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A Geometria dos Castelos

Adérito Araújo

Departamento de Matemática Universidade de Coimbra

3º Simpósio Ibero-Americano de Educação Matemática Coimbra, 6-7 Julho de 2007

3º Simpósio Ibero-Americano de Educação Matemática Coimbra, 6-7 Julho de 2007

“Olinda não é certamente a única cidade a crescer em círculos concêntricos […]. Mas, nas outras cidades permanece bem no meio o velho círculo das muralhas bem estreito […]. Em Olinda não: as velhas muralhas dilatam-se levando consigo os bairros antigos”

Italo Calvino, in “As Cidades Invisíveis”

3º Simpósio Ibero-Americano de Educação Matemática Coimbra, 6-7 Julho de 2007

Évora, Portugal

3º Simpósio Ibero-Americano de Educação Matemática Coimbra, 6-7 Julho de 2007

Lisboa, Portugal

3º Simpósio Ibero-Americano de Educação Matemática Coimbra, 6-7 Julho de 2007

Coimbra, Portugal

Sumário

1. Evolução arquitectónica

2. A matemática dos castelos

3º Simpósio Ibero-Americano de Educação Matemática Coimbra, 6-7 Julho de 2007

M. Aigner & G.M. Ziegler “Proofs from THE BOOK”Springer, 2003

C.J. Budd & C.J. Sangwin “Mathematics Galore!”Oxford UP, 2001

1. Evolução arquitectónica

3º Simpósio Ibero-Americano de Educação Matemática Coimbra, 6-7 Julho de 2007

As primeiras fortificações foram desenhadas para defender cidades inteiras.

Mooghan, Irlanda Yarnbury, Reino Unido

3º Simpósio Ibero-Americano de Educação Matemática Coimbra, 6-7 Julho de 2007

Um Castro é tipo de povoado existente nas montanhas do noroeste da Península Ibérica, característico da Idade do Ferro e declaradamente defensivo com estruturas predominantementecirculares.

Castro de Romariz, Portugal

Uma Citânia é um castro de maiores dimensões e importância, habitado continuadamente.

Citânia de Briteiros, Portugal

3º Simpósio Ibero-Americano de Educação Matemática Coimbra, 6-7 Julho de 2007

☺1. Visibilidade2. Vantagem psicológica3. Tempo para preparar a defesa4. É difícil subir a montanha5. Arremesso de pedras6. Locais menos pantanosos

�1. Dificuldade em obter água durante um cerco2. Recursos como a comida e os postes/pedras para construir a fortificação ou as habitações eram difíceis de transportar

Citânia de Briteiros, Portugal

3º Simpósio Ibero-Americano de Educação Matemática Coimbra, 6-7 Julho de 2007

Um Castelo (diminutivo de castro) é uma estrutura arquitectónica fortificada, com funções defensiva e residencial, típica da Idade Média.

Castelo de Guimarães, Portugal

3º Simpósio Ibero-Americano de Educação Matemática Coimbra, 6-7 Julho de 2007

Na Idade Média dizia-se “fazer vila”o acto de cercar de muralhas uma povoação.

Óbidos, Portugal

A organização defensiva do castelo era semelhante à da vila e tinhacomandamento sobre ela devido àposição mais alta e às muralhas mais fortes.

Belver, Portugal

3º Simpósio Ibero-Americano de Educação Matemática Coimbra, 6-7 Julho de 2007

Marvão, Portugal

Pátio central

Casas da guarnição encostadas às muralhas

Adarve ou caminho da ronda, defendido por um muro ameiado, cuja largura variava entre 1 a 4 metros

Duas portas: uma para a povoação (porta da vila); a outra, para o terreno exterior (porta da traição)

3º Simpósio Ibero-Americano de Educação Matemática Coimbra, 6-7 Julho de 2007

Com o final da Idade Médiagenaralizou-se o uso de canhões e armas de fogo nos cercos aos castelos e, como tal, a sua arquitectura sofreu alterações.

Deal, Reino Unido

3º Simpósio Ibero-Americano de Educação Matemática Coimbra, 6-7 Julho de 2007

De entre as fortalezas construídas nessa altura aquela cuja arquitectura se revelou mais eficiente foi a que se chamou baluarte ou bastião.

Lindoso, Portugal

Em relação aos castelos medievais, constitui-se numa defesa mais baixa e larga, melhor adaptada ao emprego de artilharia, que se desenvolveu em arquitectura de fortificação, a partir do século XIV.

Forte Tilbury, Reino Unido

2. A matemática dos castelos

Questão 1: Qual a vantagem das formassimétricas?

Questão 2: Como defender a entrada de um castelo?

Questão 3: Como é que a evolução da forma permitiu melhorar a segurança?

Questão 4: Como defender o interior de um castelo?

3º Simpósio Ibero-Americano de Educação Matemática Coimbra, 6-7 Julho de 2007

3º Simpósio Ibero-Americano de Educação Matemática Coimbra, 6-7 Julho de 2007

Vamos supor que pretendemos construir uma paliçada e temos à nossa disposição um número finito de paus. Queremos uma vedação com área o maior possível, pois é necessário que o forte albergue o maior número possível de pessoas.

Questão 1: Qual a vantagem das formas simétricas?

Questão 1.1: De entre as curvas simples, fechadas, do plano, com um determinado comprimento, qual é a que delimita a maior área possível?

Jakob Steiner (1796-1863)

1º: Vamos supor que o conjunto máximo S existe.

3º Simpósio Ibero-Americano de Educação Matemática Coimbra, 6-7 Julho de 2007

2º: O conjunto máximo deve ser convexo.

3º Simpósio Ibero-Americano de Educação Matemática Coimbra, 6-7 Julho de 2007

A

B

3º: Qualquer diâmetro do conjunto máximo divide a área em duas partes iguais.

3º Simpósio Ibero-Americano de Educação Matemática Coimbra, 6-7 Julho de 2007

A B

S1

S2

4º: Se A e B forem dois pontos em lados opostos de um diâmetro e Cum ponto qualquer da curva, então o ângulo q mede exactamente 90º.

3º Simpósio Ibero-Americano de Educação Matemática Coimbra, 6-7 Julho de 2007

A

B

C

q

Exercício: Mostre que: 1

sin .2

A AC CB θ∆ =

5º [Problema de Dido]: O conjunto máximo é o círculo.

3º Simpósio Ibero-Americano de Educação Matemática Coimbra, 6-7 Julho de 2007

3º Simpósio Ibero-Americano de Educação Matemática Coimbra, 6-7 Julho de 2007

A B

C

O

.BO OC=Vamos mostrar que:

Exercício [Lei dos Cossenos]:

3º Simpósio Ibero-Americano de Educação Matemática Coimbra, 6-7 Julho de 2007

A B

C

a

O

2 2 22 cos .OC BC BO BC BO α= + −

q

Como q = 90º, então: .BO OC=

3º Simpósio Ibero-Americano de Educação Matemática Coimbra, 6-7 Julho de 2007

Bibliografia

1. C.J. Budd & C.J. Sangwin “Mathematics Galore!” Oxford UP, 2001

2. V.M. Tikhomirov, “Stories About Maxima and Minima”, AMS, 1990

3. G. Lawlor, “A new area maximization proof for the circle”, Mathematical Inteligencer 20 (1998) 29-31

4. P.D. Lax, “A short path to the shortest path”, American Mathematical Monthly, 158-159, Feb. 1995

5. T.M. Madeira, “O Problema Isoperimétrico Clássico”, DMUC, 2005

Web

1. http://www.cut-the-knot.org/

2. http://mocho.pt/cab/5/dido.php

3º Simpósio Ibero-Americano de Educação Matemática Coimbra, 6-7 Julho de 2007

“The isoperimetric theorem, deeply rooted in our experience and intuition, so easy to conjecture, but not so easy to prove, is an inexhaustible source of inspiration.”

George Pólya, Mathematics and Plausible Reasoning (1954)

3º Simpósio Ibero-Americano de Educação Matemática Coimbra, 6-7 Julho de 2007

Uma entrada melhor é aquela que obriga o atacante a permanecer muito tempo próximo da linha de defensiva se quiser entrar na fortificação.

Questão 2. Como defender a entrada de um castelo?

3º Simpósio Ibero-Americano de Educação Matemática Coimbra, 6-7 Julho de 2007

Cidade de Jericó

Josué 6:3 Dai uma volta em torno da cidade, vós e todos os homens de guerra. Fareis isso durante seis dias.

3º Simpósio Ibero-Americano de Educação Matemática Coimbra, 6-7 Julho de 2007

Meiden Castle, Reino Unido

Um processo efectivo pode ser o de criar entradas em forma de labirinto.

3º Simpósio Ibero-Americano de Educação Matemática Coimbra, 6-7 Julho de 2007

Questão 2.1: Fixada uma determinada área, como desenhar curvas com um grande perímetro?

Do filme “Labyrinth”, Jim Henson, 1986

3º Simpósio Ibero-Americano de Educação Matemática Coimbra, 6-7 Julho de 2007

Floco de Neve de Koch

Curva de Peano

3º Simpósio Ibero-Americano de Educação Matemática Coimbra, 6-7 Julho de 2007

2 23 1 31 .

4 3 3

L LA

= + =

23 1 1 41 .

4 3 3 9

LA

= + +

Questão 2.2: Mostre que o perímetro total P da estrela é 4L a a sua área é

Questão 2.3: Mostre que o perímetro total P=16L/3 e que a sua área é

Questão 2.4: Mostre que figura fractal (Floco de Neve de Koch), a sua área é

22 23 1 4 4 2 31 1 .

4 3 9 9 5

L LA

= + + + + = ⋯

3º Simpósio Ibero-Americano de Educação Matemática Coimbra, 6-7 Julho de 2007

Questão 3.1: Como defender as muralhas?

Questão 3: Como é que a evolução da forma permitiu melhorar a segurança?

Blarney Castle, Reino Unido

3º Simpósio Ibero-Americano de Educação Matemática Coimbra, 6-7 Julho de 2007

Harlech, Escócia

3º Simpósio Ibero-Americano de Educação Matemática Coimbra, 6-7 Julho de 2007

Sébastien Le Prestre, marquês de Vauban (1633-1707)

3º Simpósio Ibero-Americano de Educação Matemática Coimbra, 6-7 Julho de 2007

Elvas, Portugal

3º Simpósio Ibero-Americano de Educação Matemática Coimbra, 6-7 Julho de 2007

3º Simpósio Ibero-Americano de Educação Matemática Coimbra, 6-7 Julho de 2007

Questão 4. Como defender o interior de um castelo?

Questão 4.1. Qual a vantagem de desenhar as escadas em espiral no sentido horário?

Dover, Reino Unido

3º Simpósio Ibero-Americano de Educação Matemática Coimbra, 6-7 Julho de 2007

Questão 4.2: Quantos guardas são necessários para defender o interior dum castelo?

1º: Se a planta do castelo for convexa basta um guarda.

3º Simpósio Ibero-Americano de Educação Matemática Coimbra, 6-7 Julho de 2007

2º: E se a planta do castelo possuir concavidades?

3º Simpósio Ibero-Americano de Educação Matemática Coimbra, 6-7 Julho de 2007

3º Simpósio Ibero-Americano de Educação Matemática Coimbra, 6-7 Julho de 2007

Teorema de Chvátal (1975): Para qualquer castelo com n paredes são necessários n/3 guardas. Se n não for múltiplo de 3, o número de guardas será o maior inteiro inferior a n/3, que iremos denotar por [n/3].

Vašek Chvátal

3º Simpósio Ibero-Americano de Educação Matemática Coimbra, 6-7 Julho de 2007

Exercício: Mostre que qualquer figura poligonal plana, simples, com nvértices admite uma triangulação (sem a inclusão de vértices adicionais) com n-2 triângulos.

3º Simpósio Ibero-Americano de Educação Matemática Coimbra, 6-7 Julho de 2007

Consideremos n-3 diagonais que se não intersectam até obter uma triangulação da figura.

3º Simpósio Ibero-Americano de Educação Matemática Coimbra, 6-7 Julho de 2007

3º: Os vértices do polígono podem ser coloridos apenas com três cores sem que ocorram vértices com a mesma cor unidos por uma aresta.

3º Simpósio Ibero-Americano de Educação Matemática Coimbra, 6-7 Julho de 2007

Se n=3 o resultado está demonstrado.

Se n>3, considerem-se dois vértices ao acaso (digamos u e v).

Por indução, concluimos que é possível colorir os arestas do grafo apenas com três cores.

Visto que existem n vértices, pelo menos uma das três cores é usada para colorir [n/3] vértices e é nesses vértices que devemos posicionar os guardas.

u v

3º Simpósio Ibero-Americano de Educação Matemática Coimbra, 6-7 Julho de 2007

3º Simpósio Ibero-Americano de Educação Matemática Coimbra, 6-7 Julho de 2007

Suponhamos que um guarda pode andar ao longo de uma parede.

3º Simpósio Ibero-Americano de Educação Matemática Coimbra, 6-7 Julho de 2007

Conjectura [Toussaint (1981)]: [n/4] guardas são suficientes em todas as circunstâncias, sendo n o número de paredes.

3º Simpósio Ibero-Americano de Educação Matemática Coimbra, 6-7 Julho de 2007

Bibliografia

1. M. Aigner & G.M. Ziegler “Proofs from THE BOOK” Springer, 2003

2. J. Urrutia, "Art Gallery and Illumination Problems" Handbook on Computational Geometry, Elsevier Science Publishers, J.R. Sack and J. Urrutia eds. pp. 973-1026, 2000

3. N. Do, “Mathellaneous”, Australian Mathematical, Gazette, 288-294, Nov. 2004

Web

1. http://www.cut-the-knot.org/

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