sobre os caminhos que os contos populares trilharam no decorrer da Idade Moderna, é
interessante observarmos, em relação a essa entrada da tradição oral nos círculos mais
abastados das sociedades europeias, a importância do papel que folcloristas como Charles
Perrault e os irmãos Jacob e Wilhelm Grimm desempenharam nesta questão. Segundo o
historiador estadunidense Robert Darnton, até que as histórias de tradição francesa chegassem
ao século XIX, e mais especificamente aos irmãos Grimm na Alemanha, elas primeiro foram
coletadas e compiladas em um compêndio que é considerado a primeira sistematização da
literatura infantil moderna, a saber, Contos da minha mãe Gansa, de Perrault, escrita em
1697. O escritor parisiense exercia cargos administrativos na estrutura do reino da França e,
justamente por isso, por provir da elite daquela sociedade, e ao coletar os contos tradicionais,
precisou modifica-los com o objetivo de ajustá-los às demandas e especificidades dos grandes
salões de leitura da nobreza francesa dos finais dos seiscentos. Alguns leitores destes contos
reunidos e reelaborados por Perrault, em especial os huguenotes franceses que fugiam da
perseguição do rei Luíz XIV, levaram esta bagagem cultural peculiar para territórios
germânicos, onde fluíram e foram apropriados pela tradição oral até que chegassem aos
irmãos Grimm (DARNTON, 1986), e daí em diante tomar um rumo que seria muito exaustivo
e inapropriado discorrer, considerando os limites deste artigo.
É interessante inferirmos, dentro do debate que trazemos, que Tolkien, realmente, fez
uma interpretação que não se mostra infundada quanto às mudanças dos contos, no entanto, o
que seria mais interessante observar, seria o fato que Tolkien não rivaliza necessariamente
com a tradição oral e suas histórias, mas, por outro lado, seria com os intelectuais que se
apropriaram desta tradição que ele polemiza. Disto, entendemos que há uma animosidade
geracional (dentro da perspectiva, já debatida, que Sirinelli articula), onde Tolkien é
identificado como um sujeito que, em sua formação, entrou em contato com esse material
produzido pelos folcloristas e literatos de outras épocas, primeiro de forma amistosa, depois
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repulsando-o, e, por via das críticas que lhes faz, propõe algo novo a ser posto no lugar.
Perrault, irmãos Grimm, Lewis Carroll, Jonathan Swift e até mesmo William Shakespeare,
são postos no mesmo quadro (apesar de suas enormes diferenças) que Tolkien deseja fazer
retoques, adicionado mais “seriedade” e reduzindo o “pó de arroz” e “diamantes” que parece
não gostar.
A religiosidade, fator importante na vida de Tolkien (o escritor era cristão-católico),
parece também influir na intervenção que ele faz na problemática que estamos trabalhando.
Na parte final de Sobre História de Fadas, no epílogo, o literato empreende algumas
considerações sobre a relação entre religião e o ato de escrever, criar histórias, em específico
os contos de fadas.
“Mas na “eucatástrofe” enxergamos numa breve visão que a resposta pode ser maior
– pode ser um lampejo longínquo ou eco do evangelium no mundo real. [...] Os
Evangelhos contêm uma história de fadas, ou uma narrativa maior que engloba toda
a essência delas. Contêm muitas maravilhas [...] e entre as maravilhas está a maior e
mais completa eucatástrofe concebível. [...] A história e a Fantasia ainda
prosseguem, e devem prosseguir. O Evangelium não ab-rogou as lendas; ele as
consagrou, em especial o “final feliz”. [...] É tão grande a generosidade com que foi
tratado (o homem) que talvez agora possa, razoavelmente, ousar imaginar que na
Fantasia ele poderá de fato auxiliar o desfolhamento e múltiplo enriquecimento da
criação”. (TOLKIEN, 2010).3
Será que podemos concluir que essas considerações podem ter relação com alguns
fatores que estão presentes nos contos de fadas modernos? Quando a pesquisadora (de conto
de fadas e literatura infantil) Nelly Coelho analisa a trajetória e produção do novelista
dinamarquês Hans Christian Andersen (autor de Eventyr, obra de compilação de contos
populares e contos escritos pelo próprio escritor), ela chega a conclusão de que o folclorista
conseguiu agregar em sua obra tanto o espírito cristão, com suas noções de castidade,
bondade, resignação e obediência, a idéia do mundo como lugar de sofrimento, para que seja
transposto em direção ao paraíso, quanto os valores liberais-burgueses, com o seu
individualismo, a importância atribuída às coisas materiais e o pragmatismo que cerca a vida
das pessoas. (COELHO, 1991). Podemos expandir estas especificidades ao conjunto maior da
produção literária fantástica e infantil no contexto da modernidade? Se sim, pode-se
relacionar a isso o ímpeto de Tolkien em reafirmar os valores cristão dentro da concepção de
3 Tolkien entende eucatástrofe como a virada que acontece nas histórias, quando tudo está ruim e, em seguida,
há uma mudança, dando um final feliz à narração; é a virada jubilosa que gera a alegria de se ler no leitor. O literato considera a eucatástrofe como a “função mais elevada” do conto de fadas. (TOLKIEN, 2010).
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conto de fadas? Apesar desses contos conterem aspectos de cristianismo, a idéia que Tolkien
passa dentro de suas recomendações parecem ser distintas.
Em outro momento, Tolkien disserta sobre uma questão que nos parece estar
diretamente ligada a uma conjuntura do momento histórico em que vive. Ele entende que o
Escape, como uma qualidade inerente dos contos e que dá a oportunidade ao leitos de fugir
das coisas desagradáveis do cotidiano, é parte integrante da estrutura de qualquer história de
fadas. Vejamos o que ele diz sobre este assunto.
“Um exemplo superficial: não mencionar (na verdade, não ostentar) num conto
lâmpadas de rua elétricas, do tipo produzido em massa, é Escape (nesse sentido).
Mas isso pode provir, quase certamente provém, de uma estudada aversão a um
produto tão típico da Era Robótica, que combina elaboração e engenhosidade de
meios com feiura, e (muitas vezes) com resultado inferior. Essas lâmpadas podem
ter sido excluídas do conto simplesmente por serem lâmpadas ruins, e é possível que
uma das lições a ser aprendidas na narrativa seja a percepção desse fato. Mas aí vem
o porrete: “As lâmpadas elétricas vieram pra ficar”, dizem. Há muito tempo
Chesterton observou veridicamente que, assim que ouvia que algo “viera para ficar”,
sabia que muito logo aquilo seria substituído – na verdade seria considerado
deploravelmente obsoleto e ordinário. [...] A lâmpada de rua elétrica pode de fato ser
ignorada simplesmente porque é insignificante e transitória. Seja como for, as
histórias de fadas têm coisas mais permanentes e fundamentais sobre o que falar. O
raio, por exemplo. O escapista não é tão servil aos caprichos da moda evanescente
como aqueles oponentes. Ele não faz dos objetos [...] seus mestres e seus deuses,
adorando-os como inevitáveis, até “inexoráveis”. [...] ele (o escapista) poderá incita
as pessoas a derrubarem as lâmpadas de rua. O escapismo tem outro rosto, ainda
mais perverso: a Reação”. (TOLKIEN, 2010).
Quando verificamos o contexto histórico, principalmente relacionando com a história
da literatura, em que Tolkien está inserido, vemos uma característica predominante que, não
precisando de tão grande aprofundamento, nos ajuda a entender, em certa medida, as posturas
que são tomadas perante o assunto “realidade” nos enredos das narrativas. A produção
literária inglesa no início do século XX, principalmente no pós Primeira Guerra, se caracteriza
principalmente por concentrar sua atenção em temáticas que remetem às conjunturas sociais,
políticas e culturais de então. Sendo assim, assuntos como conflitos de classes,
desenvolvimento científico e tecnológico e vida cotidiana dos sujeitos da classe média,
avultam largamente nas obras dos escritores e escritoras do período. Fazem parte deste
contexto histórico e literário escritores como Hebert George Wells, Virgínia Woolf e Jaymes
Joyce. (THORNLEY & ROBERTS, 1984). Segundo Raposeira,
“A literatura fantástica, a qual se encontrava numa posição pouco estável, na
primeira metade do século XX, devido ao descrédito por parte de acadêmicos e
leitores, não era considerada como digna de pertencer ao cânone literário, não era
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estudada nas universidades, encontrando-se relegada para a esfera de um diminuto
público infantil”. (RAPOSEIRA, 2006).
Desta forma, fica claro o deslocamento que Tolkien sofria em relação a seu campo de atuação
no círculo mais amplo. Reivindicar uma libertação da escravização dos objetos reais e do
cotidiano na literatura se revela como um atestado de luta aberta com seus pares, uma
tentativa de inserção de uma concepção que não estava em voga no momento, ou ainda, revela
um descompasso existente entre a trajetória intelectual e tudo o que ela implica, com as
influências e heranças que marcaram a formação do escritor, e as circunstancias históricas e
sociais de produção literária com a qual se depara.
4. Conclusão
Para finalizar esta discussão, vale fazer uma ultima consideração. Resgatando um
pouco da reflexão teórica empreendida no começo do presente artigo, podemos chegar a uma
breve e incompleta conclusão. Na situação histórica do campo intelectual e literário no qual
Tolkien está presente, o escritor há que ocupar uma posição em relação às outras posições
existentes. Lembrando que, como dizia Bourdieu, os agentes de um campo constituem
relações objetivas entre si para que haja, ou não, mutações nas estruturas vigentes, e que essas
relações são relações de força onde o capital simbólico é a medida preponderante para a
resolução dos conflitos, a partir disso podemos inferir que Tolkien ocupa uma posição que,
neste momento histórico, não lhe confere força suficiente para angariar mudanças tácitas
destas estruturas. A herança literária e intelectual recebida pelo autor durante a sua formação e
a sua posterior elaboração ideológica, parecem estar em contraste com as posições dominantes
dentro do campo literário vigentes no início do século XX. No entanto, a própria produção
literária de Tolkien, com sua vasta bibliografia centrada na criação de mundos fictícios, deve
ser entendida como um manifesto, como um instrumento de luta contra aquilo que está posto
diante de sua realidade.
No entanto, não propomos nenhuma conclusão fechada acerca desta problemática,
havendo, ainda, de desenvolver-se a pesquisa, buscando ampliar questões ainda mal
exploradas, tais como um aprofundamento da análise da relação entre Tolkien e as
universidades pelas quais passou, uma melhor contextualização não só do momento histórico
em que ele está diretamente inserido mas também dos momentos precedentes, os mais
próximos, e os mais longínquos, e, finalmente, abordagem de outros tipos de fontes que
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podem ajudar na compreensão destas problemáticas, a saber, cartas e outros textos
acadêmicos ainda não examinados.
Fontes
TOLKIEN, J. R. R. Sobre Histórias de Fadas. 2 ª Ed. São Paulo: Conrad Editora do Brasil,
2010.
Bibliografia
BOURDIEU, Pierre. A Economia das Trocas Simbólicas. 3ª Ed. São Paulo: Perspectiva,
1992.
_______. Os usos sociais da ciência: por uma sociologia clínica do campo científico. São
Paulo: Editora UNESP, 2004.
CARPENTER, Humphrey. J. R. R. Tolkien: a Biography. Boston: Houghton Mifflin TRA,
2000.
COELHO, Nelly Novaes. O Conto de Fadas. 2ª Ed. São Paulo: Ática, 1991.
DARNTON, Robert. O Grande Massacre de Gatos e Outros Episódios da História
Cultural Francesa. 5ª Ed. Rio de Janeiro: Graal, 1986.
MARLETTI, Carlo. Intelectuais. In: BOBBIO, Norberto. Dicionário de Política. 10ª Ed.
Brasília: Universidade de Brasília, 1997.
RAPOSEIRA, Sílvia do Carmo Campos. “Tree by Tolkien”: J. R. R. Tolkien e a Teoria dos
Contos de Fadas. 2006. 202 f. Dissertação (Mestrado em Estudos Ingleses) – Universidade
Aberta de Lisboa, Lisboa, 2006.
SIRINELLI, Jean-François. Os Intelectuais. In: RÉMOND, René. Por uma História Política.
Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 1996.
THORNLEY, G. C.; ROBERTS, Gwyneth. An Outline of English Literature. Harlow:
Longman, 1984.
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