66215624 ressocializacao de presos no distrito federal
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PUC VIRTUAL ESPECIALIZAÇÃO EM SEGURANÇA PÚBLICA A DISTÂNCIA
MARCOS AURÉLIO SLONIAK
RESSOCIALIZAÇÃO DE PRESOS CONDENADOS AO
AO CUMPRIMENTO DE PENA NO REGIME
FECHADO NO DISTRITO FEDERAL
PORTO ALEGRE 2007
Contato com o autor: msloniak@terra.com.br
PROBLEMAS DE SEGURANÇA PÚBLICA E SOCIEDADE
RESSOCIALIZAÇÃO DE PRESOS CONDENADOS AO CUMPRIMENTO DE PENA REGIME FECHADO
NO DISTRITO FEDERAL
Monografia apresentada como cumprimento parcial do curso de Especialização em Segurança Pública, pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul.
Orientadora: Profª Dr Rosa Maria Gross de Almeida
Porto Alegre 2007
MARCOS AURÉLIO SLONIAK
PROBLEMAS DE SEGURANÇA PÚBLICA E SOCIEDADE
A RESSOCIALIZAÇÃO DE PRESOS CONDENADOS AO REGIME FECHADO NO DISTRITO FEDERAL
Monografia apresentada como cumprimento parcial do curso de Especialização em Segurança Pública, à distância, pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul.
Aprovada pela Banca Examinadora em ____ de ______________de ____.
Banca Examinadora
________________________________________ Profª Dr Rosa Maria Gross de Almeida – PUC RS
________________________________________ Prof Drando. Julio Alejandro Quezada Jélvez
________________________________________ Professor(a) Examinador(a)
Dedico a Deus pela força nos momentos mais complexos onde
a realidade e o estímulo muitas vezes desaparecem, mas a persistência e a
perseguição de objetivos prevalecem, tornando possíveis os sonhos.
Dedico também à minha filha, pelo carinho, alegria e
compreensão da ausência na realização deste trabalho.
Dedico aos colegas do Sistema Penitenciário do Distrito
Federal, heróis anônimos que atuam de maneira dignificante e incansável na
segurança e no aprimoramento do Sistema Prisional da Capital Federal.
AGRADECIMENTOS
Ao Excelentíssimo Senhor Doutor Nelson Ferreira Junior – Juiz de Direito
Titular da Vara de Execuções Criminais de Brasília que através de sua equipe de
colaboradores, possibilitou o esclarecimento necessário para o desenvolvimento
deste trabalho.
Ao Excelentíssimo Senhor Doutor Osvaldo Tovani – Juiz de Direito
Substituto da Vara de Execuções Criminais de Brasília, pela presteza nas
informações prestadas e esclarecimentos que enriqueceram o trabalho.
Ao Doutor Anderson Jorge Damasceno Espíndola – Delegado de Policia
Civil do Distrito Federal, Subsecretário do Sistema Penitenciário do Distrito Federal,
pela possibilidade de desenvolvimento deste no âmbito da SESIPE.
Ao Doutor Marco Antônio de Almeida – Delegado de Policia Civil do Distrito
Federal, Diretor da Penitenciária do Distrito Federal, pelo estímulo, pela amizade,
autorização e disponibilidade em tornar possível o referido trabalho dentro da
Penitenciária do Distrito Federal.
Ao Doutor Johnson Kenedy Monteiro - Delegado de Policia Civil do Distrito
Federal, Gerente de Coleta e Análise de Dados da Subsecretaria do Sistema
Penitenciário do Distrito Federal, pelas informações prestadas nas atribuições afetas
a SESIPE;
Ao Doutor Brás Justino da Costa, Diretor Executivo da Fundação de Amparo
ao Trabalhador Preso do Distrito Federal, pelas informações prestadas sobre os
projetos e competências da FUNAP que viabilizaram e enriqueceram este trabalho.
A Profª Drª Rosa Maria Gross de Almeida, pela orientação fornecida durante
o desenvolvimento desta pesquisa.
RESUMO
Introdução: Os presos que são condenados a cumprir pena no regime fechado enfrentam uma realidade prisional de poucas atividades voltadas para a recuperação social além de outros aspectos previstos na Lei de Execuções Penais tais como a individualização da pena, classificação entre outros. Objetivo Geral: Explorando essa deficiência este trabalho buscou analisar os aspectos das políticas de ressocialização de presos condenados no Distrito Federal, através da aplicação da Lei de Execuções Penais, evidenciando os resultados obtidos e as perspectivas em torno do assunto, tendo como foco um dos estabelecimentos prisionais, denominado Penitenciária do Distrito Federal, onde estão alocados mais de 2200 presos condenados ao regime fechado. Objetivos específicos: Para analisar esse problema, é preciso caracterizar a história das prisões ao longo dos tempos e suas finalidades; analisar a Lei de Execuções Penais e o que ela pretende com os direitos e deveres impostos aos presos condenados; entender a estrutura organizacional do sistema penitenciário do Distrito Federal, e qual a opinião de cada órgão na reflexão do problema abordado, quais sejam; a VEC - Vara de Execuções Criminais; a SESIPE - Subsecretaria do Sistema Penitenciário e a FUNAP - Fundação de Amparo ao Trabalhador Preso além de analisar o contexto atual com os resultados obtidos até o momento o que permitirá a confirmação da hipótese explorada no presente trabalho. Referencial Teórico: A questão da ressocialização de presos é abordada sobre vários aspectos em diferentes ramos científicos. A análise da opinião retratada por sociólogos, criminologistas e penalistas tais como Michel Foucalt, Cesare Beccaria, Alexandre Baratta, Júlio Mirabete, Fernando Capez entre outros embasam este trabalho, sendo complementados por dados estatísticos oficiais de âmbito Federal e no próprio ordenamento jurídico brasileiro que trata do assunto. Metodologia: Trata-se de uma pesquisa bibliográfica complementada por questionários formulados com perguntas específicas para cada órgão público entrevistado cujo objetivo é corroborar o desenvolvimento do trabalho e o referencial teórico utilizado que compõe atuam no sistema penitenciário do Distrito Federal Resultados: Os resultados alcançados demonstram a ineficácia do modelo atual sendo que atualmente a Penitenciária do Distrito Federal não possui praticamente nem um projeto de ressocialização em andamento, cujos motivos são a falta de pessoal, a estrutura atual e a falta de investimentos do estado em políticas que acolham o tema Conclusão: O modelo atual adotado na Penitenciária do Distrito Federal é ineficaz quanto aos objetivos da ressocialização prevista na Lei de Execuções Penais, onde prepondera a segurança em detrimento das atividades sociais, fato este motivado pela falta de recursos pessoais e financeiros, o que demonstra a falta de investimentos nesta área. O ócio prevalece no estabelecimento prisional e as oficinas destinadas a implementação de atividades laborativas estão paradas e sem utilização.
Palavras Chave: Execução Penal – Regime Fechado - Ressocialização – Distrito Federal
ABSTRACT
Introduction: The prisoners who are condemned to fulfill penalty in the closed regimen face
a prisional reality of few activities directed toward the social recovery beyond other aspects foreseen in the Law of Criminal Executions such as the individualização of the penalty, classification among others. General objective: Exploring this deficiency this work searched to analyze the aspects of the politics of recovery of prisoners condemned in the Federal District, through the application of the Law of Criminal Executions, evidencing the gotten results and the perspectives around the subject, having as focus one of the prisionais establishments, called Prison of the Federal District, where 2200 convicted prisoners to the closed regimen are placed more than. Specific objectives: To analyze this problem, she is necessary to characterize the history of the arrests throughout the times and its purposes; to analyze the Law of Criminal Executionsthe SESIPE - Undersecretary's office of the Penitentiary System and the FUNAP - Foundation of Support to the Imprisoned Worker beyond analyzing the current context with the results gotten until the moment what it will allow the confirmation of the hypothesis explored in the present work. Theoretical Referencial: The question of the recovery of prisoners is boarded on some aspects in different scientific branches. The analysis of the opinion portraied for sociologists, criminologists and jurists such as Michel Foucalt, Cesare Beccaria, Alexander Baratta, Júlio Mirabete, Fernando Capez among others base this work, being complemented by official statistical base of Federal scope and in the proper Brazilian legal system that deals with the subject.Methodology: One is about a bibliographical research complemented by questionnaires formulated with specific questions for each interviewed public agency whose objective is to corroborate the development of the work and the used theoretical referencial that composes acts in the penitentiary system of the Federal District Results: The reached results demonstrate the inefficacy of the current model being that currently the Prison of the Federal District practically does not possess nor a project of in progress recovery, whose reasons are the staff lack, the current structure and the lack of investments of the state in politics that receive the subject Conclusion: The adopted current model in the Prison of the Federal District is inefficacious how much to the objectives of the recovery foreseen in the Law of Criminal Executions, where it preponders the security in detriment of the social activities, fact this motivated by the lack of personal and financial resources, what it demonstrates the lack of investments in this area. The occupation lack prevails in the prisional establishment and the destined workshops the implementation of work activities are stops and without use.
Key Words: Criminal Execution - Closed Regimen - Recovery Of Prisoners - Federal District
LISTA DE ABREVIAÇÕES
CDP – Centro de Detenção Provisória CIR – Centro de Internamento e Reeducação ENEM – Exame Nacional do ensino Médio FUNAP – Fundação de Amparo ao Trabalhador Preso LEP – Lei de Execuções Penais MEC – Ministério da Educação MPDFT – Ministério Público do Distrito Federal e Territórios PDF – Penitenciária do Distrito Federal PFDF – Penitenciária Feminina do Distrito Federal PROUNI – Programa de acesso a Universidade SEJUS – Secretaria de Estado de Justiça, Direitos Humanos e Cidadania SENAC – Serviço Nacional do Comércio SENAI – Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial SESI – Serviço Nacional da Indústria SESIPE – Subsecretaria do Sistema Penitenciário UNB – Universidade de Brasília VEC – Vara de Execuções Criminais
SUMÁRIO INTRODUÇÃO.......................................................................................... 10 1 JUSTIFICATIVA........................................................................................ 13 1.1 Intenção de estudo: problema, objetivos e hipótese........................... 17 2 METODOLOGIA....................................................................................... 19 2.1 Desenvolvimento do estudo.................................................................. 19 3 CONTEXTUALIZAÇÃO DA PROBLEMÁTICA INVESTIGADA.............. 21 3.1 A História das Prisões........................................................................... 21 3.2 A Lei de Execuções Penais e sua aplicabilidade................................. 24 3.3 Fatores essenciais na ressocialização................................................. 28 3.4 O sistema penitenciário do Distrito Federal......................................... 34 3.5 A Penitenciária do Distrito Federal........................................................ 35 3.6 A ressocialização dos presos condenados no Distrito Federal......... 36 3.7 A opinião da Vara de Execuções Criminais......................................... 37 3.8 A opinião da Subsecretaria do Sistema Penitenciário........................ 43 3.9 A opinião da Fundação de Amparo ao Trabalhador Preso................. 45 CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................................... 50 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS......................................................... 54 ANEXOS................................................................................................... 56
.
INTRODUÇÃO
Ser recolhido para o cumprimento de pena em uma Penitenciária, tanto para
aqueles que chegam pela primeira vez, quanto para os que retornam é uma
experiência que jamais será por eles esquecido.
Muito mais do que pagar o mal cometido à sociedade, outros aspectos que
envolvem o cumprimento da pena no sistema penitenciário atual tornam tal sanção
punitiva muito mais pesada diante das restrições impostas aos presos condenados,
fruto da ineficácia do sistema atual.
Diante dessa perspectiva, ali é que começa para a grande maioria dos
presos a noção do cenário para o qual estão retornando ou ingressando para
conhecer.
Este cenário chamado prisão, penitenciária ou outros nomes familiares que
caracterizam o cerceamento da liberdade imposta ao cidadão que de alguma forma
se marginalizou, é totalmente adversa a liberdade, quase sempre com leis próprias e
condutas que exigem de cada um o retorno a princípios que se tivessem observado
no seu dia a dia, teriam sensibilidade e talvez optassem em não conhecê-lo.
Durante o cumprimento da pena, muitas são as questões de adaptação
pelas quais o preso condenado é obrigado a passar. Entre elas a conduta, os
horários e principalmente a disciplina, enfim noções que fazem parte da vida de
qualquer cidadão, mas que ao romperem o mundo do crime, esses padrões se
perdem e de alguma forma, ainda que coercitivamente, o Estado imporá sua
estrutura na obtenção desses e outros fenômenos sociais que regem a sociedade
civilizada.
É justamente no momento do início de cumprimento de pena, nesse caso
específico, para aqueles que foram condenados ao regime fechadoa, que constitui o
a O Regime Fechado é um tipo de Pena Restritiva de Liberdade, estabelecido no Art 33 § 1º letra a) do Código Penal Brasileiro e será definido com base no Art 59 do mesmo Código, quando o juiz sentenciar a pena imposta ao criminoso.
11
regime de cumprimento de pena mais grave na legislação atual, o qual é
determinado pelas circunstâncias do delito praticado e de outras peculiaridades
legais, que deveriam começar as ações previstas na Lei de Execuções Penais
(LEP) 1 com vistas a recuperação social e a preparação de retorno do preso
condenado a sociedade.
A prisão é uma necessidade social para aquele que escolhe a marginalidade
como uma prática comum. Porém mais importante que prender, é lembrar que o
preso condenado retornará mais cedo ou mais tarde ao convívio social e esse
retorno, na maioria dos casos, é frustrante e devolve a sociedade um ser mais
violento, e com um ímpeto de justiça própria que o induz a praticar novos delitos e
assim retornar ao cárcere.
A LEP prevê as necessidades e as ações que devem ser implementadas
pelo Estado como forma de possibilitar ao preso condenado, condições para que o
mesmo ao sair da prisão, tenha recebido os meios capazes de promover a sua
ressocialização e a sua reintegração social quando do término da pena.
O assunto mostra-se complexo e polêmico, afinal, a sociedade ao confiar ao
Estado a sua segurança, aceita as condições das penas impostas para que o
convívio social seja respeitado dentro dos padrões estabelecidos. Porém, a questão
do ser humano como um criminoso em potencial, requer não somente a retirada do
convívio social pela pratica do crime, mas também a sua recuperação.
Devolvê-lo doente do ponto de vista criminal para a sociedade, somente
agrava a situação e estimula a prática delituosa, pois o cenário demonstra uma
concorrência acirrada por trabalho, educação, saúde e outras necessidades básicas
de qualquer ser humano, tendo o egresso do sistema prisional que lutar com essas
adversidades, além do estigma de “ex-presidiário”, jargão este que por si só o faz
discriminado e excluído da sociedade, mesmo tendo pagado pelo delito que
praticou.
Essa recuperação passa por um leque complexo de ações que envolvem a
educação, a saúde, a assistência social e o incentivo ao trabalho como formas de
permitir ao preso condenado a revisão de seus conceitos sociais e assim, gerar nele
a expectativa de voltar ao convívio social sem a necessidade de cometer novas
infrações.
Ao alcançar esses objetivos, toda a sociedade ganha, com a diminuição da
criminalidade, com a economia gerada pelo investimento educacional e pelo
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combate a criminalidade, permitindo ao egresso ressocializado, condições de voltar
ao convívio social e seguir as regras que regem esse convívio de uma forma
satisfatória que o afaste da criminalidade.
Cabe ressaltar que há um interesse do Estado quando prevê nas legislações
que regem o cumprimento das penas, a possibilidade de permitir ao preso
condenado o acesso a programas que visem sua reintegração social, e isso significa
criar no homem já adulto, a percepção de valores que adquirimos ao longo de anos
e que envolvem um sistema complexo no qual estamos inseridos atingindo as áreas
sociais, econômicas, educacionais entre tantas outras.
O que a LEP prevê não significa abrandar a pena imposta ao sentenciado,
mas por outro lado, a legislação pátria afirma que a sentença atingirá tão somente os
aspectos referentes à liberdade do preso, devendo ser resguardados os demais
direitos 1;1.
Proporcionar aos presos condenados possibilidades de serem recuperados
do ponto de vista social para terem condições normais de convivência dentro de um
País com tantas desigualdades sociais entre aqueles que não cedem a
criminalidade, mostra-se um assunto contundente do qual este trabalho visa
explanar a necessidade de investimentos nessa área, sob pena de gerar um mal
social ainda maior.
A falta de efetivo pessoal, de investimentos e a precariedade do modelo
atual dificultam qualquer tentativa de obter êxito quanto a ressocilização no regime
fechado, tornando essa possibilidade um anseio impossível de ser alcançado
somente na dependência estatal. Os atributos capazes de tornar a ressocialização
uma realidade palpável necessitam também da participação do próprio condenado
para que a perspectiva ressocializadora seja alcançada.
Este trabalho mostrará no seu primeiro capítulo a justificativa e as intenções
que motivaram o presente trabalho, seguido pela metodologia utilizada para a sua
elaboração, destacando as características do método de pesquisa utilizado. No
terceiro capítulo, há uma explanação da história das prisões até alcançar o momento
atual e a abordagem do tema proposto onde se destacam a organização do sistema
penitenciário do Distrito Federal, análise de dados sobre o sistema, bem como a
opinião dos órgãos públicos afetos ao tema na Capital Federal e por fim as
considerações finais que demonstram os resultados alcançados com este trabalho
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1 JUSTIFICATIVA E INTENÇÕES DO ESTUDO
1.1 Justificativa
Analisar o sistema penitenciário atual e identificar os problemas existentes
na estrutura, os quais impedem a execução de políticas de melhoria que visem a
ressocialização dos presos condenados não é uma tarefa simples, porém, com base
em estudos anteriores e na situação atual, é possível entender alguns reflexos
dessa dificuldade e dos obstáculos que a desestimulam.
A Política Penitenciária é disciplinada na Constituição Federal que coloca a
competência para tratar de legislação penitenciária como concorrente entre a União,
os Estados e o Distrito Federal 2, cabendo a União o aspecto geral e aos Estados e
DF, o aspecto complementar nessa área.
Entre as legislações federais que tratam do assunto, a Lei de Execuções
Penais é que direciona o interesse estatal com o cumprimento da pena e estabelece
como dever do Estado a ressocialização, tal a importância do assunto na esfera do
convívio social e também como forma de combater a criminalidade, citando em seu
Art 10 1;2 que “a assistência ao preso e ao internado é dever do Estado, objetivando
prevenir o crime e orientar o retorno à convivência em sociedade”.
Segundo Andrew Coyle 3, não basta que as autoridades meramente tratem
as pessoas presas com humanidade e dignidade, antes devem oferecer
oportunidade de mudança e desenvolvimento a elas e isso exige habilidades
consideráveis e muito empenho, assim as penitenciárias devem ser lugares onde
haja um amplo programa de atividades construtivas que ajudem as pessoas presas
a melhorar a sua condição de vida além do cumprimento da pena imposta.
Nesse mesmo sentido, o Plano Nacional de Segurança Pública 4 reconhece
a falência do sistema atual no que tange a falta de políticas que possibilitem ao
preso, não um abrandamento no cumprimento da pena, mas condições para que o
mesmo tenha oportunidade de ser ressocializado antes de retornar ao convívio
social, e não simplesmente carregar o condão de ex-presidiário como ocorre
atualmente.
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Conforme exemplifica Mirabete 5, com o surgimento da Escola da Nova
Defesa Social, o Estado tem buscado instituir uma política criminal humanista
fundada na idéia de que a sociedade apenas é defendida, à medida que se
proporciona a adaptação do condenado ao meio social, isto caracteriza a teoria
ressocializadora.
Mirabete apud Reale Jr 6, ressalta que a Escola da Defesa Social criou outra
perspectiva sobre a finalidade da pena, não mais como expiação ou retribuição da
culpa, mas como um instrumento de ressocialização do condenado.
A ressocialização, citada por diversos autores e especialistas, presente
como política estatal nos ordenamentos jurídicos está longe de ser alcançada na
primazia de sua realidade. Afinal o cenário atual demonstra o oposto, um sistema
falido onde as necessidades básicas dos presos não são supridas pelo Estado e o
hiato entre a previsão legal e a volta ao convívio social recuperado é cada vez maior.
Dessa forma, analisando o cenário de políticas em busca da ressocialização
dos presos condenados no Sistema Prisional do Distrito Federal e a transição pela
qual todo o sistema carcerário local está passando, num momento delicado e ao
mesmo tempo necessário, esse estudo torna-se oportuno dentro da área de
Segurança Pública, uma vez que sintetiza experiências e ações que estão sendo
implantadas com a finalidade mudar a estrutura atual focando a ressocialização dos
presos como um critério singular a ser perseguido.
Ao longo da história, vimos à transformação das penas que antes eram
corporais, passando pela clausura nos mosteiros como forma de penitência e
reflexão, até atingirmos o sistema progressivo onde uma série de etapas é cumprida
e a progressão alcançada com base em dois fatores distintos quais sejam - o tempo
e o comportamento - além de critérios subjetivos impostos na legislação atual.
As experiências com a ressocialização de pessoas presas tomaram força na
década de 70 em alguns países da Europa, como a Itália e a Alemanha que
reformaram suas legislações. Essas reformas ocorreram sob a influência da
necessidade de atingir a ressocialização ou do “tratamento” reeducativo e
ressocializador como fim último da pena.
Porém, mesmo nos paises desenvolvidos, onde os investimentos se
mostram mais fartos, a ressocialização é um problema complexo conforme cita
Alexandre Baratta 7:
15
A realidade prisional apresenta-se muito distante daquilo que é
necessário para fazer cumprir as funções de ressocialização e os estudos
dos efeitos da cadeia na vida criminal (atestam o alto índice de reincidência)
têm invalidado amplamente a hipótese da ressocialização do delinqüente
através da prisão. A discussão atual parece centrada em dois pólos: um
realista e o outro idealista.
No primeiro caso, o reconhecimento científico de que a prisão não
pode ressocializar, mas unicamente neutralizar; que a pena carcerária para
o delinqüente não significa em absoluto uma oportunidade de reintegração à
sociedade, mas um sofrimento imposto como castigo, se materializa em um
argumento para a teoria de que a pena deve neutralizar o delinqüente e/ou
representar o castigo justo para o delito cometido.
A realidade brasileira não se mostra diferente, com índices de reincidência
altíssimos o que demonstra que o modelo atual não consegue atender à sua
finalidade.
Diante desse cenário, este estudo tem a intenção de evidenciar a realidade
atual no Distrito Federal com a questão da ressocialização de presos condenados,
ressaltando os principais impedimentos enfrentados e as soluções buscadas nas
diferentes esferas de participação dos órgãos que diretamente participam da
execução penal e da administração penitenciária.
O processo de cumprimento da pena é algo complexo e que deveria fazer
com que o preso condenado, ao cumpri-la, pudesse ter condições de voltar ao
convívio social, convencido do erro que cometeu e dessa forma conviver
socialmente sem transgredir novamente.
O cenário atual do Sistema Penitenciário Nacional demonstra que esse
hiato é cada vez mais difícil de ser alcançado e que a falta de investimento do
Estado em políticas que permitam ao preso condenado, condições de rever sua
conduta, dando a ele dignidade e capacidade laboral, educacional e assistencial,
refletem no aumento da reincidência criminal, pois ao sair das prisões, os ex-
presidiários carregam consigo uma marca que os rotula e por si só os excluem das
oportunidades já escassas de trabalho, voltando então a delinqüir.
Embora a receita para alcançar essa ressocialização esteja contida nos
diversos manuais de execução penal e também em legislações específicas, a
realidade existente nas penitenciárias é totalmente avessa e ineficaz.
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Alcançar índices cada vez maiores de ressocialização dos presos
condenados deveria ser um alvo constantemente perseguido pelas instituições que
trabalham na área de Segurança Publica, especificamente, com o sistema prisional,
pois o reflexo da criminalidade não tem barreiras e atinge a sociedade com um todo.
O Distrito Federal está atualmente em fase de transição com a gestão atual
do Sistema Prisional local, focando a questão da ressocialização com mais interesse
no cumprimento da pena, o que deve ter um reflexo positivo com os resultados
obtidos na questão da ressocialização também para os presos que cumprem pena
no regime fechado.
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1.2 Problema, objetivos e hipótese
Este estudo teve como problema principal a seguinte formulação:
As ações realizadas na Penitenciária do Distrito Federal no que diz respeito
à previsão legal de ressocialização têm sido eficazes e possibilitam aos presos que
cumprem pena nesse regime o acesso a programas que tenham como foco a
preparação para o retorno ao convívio social?
No alcance de resposta a este problema, foram focados os seguintes os
objetivos:
Geral: Analisar os aspectos das políticas de ressocialização de presos
condenados no Distrito Federal, através da aplicação da Lei de Execuções Penais,
evidenciando os resultados obtidos e as perspectivas em torno do assunto, tendo
como foco um dos estabelecimentos prisionais, denominado Penitenciária do Distrito
Federal, onde estão alocados mais de 2200 presos condenados ao regime fechado.
Específicos:
a) Expor um breve histórico das prisões na história da humanidade e sua
evolução em diferentes aspectos;
b) Analisar a Lei de Execuções Penais e suas responsabilidades dentro do
contexto de ressocialização;
c) Apresentar a estrutura sobre a qual está organizado o sistema prisional
do Distrito Federal;
d) Apresentar a estrutura formal da Penitenciária do Distrito Federal e suas
particularidades;
e) Analisar a situação atual do Distrito Federal na aplicação das ações
propostas na LEP quanto à ressocialização de presos condenados;
f) Identificar os benefícios que a ressocialização podem trazer ao
sentenciado durante o cumprimento da pena e como essa atividade pode
ajudar a mantê-lo afastado da marginalidade;
g) Identificar o quantitativo prisional alcançado pelas políticas atuais e sua
proporcionalidade diante da população prisional do Distrito Federal.
Hipótese: A ressocialização de presos que cumprem pena no regime
fechado praticamente inexistem e o modelo atualmente adotado não possibilita
condições mínimas de atingir os objetivos estabelecidos na LEP quanto a
ressocialização. A estrutura atual é focada na segurança, que não deixa de ser um
18
fator essencial para se atingir os objetivos, porém, a falta de pessoal e de
investimentos inviabiliza qualquer ação quanto ao aspecto ressocializador.
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2 METODOLOGIA
Para Viegas8 são duas as questões ligadas às técnicas de levantamento de
dados, que constituem a classificação e a validade das interferências, ou seja, o
grau de confiabilidade que se pode ter na interpretação dos dados.
O cientista para testar uma hipótese, busca na natureza uma resposta
capaz de confirmar ou rejeitar suas suposições. Essa fase caracteriza o
levantamento de dados, pode ocorrer de forma estruturado, formal não estruturado e
informal 8; 131 .
No ambiente informal de levantamento, tanto o estímulo como as respostas
são assistemáticos, ou seja, não existe um padrão de relacionamento entre as
partes constitutivas desses elementos.
Dentro desse caráter assistemático 8; 175, a pesquisa bibliográfica apresenta
um estimulo comportamental de observação participante, que se evidencia através
de respostas escritas ou verbais, obtidas através de questionários e entrevistas,
onde a preocupação do pesquisador deve voltar-se para o teor das perguntas
formuladas, as quais devem pautar-se, com o pedido mínimo necessário de
informações; perguntas que possam ser respondidas e ao serem respondidas isso
ocorra de forma honesta bem como deve assegurar-se de que as perguntas serão
respondidas e não recusadas.
2.1 Desenvolvimento do Estudo
Com base nessa forma metodológica, esta pesquisa bibliográfica, abrange a
entrevista formal com os responsáveis pelos órgãos envolvidos na ressocialização
de presos condenados ao regime fechado no Distrito Federal, permitindo uma
amplitude avaliativa capaz de obter resposta à hipótese formulada.
Com a confecção de questionários distintos e perguntas objetivas sobre o
tema proposto, foram entrevistados os responsáveis pelos órgãos que tem ligação
com o tema abordado, permitindo juntamente com a opinião de autores e dados
estatísticos oficiais, desenvolver a presente pesquisa.
Ao mesmo tempo, o problema analisado permitirá entender de uma forma
adequada e organizada a natureza da questão ressocializadora na Penitenciária do
Distrito Federal, sua complexidade e alcance com base nos referenciais teóricos que
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envolvem o tema, além da análise da legislação federal, dados estatísticos de
âmbito federal e local além de informações carcerárias e documentos que
disciplinam a atividade dentro do Sistema Prisional do Distrito Federal.
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3 CONTEXTUALIZAÇÃO DA PROBLEMÁTICA INVESTIGADA
3.1 A história das prisões
É difícil precisar na história da humanidade, a origem exata das prisões
como forma de cerceamento da liberdade por infração de alguma norma. Na Bíblia,
no livro do Gênesis encontramos no seu capítulo 40, a orientação de Faraó para que
dois subordinados seus fossem recolhidos ao cárcere por descumprirem suas
ordens9.
Segundo Mirabete apud Pimentel 5;249, as prisões no modelo como
conhecemos atualmente surgiram nos mosteiros da Idade Média, como forma de
punir clérigos e monges faltosos, induzindo-os ao silêncio para que os mesmos
refletissem sobre seus erros e assim se arrependessem da falta cometida,
reconciliando sua vida com Deus.
Dessa idéia, surgiria a House of Correction, construída em Londres entre
1550 e 1552, destinada ao recolhimento de criminosos. Esse modelo foi amplamente
difundido até o século XVIII, mas devido as suas graves deficiências na finalidade
proposta, foi alvo de reformas que mudaram a filosofia até então aplicada.
No ano de 1764, Cesare Beccaria10 lança o livro “Dos delitos e das Penas”
que se tornaria clássico sobre o tratamento prisional e que retrata a indignação com
as medidas adotadas na época. As idéias de Beccaria citam que naquela época, a
visão dos senadores ingleses já vislumbrava que a origem das transgressões estaria
relacionada na desproporção econômica entre as classes e os grupos que
concorrem entre si.
Nesse cenário carente de mudanças, com a publicação do livro de Beccaria
pregando uma nova filosofia penal, surgem três sistemas penitenciários
característicos para o cumprimento das penas privativas de liberdade. Sendo o da
Filadélfia, o de Auburn e o sistema Progressivo (inglês ou irlandês).
Segundo Mirabete 5;.249, o sistema Filadélfia, também conhecido como
pensilvânico, belga ou celular, utilizava o isolamento absoluto do indivíduo, com um
passeio do sentenciado em um pátio circular, sem direito a visitas ou ao trabalho e
estimulando a leitura bíblica como um refúgio. Devido à rigidez e a falta da visão de
readaptação social esse sistema foi amplamente criticado.
22
Sobre esse sistema prisional, Roberto Lyra 11 afirmou que:
Variaram apenas na “técnica” os castigos diretos ou indiretos, no
corpo e na alma. Tudo para confessar e purgar a culpa, arrepender-se e
penitenciar-se, sacramentalmente, numa célula. Com finalidade utilitária
(proselitismo religioso, trabalho forçado, exploração sob várias formas) a
prisão foi sendo ampliada entre muros cada vez mais altos e as
segregações.
No sistema auburniano, o isolamento era mantido no período noturno,
porém os presos trabalhavam em suas celas e em atividades comuns. O silêncio
continuava sendo exigido de forma absoluta, o que o fez conhecido como o sistema
do silêncio.
Como forma de estabelecer a comunicação, os presos criaram formas de se
comunicar através de gestos, com as mãos, o que até hoje pode ser visto em
qualquer penitenciária e que gerou um alfabeto próprio dentro das prisões visando
dissimular a atenção dos policiais, fragilizando o sistema.
O sistema progressivo surge na Inglaterra, em meados do século XIX, e
levava em conta o comportamento e aproveitamento do preso, demonstrados pela
boa conduta e pelo trabalho, em três diferentes períodos de observação. Este
sistema foi aperfeiçoado pela Irlanda que definiu a condenação em quatro
momentos distintos:
Esses quatro momentos se caracterizam temporalmente: o primeiro de
recolhimento contínuo nas celas; o segundo pelo isolamento noturno com trabalhos
durante o dia; o terceiro momento seria o de semiliberdade onde o sentenciado
trabalha fora da prisão e se recolhe à noite e o último é o livramento condicional.
Diante dessa evolução, Roberto Lyra 11;2 afirma que:
Depois, vieram às prisões para “salvar”, “regenerar”, “recuperar”,
“corrigir”, “emendar”, “reformar” e outras mentiras. O chamado sistema ou
regime penitenciário, originário de religião, perdeu ou abandonou sua base:
o pecador (o criminoso) aceitava e, às vezes, suplicava como graça, a
penitência.
23
A “reabilitação” vinha da adesão íntima ao sofrimento purificador.
A sinceridade purgatória, a espontaneidade do arrependimento é que
tornava “instrumento de vida e de saúde o longo suplício da solidão que, por
si mesma, (só inspira o vício e o desespero). Eis o reconhecimento de que,
sem a penitência, a penitenciária é vício, é desespero.
Mesmo com a evolução humana, a função precípua de qualquer
Penitenciária, no regime democrático, continua sendo a mesma – o encarceramento
de pessoas pelo cometimento de infrações a determinada lei, como forma de pagar
a sociedade o mal cometido, através da imposição de uma pena, legalmente
estabelecida, por um tribunal competente.
Porém, o confinamento de criminosos como forma de reparar o dano
ocasionado ainda se mostra controverso e ineficaz, pois na verdade não alcançam
sua plenitude, a real necessidade de reinserir esse alienado ao mundo do qual fora
retirado pela sua ação, em condições que o permitam acima de tudo, retomar sua
vida dentro de uma normalidade social.
Dentro dos regimes citados, o Brasil adota com algumas modificações o
sistema progressista da pena, onde o condenado vai sendo observado por critérios
estabelecidos e assim progride paulatinamente no cumprimento da sua pena, até
extinguir a mesma.
24
3.2 A Lei de Execuções Penais e a sua aplicabilidade
A execução penal no Brasil está regulada pela Lei nº 7.210 de 11 de julho de
1984 1;1 que disciplina as formas de execução da pena além de estabelecer direitos
e obrigações aos sentenciados, visando não somente o cumprimento da pena em si,
mas também a assistência necessária ao egresso do sistema prisional brasileiro.
Embora seja uma lei abrangente do ponto de vista jurídico, o que se vê na
prática é uma discrepância quase que impossível de ser cumprida pelos estados
brasileiros, a quem cabe a execução penal, pois a realidade prisional brasileira
demonstra uma demanda de vagas e falta de políticas que possibilitem a
ressocialização idealizada na LEP.
A realidade prisional brasileira demonstra exemplos escassos de soluções
bem sucedidas no foco educacional dos sentenciados, porém em sua grande
maioria, o sistema mostra-se falido e incapaz de atender aos pressupostos legais
que em tese possibilitariam aos sentenciados, condições de reverem seus conceitos
durante o cumprimento da pena, tendo acesso à atividade laboral, educacional e
terapêutica, como forma de permitir uma preparação equacionada para o retorno ao
convívio social.
A LEP prevê aos presos o direito a assistência material, saúde jurídica
educacional social e religiosa, prevendo ainda a assistência ao egresso e regulando
a metodologia de trabalho imposta durante o cumprimento da pena. Essa previsão,
assistencial, vem de encontro ao artigo 3º da lei que assegura todos os direitos não
atingidos pela sentença ou pela lei, o que em tese em situações normais, ocorre com
a privação da liberdade, como forma de reparar o bem lesado.
Embora o texto se mostre harmônico e abrangente, a utopia da intervenção
estatal no cumprimento da pena é algo cada vez mais visível e que freqüentemente
surge na mídia com as conseqüências de um sistema falido e inócuo.
A questão da ressocialização de presos é um problema antigo, conforme
citado anteriormente, onde a penitência e o isolamento como forma de repensar o
ato praticado foi evoluindo para uma nova concepção que ocasionou o surgimento
de uma visão onde é preciso punir, mas também se faz necessário à prevenção e
daí a necessidade de ressocializar os presos12, como uma forma de inibir e diminuir
a criminalidade.
25
A legislação se mostra coerente e tem uma amplitude jurídica que defende o
direito dos presos, mas a sua aplicabilidade para resguardar os direitos previstos se
mostra ineficiente.
O homem em sua formação moral, precisa ter acesso a educação, ao
trabalho, a convivência familiar e a uma serie de fatores subjetivos que moldam a
personalidade de cada um a medida que avança em sua trajetória social. Contudo,
se durante a formação dessa personalidade, o acesso às necessidades sociais se
tornarem precárias, maior será a propensão deste homem em delinqüir e assim
acabar na marginalidade.
É fato que nem todos os crimes cometidos estão relacionados à falta de
oportunidades sociais, os quais ditam os parâmetros medianos de convivência
social, porém a grande maioria da população carcerária atual apresenta em seu
histórico de vida, deficiências quanto ao acesso educacional, laboral e de
estruturação familiar que de alguma maneira influenciaram no seu desvio de
conduta, tornando relevante essa visão econômica da população carcerária.
Essas deficiências, perdidas ou não disponibilizadas aos indivíduos durante
seu crescimento e desenvolvimento moral é que terão que ser recuperadas dentro
das Penitenciárias, com o objetivo de aproveitar a pena imposta, e dessa forma
conseguir que o condenado reflita e tenha oportunidade capaz de fazê-lo repensar
seu intelecto e assim, obter condições de ser reinserido na vida social, recuperado
sob o ponto de vista da convivência e com ponderações que lhe permitam manter-se
afastado da criminalidade, porém, conforme, Astor Guimarães Dias13, a realidade do
egresso é outra muito diferente:
E quando os gonzos do portão penitenciário giram, para restituir à
vida social aquele que é tido como regenerado, o que em verdade sucede, é
que sai da prisão o rebotalho de um homem, o fantasma de uma existência,
que vai arrastar, para o resto de seus dias, as cadeias pesadas das
enfermidades que adquiriu na enxovia, nessa enxovia para onde foi
mandado para se corrigir e onde, ao invés disso, adestrou-se na
delinqüência, encheu a alma de ódio e perverteu-se sexualmente.
A grande distorção em torno da ressocialização está no fato da discrepância
que é a recuperação do preso condenado e ao mesmo tempo a obrigação de
26
tardiamente tentar criar nele os valores que não foram suficientemente capazes de
permitir ao mesmo uma vida normal dentro da sociedade.
Não são poucos os discursos que soam sobre a necessidade de que os
presos condenados devem ser ressocializados, reinseridos ou até reeducados para
viver em sociedade. Mas, a verdade é que aquele que precisa ser ressocializado
talvez nunca tenha sido socializado, sempre viveu a margem da sociedade. Então,
como fazer para reinserir alguém que, na realidade, nunca esteve inserido no meio
social?
Daí, a responsabilidade estatal mostra-se muito mais complexa e relevante e
ao mesmo tempo choca com outros problemas sociais que ponderados à
recuperação das pessoas presas, soa como uma necessidade secundária, afinal, a
população em liberdade, também passa por problemas sociais e falta de aparato
estatal nas áreas educacional, laboral, de saúde pública entre outros e nem por isso
encaram a delinqüência como uma forma de amenizar tais deficiências.
Nesse aspecto, o investimento estatal na recuperação das pessoas presas
induz a uma visão errônea de que o crime possa compensar, afinal, as benécies do
ordenamento legal, fazem com que as pessoas presas encarem o cumprimento de
pena sob uma ótica deturpada onde ao invés de refletirem sobre o ato praticado,
enxergam no próprio sistema, algo que não lhes parece tão ruim e por isso acabam
reincidindo no cometimento de crimes.
Para Foucalt14, o prejuízo que um crime traz ao corpo social é a desordem
que introduz nele, o escândalo que suscita, o exemplo que dá, a incitação a
recomeçar se não é punido e para ser útil, o castigo deve ter como objetivo às
conseqüências do crime, entendidas como a série de desordens que este é capaz
de abrir.
Foucalt 14;72 pondera que a pena deve ser aplicada não em função do crime
praticado, mas da sua possível repetição, não focando a ofensa cometida, mas sim a
desordem futura, de forma que o criminoso não tenha vontade de reincidir e também
sirva como exemplo a não ser seguido, pois um crime é cometido porque traz
vantagens, afinal, se o crime fosse ligado a uma idéia de desvantagem um pouco
maior, ele deixaria de ser algo desejável.
Os presos adentram as Penitenciárias em um estado social defasado e lá
recebem formação escassa ou nenhuma que os capacita para o nada e os tornam
mais revoltados com o sistema que os puniu. Ao deixarem as prisões, usam esse
27
desapontamento e essa revolta no cometimento de novos delitos, daí a realidade
brasileira de cerca de 75% de reincidência entre os egressos do sistema
penitenciário nacional.
Segundo Coyle 3;101, não basta que as autoridades penitenciárias
meramente tratem presos com humanidade e dignidade, Elas também devem
oferecer oportunidades de mudança e desenvolvimento aos presos sob sua
custódia.
A maioria das penitenciárias está repleta de pessoas marginalizadas pela
sociedade, de extrema pobreza, que vêm de famílias desestruturadas, muitas
desempregadas e sem qualquer rede social legítima. Mudar as perspectivas de vida
de pessoas com tantas desvantagens não é tarefa fácil, porém as penitenciárias
devem ser lugares onde haja um amplo programa de atividades construtivas que
ajudem os presos a melhorar sua situação.
No mínimo, ressalta Coyle3;102, a experiência da prisão não deve deixar que
as pessoas presas saiam em condição pior do que quando começaram a cumprir a
sua pena, mas sim, ajudá-las a manter e melhorar sua saúde e seu funcionamento
intelectual e social.
Em parte, a LEP, por não ser cumprida, mostra-se responsável por grande
parte do caos penitenciário nacional. A lei é boa, porém sem investimentos dos
governos, se torna inócua, sem finalidade, e diante de tantos problemas sociais para
aqueles que nunca cometeram crimes, o investimento demasiado em
ressocialização de pessoas presas se mostra uma medida politicamente incoerente,
o que retrata o esquecimento estatal com a realidade penitenciária, costurando os
retalhos de sua ineficácia e contornando tardiamente os depósitos de criminosos
existentes em todas as partes do nosso País.
Melhor seria que a sociedade não precisasse ver seus impostos investidos
na construção de penitenciárias, contudo, a situação social não deixa alternativa,
afinal, entre os milhares que cometem crime, uma minoria acaba sendo punida e
essa minoria, já é capaz de causar uma defasagem enorme de vagas no sistema
carcerário atual, onde o modelo atual permite apenas que haja sim uma sintonia
entre os criminosos de diversos fatos que desconhecidos, se unem nas próprias
prisões e pela deficiência estrutural, vêem oportunidades de se unirem para suprir as
carências estatais, formando assim facções que tentam afrontar o poder estatal
instituído, fruto da deficiência do sistema atual15.
28
Os desconhecidos do dia anterior tornam-se logo amigos, em
grande intimidade por uma coincidência da organização penitenciária e por
sua condição comum de condenados, não importando quais sejam sua
personalidade, seu crime, seu meio anterior e sua formação. Trocam idéias,
contam proezas e dessa "amizade" o saldo é sempre negativo, pois
dificilmente o melhor conseguirá impor suas idéias, o que não ocorre em
relação aos já deformados, pois sempre conseguem contaminar os de boa
formação.
3.3 Fatores essenciais na ressocialização
O artigo 5º da LEP 1;1 prevê que os condenados sejam identificados segundo
os seus antecedentes e personalidade com a finalidade de orientar a
individualização da execução penal.
Essa previsão remete também a Constituição Federal que no seu artigo
5º, XLVI 2;141, trata da individualização da pena, fundamental na execução penal,
pois cada condenado possui um perfil diferente e essa atitude, uma vez seguida,
possibilitaria ao Estado, melhores condições de implantar programas de
ressocialização, em função do crime praticado, da conduta social e do grau de
periculosidade do criminoso, afinal, conforme Muakad 15;26
A criminalidade é um fenômeno tão complexo e múltiplo que não
há dois delinqüentes iguais. Assim, para que se consiga algo de proveitoso,
a pena deverá ser diferenciada, estar de acordo com cada pessoa e não
aplicada como se o tempo de segregação for bem aproveitado para a
reeducação. Isto é, que o homem seja preparado para a vida livre.
Misturando uns e outros, a prisão tradicional a todos condena a
uma corrupção sem esperança de um porvir melhor. Aniquila-se, assim, a
possível reforma do delinqüente, sustada pelo que de pernicioso ocorre na
própria cela. Daí a importância de uma classificação dos presos, pois se
reconhece que o ambiente criminógenob do cárcere somente será
eliminado, pelo menos em parte, com a própria seleção dos reclusos.
A individualização é tão importante que a própria LEP determina a
organização da comissão, com um psiquiatra, um psicólogo e um assistente social
b O termo significa a origem do crime
29
compondo a equipe, a qual terá como base um programa individualizador elaborado
pela CTC – Comissão Técnica de Classificação.
Para Jason Albergaria apud Aleman16, a individualização da pena constitui a
base do tratamento reeducativo uma vez que a observação é a base do tratamento
de reinserção social Segundo a Fundação Internacional Penal e Penitenciária, a
observação científica do delinqüente tem dois objetivos: um imediato, o
conhecimento do homem que delinqüiu e um objetivo final: a determinação do
tratamento adequado com vistas à reinserção social.
Foucault 14;224 cita que a individualização da pena é um dos sete princípios
universais da boa condição penitenciária. Para ele, as pessoas presas devem ser
repartidas de acordo com a gravidade penal, e ainda coloca que se deve levar em
conta, no uso de meios modificadores, das grandes diferenças físicas e morais que
comportam a organização dos condenados e das chances desiguais de correção
que podem oferecer.
3.3.1 O trabalho
Conforme Sérgio Abreu17, o trabalho é uma fonte de dignidade humana,
afinal através dele, o homem se transforma, é capaz de ocupar sua mente,
desenvolver idéias e realizar sonhos.
Em todas as áreas da sociedade, o trabalho é reconhecido como uma
atividade milenar que causou transformações evolutivas tremendas. Pelo trabalho, o
homem foi capaz de automatizar processos, melhorar desempenhos e gerar a
auto-satisfação de sentir-se útil e assim cumprir com suas obrigações sociais.
No âmbito prisional, cerceada a liberdade da pessoa presa, a ociosidade
mostra-se talvez como o maior obstáculo a ser transposto pelo estado na fase de
ressocialização. O ócio produz revolta, gera insatisfação e conduz o detento a se
tornar deprimido 3;106 e assim aumenta o risco do mesmo gerar transtornos,
indisciplina e resistência a qualquer forma coercitiva imposta ao mesmo durante o
cumprimento da pena.
A LEP dispõe ao longo do seu capitulo III 1;4 , as diversas formas
regulatórias de execução do trabalho pelos presos condenados e coloca o trabalho
como um dever social, como condição de dignidade humana e com uma finalidade
educativa e produtiva.
30
Educativa por permitir ao detento a possibilidade de se especializar em
alguma profissão capaz de conceder ao mesmo, oportunidade para exercê-la
quando deixar a Penitenciária, e produtiva, porque a própria legislação prevê a
remuneração do trabalho e dessa forma, ao abrir oportunidades dentro das
penitenciárias, conseguem atingir não somente o condenado, mas também sua
família que normalmente fica desprovida do apoio econômico, além de permitir ao
preso condenado à satisfação pessoal de ser útil e assim, repensar o delito
praticado.
Porém, se no mercado formal, as vagas tornam-se cada vez mais escassas,
a deficiência estatal em gerar possibilidades aos presos condenados com o trabalho
também se mostra insuficiente e não consegue propiciar oportunidade a todos.
A ociosidade nas penitenciárias é um fator de crise a ser combatido, pois
com ela a ordem interna se mostra mais complexa, há uma exaltação maior dos
presos condenados e a implementação de programas que possibilitem o acesso ao
trabalho caminha a passos cada vez mais lentos.
Um preso reabilitado não é alguém que aprendeu a sobreviver bem na
prisão, mas uma pessoa que tem êxito no mundo externo à prisão após a sua
soltura. Para isso, as penitenciárias devem basear suas as atividades com o intuito
de oferecer aos presos condenados, os recursos e as habilidades de que elas
necessitam para viver bem fora da prisão.
Segundo Andrew Coyle 3; 102 :
Cada pessoa presa que chega à Penitenciária traz consigo
experiências de vida anteriores à prisão e quase todas as pessoas presas
serão soltas um dia. Para que ela se beneficie do tempo que passará na
prisão, a experiência deve ser vinculada àquilo que provavelmente
acontecerá em sua vida após a soltura e a melhor forma de estabelecer
esse vínculo, é elaborar um plano de como o preso pode usar os recursos
disponíveis no sistema penitenciário.
As pessoas presas precisam receber coisas para fazer que
garantam a elas não ficarem ociosas e que tenham um propósito. E as
atividades desenvolvidas devem ser organizadas de modo a contribuir para
um clima em que os presos não se deteriorem, mas desenvolvam novas
aptidões que as ajudarão quando forem soltas.
31
Para Foucalt 14; 204:
O trabalho penal deve ser concebido como sendo por si só uma
maquinaria que transforma os prisioneiros violentos, agitados, irrefletidos,
em uma peça que desempenha seu papel com perfeita regularidade e o
trabalho pelo qual o condenado atende a suas próprias necessidades
requalifica o ladrão em operário dócil.
E é nesse ponto que intervém a utilidade de uma retribuição pelo
trabalho penal, ela impõe ao detento a forma “moral” do salário como
condição de sua existência, dando aos malfeitores que ignoram a diferença
entre o meu e o teu, o sentido da propriedade, daquilo que se ganhou com o
suor do próprio rosto.
Diversos estados brasileiros têm experimentado formas diferentes de
ressocialização através do trabalho, operacionalizando a privatização de unidades
prisionais e também firmando convênios com sociedades privadas visando
resguardar e atender a esse benefício que segundo a lei, é um direito de todo aquele
que cumpre pena no sistema prisional brasileiro.
3.1.2 Educação, disciplina e segurança
Além do trabalho, outro pilar fundamental capaz de amenizar o problema
social das prisões brasileiras, é a educação, como base de alfabetização e de
complementação de estudos o que melhora sensivelmente o nível social dos presos
e permite aos mesmos, novas oportunidades ao saírem das prisões.
A assistência educacional está conceituada nos artigos 17 ao 21
da LEP 1; 2, que torna obrigatória a disponibilidade do ensino fundamental aos presos
condenados e cita critérios sobre cursos técnicos e profissionalizantes.
O perfil dos presos no Brasil demonstra que é assustadora a deficiência
educacional entre a população carcerária. Mais de 69% da massa carcerária do
32
Brasilc possui menos que oito anos de estudo, o que caracteriza um perfil dos presos
entre as camadas mais desfavorecidas da população brasileira.
Embora a baixa escolaridade como um item autônomo não possa ser
responsabilizada pelo aumento da criminalidade, uma vez que em países
industrializados, o aumento da educação não representou a diminuição da
criminalidade, este dado continua sendo de extrema importância para os presos
condenados, uma vez que a educação é um elemento imprescindível do tratamento
reeducativo, proporcionalizando a recuperação do detento como pessoa para que o
mesmo seja capaz de assumir responsabilidades de sua auto-realização e de sua
contribuição para com a sociedade.
Para Albergaria 16; 52:
A tendência atual é desenclausurar a assistência educativa,
abrindo a administração penitenciária á colaboração da comunidade, cujos
recursos são incomparavelmente superiores aos estatais e esse contato irá
preparar o detendo gradativamente para sua reinserção social, familiar e
profissional.
A educação fundamental, sendo obrigatória, deverá ser integrada ao sistema
escolar da unidade federativa conforme o disposto no artigo 18 da LEP 1;1 e em
consonância com a disposição constitucional que garante o acesso à educação
como uma prioridade do Estado 2; 211.
Com relação ao ensino médio e profissionalizante, bem como convênio com
universidades cabe a cada Estado implementar suas políticas e firmá-los
possibilitando aos presos condenados o acesso educacional necessário.
A educação, não se limita apenas ao aspecto pedagógico para atender aos
requisitos das matrizes curriculares que definem o conteúdo de cada série escolar e
o aprendizado como um todo.
Ela passa também pela ordem interna, pelo respeito às normas institucionais
e com o trato que o preso deve ter em relação aos servidores e que interferem
diretamente no seu comportamento enquanto preso, fator esse considerado
c Dado obtido no Sistema Integrado de Informações Penitenciárias – INFOPEN, de junho de 2007, disponível no site do DEPEN - Departamento Penitenciário Nacional.
33
inclusive para a concessão de progressão de regime durante o cumprimento da
pena.
A disciplina é um item educacional de extrema importância no contexto do
cumprimento da pena, pois ela permite que o preso seja respeitado em seus direitos
e também se porte de maneira condizente com as normas estabelecidas. Dentro de
sua ressocialização, esse cumprimento de normas, horários, atitudes fazem com que
o comportamento humano seja revisto e o detento consiga entender que terá que
obedecer àquilo que não observou durante a sua liberdade.
Juntamente com a segurança, são as bases de qualquer sistema
ressocializador. Não há como ressocializar com desordem, sem planejamento e
coesão dos servidores envolvidos. Afinal, a pena continua tendo um caráter punitivo
sim, e esse é inerente à vida em sociedade.
É preciso ter noção bastante clara de que sem segurança e sem disciplina
dentro do cumprimento da pena, qualquer projeto ressocializador tende a fracassar.
Nesse sentido, o Juiz britânico Lord Woolf, foi enfático em um estudo
realizado após uma série de motins de graves proporções ocorridos nos presídios do
Reino Unido em 1990d:
Há três requisitos que precisam ser atendidos para que o sistema
penitenciário seja estável: segurança, controle e justiça.
Segurança refere-se à obrigação do Serviço Penitenciário de
prevenir que as pessoas presas fujam. Controle diz respeito à obrigação do
Serviço Penitenciário de prevenir que as pessoas presas causem transtorno
e desordem e Justiça refere-se à obrigação do Serviço Penitenciário de
tratar pessoas presas com humanidade e justiça e prepará-las para seu
retorno a comunidade.
Nessa mesma percepção, Coyle 3; 76 afirma que:
Todas as comunidades bem organizadas, inclusive as prisões,
precisam funcionar dentro de um conjunto de regras e regulamentos. Nas
prisões esses regulamentos têm como objetivo garantir a segurança de
cada pessoa, individualmente, tanto servidores como presos e cada grupo
tem a responsabilidade de observar essas regras e regulamentos. As
d Report of na Inquiry into Prison Disturbances (relatório sobre desordens em prisões) abril de 1990, 1991. Her Majesty’s Stationery Office, Londres.
34
pessoas presas devem ser recompensadas pelo bom comportamento, mas
também devem ser punidas por mau comportamento.
A disciplina gera a educação e permite que ela seja trabalhada no indivíduo,
tornando-o menos resistente ao sistema, possibilitando assim um melhor raciocínio
sobre os atos por ele praticados, fazendo-o cumpridor das normas estabelecidas nas
penitenciárias, ainda que coercitivamente.
3.4 O sistema prisional do Distrito Federal
Até o fim de 2006, o sistema penitenciário do Distrito Federal compunha a
estrutura da Secretaria de Estado de Segurança Pública e Defesa Social.
Porém com o Decreto Lei nº 27.591 de 01/01/2007, artigo 3º, foi criada a
Secretaria de Estado de Justiça, Direitos Humanos e Cidadania, e a Subsecretaria
do Sistema Penitenciário (SESIPE) passou a integrar essa nova composição sendo
desvinculada da Secretaria de Segurança Pública18.
Atualmente a SESIPE coordena 06 (seis) estabelecimentos prisionais, quais
sejam:
- PDF – Penitenciária do Distrito Federal;
- PDF II – Penitenciária do Distrito Federal II;
- CIR – Centro de Internamento e Reeducação;
- CDP – Centro de Detenção Provisória;
- PFDF – Penitenciária Feminina do Distrito Federal;
- CPP – Centro de Progressão Penitenciária.
Dos seis estabelecimentos prisionais do Distrito Federal, a PDF concentra
mais de 83% dos presos condenados em regime fechado que cumprem pena
atualmentee. Os demais, por circunstâncias específicas, cumprem pena em outros
estabelecimentos prisionais.
e Segundo dados do DEPEN, com base em junho de 2007, o Distrito Federal possui 2692 presos em regime fechado. O quantitativo restante se completa com as pessoas presas do sexo feminino, alocados na Penitenciária Feminina, bem como os ex-policiais e extraditandos que cumprem pena em local adequado no Centro de Internamento e Reeducação.
35
A PDF e a PDF II, recentemente inaugurada, possuem as mesmas
características estruturais, as quais adotam um modelo de blocos independentes e
cuja arquitetura tende a ser utilizada para a construção de outras duas penitenciárias
nos próximos anos.
3.5 A Penitenciária do Distrito Federal
A PDF – Penitenciária do Distrito Federal foi construída no ano de 2000 com
uma visão estrutural diferenciada em relação às existentes até a época, sendo
classificada como uma Penitenciária de segurança média.
Sua composição estrutural é composta de quatro blocos individuais,
concebidos para abrigar até 1584 presos, sendo um deles de segurança máxima
com celas individuais que atendem as condições estabelecidas pela Lei de
Execuções Penais.
Atualmente, a população carcerária da PDF conta com mais de 2200
presosf, o que demonstra um excedente populacional de 40 por cento.
Segundo dados do Departamento Penitenciário Nacional, o Distrito Federal
possui 7.669 presos em seu sistema prisional18. Isso mostra que o efetivo de
condenados em regime fechado corresponde a mais de um terço da população
carcerária local.
O número total de vagas no sistema prisional do Distrito Federal é de 5.735
vagas, apresentando um déficit de 33 por cento em relação a população carcerária
atual.
Em cada bloco da PDF, há dois espaços originários par abrigar oficinas que
possibilitem o desenvolvimento de programas de ressocialização, além de salas
específicas onde são prestados os atendimentos médico ambulatorial e
odontológico.
Atualmente, em função da escassez de servidores para proporcionar a
segurança necessária ao desenvolvimento das atividades, os espaços destinados
para oficinas encontram-se praticamente parados, tornando ineficaz e descontínuo
os programas implementados.
f Efetivo prisional do dia 10 de novembro de 2007.
36
Somente as salas de aula tem funcionado de modo continuo, mesmo assim,
de maneira muito precária, adotando o sistema de rodízios nas atividades, tendo em
vista a escassez de policiais para as atividades de escolta o que dificulta a
continuidade da atividade e retrata a carência de servidores.
3.6 A ressocialização dos presos condenados no Distrito Federal
O foco deste trabalho é mostrar a realidade atual do Distrito Federal no
trabalho de ressocialização de presos condenados em seu sistema prisional,
principalmente aqueles que cumprem pena no regime fechado.
Dentro desse objetivo, se faz necessário entender quais os órgãos que
participam diretamente das políticas e definição de programas que dizem respeito ao
tema desenvolvido dentro da Capital Federal.
A execução penal brasileira possui legislação especifica, mas é executado
independentemente em cada Estado, o que faz com que cada Unidade da
Federação possua características e formulações próprias que lhes permitam uma
otimização em busca de melhores resultados com o assunto.
Dentro dessa concepção, o Distrito Federal possui três órgãos distintos que
atuam diretamente com o sistema carcerário local. A Vara de Execuções Criminais,
que é responsável pelas atribuições afetas a execução das penas e trabalha no DF
de forma centralizada dentro da estrutura judiciária do Distrito Federal; a
Subsecretaria do Sistema Penitenciário, que está subordinada a Secretaria de
Estado de Justiça, Direitos Humanos e Cidadania, que gerencia e executa as
atividades referentes ao planejamento e execução das atividades inerentes ao
Sistema Penitenciário, e a FUNAP – Fundação de Amparo ao Trabalhador Preso,
que também está vinculada a Secretaria de Justiça e cuja atribuição é fomentar
ações que possibilitem a implementação de programas junto a administração pública
e a iniciativa privada visando oferecer oportunidades de reinserção social ao presos
em geral.
Visando um esclarecimento sobre a situação atual dos presos condenados
ao regime fechado, foram elaborados questionários específicos (anexos),
encaminhados para a Vara de Execuções Criminais (VEC), para a Subsecretaria do
Sistema Penitenciário (SESIPE) e também para a Fundação de Amparo ao
Trabalhador Preso – (FUNAP), com perguntas diferenciadas sobre o tema abordado,
37
e que focou precipuamente os trabalhos desenvolvidos particularmente na
Penitenciária do Distrito Federal, mas que também retratam a realidade prisional
como um todo, no que diz respeito às atividades ressocializadoras desenvolvidas,
problemas e perspectivas sobre o assunto.
3.7 A opinião Vara de Execuções Criminais
1. A Vara de Execuções Criminais vê positivamente os programas existentes
no Distrito Federal quanto ao objetivo ressocializador, embora considere que a
quantidade de vagas ofertadas se mostra insuficiente diante da demanda. Esse
aspecto mostra-se mais contundente diante do fato de que a LEP coloca o trabalho
como direito e obrigação ao sentenciado, contudo, diante da inércia do Estado em
oferecer as vagas necessárias, muitos presos recorrem a via judicial, peticionando a
VEC para que seja cumprido tal direito durante a execução o que demonstra a
insuficiência do sistema atual, pela falta de investimentos do Estado no sistema
penitenciário local.
Com relação aos resultados obtidos com os programas atuais, a VEC traça
um paralelo que diz respeito à contra partida necessária do detento quando o
assunto é a ressocialização.
Não basta apenas que o Estado ofereça oportunidades para que o detento
tenha acesso de rever o mal praticado, recuperando sua conduta social, é
necessário que o mesmo apresente uma contrapartida, o que nem sempre ocorre,
pois a união de esforços nesse sentido se faz necessária para uma eficácia no
sistema ressocializador implementado.
Dessa forma, culpar o Estado somente é uma visão errônea, uma vez que o
processo de ressocialização deve envolver toda a sociedade a qual se mostra
atualmente totalmente resistente em oportunizar ao egresso uma chance de trabalho
formal ou até mesmo informal. Diante de um critério seletivo, mesmo que tenha mais
capacitação profissional, o aspecto do profissional ser ex-presidiário desfavorece o
seu egresso na sociedade.
Os programas atualmente implementados no Distrito Federal não atingem
sua finalidade na visão da VEC, pois os campos profissionais desenvolvidos não
contemplam as necessidades do mercado de trabalho da região. Uma solução seria
rever os objetivos dos programas de forma que permitam aos presos condenados o
38
aceso ao trabalho que compõe o desenvolvimento econômico local, pois a mão de
obra desenvolvida não tem oferta de trabalho nas áreas que são praticadas e
estimuladas dentro do sistema penitenciário local.
2. No que diz respeito a possível ressocialização dentro dos moldes atuais, a
VEC considera que o modelo atual mostra-se insatisfatório, pelas limitações
estruturais e pelo vicio de personalidade dos presos, a qual é formada antes de sua
prisão.
A Penitenciária é um mal necessário e a realidade social atual requer cada
vez mais que os presídios sejam construídos com uma estrutura mais segura cuja
finalidade precípua é castigar os condenados.
A estrutura atual da PDF se mostra hostil e assim desfavorece a
ressocialização, estimulando o sentimento de vingança, onde o egresso sai com
uma visão de “poder” maior por ter enfrentado e resistido a uma estrutura rígida de
disciplina e segurança.
Nessa premissa, ao ter se deparado com o “pior”, o preso condenado cria a
falsa ilusão de superação, não tendo medo do “pior” porque já passou por ele do
ponto de vista de cumprimento de pena, sabendo que em caso de reincidência,
aquele cenário será a conseqüência mais danosa que terá que enfrentar. Com esse
pensamento, ele tende a desenvolver uma liderança maligna, tornando-se mais
perigoso quando do seu retorno a sociedade. No aspecto de segurança e disciplina,
a PDF mostra-se perfeita, mas não atende aos anseios de ressocialização
elencados na LEP.
3. As maiores dificuldades atuais do sistema penitenciário estão
relacionadas à falta de investimentos e de políticas públicas.
Embora a construção de presídios seja necessária, quando ponderada com
outros problemas sociais existentes, mostra-se uma política pouco plausível e que a
própria população pondera negativamente ao traçar um paralelo do tratamento
dispensado aos presos condenados que cometeram crimes e as dificuldades que a
maioria da população, idônea, enfrenta quanto às políticas de base do
desenvolvimento social.
39
4. Quanto ao índice de ressocialização alcançado, a VEC considera que não
são bons, porém diante do cenário nacional, mostram-se satisfatórios. Cabe
ressaltar que não há dados oficiais recentes sobre os índices de reincidência
criminal de egressos e quais seriam os alvos a serem atingidos com o assunto.
Porém, comparativamente, a VEC cita que em 2002, haviam cerca de 7500
presos no sistema prisional do Distrito Federal e em 2007, esse número é de 7812
aproximadamenteg.
Embora pareça que o número de presos do sistema prisional do Distrito
Federal esteja praticamente inalterado, a VEC emitia cerca de 3000 sentenças de
concessão de benefícios em 2002. Somente no mês de outubro de 2007, foram
proferidas 3915 sentenças da mesma natureza.
Em 2006, esse número alcançou mais de 39 mil sentenças de beneficio
proferidas e a estimativa para 2007 é de que esse ultrapasse 41 mil sentenças.
Tais dados refletem a celeridade dada aos processos e a existência de uma
demanda reprimida nas operações da VEC, o que demonstra uma revisão de
procedimentos internos visando atender aos interesses dos presos condenados com
uma forma mais célere e equânime, atitude que reflete diretamente no cumprimento
da pena como um todo.
Cabe ressaltar que sem esse trabalho de foco na celeridade processual e na
revisão de atos internos, a população carcerária do DF estaria atualmente com um
número estimado em 12 mil presos, o que representaria um caos, pois o Estado não
supriria a demanda por vagas no sistema prisional, o qual com a população atual, já
apresenta um excedente prisional de quase 2000 presos.
Essa conquista é fruto de um trabalho contínuo e sincronizado entre a VEC,
o MPDFT - Ministério Público do Distrito Federal e Territórios e a SESIPE, bem
como ao incansável trabalho profissional desenvolvido internamente na VEC,
destacando-se a atuação incansável do Dr Nelson Ferreira Junior, Juiz Titular , bem
como de toda a equipe que ao aproximar a execução penal dos Diretores dos
Estabelecimentos Prisionais, da FUNAP e da SESIPE, possibilitam um estreitamento
pessoal que une esforços em prol do aprimoramento durante a execução penal.
g. Informações internas com base estatística da Vara de Execuções Criminais.
40
Essa união de esforços facilita o trabalho, diminui a burocracia e de alguma
forma, gera mais tranqüilidade aos presos condenados no regime fechado, que ao
verem suas pretensões sendo atendidas, vêem a atuação do Estado no
cumprimento da pena, o que gera uma tranqüilidade maior. Um exemplo da
reavaliação de procedimentos pode ser obtido com a análise de um pedido de
concessão de benefício que é decidido atualmente em uma semana na média.
Anteriormente, esse prazo era superior a 3 meses.
5. A VEC considera que o retorno de uma pessoa a penitenciária pela
prática de novo crime não esteja diretamente ligada a falta de oportunidade de
ressocialização durante o cumprimento da pena, havendo outros fatores diversos
que contribuem para a prática do delito. Isso é coerente, afinal como justificar a volta
daqueles que tiveram a oportunidade de acesso aos programas de ressocialização e
voltam à prática criminosa?
6. No aspecto retributivo da pena, as finalidades da PDF atendem a
disposição da LEP, tendo a pena como um castigo, uma punição. Ressalta que a
PDF se mostra exemplar com suas regras de segurança, pois o cumprimento da
pena é realmente seguido na maneira mais rígida, devido à estrutura repressiva que
existe na Penitenciária.
Quanto ao aspecto ressocializador, não atendem a finalidade pelas
restrições e deficiências estruturais, que impedem o desenvolvimento de programas
específicos.
7. As sugestões da VEC para aprimorar o sistema atual e possibilitar
melhores resultados estão diretamente ligados aos investimentos do Estado, na
contratação de profissionais, maquinários, melhoria de estrutura física, afinal o
sistema prisional depende unicamente de políticas públicas e o Governo precisa
estar atento a tais necessidades para resolver as deficiências atuais.
Dentro do contexto das políticas de ressocialização, o juiz Osvaldo Tovani
destaca que algumas mudanças na legislação brasileira com relação ao
cumprimento da pena, parecem transparecer que o Governo não demonstra
interesse em ressocializar, mas sim em querer adequar a legislação penal ao caos
atual, como forma de resolver sua ineficiência pela falta de investimentos.
41
Nessa ótica, ele ressalta que a LEP tem como seus princípios básicos para a
progressão da pena, o caráter temporal somado ao comportamento prisional do
detento. Esse critério subjetivo, com relação ao comportamento, era melhor
avaliado, com a realização do exame criminológico, o qual estava disposto no
parágrafo único do 112 da LEP que previa:
Art. 112. A pena privativa de liberdade será executada em forma
progressiva, com a transferência para regime menos rigoroso, a ser
determinada pelo Juiz, quando o preso tiver cumprido ao menos 1/6 (um
sexto) da pena no regime anterior e seu mérito indicar a progressão.
Parágrafo único. A decisão será motivada e precedida de parecer
da Comissão Técnica de Classificação e do exame criminológico, quando
necessário. (Grifo próprio)
O artigo 112 da LEP foi alterado pela lei nº 10.792 de 01/12/200320, que trata
da criação do Regime Disciplinar Diferenciado, passando a ter a seguinte redação:
Art. 112. A pena privativa de liberdade será executada em forma
progressiva com a transferência para regime menos rigoroso, a ser
determinada pelo juiz, quando o preso tiver cumprido ao menos um sexto da
pena no regime anterior e ostentar bom comportamento carcerário,
comprovado pelo diretor do estabelecimento, respeitadas as normas que
vedam a progressão.(grifo próprio)
§ 1o A decisão será sempre motivada e precedida de manifestação
do Ministério Público e do defensor.
§ 2o Idêntico procedimento será adotado na concessão de
livramento condicional, indulto e comutação de penas, respeitados os
prazos previstos nas normas vigentes.
Com a nova redação, o exame criminológico, que ajudava o magistrado a
negar ou prover a progressão do regime ao detento, passou a ser suprido em tese
pela declaração de comportamento do detento expedido pela Direção do
estabelecimento Prisional.
O magistrado destaca a importância do Exame Criminológico e sua
aplicabilidade para auxiliar a decisão judicial, uma vez que o mesmo era realizado
42
por profissionais especializados que permitiam ao juiz um conhecimento mais amplo
sobre a conduta psicológica do detento, subsidiando sua decisão concessiva ou
impeditiva quanto à progressão do regime.
Para ele, essa mesma linha de liberalidade, quanto ao aspecto subjetivo do
comportamento do detento se faz presente na Lei 11.464 de 28/03/200720, que trata
dos crimes hediondos, a qual prevê que:
§ 1o A pena por crime previsto neste artigo será cumprida
inicialmente em regime fechado.
§ 2o A progressão de regime, no caso dos condenados aos
crimes previstos neste artigo, dar-se-á após o cumprimento de 2/5 (dois
quintos) da pena, se o apenado for primário, e de 3/5 (três quintos), se
reincidente.
Nesse caso, mais uma vez o legislador colocou apenas o critério temporal
para progressão do regime, não se referindo ao critério subjetivo do comportamento
do detento o que reflete que o caráter ressocializador, principalmente no caso dos
crimes hediondos, foi mais uma vez esquecido.
Essas mudanças nos ordenamentos legais vão à contramão do caráter
ressocializador previsto na LEP, evidenciando tão somente o critério tempo para a
progressão do regime, desconsiderando o comportamento do detento, o que em
tese colocaria em liberdade, de maneira mais rápida, criminosos de alta
periculosidade, porém abriria vagas num sistema que se mostra ineficaz e que
carece de investimentos para seu pleno funcionamento.
8. Ressalto que essa questão foi formulada com um aspecto de
pessoalidade, buscando a ótica do cidadão e não do ocupante do cargo público
quanto à questão da visão dos presos na sociedade. Ao responder essa questão, o
cidadão Osvaldo Tovani, afirmou que a ressocialização e a reinserção social dos
presos condenados no Distrito Federal é difícil com o modelo atual, por entender que
os programas implementados não têm finalidade profissionalizante diante do
mercado econômico local e pela resistência da própria população em geral com a
empregabilidade de ex-presidiários.
43
9. A VEC, a partir de 2002, vem aprimorando seus procedimentos visando
cumprir de forma ampla e célere as suas atribuições dentro da execução penal e
nesse aprimoramento foram implementadas algumas ações dentre as quais se
destacam:
a. Aproximação e estreitamento da confiança com o Sistema Penitenciário;
b. Visitas freqüentes aos estabelecimentos Prisionais, para conhecer a
realidade enfrentada e possibilitar melhorias;
c. Diminuição burocrática nos processos o que gera celeridade e
desenvolve a confiança do detento na justiça
d. Reuniões periódicas com Diretores dos Estabelecimentos Prisionais e
agentes políticos para reivindicar melhoria no Sistema Penitenciário;
e. Instalação de conselhos da comunidade em cidades satélites do Distrito
Federal, possibilitando o maior acesso à justiça por parte da população,
bem como um canal de comunicação entre a população e o sistema
prisional, possibilitando aproximação da sociedade com o preso;
f. União de esforços com o Ministério Público e com a SESIPE para
decisões conjuntas e correção dos problemas atuais;
3.8 A opinião da Subsecretaria do Sistema Penitenciário
1. Na visão da SESIPE, a eficácia dos programas de ressocialização no
Distrito Federal não atingem seus objetivos e são ineficazes pela falta de pessoal e
por uma deficiência em sintetizar os programas implementados dentro da realidade
econômica do Distrito Federal e até mesmo do País.
Por outro lado, entende que esse problema poderia ser melhorado com
acordos envolvendo a iniciativa privada, as sociedades autônomas como o SESI,
SENAI, SENAC entre outros convênios com outros órgãos da Administração Pública.
2. Quanto a ressocialização de pessoas presas que cumprem pena no
regime fechado, a SESIPE considera que o modelo atual é deficiente quanto a sua
finalidade e essa deficiência ocorre em função da falta de pessoal e de
investimentos.
44
A deficiência de pessoal faz com que a segurança seja preponderante em
detrimento aos programas de ressocialização, afinal, sem ela não há ambiente para
que os mesmos sejam executados e ao abrir mão da segurança necessária, os
efeitos podem ser maléficos a todo o sistema devido ao risco que tal atitude oferece.
3. A carência de pessoal, a aplicação de recursos e programas na área, bem
como o foco específico na ressocialização com programas amplos e eficazes são
óbices no modelo atual dentro da visão da LEP com relação a ressocialização de
presos no regime fechado no Distrito Federal.
4. A SESIPE ressalta que não há oficialmente um índice que permita uma
comparação com outros Estados da Federação em relação à eficácia dos programas
de ressocialização realizados no Distrito Federal.
5. O retorno ao sistema Prisional por cometimento de um novo crime, não
está diretamente ligado à falta de oportunidades durante o cumprimento da pena,
pois o caráter psicológico é um fato complexo e há liames em que se torna
impossível identificar a natureza da prática delituosa. Nessa visão, o meio induz o
individuo a prática criminal e nesse caso o aspecto de ressocialização se torna
irrelevante.
O sistema prisional não pode ser culpado unicamente pelo cenário criminal,
pois existe uma série de fatores sociais que agem conjuntamente no criminoso
contribuindo para o cometimento do delito.
6. A SESIPE reconhece que as atividades atuais não atendem ao disposto
na Lei de Execuções Penais devido a carência de pessoal no sistema prisional do
Distrito federal, o que inviabiliza a implementação de qualquer programa nesse
sentido.
7. Como alternativa para resolver a ineficácia atual, a necessidade de
cooperação com o sistema privado, com capacitação voltada para o mercado
econômico regional, visando aumentar a perspectiva do egresso no mercado de
trabalho mostra-se uma ação que pode trazer bons frutos.
45
8. Como cidadão, o Delegado de Polícia Johnson Kennedy acredita sim que
o sistema atual, com todas as deficiências existentes, propicie ao detento a reflexão
sobre a prevalência da autoridade estatal e a disciplina interna é capaz de criar um
ambiente favorável para a reinserção social. Para ele, a disciplina induz o individuo a
reflexão de valores como o respeito mútuo, o espaço de cada um, entendendo que o
sistema atual se não contribui para a melhora, não faz piorar a personalidade do
preso condenado.
9. Dentro das atribuições da SESIPE, visando à melhoria do quadro atual,
estão previstas as seguintes ações:
a. Realização de concurso público para a contratação de 1600 técnicos
penitenciários para suprir a carência de pessoal nos estabelecimentos prisionais;
b. Construção de duas novas penitenciárias denominadas PDF III e PDF IV,
sendo que uma delas abrigará a Penitenciária Feminina e a implementação de um
hospital penitenciário, enquanto a outra será destinada para o regime fechado
masculino.
c. Implementação de ações que aproximem o sistema prisional com os
familiares dos presos, permitindo o apoio social a estes por profissionais que
atendem o sistema penitenciário.
3.9 A opinião da Fundação de Amparo ao Trabalhador Preso
1. A FUNAP - Fundação de Amparo ao Trabalhador Preso do Distrito
Federal, foi criada pela Lei nº 7.533 de 02 de setembro de 1986 e teve seu estatuto
aprovado pelo Decreto nº 11.231 de 01/09/1988, é entidade de personalidade
jurídica de direito privado, sem fins lucrativos, dotada de autonomia técnica,
administrativa, financeira e operacional, com sede e foro na Capital da República e
conforme o seu artigo 2º, a FUNAP/DF tem como objetivos básicos, contribuir para a
recuperação social dos presos lotados nos Estabelecimentos Penais da
SEP/DF,através de atendimento profissional e o oferecimento de trabalho
remunerado22.
46
2. Cabe a FUNAP firmar convênios com outros órgãos públicos e privados
bem como implementar ações que visem a ressocialização dos presos condenados
no Distrito Federal.
Atualmente, cerca de 43% da população carcerária do Distrito Federal está
de alguma forma participando das atividades proporcionadas pela FUNAP nos
diversos estabelecimentos prisionais do Distrito Federal, por meio de atividades
educacionais, oficinas diversas e outros programas oferecidos pela FUNAP através
de seus convênios.
3. Entre os programas desenvolvidos pela FUNAP, destacam-se:
a. Acesso escolar por meio de um trabalho de cooperação técnica com a
Secretaria de Educação do Distrito Federal que cede cerca de 60 professores ao
sistema prisional. Estes profissionais desenvolvem atividades de Educação de
Jovens e Adultos, com foco no ensino fundamental disposto na LEP, embora o
ensino médio também seja ofertado.
O material didático para essa atividade é distribuído pela FUNAP e pela
Secretaria de Educação. Atualmente a FUNAP não possui convênios com
universidades para apoio aos egressos do Sistema Prisional. Através do Ministério
da Educação (MEC) os presos condenados em todos os regimes têm acesso a
realização de provas do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) e do Programa
de apoio Universitário (PROUNI), os quais são realizados dentro dos
estabelecimentos prisionais, além da aplicação pela Universidade de Brasília (UNB)
das provas vestibulares para acesso naquela Universidade.
b. A FUNAP disponibiliza no Centro de Internamento e Reeducação,
oficinas de panificação, costura industrial, costura de bola, marcenaria, funilaria,
mecânica de automóvel, serralheria cultivo agrícola e laboratório de informática que
atualmente conta com 20 computadores e é fruto de convênio com a Secretaria de
Tecnologia do Distrito Federal.
Também no CIR, cadeiras de roda, são confeccionadas com a utilização
de bicicletas apreendidas pelas Delegacias da Polícia Civil, as quais são doadas a
FUNAP. Essas cadeiras de roda são repassadas gratuitamente a membros da
47
comunidade que apresentem situação econômica desfavorável, como forma de
amenizar o sofrimento social dos que dela necessitam para sua locomoção.
c. A costura de bolas é uma atividade desenvolvida voltada também para
o lado psicológico do detento estimulando a coordenação, inibindo a truculência e
amenizando o ócio prisional.
d. Na Penitenciária Feminina, a FUNAP dispõe de cursos de
cabeleireiros, artesanato, costura, fábrica de sacolas plásticas, as quais rendem as
detentas envolvidas um salário mensal de R$ 600,00 (seiscentos reais); fuxico
(artesanato feito com retalhos de tecido) além de projetos denominados “panteras do
lacre” que utiliza lacres de latas de refrigerantes para confecção de roupas e bolsas,
bem como o projeto “mulheres vencedoras” que atua na cidade de Santa Maria com
a população local estimulando a costura de bordados e o artesanato.
e. Com os presos que cumprem medida de segurançah a FUNAP trabalha
atualmente com um trabalho terapêutico, o qual conta com o apoio de profissional
especializado, na elaboração de hortas, visando o controle emocional e o
desenvolvimento de capacidades que integrem os participantes dentro da realidade
social.
f. O projeto “Pintando a Liberdade” é um convênio com o Ministério dos
Esportes e tem como finalidade a confecção de bolas, bandeiras do Brasil e do
Distrito Federal, uniformes e redes esportivas. Esses materiais são doados a escolas
e outros órgão públicos e particulares, desde que a finalidade seja filantrópica, com
atenção especial às instituições de caridade.
4. Dentro dos projetos citados, cabe ressaltar as parcerias com o próprio
Governo do Distrito Federal, onde as pessoas presas recuperam carteiras e cadeiras
das escolas públicas do DF, além de confeccionarem cerca de 40% de todo o
vestuário hospitalar (lençóis, aventais e outros) da rede pública de saúde. Da
população prisional atendida, cerca de 390 presos possuem remuneração pela
FUNAP e realizam atividades dentro do próprio sistema prisional.
5. A FUNAP considera que os resultados alcançados são deficientes e que
o objetivo a ser alcançado e inserir 60% de população carcerária nas atividades
h A medida de Segurança está prevista nos artigos 96 à 99 do Código Penal e destina-se a àqueles que apresentam distúrbios psiquiátricos durante o cumprimento da pena.
48
ofertadas. Atualmente, os estados de São Paulo e Paraná se destacam
positivamente com índices mais relevantes de ocupação, porém essa assistência
farta está condicionada a uma segurança mais frágil, o que pondera não ser a opção
mais correta para o problema.
6. A respeito da nova subordinação da FUNAP que no início do ano, foi
transferida juntamente com todo o Sistema Penitenciário para a recém criada
Secretaria de Justiça, há a perspectiva de que a longo prazo, a nova visão social
com relação ao sistema penitenciário seja melhorada, pela ótica da ressocialização e
que os problemas atualmente enfrentados são decorrentes da reformulação ampla
efetuada e da escassez de capital humano envolvido nos projetos.
7. Como sugestões de melhorias aos projetos existentes, a FUNAP
entende que é preciso construir penitenciárias com estruturas que permitam a
ressocialização pois os modelos atuais se mostram deficientes com essa realidade.
Ressalta que a segurança e a disciplina são pilares básicos do processo
de ressocialização e não podem ser preteridos sob argumento algum. Juntamente
com a disciplina rígida, entende que a educação, o trabalho, a religião e o apoio
familiar são fatores indispensáveis no processo de recuperação de qualquer preso
condenado, além do fator intrínseco de querer melhorar que é opção de cada um.
O Diretor Executivo da FUNAP ressalta ainda a experiência do Distrito
Federal da remição da pena pelo estudo, projeto implementado quando ocupou a
direção do Centro de Progressão Penitenciária e que atualmente é exercida em
cerca de doze Estados, onde o detento tem diminuído um dia de pena a cada
dezoito horas de estudo.
8. Com cidadão, Diretor Executivo da FUNAP acredita que a
ressocialização é possível, porém coloca que a falta de cursos profissionalizantes e
um maior atendimento social ao egresso, que hoje praticamente é inexistente,
dificulta esse objetivo.
9. Dentro das competências da FUNAP, a melhoria da educação, da
segurança e dos espaços físicos são objetivos que a busca melhorar, bem como
49
suprir a deficiência de pessoal técnico, como psicólogos, assistentes sociais e
instrutores de cursos profissionalizantes, os quais possibilitariam a ampliação das
condições ofertadas atualmente aos presos condenados no regime fechado.
10. Segundo a FUNAP, a falta de pessoal tem sido a causa pela qual a
PDF está praticamente parada com todos os projetos de ressocialização. Sem
efetivo policial suficiente para escoltar os responsáveis pelas oficinas, a segurança
fica comprometida e não se pode abrir mão para que os projetos tenham
continuidade. A realização do concurso de técnico penitenciário deverá amenizar
esse problema em médio prazo.
11. A parceria com instituições privadas, como o Serviço Nacional da
Indústria (SESI), Serviço Nacional do Comércio (SENAC) e com o Serviço Nacional
de Aprendizagem Industrial (SENAI), são objetivos da FUNAP para aumentar a
oferta de vagas aos presos condenados em regime fechado. O aumento do efetivo
profissional da própria FUNAP possibilitará um cenário mais favorável para a
obtenção de melhores resultados com a ressocialização no Distrito Federal.
A Educação tende a tornar o detento mais polido culturalmente do ponto
de vista valorativo pessoal e muitas pessoas presas até têm disposição para serem
ressocializados, porém o cenário que encontram ao saírem das prisões, com a
discriminação social, induz a reincidência e a conseqüente volta ao sistema
penitenciário.
50
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O tratamento com presos no mundo inteiro é um assunto amplo, complexo e
que apresenta oportunidade para as mais mirabolantes idéias. Desde a defesa
integral dos direitos não atingidos pela pena e a certeza de que a legislação foi
aplicada de forma legal para retribuir o mal praticado até mesmo a permissão para a
execução de criminosos com a pena de morte.
Esses dois extremos demonstram que a sociedade evoluiu, porém as lógicas
prisionais e de tratamento com os presos nem tanto. Não é difícil ver nas mídias
atuais, barris de pólvora humana estourando nas prisões, diante da ineficácia estatal
em fazer apenas com que a legislação cumpra a sua finalidade.
O princípio de respeito pelos seres humanos, independentemente do erro ou
da injustiça que eles cometeram, foi sintetizado por um preso famoso, o
ex-presidiário e ex-presidente da África do Sul Nelson Mandela quando afirmou:
“Ninguém conhece verdadeiramente uma nação até
que tenha estado dentro de suas prisões. Uma nação não deve
ser julgada pelo modo como trata seus cidadãos mais
elevados, mas sim pelo modo como trata seus cidadãos mais
baixos”.i
A realidade brasileira também apresenta suas distorções e o sistema
penitenciário continua sendo um problema na mão de qualquer governante.
Diante dessa perspectiva caótica, a Lei de Execuções Penais, elenca
inúmeros direitos e deveres aos presos condenados, os quais quase sempre são
i Coyle apud Mandela (2002:23), Long Walk to Freedom “ Um grande passo para a liberdade”, Little Brow, Londres.
51
desrespeitados, quando não ignorados, e a proposta de devolver a sociedade um
cidadão recuperado ao convívio social, torna-se mera utopia, pois a própria
sociedade que admite a condenação não aceita o ex-presidiário como um ser normal
dentro do convívio social.
O Distrito Federal possui atualmente um dos sistemas prisionais mais
seguros do País, sendo freqüentemente visitado por diversas autoridades de outros
estados que buscam nas Penitenciárias da Capital Federal, uma forma de tentar
amenizar a agonia pela qual passam todos os sistemas penais do Brasil.
Porém, esse reconhecimento de segurança existente hoje no Distrito Federal
é uma conquista de sacrifícios e dedicação de muitos heróis anônimos que são os
Agentes Penitenciários. Classe que normalmente é rotulada pela corrupção, pela
truculência, mas praticamente esquecida pelas características reais que moldam sua
personalidade profissional como a dedicação, a abnegação a família em detrimento
da função, a adaptação irrestrita o ambiente insalubre e ao risco que a profissão por
si só já caracteriza. Guerreiros cuja profissão além dos riscos, impõe sacrifícios
pessoais.
Os Agentes Penitenciários que trabalham no Sistema Prisional também
precisam de atenção estatal, pois ao prover a segurança que hoje torna o sistema
prisional do DF um exemplo no cenário nacional, vêem sua saúde abalada pelo
excesso de trabalho e pela limitação natural em resolver os problemas com os quais
se deparam diariamente, frutos do esquecimento do sistema penitenciário local que
a cada dia, ruge como um vulcão que muitos julgam adormecido, mas que
diariamente dá sinais de sua vitalidade como um aviso de que o estouro pode estar
próximo.
É difícil querer recuperar os presos condenados com a estrutura atual. Há
boa vontade, mas a limitação humana não se resolve com falácias. A estrutura
precária e a contratação de profissionais dependem de ações rápidas, eficazes e
que resolvam o problema enfrentado.
Os agentes penitenciários precisam de ações que permitam aos mesmos
agirem em nome do Estado como um elo na ressocialização que o Estado tanto
prega, mas não executa. Não há ressocialização sem que profissionais capacitados
e em número suficiente, com motivação e valorização profissional.
52
É fato que a criação da carreira de Técnicos Penitenciários, cujo concurso
visa à contratação de 1600 profissionais para atuar no sistema penitenciário deve
amenizar o quadro atual, que aguarda ansiosamente a chegada de tais profissionais.
A realidade da ressocialização no Distrito Federal com todas as dificuldades
enfrentadas até o momento é fruto de uma degradação que não é momentânea,
mas vem num processo evolutivo ignorado por políticas estatais e pela falta de
investimentos, mostra-se dentro da realidade nacional.
A segregação imposta pelo Estado e prevista para servir como uma fonte de
recuperação é ineficiente, pois não cumpre sua finalidade no regime fechado. A Lei
prevê que as ações sejam impostas no início da condenação, como um processo
evolutivo de convencimento e preparo para o retorno ao convívio social.
Mas a realidade atual demonstra que somente quando o preso encontra-se
no regime semi-aberto é que pode ter uma perspectiva de acesso a programas de
ressocialização. Mesmo assim, no sistema penitenciário, não há oportunidade para
todos o que torna falho o sistema com a visão atual.
Atualmente, a VEC, a FUNAP e a SESIPE, apresentam coerência nas
respostas aos quesitos formulados, o que demonstra conhecimento, sintonia e
coesão sobre o problema atual, e ainda demonstram que há sim possibilidade de
obter melhores resultados, basta que o Estado aja dentro de suas funções buscando
a melhoria do modelo atual. A dura realidade e aos anseios de buscar opções para
melhorar a situação atual são constantes, porém todos são unânimes em afirmar
que o maior problema e a base de qualquer solução está na falta de investimentos.
Sem dinheiro, a máquina pública não funciona e sem dinheiro, nenhum
projeto sai do papel. As penitenciárias do ponto de vista social continuam sendo o
mal necessário e o investimento nas estruturas atuais não é barato. Melhor seria se
pudéssemos investir em escolas, hospitais e creches, porém ao longo da história,
não apareceu outra forma para punir a criminalidade a não ser pelo cerceamento do
segundo bem humano – a liberdade.
As oficinas da Penitenciária do Distrito Federal estão paradas. Os presos
têm interesse em trabalhar e remir sua pena, tanto que a Vara de Execuções
Criminais afirma que o direito ao trabalho, embora determinante na Lei, é buscado
judicialmente pela ineficácia do atendimento estatal e isso demonstra que ao
contrário do dispositivo legal, a pena tem sim atingido outros direitos que deveriam
ser resguardados pelo Estado.
53
O problema da falta de efetivo de agentes que trabalham na Penitenciária do
Distrito Federal é amplo e se alonga sem perspectivas mais rápidas para ser
solucionado. Em detrimento da falta de pessoal, e da sobrecarga de trabalho, a PDF
optou por agir em função da segurança, afinal, não é justo expor servidores e outros
presos de periculosidade acentuada, em detrimento da ótica ressocializadora que se
mostra eficiente e completa apenas no papel.
Em função dessas carências, a ociosidade impera nos pátios com centenas
de presos condenados sem ocupação o que desestabiliza e torna o sistema mais
vulnerável, mas ainda sob controle total do Estado, devido à constante imposição
disciplinar e na atuação incansável dos profissionais que atuam no sistema como um
todo, em especial da Diretoria Penitenciária de Operações Especiais (DPOE) que
atua como o braço forte da Segurança Penitenciária no Distrito Federal.
Diante das exposições apresentadas, os objetivos e a hipótese formulada
para esse trabalho se confirmam, evidenciando que os presos que cumprem pena
no regime fechado na Penitenciária do Distrito Federal não têm programas que
possibilitem o repensar da conduta praticada, sendo o ócio, a principal atividade
desenvolvida ao longo do cumprimento da pena.
As teorias exploradas para formulação da hipótese mostram-se
pertinentes e permitem que o assunto seja entendido como um problema de Estado,
mas que afeta a todos os cidadãos, afinal, um dia os encarcerados voltarão ao
convívio social quer estejam recuperados, quer estejam piores do que foram presos,
e a repercussão dessa ineficácia do sistema penitenciário refletirá com certeza na
rotina de toda a sociedade.
Longe de esgotar o assunto abordado, este trabalho conclui que as
políticas atuais existentes para que os presos condenados ao regime fechado e que
cumprem pena na Penitenciária do Distrito Federal estão paradas e não possibilitam
a ressocialização prevista no ordenamento legal. A estrutura atual é voltada para a
segurança das instalações que dificulta a implementação de programas nos blocos e
que pela falta de profissionais treinados para desempenhar as atividades que
possibilitem o acesso a programas de ressocialização torna qualquer ação ineficaz
Assim, fica confirmada a hipótese de número dois deste estudo,
segundo a qual as ações realizadas na Penitenciária do Distrito Federal no que diz
respeito à previsão legal de ressocialização não têm sido eficazes e impossibilitam
54
aos presos que cumprem pena nesse regime o acesso a programas que tenham
como foco a preparação para o retorno ao convívio social.
55
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. Brasil Lei nº 7210/84 - Lei de Execuções Penais, [capturado em 2007 Out 15]. Disponível em https://www.planalto.gov.br/CCIVIL/LEIS/L7210.htm
2. Junior GD Direito Constitucional – Curso Completo. 11ª Ed. Brasília: Editora Vestcon;1999.
3. Coyle A Administração Penitenciaria – Uma abordagem de Direitos Humanos. 2002.
International Centre for Prison Studies.
4. Brasil Projeto Segurança Pública para o Brasil. Instituto Cidadania. Brasília; 2002.
5. Mirabete JF Manual de Direito Penal. 19ª ed. São Paulo: Atlas; 2003.
6. Junior MR Novos rumos do sistema criminal.Rio de Janeiro: Forense; 1983.
7. Baratta A Ressocialização ou controle social - Uma abordagem crítica da “reintegração social” do sentenciado, [capturado em 2007 Out 15]. Disponível em http://www.eap.sp.gov.br/pdf/ressocializacao.pdf
8. Viegas W Fundamentos de metodologia científica. Brasília: Paralelo15;1999. 9 Almeida João Ferreira de Bíblia de Estudo. São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil; 1999.
10.Beccaria C Dos delitos e das Penas – Tradução Lúcia Guidicini. 2ª Ed. São Paulo: Martins Fontes; 1999.
11. Lyra R Origem e Evolução das Prisões, [capturado em 2007 Out 15]. Disponível em: http://www.nplyriana.adv.br/link_geral.php?item=geral30.
12. Kloos W Ressocializar X Retribuir, [capturado em 2007 Out 15]. Disponível em: http://www.direitonet.com.br/artigos/x/12/09/1209/.
13. Dias AG A questão sexual das prisões. São Paulo: Saraiva; 1955.
14. Foucalt M Vigiar e Punir – História de Violência nas Prisões. 31ª Ed. Rio de Janeiro: Vozes; 2006.
56
15. Muakad IR Prisão Albergue. São Paulo: Atlas; 1998.
16.Albergaria J Manual de Direito Penitenciário. Rio de Janeiro: Aide; 1993. 17. Abreu S A odisséia afro-brasileira: trabalho e dignidade da pessoa humana, [capturado em 2007 Nov 16]. Disponível em: http://www.achegas.net/numero/tres/sergio_abreu.htm
18. Distrito Federal Decreto nº 27591 de 01/01/2007.[capturado em 2007 Out 15]. Disponível em: http://www.sejus.df.gov.br/paginas/a_secretaria/a_secretaria_01.htm
19.Brasil Ministério da Justiça. Sistema de Informações Gerencias Penitenciárias [capturado em 2007 Nov 02].Disponível em http://www.mj.gov.br/depen/data/Pages/MJD574E9CEITEMIDC37B2AE94C6840068B1624D28407509CPTBRIE.htm
20. Brasil Lei nº 10.792 de 01/12/2003. [capturado em 2007 Nov 02].Disponível em: http://www.planalto.gov.br/CCIVIL/LEIS/2003/L10.792.htm.
21. Brasil Lei nº 11.464 de 28/03/2007. [capturado em 2007 Nov 02].Disponível em: http://www.planalto.gov.br/CCIVIL/_Ato2007-2010/2007/Lei/L11464.htm.
22.Distrito Federal Lei nº 7533 de 2/09/1986 [capturado em 2007 Nov 02].Disponível em: http://www.sga.df.gov.br/sites/100/146/00000044.pdf
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ANEXOS
Questionário enviado para a Vara de Execuções Criminais
QUESTIONÁRIO DE PESQUISA:
1. Como o Senhor avalia a questão dos programas de ressocialização implementados no Distrito Federal quanto a sua eficácia e aos resultados obtidos?
2. O Senhor considera possível a ressocialização dentro das atuais atividades
desenvolvidas no Distrito Federal durante o cumprimento da pena em regime fechado?
3. Em relação aos preceitos estabelecidos pela Lei de Execuções Penais, quais
as maiores dificuldades enfrentadas para possibilitar aos presos condenados, o acesso a programas que possibilitem a sua ressocialização?
4. Na sua opinião, os índices de ressocialização alcançados com a população
carcerária no Distrito Federal são considerados suficientes se comparados com outras Unidades da Federação?
5. O Senhor avalia que a reincidência esteja diretamente ligada à falta de
oportunidades de acesso a ressocialização durante o cumprimento da pena?
6. As atividades atualmente desenvolvidas na Penitenciária do Distrito Federal atendem as finalidades propostas pela Lei de Execuções Penais?
7. Que sugestões o Senhor proporia para possibilitar um maior acesso e a
obtenção de resultados mais eficazes de participação dos presos condenados em programas de ressocialização?
8. O Senhor, como cidadão, acredita que o modelo prisional desenvolvido no
Distrito Federal propicie aos presos condenados, oportunidades que possibilitem sua reinserção social após o cumprimento da pena?
9. No que diz respeito às competências da VEC, quais as providências tomadas
para uma melhoria em relação à possibilidade de ressocialização dos presos condenados que cumprem pena em regime fechado?
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ANEXO 2
Questionário enviado para a Subsecretaria do Sistema Penitenciário
QUESTIONÁRIO DE PESQUISA:
1. Como o Senhor avalia a questão dos programas de ressocialização implementados no Distrito Federal quanto a sua eficácia e aos resultados obtidos?
2. O Senhor considera possível a ressocialização dentro das atuais atividades
desenvolvidas no Distrito Federal durante o cumprimento da pena em regime fechado?
3. Em relação aos preceitos estabelecidos pela Lei de Execuções Penais, quais
as maiores dificuldades enfrentadas para possibilitar aos presos condenados, o acesso a programas que possibilitem a sua ressocialização?
4. Na sua opinião, os índices de ressocialização alcançados com a população
carcerária no Distrito Federal são considerados suficientes se comparados com outras Unidades da Federação?
5. O Senhor avalia que a reincidência esteja diretamente ligada à falta de
oportunidades de acesso a ressocialização durante o cumprimento da pena?
6. As atividades atualmente desenvolvidas na Penitenciária do Distrito Federal atendem as finalidades propostas pela Lei de Execuções Penais?
7. Que sugestões o Senhor proporia para possibilitar um maior acesso e a
obtenção de resultados mais eficazes de participação dos presos condenados em programas de ressocialização?
8. O Senhor, como cidadão, acredita que o modelo prisional desenvolvido no
Distrito Federal propicie aos presos condenados, oportunidades que possibilitem sua reinserção social após o cumprimento da pena?
9. No que diz respeito as competência dessa Subsecretaria, quais as
providências tomadas para uma melhoria em relação à possibilidade de ressocialização dos presos condenados que cumprem pena em regime fechado?
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Anexo 3
Questionário enviado a Fundação de Amparo ao Trabalhador Preso
QUESTIONÁRIO DE PESQUISA:
1. Quais são as competências da FUNAP no que diz respeito á ressocialização dos presos condenados do Distrito Federal?
2. Para o desempenho de suas atividades, como a FUNAP está estruturada
atualmente?
3. Quais são os programas de ressocialização implementados atualmente nos diversos estabelecimentos do Distrito Federal?
4. Quais os índices de participação da massa carcerária nos programas
implementados pela FUNAP?
5. Os resultados alcançados com os programas atuais têm se mostrado satisfatórios quanto ao seu objetivo?
6. De que forma a mudança da estrutura prisional para a Secretaria de Justiça,
Direitos Humanos e Cidadania pode melhorar as atividades dessa Fundação?
7. Que sugestões o Senhor proporia para possibilitar um maior acesso e a obtenção de resultados mais eficazes de participação dos presos condenados em programas de ressocialização?
8. O Senhor, como cidadão, acredita que o modelo prisional desenvolvido no
Distrito Federal propicie aos presos condenados, oportunidades que possibilitem sua reinserção social após o cumprimento da pena?
9. No que diz respeito as competência dessa Fundação, quais as providências
tomadas para uma melhoria em relação à possibilidade de ressocialização dos presos condenados que cumprem pena em regime fechado?
10. Atualmente, as oficinas da PDF estão praticamente sem atividades. Quais os
motivos dessa paralisação de atividades e quais as melhorias que essa Fundação pretende implementar naquele estabelecimento prisional?
11. Como o Senhor avalia o desempenho dessa Fundação quanto aos programas
de ressocialização atuais e quais os objetivos almejados a curto, médio e longo prazo?
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