a causa secreta: da compaixão ao sadismo

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A CAUSA SECRETA

Denise Sayuri EnjuMayara Brambilla

Natielle Lopes da Costa

Joaquim Maria Machado

de Assis é considerado um dos mais importantes escritores da literatura brasileira. Nasceu no Rio de Janeiro em 21/6/1839, filho de uma família muito pobre. Mulato e vítima de preconceito, perdeu na infância sua mãe e foi criado pela madrasta. Superou todas as dificuldades da época e tornou-se um grande escritor.

JOAQUIM MARIA MACHADO DE ASSIS

Este conto de Machado de Assis foi

publicado originalmente em 1885 na Gazeta de notícias e agrupado em 1896 na sua obra intitulada Várias Histórias.

O Conto contempla a história de Garcia,

médico recém formado, Fortunato e Maria Luísa, sua respectiva esposa.

A personalidade de Fortunato é mostrada ao leitor no primeiro encontro de Garcia com o mesmo, quando fazem atendimento a um ferido.

Um dos fatos contraditórios é o de

Fortunato ter se dedicado ao máximo enquanto a vítima sofria, sem sequer conhecê-la. Aparentemente um ato de extrema bondade. Porém, quando ele se recuperou não quis nem recebê-lo. Pelo contrário, o humilhou em sua casa.

A presença de Garcia começou a ser mais constante na residência do casal, de modo que, aos poucos, Garcia começou a sentir algo a mais por Maria Luísa. Porém, por respeito ao amigo, trancou isto em seu coração.

Ao longo do conto Fortunato vai se mostrando cada vez mais perverso ao iniciar experiências com animais.

O clímax é quando Fortunato

prazerosamente tortura um ratinho, arrancando cada pata do animal vagarosamente, queimando-o aos poucos e o mantendo vivo, até terminar.

Esta cena é descrita minuciosamente ao leitor.

No decorrer da vida de Maria Luísa, aos

poucos foi padecendo, não se sabe se pelo convívio com o marido ou se pela tuberculose. O certo é que um dia não aguentou mais e se foi.

A última cena é finalizada quando

Fortunato deixa o leito de morte de Maria Luísa e Garcia, num ato de afeto, beija-lhe a testa.

“Garcia inclinou-se ainda para beijar outra vez o cadáver; mas então não pôde mais. O beijo rebentou em soluços, e os olhos não puderam conter as lágrimas, que vieram em borbotões, lágrimas de amor calado, e irremediável desespero.” (ASSIS, p. 8).

Fortunato chega no mesmo instante. Ao

contrário do que se espera, não demonstra raiva ou ciúmes. Sente prazer ao ver a dor de Garcia.

“Fortunato, à porta, onde ficara, saboreou tranqüilo essa explosão de dor moral que foi longa, muito longa, deliciosamente longa.” (ASSIS, p. 8)

A história inicia-se com um flash-back,

levando o leitor à cena que se passa na casa de Fortunato, na qual ele apresenta as três personagens, identificando-as através de seus estados emocionais.

• Maria Luísa tensa e trêmula;• Garcia com ar severo; • Fortunato sentado, aparentando calma,

olhando para o teto;

Análise

O relato não é linear, pois há um ir e vir de

datas. A narração começa pelo meio e, mais tarde, o leitor é inteirado sobre o início dos acontecimentos.

O título do conto pode levantar algumas

dúvidas: a causa secreta de quem? De Garcia que, de certa maneira, investigava o amigo? De Maria Luísa que se submetia às vontades do marido? De Fortunato? Fica a dúvida no ar.

Machado de Assis retrata na personagem de Fortunato questões como o sadismo, que em sua “perfeita normalidade social —um senhor rico, casado e de meia-idade, que demonstra interesse pelo sofrimento, socorrendo feridos e velando doentes— reside, na verdade, um sádico, que transformou a mulher e o amigo num par amoroso inibido pelo escrúpulo.”

O mesmo acontece com o caso do rato. O ódio

fingido que sente pelo roedor corresponde à indiferença que demonstrou a Gouveia, quando este foi lhe agradecer pela "dedicação".

De acordo com Oliveira (2006) o rato torturado da experiência acaba sendo um espelho da esposa morta que, na sua agonia lenta, lhe trouxe intenso prazer.

Importante ressaltar que há no conto a

relação de observado/observador: ao sacrificar o rato, Fortunato é observado e, para não passar por perverso diante do amigo, finge ter raiva do animal, já na cena em que Garcia beija Maria Luísa, ele já é o observador ativo, à distância, saboreando o quadro, sem sentir ciúme.

Em A Causa Secreta há a retratação do

sadismo e da agressividade humana que causam repugnância. É perceptível, no desenrolar da trama, a desconstrução das máscaras sociais, em Fortunato que transparecia bondade, quando, na verdade, era um desequilibrado.

Conclusão

Isto é visível no final do conto, quando a

personagem em vez de chorar e sofrer com a morte da esposa, sente prazer em descobrir que Garcia era apaixonado por ela e que agora está morta.

A reação de Garcia como a consequência da paixão secreta ou do amor reprimido que este sentia por Maria Luísa, esposa de Fortunato. Um amor que, por não ter sido revelado, intensificou a dor de Garcia, que não conseguiu exteriorizá-lo antes da morte da amada.

Várias Histórias - Machado de Assis - W. M. Jackson Inc Editores – 1946. Disponível

em: <http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=16917>. Acesso em: 12 out. 2015.

KUMAZAWA, Matheus Toshiyuki. A Causa Secreta - Machado de Assis - Melhoor! [Filme-vídeo] Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=vmBw9kFO5RQ> Acesso em: 12 de out. de 2015.

A causa secreta. In: Wikipédia, a enciclopédia livre. Disponível em:. <https://pt.wikipedia.org/wiki/A_Causa_Secreta>. Acesso em: 12 out. 2015.

DAL SASSO, Sônia M. ; TOLEDO, R. R. . A diegese nos contos A causa secreta de Machado de Assis e O pé de alface de Geraldo França Lima. Revista Científica da FAMINAS , v. 9, p. 87-97, 2013. Disponível em: <http://www.faminasbh.edu.br/publicacoes/index/1/cient> Acesso em: 12 out. 2015.

Referências

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