a ordem do dragao dourado
Post on 05-Apr-2018
235 Views
Preview:
TRANSCRIPT
-
7/31/2019 A Ordem Do Dragao Dourado
1/41
A Saga de
Mitrax
-
7/31/2019 A Ordem Do Dragao Dourado
2/41
A Ordem do
Drago Dourado
A uto r :
Srgio Rob ert o d e Paulo
-
7/31/2019 A Ordem Do Dragao Dourado
3/41
Sendo ignorante e imatura, a mente do hom em primitivo criou no mu ndo
m on stros terrveis. E, d e tod as as feras gerad as dessa form a, as kiches so as
m ais terrveis. Possuind o u m po der de viso, com os seus m ltiplos olhos,
alm da h um ana, facilmen te pressentem q uand o crianas esto sozinh as.
En to, aparecem d iante delas e analisam as suas alm as. D epe nd endo d o qu e
vem , vo em bora pacificam ente ou ento as devoram . E, se algum hu m ano
adulto ou qualquer outra criatura lhes interpe o caminho, tambm tm umde stino funesto, pois as kiches so as feras mais po de rosas que j existiram .
M as, con ta-se, num a po ca, h m uitos anos atrs, um a aldeia estava send o
dizim ada, po is se estabelecera nas imediaes um ninho de kiches. A
populao j estava sem esperana e muitos tentavam migrar para longe,
contudo, a m aioria perecia no caminho pelo ataque desses m onstros. Mas,
um dia, surgiu u m a criatura, um inimigo natural das kiches, um drago da
espcie amarela, com o corpo coberto por longos espinhos. De onde veio
ningum sabe. Por que veio tambm era desconhecido. Ento o drago
eliminou sistematicamente todas as kiches machos, atravs das imensaslabared as que em anavam de sua boca. E, finalm ente, travou -se a batalha final
entre o d rago dou rado e a kiche fmea, na qual ambo s pereceram.
-
7/31/2019 A Ordem Do Dragao Dourado
4/41
eus ps afundavam-se na lama, enquanto corr ia,
quase sem esperanas, com o beb no colo. Seu corao estava saindo pela bo ca. Ela sabia qu ea cr iatura logo a alcanaria. A cabana de m adeira no e stava longe, m as sabia que lo go sent i r iaa teia grud ar nas suas cost as. Ent o, ser ia v iolentam ent e pu xada para t rs e ser ia o f im.
Dzias de pessoas corr iam a sua vol ta. Uns iam, outros v inham, desesperados. Emuitos eram os monstros que atacavam em todas as di rees. Ela v i ra, atni ta, vr iosconhecidos e pare ntes serem f isgados, puxado s e tend o os corpo s di lacerados pelas presas daskiches em nf im os segundo s.
Seus gr i tos e choros deviam ser di lacerant es, m as j nada m ais ouvia. O m edo haviadado cabo do s seus ouvido s, do con trr io ou vir ia tam bm os si l fos dos aracndeos. E no sabiacom o e p orq ue corr ia. Suas pern as avanavam sozinhas, sem que quisesse corr er. Al is, noadiantar ia. . . ningum consegue f ugir das k iches.
M as alcanou a port a. Ent rou . Virou-se e, ao fech-la, ainda pde ver um hom em q uemal conhecia ser f isgado e desaparecer numa exploso de sangue nas mandbulas de umak iche m acho d e t rs met ros de a ltura .
Fechou a port a e a t rancou. Agora ouvia o beb choran do. Seu f i lh inho .
Aper tou-o o mais que pde cont r a o pe i to e , t remendo , caminhou para t rs, passo apasso, a t suas costas se comp r im i rem dolor idamente cont ra a parede opo sta por t a .
M as no dem orou m ui to a t qu e a por ta fosse v io lentament e ar rancada. Ento, umaperna ent ro u no r ec in to , negra e pe luda. Depois out r a , e out ra . A jovem m ame agora t remiaincont ro lavelment e, enquanto o beb b errava.
-
7/31/2019 A Ordem Do Dragao Dourado
5/41
A k iche era quase do tamanho d a cabana e aquela por t a era uma po r ta comum . M asno importava. As k iches, embora grandes, passam por qualquer or i f c io. Ento, logo elavis lumbrou a cabea. Quase nem mais v iv ia, o medo a matava. Seu corao, emboraacelerado, estava quase parado, quando ela se v iu ref let ida naqueles ml t iplos globosoculares.
E, ento, longe de ser logo ar rebatada, longe do sof r imento ter logo um f im , ve io ato rt ura e a agonia. Pois a cr iatura p arou al i , com suas m aiores presas, tais quais dois chi f res dem ar f im negro, a m eio met r o de d istnc ia, e a f i tou p rofund amente. Sent iu como se os o lhos dacr iatura a gelassem po r den tro , sugassem a sua alma e a revi rassem , anal isando-a po r t odo s osngulos. Sent iu o seu passado, a const i tuio do seu ser e at o seu fu tur o ser m inuciosamen tevasculhado pela cr iatura. Sabia que essa era a v iso da mo rt e e do hor ror e qu e nada almdisso havia.
E, ento, o im pensvel : a cr iatura recuou, deu m eia-vol ta e d esapareceu.
#######
22 EGRR.
Ele caminhava rapidamente, afundando os ps na lama, devido pesada armadura.T irou o elmo, expondo as barbas ralas. Aproximava-se dos corpos das trs k iches abat idas.Eram da espcie com l is t ras l i lases. Uma fora varada por vr ias lanas, outra t inha f lechasespetadas nos sete globos oculares e a ter ceira estava calcinada. Ent o ele p assou ao lado dam aga e, sem p arar , ordenou:
-M eissa, cuida do s fer idos.
A m aga, l indssim a, nada disse e p areceu desagradada. M as Al ionor nem reparo u na
sua reao: passou ao lado d e ou tr o cavalei ro e disse:
-Cavalo M anco, reconhece a ident idade de quem mo rreu e p rov idencia um funera ljun t o s fam li as.
-Sim, com andant e disse o cavalei ro.
-V ista Grande ordenou a out ro , - que ima os corpos dos mo nst ros!
-S se for agora, senhor ! respond eu o velho cavalei ro.
Em seguida, passou por um rapaz franzino que anotava vorazmente algo num
pequeno caderno com fo lhas de couro, usando um a pena, e no o po upou:-Horcio, vai ajudar M eissa!
-M as, senhor, esto u anotand o!
M as o comandante n em o ouv iu , cont inuando a avanar .
-
7/31/2019 A Ordem Do Dragao Dourado
6/41
Ento, observou que o fornido Livro Rasgado saa de uma cabana, carregando ocorpo de uma mulher . V iu quando e le depos i tou-a no cho, num lugar seco, e v iu tambmque, sobre ela, havia um b eb.
-Est em estado de cho que, senhor disse Livro Rasgado.
Ent o o nobr e rei se ajoelhou diant e da moa e indagou:-O beb est bem ?
O beb com eou a chorar e a espernear.
-Parece que s im comento u Liv ro Rasgado, - deve estar com fom e!
-Cuida d ela, e v se descobre q uem so o s seus parent es.
-Sim , senh or .
Al ionor se levantou e o lhou a sua vol ta. Vista Grande, com um a tocha, colocava fogo
nas k iches abat idas, mas havia dezenas de pedaos de corpos humanos espalhados porcentenas de met r os .
Ent o, aproximo u-se outro cavalei ro. Era Tronco Dei tado :
-Tr int a e sete m ort os, senhor!
A tormentado, o re i o lhou em out ra d i reo. Mas sua ateno fo i desv iada por umassobio v indo de uma frondosa rvore. Olhou naquela di reo e v iu I rv ine, a el fa, em p,segurand o o seu arco, em u m dos galhos m ais al tos:
-No h mais k iches, com andante! gr i tou e la .
O rei mirou novamente o cho. Depois, repent inamente, passou a caminharrapidamente, di r igindo-se para t rs da cabana, fora da v ista dos outros. Quando l chegou,passou a chutar t ron cos e ped ras, esbravejando :
-Droga, droga, droga!
Ento, sacou a espada e passou a estocar t roncos de rvores e cortar galhos, paraextravasar a sua do r:
-Droga, droga, droga!
Mas algum o observava. I rv ine sentou-se sobre o telhado da cabana, mirando-of ixament e, sorr indo sut i lmen te, com olhos apaixonado s.
#######
Ao f ina l da tarde, m ontaram acampam ento nas prox im idades da a lde ia que es tavasendo construda. Joelho Esfolado f incou f i rmemente, no cho, a haste do estandarte daordem, que representava um escudo contendo um desenho rs t i co, em preto e branco,representando a imagem de um a k iche fm ea lu tando cont ra um drago. O drago ergu ia o
-
7/31/2019 A Ordem Do Dragao Dourado
7/41
pescoo e exalava um jato de f ogo cont ra a k iche. Essa, por sua vez, havia sol tado um a teia,que grudar a no pescoo do drago.
Logo aps t i rar a sua arm adura, o rei camin hou a p assos largos em direo tend ade M eissa. Ent rou sem cerimn ia e sem avisar. Encont rou -a em p, com o a o esperar.
Ele a encarou com i ra nos olhos e gr i tou:
-M ais um a vez no usaste arm adura!
-J disse que n o preciso disso ret alhou ela, f r iament e.
-Se no colocares armad ura, no pod ers cont inuar conosco! insist iu o rei .
-E o qu e fars se no concord ar? indagou ela, com ar desaf iador.
Ent o a i ra de Al iono r esvaneceu-se. Olhou bem para ela e a sua beleza mais um a vezo arreb atou . Mas ele era o Grande Rei de Breno r e, assim , com pleto u:
-Ests dispen sada. Podes voltar a Lum erae.
E deu -lhe as costas. M as M eissa disse, com vo z pode ro sa:
-No mandas em mim, A l ionor . O l im i te do poder de um re i term ina aos ps doM ont e. Sabes que existe um pod er m aior, no sabes? e, ao dizer isso, ergueu o cajado docho.
Al ionor se v i rou e a v iu segurando o objeto mgico escuro de forma i rregular,lembrando uma serpente embalsamada. E, abalroado pelo sangue aquecido, o rei cedeu aosimpulsos. Aproximou-se rapidamente dela, enlaou a sua cintura, e bei jou-a profundamentena boca.
Meissa no resist iu. E, quando o rei desgrudou os seus lbios dos dela e saiu, elaf i cou pensat iva, o lhando p ara o nada com um ar m ister ioso.
Al ionor caminhou apressadamente, seguindo para um local longe da fogueira queestava sendo acesa nesse momento por Pssaro Negro. Sentou-se numa pedra e f icoupensat ivo, com o pe i to ar fante . M as no f i cou s por m ui to t empo po is, logo, sent iu a lgum
-
7/31/2019 A Ordem Do Dragao Dourado
8/41
aparecendo s suas costas, fazendo um barulh o com o t ivesse cado d o cu. M as o rei sabiaquem era. Virou-se e v iu I rv ine diante de s i.
A el fa o olhava com um sorr iso nos lbios. Segurava alguma coisa. Estendeu-a nadireo d o r ei e disse:
-Tom a. Fiz para t i !A l ionor apanhou o ob je to . Estava enro lado num papel . Desembr u lhou-o e se v iu
segurand o a casca de um coco m aduro , com algo dentr o. Parecia um doce e havia uma colherde pau mergulhada dent ro .
- doce de pssego! declarou a bela el fa, parecendo fel iz .
-Obr igado d isse o re i .
-Prova! disse ela, animad a, sent ando-se ao lado dele.
O rei provou e achou del ic ioso.
-Nossa! Isso bom !
- adoado com mel ! exp l icou e la, sor r indo e o lhando o re i de c ima a b a ixo.
Ento, o Grande Rei de Espadas mirou-a longamente e, com uma voz baixa, massincera, disse:
-Sabes, I rv ine. . . desde que te juntaste a ns.. . is to , toda vez que ests ao meulado.. . sinto. . . um a espcie de p az no corao.
Agora ela no m ais sorr ia. Ao invs, sent ia vont ade de chorar . M as no se sabe com o
aquela conversa term inaria espon taneam ente, po is logo apareceu Livro Rasgado, dizendo:
-Com andante, um rapaz chegou d izendo que quer se ord enar .
Al ionor f ranziu as sobrancelhas e com ent ou:
-Out ro?
-Sim, senhor respondeu Livro Rasgado.
Ent o o re i devolveu o d oce a I rv ine, dizendo :
-Tom a. Guarda o res to pra m im?
Ela lhe sorr iu novam ent e, apanhando o objet o. O rei se levantou e se di r igiu ao rapaz.
Este estava sentado perto da fogueira, t remendo dos ps cabea. No porquet ivesse fr io, m as por que estava diante d o Grande Rei de Brenor.
-Ol , f il ho d isse A l ionor . Ento q ueres ser um drago do urado?
-Si-sim, se-senho r!
-
7/31/2019 A Ordem Do Dragao Dourado
9/41
Vista Grande, que estava enro lado num cober tor , sentado a l i per to , tent ou a judar orapaz:
-Ele disse que t oda a sua faml ia foi m ort a pelas k iches, com andant e.
- completou T ronco Dei tado, co locando um p sobre o toco de um a rvore
cor tada, e parece que nada mais lhe resta nesse m undo!A l ionor o lhou bem para o garoto . Era magro, mas parec ia suf i c ientemente for te .
M as, vendo que n o parava de trem er, ajoelhou -se diante d ele e disse:
-Aqui costum amo s f icar relaxados!
E t i rou os sapatos do rapaz. Ele f icou de boca aberta por um tempo interminvel .Estava d iante do maior re i de to dos os tem pos e le pensava e e le hav ia se a joe lhado et i rado os seus sapato s!
-Sabes dos perigos que t emo s que en fren tar, no sabes? indagou o r ei , ant es de se
levantar novament e.
-Si-sim, senhor! disse o r apaz, logo aps conseguir fechar a b oca novam ent e.
Nesse instante, M eissa saiu de sua tend a e veio se sent ar pr ximo aos out ros, nasimed iaes da fogueira. Com o era costu me, eles se reun iam to dos os incios de noi t e paracom er e conversar. Janta Fr ia, auxil iado p or Hor cio e Irv ine, j junt ava os ingredient es parafazer a sopa.
-Ento dec larou A l ionor , - como t rad io desta Ordem, deves esquecer o teunom e e ado ta r um ou t ro .
Depois que disse isso, v i rou-se aos com panheiro s e indagou:
-E ent o? Com o vam os cham -lo?
O pr imeiro que deu opinio, como sempre, foi o mais experiente. Vista Grandearr iscou, cof iando a b arba:
-Bem, e le se parece um rato !
E, de fato, o rapaz t inha uns dentes pron unciados na frent e da boca.
-! Um rato assustado! completou, r indo, T ronco Deitado.
-Talvez um a don inha, tu qu eres dizer! sugeriu Joelho Esfolado.
E Pssaro Negro , como t ivesse a m aga do seu lado, acabou d izendo :
-E tu M eissa? Que nom e sugeres ao garoto ?
A maga olhou para o rapaz de uma forma que ele sent iu a sua espinha se congelar.Ento, com uma voz f r ia e m rb ida, respondeu:
-
7/31/2019 A Ordem Do Dragao Dourado
10/41
-Na t im or to !
Fez-se um si lncio pr ofu ndo . O rapaz nem m ais respirava. Al ionor olho u par a a magacom ar de p reocup ao. Depois de alguns segundo s, Livro Rasgado ro m peu o s i lncio:
-No te m graa, M eissa!
-! concordou Tronco Deitado. No tem graa nenhum a!
V is ta Grande manteve um o lhar de rancor cont ra a maga, que sus tentou durantealgum t em po. E o Grande Rei , para queb rar a tenso, declarou :
-Pois eu acho que som ent e um a pessoa de grande coragem vi r ia aqui , diante do rei ,pedir para ingressar nessa arr iscada jornada. Ento, sugiro que ele seja chamado de RatoValente!
V ista Grande, segurando o cober tor com a mo esquerda e e levando o brao d i re i to ,levantou -se e gr i tou :
-Viva Rato Valente, nosso no vo com panheiro !
Os demais tamb m comem oraram, repet indo:
-Rato Valente! Rato Valente!
Exceto, c laro, Meissa, que f icou no seu lugar, ainda f i tando o rapazm ister iosament e. M as Rato Valente no percebeu aqui lo , po is estava deslumbr ado esorr ident e, feliz por ter s ido acei to.
Em seguida, Al ionor t ratou de apresentar os companheiros que estavam nasproximidades:
-Rato Valente, permita-me apresentar-te este, que o meu brao di rei to, LivroRasgado!
E bateu nas costas do com panheiro . Depois com pleto u:
-Dei-lhe esse nom e porqu e o encont rei fazendo u ma fogueira com uns l ivros!
-. Mas a minha faml ia estava com fr io e toda a lenha em vol ta estava mida! ten to u expl icar o robu sto cavaleiro. E depo is. . . no sei ler. M as estou aprend endo !
Em seguida, o rei se aproxim ou d o m ais idoso dos drages dourado s, dizendo :
-E esse o m eu f iel com panheiro , desde a po ca da guerra cont ra as salamand ras, om ais sbio da Or dem , Vista Grand e!
-Sejas bem vindo , rapaz! disse ele.
Depois se aprox imou de um hom em esbel to , de barba negra bem aparada:
-Este Joelho Esfolado, o m ais l igeiro de n s! Isto , depois das m eninas, c laro!
-
7/31/2019 A Ordem Do Dragao Dourado
11/41
Todo s caram na gargalhada.
-Essa boa! desabafou Livro Rasgado.
-E este Tronco Dei tado, o mais forte de ns.. . is to , to forte quanto LivroRasgado! Este aqui se gaba de que capaz de erguer uma vaca com apenas um brao, mas
nun ca nos mostro u isso! E camp eo de cusparada tam bm !-Boa no i te , Rato Valente! d isse o hom em for te , com um a voz grossa.
-E aquele l, pert o d e M eissa Pssaro Negro, nosso m estre de arm as. Ele ser o t euinstrut or, no Pssaro Negro?
-Ensinarei tudo o que sei ! disse o po l ido cavalei ro, incl inando a cabea.
-E l, perto da f ogueira, esto Janta Fr ia, nosso cozinheiro, Hor cio, o bi grafo q ueSir ius me arrum ou, e Irv ine, a senhora do arco e f lecha! Os dem ais v inte e tant os conhecerscom o t em po !
Ent o, Jant a Fria serviu a sopa e p assaram a com er. M eissa se afasto u e se sent ounum tronco distante. Aps comerem, veio a hora das histr ias. Al ionor, cansado, j havia sereco lh ido t enda. Nessa noi te , tud o com eou assim:
Rato Valent e, observando M eissa com endo sozinha, distncia, indagou:
- verdade o que d izem dela?
-O que, garot o? indagou Livro Rasgado.
-O cajado dela. .. uma serpente t orr ada, m esmo?
-Dizem que ! respondeu Tronco Dei tado. E Si r ius tem u m out ro igua lzinho! E,dizem, quando eles se juntam, enroscando uma serpente na outra, forma o CaduceuLumeraeano, o objet o m ais pod eroso que existe!
-E ve rdade que e la j m a tou m a is hom ens que qualque r um ou t ro? indagounovament e Rato Valente.
Ento, inst int ivamente, todos olharam para Vista Grande, como se esperassem queele d issesse algum a coisa. E, de fat o, ele d isse:
-So ve lhas h istr ias da Guerra , Rato Valente. De fa to nenh um out r o , hom em, e l fo o u
mago, matou a tantos. Deixa-me contar uma histr ia. Uma vez, na Batalha de Ismar, quandoum grande cont ingente de homens das t r ibos do nor te , que apoiavam as sa lamandras ,encont rou com as foras do r ei , Meissa foi cercada por uns c inq enta d eles. Port avam espadase lanas. Eram bastante fo rtes e v igorosos e estavam to dos m ont ados. Eles a v i ram com o umgrande tr ofu e p art i ram sobre ela Vista Grande diz ia isso com os olhos f ixos no nada, com ov isse aqui lo d iante de s i , naquele exato mo ment o, com u ma voz sin ist ra . M eissa no t r emeue nenh um resqucio sequer de tem or exa lou daquele corpo desejve l . Ao invs, e la sor r iu .Ergueu o seu cajado e t oda aquela m eia cent r ia part iu sobre ela, espor eando o s seus cavalos,
-
7/31/2019 A Ordem Do Dragao Dourado
12/41
brandindo suas espadas e lanas. E eu v i , eu juro que vi com esses olhos que a terra h decomer , e la rodou aquele ca jado e bradou num a voz poderosa, que ecoou a qu i lmet ros dedistncia e que at o prprio Mi trax pde ouvir . Eu v i , eu juro, ela gr i tar aquela maldi tapalavra: coniunct io! E ento eu jur o qu e tod os aqueles selvagens, juntos com seus cavalos earmas, v i raram um a massas! Os corp os daquelas pod res alm as fundiram -se uns nos outr os enos seus cavalos, tornando-se um nico monstro disforme, com ml t iplos braos, pernas ecabeas. A coisa mais horrenda que vi na v ida. No foi um amontoado de corpos di laceradosque vi . Essa v iso ser ia mui to m enos terr vel. O que vi foi aqu ele m onstro disform e e v ivo. E,d iante do hor ror que aqueles homens exper imentaram. . . e les no morreram a l i . Mas. . .fun didos uns no s outr os. .. e nos seus cavalos. . . eles imploravam por piedade.. . eu v i aquelesgri tos, aqueles pedidos por m iser icrdia e aqu eles rel inchos.. . e jam ais m e esquecerei disso n avida... jamais! E jamais deixarei de ter pesadelos! E ela no se apiedou deles.. . Simp lesm ent ecaminho u, passou por c im a deles e seguiu o seu caminho , deixando-o s naquela agonia!
#######
Na m anh seguinte, Janta Fr ia alertou o r ei que as pro vises estavam se acabando.
Assim, decidi ram rumar para Landul ia para reabastecimento, j que estavam a apenassessenta qui lmetros de distncia. Ento, seguiram a comboio. Eram, agora, em tr inta e t rscavalei ros e q uatr o carroas. Duas delas eram d est inadas a levar p rovises, sendo condu zidaspor Janta Fr ia e Horcio, outr a, arm aduras e lanas, conduzida por Vista Grande, e a quartaestava cober ta por um a lona, mas Rato Valente not ou que era m ui to pesada.
Contudo, a meio caminho da capi tal de Barratas, Lana Torta, o jovem batedor quesempre ia f ren te, chegou galopando velozmen te, gr i tando:
-Trog lodrom! Trog lodrom!
E parou diante do rei , resfolegando.-Onde? indagou A l ionor .
-Pouco m ais de um qui lmet r o , a t ravessado na es t rada! respondeu o batedor .
-M ui to bem , homens dec larou o re i . Pegai vossas cordas. Quem o pegar , tem oprim eiro pedao do carneiro de ho je noi t e! Vista Grande, cuida das carroas!
Ent o, diversos cavaleiros apanh aram lanas f inas na carroa d e arm as e esporearamos seus cavalos, tendo o rei f rente. Mas como Rato Valente no se mexeu, olhando tudoespantado, Pssaro Negro lhe falou:
-Vamos, garot o. Tens que ver isso!
Rapidam ent e, os cavalei ros atravessaram quase to da a d istncia qu e os separavamdo animal , mas, a uns cem metros de distncia, antes de uma curva que antecedia a suaposio, eles se det iveram e receberam as instrues do r ei :
-M ui to b em , rapaziada, vamo s ten tar cerc- lo. Quero d uas com panhias que seguiroum a para a d i rei ta e out ra para a esquer da. Joelho Esfolado levar a d a di rei ta e Lana Tort a a
-
7/31/2019 A Ordem Do Dragao Dourado
13/41
da esquerd a. Trot em atravs das rvores o m ais s ilenciosamen te qu e pu derem . Pssaro Negrof ica aqui com mais t rs ou quatro homens para fechar o cerco. Eu, Tronco Dei tado e LivroRasgado vam os seguir pela estrada e en contr- lo. E lembr ai-vos: jamais f icai na t rajet r ia dele.Um leve toque de seus dentes envenenados pode ser fa ta l . E no vos esquecei que o b ichocorre m ui to m ais que n ossos cavalos!
Ento, o rei e seus dois companheiros seguiram trotando a f rente. Aps a curva, auns c inqenta metros, puderam ver o animal . Era uma espcie de lagarto, com mais de dezm et ros de compr im ento, de i tado em d iagonal na est rada. Sua par te t r ase i ra no podia servista, pois adent rava parcialment e na f loreta beira do cam inho.
-Hei ! disse Livro Rasgado. Lana Torta no disse que era um im perial !
- c laro ! Ele nunca v iu um t rog lodrom ! exclamou Tronco Dei tado.
-Quanto achas que e le mede, Tronco? indagou o re i .
-Doze met ros, no m n imo ! respondeu o cava le i ro .
Eles pararam, enqu anto pod iam sent i r os dem ais cavalei ros avanando n os f lancos,atravs da f loresta. Al ionor apanh ou um a das trs cordas que estavam pen dur adas na sela docavalo. Cada um a delas term inava num a ncora leve.
-M ui to bem, m eninos. Ta lvez e le nem acorde.
Mas o t roglodrom acordou. Abriu as plpebras, expondo os olhos semelhantes aosdos gatos e ergueu a cabea.
-Tom ara que ele no e rga a cr ista. Ficar im possvel la- lo! declarou TroncoDei tado.
M as, como se o an im al t i vesse ouv ido, e le er iou a e norm e cr ista em form a de lequeem t orno do pescoo.
-Eu e m inha boca! exclamou Tronco Dei tado.
-Acho que ele no gostou de n s! disse Livro Rasgado.
Al ionor com eou a rodar o lao sobre a cabea. Os dem ais em pun haram as lanas.
-Senhor d isse Tronco Dei tado, - se no m e fa lha a mem r ia, h um v i lare jo a menosde do i s qu il m et ros f ren te !
Ent o, Al iono r passou a f alar baix inho, para s i mesmo:
-Olha nos meu s olhos, cr iatur a. No te v i res para l!
Mas, o bicho estava desconf iado. Assim, projetou sua l ngua biart iculada para fora,v i rou a cabea, e ps-se a se mover pela estrad a, em d ireo ao v i larejo.
-Vamo s! ordenou o re i , esporeando o seu cavalo .
-
7/31/2019 A Ordem Do Dragao Dourado
14/41
Quando estavam a poucos metros do bicho, Al ionor jogou o lao, que se di recionoucorre tament e em torn o da cabea. M as, como Tronco Dei tado prev i ra , a cr i sta im pediu que olao se fechasse em torn o do pescoo e, ao sent i r o contado da corda, o t rog lodrom ergueu abarr iga e saiu em disparada.
Livro Rasgado e Tronco Dei tad o arrem essaram suas lanas. Um a delas resvalou no
grosso cour o de suas costas e a out ra se f incou num a das coxas traseiras. Ent o, o anim alganhou velocidade e disparou como um raio. Al ionor forou o cavalo e saiu galopando atrs.Os demais tam bm , mas o cavalo do r ei era o m ais veloz.
Outras lanas surgi ram dos f lancos, mas apenas uma delas espetou o lagarto naregio sobr e um a das coxas diantei ras. Assim , o anim al f icou apenas levement e fer ido, o queno o impediu d e a lcanar um a ve locidade es tonteante.
Aps alguns segundos, Al ionor notou que avanava sozinho atrs do bicho epro curava no perd-lo de v ista. Teria que alcan-lo antes dele chegar ao vi larejo. Ent o,sacaria sua e spada nuai , pular ia sobre ele e o sacr i f icar ia. M as no ser ia fci l alcan-lo.
Foi quando o rei sent iu que Irv ine avanava velozmente pulando de galho em galhosobre as rvores, u l t rapassando o t rog lodrom . Ento, um qui lmet ro a lm de onde oencontraram, I rv ine sal tou de uma rvore a outra, atravessando a estrada a sete meros deal tura e , ao mesmo t empo , rodando no ar . No m om ento cer to , d isparou a sua f lecha. .. e caiusobre u m galho f lex ve l de um a rvore do ou t ro lado, tomando impulso para c ima, e sub indom ais v in te met ros a t a t ingi r o t odo do dosse l .
A f lecha at ingiu entre os olhos do animal , mas, aparentemente, no num local fatal ,pois ele cont inuou avanando velozmen te. E, nesse m om ent o, Al iono r j podia ver os telhado sde alguns casebres do v i larejo. Ento, forou ainda m ais o seu cavalo.
E foi quando el a apareceu. Surgiu do nada, sobre o dorso do troglodrom. Ergueu oseu cajado e imediat amen te o encosto u nas costas do lagarto , gr i tando :
-Putrefat io!
Ent o, o couro e as carnes do anim al se desintegraram , esfarelando -se, um segund oaps M eissa sal tar fo ra, rolando p ela estr ada. Por inrcia, o corpo do anim al cont inuo uavanando, at q ue lhe restasse apenas o esquelet o. A coluna vert ebral e as costelas quicarampara todo s os lados e o c rn io desencarnado cont inuou f rente , ro lando, e v indo a parar napor ta de um a pequen a casa de madeira, passando p or ent re hom ens, m ulheres e cr ianas que,por al i , estupefato s ao verem a cena, faziam suas tarefas dir ias.
Quando o rei refreo u o seu cavalo, nas pro ximidades da maga, esta j estava de p,caminhando na di reo oposta. Nem ao menos se dignou a olhar para Al ionor. Apenas disse,sem parar de andar :
-Da prxima vez que pensares em me dispensar, lembra-te que no s nada semm im, A lionor !
#######
-
7/31/2019 A Ordem Do Dragao Dourado
15/41
Chegaram a Landul ia no m eio do d ia . Houve grande concent rao de pessoas napraa central , to logo o povo soube que seu amado rei se encontrava na c idade. Todosquer iam to c-lo. Ele desceu de seu cavalo e conversou um bom tem po com o povo. E, em m eioaquela confuso, surgiu um gru po de m eia dzia de cavaleiros acom panhad os por um a carroade grand es propor es que trazia uma eno rm e jaula sobr e o chassis. Um d os cavalei ros v inhapuxando, a t ravs de um a corda, um g igante que caminhava amarrado.
O l der deles, um hom em b aixo e um pou co gordo, careca, m as usando um a espciede turbante, ao ver Al ionor, desceu de seu cavalo, fazendo esvoaar os panos de coresberrantes de suas vestes . O re i tam bm o v iu e se aprox imo u. O hom em abr iu os braos e
disse:-Oh, eis o Grande Rei ! Como d ist ingui- lo do povo , ao qual se mistura e ama, se no
for pela grandeza de sua alma? Como poderiam tais vestes s implr ias camuf lar o maisform idvel dos homen s?
Al ionor t ambm abriu os braos e, com um sorr iso no s lbios, retr ibu iu a gent i leza:
-Goraz! Seu ladro imp restvel !
-
7/31/2019 A Ordem Do Dragao Dourado
16/41
E se abraaram .
Horcio, que estava nas imediaes, se aproximou do estrangeiro e indagou, comum a pena e seu l i v r inho de anotaes na mo:
-Senho r, poder ias repet i r o qu e disseste?
Goraz olhou-o de cima a ba ixo e indagou ao re i :
-E quem esse m enino?
Al ionor tent ou exp l i car :
-Bem, Sir ius insist iu qu e ado tasse u m bigrafo!
-Um b igrafo? E o qu e i sso? indagou o es t rangeiro , com um a voz re tumb ante.
A l ionor ia tentar exp l icar , mas Goraz deu um tapa bem dodo no o mb ro de Hor cio e ,rindo, disse-lhe:
-Em nem um mi lho de anos consegui r ia repet i r o qu e eu d isse, rapaz! Depois,v i rou-se para o re i e , tend o percebido que a sua tenda j hav ia sido arm ada, cont inuou : - Hei ,Al ionor, no vais m e convidar a tom ar algo?
Ent o, ambos entr aram na t enda e se sentar am sobre bancos.
-E, ento, o que fazes por essas bandas, Al ionor? Caando? indagou Goraz.
-Estam os h m eses pro curando u m n inho. Absolutam ente sem sucesso.
-Verdade? Acho que p osso t e ajudar! Sabes, estou com um pris ioneiro. . . um rel igioso
kichetu. Sabe tudo sobre esses monstros horrveis, entendes? Demorei para captur- lo. esperto. . . mas me parece inofen sivo!
-Hum , interessante! Posso falar com ele?
-Fica com ele, se quiseres!
Ento o re i o lhou bem para o comerc iante e , sor r indo, d isse:
-Vejo que pareces estar mui t o bem , Goraz! Os negcios devem estar prosperando !
-, os gigantes pagam bem pelo resgate de cr iminosos tus, mas.. . sabes que meunegcio est condenado , no sabes?
-Cond enado? Como assim ?
-Quando aqu ela mur alha f icar pro nt a. .. bem, o velho Rei Nesto r diz que vai fechar oporto e nunca mais o abri r . No sei o que Sir ius enf iou na cabea dele! Bem.. . ento o meunegcio estar acabado e eu.. . estarei arruinado !
Goraz disse isso com bastant e dram at ic idade. Alionor , ainda r ind o, retru cou:
-
7/31/2019 A Ordem Do Dragao Dourado
17/41
-Ora, Goraz. O reino h d e inden iz- lo!
Ent o, o perspicaz negociante v isual izou a hora cert a de dar o bot e:
-Bem.. . estava pen sando num a indenizao especf ica em part icular. ..
Mas A l ionor percebeu a manobra. Imaginou que e le pedi r ia uma for tuna, como am etade do ouro do re ino, por exemplo. Ent re t anto , o que o comerc iante t inha em m ente eraum a co isa com pletament e d i ferente:
-Que espcie de indenizao? indagou o r ei .
-Armon! respondeu Goraz, de pronto .
Al ionor f icou bem olhand o para ele du rant e alguns segundo s. Depois as gargalhadasexplod i ram, enq uanto tent ava fa lar :
-Armo n? Que lou cura essa?
M as Goraz estrei tou o s olhos e encarou o assunt o m ui to ser iamen te:
-Armon, meu quer ido re i , f i ca deste lado das M ontanhas de Fogo. No queres ter umbaluar te de M i t rax no teu qu in t a l , queres?
Ent o Al ionor f icou sr io, quase i rado, e respondeu :
-Sabes mui to bem que Armon governado por anjos, Goraz. Anjos. Uma nicacent r ia deles daria cabo de t odo s os nossos exrci tos!
-M as h out ras manei ras. .. d isse o com erc iante , sor r indo, com um o lhar de quemsabia das coisas. Sabes, nessas min has andan as pela M esovngia... eu soub e de co isas...
-Que coisas? indagou o r ei , ainda sr io.
-Bem, sabes como a relao entre os anjos, no ? Uma coisa. . . bastantecom plexa... Cada um d eles quer algo di feren te. . . cada um d eles tem desejos di feren tes. ..desejos bastante arden tes, se que m e ent endes.
-Vai d i re to ao pont o, Goraz! d isse f i rmem ente A l ionor , quase dando um a ordem .
-Sabes, Batraal ando u fazendo coisas. .. coisas que cert ament e M itrax no aprovariae, se ele soub er. . . bem.. . ela sofre r m ui to , sabes?
-E com o sabes disso?
-Ah! No , no, no, no, no. Isso eu no p osso t e cont ar! M as.. . posso fazer algom elhor! Posso falar com a n ald e convenc-la a sai r de Ar m on. E, Al ionor, se eu f izer isso, m edarias o reino?
Al ionor o lhou desconf iadament e para o seu in ter locutor :
-No esto u acredi t ando m ui to n essa hist r ia!
-
7/31/2019 A Ordem Do Dragao Dourado
18/41
-M as no tens nada a perd er ! exclamou Goraz , abr indo os braos.
Ent o o Rei de Espadas, o Prim eiro, se levant ou m ajesto so e disse, esten dend o u m adas mo s:
-Se convenceres os mitraxianos a deixarem Armon, sem o derramamento de uma
gota d e sangue sequer, ou d aquela coisa t ran sparente qu e corre n as veias dos anjos, ent o t ecoroare i pessoalmente como o Rei de Armon . E mais: te const ru i re i um palc io no vo em fo lhaem Ar adis!
Goraz levantou-se tambm e aper tou a mo d o re i , d izendo:
-Negcio fechado !
E , ento, naquele d ia , aqueles homens se laram o des t ino do ex t remo nor te deBrenor .
#######
No f im da tarde, o re i sent iu vontade de caminhar para pensar , como era do seucostum e. Ento , sem que o d esejasse especif icament e, passou pert o d a carroa de Goraz, quetr azia a jaula. Estava distrado e o uviu u m a voz que assim d isse:
-A ira nun ca atrai coisas bo as!
Ent o, o re i se virou. Tinha cert eza que a voz viera d a carroa. Estava escuro, m as seaproximou e v iu, dentro da jaula, um gigante, com as mos amarradas. Estava vest ido comuma tnica de tecido grosso que lhe cobria todo o corpo e que t inha cores espalhafatosas:amar elo e ro xo, em estr ias i rregulares, embo ra a rou pa est ivesse desbot ada e suja. T inha u m avenda n os olhos e, logo, o rei percebeu , pelo jei to com que vi rava a face, que er a cego.
-O que disseste?
-Que a i ra pode for t a lecer demas iadamente o in im igo! torn ou a d izer o g igante.
-Sbias palavras disse o rei , diplom at icamen te. Quem s tu?
-Sou apenas um m estre k icheraz.
-Kicheraz? Ah, sim.. . um rel igioso k ichetu, um venerado r de k iches, no m esmo?
-Tent amo s entend-las, senhor. As k iches so cr iatur as m ui to incomp reend idas!
- Incompreendidas? indagou o re i , sor r indo, um tanto n ervosamente. O que se ha ent ender sobre aque les monstro s assassinos?
-H mui t o a se entender sobre elas, Grande Rei de Breno r. As k iches so f i lhas daFloresta Inf ini ta. Foram cr iadas por ela durant e a Guerra de At hlanda, quando as salamandr asqueimaram mi lhes de qu i lmet ros quadrados de f lo restas!
-Sim , e d a?
-
7/31/2019 A Ordem Do Dragao Dourado
19/41
-E da que as k iches som ent e tm um prop si to na v ida: prot eger as f lorestas!
A l ionor o lhou bem para o mest re tu e no pde de ixar de r i r . Depois f i cou sr ionovament e e , quase i rado, d isse o lhando f i rmem ente para o g igante:
-No acredi to nessa hist r ia! As k iches so m onstro s sanguinrios. J mat aram
indiscr iminadamente centenas, talvez mi lhares de brenorianos. Homens, mulheres e cr ianassem d ist ino!
-Indiscr iminadam ent e? disse, r indo, o k icheraz. Ah, no... no. Antes de executarqualquer v t ima, as k iches anal isam a sua alma, pois tm esse poder. Examinam o nt imo doespr i to das suas presas, pesando-lhes o passado, o presente e at o futuro, o qual podemtambm ver. Ento, di laceram o ser v ivente apenas se ele representa um r isco para asf lorestas.
-Con versa fiada! N o acredit o n essas cren as super sticiosas!
-Ah, um hom em sem f . . . A fa lta de f a inda te far sof rer , A lionor !
-Com o sabes que sou eu que estou diante d e t i? No s cego?
-Posso ser cego, pois no e nxergo com o o s hom ens. Essa venda opaca, nada de luzpassa por e la . M as posso ver m ui to m ais que os hom ens, majestoso re i ! Ento, e leaprox imou u m pouco m ais o ro sto , e se fez ver m elhor expondo-se l im i tada luz de poucosarchotes que por a l i se in f lamavam e completou : - No ser iam os hom ens os cegos? Noseriam aqueles que no enxergam as conseqncias dos seus atos a longo prazo aqueles querea lmente no vem?
-M as que viso essa que tran sforma m onstro s em b em -fei tor es?
-Examina os fato s, m ajestade. Pensa bem. Ref lete sobre quais foram os povoado s evi las que sofrer am at aques de k iches. Por acaso, no estavam construindo suas casas commadei ra?
A l ionor pensou e o lhou desconf iadament e para o mest re k iche:
-Por que fos te preso?
-Por ter d esobedec ido a um a n ica le i: o decreto rea l que probe que qualquer tuvenha a Brenor!
-Hum .. . sei . .. E por q ue d ecidiste desobedecer t al le i?
-Porq ue ten ho u m a misso a cump ri r em Bren or. Um a misso de.. . catequese!
-Con heces mu ito acer ca das kiches, no conh eces?
-Com o tod o m estre k icheraz.
-H meses v imos procurando um ninho.. . mas no conseguimos ach-lo! Se meajudares, providenciarei tua l ibertao!
-
7/31/2019 A Ordem Do Dragao Dourado
20/41
O tu pen sou por alguns segundo s, depois disse:
-Acei tarei vossa oferta, majestade. E, nesse meio tempo, podereis aprender umpou co mais sobr e as defensoras.. .
#######
Al ionor mandou sol tar o mestre k ichetu e, na manh seguinte, ele j andaval ivremente pelo acampamento, atraindo o olhar desconf iado dos cavalei ros. Mas era chegadoo m om ento do in cio do t re inam ento d e Rato Valente. Ento, nessa m anh enevoada, hav iam-no enf iado numa armadura e , agora, e le se encont rava amarrado por duas cordas. Ambasestavam atadas c in tur a da sua armadura. Uma de las estava f i rmem ente amarrada a um arvore, s suas costas. A outra se prend ia a um grosso f io d e k iche, atravs de um a argola defer ro , e o f io d e k iche era bastante com pr ido uns dez met ros mais ou m enos e at ravessavaum tapum e de madei ra co locado na ver t i cal , at ravs de um or i f cio , onde hav ia um a f igurars t i ca de um a k iche, p i tada sem mu i to esmero com um a t in ta escura. O f io de k iche estavaest icado, o qu e fazia com q ue Rato Valente sent isse um a trao que o p ressionava para f rent e.
Pssaro N egro, que estava ao lado d o r ecruta, disse, ao ent regar- lhe um a lana:
-Esse o pr imeiro passo no treinamento de um cavalei ro da Ordem do DragoDour ado. o que acontece qu ando caamo s kiches. Elas lanam os seus f ios e eles grudam nasnossas arm aduras. Ent o, som os violent ament e puxados. Tem os que estar prepar ados!
Ele disse isso da maneira mais sria que podia, mas os demais cavaleiros, queestavam reun idos em roda em torno , t inham qu e co locar as mos na boca para conter o r i so .Rato Valent e olhava o seu instru to r com um a cara de assustado.
-E... o que.. . eu vou ter que f azer? indagou ele, gaguejando .
- s segurar a lana!
E, ento, Pssaro Negro fez um sinal com a cabea para Tronco Deitado. Este estavacom um machado na mo e, imedia tam ente, cor tou v i r i lment e a corda que prendia o meninona rvore. Com o corte, o f io de k iche se contraiu e Rato Valente foi arremessadoviolentam ente para f ren te. Ele conseguiu segurar a lana por u ns t rs m etro s, m as essa v i rou ese f incou no cho. Ento, ele a sol tou e ela quicou no ar, passando sobre a cabea de LivroRasgado, logo aps ele se abaixar. Quant o a Rato Valent e, se esborrachou contr a o t apum e dem adeira e caiu para t rs, de costas no cho, tont o.
Todos explodiram em r isos, menos Pssaro Negro e Al ionor, lado a lado, que
olhavam tud o d iver t idamen te.- disse Pssaro Negro. Acho que o m enino leva jei to!
A l ionor deu- lhe um t apa no om bro e re t rucou:
-Ento treina-o bem!
Tronco Dei tado cor reu para a judar o rapaz a se levantar . Quando o co locou em p ,ouviu-o dizer:
-
7/31/2019 A Ordem Do Dragao Dourado
21/41
-No sei se con seguirei fazer isso! Sou u m fracasso!
-Fracasso? indagou Tronco Dei tado. Foi o melhor ar remesso q ue v i ! Nem largastea lana de cara!
Rato Valente olhou o companheiro intr igado. Depois, Tronco Dei tado se empolgou e
passou a falar al to, para qu e to dos ouvissem :-Ah, rapaz, precisavas ver o que aconteceu com Livro Rasgado nesse teste. Ele bateu
na m adeira de cabea pra baixo!
Todos r iram ao se lem brar do ep isdio.
-E Pssaro Negro , ento. Ele enf iou a cabea no bu raco da m adeira e f icamos meiahora tent ando t i rar e le de l!
- verdade! verdade! disseram t odos, r indo.
-E Joelho Esfolado, en to. No a to a que ele t em esse nom e!
- m esmo! disseram o s com panheiro s, r indo m ais ainda.
-E Lana Tort a! Ele... ele... bem ... ele no t em esse no m e po r causa desse te ste!
Ent o to dos explodiram num a gargalhada s. Livro Rasgado teve q ue segurar a panade tanto r i r . Joelho Esfolado ps a no na boca e se agachou para sufocar as gargalhadas.Irv ine f icou com a pele int ensament e esverdeada.
-Senho res disse o rei , ligei rament e mais sr io, se refer ind o a I rv ine, que t amb mobservada tudo, sor r indo, - h uma dam a presente!
#######
Mais tarde, Joelho Esfolado chamou Rato Valente para ajudar- lhe a ver i f icar ascondies de um a carroa.
-Ajuda-me a olhar em baixo da carroa, ver se no h vazam ento .
-Vazament o? indagou o rapaz. Por que essa car roa sempr e de ixada maislonge? O que t em nela?
-leo, garoto . leo! respondeu Joelho Esfolado, agachando -se e olhand o em baixoda carroa.
Depois se levantou e ergueu p arcialment e a lona que a cobria. Rato Valent e observouintr igado que a carroa estava abarrot ada de coisas que p areciam barr is. M as eram barr isest ranhos, po is eram c i l indros de fer ro , meno res que u m barr i l de madei ra , a lgo qu e jamaishav ia v isto antes. Out ra co isa in t r igante fo i a car roa. Ela tambm no era fe i ta d e m adei ra,m as um meta l qu e e le abso lu tament e desconhec ia .
-
7/31/2019 A Ordem Do Dragao Dourado
22/41
Enquanto isso, I rv ine, intr igada, observou o gigante que estava sentado no cho,longe de t odos, fazendo algo. Aprox imou-se e indagou:
-O qu e fazes?
O gigante parou por alguns instantes. Ergueu a cabea, mas no na di reo dela,como se quisesse a ouvir melhor. Ele t inha uma faca na mo, a qual usava para moldar umpedao de m adei ra.
-Um p fano respondeu e le .
-Sabes t ocar?
-Todo k icheraz o sabe respondeu e le , com o ros to vo l tado ao longe. Estou n ovigsimo ano de apren dizado da m sica k ichetu.
- Interessante disse a el fa, se sent ando no cho e cruzando as pernas. Nunca ouvim sica k ichet u!
O gigante sorr iu, sem nada d izer e cont inuando a fazer o seu tr abalho.
-Com o consegues ver? indagou ela, cur iosa com a venda espessa do t u.
-H os son s, os cheiros, o ven to ... e dep ois... eu vejo ... vejo as almas!
-Vs as almas? Quere s dizer qu e enxer gas o plan o astral?
-Oh respondeu, sor r indo, o re l ig ioso, - ve jo que sb ia s, pr incesa. Conheces aexistn cia do plano astr al !
-Por q ue m e chamas de pr incesa? perguntou I rv ine desconf iadamente.
-Por seres I rv ine, a t erceira dos f i lhos de Bhorgus!
A e l fa o lhou para um lado e para o out ro , para se cer t i f i car de que n ingum h av iaouv ido aqui lo .
-No digas a ningum , est bem ? Ningum sabe aqui quem eu sou!
-Com o quiseres. .. Irv ine! respond eu o gigante.
-Com o sabes quem eu sou?
Ent o, o k icheraz v irou -se para ela, mostr ando o seu ro sto pl ido e cheio de c icatr izese, o que quer que seja que t inh a por t r s da venda parecia de fato v- la. Assim , respon deu:
-Disse qu e enxer go as alm as, no ?
#######
-
7/31/2019 A Ordem Do Dragao Dourado
23/41
Algumas horas mais tarde, j abastecidos, deixaram a c idade, em comboio. Todosforam montados ou nas carroas, exceto o gigante, pois no havia montar ia para ele. Okicheraz indicou o caminho, dizendo que encontrar iam o ninho a noroeste. Assim, foram pelaest rada e tom aram o rum o nor t e , na pr imei ra b i furcao. Mas no hav iam percorr ido a indanem dez qu i lmet ros , quando encont raram um destacamento de gnomos, caminhandoalegremen te n a di reo oposta e cantando , com re des de caar borb oletas nas costas:
E um t rog lodrom n um tonel de vinho
O que ?
Kastu zl ia! Kastu zl ia!
E o luvart i que desdentado est?
Kastu zl ia! Kastu zl ia!
E, na frente da coluna de gnomos, estava o prprio Guldariar, o rei , parecendo fel izda v ida.
Ao v- los, os drages dourados det iveram os seus cavalos. Vista Grande,com prim indo os olhos, desabafou:
-Ora! Se no aquele sem-vergon ha do Guldariar!
O grande Al ionor, ao v- lo, desmontou incont inent i de seu cavalo e se apressou emlhe dar um ab rao, dizendo:
-Seu trat ante!
-Seu bas tardo! fo i a resposta do gnomo .
-O que fazes por aqui , Gul? As coisas esto to m on ton as assim l em Ftrea? indagou o rei , sorr indo.
-Ah, que nada! Mas um gnomo prec isa resp i rar um pouco de ar puro de vez emquan do! Estam os caando luvart i ! disse Guldariar, orgulho so de si mesmo . Depois olhou p araum lado e para out ro , e completou ba ixinho: - No va i contar m inha esposa, est bem ?
-E qu al a graa em caar luvart i?
-Ah, precisa ver a car inha deles dentr o dessas redes! e levantou a red e que levavas costas.
Ent o foi a vez de Al ionor olhar a sua vol t a e, imed iatam ente aps, disse:
-Preciso f alar um a coisa cont ido. . . em par t icular!
-
7/31/2019 A Ordem Do Dragao Dourado
24/41
Assim, saram, os dois reis, da estrada e se posic ionaram atrs de uma moi ta paraconversar sobre coisas de estado . Nesse m eio te m po, Pssaro N egro ent regou u m papel a RatoValente, contendo u m esboo que f i zera most rando as presas de um a k iche. M as, antes defalar sobre isso, disse:
-Os drages dour ados tm duas grandes regras.
M as Rato Valente j ouvira a pr incipal delas:
-Nunca de ixar um companh ei ro para t rs reci t ou o rap az.
-Sim! M as h um a out r a cont inuou Pssaro Negro: - Nunca so l tar a lana!
Rato Valent e pensou du rant e alguns instantes. Depois acenou com a cabea dando aentender que hav ia com preendido. Depois o lhou p ara o papel e seu ins t ru tor cont inuou a au la :
-V: as k iches machos possuem quatro pares de presas. As maiores, com setentacentmetros de comprimento no cortam, so fei tas para segurar a v t ima. Mas so fortes e
pod em at amassar um a armadura esmagando o cavalei ro. Por isso, nossas arm aduras sopesadas e possuem casco duplo! Abaixo das presas maiores esto as duas duplas de presasdentadas. Essas so af iadas e podem tranqui lamente retalhar qualquer animal . So comotesouras que cor tam at osso como mante iga! Mas as duas duplas no tm mov imentoindep enden te. Se tu t ravares um a delas, a out ra dupla tam bm pra de se m exer. Os gigantesusam um objet o, um t ipo de c i l indro de m adeira, para bot ar ent re essas presas, para im obi l iz-las. O no m e desse o bjeto . .. . ..
Rato Valente es tava impress ionado e ouv ia tudo atentamente. Mas o mest rekicheraz tam bm estava ouvind o e, ao perceber a di f iculdade de Pssaro Negro em lemb rar onom e do ob je to , d isse:
-Kot ra. O objeto se cham a kotra.
Pssaro N egro f icou em silncio duran te alguns instant es, olhand o desconf iadam entepara o gigante. Depois cont inuou .
-Agora, as pr esas super iore s. Na m inh a opin io, so as pior es. So m eno res, mas soper furantes e cor tam qualquer co isa. E, quando um a k iche segura um hom em, essas presasf icam n a al tura do rosto. Ent o, elas retalham os nossos elmos. E, se t iveres sem elm o, bem ...
Rato Valente olhou para o mestre k ichetu e v iu as marcas no seu rosto. Ele no eraum hom em, m as um g igante. Contu do, mesmo assim, Rato Valente im aginou que as presas
super iores tambm at ing ir iam o ros to de u m g igante, ta lvez de form a a inda mais d i re ta que nocaso de hu m anos.
-E um a kiche cont inuou o inst ru t or no lana a sua te ia a par t i r do abdm en,com o fazem as out ras aranhas. O f io sai bem d o m eio das presas superiores. Ent o para lque somo s puxado s!
-E o veneno? Sai de ond e? indagou o jovem drago.
-
7/31/2019 A Ordem Do Dragao Dourado
25/41
-
7/31/2019 A Ordem Do Dragao Dourado
26/41
-Bem.. . no m om ent o. . . apenas... amizade!
-Amizade? exclamou Guldar iar , um t anto ind ignado. Depois andou para um lado,andou para o o ut ro e , ento, a je itou as calas, cusp iu na pa lma da m o e a es tendeu a A l ionor ,dizendo:
-s mui t o convincent e, senhor Rei de Espadas! Negcio fechado!A l ionor sor r iu e aper tou a mo do gnomo:
-Negcio fechado !
#######
No d ia seguinte, estavam avanando pelo caminho indicado pelo gigante. Ele estavadando os l t imos acabamentos no seu p fano, usando um pequeno canivete e, de vez emquan do, assoprava, sem que um nico som fo sse ouvido .
E, pouco antes da hora do a lmoo, apareceu o pr imei ro m onst ro . Um k iche m acho,com m anchas am arelas. Seguiu o com boio, desl izando -se sobre u m a elevao, que ladeava aestrada. Em princpio no o perceberam , pois as k iches so m ui to s ilenciosas e fu rt ivas. M as,logo, o m estre k ichetu ergueu a cabea, e disse:
-H uma presena entre n s!
E, imedia tamente, e la pu lou na f rente d o com boio, erguendo-se ameaadoramentenos seus t rs met ros de a l tura , aparentement e i rada. Ento, tudo aconteceu m ui to rp ido:
Al ionor, Livro Rasgado e I rv ine v inham na frente. Ao se depararem com o monstro,to dos os seus cavalos se assustaram e em pinaram . Eles sabiam q ue a m elhor coisa, nessa
circunstncia era no perm anecer m ont ado. Assim , deixaram -se cair no cho e ro laram para seabrigar o mais rpido que conseguiram. A k iche, por sua vez, projetou a sua teia e puxouviolentam ente o cavalo de Livro Rasgado, estraalhando -o nas m andbulas.
Todos desmontaram o mais rapidamente possvel e procuraram lanas e arcos.Pssaro Negro imediatamente ret i rou a lona de sobre a carroa de armas. Horcioest ra tegi cam en te se escondeu po r t rs de um a g rande pedra . Um a das car roas dem ant im ent os v i rou qu ando os cavalos se assustaram , aum ent ando a confuso.
Em meio ao tumul to , a k iche procurou por aquele que t inha o corao maisamedrontado: Rato Valente, que estava desorientado, sem saber o que fazer. Assim, ela
pro je tou novamente a sua te ia , at ing indo-o em cheio . Ento, puxou e e le voou pe lo ar . M as,antes de at ingi r as m andbulas do anim al , conseguiu agarrar um escudo e foi este que at ingiu akiche, bem na al tura dos olhos. Surpreendido, o animal o largou. Rato Valente caiuviolentamente no cho, a dois metros do inseto gigante, mas este estava enfurecido e part iupara c ima do rapaz, no se detend o m esmo quando I rv ine lhe espetou um a f lecha num dosolhos.
-
7/31/2019 A Ordem Do Dragao Dourado
27/41
Enquanto i sso acontec ia , um a par te dos cava le i ros vest ia armadurasapressadamente, enquanto outros, portando lanas, tentavam organizar um meio crculo emtorn o d o an im al para espet- lo .
M as a k iche se moveu t o rpido q ue fechou suas presas m aiores em to rno d e RatoValente. Mas esse, por puro ref lexo, conseguiu colocar o escuro entre ele e o monstro, de
for m a que este abocanhou , na verdade, esse objeto . Ent o o ergueu , mas Rato Valent e no oso l tou - sua m o estava presa - e fo i ergu ido junto . I rv ine j t inha out ra f lecha na m i ra , mashes itou em at i rar , com m edo de at ing ir o rapaz.
Os hom ens passaram a espet ar o animal , m as esse estava enlouq uecido e, com suasoi to patas, dava golpe nos cavalei ros, jogando-os longe. Ao mesmo tempo, v i ravav io lentamente a cabea de um lado para o out ro , sacudindo Rato Valente junto . A lionor , com asua espada, corto u um a das pernas da aranha, mas outr a das suas patas o jo gou longe.
Ento, f ina lmente, o mo nst ro largou o escudo, pro je tando-o longe com Rato Valentejun t o . Est e veio a se ch ocar co n t ra um a r vo re e f ico u desfal eci do .
I rv ine inut i l izou mais dois olhos da cr iatura e, nesse meio tempo, Livro Rasgado eTronco Dei tado , os mais rpidos, j haviam vest ido as suas armadu ras e se po sic ionavam comsuas lanas na frente da k iche. Ento, passaram a bater fortemente sobre o pei to de suasarmaduras, com a mo esquerda fechada, onde havia a f igura estampada de um dragodou rado, fazendo grand e barulho, para atrai r o animal , gr itand o coisas com o:
-Hei , seu b icho no jento . Vem enf rentar quem pode cont igo! Vem enf rentar umdrago dourado!
E, de fat o, a kiche paro u. Foi at rada pelas suas vozes e passou a exam in-los, com osolho s que ainda lhe restavam.
Nos dois segundos em que o exame se deu, Tronco Dei tado e Livro Rasgado seolharam, abaixaram as vise i ras dos e lmos, enquanto d isseram ao mesmo tem po:
-Doze a doze!
E se v i raram para o monstro, posic ionando suas lanas. E, se o lei tor fosse umdaqueles drages dourados, ter ia sent ido o que eles sent i ram. Pois eles sent i ram como se otempo parasse, como se t ivessem diante dos portes do inferno. Sent i ram os seus coraesapert ados no pei t o, quase querend o sair pela boca. Sent i r am-se como se est ivessem beira deum precipc io e a queda estava al i , esprei tando-os, enquanto o s i lncio da v ida suspensa os
acariciava e seduzia.E, ento, a kiche disparou o lt imo fio da sua existncia. Esse atingiu Livro Rasgado
bem no pe i to e , menos de um segundo depo is, j estava ent re as mandbu las do mo nst ro , quese cont orcia e guinchava, ao ter a lana lhe varado a cabea, bem ent re os olhos.
Livro Rasgado revolveu a lana no inter ior do monstro com raiva, enquanto que akiche ten tava i r para t r s, t ro peando n as coisas, para se salvar, e o cavaleiro gr i tava:
-
7/31/2019 A Ordem Do Dragao Dourado
28/41
-M orre, sua desgraada! M orr e, coisa nojen ta!
Ento, f ina lment e, a k iche se encolheu e aquie tou, parecendo m ui to m enor do querealmente era. Livro Rasgado caiu dei tado de costas no cho, cheio de sangue de k iche,resmungado:
-Ah, que coisa nojent a! Que coisa nojent a!T ronco Dei tado lhe es tendeu a mo e o puxou novamente para f i car em p,
rec lamando:
-Droga! Agora s o camp eo! Treze a doze!
Al ionor correu para junto de Rato Valente. Vista Grande j o segurava, tentandom anter sua cabea levantada, de ond e escorr ia mu i to sangue. O rapaz estava inconscient e eVista Grande inform ou, af l ito :
-Talvez ten ha quebr ado o pescoo, com andant e!
Fo i somente ento que Meissa apareceu, andando t ranqui lamente a t ravs daconfu so. Ao v- la, o rei im ediatam ent e se ps de p e quase gr i to u no seu ouvido :
-Onde estavas?
Ela nem se d ignou a o lhar para o re i , cont inuando a andar e parando per t o do corpoda kiche, dizendo :
-J v i que n o posso te deixar um m inuto sozinho !
Ela tocou o monstro, para se cert i f icar que realmente estava morto. Al ionor olhoubem para as costas dela e acrescent ou:
-Sabias que isso ia acontecer, no sabias? Por isso chamaste Rato Valente dena t im or to ! Por qu e no m e disseste?
Ela se levantou , olhou rapidam ent e para ele e disse:
-E adiant aria algum a coisa?
Depois se afasto u no vament e.
Al ionor a v iu se distanciar e, ento, com dio nos olhos, praguejou:
-M ald ita te t rav iso!
#######
Mas Rato Valente no morreu. Os remdios l f icos so poderosos e I rv ine cuidoudele. M as, na manh seguinte, quand o Irv ine e vr ios cavalei ros estavam sob a tenda d o rei , aolado de Rato Valente , que havia s ido l instalado e que j abr ia os olhos, ouviram o soar deum a t rom be ta .
-
7/31/2019 A Ordem Do Dragao Dourado
29/41
-El fos! exclamo u Livro Rasgado.
E a t rom beta soou d e novo.
-E essa no uma t rom beta qualquer d isse profe t i camente V ista Grande. at rom be ta de A lb ion !
-O que ele faz aqui? indagou, mais para si que para os out ros, Al ionor, com u msorr iso no s lbios.
M as Irv ine no sorr iu. Antes, f icou apreensiva.
Incont ine nt i , o rei saiu da ten da, acom panhad o pelos comp anheiros. O prncipe l f icoj est av a l no desca m pad o o nde par ar am na no it e an t er io r , aco m pan had o po r al gu m asdezenas de el fos arqu eiros, m ont ados em cavalos. Ao ver Al iono r, abr iu o s braos e disse:
- I rmo!
A l ionor cor reu e o abraou for t ement e, d izendo:
-Seu tr atant e de um a f iga!
Albion era um el fo no tus, jovem e fo rte, com longos cabelos brancos e l isos.
-Hei d isse e le , - prec isamos provocar mais a lgum as sa lamandr as, estou comsaudades dos tem pos de guerra, quando lutvamo s lado a lado!
-Vamo s invadi r Dracmal i , ento! re t rucou o re i , br incando.
Logo, um drago verde p ousou logo al i , a poucos passos do r ei e do p rncipe e outr oel fo sal tou dele. O drago estava coberto por diversos pedaos de tecidos color idos e f i tas,
dando- lhe um a aparncia b izar ra e chamat iva. O e l fo que lhe m ontava era M ordar ion, o i rm ode Albion, segundo na sucesso do tro no d e Karnevion .
A l ionor tambm o saudou, levantando os braos:
-Salve, M ord arion!
E, ento , os tr s se abraaram .
-Vamos entrar e t om ar algum a coisa! exclamo u o Rei de Espadas.
-No podemo s d isse A lb ion, - estamo s com pressa!
-Pressa? Ora! O qu e viestes fazer p or aqu i?
-Procuramos nossa i rm d isse M ordar ion. Ela se perdeu dos pr imos no mui tolonge daqui . Podes nos ajud ar, i rmo?
-Vossa irm ? Eu n em sabia que t nheis um a!
-
7/31/2019 A Ordem Do Dragao Dourado
30/41
-Ela mais nova que ns expl icou A lb ion. No tem nem cem anos! Por acaso noa viste ?
-No, i rmos. Uma el fa nos acompan ha e no s ajuda. M as Irv ine no.. .
Al ionor i r ia falar sobre I rv ine, mas quando os el fos ouviram o nome dela, o
in ter romperam, gr i tando:-Irvin e? essa!
O rei f icou alguns segundo s em silncio, piscando e pensando. Depois, ps as mosna cintura, olhou para o cho, olhou para o cu e suspirou. Depois, de boca aberta, tentouindagar:
- I rv ine? Ent o.. . quer dizer. .. A I rv ine. .. Quer dizer que Irv ine vossa i rm ? Fi lha deBhorgus, o rei do s el fos?
A lb ion o o lhou ser iament e e respondeu:
-Sim , essa m esma!
-Essa boa! exclamo u o rei , incrdulo.
Depois de pensar m ais um pou co, disse a Vista Grand e:
-Vista Grande, vai chamar a I rv ine!
-Senho r, ela j no est mais na ten da expl icou calmam ent e o ancio. Eu a v i sai rdepo is de n s, ent rando al i na f loresta.
M ordar ion o lhou p ara o i rmo e d isse:
-Tem os que lev-la, Albion!
Al ionor estendeu o s braos na di reo aos el fos e declarou:
-Deixai . Eu a encont ro! e saiu na di reo indicada por Vista Grande.
Aps alguns m eses em campanh a pela Ordem , o rei j a conhecia bem . Sabia que e laestar ia sobre uma al ta rvore, esprei tando tudo. Ento, caminhou em si lncio e com osouv idos apurados. Quando ou v iu um baru lho m ui to sut i l , o lhou para c ima e v iu a lgo qu e sem exera e acabara de parar. Ent o, comeou a escalar um a rvore.
Subiu, subiu mui to al to. Ela sabia que no poderia se mexer, do contrr io revelar iasua posio. Mas, quando estava j a v inte metros de al tura, conseguiu ver algo entre osgalhos. Um a coisa. .. di feren te.
-Vai embo ra! d isse e la .
A voz no soava com a de Irv ine, e tambm a aparncia no era a dela. Estavaescondida entre os galhos, bem mais al to que o rei , mas Al ionor podia ver que t inha cabelosm ais curto s e parecia m enor .
-
7/31/2019 A Ordem Do Dragao Dourado
31/41
- Irv ine? indagou o re i .
-No sou Irv ine disse aquela voz, que parecia de um a garot a. Ela me disse quevol tar ia logo!
A l ionor sub iu m ais um pouco e a observou m elhor . M as no po der ia sub i r m ais, po is
os galhos j estavam b em f inos. Aquela el fa que estava sobre o s galhos parecia um a men ina deuns dez ou doze anos, que pro curava esconder o r os to com um a das mos, o lhando em out radireo.
-s Irvine, no s?
-No! M eu nom e .. . Nerah!
- Irv ine.. . teus i rmos te procuram! No s uma dr ade ainda, no m esmo ?
O corao da el fa palpi tava. Ela tambm conhecia Al ionor mui to bem, o suf ic ientepara am-lo, e ela no queria que ele a v isse como uma breas, com a aparncia de uma
m enina, e sim com o um a mu lher dese jve l .
M as, ao o lhar para e la, ao ver aquela menina que parec ia chorar , o corao do r e itam bm b ateu d i ferente. Apareceu um sent im ento que absolu tamente e le no comp reendia .Um mis to de t ernura, patern idade e. .. redeno.
-Ouvi , Irv ine. Se no vieres at m im, eu vou subir !
A e l fa hesi tou e A l ionor comeou a sub i r .
Ela sabia que ele no se deter ia e acabaria quebrando um galho, despencando dasal turas. M as um a el fa breas pod e voar. E foi o que ela fez.
Invocou o s ventos. E se lanou no ar. De braos aberto s.
Caiu a lguns met ros , enquanto o re i se v i rava para observ-la . Depois se e levouvelozment e e se foi po r c ima do do ssel .
M as, antes de seguir v iagem, acabou p assando por c ima da c larei ra e foi v ista pelosi rmos.
-Nerah ! g r it ou A lb i on .
M ordar ion passou a cam inhar rp ido em d i reo ao dr ago, d izendo:
-Deixa que a p ego!
De um sal to, mo nt ou sobre o anim al ondino e se lanou ao v o. E os drages verdesl f icos so os mais rpidos e geis do mundo. Ento, rapidamente, j estava no encalo daprincesa lf ica.
M as ela era rpida e habi l idosa. Assim , num a sucesso r pida de desvios e pi ruet as,no permit iu que o i rmo a apanhasse no ar. At que conseguiu at ingi r uma rea de f loresta
-
7/31/2019 A Ordem Do Dragao Dourado
32/41
densa, desaparecendo por ent re as rvores . E M ordar ion tamb m conhecia bem a sua irm esabia que, naqu ele local, jamais a acharia.
Ent o, refreou a m ont ar ia e, ainda no ar, se retesou sobre o d rago, dizendo para s im esm o:
-O sangue de Athlo n corre fo rte em tu as veias, querida i rm!#######
M ais do is d ias se passaram, enquanto a comp anhia seguia o caminho determ inadopelo mestre k ichetu. De vez em quando, ele soprava o seu p fano, depois f icava em si lncio,escut ando algo que absolutam ent e no podia ser ouvido . Depois indicava o caminho .
-Vamo s por aqui d izia .
As est radas j hav iam f i cado para t rs. Ento, f reqentem ente t inham que abr i rpicadas por entr e a f loresta. M as o gigante aconselhara a no derr ubar rvo re alguma. Ent o,
o avano era lento .
E foi no t erceiro dia que ele apareceu. Ningum sabe com o ele achou o grup o, mas,num a tarde, de repente, logo aps armarem acampam ento, Si r ius apareceu na t enda do re i .
Surpreendido, o rei no soube o que lhe dizer, mas o mago sorr iu, por t rs de suabarba cinzenta, indagando :
-Ainda no enjo aste d e caar?
-Sirius! O qu e fazes aqu i?
-Vim rever os amigos. M as no posso f icar mu i to!
-Retornas te d i re to d a M ura lha?
-Sim . Devias estar l, Rei de Bren or , e no aqu i, caando fer as.
-Sirius, sabes qu e e u...
-Ora, A lionor in ter rom peu o m ago, m i rando o re i bem nos o lhos. Sabes que pod esdeixar essa t arefa a cargo d e Livro Rasgado. Ele com pet ent e o suf ic ient e para isso.
M as o rei no qu eria nem f alar sobr e isso.
-Com o esto as coisas por l?
-J temos f luxo telr ico o suf ic iente ao longo de cem qui lmetros para odeslocamento dos blocos. Queria qu e visses aqui lo!
-Ver o que? As pedras voarem? No. .. pre f i ro poupar o meu povo do sof r iment o!
-No poders mais poupar o povo do sofr imento se pereceres nas mandbulas deum a kiche! disse o mago, agora parecendo j m eio zangado.
-
7/31/2019 A Ordem Do Dragao Dourado
33/41
-Sir ius.. . j matam os dezenas de kiches machos.. . e du as fmeas!
-M as elas estavam em seus ninho s, no ? Uma kiche fm ea no ninh o vulnervel . ..Agora, o que far ias, Alionor , se t ivesses que enf rent ar um a fmea em campo aber to ?
O m ago d isse aqui lo de t a l form a que de ixou o re i l i ge i ramente desconcer tado. M as
ele pensou durant e poucos segundo s e respon deu:-Usaria o drago!
-H! O drago! zombou o m ago. E como sabes que va i func ionar?
-Belial me garant iu qu e.. .
-Ah! Be l ia l ! in ter rom peu novamente Si r ius, o lhando para o a l to , demonst randoimpac incia . Um anjo conhec ido m undia lmente pe la fa l ta de ser iedade!
-Sei qu e ele d isse a ver dad e, Sirius.
-E pretendes apostar a tua v ida n isso, no ? indagou o m ago, de form adesconcer tante .
Al ionor f icou olhando-o por alguns segundos. Mais uma vez, o mago de Lumeraeparecia o seu pai . M as, de repen te, o m ago abaixou a cabea, seguro u f i rm e o cajado e se psa andar de um lado para o out ro , parecendo preocupado.
-Sabes? Vim t e d izer algo...
-O que ?
-Falei com M itrax. . . confessou, em voz baixa.
-M i t rax? gr i tou o re i . Que h istr ia essa?
-A voz dele. . . tem surgido d e vez em quan do n a min ha cabea...
-Como?
-Fizem os o acordo , Al iono r!
-Acordo?
-Sim! gr i tou o mago, levantando novamente a voz , parecendo de novo i r r i tado. Oacordo para a constru o da M uralha! Eu te disse que precisaramos da perm isso dele! AM uralha deve chegar ala nor te das M ont anhas de Fogo, Al ionor, atravessando o s seusdomnios!
-E quais foram os term os desse acordo? pergun tou o rei , desconf iado.
-Ele quer qu e instalemo s um Orculo. . . em Dracmal i .
-
7/31/2019 A Ordem Do Dragao Dourado
34/41
-Em Dracmal i? Um Or culo. .. na po sse de M itrax e. . . das salamand ras? Por que noem Promethea?
Sir ius estre i tou o s olhos, parecendo olhar para longe, ent o, disse pausadament e:
-Aparentemente Mitrax no conf ia em seus anjos. . . Depois, ele quer que o Orculo
controle o acesso ao Fogo Azul . Ele no quer que outros anjos tenham o mesmo dest ino deAzaziel...
-Oh, mu i to hum ano da par te de le ! i ron izou A l ionor . E, para isso, vamos co locarum orcu lo nas mo s... nas patas das salaman dr as!
-As salamandr as no t ero o cont role do Orculo! So m ui to est pidas para deci f raros cdigos elaborad os pessoalm ent e pelo Arcanjo Gabriel . M as elas pro tegero o acesso a ele,impedindo qualquer aventure i ro de a t i v- lo !
-Lemb ra-me de m andar um presente para e las, ento!
Vendo que o re i no se convencera, Si r ius acabou sor r indo e deu um tapa no om brodo re i .
-Ouvi , Grande Rei dos Homens, somente um mago treinado nos Doze Ensinamentospod e deci f rar aqueles cdigos. Estar seguro! Ento , colocou as duas mo s sobr e a cabeapet r i f icada da serpen te qu e const i tua o seu cajado e com pletou com vo z suave:
-Par t ir e i em um m s pa ra o no r te . Dos v in te e t rs m i l t r o l ls que t rabalham naconstruo, levarei mi l e ou tro t ant o de gigantes, cedidos por Nestor. E levarei quant os magospud er, incluindo M eissa.
-Boa v iagem! exclamou o r e i , c ruzando os braos, em at i tude que qu em n o
cont r ibu i r ia em nada com a v iagem do mago.
Sir ius observou o seu pupi lo dur ante alguns segundos, depois, desabafou:
-Esquece M eissa, Alionor . Ela te f az mal.
-Gostas dela, no , Sir ius? indagou o r ei , suspirando.
-Ests vendo es te ca jado? perguntou o m ago, mo st rando o seu ob je to m gico. Dizem que um mago nasce des t inado a um mn imo pedao do Universo, um pedao queref let e a sua alma... E M eissa foi dest inada o utr a parte deste ob jeto! Nossas almas estoent relaadas, Al ionor. A fora que no s une . . . descomun al .. . sobre-hum ana... agora, Sir ius
olhava o nada, alm d e qualqu er objet o m ater ial . Nossos dest ino s.. . inseparveis para to do osemp re! Amo -a, A l ionor , amo-a de for ma que es t a lm do pr pr io ar rebatament o, a lgo mui tom ais inten so do que pode im aginar qualquer ser hum ano. Ficar desprovido dela ser ia. .. ser iacom o parar de respirar. . . ser ia como u m supl cio etern o, incom ensuravelmen te insuport vel .. .
Durant e a fala do m ago, Al ionor p erm aneceu olhando para out ro lado. Sofr ia. Estavasem ar. Sent ia um sufoco incom ensuravelmen te insupo rtvel .
-
7/31/2019 A Ordem Do Dragao Dourado
35/41
Sir ius percebeu o sofr imento do seu aprendiz, mas no podia mensurar a suaintensidade.
-Devias te casar, Al ionor . Encont rar um a moa que pudesse amar-t e sincerament e eque te d esse f i lhos!
Al ionor estava sentado numa almofada, olhando para o outro lado. Ps-se a fazerdesenhos com o dedo , aleator iam ente, r iscando a terra. M as ele j havia to m ado um a deciso:
-Sir ius.. . Achas que poder ia casar-me com um a el fa?
O mago f icou com as orelhas em p.
-Uma el fa? Bem.. . acredi to que sim .. .
-E se essa elfa fo sse... a f i lha d e Bho rgus?
Sir ius arregalou os olh os e sorr iu. Depo is de uns t rs segund os, f inalment e disse:
-Esplnd ido, Al ionor! Teramo s uma sl ida al iana com Karnevion!
A l ionor tent ou sor r i r tambm . M as como sor r i r , se o seu corao estava em p edaos?
#######
Dal i a dois dias, o com boio avanava pela p radaria. J haviam deixado a F loresta deBarra tas e ent rado no Ducado de M armr ea, estando a meno s de c inqent a qui lmet ros aosul do Rio Mgion. O terreno t inha mui tos al tos e baixos, formado por pequenas col inas,cheias de pedr as. Assim , as carroas avanavam lent amen te.
Ent o, sem que ningu m t ivesse v isto, o m estre k ichetu pareceu ou vir algo. Sabia que
estavam p er to . Assim, t i rou um a nota longa e p rofunda de seu p fano. Um som audve l , m asque t inha uma componente secreta. Depois, ps-se a ouvir novamente. E o que ele ouviu,mesmo no sendo audvel aos ouvidos humanos, gelar ia o corao de qualquer ser v ivente.Assim, ele soube, naquele m om ent o, que a sua misso estava quase cum prida.
E, aparecendo do nad a, sem p rod uzir qu alquer som, po r t r s de um a col ina, elevou-se, repent inamente, uma kiche fmea, adornada por l is t ras amarelas. As pernas surgi rampr imei ro . Depois, seu g igantesco corpo se e levou a v in te met ros de a l tura , bem d iante doscavaleiros.
Os cavalos empinaram. Os cavalei ros correram at a carroa de armas e t i raram a
lona, revelando dezenas de armaduras, elmos e lanas. Al ionor permaneceu no cavalo ecomeou a dar or dens:
-Prot egei-vos! Nada d e crculo d e lanceiros. Preparai o drago!
Ento, t i rou a espada nuai da c intura, preparando-se para tentar cortar os f ios quefossem lanados, em bor a no esperava que t ivesse sucesso n essa em prei t ada.
-
7/31/2019 A Ordem Do Dragao Dourado
36/41
-
7/31/2019 A Ordem Do Dragao Dourado
37/41
-
7/31/2019 A Ordem Do Dragao Dourado
38/41
Imediatamente, sent iu o baque. Um baque surdo, mas.. . estranhamente macio. Etam bm sent iu que uma mo lhe agarrava f i rmem ente na nuca pe la roupa e, a inda, ouv iu um avoz:
-Segura-te em mim !
Abriu os olhos, confuso, e v iu, diante de s i , a parte infer ior das costas de algum.Virou o s olhos m ais para c ima e v iu o ro sto de Irv ine.
-Rpido! exclamou e la , com um ar de preocupada.
Foi somente en to, com um ar rep io no es tm ago, que percebeu que es tava sobre odor so de um drago verde. I rv ine fazia um a curva e, l em b aixo, t ravava-se a batalha ent re akiche e o drago dour ado.. .
. ..pois Rato Valent e havia pulado para c ima da carroa e subst i tu do o rei . Pegara ato cha e acendera o pavio.
Com o corao em pedaos, com lgr imas a lhe ro lar abundantem ente, pensandoque o re i hav ia par t ido para o m undo dos mor t os , Liv ro Rasgado contou:
-Um ... do is... trs... qu atro ... cinco...
Ento, o drago explodiu, lanando uma enorme labareda, assim que o pr imeiroton el estourara.
-A juda-me aqui , garoto ! gr i tou Liv ro Rasgado, cor rendo at uma alavanca ecomeando a bom be- la .
Rato Valente se junt ou a ele. Na verdade o subst i tuiu, pois, confo rm e os to nis iam
explodindo, fazendo com que o c i l indro projetasse outras labaredas, Livro Rasgado foico locando out ros bar r i s dent ro do pent e.
Enqu anto isso, out ros cavalei ros passaram a at i rar f lechas em cham as.
Enquanto isso, Meissa se posic ionava sob a aranha, v i rando-se de frente para odrago, abr indo o s braos, fechando o s olhos, e gr i tando em d elei te:
-Ressurrect io Im m ort al is!
No se sabe se foram aquelas palavras, mas.. . nenh um raio ou encantam ent o saiu deseu cajado. Apenas um a coisa aconteceu: A k iche dob rou o seu abdm en e saliento u o fer ro,
que ve io descendo, at a t ravessar o m eio do t ronco da m aga. O seu pe i to se encheu de sanguemas ela, antes de agonizar em dor, sorr iu, como se o veneno que a inundara lhe desse umprazer incomensurvel .
Tronco Dei tado se juntara a Rato Valente na manivela da bomba. Ela parecia umagangorra e cada um mo v imento u um a ext rem idade. Aquela bomba pro je tou leo em d i reo akiche, at ingindo-a. E o fogo foi logo atrs, incendiand o-a.
-
7/31/2019 A Ordem Do Dragao Dourado
39/41
O mon st ro gu inchou e se contorceu. Elevou inst in t i vament e novamente o abdm en.M as Meissa havia f icado enganchada no fer ro. Ento se elevou ju nto e, como aind a sorr isse emant ivesse abertos os braos, parecia voar, enquanto rodava vagarosamente em torno doferro , at f icar d e cabea para baixo, com o se est ivesse cruci f icada.
Mas a cabea do aracndeo es tava em chamas e no demorou mui to para que
despencasse e se encolhesse, guinchando de d or.
Vendo aqui lo, os cavalei ros f icaram em si lncio por alguns segundos. Depois, cadaum deles d isse um impropr io :
-D iabos! O drago func ionou! mu rm urou T ronco Dei tado.
-Obrigado, Bel ial. Seu anjo m aldi to! balbuciou Vista Grande.
Mas Livro Rasgado, que chorava e soluava pela suposta morte do rei , t remendo,gr i tou:
-M orre , monst ro dos in fernos ! Mo rre !
#######
no i te , aps mo ntarem acampam ento no vamente, A l ionor estava d iante do g igante,que se preparava para part i r .
-O ninho est nas imediaes. Uma kiche fmea nunca se distancia mui to delequando h ovos.
-Eu sei d isse o re i . M ui to ob r igado!
-Agora, devo vol tar a Tu e me entregar s autor idades. Minha misso estcumpr ida!
-Tua m isso n o era de catequese?
-Sim d isse o g igante cego, d i recionando a face para o cu. Um a misso decatequese: falar ao Grande Rei do s Homen s a respei to das f lorestas!
Ent o o gigant e se virou, m as disse ainda:
-Adeus, Rei de Espadas!
-Boa viagem ! desejou-lhe, ainda, o rei .
Ento, Al ionor observou o tu se afastando. Ele caminhava um tanto hesi tante, masde manei ra e f i c iente . Ass im, o re i f i cou imaginando como um cego poder ia andar daquelafo rm a .
Logo, I rv ine apareceu ao seu lado . Al ionor se v i rou e a ob servou. Viu q ue ela haviaajei tado o cabelo, prendendo parte dele na nuca, moda dos el fos. E havia algo di ferente nasua f is ionomia. Havia se pintado? No sabia ao certo. Mas achou que ela estava l inda. E
-
7/31/2019 A Ordem Do Dragao Dourado
40/41
estava.. . di ferente. Parecia mais madura. Parecia uma drade formada, mui to di ferentedaquela menina breas, insegura e amedrontada, que encont rara sobre o l t imo ga lhopossvel daqu ela rvore.
-Ela vai f icar boa disse a el fa, refer indo -se a M eissa. Estr anho esses ferr es dekiches.. . eles parecem desviar-se dos rgos v i tais. Sol tam o seu veneno na carne e n o sangue,
sem afet ar os rgos.. . M ord arion m e disse, um a vez, que as k iches no p icam as suas vt im aspara m at- las, mas para convert- las.. .
A l ionor n o estava prestando m ui to at eno no q ue ela dizia. Estava preocupado emcomo i r ia propor o casamento .
. ..mas no sei o qu e isso signi f ica! cont inuou ela, sem olhar p ara os olhos do rei .
-Sent i t ua fa l ta ! d isse A l ionor , f ina lment e.
- d isse e la , ar r i scando u ma o lhadela t m ida. No acer taram um a n ica f lecha,no fo i?
Ela tent ou sorr i r , mas no conseguiu. O rei abr iu a b oca para dizer- lhe algo, mas elacont inuou:
-Precisamo s nos despedir agora, devo part i r !
-Part ir? Por qu e? Fiz algo q ue...
-No, meu re i d isse e la , o lhando- lhe nos o lhos. Fostes sempr e m aravi lhoso! M as. .. en t o , um a pau sa. Fal ei co m m eus i rm o s. No fo i a t o a qu e ele s v ie ram at rs de m im . AM uralha vai div idi r no ssos dom nios em dois. H r ixas entre o s cls e um a cr ise se aproxima.
- Ins ist i com Bhorgos para a const ruo de um grande por to em Karnev ion, m as eleno qu is. Disse que as ful f i l l iar i estar iam m ais pro tegidas com a M uralha.. . ten to u expl icar orei .
-Sim! No culpa da M uralha. So r ixas ant igas que estavam ad orm ecidas, m as que,um dia, ter iam q ue ser resolv idas. E esse dia chegou! E, depois.. . to m ei o drago de me u i rm oem prestado.. . sem ele saber!
Al ionor f icou confuso. Planejava pedir a sua mo assim que a v isse novamente.Agora. . . o dever a chamava.
-I rv ine. .. eu. .. ten to u dizer, mas ela colocou a sua m o no s lbios dele.
-No digas nada. Som ent e t e peo u m a coisa. . .
-O que?
-Algo qu e d sent ido m inha existn cia!
-Dize!
-
7/31/2019 A Ordem Do Dragao Dourado
41/41
-Isso!
E abraou o re i , e deu- lhe um profun do be i jo na boca. Um bei jo longo, que pareceutod a uma v ida.
Ento e la se prec ip i tou em d i reo ao drago. Subiu nu m sa l to , o lhou para e le e
disse:-Adeus!
O dr ago bateu as asas e se levanto u.
-Adeus. .. ba lbuc iou o re i , com o corao aper tado.
Al ionor no sabia, mas, naquele momento, estava se despedindo da futura me dosseus fi lhos.
#######
www.mitraxsaga.com
top related