5. empregado doméstico a relação de emprego · pdf file54 da lei...
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5. EMPREGADO DOMÉSTICO
A relação de emprego doméstica recebe um tratamento legal diferenciado
por parte da maioria dos ordenamentos jurídicos. Justifica-se essa distinção, pois o
trabalhador doméstico executa as suas atividades no âmbito residencial, asilo
inviolável segundo o art. 5º, XI, da Constituição Federal brasileira,1 e não inserida no
conceito de estabelecimento empresarial.
A Lei nº 5.859/72 define empregado doméstico da seguinte forma:
Art. 1º. Ao empregado doméstico, assim considerado aquele que
presta serviços de natureza contínua e de finalidade não lucrativa a
pessoa ou a família, no âmbito residencial destas, aplica-se o disposto
nesta lei.
A Convenção nº 189/2011 da OIT, que trata do trabalho decente para os
trabalhadores domésticos, preconiza que todos os Estados-membros deverão adotar
medidas no sentido de igualar os direitos trabalhistas entre domésticos e não-
domésticos, mas ainda não foi ratificada pelo Brasil.
5.1. Caracterização
A diferença básica que existe entre o empregado doméstico e o empregado de
forma geral diz respeito à:
a) finalidade não lucrativa daquele que dirige a prestação dos serviços;
b) continuidade da prestação de serviços;
c) prestação de serviços em favor de uma família.
Percebe-se, assim, que o empregador, na relação de emprego doméstico, deixa
de ser a empresa (art. 2º da CLT) e passa a ser a família, seja ela de qual espécie
for.
Por conta disso, a representação processual trabalhista do empregador doméstico
pode ser feita por qualquer pessoa da família, na forma do entendimento constante da
Súmula nº 377 do TST:
1. CF/88. Art. 5º. XI – a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem consentimento do
morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação
judicial.
SÚMULA Nº 377. PREPOSTO. EXIGÊNCIA DA CONDIÇÃO DE
EMPREGADO (nova redação) – Res. 146/2008, DJ 28.04.2008, 02 e
05.05.2008 Exceto quanto à reclamação de empregado doméstico, ou
contra micro ou pequeno empresário, o preposto deve ser
necessariamente empregado do reclamado. Inteligência do art. 843, §
1º, da CLT e do art. 54 da Lei Complementar nº 123, de 14 de
dezembro de 2006.
5.2. Empregado doméstico e diarista
O elemento continuidade difere da não-eventualidade, tendo em vista que, no
primeiro caso, exige-se o labor em todos os dias da semana (excetuando-se o repouso
semanal remunerado), durante um lapso razoável de tempo e com certa habitualidade.
A prestação de serviços descontínua afasta a existência de relação de emprego
doméstica, dando ensejo ao surgimento do trabalhador denominado de diarista.
A jurisprudência dominante reconhece que o trabalhador doméstico diarista é
aquele que não presta serviços durante todos os dias da semana.
A quantidade de dias de trabalho semanal, que afasta a natureza empregatícia da
relação doméstica, varia entre um e três dias, conforme se observa das decisões
abaixo transcritas:
FAXINEIRA. VÍNCULO DE EMPREGO. DOMÉSTICA.
CONTINUIDADE. O doméstico que prestou serviços por 12 (doze)
anos para a mesma família, três vezes por semana, e mediante
pagamento mensal, ainda que em serviços de faxina, atende o
pressuposto da continuidade, suficiente para se reconhecer a
existência de vínculo de emprego (grifou-se). 2
VÍNCULO EMPREGATÍCIO – DIARISTA – NÃO
RECONHECIMENTO – AUSÊNCIA DO REQUISITO DA
CONTINUIDADE – A Lei nº 5.859/72, que regulamenta o trabalho
doméstico, prevê a continuidade como um dos requisitos essenciais
ao reconhecimento do vínculo de emprego. Se a atividade laboral é
desenvolvida, em média, apenas duas vezes por semana, resta
2. TST. 250040-44.2004.5.02.0078. SDI-1. Rel. Min. João Batista Brito Pereira.DEJT 16.09.2011.
caracterizado, na verdade, o trabalho autônomo, na condição de
diarista (grifou-se). 3
DIARISTA – LABOR EM TRÊS DIAS DA SEMANA –
RELAÇÃO DE EMPREGO DOMÉSTICO NÃO RECONHECIDA
– AUSÊNCIA DE CONTINUIDADE NA PRESTAÇÃO DOS
SERVIÇOS – No caso vertente, não se enquadra a Reclamante no
conceito de empregada doméstica, porquanto, como admitido desde a
exordial, laborava de forma não contínua, apenas três vezes por
semana para a Reclamada. Não pode ser considerada doméstica a
trabalhadora de residência que lá não comparece todos os dias da
semana, mas somente em três, por faltar na relação jurídica o
elemento continuidade, ou seja, o trabalho de modo permanente,
sendo irrelevante a forma de remuneração percebida, se mensal,
semanal ou diária. Sentença que se confirma por seus próprios
fundamentos (grifou-se).4
Essa, porém, não é a melhor forma de interpretar o aludido dispositivo constante
da Lei nº 5.859/72, tendo em vista que cria insegurança jurídica, ao permitir que o
aplicador do Direito utilize-se de um critério subjetivo para delimitar a extensão da
expressão continuidade.
A continuidade diz respeito à natureza da atividade doméstica realizada pelo
obreiro. Assim, se o trabalhador executa serviços de natureza contínua, como
cozinhar, lavar pratos, etc., será empregado doméstico mesmo que trabalhe duas ou
três vezes por semana. Caso contrário, se o serviço não tem caráter diário, como
cortar grama, fazer faxina, etc., o trabalhador será considerado como diarista.5
Na verdade, quando o obreiro trabalha em alguns dias da semana, gera a
presunção de que o serviço prestado não é contínuo, presunção essa que admite prova
em contrário a cargo do trabalhador.
3. TRT 12ª R. RO 03336-2009-038-12-00-8. 4ª C. Relª Juíza Maria Aparecida Caitano. DEJT 18.01.2011.
4. TRT 5ª R. RO 0136600-90.2009.5.05.0020. 2ª T. Relª Desª Luíza Lomba. DEJT 26.10.2010.
5. A continuidade ou não das atividades domésticas só pode ser avaliada em cada caso concreto, variando em cada
residência.
Pensar de forma diversa seria permitir a fraude à legislação trabalhista, tendo em
vista que uma família poderia, por exemplo, contratar três diaristas para trabalhar,
cada uma, dois ou três dias na semana para executar serviços domésticos contínuos,
como, por exemplo, cozinhar e lavar pratos. Essa simples assertiva desarticula a
argumentação utilizada pela doutrina e jurisprudência, quando tenta relacionar o
vínculo empregatício doméstico com o número de dias laborados por semana.
5.3. Aplicabilidade da CLT E DIREITOS TRABALHISTAS
A Consolidação das Leis do Trabalho não se aplica aos empregados
domésticos, consoante se observa do teor do seu art. 7º, salvo o capítulo que trata
das férias e o art. 482, que disciplina a justa causa (art. 6º-A, § 2º da Lei nº
5.859/72):6
Art. 7º. Os preceitos constantes da presente Consolidação, salvo
quando for, em cada caso, expressamente determinado em contrário,
não se aplicam: a) aos empregados domésticos, assim considerados,
de um modo geral, os que prestam serviços de natureza não-
econômica à pessoa ou à família no âmbito residencial destas.7
Portanto, a relação de emprego doméstico deve ser regida pelos ditames
estabelecidos pela Constituição Federal de 1988, pela a Lei nº 5.859, de
12.12.1972, pelo Decreto nº 71.885/73 e suas alterações posteriores. 8
O Decreto nº 3.361, de 10 de fevereiro de 2000, que regulamentou o art. 3º-A
da Lei nº 5.859/72, faculta ao empregador doméstico inscrever o empregado no
sistema do FGTS e, consequentemente, do seguro desemprego também. Uma vez
aderido ao sistema, não há como o empregador retratar-se.
Por sua vez, o Decreto nº 95.247/87 elenca, expressamente, os empregados
domésticos como beneficiários do vale-transporte (art. 1º, inciso II).
6. Não consideradas justas causas, para os empregados domésticos, as hipóteses previstas pelas alíneas c (negociação
habitual) e g (violação de segredo da empresa), bem como pelo parágrafo único (atos atentatórios à segurança nacional)
do art. 482 da CLT.
7. Inclusive não há falar-se em necessidade de homologação da rescisão contratual do empregado doméstico (Nesse
sentido, a decisão do TRT. 02108-2006-012-16-00-3. Rel. Luiz Cosmo da Silva Júnior. DEJT 12.11.2008).
8. A Lei 11.324/2006 revogou a alínea “a” do art. 5º da Lei 605/49 permitindo a aplicabilidade do § 1º, “a”, do art. 6º da Lei
605/49, que identifica como motivos justificados para a ausência “os previstos no artigo 473 e seu parágrafo único da
Consolidação das Leis do Trabalho”.
Já o Decreto nº 6.481/08, que regulamentou os arts. 3º, “d” e 4º da Convenção nº
182 da OIT, incluiu as atividades domésticas no rol das piores formas de trabalho
infantil, vedando o trabalho do menor de 18 anos em tais condições, salvo se
forem observadas as prescrições contidas no seu art. 2º, § 1º.
Com a publicação da Lei nº 11.324, de 19 de julho de 2006, que revogou a alínea
“a” do art. 5º da Lei nº 605, de 5 de janeiro de 1949, os trabalhadores domésticos
passaram a ter direito aos feriados civis e religiosos.
Note-se que a Lei nº 5.859/72 continuará em vigor até que outra Lei, cujo projeto
já esta sendo discutido no Congresso Nacional, revogue-a tácita ou expressamente.
Isso aconteceu quando da extensão aos rurais dos direitos atribuído aos trabalhadores
urbanos pela Constituição Federal de 1988, que recepcionou a Lei nº 5.889/73.
Entende-se que a EC nº 72/2013 não promoveu a igualdade de direitos entre
domésticos e não domésticos. Houve apenas uma diminuição da diferença de
tratamento legal dispensada a essas duas categorias profissionais.
Se a intenção do legislador constituinte derivado fosse a de estabelecer uma
isonomia, a alteração teria que ocorrer no caput do art. 7º da CF/88, com a extinção
do seu parágrafo único, com a seguinte redação sugerida: Art. 7º São direitos dos
trabalhadores urbanos, rurais e domésticos além de outros que visem à melhoria de
sua condição social”.
ATENÇÃO! A relação de emprego regida pela CLT possui
tradicionalmente os requisitos da ONEROSIDADE,
SUBORDINAÇÃO JURÍDICA, PESSOALIDADE E NÃO-
EVENTUALIDADE. Já na relação de emprego doméstico o
requisito da NÃO-EVENTUALIDADE é substituído pelo requisito
da CONTINUIDADE.
5.4. Férias
O Decreto nº 71.885/73 estendeu, de forma expressa, aos empregados
domésticos, todos os direitos previstos no capítulo da Consolidação das Leis do
Trabalho que trata das férias.9 Com isso, não há como deixar de reconhecer o direito
de tais empregados ao recebimento de férias proporcionais quando a dispensa ocorrer
antes de transcorrido o período aquisitivo respectivo.
A Lei nº 5.859/72, durante a vigência da redação anterior do art. 3º, determinava a
limitação ao gozo de férias anuais a vinte dias úteis. Argumentava-se, todavia, que
quando da edição da referida lei dos domésticos, a CLT também estabelecia o prazo
de vinte dias úteis para o gozo de férias e a alteração posterior (feita pelo Decreto-Lei
nº 1.535, de 13.04.1977), que elevou para trinta dias corridos, acabaria por beneficiar
essa espécie de empregado.
A partir da vigência da Lei nº 11.324, de 19.07.2006, espancaram-se as dúvidas
acerca do período de gozo de férias do empregado doméstico, que passou a ser de
trinta dias corridos, com a nova redação do art. 3º da mencionada Lei nº 5.859/72:
Art. 3º. O empregado doméstico terá direito a férias anuais
remuneradas de 30 (trinta) dias com, pelo menos, 1/3 (um terço) a
mais que o salário normal, após cada período de 12 (doze) meses de
trabalho, prestado à mesma pessoa ou família.
5.5. Direitos previstos na Constituição Federal de 1988 em sua redação original
A Constituição Federal de 1988 atribuiu aos empregados domésticos os direitos
previstos em seu art. 7º, exceto aqueles referentes à proteção contra a despedida
arbitrária ou sem justa causa, seguro-desemprego, FGTS, piso salarial proporcional à
extensão e à complexidade do trabalho, adicional noturno, participação nos lucros,
salário-família, jornada de trabalho, horas extras, adicional de insalubridade, adicional
de periculosidade, seguro acidente do trabalho, reconhecimento das convenções e
acordos coletivos de trabalho e isonomia salarial.10
A. Jornada de trabalho contratual
Antes da promulgação da EC nº 72/2013, nada impedia que empregador
concedesse ou ajustasse, com o empregado doméstico, melhores condições de
9. Decreto nº 71.885, de 09.03.73. Art. 2º. Excetuando o Capítulo referente a férias, não se aplicam aos empregados
domésticos as demais disposições da CLT.
10. CF/88. Art. 7º. Parágrafo único. São assegurados à categoria dos trabalhadores domésticos os direitos previstos nos
incisos IV, VI, VIII, XV, XVII, XVIII, XIX, XXI e XXIV, bem como a sua integração à previdência social.
trabalho. Assim, era perfeitamente possível estabelecer uma jornada de trabalho, seja
por meio de uma cláusula contratual verbal ou escrita, expressa ou tática.
Portanto, se o empregado doméstico prestasse serviços, por exemplo, no horário
das 8h às 18h, com duas horas de intervalo intrajornada de segunda a sábado, essa
condição de trabalho seria incorporada ao seu contrato de trabalho.
O salário contratado serviria para remunerar essa jornada de trabalho e, na
hipótese de o empregado ultrapassar os referidos limites, haveria a obrigação de
pagamento de horas extras, mas sem o adicional previsto na legislação.
Em resumo: o empregado doméstico não tinha direito à hora extra legal, mas a
jornada de trabalho poderia ser convencionada ou decorrer das condições de trabalho.
B. Salário mínimo proporcional
Cabe aqui analisar a possibilidade, à luz do ordenamento jurídico pátrio, de pagar
ao empregado doméstico salário mínimo proporcional à jornada de trabalho.
Não é raro observar empregadores domésticos que remuneram seu trabalhador em
quantia equivalente a 50% do salário mínimo para prestação de serviços apenas em
um turno (manhã, tarde ou noite) de 4 horas.
No âmbito do trabalho não doméstico, o TST já reconheceu a legalidade desse
procedimento (parte I, capítulo VI, item 2.3, “d”, desta obra), por intermédio de sua
OJ nº 358, da SDI-1.
No trabalho doméstico havia entraves que não permitiam chegar a essa mesma
conclusão. Isso porque o empregado doméstico não estava sujeito à jornada legal de
trabalho que o vinculasse ao salário mínimo. Ora, se não havia jornada de trabalho
integral, não se poderia falar em jornada de trabalho parcial.
Todavia, essa circunstância não impedia que a proporcionalidade de pagamento
do salário mínimo se fizesse por dia de trabalho. Desse modo, como o salário mínimo
serve para remunerar 30 dias de trabalho, incluindo o repouso semanal remunerado, é
possível pagar 50% desse salário para a prestação de serviços durante 15 dias por
mês, considerado, também, o repouso semanal remunerado.
Após a promulgação da Emenda Constitucional nº 72/2013, essa discussão perdeu
o objeto, mas mantem a sua importância, uma vez que conflitos pretéritos podem ser
objeto de demandas ajuizadas após a vigência dessa norma constitucional.
5.6. Direitos previstos na Constituição Federal de 1988, após a promulgação da
EC nº 72/2013
Com a promulgação da EC nº 72/2013, foram conferidos aos empregados
domésticos os seguintes direitos trabalhistas com eficácia plena e imediata:
reconhecimento das convenções e acordos coletivos de trabalho;
trabalhador portador de deficiência;
insalubre a menores de dezoito e de
qualquer trabalho a menores de dezesseis anos, salvo na condição de aprendiz, a partir
de quatorze anos.
variável;
io, constituindo crime sua retenção dolosa.
Ainda dependem de regulamentação específica, os seguintes direitos de eficácia
limitada:
FGTS e seguro-desemprego de natureza obrigatória;
-família;
ida contra despedida arbitrária ou sem justa causa;
-escolas; e
O Projeto de Lei nº 224/13 encontra-se em tramitação no Senado Federal e
tem como objetivo principal estabelecer um marco regulatório para o trabalho
doméstico, disciplinando os novos direitos trabalhistas conferidos pela EC nº 72/2013
a esse categoria profissional, bem como aqueles já consagrados pela CF/88.
O referido projeto tenta harmonizar a necessidade de eliminação de distinção
entre os empregados domésticos e os demais trabalhadores e, ao mesmo tempo, as
peculiaridades do trabalho doméstico, que é prestado no âmbito residencial e sem fins
lucrativos.
5.7. Incentivo à formalização do contrato de trabalho doméstico
Devido às características especiais que envolvem a relação de emprego
doméstica, a sua formalização, com o registro do contrato de trabalho na Carteira de
Trabalho, acompanhado do respectivo recolhimento das contribuições
previdenciárias, não vem sendo efetivada de maneira generalizada.
A informalidade da contratação de empregados domésticos é maior do que os
contratos de trabalho de outra espécie, pois, no primeiro caso, há dificuldade de se
exercer a fiscalização pelo Ministério do Trabalho e Emprego, considerando que tal
serviço é prestado no interior da residência familiar, como dito, asilo inviolável
segundo o art. 5º, XI, da Constituição Federal de 1988.11
Objetivando incentivar a formalização do contrato de trabalho doméstico, foi
editada a Medida Provisória de nº 284, que alterou alguns dispositivos da Lei nº
9.250/95. A estratégia utilizada foi de permitir o abatimento das contribuições sociais
patronais no valor do imposto de renda devido pelo empregador doméstico incidente
sobre o valor da remuneração do empregado.
Inicialmente, o referido benefício só se estenderia até o exercício de 2012, ano-
calendário de 2011. Contudo, a IN RFB/MF 1.196/2011 prorrogou o prazo até o
exercício de 2015, ano-calendário de 2014.
A referida MP nº 284/2006, convertida na Lei 11.324, de 19.07.2006, também
estabeleceu alguns limites:
a) o empregador doméstico só poderá utilizar desse procedimento com relação a
um único empregado;
b) deverá optar em declarar seus rendimentos de forma analítica, ou seja, utilizando
o modelo completo de declaração de ajuste anual;
11. CF/88. Art. 5º. XI. A casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem consentimento do morador,
salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial.
c) não poderá exceder ao valor da contribuição patronal calculada sobre um salário
mínimo mensal.
5.8. Descontos na remuneração
A aludida Lei nº 11.324, de 19.07.2006, pôs fim a uma prática bastante
prejudicial ao empregado doméstico, que consistia em descontar de sua remuneração
determinados percentuais relativos à moradia, alimentação, vestuários, etc., conforme
se observa da redação do art. 2º-A da Lei nº 5.859/72: “É vedado ao empregador
doméstico efetuar descontos no salário do empregado por fornecimento de
alimentação, vestuário, higiene ou moradia”.
Na verdade, na maioria das vezes, era destinado ao empregado doméstico um
pequeno cômodo, popularmente conhecido como dependência de empregada, sem
quaisquer características de autonomia, circunstância que lhe retirava a qualidade de
salário in natura. O mesmo se diga em relação à alimentação, que se limitava, em
muitos casos, às sobras das refeições dos integrantes da família.
Entretanto, o próprio legislador reconheceu ser possível o desconto de moradia,
quando esta for representada por uma unidade diversa daquela onde o
empregado prestar serviço, conforme se observa da redação do § 1º, art. 2º-A, da
Lei nº 5.859/72:
Art. 2º-A, § 1º. Poderão ser descontadas as despesas com moradia de
que trata o caput deste artigo quando essa se referir a local diverso da
residência em que ocorrer a prestação de serviço, e desde que essa
possibilidade tenha sido expressamente acordada entre as partes.
Por fim, a lei do doméstico, após as alterações introduzidas pela supracitada Lei
nº 11.324/2006, obsta que os valores relativos à alimentação, vestuário, habitação
e higiene incorporem-se à remuneração do empregado doméstico, seja a que título
for.12
5.9. Estabilidade gestante
O direito à estabilidade gestante só foi adquirido pela empregada doméstica com
a edição da referida Lei nº 11.324/2006, que acrescentou o art. 4º-A à Lei nº 5.859/72:
12. Lei nº 5.859/72. Art. 2º-A. § 2º. As despesas referidas no caput deste artigo não têm natureza salarial nem se incorporam
à remuneração para quaisquer efeitos.
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