a terra e o texto dez anos depois: ainda o mesmo confronto?
Post on 04-Apr-2018
218 Views
Preview:
TRANSCRIPT
-
7/31/2019 A terra e o texto dez anos depois: ainda o mesmo confronto?
1/15
A terra e o texto dez anos depois: ainda o mesmo confronto?1
Daiane Boelhouwer Menezes/PPGCS-PUCRS2
Resumo
Este artigo se props a conferir se havia necessidade de alguma atualizao da teseCampos em confronto: a terra e o texto de Christa Berger, dez anos depois de suarealizao. Do mesmo modo que Berger, analisamos a relao estabelecida entre oMovimento Sem Terra (MST) e o jornal Zero Hora (ZH). O corpus da pesquisa foicomposto por notcias, editoriais, artigos, colunas e cartas de leitores publicados em ZH,que mencionaram o MST ou a reforma agrria, durante o ms de maro. Este ms representativo porque aconteceu, no Rio Grande do Sul, a invaso de uma fazenda, a 2Conferncia Internacional sobre Reforma Agrria e Desenvolvimento Rural, organizadapela ONU/FAO e um episdio de destruio de um viveiro de mudas de eucalipto emprotesto contra a expanso da monocultura desta rvore. Os resultados mostraram que o
livro citado continua extremamente atual.
Palavras-chave: Jornalismo; Zero Hora; MST; Reforma Agrria; Representaes Sociais.
Introduo
Em 1996, Christa Berger defendeu sua tese de doutorado, na Escola de
Comunicao e Artes da Universidade de So Paulo, que dois anos depois foi publicada
com o ttulo Campos em confronto: a terra e o texto. O livro trata de Zero Hora (ZH),
jornal com maior circulao no Rio Grande do Sul3, e do Movimento Sem Terra (MST),
analisando a luta de ambos pelo poder simblico (BERGER, 1998). A proposta deste
artigo fazer a mesma anlise dez anos depois e ver se a relao entre a imprensa e
movimento social permanece a mesma. As aes do movimento se modificaram um pouco
(a destruio de um viveiro de mudas de eucalipto um exemplo desta modificao), de
modo que imaginamos que a relao entre o MST e ZH pudesse ter se alterado.
A idia de uma nova anlise sobre a relao entre ZH e MST se justifica porque
este um dos mais importantes movimentos sociais brasileiros de toda a histria do pas 4, e
um movimento social que conseguiu continuar como movimento social em uma poca em
que boa parte deles se transformou em organizao no-governamental, terceiro setor ou
ainda foi absorvido pelo que hoje se chama de responsabilidade social, se distanciando da
1 Trabalho apresentado ao NP 02 Jornalismo, do VI Encontro dos Ncleos de Pesquisa da Intercom2 Mestranda em Cincias Sociais na PUCRS e aluna especial do PPGCOM/UFRGS. Graduada em Comunicao Jornalismo pela UFRGS. Bolsista por trs anos do Ncleo de Pesquisa Cultura e Recepo Miditica da UFRGS,orientado pela Profa. Dra. Nilda Jacks. Apresentou artigos, em 2005, no NP de Fico Seriada do Intercom, no GT deComunicao e Indstria Audiovisual do Seminrio Internacional de Comunicao realizado pela PUCRS e, em 2006,nos GTs Comunicao, Poltica e Cidadania e Comunicao e Educao, do Intercom Sul.3 E quinto maior em circulao do Brasil, segundo dados da Associao Nacional dos Jornais (www.anj.org.br).4 Segundo os depoimentos do antroplogo Darcy Ribeiro, o economista Celso Furtado, o fotgrafo Sebastio Salgado, oprmio Nobel de Literatura Jos Saramago, o cantor e compositor Chico Buarque e o historiador Eric Hobsbawn.(SUPLICY, 2000, p.14.)
-
7/31/2019 A terra e o texto dez anos depois: ainda o mesmo confronto?
2/15
utopia da emancipao esse projeto de uma sociedade em que homens e mulheres
possam ser pessoas livres e autnomas, construtoras de uma sociedade democrtica e justa,
cidados plenos, sujeitos de sua histria (SOBOTTKA, 2003, p.48). Soma-se a isto o fato
do MST ser um movimento com uma amplitude e estratgias nacionais e, de certo modo,
atravs da Via Campesina, internacionais. Zero Hora, por sua vez, faz parte do Grupo
RBS, e a RBSTV compe a Rede Globo de Televiso, de forma que a proposta editorial do
maior grupo de comunicao do Brasil e de ZH so semelhantes.
A pesquisa foi realizada em notcias, colunas, artigos, editoriais e cartas de leitores
que trataram de reforma agrria e do MST no ms de maro. Este ms foi muito
representativo por causa de trs fatos importantes relacionados reforma agrria e ao MST
que ganharam bastante destaque no jornal ZH: 1) a invaso da Fazendo Coqueiros, nomunicpio de Coqueiros do Sul/RS, que contou com aproximadamente 2.000 integrantes
do movimento; 2) a destruio de um viveiro de mudas de eucalipto da empresa Aracruz
Celulose, localizada em no municpio de Barra do Ribeiro/RS, em protesto contra a
expanso da monocultura desta rvore no estado que, segundo as agricultoras, tem
transformado a regio em um deserto verde improdutivo do ponto de vista da soberania
alimentar (GLASS, 2006); 3) a 2 Conferncia Internacional sobre Reforma Agrria e
Desenvolvimento Rural, organizada pela Organizao das Naes Unidas paraAlimentao e Agricultura (FAO).
A terra e o texto: campos em confronto
De modo semelhante ao proposto por este artigo, os fatos analisados por Berger so
ocupaes e um caso excepcional a cobertura da morte do soldado Valdeci de Abreu
Lopes, no dia 8 de agosto de 1990. A autora focalizou sua anlise mais nos ttulos, j que:
No caso do MST, a manchete e o ttulo constituem, para muitos leitores, a nica
informao, pois conflitos em torno da posse da terra no dizem respeito,diretamente, a quem no proprietrio de terra; no emocionam como umadesgraa; no mobilizam como uma tragdia e no se enquadram na informaoindispensvel vida urbana/cotidiana. Logo, raramente vendem jornal e so lidospelo que se salienta do texto: ttulos, negritos, legendas e fotos.(BERGER, 1998,p.130)
Alm disso, o ttulo tambm o lugar da pgina impressa mais prximo da voz
oficial, pois ainda que o reprter sugira o ttulo, este s publicado se aprovado pelo
editor.
O discurso no pode ser considerado em si mesmo: as propriedades formais das
obras desvelam seu sentido somente quando referidas s condies sociais de produo e,
por outro lado, s posies ocupadas por seus autores no campo da produo e ao
-
7/31/2019 A terra e o texto dez anos depois: ainda o mesmo confronto?
3/15
mercado para o qual foram produzidas (BOURDIEU, 1996, p.129 apud BERGER, 1998,
p.12). Por isto, importante sempre levar em considerao que autonomia do jornalista
depende da posio ocupada e da concentrao da imprensa em sua regio que, sendo
geralmente alta, leva insegurana no emprego e a salrios baixos. Na mesma linha,
importante perceber que o editor de um jornal tem que se preocupar em conquistar leitores,
dentro daquilo que cabe na ideologia de seu jornal, sem se confrontar com aqueles que o
sustentam economicamente. Estas condies de produo marcam as relaes entre os
jornalistas e suas fontes, tornando-os propensos a acatar a verso dos anunciantes e dos
proprietrios. A luta no interior do campo do jornalismo
gira em torno do ato de nomear, pois, nele, se encontra o poder de incluir ou deexcluir, de qualificar ou desqualificar, de legitimar ou no, de dar voz, publicizar etornar pblico. Este poder se concentra em quem escolhe a manchete, a foto, anotcia de primeira pgina, o espao ocupado, o texto assinado ou no. (BERGER,1998, p.22)
O processo se d da seguinte forma: reprteres recolhem fatos com potencial de
noticiabilidade e os levam para a redao, onde tambm as fontes procuram os jornalistas.
H um processo de deciso que precede realizao da matria, verificando a
possibilidade de o fato acontecido entrar no circuito informativo. Depois h um processo
de hierarquizao dos acontecimentos, quando atribuda uma importncia ao
acontecimento por parte do editor, que decide a forma de tratar o assunto, escolhe o
jornalista para realizar a cobertura, opta por fotografar ou no. Finalmente, h o processo
de tematizao que, mais do que expor os temas, centra ateno em alguns. Ao tematizar
um assunto, se reduz a complexidade da vida social queles temas que ele define a priori
como relevantes.
Segundo Berger, o MST percebe a mediao da informao na sua interlocuo
com o poder poltico. E a mdia sabe que seu poder est na sua condio de mediao. Por
isso, o MST precisa encenar suas reivindicaes, torn-las fotografveis e a imprensaprecisa contar o presente com o mximo de expedientes de real, como fotos, por
exemplo, pois assim aumenta sua credibilidade (Ibid., p.11). O jornal ZH, no perodo
analisado por Berger, criminalizava o MST ao optar por chamar as aes do movimento de
invases, o que remete a uma defesa da propriedade privada, a definio do movimento
como transgressor das leis e endossa, de certa forma, a represso. Caso optasse por
ocupaes, sustentaria o conceito de propriedade social da terra, fazendo com que a
represso ao MST fosse a parte ilegal. Mas o tratamento dado aos fatos no ocorreu sempreda mesma forma:
-
7/31/2019 A terra e o texto dez anos depois: ainda o mesmo confronto?
4/15
a construo do sentido se fez pela combinao dos sem-terra que invadem,resistem, degolam; o governo que busca solues e a Justia que julga. Como todoo movimento social, o Movimento Sem Terra intransigente e violento. Mas, sualuta, , s vezes, justa em uma brecha do texto. (BERGER, op.cit., p.189)
As formas de luta utilizadas pelo MST so:ocupao de terras e acampamentos em locais estratgicos; tomadas de prdios,como a sede do Incra, e praas pblicas; caminhadas com interrupo de rodovias;visitas aos gabinetes de autoridades estaduais e federais; alm de greves de fome efechamento de trevos. Mais recentemente optaram, tambm, pela candidatura delderes para cargos polticos. (Ibid., p.94)
E agora passaram tambm a utilizar aes que chamem a ateno para os problemas
acarretados pela a monocultura e os transgnicos. Quando as suas estratgias esgotam-se e
se naturalizam, os sem-terra tm que pensar em algo novo, pois sabem
que a luta pela terra e a questo da reforma agrria no so em si notcia no Brasil.Por um lado porque ela a mesma h muitos anos e, assim, no corresponde aocritrio de ser notcia; por outro, porque no vai ao encontro dos interesses dos quedetm o poder poltico e de seus representantes na mdia (Ibid. p.109).
De maneira mais sistemtica, Berger diz que latifundirios obtm sucesso na sua
presso contra a Reforma Agrria porque:
a) contam com o apoio da grande imprensa; b) dispe de recursos financeiroselevados para gastar no lobby anti-reforma; c) esto umbilicalmente ligados asetores dinmicos do capitalismo, de modo que conseguem neutralizar pressesreformistas de setores industriais e comerciais que s se beneficiariam com uma
repartio mais eqitativa da terra e da renda rural; d) continuam a manter laosestreitos com a cpula poltica do Pas; e) apesar de sua diviso e disputas, elessouberam compor suas diferenas para fazer frente ameaa comum a todos.(Ibid., p.95-6)
A autora cria uma classificao dos conflitos propostos pelo MST e aponta quais
so os mais noticiveis:
a) o conflito poltico um conflito radical, em que no h conciliao com o
poder. As posies saem de lugares opostos, pois a luta de classes marca o confronto. No
resulta em manchetes e rende poucas notcias.b) o conflito institucional ocorre quando o MST dirige suas reivindicaes a
rgos do governo que se destinam a cuidar dos problemas ligados terra, como o caso
do Incra. Aqui a posio de negociao, eles sabem que no h possibilidade de vitria
total, os ganhos so parciais e vo sendo conquistados no confronto. Este conflito costuma
ser notcia e, eventualmente, manchete, mas produz poucas imagens.
c) o conflito armado confirma a radicalidade do MST: um movimento que se
arma, em uma atitude defensiva-provocativa, com foices e enxadas. Transfigurando seus
instrumentos de trabalho, ameaa e chama guerra. Este conflito responde a uma ttica
de comunicao: ele o conflito mais facilmente espetacularizado pelos meios
-
7/31/2019 A terra e o texto dez anos depois: ainda o mesmo confronto?
5/15
audiovisuais (BERGER, op.cit., p.120), garantia de notcia, manchete, capa e merece
fotografia.
O movimento, ao se transformar em notcia, insere-se na pauta do poder. As
ocupaes mostram para o governo que o MST conhece as reas improdutivas, seleciona
as de sua preferncia e capaz de mobilizar pessoas para lutar por elas. Alm disso, so
quase garantia de constar na mdia, pois a invaso passa pela seleo do primeiro grau o
critrio da noticiabilidade dos jornais (Ibid., p.156).
Dez anos depois
No ms de maro de 2006, houve trs acontecimentos significativos envolvendo a
reforma agrria e o MST. O que ocorreu primeiro foi a ocupao, pela quarta vez, da
Fazenda Coqueiros. O assunto foi tematizado pelo jornal, tendo estado at o dia 16
diariamente presente no jornal (com exceo de dois dias), s vezes com at quatro textos
sobre o assunto, sendo a mdia desta primeira quinzena de maro de dois textos por dia.
Em relao ao dos sem-terra, ZH continua usando sempre a palavra invaso,
apesar da publicao de um curioso artigo que diz:
mudaram o sentido das palavras. Invaso de propriedades particulares e atpblicas deixou de ser invaso, ou esbulho, segundo a linguagem legal. Por ironiapassou a chamar-se ocupao pacfica. [...] Toda notcia divulgada no pas fazalguns anos, em torno de 20 anos, obedece nova linguagem.
Entretanto, em parte alguma de ZH encontramos a palavra ocupao.
O jornal continua a dar destaque para fatos criminosos como os pneus furados de
uma viatura da polcia pelos sem-terra, para que os policiais no pudessem comunicar a
ocupao, com direito a uma foto da viatura. D voz ao capataz da fazenda ocupada para
dizer que sete funcionrios teriam sido feito de refns, por 10 homens encapuzados e
armados, e que os sem-terra teriam furtado uma espingarda calibre 12. Um outro
funcionrio disse que eles passaram o maior medo da vida, com um (revlver) 38apontado na cabea.
Neste tipo especfico de cobertura, no se pode acusar os jornais de apresentarem
apenas fragmentos e no trazerem fatos do passado. Havia, por exemplo, um box intitulado
entenda o caso, em que apareciam as datas das invases anteriores, contando, por
exemplo, que integrantes do movimento, em setembro de 2004, invadiram a rea,
cultivaram milho e depois saram instalando-se em terras vizinhas, arrendadas pelo MST;
e que, em fevereiro de 2005, a colheita do milho pelos funcionrios da Coqueiros teve queser realizada sob proteo policial.
-
7/31/2019 A terra e o texto dez anos depois: ainda o mesmo confronto?
6/15
A questoda construo de pequenos barracos de madeira, em lugar das armaes
de lona preta normalmente utilizadas, com madeira retirada de uma serraria da fazenda
ocupada, ganhou destaque em vrios textos. Tambm enfatizado o grande nmero de
sem-terra presentes na fazenda, cerca de 2 mil, o que estaria provocando medo nos
moradores prximos e funcionrios da fazenda.
Os proprietrios aparecem como guardies do meio-ambiente, dizendo que temiam
que os danos fossem irrecuperveis, pois no local havia 300 hectares de mata nativa e os
sem-terra, segundo eles, cobiam a madeira, e no ligam para a fauna e flora abundante l
dentro. Se puderem vo derrubar a mata. Tambm pedem a reintegrao de posse baseada
em danos e risco de vida que os proprietrios e funcionrios da fazenda teriam sofrido.
Como diz Berger, s vezes, a causa dos sem-terra aparece como sendo justa, masisto normalmente s em cartas de leitores e artigos e, ainda assim, em um nmero muito
pequeno. H, por exemplo, uma carta de leitor que diz que o que condenvel o fato de a
legislao brasileira permitir que um cidado tenha uma extenso de terras de 7 mil
hectares, o que contribuiria para que se perpetuassem mazelas como fome, misria e
revoltas.
Quando dado algum espao para os sem-terra falarem em ZH, este muito
pequeno. Eles costumam aparecer somente no final das matrias, dizendo, por exemplo,que ficaro na fazenda ocupada at o anncio do assentamento das famlias. Quando os
integrantes do MST resolvem no falar com os reprteres do jornal, a ltima linha das
matrias costuma informar que a assessoria de imprensa do movimento no quis comentar
determinado fato ou que no foi encontrado nenhum integrante do movimento que quisesse
falar sobre o assunto.
Os sem-terra aparecem na maior parte dos textos referentes a esta ocupao como
aqueles que se negam a cumprir as ordens judiciais de deixar o local voluntariamente noprazo estabelecido.
O movimento faz algumas coisas com a nica inteno de serem fotografveis. As
trincheiras cavadas, por exemplo, ajudariam muito pouco se a idia fosse realmente
resistir. Se fosse o caso, procurariam locais mais propcios para isto. Mas trincheiras
rendem fotos. Uma matria trazia a informao de que nos acessos ao acampamento havia
trincheiras para um possvel confronto. Lanas de madeira eram usadas de armadilha para
quem no conhecia o terreno, principalmente noite. A foto mostra as lanas de madeira
ao lado de uma barreira de madeira onde estava escrito venceremos. Outra encenao
ocorre quando oficiais de Justia, escoltados por 25 policiais militares (PMs) a p e a
-
7/31/2019 A terra e o texto dez anos depois: ainda o mesmo confronto?
7/15
cavalo, foram ao acampamento entregar a notificao que determinava a sada do grupo.
Depois da leitura da notificao, os papis foram rasgados e pisoteados por uma lder do
movimento na frente dos oficiais. Os invasores avanaram contra os policiais, que
precisaram se defender utilizando os cavalos. Os policiais tambm precisaram sacar armas
e espadas para conter os manifestantes. A foto desta matria mostra um campo de batalha
com PMs e cavalos de um lado e sem-terras do outro, com a legenda: MST e PMs se
enfrentaram dentro da rea invadida da Fazenda Coqueiros, mas no houve feridos.
Novamente, s na ltima linha da notcia, aparece um dos lderes do acampamento
reiterando que os colonos no pretendem deixar a rea at que os governos estadual ou
federal se comprometam a adquirir parte da rea para assentar as famlias.
Na falta de um contingente suficiente de policiais militares para fazer adesocupao, que teriam que ser removidos de outros municpios, a situao se arrastou.
Alguns ttulos de matrias so sensacionalistas, como Polcia prepara operao de
guerra. Este ttulo dizia respeito ao fato de o servio de inteligncia da Brigada Militar
(BM) indicar que integrantes do MST estariam preparando uma emboscada na
madrugada. Na noite anterior, tinha havido tenso: o acampamento da BM teve a luz
cortada e ficou s escuras. Segundo o jornal, como a Brigada s poderia chegar ao
gerador para relig-lo atravessando o acampamento do MST, a base onde estavam maisde 300 PMs ficou sem luz durante toda a noite. Uma das matrias dizia que no houve
incidentes, mas que durante a madrugada, mais uma vez foram ouvidos disparos de
armas de fogo e os invasores tambm fizeram ecoar gritos de guerra. Um deles dizia
cada foice, uma cabea. Esta foi mais uma encenao para garantir espao na mdia
porque se de fato quisessem fazer algo do gnero, no anunciariam.
Mas o conflito estava perto de se encerrar, pois o movimento conseguiu fazer parte
da agenda do governo e o Incra ofereceu duas reas recentemente desapropriadas emSantana do Livramento para assentar os ocupantes da Coqueiros. Segundo ZH, a
Fazenda Coqueiros s no foi desocupada antes porque o governo temia um confronto
sangrento no momento em que centenas de estrangeiros participavam da Conferncia da
Reforma Agrria e Desenvolvimento Rural. No dia em que se encerrou a conferncia,
assunto que analisaremos depois, o MST anunciou a desocupao voluntria da Coqueiros.
O Incra confirmou o assentamento das famlias, mas segundo uma matria do jornal pesou
para a deciso, tambm, a contrariedade da opinio pblica com a destruio do viveiro
da Aracruz [tema que tambm analisaremos logo a seguir e que teve a segunda maior
importncia em termos de textos publicados no jornal no ms de maro] e a promessa de
-
7/31/2019 A terra e o texto dez anos depois: ainda o mesmo confronto?
8/15
rigor do governo estadual. Segundo um dos lderes dos sem-terra: Ns falamos que
sairamos daqui somente com um resultado concreto. Felizmente tivemos nossa demanda
atendida. No o suficiente para acomodar todas as famlias, mas uma vitria.
H tambm matrias que tratam de mostrar como o movimento funciona por
dentro, normalmente atravs de ex-sem-terra. Nelas aparecem dois integrantes do MST
que deixaram a Fazenda Coqueiros porque tinha muita confuso l dentro. Tinha uns
caras que tomam uns tragos e ficam metendo presso. Disseram que fugiram quando
viram a BM porque a notcia que circula l dentro que a Brigada baixa o pau em quem
sai. isso que eles ficam dizendo para as pessoas continuarem l. Contaram, ainda, que
tinha gente recebendo treinamento para resistir e que no viram armas de fogo, embora
achassem que havia algumas no acampamento.Com o fato de os sem-terra terem se alojado em propriedade vizinha fazenda
desocupada, foi trazido que se temia que no local fossem repetidos os atritos da outra rea
arrendada pelo MST ao lado da fazenda, onde vivem cerca de 80 famlias desde 2004.
Segundo ZH, nos ltimos dois anos, tinham sido registradas mais de 30 ocorrncias
policiais na regio e as colheitas precisavam ser escoltadas. Outra matria termina
dizendo que um delegado instaurou inqurito para investigar mais de 10 crimes, em
aes que ocorreram no perodo da ocupao da Coqueiros, e que indiciaria 800integrantes do MST que participaram da invaso da Fazenda Coqueiros por pelo menos
oito crimes. Segundo a matria uma ocorrncia policial registrada para apurar a
destruio de 1,5 mil metros de cerca e a morte a tiros de um boi. No final de um box h
um Contraponto, que diz: ZH consultou a assessoria do MST, mas o movimento
preferiu no se manifestar.
A morte de uma menina no acampamento ao lado da Coqueiros ganhou destaque
em algumas matrias, sendo apontada como uma das causas para que o MST tenhaapressado sua sada de l. No acampamento estavam mais de mil pessoas. Com pouca
comida, sem gua tratada e sem condio de higiene. ZH trouxe tambm a negao de
uma informao, que no chegou a ser publicada anteriormente, de que a me da menina
teria sido impedida de sair do acampamento para pedir atendimento mdico. A negao foi
feita por um dos lderes do acampamento e reiterada, em outra matria, pela av da
criana: A gente tinha de receio de sair, mas no por causa dos chefes. A gente tinha
receio da Brigada Militar.
No caso do episdio Aracruz, a tematizao ocorreu tambm com notcias dirias
do dia 09/03 ao dia 22/03 (com exceo de um dia), com uma mdia de trs textos por dia,
-
7/31/2019 A terra e o texto dez anos depois: ainda o mesmo confronto?
9/15
chegando a ter at dez textos relacionadas a ele em um nico dia. Como a ocupao da
Fazenda Coqueiros e o episdio da Aracruz estiveram em pauta simultaneamente, entre os
dias 9/03 e 16/03, podemos dizer que nesta semana todos os dias tiveram, em mdia, cinco
textos que envolviam o MST no jornal, sem contar aqueles relacionados conferncia, que
sero posteriormente analisados.
Sobre a destruio das mudas de eucalipto da Aracruz foram publicadas fotos de
tubos de ensaio quebrados, de estufas destrudas, com uma legenda que dizia a
depredao de laboratrio e de experimentos cientficos, que pode abortar novos
investimentos no Estado, foi consumada em menos de uma hora por centenas de
manifestantes, a maioria mulheres, e de armas utilizadas (um pedao de madeira com
uma faca na ponta). O fato de ter sido um movimento de majoritariamente mulheres foiressaltado por muitos textos, dizendo que a invaso ficou a cargo das mulheres por um
motivo poltico, pelo fato de que ocorreria no Dia Internacional da Mulher, e outro prtico.
Caso fosse encontrada resistncia, a presena do pblico feminino seria um seguro para os
invasores.
Em vrios textos sublinhado o fato de ter sido uma ao violenta, realizada por
um contingente estimado em 1,5 mil agricultores, que destruram um laboratrio,
experimentos cientficos, oito estufas e pelo menos 3 milhes de mudas de eucaliptos naFazenda Barba Negra, de propriedade da Aracruz Celulose SA, em Barra do Ribeiro.
Aparece o depoimento de um funcionrio que, em lgrimas, disse: As instalaes
fsicas podem ser recuperadas. Mas o material de pesquisa, no. Imagine o que ver
espalhadas pelo cho sementes que acompanhei nos ltimos 19 anos.
A informao sobre o investimento da Aracruz e seus empregos tambm foi
bastante repetida: a ao colocou em risco o emprego de 1,2 mil pessoas que j trabalham
na empresa e outros 50 mil empregos diretos e indiretos que podem ser gerados caso aAracruz escolha o Estado como sede de seu novo investimento: uma nova fbrica de US$
1,2 bilho. O secretrio de Desenvolvimento convocou a sociedade para mostrar que a
manifestao no representa a comunidade gacha, porque, caso contrrio, isso seria
mortal para as negociaes com os investidores do setor.
O fato de trs emissoras de TV SBT, Bandeirantes e Record saberem com
antecedncia da ao teria evidenciado a inteno do movimento de dar publicidade a seu
ato, questo que foi ressalta por vrios textos tambm.
Alguns textos relacionaram o episdio da Aracruz com a 2 Conferncia
Internacional sobre Reforma Agrria e Desenvolvimento Rural, dizendo que aquele pegou
-
7/31/2019 A terra e o texto dez anos depois: ainda o mesmo confronto?
10/15
carona com esta, que reuniu organizaes de diferentes partes do mundo e autoridades.
Na reunio ocorrida, o lder do MST Joo Pedro Stedile havia salientado: No mais o
capital industrial que controla a agricultura, o financeiro. O inimigo no mais o
latifundirio tradicional, mas o grande capital internacional. Outra matria diz que o
episdio afirma a nova linha da organizao. A frente de batalha deixa de ser o campo
improdutivo, e a articulao das invases agora internacional. Um dirigente da Via
Campesina teria culpado a vtima, dizendo que a destruio do laboratrio foi um ato de
legtima defesa de camponeses contra a poltica destrutiva de uma empresa, a Aracruz, que
prega a monocultura, danifica o ambiente e o torna infrtil. Em uma entrevista, um lder
da Via Campesina disse que a produo de eucalipto resulta em problemas ambientais,
mas que isto se refere produo em grande escala, embora tambm no deva haverexperimentos nos assentamentos devido aos danos ao ambiente. Este comentrio foi feito
em funo das matrias que disseram que os sem-terra procuraram a Aracruz porque
estavam interessados em plantar eucaliptos nas partes altas de um assentamento, o que no
se concretizou porque no ganharam a autorizao do movimento, e outros textos que
diziam que o episdio da Aracruz era ridculo j que eucaliptos eram plantados em
assentamentos do MST. O lder da Via Campesina disse tambm que a Aracruz foi uma
questo simblica. Uma mensagem enviada pelas mulheres s multinacionais. E terminoudizendo que queria a compreenso dos habitantes do Rio Grande do Sul porque eles
estavam defendendo a terra, a gua e o ambiente. A violncia gerada pela excluso social
era muito maior.
A discusso sobre as florestas de eucalipto propriamente dita aparece somente em
um quadro que trata muito sinteticamente dos argumentos contra e a favor e nas palavras
do ministro do desenvolvimento agrrio que afirmou ser legtima a discusso sobre a
monocultura do eucalipto, pois a experincia mostra que a monocultura no aestratgia mais adequada, do ponto de vista econmico, porque amplia a dependncia a
uma produo, e ambientalmente um desastre.
Atos passados so trazidos para os textos, lembrando, por exemplo, que o fato de
at agora ningum ter sido punido pela destruio da lavoura da Monsanto [em 2001] e no
terem sido identificados os responsveis pelo incndio criminoso que em 2003 destruiu o
Centro de Biotecnologia da UFRGS estimula a repetio dos atos de violncia.
Vrias matrias ressaltaram a ruptura formal que o governador em exerccio
declarou, suspendendo temporariamente toda e qualquer relao institucional de rgos
do governo do Estado com a Via Campesina, o que incluiu contratos e repasses a
-
7/31/2019 A terra e o texto dez anos depois: ainda o mesmo confronto?
11/15
entidades ligadas Via Campesina. J o ministro de desenvolvimento agrrio afirmou que
o governo federal, embora condene a depredao, manteria as relaes institucionais
com os movimentos sociais envolvidos no ataque a Aracruz. Um editorial disse que os
contribuintes se surpreenderam ao constatar que recursos pblicos financiam um
movimento que, com freqncia, agride a sociedade, mancha a imagem do pas e funciona
como uma usina de insegurana jurdica e social. Disse tambm que a democracia no
pode financiar os que querem destru-la. Outro editorial disse que as aes enrgicas das
instituies so a resposta adequada no sentido de preservar a lei, identificar responsveis e
evitar a repetio dos acontecimentos, e que elas teriam o efeito de desfazer o ceticismo
de parte da sociedade em relao s possibilidades de punio dos invasores.
Vrios textos trataram do desgaste poltico que o MST teria sofrido, dizendo queseu radicalismo teria isolado o movimento de seus tradicionais aliados: at mesmo o PT
condenou o ato. Em nota oficial, o partido declarou que a ao realizada por ativistas no
laboratrio da Aracruz est equivocada e no contribui para a soluo dos problemas no
campo e para o avano do processo de reforma agrria, mas deixou claro que est do
lado da luta pela terra.
O Ibope fez uma pesquisa sobre o que a populao pensava em relao ao MST.
Esta pesquisa foi citada por muitos textos, sendo os seguintes dados os mais explorados:76% dos entrevistados consideravam que as invases abalavam a democracia, eram
antidemocrticas ou reprovavam as invases de propriedade; e 56% das pessoas
consultadas achavam que as aes do MST traziam mais resultados negativos do que
positivos para a reforma agrria.
As cartas de leitores so em sua esmagadora maioria contrrias ao MST. Falam
que estamos de volta era da barbrie dos trogloditas; vivendo numa terra sem lei; que
o Ministrio Pblico tem de agir depressa e banir o MST do pas, ou veremos em breveuma nova Farc destruindo vidas; que hora de pararmos de chamar esses movimentos de
sociais e comearmos a denomin-los de terroristas; que o MST quer aparecer na mdia
a qualquer custo. Os seus dirigentes utilizam os famintos, excludos, para fazer deles sua
armadura, no se importando com os resultados, desde que continuem a receber as verbas
internacionais e nacionais. Depois de muitas sees de cartas somente contra o
movimento, apareceram opinies divergentes. Entre os pedidos de cadeia para os
envolvidos e corte da ajuda financeira dos rgos governamentais, h algumas vozes
destoantes dizendo que a grande mdia s noticia a ao de vndalos, j que do seu
interesse que a sociedade como um todo seja contra os movimentos sociais e contra a
-
7/31/2019 A terra e o texto dez anos depois: ainda o mesmo confronto?
12/15
reforma agrria; e que s distribuindo a terra, com a reforma agrria, teremos menos
fome e mais empregos.
Na seo Sobre ZH h um leitor que pede que a mesma iseno pretendida pelo
jornal durante o perodo eleitoral seja usada na cobertura do episdio da Aracruz, que
sejam buscadas pessoas e entidades ligadas aos movimentos citados como responsveis,
para verificarem seus motivos e desesperanas. J outro leitor parabeniza o jornal pela
cobertura que levantou a opinio pblica e obrigou o governo a tomar providncias.
Os artigos falavam, em geral, de brbaros, salteadores, ladres e bandidos,
vndalos alienados, protagonistas do retrocesso, movimento paramilitar. Mas um
deles, curiosamente, termina com a frase:
faz-se fundamental destacar que a busca por uma reforma agrria inclusiva e justadeve ser sempre defendida pela sociedade. Aos homens do campo, h de serconcedida a oportunidade de trabalhar em seu prprio cho, onde podero produzir,dar sustento s suas famlias e movimentar a economia brasileira.
Como constatou Berger, os detentores do poder do campo poltico tentam fazer crer
que a reforma agrria um dia ir acontecer e que o MST s atrapalha o andamento das
coisas.
Um artigo falava que a reforma agrria uma ao mais do que necessria para o
desenvolvimento do pas e que a prpria histria de luta dos movimentos sociais
camponeses como o MST vem despertando na sociedade brasileira a conscincia dessa
necessidade, ao reunir trabalhadores sem perspectivas que, atravs da desobedincia civil,
buscam alterar um quadro que favorece o latifndio em detrimento da funo social da
propriedade. Mas falava tambm que associar a imagem desse movimento a cenas de
destruio, barbrie e vandalismo, foi um erro brutal de avaliao de algumas lideranas
do movimento. A Aracruz no teria sido a nica vtima dessa ao, foi tambm a
imagem de um movimento legtimo. Foi tambm a grandeza de uma idia, perante boa
parte da opinio pblica. Outras matrias adotaram a mesma idia, dizendo que: uma
srie de posies polticas equivocadas, tomadas pelos lderes dos agricultores, como a
destruio do viveiro da Aracruz Celulose acabou tornando as marchas de agricultores
nos centros urbanos um smbolo de medo para a populao; estava havendo um
esgotamento do movimento, que estaria levando-o ao extremismo para manter-se tona
da vida poltica, o que apenas aceleraria sua imagem negativa entre os brasileiros e
rebaixaria a viso sobre a necessidade da reforma agrria.
O jornal apontou conexes do MST e da Via Campesina com a Venezuela e com
Cuba, disse que a organizao estava se afastando do governo Lula e optando por lutas
-
7/31/2019 A terra e o texto dez anos depois: ainda o mesmo confronto?
13/15
populares, o que significava invases de multinacionais e de prdios pblicos e
destruies de experincias com transgnicos.
Por fim, trataremos dos textos relacionados Conferncia Internacional sobre
Reforma Agrria e Desenvolvimento Rural. O tema tambm esteve presente diariamente
no jornal do dia 01/03 ao dia 11/03 (com exceo de dois dias), com uma mdia de mais de
um texto por dia. Dos 16 textos publicados sobre o tema, seis diziam respeito agenda
cultural do evento.
As matrias chamavam a ateno para a participao de delegaes de mais de cem
pases comandadas por ministros ou vice-ministros, e que Porto Alegre voltaria a sediar
um importante evento internacional, uma verso agrria do Frum Social. As matrias
tambm disseram que o objetivo do encontro era traar estratgias para que a reformaagrria e o desenvolvimento rural colaborem para a superao da pobreza e no combate a
fome. O presidente da FAO disse que preciso debater uma concepo moderna de
reforma agrria, que no fique restrita propriedade da terra, mas inclua formas de apoiar
o desenvolvimento do campo. Disse tambm que a maior parte da pobreza do mundo
est no campo, particularmente entre camponeses sem terra, mais precisamente trs em
cada quatro pessoas que passam fome no mundo esto longe das cidades, portanto no
h como erradicar a pobreza sem passar pelo desenvolvimento rural informao que foiutilizada por muitos textos.
A marcha que ocorreu na abertura da conferncia tambm foi notcia. Agricultores
de sete estados queriam aproveitar a presena de delegados de 81 pases, em Porto Alegre,
para alertar sobre a realidade brasileira, que contemplaria os grandes produtores e
esqueceria os pequenos. Os agricultores fizeram uma encenao contra multinacionais,
atearam fogo bandeira dos EUA e causaram congestionamento.
Durante a conferncia, o presidente em exerccio, Jos Alencar criticou odescumprimento de decises judiciais por parte de sem-terra e disse que a reforma
agrria tem que ser feita dentro da lei. Stedile reagiu dizendo que: Eles pedem tanto para
os sem-terra cumprir a lei, mas so os primeiros a no cumprir, lembrando o fato de o
governo federal no atualizar os ndices de produtividade, como exige a legislao.
Editoriais do jornal opinaram que o Brasil no vai conseguir se desenvolver, nem
reduzir seus nveis de misria sem uma poltica efetiva para o campo, mas que a soluo
no se restringe a um rearranjo agrrio, pois
o fracionamento e a distribuio de terras deixou, h muito, de ser soluo deconsenso para o acesso produo ou instrumento de reduo de desigualdades
-
7/31/2019 A terra e o texto dez anos depois: ainda o mesmo confronto?
14/15
sociais. O novo perfil assumido pelo setor primrio, com forte carter empresarial,em que a produtividade exige pesados investimentos em tecnologia, desfez aospoucos a imagem romntica de que o mundo ideal do campo estaria representadopela pequena propriedade quase artesanal.
As solues estariam, ento, muito alm da opo limitadora da reforma agrria.O movimento encena novamente para ganhar uma matria com foto, que mostra
policiais militares fazendo fora contra o porto do local onde estava se realizando a
conferncia para impedir a entrada de integrantes da Via Campesina. A legenda dizia que
os manifestantes estavam enfrentando os policias. Segundo o texto, aps uma rpida
negociao, um grupo de 50 mulheres pde entrar na conferncia e ler um manifesto
contra o crescimento de reas de reflorestamento, que dizia que os investimentos no setor
contribuam para a formao do que os militantes chamam de deserto verde.Ainda o mesmo confronto
As concluses que podem ser tiradas desta amostra pequena, mas representativa,
que o confronto continua o mesmo, provavelmente merecendo ainda mais espao. Como
Berger j havia detectado, o conflito armado continua a ser aquele que merece grandes
reportagens e fotos. O confronto poltico aparece raramente em uma entrevista ou em
algum comentrio de membros do MST, mas sem destaque.
Mesmo sendo negativa a representao que a imprensa faz do MST, ele consegue,
atravs dela, entrar na pauta do poder. Conseguiu, no caso da ocupao da Fazenda
Coqueiros, que aconteceu simultaneamente conferncia e ao episdio da Aracruz, que o
governo liberasse terras para um assentamento. Talvez, de fato, a imagem pblica do
movimento tenha perdido alguns pontos depois do episdio da Aracruz, mas como o
prprio jornal demonstra, lembrando do episdio da Monsanto, no foi a primeira vez que
algo assim foi feito pelo MST.
-
7/31/2019 A terra e o texto dez anos depois: ainda o mesmo confronto?
15/15
top related