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A importância da gestão ambiental na atividade turística: o caso do Hotel Buhler julho de 2013
ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 5ª Edição nº 005 Vol.01/2013 – julho/2013
A importância da gestão ambiental na atividade turística:
o caso do Hotel Buhler
Graziella Rodrigues da Silva – grazzici@gmail.com
MBA Perícia, Auditoria e Gestão ambiental
Instituto de Pós-Graduação e Graduação – IPOG
Porto Alegre, agosto de 2012
Resumo
Este artigo tem como objetivo apresentar as proporções tomadas pela evolução do turismo dentro
do cenário ambiental e econômico do mundo, bem como a relevância de um sistema de gestão
ambiental para que o desenvolvimento da atividade torne-se sustentável. Utilizando-se de revisão
bibliográfica de autores especialistas nos assuntos, o artigo afirma que o turismo constitui
atualmente uma das atividades econômicas mais expressivas na economia mundial. Entretanto, seu
crescimento desordenado pode acarretar impactos negativos significativos e até mesmo danos a
uma área afetada. A questão das certificações no turismo também é um tema abordado neste artigo
onde se discute as possibilidades de pequenos empreendimentos se integrarem nesse tipo de gestão
de maneira a não perderem espaço no ramo mercadológico. Por fim, a ilustração do caso do Hotel
Buhler, relatando a pró-atividade de empreendedores de pequeno porte na busca pela
sustentabilidade da atividade em prol do meio ambiente, demonstra que a partir da consciência e
de ações concretas é possível agregar ao turismo uma forma de conservação de uma região
possibilitando lazer aos visitantes e captando lucros à população local.
Palavras-chave: Turismo. Gestão Ambiental. Impactos. Certificações.
1. Introdução
O turismo como forma de atividade econômica avançou em proporções significativas, sendo
atualmente explorado em praticamente todos os continentes do globo. O seu crescimento avançado
e muitas vezes desordenado pode causar sérios impactos às localidades onde está inserido assim
como comprometer a continuidade da atividade em uma região. Dessa maneira a abordagem sobre a
gestão ambiental na atividade turística tornou-se o enfoque deste trabalho, considerando a
importância mundial do turismo e sua proximidade com o meio ambiente. Dentro dessa abordagem,
a questão das certificações dentro do turismo levanta a questão referente às vantagens e seus custos
em relação aos pequenos empreendedores, bem como a possibilidade destes se manterem no
mercado haja vista a competitividade mercadológica dentro da área. A questão aqui discutida
constitui um assunto de grande abrangência, o que possibilitou uma profunda pesquisa bibliográfica
sobre o tema, culminando no relato de uma experiência real que conectou a atividade turística com
a sustentabilidade e conservação ambiental, resultando em visibilidade e lucro para o
empreendimento.
2. Turismo como atividade econômica
A palavra turismo surgiu no século XIX, porém, a atividade estende suas raízes pela história. Certas
formas de turismo existem desde as mais antigas civilizações, entretanto a partir do século XX,
A importância da gestão ambiental na atividade turística: o caso do Hotel Buhler julho de 2013
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mais precisamente após a 2ª Guerra Mundial, que ele evoluiu como consequência dos aspectos
relacionados à produtividade empresarial, ao poder de compra das pessoas e ao bem estar resultante
da restauração da paz no mundo (BARRETO Apud FOURASTIÉ, 2005).
Atualmente, a atividade turística é considerada como uma das mais expressivas na economia
mundial. Além de ser considerada uma das maiores prestadoras de serviços no mundo, é
responsável por receitas importantes a setores da economia e a eles ligados direta ou indiretamente.
O turismo é um grande gerador de empregos e renda, podendo vir a ser a solução para o
desenvolvimento econômico-social de uma região.
Segundo Serrano (2004) o turismo enquanto atividade econômica abrange duas ações estratégicas
importantes que são o planejamento e a comercialização. Salienta ainda, que ambos os lados devem
interagir, entretanto possuem funções bem distintas.
Fazendo uma analogia com a atividade habitacional, a autora explica que, assim como os arquitetos
realizam os desenhos, os engenheiros, executam os projetos, as construtoras aportam grandes
capitais e constroem e, paralelamente, as imobiliárias comercializam, existem os “arquitetos” do
turismo que são os planejadores, os grandes capitalistas que são as operadoras e as agências que
comercializam. Entretanto, na atividade turística, a quem compete cada uma dessas áreas, não
parece estar muito claro.
Ainda, a referida autora esclarece que na visão da maioria das pessoas, incluindo quem detém poder
nas esferas governamentais, a atividade turística significa simplesmente viajar, e o planejamento
turístico significa a propaganda ou a criação de pacotes por parte de operadores. Tais fatores
levaram o Turismo a um planejamento desordenado que não atende aos interesses das comunidades
receptoras nem aos preceitos da conservação do meio ambiente, mas apenas aos interesses
econômicos dos grupos empresariais envolvidos.
Para Almeida (2012), o Turismo é uma atividade crescente em todo o mundo, especialmente nos
últimos anos, mas seu crescimento desordenado tem provocado danos às paisagens, às populações
nativas e ao meio ambiente das regiões afetadas. O uso inadequado dos recursos naturais dentro da
atividade turística pode provocar grandes desequilíbrios ambientais. Almeida esclarece que o
manejo adequado, cuidadoso e respeitoso para com o meio ambiente, a cultura e as formas de vida
das populações locais, não diminui o valor destas áreas como lugares de descanso e lazer e torna-se
fator positivo para a atividade turística a implantação de medidas compensatórias à população por
parte dos empreendedores, como geração de empregos, indenizações, etc.; o planejamento do
turismo respeitando as formas de vida e as tradições da população local; adoção de medidas para
capacitação e o aprimoramento profissional da população local; e implementar dispositivos legais
que protejam os interesses locais.
Almeida (2012) chama a atenção para o aspecto da paisagem de uma localidade turística, a qual
pode ser extremamente afetada se a atividade for desordenada e mal planejada. Nesse caso, faz-se
necessária a implantação de planos diretores municipais que impeçam a proliferação de construções
que agridam a paisagem.
Devem ser fixadas regras para o desenvolvimento local, estabelecendo
proibições de construções em determinadas zonas e os parâmetros
construtivos a serem observados nas demais. O cumprimento destas regras
deve ser controlado, mediante a concessão de licenças e através da
fiscalização exercida pelos órgãos municipais, estaduais e federais
(ALMEIDA, 2012:163).
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Por fim, o autor conclui salientando a importância do apoio institucional do setor público para o
sucesso dos empreendimentos turísticos, através de diversas ações, seja mediante o fortalecimento
da administração pública nos locais de turismo, com a capacitação de pessoal para o atendimento
adequado ao turista, seja pela instituição de instrumentos legais para a proteção das áreas dedicadas
ao turismo.
3. Impactos e instrumentos da gestão ambiental na atividade turística
O turismo visa à satisfação do consumidor através de uma intensa intervenção antrópica no meio
natural, causando, inevitavelmente, diversos impactos ao meio ambiente em que a atividade está
inserida.
As principais consequências negativas da atividade turística encontram-se no seu poder de
degradação dos recursos naturais, culturais, sociais e do patrimônio edificado, destacando-se essa
propriedade principalmente quando o local é capaz de atrair muitas pessoas ao mesmo tempo. O
inadequado planejamento de implantação da atividade turística, a falta de interesse da gestão,
visando somente o lucro fácil e momentâneo intensifica o poder negativo da atividade.
Contudo, segundo Almeida (2011), a estreita relação entre os projetos turísticos e a qualidade do
meio ambiente faz com que os impactos ambientais negativos destes empreendimentos causem a
degradação dos mesmos ambientes, dos quais depende o êxito dos projetos, reduzindo seus
benefícios.
A ausência do adequado planejamento da atividade, na busca do equilíbrio entre a intensidade, tipo
das atividades turísticas e capacidade de suporte do meio ambiente, predispõe os projetos turísticos
a não serem apenas ambientalmente danosos como também economicamente insustentáveis.
Desse modo, destacam-se os principais impactos ambientais negativos de projetos turísticos,
segundo Almeida (2011: 111-112):
¯ Degradação da paisagem, devido a construções inadequadas, especialmente de edifícios, que
por suas dimensões, formas cores e matérias-primas utilizadas podem ser consideradas
arquitetonicamente inadequadas ao lugar;
¯ Aumento da utilização e da necessidade de abastecimento de água potável;
¯ Contaminação das águas dos rios e mares, devido ao aumento de esgotos não tratados;
¯ Degradação da fauna e da flora local, devido ao desmatamento, caça e pesca predatória;
¯ Redução da população dos animais que tem sua coleta dirigida ao atendimento da
alimentação do turista, tais como: camarão, caranguejo, etc.;
¯ Aumento da geração de resíduos sólidos;
¯ Aumento da demanda de energia elétrica;
¯ Aumento do tráfego de veículos, com a consequente redução da qualidade do ar e aumento
de ruídos;
¯ Assoreamento da costa devido às ações humanas, com destruição de corais, recifes,
mangues, restingas, dunas, etc., onde se destacam os constantes aterros realizados em praias
para aumentar a área urbana;
¯ Alterações sobre o estilo de vida das populações nativas;
¯ Mudanças na forma da exploração econômica da região afetada, com alterações tais como da
agricultura e da pesca para a prestação de serviços ao turista;
¯ Aumento sazonal de população com diversas implicações sobre a área afetada, sua
infraestrutura e a população nativa;
¯ Deslocamento e marginalização das populações locais;
¯ Perda de benefícios econômicos para as comunidades locais;
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¯ Necessidade de implantação de obras de infraestrutura causadoras de impactos ambientais
negativos, tais como: estradas, sistemas de drenagem, aterros com grande movimentação de
terra, entre outros.
Ainda, cabe ressaltar a profundidade dos impactos sobre o solo, água, qualidade do ar, fauna, flora e
paisagem dos destinos afetados pela atividade.
Segundo Almeida (2011), nos destinos turísticos urbanizados, muitas vezes a impermeabilização
excessiva, a erosão, a contaminação por disposição inadequada de resíduos sólidos, a compactação
para a construção de estradas e urbanização e a eliminação da vegetação protetora, especialmente
em regiões litorâneas e montanhosas, são os impactos ambientais negativos mais frequentes sobre o
solo.
Em relação às águas, os impactos ambientais negativos mais comuns são o consumo não sustentável
e a contaminação dos mananciais, especialmente nas épocas de temporada, quando, por exemplo,
em um hotel o consumo pode oscilar entre 350 e 1.200 litros por dia por hóspede. Além disso, nas
áreas litorâneas, o lançamento de esgotos no mar, assim como as constantes contaminações por
resíduos e óleos das embarcações, nas zonas portuárias e petrolíferas, são riscos constantes à
balneabilidade das praias.
A grande quantidade de edifícios altos e a impermeabilização do solo na orla marítima, que também
impede a chegada dos raios solares em determinados horários do dia e altera a movimentação dos
ventos, afetam a qualidade do ar e o microclima do local. Nas áreas excessivamente urbanizadas,
também pode ocorrer o aumento de temperatura em até 3 ºC, em relação às áreas pouco
urbanizadas. Destaca-se também que o aumento da urbanização e do tráfego nas áreas afetadas,
causa entre outros danos, aumento de níveis de poluição do ar e ruídos.
A modificação ou completa remoção da cobertura vegetal da região, necessária à instalação de
empreendimentos como hotéis, marinas e empreendimentos esportivos, podendo afetar ambientes
frágeis como mangues, restingas e florestas. Essa alteração do meio atinge suas funções ambientais
relacionadas com a fauna e a flora, especialmente o abrigo à fauna e proteção dos cursos d’água.
Visto a magnitude de impactos que podem ser gerados pela atividade turística, torna-se indiscutível
a necessidade de uma gestão ambiental voltada para o turismo.
Gestão ambiental é o processo de articulação das ações dos diferentes agentes sociais que interagem
em um dado espaço com vistas a garantir a adequação dos meios de exploração dos recursos
ambientais – naturais, econômicos e socioculturais – às especificações do meio ambiente, com base
em princípios e diretrizes previamente acordados/definidos (ALMEIDA, 2012:1)
Estudos de Almeida (2012) resultaram no seguinte quadro que relaciona os potenciais impactos da
atividade turística e as respectivas medidas de gestão ambiental.
IMPACTOS AMBIENTAIS
POTENCIAIS
MEDIDAS DE GESTÃO
Aumento da utilização e da necessidade
de abastecimento de água potável;
Aumento da geração de resíduos sólidos;
Aumento da demanda de energia elétrica;
Aumento do tráfego de veículos, com a
consequente redução da qualidade do ar e
aumento da geração de ruídos;
Contaminação da água de rios e mares
¯ Planejamento da utilização
sustentável da água, avaliando-se a
quantidade e qualidade das
reservas disponíveis em
comparação com as necessidades
previstas.
¯ Definição da capacidade de
suporte, de forma que a população
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devido ao aumento de esgoto não tratado;
Degradação da fauna e da flora local,
devido ao desmatamento, caça e pesca
predatória;
Redução da população dos animais, que
tem sua coleta dirigida ao atendimento da
alimentação dos turistas, tais como
camarão, caranguejo, etc.
Necessidade de implantação de obras de
infraestrutura causadoras de impactos
ambientais negativos, tais como estradas,
sistemas de drenagem, aterros com grande
movimentação de terra, entre outros.
de turistas possa ser atendida no
lugar sem sobrecarregar a
infraestrutura e os recursos
naturais existentes.
¯ Adequação dos sistemas de coleta
e tratamento de esgoto e resíduos
sólidos para atendimento da
demanda gerada pelo turismo.
¯ Planejamento integrado dos
acessos e da malha urbana,
evitando grandes concentrações de
veículos e pedestres, reduzindo o
tráfego e o ruído.
¯ Criação de estruturas
governamentais pertinentes para a
prestação de serviços necessários
na região de estabelecimento dos
projetos de turismo, com
orçamento e capacitação para
monitorar e fiscalizar.
¯ Estabelecimento de planos
diretores para os municípios
afetados para evitar
desordenamento e especulação
imobiliária.
Assoreamento da costa, devido às ações
humanas, com destruição de corais,
recifes, mangues, restingas, dunas, etc.,
onde se destacam os grandes aterros
realizados em praias para aumentar a área
urbana.
¯ Estabelecimento de zonas de
proteção ambiental, em áreas
sensíveis e de significativo
interesse ambiental, como florestas
e demais formas de cobertura
vegetal, especialmente as situadas
em topo de montanhas, restingas,
mangues, entre outros, de acordo
com a legislação ambiental.
Degradação da paisagem, devido a
construções inadequadas, especialmente
de edifícios, que por suas dimensões,
formas, cores e matéria-prima utilizada,
podem ser consideradas
arquitetonicamente inadequadas ao lugar.
¯ Implantação de projetos
paisagísticos com redução da
impermeabilização e com o plantio
de árvores e outros vegetais, que
venham a minimizar os problemas
de poluição e ruídos nas áreas
urbanizadas.
¯ Redução da altura dos edifícios,
permitindo o fluxo dos ventos e
dos raios solares, especialmente
nos balneários.
Aumento sazonal da população com ¯ Possibilitar a participação da
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diversas implicações sobre a área afetada,
sua infraestrutura e população nativa;
Possível mudança de valores e formas de
comportamento tradicional da população
local, ao ver-se confrontados com o modo
de vida dos turistas;
Comercialização de festas e cerimônias
tradicionais das populações locais, como
atração aos turistas, com a possibilidade
de perda de identidade por parte dos
nativos e do sentido real de suas
festividades;
Mudanças nas formas de exploração
econômica da região afetada, com
alterações, tais como da agricultura e da
pesca para a prestação de serviços ao
turista;
Crescimento da população, com a
concentração espacial e urbanização não
planejada, a vinda de comerciantes,
fabricantes e pessoas em busca de
trabalho, que serão concorrentes da
população local e poderão acentuar
desequilíbrios sociais;
Modificação do estilo de vida de grupos
nativos, com a introdução da economia
monetária;
Violação e inobservância das tradições
religiosas;
Ocorrência do uso indiscriminado de
álcool e drogas, assim como prostituição;
Limitação de atividades tradicionais que
utilizam recursos naturais de maneira
artesanal, como a pesca, e da própria
produção de outros produtos artesanais;
Aumento dos preços dos gêneros de
primeira necessidade, devido ao aumento
da demanda de turistas.
população afetada no processo de
planejamento e execução dos
empreendimentos.
¯ Implantar medidas compensatórias
à população, por parte dos
empreendedores, como geração de
empregos, indenizações, etc.
¯ Planejar o turismo respeitando as
formas de vida e as tradições da
população local.
¯ Adotar medidas para capacitação e
o aprimoramento profissional da
população local.
¯ Implementar dispositivos legais
que protejam os interesses locais.
“Nas unidades de conservação”
Forte perturbação aos animais devido à
excessiva aproximação de pessoas,
veículos e geração de ruídos.
Maior risco de acidentes com animais
devido ao aumento do tráfego de veículos;
Modificação do comportamento natural
¯ Elaboração e implantação de
planos de manejo para as unidades
de conservação, com a previsão da
harmonização das características
ambientais da Unidade com o
Turismo.
¯ Estabelecimento de programas de
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instintivo dos animais, devido ao
recebimento de alimentos pelos turistas;
Transmissão de doenças aos animas e aos
próprios homens, através do contato com
os turistas e com seus dejetos;
Maior risco de ocorrência de incêndios
florestais, dizimando espécies da flora e
da fauna;
Coleta de espécies da flora e da fauna de
forma predatória.
“educação ambiental” para
orientação do turista, com especial
atenção à reciclagem do lixo, bem
como as formas e posturas
ambientais que devem ser
mantidas nas áreas de turismo,
especialmente nas unidades de
conservação.
¯ Informação ao turista sobre as
formas de conduta na Unidade,
utilizando-se informativos, placas
cartazes, etc. mediante a
implantação de um programa de
comunicação social.
¯ Estabelecimento de estradas,
caminhos e trilhas abertas ao
público.
¯ Adequação da legislação ambiental
nas áreas turísticas para o
atendimento à realidade existente,
especialmente quanto à proteção
dos atributos da natureza e de
valor histórico-cultural, entre
outras.
¯ Fechamento de zonas de
significativo interesse ambiental.
¯ Proibição de coletas de material,
como espécies da fauna e da flora,
exceto para fins científicos e
devidamente autorizados.
¯ Estabelecimento de limites de
quantidade de turistas e excursões
nas unidades.
¯ Informações ao turista sobre as
formas de conduta na Unidade.
Tabela 1 – Relação entre impactos ambientais potenciais e respectivas medidas de gestão
Fonte: Adaptado de Almeida (2012)
4. Atividade turística, meio ambiente e certificações
Desde o início da década de 1960, com o surgimento dos movimentos sociais, entre eles, o
ambientalista, as questões sobre o desenvolvimento e globalização, espelhadas em modos ocidentais
padronizados, orientam como as pessoas devem realizar suas atividades, de maneira que obtenham
maior eficiência e lucro com menor demanda de tempo e concomitantemente gerando menor
impacto ao meio ambiente.
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Segundo Neiman (2010), a partir da intensificação das discussões sobre o futuro do planeta,
especialmente com a Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente, evento conhecido
como Rio-92, a sustentabilidade passou a ser integrada às discussões governamentais de como tratar
o assunto da conservação ambiental e cultural. Desde então, também se debate como as empresas
deveriam contribuir para a implantação desse novo conceito.
O desafio de tornar a atividade turística uma prática sustentável nos mostra um caminho que se
depara com dificuldades relativas à conservação de localidades e atendimento de qualidade, visto a
alta rotatividade de funcionários no setor, cuja escolaridade geralmente é baixa. Alguns autores já
fizeram reflexões sobre o assunto.
O desenvolvimento sustentável de uma localidade requer crescimento
econômico, acompanhado de uma distribuição equilibrada da renda e da
devida proteção dos recursos naturais – base das suas potencialidades -, com
vistas a assegurar uma qualidade de vida adequada tanto para as atuais como
para as futuras gerações. Esse processo se viabiliza com a participação
efetiva da sociedade tanto nas atividades de planejamento como nas de
gestão das atividades para o desenvolvimento. (BARRETO, 2005:56)
De acordo com a Organização Mundial de Turismo (OMT, 2001), a sustentabilidade dessa
atividade só será viável se o poder de conservação dos lugares turísticos essenciais for administrado
e, em seguida, rigorosamente implantado por meio de um sistema eficiente de controles de operação
e planejamento. Nesse sentido, muitos estudos e regulamentações precisam ser realizados, de modo
que possam se constituir os alicerces de longo prazo dos projetos e estratégias da administração da
atividade.
Segundo Gonçalves (2004), há uma forte tendência de que a busca pela qualidade ambiental deixe
de ser um problema e passe a ser um fator de competitividade empresarial, e, sobretudo, de
responsabilidade social. A redução do consumo de energia e água, a reciclagem de resíduos e a
otimização dos processos são algumas das medidas que podem tornar os empreendimentos mais
eficientes do ponto de vista da gestão sustentável.
Os sistemas de Gestão Ambiental (SGA) visam à redução dos impactos das atividades humanas no
meio ambiente e, para que se atinja esse objetivo, os processos de certificação ganham importância
fundamental. As cerificações ganharam força na década de 1990, quando as discussões sobre meio
ambiente entraram em voga no mundo. Segundo o mesmo autor, a Norma Pioneira foi a britânica
BS 7750 (Specification for Environmental Management System).
De acordo com Neiman (2010), as certificações são o reconhecimento, por meio de selos ou
logomarcas, das medidas tomadas pela empresa com o intuito de minimizar os impactos ambientais,
melhorar o relacionamento interno (todos os membros que a compõe, independentemente de
hierarquia) e externo (fornecedores, sociedade, concorrentes, meio ambiente) da empresa, por meio
da adoção de práticas denominadas SGA. O selo será fornecido para empreendimentos que
alcançarem um determinado padrão de eficiência e desempenho conforme critérios do certificador.
O empreendimento interessado procura um órgão certificador que, não necessariamente, é o mesmo
que irá supervisionar se as metas estão sendo cumpridas de acordo com aquelas estabelecidas para a
certificação.
No setor turístico, as empresas passíveis de certificação podem ser: meios de hospedagem,
operadores, agências de viagens, parques naturais, restaurantes e afins, serviços, etc.
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Para iniciar um processo de certificação, é necessário o levantamento e o diagnóstico de tudo o que
é necessário ser feito para que se obtenha o selo desejado. O segundo passo consiste em traçar
meios de se atingir objetivos e metas recomendados pelo órgão certificador. Por parte da empresa a
ser certificada, deve haver comprometimento e cumprimento dos prazos.
O trabalho deve ser visto com seriedade e a qualidade do serviço certificado deve se tornar a própria
filosofia de trabalho do empreendimento. Agir como se a certificação fosse apenas uma forma de se
dar maior visibilidade ao negócio, com consequente aumento de público, maior inserção no
mercado, ou obtenção de mais lucro não é o mais recomendado. Se uma coisa não estiver
desvinculada de outra, a empresa poderá obter diversas vantagens, entre elas o lucro obtido ao final
do processo será naturalmente maior.
Um dos sistemas de certificação mais conhecidos mundialmente é desenvolvido pela ISO
(International Organization for Standardization), uma federação mundial não governamental
fundada em 1947 que conta com a participação de 111 países, sediada em Genebra, Suíça. Seu
objetivo é propor normas e padrões relativos a medidas, procedimentos, materiais e seu uso
praticamente em todos os setores de atividades. Os trabalhos da ISO resultam em acordos
internacionais que são publicados como normas a serem seguidas por todos. A Associação
Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) representa o Brasil nesse grupo (NEIMAN, 2010:261).
A autora ressalta que, no entanto, não são todas as certificações que possuem vínculos aos sistemas
da ISO, sendo que muitas possuem métodos próprios, e variadas maneiras para a construção do
SGA. Apesar disso, algumas certificações se baseiam nas Normas da ISO, visto que constituem um
padrão de referência muito conceituado, além de proporcionar adaptações a cada realidade,
mantendo o objetivo comum desses programas que é a conservação do meio ambiente, com a
redução dos impactos gerados pela empresa e a melhoria da qualidade dos produtos oferecidos,
sejam eles quais forem.
Existem certificações específicas para cada área de atividade. No setor turístico e ambiental podem
ser citadas: Hóspedes da Natureza; Roteiros de Charme; Programa Aventura Segura; Programa de
Certificação da Qualidade no Setor de Turismo (parceria entre o Instituto de Hospitalidade e a
ABNT); ECO Certificações; ISO 14001; Green Touris; Green Globe 21; CST; Emas (Eco-
Management and Audit Scheme, uma alternativa à ISO 14001, permitida apenas na União
Européia); Viabono (Certificadora Alemã); Green Leaf (Exclusiva para hotéis); EU Flower;
Biosphere Hotels; Ecolabel Austrália; Ecolabel Áustria; Nordic Swan; e o Programa de Certificação
em Turismo Sustentável (PCTS).
A autora esclarece que todos esses programas foram criados com a finalidade de reduzir os
impactos ambientais causados pela atividade turística. A cada empresa fica o critério de verificar o
mais adequado a seus padrões. As certificações desse tipo apresentam como requisitos, objetivando
a sustentabilidade, itens como: qualidade e manutenção dos atrativos naturais, impactos
construtivos, eficiência energética, conservação e gestão do uso de água, seleção e uso de insumos
ambientalmente corretos, benefícios para a comunidade local etc.
A ISO emitiu a norma ISO 14001, específica para o SGA, apontando os requisitos para a
implantação, manutenção, auditoria e melhoria. A ABNT adotou essa Norma como Brasileira,
dando-lhe o nome NBR ISO 14001. Somente empresas que adotam uma série de procedimentos
para evitar danos ao meio ambiente obtêm esse certificado.
Segundo a autora, a padronização dos serviços é garantir que o serviço de excelência seja o mesmo
em todos os estabelecimentos que possuem o selo, para reconhecimento também do cliente, que já
saberá o que esperar daquela marca.
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No entanto, para alguns autores, a qualidade é um item subjetivo porque alguns clientes podem
acreditar que ser bem atendido basta; outros levam em conta, além desse item, a parte social ou
ambiental da empresa, por exemplo.
Não basta existirem produtos e serviço social e ambientalmente sustentáveis
aos olhos do consumidor. É preciso haver cuidados com a qualidade na
prestação dos serviços, índices confortáveis de satisfação e, se possível,
superação das expectativas do cliente (SALVATI, 2004:87).
Ainda segundo Salvati (2004), embora a qualidade medida pelo cliente seja muito importante, visto
que um cliente satisfeito é um consumidor em potencial e um veículo de propaganda muito
eficiente, deve-se levar em consideração a satisfação de todo o corpo dos funcionários, pois estes
trabalham, atendem melhor e exercem suas funções com mais vontade quando estão satisfeitos com
a empresa. São os funcionários, os principais colaboradores da corporação, pois trabalham
diretamente com o cliente e estão aptos a perceber quais suas exigências, o que os satisfaz ou não e
a transmitir essas informações à gerência. Dessa forma, para que haja qualidade é necessário ter
profissionais treinados, capacitados, bem posicionados em suas funções e bem remunerados.
Entretanto, o mesmo autor discorre sobre a possibilidade de a padronização dos serviços vir a ser
um ponto negativo para empreendimentos que primam pela originalidade e autenticidade. Segundo
o autor
(...) no caso da certificação do Turismo, o estabelecimento de padrões a
serem seguidos pode diminuir a chance de os produtos de autenticidade
diferenciada e que ofereçam conceitos inovadores de qualidade em serviço,
se desenvolverem e se manterem no mercado. (SALVATI, 2004: 88)
Contudo, Salvati (2004) nos lembra de que muitas pessoas buscam a padronização justamente para
antecipar o padrão de qualidade que procuram. Estes consumidores costumam não gostar de serem
surpreendidos.
5. Vantagens e desvantagens da certificação
Para a adoção das práticas do SGA, é necessário que a empresa interessada faça uma análise
criteriosa dos benéficos que o sistema trará ao seu negócio, bem como das dificuldades de se adotar
essas medidas.
Segundo Diniz (2208:2), as vantagens e desvantagens de um SGA para a empresa são:
Vantagens:
¯ Aperfeiçoamento dos processos tecnológicos das empresas e diminuição dos
consumos específicos de energia, matérias-primas e recursos naturais;
¯ Minimização do impacto ambiental das atividades da empresa e melhoria da imagem
perante a opinião pública;
¯ Acesso a determinados mercados e concursos em que a certificação ambiental é
obrigatória. Melhoria da posição competitiva em face dos concorrentes não
certificados;
¯ Melhoria da organização interna e aumento da motivação e envolvimento dos
colaboradores internos;
¯ Redução de riscos e redução de auditorias por parte de outras entidades.
Desvantagens:
A importância da gestão ambiental na atividade turística: o caso do Hotel Buhler julho de 2013
ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 5ª Edição nº 005 Vol.01/2013 – julho/2013
¯ Dificuldade no cumprimento dos requisitos legais (base de qualquer SGA) e de
sensibilização / formação interna para a necessidade de alterar hábitos (desde a
gestão de topo às bases da organização);
¯ Questões independentes das próprias empresas como formalização e rapidez dos
licenciamentos.
No que tange às vantagens, concluímos que a diminuição do consumo, de energia, água, etc.,
implica benefícios ao meio ambiente e à empresa, pois há redução de custos.
Segundo Prochnow e Vasconcelos, acerca das certificações no Turismo:
Durante o acordo de Mohonk, ocorrido na cidade de New Paltz, Nova York,
EUA, em 2000, foram discutidos e nivelados os princípios e componentes
que devem fazer parte de todo o programa sólido de certificação. Os
participantes reconheceram que os programas de certificação de turismo
necessitam ser ajustados às características geográficas locais e aos
respectivos segmentos turísticos, definido os componentes universais que
devem fundamentar todo programa de turismo sustentável e de ecoturismo.
(PROCHNOW; VASCONCELOS, 2008:35)
Neiman (2010), em seus estudos discorre sobre a possibilidade de os critérios da qualidade
necessários para a obtenção de selos interferirem na genuinidade do serviço oferecido. A autora
questiona como poderão garantir a diversidade e o particular, se os empreendimentos e os serviços
precisam adequar-se a normas rígidas que, inclusive, aumentam consideravelmente os custos
operacionais. Questiona ainda se seria possível sistemas de certificação regionais, ou locais, com
critérios de exigência mais afeitos às características socioculturais e econômicas de cada realidade.
Indaga sobre a “legitimidade” dessas certificações.
6. Certificação versus custos
Estudos de Neiman (2010) mostram que o setor da atividade turística abrange vários segmentos e,
com isso, empresas de vários portes, com tamanho, capital para investimentos e lucratividade
distintos. Quando se deseja medir a qualidade de um estabelecimento por meio da certificação
simbolizadas por um selo, é preciso que se leve em conta essa heterogeneidade. O custo da
implantação das certificações é uma das grandes dificuldades que devem ser enfrentadas por
aqueles que buscam seus benefícios.
De acordo com Gonçalves (2004), como resultado de reconhecimento de questões maiores como a
questão ambiental, as empresas estão sob uma forte pressão para mudar. Essas pressões tomam
forma através de uma gama de forças imediatas, tais como leis, multas e queixas dos consumidores,
que obrigam as organizações empresariais a avançar rumo à era ambiental ou a sair do mercado.
Seguindo esse pensamento, Neiman (2010) questiona como podem o pequeno e o micro
empreendedor enfrentarem a concorrência das grandes empresas se estas possuem melhores
condições financeiras para arcar com os custos de uma certificação.
A autora encontra a resposta analisando que se os pequenos empreendedores tiverem clareza da
qualidade do serviço que podem oferecer, e conhecimento suficiente para adequar seu
estabelecimento aos padrões mínimos de qualidade, é possível que, por meio de estudos que
promovam pequenas mudanças, eles, por conta própria, consigam ter boa visibilidade perante seus
consumidores, por intermédio de ações de marketing bem planejadas. Inclusive porque a conquista
de um selo de qualidade não garante que o estabelecimento tenha, de fato, incorporado a ética
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daquilo que está certificando. Podem ter obtido a certificação apenas porque conseguiram atender às
exigências técnicas, mas encaram essa conquista meramente como questão mercadológica que
aumenta sua lucratividade.
Um bom planejamento com estratégias de curto, médio e longo prazo, controle e correções de
rumos, pode conferir aos pequenos empreendedores um diferencial que faça concorrência àqueles
que possuem maior capital de investimento em certificações. Entre essas estratégias, pode-se citar a
diferenciação de preço, de público e de atrativos, por exemplo. (NEIMAN, 2012: 273).
7. A gestão com foco na responsabilidade ambiental e no compromisso social em um
pequeno empreendimento – O caso do Hotel Buhler
Segundo Costa (2007), a consciência de que o aumento do fluxo de turistas em uma região acarreta,
ao mesmo tempo, vantagens e problemas, deu início a uma decisão empresarial dos administradores
do Hotel Buhler. O Hotel, situado em um paraíso ecológico na região de Visconde de Mauá, na
fronteira dos estados do Rio de Janeiro e Minas Gerais, através de uma iniciativa pioneira, encontra-
se desde 2001 sem deixar um só saco de lixo na rua para ser recolhido.
O Programa de Redução de Lixo do Hotel Buhler, é considerado um caso emblemático: um
pequeno hotel, localizado em um vale cercado de montanhas, onde até hoje se chega por uma
estradinha de terra e onde o telefone se popularizou somente no terceiro milênio, conseguiu
encontrar alternativas simples, de baixo custo e grande eficácia para administrar e gerenciar
adequadamente a sua produção de resíduos sólidos (COSTA, 2007:13).
De acordo com a autora, a atividade do Hotel Buhler iniciou no ano de 1922, quando Chrystoffe e
Anne Marie Buhler, imigrantes de origem alemã, encontraram na hospedagem de visitantes em sua
própria casa, uma forma de sustento. Oito anos depois, inauguraram a pousada que deu origem ao
Hotel Buhler.
A comunidade rural de Visconde de Mauá, onde o hotel está inserido, não possuía sistema de coleta
de resíduos até meados do ano de 2003, sendo que cada morador cuidava, por conta própria, da
limpeza de sua propriedade e dos arredores. Atualmente, o serviço municipal de coleta de resíduos
possui um caminhão que percorre a região duas vezes por semana. O destino desses resíduos são
depósitos públicos a 35/40 km de distância.
Durante décadas, a família Buhler adotou procedimentos tradicionais nas zonas rurais no que tange
ao destino de seus resíduos. O resíduo orgânico era jogado na horta, sem grandes cuidados; as
folhas, galhos, resíduos de jardim, etc. eram queimados e os demais objetos, exceto vidro, eram
enterrados. Essa forma de descarte poderia não ser a ideal, entretanto, naquela época, as condições
ambientais e os padrões de consumo do hotel e dos hóspedes eram bem diferentes dos atuais.
A atual proprietária do Hotel, Norma Buhler, passou a seguir a ideia de “mudar para preservar”,
pois não queria depender de ações concretas de terceiros para conservar o meio ambiente, principal
atração turística do local, garantindo consequentemente a atividade econômica que exercia. Para
tanto, iniciou um processo de estudos e pesquisas sobre o tema “lixo” e surpreendeu-se com o
universo de informações a que teve acesso. Norma Buhler iniciou suas ações com a busca de um
destino para os resíduos sólidos do seu hotel, pois assim já eliminaria um grande problema.
Segundo Costa (2007), Norma Buhler relata que “Ficava doente só de ver aquelas latas à espera de
um caminhão de coleta para levá-las embora. Os cachorros espalhavam o lixo e deixavam as ruas
e estradas imundas, para horror dos turistas que nos visitavam. E me perguntava, ainda, para onde
ia aquilo tudo, depois que o caminhão passava (...)”.
Ao iniciar a separação criteriosa de resíduos sólidos, Norma Buhler evidenciou a existência de um
grande volume de resíduos recicláveis e passou a buscar por uma destinação correta do material.
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Depois de um período de pesquisa Norma chegou até a Sociedade Pestolazzi de Resende, localizada
a cerca de 40 km da região, uma entidade beneficente que cuida de crianças portadoras de
necessidades especiais. A entidade recebe doações, inclusive materiais recicláveis, o qual
comercializa para uma recicladora da região. A renda é revertida para melhorias na instituição. Aos
olhos de Norma e toda a equipe do hotel parecia uma ótima opção, visto que a ação renderia
grandes benefícios sociais.
Quanto aos resíduos orgânicos, Norma entrou em contato com o biólogo Luis Toledo, criador do
Projeto Lixo zero – um método de reaproveitamento de lixo orgânico aparentemente simples e de
baixo custo. O biólogo prestou a consultoria necessária para que a proprietária do Hotel pudesse dar
início à implantação do programa de redução de resíduos do Hotel Buhler.
O procedimento adotado por Norma Buhler, fez com que a proprietária criasse novas rotinas, além
de ter que contar com a participação de hóspedes e funcionários. Entendemos que, certamente, a
proposta de implantar um programa de redução de resíduos em um pequeno hotel localizado em um
paraíso ecológico exige uma verdadeira mudança de mentalidade em todos os que estão
relacionados com o empreendimento.
Segundo Costa (2007), após um ano de prática, Norma Buhler concluiu que a redução de resíduos
inicia na hora das compras para abastecimento do empreendimento. Para tanto, os funcionários
receberam a orientação de dar preferência a produtos com menor volume de embalagens. Se as
embalagens forem indispensáveis, a preferência é daquelas feitas de material reciclável. Entre
outras ações básicas, o hotel opta por evitar o uso de sacolas plásticas e a compra de bebidas em
lata, dando preferência às garrafas de vidro que retornam ao fabricante.
A proprietária do hotel relata em Costa (2007) que como o princípio básico da redução dos resíduos
consiste na separação criteriosa dos materiais, centralizou esforços e focou nas principais fontes de
produção de resíduos do hotel como a cozinha e os próprios hóspedes. A diferença entre os dois é
que a cozinha tem rotinas seguidas por profissionais treinados, portanto, passível de alterações e
controle. Em relação aos hóspedes, torna-se difícil prever o comportamento e reação mediante as
orientações do projeto. Visto que se tratava de um hotel antigo e com clientela fiel, que espera
sempre encontrar os mesmos serviços, a proprietária entendeu que era necessário conquistar os
hóspedes. A forma encontrada foi preparar pequenos cartazes, afixados em cada quarto e em pontos
estratégicos do hotel, com instruções simples e fáceis e salientando a contribuição da ação para com
o meio ambiente, assim como a integração social de pessoas portadoras de necessidades especiais,
referindo-se à instituição beneficente que recebe os materiais recicláveis ali separados.
Segundo Costa (2007), os hóspedes não só contribuíram de forma decisiva para o projeto, como
também se interessaram pelos detalhes, além dos constantes nos cartazes. Quando bem informados,
os clientes ficam satisfeitos em colaborar para a conservação das condições ambientais da região.
Na área externa ao hotel existem vários conjuntos de duas latas de lixo com indicação de material
orgânico e inorgânico. Junto a elas, há uma latinha para os cigarros. A partir da separação dos
resíduos, a triagem é feita pelos funcionários que recebem treinamento específico.
O destino do material orgânico são as várias composteiras mantidas nos fundos do empreendimento,
próximo aos viveiros de animais (pavões, patos e gansos). Depois de passar pelo processo de
decomposição, o material transforma-se em adubo que é utilizado na horta e nos jardins do hotel.
Atualmente, várias técnicas diferentes de compostagem são empregadas, com diferentes sistemas de
circulação do ar, para suprir a grande demanda de resíduos gerados no hotel. Entre outras técnicas
de reaproveitamento de rejeitos, a gordura do hotel vira sabão nas mãos de um funcionário que
agregou a tarefa às suas funções.
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Os resíduos de lenta decomposição, formados por materiais orgânicos e inorgânicos ao mesmo
tempo, não podem ser misturados aos demais resíduos sólidos e exige um cuidado maior com sua
destinação final. Para esse tipo de resíduo, o Hotel Buhler construiu depósitos controlados,
devidamente impermeabilizados e afastados de cursos d’água, conforme determina a legislação
ambiental. Esses produtos permanecem armazenados até a sua completa decomposição.
Há produtos para os quais ainda não foi encontrado destino definitivo. Por enquanto, a saída foi
misturá-los à massa de cimento ou colocá-los dentro de blocos usados em construções.
Segundo Costa (2007), com a adoção do Programa de Redução de Lixo, o Hotel Buhler é hoje um
dos poucos hotéis do Brasil em condições de ser aprovado em uma eventual avaliação da
International Hotel Association – IHA, da International Hotels Environment Initiative – IHEI e do
United Nations Environmental Programme – UNEP.
A autora ainda ressalta que depois de 18 meses de prática, o Buhler Hotel poderia dar um “sim” a
todas as indagações do questionário básico do Pacote de Ações Ambientais para Hotéis, tornando-se
pelos critérios da Associação Internacional de Hotéis (IHA), uma empresa hoteleira de “boa
performance” ambiental. Pelas normas da entidade, cinco ou mais respostas positivas ao
questionário (Quadro 1) revelam desempenho adequado do hotel no gerenciamento de resíduos.
1) Você sabe o que acontece com o lixo do seu hotel?
2) Há um monitoramento dos tipos e volumes do lixo gerados por seu hotel?
3) As oportunidades de reduzir o lixo foram identificadas e ações nesse sentido foram adotadas?
4) Existem sistemas para minimizar o desperdício, reduzi-lo e reciclar?
5) Você recicla ou reutiliza a maior parte das garrafas, do papel, das latas e das baterias?
6) Há compostagem dos resíduos orgânicos?
7) O hotel adota materiais reutilizá-los?
8) O hotel se preocupa com o destino final do lixo?
9) Os produtos poluentes são identificados e catalogados?
Quadro 1 - Questionário básico do Pacote de Ações Ambientais para Hotéis
Fonte: Adaptado de Costa, 2007
Atualmente, segundo seu site, o Hotel Buhler recebeu o Selo de Hospedagem Sustentável do Guia 4
Rodas.
De acordo com o portal EcoHospedagem, o Selo Verde Guia 4 Rodas é uma certificação do Guia 4
Rodas que ficou muito conhecido entre turistas e hoteleiros devido ao poder e abrangência do Guia
4 Rodas. Trata-se de uma boa forma de conscientizar os turistas brasileiros, de incentivá-los a
preocuparem-se com o meio ambiente e a comunidade local, passando também a cobrar dos hotéis
em que se hospedam uma atitude mais sustentável.
Segundo o site Planeta Sustentável, este é o checklist da Hospedagem Sustentável
¯ Valoriza cultura e artesanato locais, além da culinária da região.
¯ Investe parte do lucro na capacitação dos funcionários, contribuindo para a melhoria da vida
local.
¯ Faz trabalho de conscientização ambiental junto aos hóspedes, funcionários e fornecedores.
¯ Preocupa-se com o uso racional dos recursos naturais, da água e da energia (sistemas de
purificação de água, tratamento de esgoto, reaproveitamento de água de chuveiros, torneiras
e da chuva, energia solar e uso de equipamentos que consomem menos).
¯ Contempla no projeto arquitetônico e na decoração as características culturais da região.
¯ Usa materiais renováveis na construção, como madeira certificada e materiais de demolição.
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¯ Promove ações para prevenir e recompor inevitáveis impactos da visitação, como reciclagem
de lixo e neutralização de resíduos.
8. Conclusão
O atual panorama econômico abrange as questões ambientais em diversos setores de atividades.
Contudo, no setor turístico, não está sendo diferente. O turismo como atividade econômica muitas
vezes foi definida como uma indústria “sem chaminés”. Entretanto torna-se clara a magnitude de
impactos negativos e até mesmo danos que essa atividade pode causar em uma localidade afetada.
A gestão ambiental voltada para o turismo torna-se um fator de suma importância tanto para
garantir a continuidade da atividade, visto que o ambiente em que está inserida, muitas vezes
constitui a principal atração turística, como também um fator de competitividade entre
empreendimentos que cada vez mais estão aderindo aos “selos verdes”.
A questão levantada ao logo da pesquisa, é de como os pequenos empreendimentos podem competir
com aqueles que detêm maiores recursos para se obter uma certificação através da implantação de
um SGA. A resposta encontrada está no exemplo do Hotel Buhler, um pequeno empreendimento,
situado em um paraíso ecológico, onde através da pró-atividade, força de vontade, e por que não
dizer também, de coragem para dar o primeiro passo e também seguir firme em uma gestão
ambiental. Gestão esta onde os benefícios são muito maiores do que o próprio investimento, tanto
para o estabelecimento, em matéria de lucro e visibilidade mercadológica, como para o consumidor
e para o meio ambiente que segue ao mesmo tempo conservado e oferecendo o sustento e lazer a
tantas pessoas.
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