amiloidose al: investigaÇÃo e prÁtica clinica · 3.6.2. sistema nervoso autónomo ... focada na...

53
Mestrado Integrado em Medicina Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar Universidade do Porto AMILOIDOSE AL: INVESTIGAÇÃO E PRÁTICA CLINICA DISSERTAÇÃO ARTIGO DE REVISÃO BIBLIOGRÁFICA Catarina Azevedo de Araújo Faria ORIENTADORA Prof.ª Doutora Luísa Lobato Porto 2014/2015

Upload: phungtuong

Post on 17-Nov-2018

215 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: AMILOIDOSE AL: INVESTIGAÇÃO E PRÁTICA CLINICA · 3.6.2. Sistema nervoso autónomo ... focada na investigação e prática clínica. Esta tem como objetivo uma revisão bibliográfica

Mestrado Integrado em Medicina

Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar

Universidade do Porto

AMILOIDOSE AL:

INVESTIGAÇÃO E PRÁTICA CLINICA

DISSERTAÇÃO

ARTIGO DE REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Catarina Azevedo de Araújo Faria

ORIENTADORA

Prof.ª Doutora Luísa Lobato

Porto

2014/2015

Page 2: AMILOIDOSE AL: INVESTIGAÇÃO E PRÁTICA CLINICA · 3.6.2. Sistema nervoso autónomo ... focada na investigação e prática clínica. Esta tem como objetivo uma revisão bibliográfica

2

Catarina Azevedo de Araújo Faria

Nº de aluno: 200900060

[email protected]

Amiloidose AL: investigação e prática clínica

Dissertação de Candidatura ao grau de Mestre em Medicina

submetida ao Instituto de Ciências Biomédicas de Abel Salazar

ORIENTADORA

Prof.ª Doutora Luísa Lobato

Page 3: AMILOIDOSE AL: INVESTIGAÇÃO E PRÁTICA CLINICA · 3.6.2. Sistema nervoso autónomo ... focada na investigação e prática clínica. Esta tem como objetivo uma revisão bibliográfica

3

ESCOLHA DO TEMA

A área médica foi a opção de fundo da minha tese. Em fevereiro de 2014, altura em

que me candidatei ao Programa Erasmus, discuti com a minha orientadora o tema da

dissertação inicialmente vocacionada para a Nefrologia. Analisámos ainda outras

potenciais áreas de interesse. A minha escolha da Universidade de Pavia para uma

experiência de estudos na Europa foi fundamental para a definição final do tema. O

Hospital Policlinico San Matteo em Pavia (CITASP), como centro de referência em

amiloidose AL, oferecer-me-ia condições para contactar com uma patologia sistémica e

potencial envolvimento renal. A possibilidade de conhecer um centro internacional e

professores dedicados à investigação na amiloidose AL estimulou-me a prosseguir a

revisão bibliográfica, integrando-a em vivência prática.

Page 4: AMILOIDOSE AL: INVESTIGAÇÃO E PRÁTICA CLINICA · 3.6.2. Sistema nervoso autónomo ... focada na investigação e prática clínica. Esta tem como objetivo uma revisão bibliográfica

4

LISTA DE ABREVIATURAS

A: Adquirida

AA: Proteína amilóide constituída por amilóide do soro A

AApoAI: Proteína amilóide constituída por uma variante da apolipoproteína AI

AApoAII: Proteína amilóide constituída por uma variante da apolipoproteína AII

AApoAIV: Proteína amilóide constituída por uma variante da apolipoproteína AIV

ABri: Proteína amilóide constituída por uma variante da ABriPP

ACys: Proteína amilóide constituída por uma variante da cistatina C

AFib: Proteína amilóide constituída por uma variante do fibrinogénio α

AGel: Proteína amilóide constituída por uma variante da gelsolisina

AH: Proteína amilóide constituída por cadeias pesadas monoclonais

AL: Proteína amilóide constituída por cadeias leves monoclonais

ALECT2: Proteína amilóide constituída pelo fator quimiotático de leucócitos 2

Alys: Proteína amilóide constituída por uma variante da lisozima

ATTR: Proteína amilóide constituída por uma variante da transtiretina

ATTRwt: Proteína amilóide constituída por transtiretina tipo selvagem

APTT: Tempo de tromboplastina parcial

Aβ2M: Proteína amilóide constituída por uma variante da β2-microglobulina

BNP: Péptido natriurético auricular tipo B

CDI: Cardiodesfibrilhador implantável

CITASP: Centro per lo Studio e la Cura delle Amiloidosi Sistemiche

CLL: Cadeias leves livres

CM: Componente monoclonal

cTN: Troponinas cardíacas

Page 5: AMILOIDOSE AL: INVESTIGAÇÃO E PRÁTICA CLINICA · 3.6.2. Sistema nervoso autónomo ... focada na investigação e prática clínica. Esta tem como objetivo uma revisão bibliográfica

5

cTnI: Troponina I

cTnT: Troponina T

CyBord: Ciclofosfamida, bortezomib e dexametasona

dCLL: Diferença entre cadeias leves envolvidas e não envolvidas

DLCO: Capacidade de difusão do monóxido de carbono

DNA: Ácido desoxirribonucleico

ECOG: Eastern Cooperative Oncology Group

EDA: Endoscopia digestiva alta

EM: Espe trometria de massa

EMG: Eletromiografia

FA: Fibrilhação auricular

FCM: Fração de contração miocárdica

FE: Fração de ejeção

GMSI: Gamopatia monoclonal de significado incerto

H: Hereditária

h-FTAA: Heptameric formic thiophene acetic acid

IECA: Inibidor da enzima conversora da angiotensina

IMC: Índice de massa corporal

INR: Índice internacional normalizado

MAD: Melfalano em altas doses

MDex: Melfalano e dexametasona

MM: Mieloma Múltiplo

MO: Medula óssea

NT-proBNP: Fração N-terminal do pro-BNP

Page 6: AMILOIDOSE AL: INVESTIGAÇÃO E PRÁTICA CLINICA · 3.6.2. Sistema nervoso autónomo ... focada na investigação e prática clínica. Esta tem como objetivo uma revisão bibliográfica

6

NYHA: New York Heart Association

PET: Tomografia de emissão de positrões

PAS: Pressão arterial sistólica

PIP: Perda intencional de peso

RM: Ressonância magnética

SAP: Componente amilóide P do soro

SNA: Sistema nervoso autónomo

SNC: Sistema nervoso central

SNP: Sistema nervoso periférico

sSTC2: Supressor tumoral solúvel 2

STC1: Estaniocalcinina 1

TACE: Transplante autólogo de células estaminais

TC: Tomografia computorizada

TFG: Débito de filtração glomerular

TP: Tempo de pró-trombina

VE: Ventrículo esquerdo

VM: Volume miocárdico

VS: Volume sistólico

VAD: Vincristina, adriamicina e dexametasona

Page 7: AMILOIDOSE AL: INVESTIGAÇÃO E PRÁTICA CLINICA · 3.6.2. Sistema nervoso autónomo ... focada na investigação e prática clínica. Esta tem como objetivo uma revisão bibliográfica

7

ÍNDICE

Escolha do tema ............................................................................................................... 3

Lista de abreviaturas......................................................................................................... 4

Índice de tabelas ............................................................................................................... 9

Resumo ...........................................................................................................................10

Abstract ...........................................................................................................................11

Metodologia .....................................................................................................................12

1. Introdução .................................................................................................................13

2. Patogénese da amiloidose ........................................................................................15

3. Apresentação clínica da amiloidose AL ....................................................................18

3.1. Rim ................................................................................................................18

3.2. Coração .........................................................................................................19

3.3. Fígado ............................................................................................................20

3.4. Baço ...............................................................................................................20

3.5. Trato gastrointestinal ......................................................................................21

3.6. Sistema nervoso ............................................................................................21

3.6.1. Sistema nervoso periférico .........................................................................21

3.6.2. Sistema nervoso autónomo ........................................................................21

3.7. Sistema respiratório .......................................................................................22

3.8. Tecidos moles e pele .....................................................................................22

3.9. Articulações e músculo ..................................................................................22

3.10. Sistema endócrino .........................................................................................22

3.11. Alterações da coagulação ..............................................................................22

3.12. Amiloidose Localizada ....................................................................................23

4. Diagnóstico ...............................................................................................................24

4.1. Verificação da presença de depósitos amilóides ............................................25

4.2. Tipagem da substância amilóide ....................................................................26

4.3. Avaliação da extensão do dano e disfunção orgânica ....................................28

4.3.1. Coração ......................................................................................................28

4.3.2. Rim .............................................................................................................28

4.3.3. Fígado ........................................................................................................29

Page 8: AMILOIDOSE AL: INVESTIGAÇÃO E PRÁTICA CLINICA · 3.6.2. Sistema nervoso autónomo ... focada na investigação e prática clínica. Esta tem como objetivo uma revisão bibliográfica

8

5. Tratamento ...............................................................................................................30

5.1. Tratamento específico ....................................................................................32

5.1.1. Tratamento de 1ª linha ...............................................................................32

5.1.2. Tratamento de doença refratária e recorrente .............................................34

5.2. Tratamento de suporte ...................................................................................35

5.2.1. Coração ......................................................................................................35

5.2.2. Sistema nervoso autónomo ........................................................................36

5.2.3. Rim .............................................................................................................36

6. Avaliação da Resposta Terapêutica e Prognóstico ...................................................38

7. Relatório de Estágio .................................................................................................43

7.1. Introdução e enquadramento .........................................................................43

7.2. Caracterização do CITASP ............................................................................43

7.3. Descrição das atividades ...............................................................................44

8. Conclusão .................................................................................................................46

Agradecimentos ...............................................................................................................47

Bibliografia .......................................................................................................................48

Page 9: AMILOIDOSE AL: INVESTIGAÇÃO E PRÁTICA CLINICA · 3.6.2. Sistema nervoso autónomo ... focada na investigação e prática clínica. Esta tem como objetivo uma revisão bibliográfica

9

ÍNDICE DE TABELAS

Tabela I............................................................................................................................14

Tabela II...........................................................................................................................30

Tabela III ..........................................................................................................................31

Tabela IV .........................................................................................................................38

Tabela V ..........................................................................................................................40

Tabela VI .........................................................................................................................41

Tabela VII ........................................................................................................................42

Page 10: AMILOIDOSE AL: INVESTIGAÇÃO E PRÁTICA CLINICA · 3.6.2. Sistema nervoso autónomo ... focada na investigação e prática clínica. Esta tem como objetivo uma revisão bibliográfica

10

RESUMO

A amiloidose por cadeias leves de imunoglobulinas (amiloidose AL) resulta da sua

deposição extracelular após assumir a conformação fibrilar. As imunoglobulinas são

produzidas por um clone monoclonal plasmocitário, mais frequentemente associado ao

isotipo lambda. Os depósitos comprometem a arquitetura tecidular, resultando em

disfunção orgânica, e as fibrilas podem assumir toxicidade celular direta. A amiloidose AL

é o tipo de amiloidose sistémica mais frequente nos países desenvolvidos sendo uma

doença que afeta especialmente os adultos com mais de 60 anos.

O caráter sistémico da deposição é responsável por apresentações clínicas

variáveis, muitas vezes inespecíficas e mimetizando outras patologias, sendo o diagnóstico

difícil e, por isso, frequentemente tardio. A variabilidade de apresentação depende do

tropismo orgânico de cada tipo de cadeia leve. O diagnóstico é também atrasado pela

necessidade de comprovar a patologia conjugando a clínica com a histopatologia,

aplicação do estudo proteómico e a investigação genética, etapas fundamentais para

afirmar em definitivo a etiopatogenia da amiloidose sistémica.

O mau prognóstico associado à doença avançada, particularmente a cardíaca,

tornou evidente a necessidade de marcadores precoces do envolvimento e gravidade do

atingimento orgânico. Esta avaliação tem particular interesse no prognóstico, na opção e

na resposta à terapêutica. Na atualidade são selecionados como marcadores de resposta

terapêutica e progressão o NT-proBNP, as troponinas, as cadeias leves livres séricas, o

débito de filtração glomerular e a proteinúria.

O principal objetivo do tratamento é eliminar a proteína monoclonal. As opções

devem ser adaptadas à heterogeneidade de manifestações e gravidade da doença,

associadas à decisão inicial de eleger o doente para o transplante autólogo de células

estaminais. A escolha terapêutica inclui o melfalano oral associado a dexametasona, os

regimes baseados em bortezomib e imunomoduladores, como a lenalidomida, combinados

com dexametasona.

Palavras-chave: amiloidose AL, proteómica, cadeias leves, tratamento, prognóstico,

NT-proBNP

Page 11: AMILOIDOSE AL: INVESTIGAÇÃO E PRÁTICA CLINICA · 3.6.2. Sistema nervoso autónomo ... focada na investigação e prática clínica. Esta tem como objetivo uma revisão bibliográfica

11

ABSTRACT

Immunoglobulin light-chain (AL) amyloidosis results from its fibril-forming

extracellular deposition. Immunoglobulin light-chains, most frequently lambda isotype, are

secreted by an indolent plasma cell clone. Amyloid deposition disrupts tissue architecture

ending in organ dysfunction and direct cellular toxicity is mediated by circulating light-

chains. AL amyloidosis is the most common systemic amyloidosis in developed countries

affecting specially adults after the 50th decade.

Clinical presentation is often variable and unspecific, similar to several other

pathologies, delaying a difficult diagnosis. Light-chain organ tropism determines the clinical

picture. Histopathological evaluation, proteomics and sometimes genetics are fundamental

steps for accurate diagnosis of a systemic amyloidosis. Moreover, in all of its complexity,

are also responsible for a delayed diagnosis.

Advanced disease, associated with poor prognosis, especially with cardiac

evolvement, may be avoided by early disease biomarkers - also crucial determining

prognosis and choice of therapy. NT-proBNP, cardiac troponins, free light-chains,

glomerular filtration rate and proteinuria are the main evaluated parameters during

management of these patients.

Treatment’s main purpose is to eradicate monoclonal protein. The choice of therapy

must be adapted to the degree of organ evolvement and dysfunction ultimately determining

if autologous stem cell transplantation is a valid option. Other choices include oral

melphalan associated with dexamethasone, bortezomib-based regimens and

immunomodulatory drugs, such as lenalidomide, also associated with dexamethasone.

Key-words: amyloidosis AL, proteomics, light chains, treatment, prognosis, NT-proBNP

Page 12: AMILOIDOSE AL: INVESTIGAÇÃO E PRÁTICA CLINICA · 3.6.2. Sistema nervoso autónomo ... focada na investigação e prática clínica. Esta tem como objetivo uma revisão bibliográfica

12

METODOLOGIA

Este trabalho, realizado no âmbito da unidade curricular de

"Dissertação/Projeto/Relatório de Estágio" do Mestrado Integrado em Medicina, consiste

numa dissertação sobre a Amiloidose AL, focada na investigação e prática clínica. Esta

tem como objetivo uma revisão bibliográfica aprofundada, utilizando como base artigos

científicos e publicados em revistas científicas de referência. Numa fase inicial, para melhor

enquadramento do tema, recorreu-se à plataforma de bases de dados UpTodate e

ClinicalKey. Como motor de pesquisa mais aprofundada foi utilizado o PubMed, usando

como palavra-chave “AL amyloidosis”. Complementando o conhecimento teórico foi

desenvolvido um estágio observacional na Universidade de Pavia, mais concretamente no

Centro per lo Studio e la Cura delle Amiloidosi Sistemiche (CITASP), com o grupo de

investigação dirigido pelo Prof. Doutor Giampaolo Merlini. Assim, foram escolhidos

preferencialmente os artigos publicados por este mesmo grupo.

Page 13: AMILOIDOSE AL: INVESTIGAÇÃO E PRÁTICA CLINICA · 3.6.2. Sistema nervoso autónomo ... focada na investigação e prática clínica. Esta tem como objetivo uma revisão bibliográfica

13

1. INTRODUÇÃO

As amiloidoses constituem um grupo de doenças que têm em comum a deposição

extra-celular patológica de fibrilas insolúveis em diversos tecidos e órgãos. Essas fibrilas

têm uma configuração β-pregueada e são detetáveis como birrefringência verde sob luz

polarizada, quando coradas com vermelho do Congo.1–3 À microscopia eletrónica estas

surgem como fibrilas aleatoriamente orientadas, não ramificadas, de 7,5 a 10 nm de

diâmetro.4

Diversos tipos de proteínas – encontram-se descritas mais de 20 - podem formar a

substância amilóide, fator este que permite classificar os diferentes tipos de amiloidose.5

Na Amiloidose AL as fibrilas são compostas por fragmentos de cadeias monoclonais de

baixo peso molecular (geralmente do isotipo lambda). Estas cadeias são geralmente

produzidas por um pequeno clone indolente de plasmócitos.1 Não obstante, a amiloidose

AL pode também surgir associada a Mieloma Múltiplo, apresentação esta menos comum

(15% dos casos), e, mais raramente, a outras doenças linfoproliferativas. Outra

característica utilizada para a classificação das amiloidoses consiste no padrão de

deposição da substância amilóide, sistémico ou localizado.3 A amiloidose AL constitui a

forma sistémica mais comum e grave, na medida em que o atingimento cardíaco,

característico da mesma, condiciona um prognóstico sombrio.1 Das amiloidoses

hereditárias, a mais comum é a mutação na transtirretina, salientando-se a mutação V30M

– substituição do aminoácido valina por metionina, na posição 30 – a primeira a ser

identificada em famílias portuguesas.6 A sequenciação genética deve ser realizada sempre

que é possível amiloidose hereditária; de referir que a história familiar só é sugestiva em

cerca de 50% dos casos por penetrância incompleta.1 Outras amiloidoses hereditárias

surgem por mutações no fibrinogénio, gelsolisina, lisozima e apolipoproteínas AI e AII. A

amiloidose AA (amilóide do soro A) surge no decurso de uma doença inflamatória ou

infeciosa crónica, pelo que o seu tratamento deve ser dirigido à doença que a originou.7,8

A forma mais comum de amiloidose localizada está relacionada com a proteína β-amiloide

e encontra-se no cérebro de indivíduos com doença de Alzheimer.2 A tabela I apresenta

um resumo das amiloidoses sistémicas e do seu percursor proteico, com a nomenclatura

revista em 2014.9

A amiloidose AL pode ser vista como uma doença rara, estimando-se a sua

incidência em 6 a 10 casos/milhão/ano nos Estados Unidos. Sendo uma patologia

essencialmente do adulto e do idoso, toma particular relevância numa população

envelhecida como a ocidental.1,2,7,10,11

Page 14: AMILOIDOSE AL: INVESTIGAÇÃO E PRÁTICA CLINICA · 3.6.2. Sistema nervoso autónomo ... focada na investigação e prática clínica. Esta tem como objetivo uma revisão bibliográfica

14

A complexidade do seu diagnóstico compreende-se pelas vastas apresentações

clínicas possíveis, compostas por sintomas muitas vezes gerais e inespecíficos, que

dependem do grau e número de órgãos afetados.3

Na última década existiram avanços importantes na abordagem terapêutica da

amiloidose, com um aumento significativo da sobrevivência e da qualidade de vida dos

doentes, fruto da aprovação de novos agentes para o tratamento do mieloma múltiplo,

existindo, contudo, ainda carência de trabalho de investigação dirigido à amiloidose em

particular. O atraso no diagnóstico leva à apresentação com envolvimento avançado, por

vezes irreversível dos órgãos-alvo, e reduzida sobrevivência dos doentes. O advento de

novos fármacos, o desenvolvimento do transplante autólogo de células estaminais e

mesmo a indicação para transplantação renal ou cardíaca, enfatiza a importância da

suspeição da patologia nos doentes jovens.7

Tabela I – Amiloidoses sistémicas e nomenclatura atual

Adaptado de Sipe JD et al, Nomenclature 2014: Amyloid fibril proteins and clinical classification of the

amyloidosis, Amyloid. 2014, 21(4):221-4. A – adquirida, H – hereditária, SNC – sistema nervoso central,

SNP – sistema nervoso periférico, SNA – sistema nervoso autónomo

Proteína

Fibrilar Percursor proteico

Adquirida/

Hereditária Órgãos-alvo

AL Cadeias leves de imunoglobulinas A/H Todos exceto o SNC

AH Cadeias pesadas de

imunoglobulinas A Todos exceto o SNC

AA Amilóide do soro A A Todos exceto o SNC

ATTRwt Transtirretina tipo selvagem A Coração (maioritariamente),

ligamentos, tenosinovio

ATTR Variante da transtirretina H SNP, SNA coração, olho,

leptomeninges, raramente rim

Aβ2M Variante da β2-microglobulina H Sistema nervoso autónomo

AapoAI Variante da apolipoproteína AI H

Coração, fígado, rim, SNP,

testículos, pele e laringe

(variantes C terminal)

AApoAII Variante da apolipoproteína AII H Rim

AApoAIV Apolipoproteína AIV tipo

selvagem A Medula renal e sistémica

AGel Variante da gelsolisina H SNP e córnea

Alys Variante da lisozima H Rim

ALECT2 Fator quimiotático de leucócitos 2 A Rim

AFib Variante do fibrinogénio α H Rim

Acys Variante da cistatina C H SNP e pele

ABri Variante da ABriPP H SNC

Page 15: AMILOIDOSE AL: INVESTIGAÇÃO E PRÁTICA CLINICA · 3.6.2. Sistema nervoso autónomo ... focada na investigação e prática clínica. Esta tem como objetivo uma revisão bibliográfica

15

2. PATOGÉNESE DA AMILOIDOSE

Uma das características chave da amiloidose é a aquisição de uma estrutura

anormal numa proteína que normalmente é solúvel. A alteração da estrutura origina uma

proteína com tendência à agregação. Os agregados formam protofilamentos que se

associam em fibrilas amilóides, numa estrutura β-pregueada.3 Assim, a amiloidose resulta

da acumulação de várias proteínas fibrilares insolúveis a nível tecidual e orgânico, numa

extensão que afeta a função.

Apesar de uma proteína percursora ser essencial à formação da substância

amilóide, esta não é o único constituinte da mesma. Todas as fibrilas possuem um

componente P associado a elas, que deriva do componente amilóide P do soro (SAP) e se

liga à substância amilóide, independentemente da proteína que a originou. Esta

propriedade é a base dos exames radiomarcados com SAP para deteção de depósitos

amilóides. Este componente está muito protegido contra a proteólise contribuindo para a

resistência à degradação da substância amilóide. São também comuns

glicosaminoglicanos que interagem promovendo a formação de fibrilas e a sua estabilidade

nos tecidos. Não obstante, a deposição não é irreversível, pois resulta do balanço entre a

produção dos percursores amilóides e a sua reabsorção.

Figura 1: Formação da substância amilóide Fonte: Folding versus aggregation: Polypeptide conformations on competing pathways. Arch Biochem Biophys.

2008 Jan 1; 469(1):100-117

Os mecanismos exatos que determinam a acumulação da substância amilóide nos

tecidos requerem ainda elucidação. Interações específicas com os glicosaminoglicanos

dos tecidos, ou recetores de superfície celular, podem ser importantes na determinação do

tropismo por determinados órgãos. Está demonstrado tropismo particular pelo rim pelas

cadeias leves tipo λ. Na amiloidose AL, o reconhecimento de determinados constituintes

Page 16: AMILOIDOSE AL: INVESTIGAÇÃO E PRÁTICA CLINICA · 3.6.2. Sistema nervoso autónomo ... focada na investigação e prática clínica. Esta tem como objetivo uma revisão bibliográfica

16

dos tecidos (por exemplo, colagéneo) pelas cadeias leves, pode determinar a

especificidade da deposição tecidual. A acumulação de grandes quantidades de material

fibrilar pode alterar a arquitetura tecidular com consequente disfunção orgânica.12

Evidência recente sugere que as proteínas percursoras da substância amilóide, ou

agregados das mesmas, têm efeito citotóxico direto que também contribui para as

manifestações da doença. A primeira pista para a existência deste mecanismo na

amiloidose AL foi o surgimento de acentuadas melhorias nas funções cardíaca e renal,

bem como da neuropatia periférica, após a supressão da produção de cadeias leves

amiloidogénicas pela quimioterapia.

Além disso, observação clínica de doentes com cardiomiopatia amiloidótica revelou

pouca relação entre a dimensão da infiltração por substância amilóide e o grau de

disfunção cardíaca. De facto, foi demonstrada diminuição nos valores de NT-proBNP

(principal marcador de disfunção cardíaca) associada à redução da concentração de

cadeias leves no soro, pós-quimioterapia, mesmo na ausência de alterações nos depósitos

amilóides miocárdicos, avaliados ecocardiograficamente. Assim, o percursor amilóide

neste tipo de amiloidose representa um papel central na disfunção orgânica, exercendo

citotoxicidade direta nas células cardíacas.5 A primeira evidência direta deste mecanismo

patogénico foi a descoberta da ativação da via p38MAPK minutos após a exposição a

cadeias leves amiloidogénicas.13 Posteriormente, observou-se que a estaniocalcinina1

(STC1), associada a stress oxidativo e mediadora da apoptose, se encontra sobre-

expressa no tecido cardíaco e a sua produção é induzida nas mesmas pela presença de

cadeias leves amiloidogénicas, através de ativação da via p38MAPK, com subsequente

dano mitocondrial. O mesmo não ocorre com cadeias leves não-amiloidogénicas. A STC1

surge assim como possível alvo terapêutico, apesar de serem necessários mais estudos

para uma melhor definição da fisiopatologia envolvida.14

Na amiloidose AL as fibrilas derivam principalmente dos resíduos N-terminal dos

aminoácidos da região variável das cadeias leves das imunoglobulinas. As características

das cadeias leves de imunoglobulinas, que as tornam propensas à formação de fibrilas

amilóides, constituem o isotipo λ e o subgrupo de variabilidade VλVI (uma família homóloga

de regiões variáveis das cadeias leves). Os domínios variáveis das cadeias leves V(L),

incluindo as cadeias amiloidogénicas, sofrem mutações durante a resposta imune; sendo

que algumas destas podem afetar locais essenciais à conformação normal, surgindo

proteínas instáveis e propensas à agregação.

Como no caso da amiloidose AL, as amiloidoses cuja proteína percursora se

encontra no plasma são fruto de uma suscetibilidade intrínseca à aquisição de uma

conformação anormal, que se torna mais evidente com o envelhecimento ou pelo aumento

Page 17: AMILOIDOSE AL: INVESTIGAÇÃO E PRÁTICA CLINICA · 3.6.2. Sistema nervoso autónomo ... focada na investigação e prática clínica. Esta tem como objetivo uma revisão bibliográfica

17

da concentração da mesma (amiloidoses adquiridas), ou são formas mutantes, como na

amiloidose ATTR (amiloidoses hereditárias).

Apesar da infiltração medular ser subtil, a amiloidose AL partilha diversas alterações

cromossómicas numéricas com patologias como a GMSI e o MM, nomeadamente deleções

13q14 e t(11;14), pertencendo ao espetro das doenças proliferativas de plasmócitos.11 Por

outro lado, a prevalência desta patologia entre os doentes com discrasias de plasmócitos

tem aumentado pela maior sobrevida dos mesmos, decorrente da eficácia das novas

terapias disponíveis.5

De referir um artigo publicado em abril do corrente ano (Benson et al), que descreve

um caso de amiloidose AL hereditária. O isolamento e caracterização da cadeia leve tipo κ

do soro de um indivíduo afetado, revelou uma mutação na região constante da cadeia leve

κ, com substituição de cisteína por serina no aminoácido 131, que foi posteriormente

confirmada em análise de DNA. Trata-se de uma descoberta importante na medida em que

estes casos não constituem uma discrasia de plasmócitos e mal diagnosticados levam à

realização de quimioterapia desnecessária.15

Page 18: AMILOIDOSE AL: INVESTIGAÇÃO E PRÁTICA CLINICA · 3.6.2. Sistema nervoso autónomo ... focada na investigação e prática clínica. Esta tem como objetivo uma revisão bibliográfica

18

3. APRESENTAÇÃO CLÍNICA DA AMILOIDOSE AL

Com a ocorrência de deposição da substância amilóide a nível sistémico, a

apresentação clínica é extremamente variável. Virtualmente, qualquer órgão ou tecido

pode ser atingido, com exceção do sistema nervoso central.7

A dispneia e a fadiga são os sintomas mais frequentemente referidos, ambos

inespecíficos e vagos, conduzindo muitas vezes a um atraso no diagnóstico.10

De referir que o surgimento de sintomas indica já um dano orgânico importante,

salientando-se a importância do uso de biomarcadores sensíveis o suficiente para detetar

dano orgânico pré-sintomático. Especial atenção deve ser dada a indivíduos com GMSI e

rácio de cadeias leves livres anormal, pois encontram-se em maior risco de desenvolver

amiloidose.

O envolvimento orgânico mais comum verifica-se a nível renal e cardíaco, isolada

ou simultaneamente.

3.1. RIM

Aquando da apresentação inicial, dois terços dos doentes têm atingimento renal.

De referir que a ausência de envolvimento renal na apresentação inicial torna diminuta a

probabilidade de este órgão vir a ser envolvido.

A acumulação de substância amilóide no rim manifesta-se clinicamente como

síndrome nefrótico – proteinúria nefrótica constituída maioritariamente por albumina –

associada a diminuição da função renal em 50% dos casos.16 Tal facto deve-se à

acumulação predominantemente a nível glomerular, comum à maior parte das amiloidoses,

com comprometimento da membrana glomerular.4 Uma pequena percentagem de doentes

(10%) pode sofrer acumulação de substância amilóide a nível vascular e tubulointersticial

renal, apresentando assim um quadro de disfunção renal sem proteinúria significativa.17 As

figuras 2 e 3 demonstram acumulação de substância amilóide no rim, através de diversas

colorações em que a mesma assume características específicas.

A avaliação da microalbuminúria e do débito de filtração glomerular (TFG) nos

indivíduos em risco permite identificar os doentes numa fase precoce de deposição de

substância amilóide. Evidência recente demonstra que o dano renal é reversível se a

intervenção for precoce (proteinúria <5g/24h e a TFG>60mL/min).8

Page 19: AMILOIDOSE AL: INVESTIGAÇÃO E PRÁTICA CLINICA · 3.6.2. Sistema nervoso autónomo ... focada na investigação e prática clínica. Esta tem como objetivo uma revisão bibliográfica

19

Figura 2 – A substância amilóide apresenta tipicamente uma aparência eosinofílica quando corada com

hematoxilina-eosina (A), cora fracamente pelo PAS (B), cora negativamente com a prata (C) e apresenta uma

coloração azulada no tricrómio (D)

Fonte: Khalighi MA et al, Amyloid Nephropathy, Clin Kidney J. 2014 Apr;7(2):97-106.

Figura 3 – Coloração com vermelho do Congo (A) demonstra depósitos amorfos globalmente no mesângio e

nas paredes dos capilares. Sob luz polarizada (B) o material demonstra birrefringência verde, comprovando a

presença de substância amilóide

Fonte: Khalighi MA et al, Amyloid Nephropathy, Clin Kidney J. 2014 Apr;7(2):97-106.

3.2. CORAÇÃO

Cerca de metade dos doentes surge com atingimento cardíaco na apresentação

inicial. Este condiciona uma cardiomiopatia restritiva, manifestando-se clinicamente por

insuficiência cardíaca.10 As paredes ventriculares encontram-se espessadas

concentricamente com cavidades diminuídas ou normais; a fração de ejeção pode ser

normal ou encontrar-se ligeiramente diminuída, mas o comprometimento do enchimento

ventricular limita o débito cardíaco.18 No ecocardiograma são evidentes as características

de cardiomiopatia restritiva, sendo de salientar a aparência hiperecogénica do miocárdio,

descrita como brilhante. Eletrocardiograficamente é comum um padrão de baixa voltagem,

Page 20: AMILOIDOSE AL: INVESTIGAÇÃO E PRÁTICA CLINICA · 3.6.2. Sistema nervoso autónomo ... focada na investigação e prática clínica. Esta tem como objetivo uma revisão bibliográfica

20

muitas vezes associado também a um padrão de pseudo-enfarte.18 Além disso, a infiltração

do músculo cardíaco pode condicionar o surgimento de distúrbios do ritmo, sob a forma de

arritmias ventriculares ou supra-ventriculares. A substância amilóide pode também afetar

as artérias coronárias, maioritariamente intramurais, podendo ser observado todo o espetro

clínico da doença arterial coronária.19–21

3.3. FÍGADO

A presença de hepatomegalia pode surgir, tanto no contexto de insuficiência

cardíaca congestiva, como por acumulação de substância amilóide. Na segunda, é

possível ao exame físico detetar à palpação um fígado endurecido não depressível.

Laboratorialmente, é típica a elevação marcada da fosfatase alcalina associada a elevação

ligeira das transaminases, sem alterações sugestivas de insuficiência hepática.22 Contudo,

existem descritos casos raros de hepatite colestática que pode resultar em insuficiência

hepática com hipertensão portal, acompanhada de hematomas subcapsulares e rutura

espontânea do fígado.

Um artigo publicado por Cichoż-Lach et al relata um caso de amiloidose AL

manifestado por hepatomegalia, perda ponderal e mal estar geral. Este caso revelou na

biópsia hepática uma deposição de substância amilóide ao longo dos sinusóides, espaço

de Disse, paredes vasculares e tecido conjuntivo dos espaços portais, que constitui o

padrão típico de deposição. A figura 4 mostra o aspeto histológico de uma biópsia de fígado

afetado com amiloidose.23

Figura 4 – Depósitos de substância amilóide entre os sinusóides e hepatócitos com atrofia dos últimos

Fonte: Cichoż-Lach H et al, Hepatomegaly, weight-loss and general malaise – the first manifestations of primary

systemic amyloidosis, Prz Gastroenterol. 2014;9(1):57-61.

3.4. BAÇO

O envolvimento esplénico é constante e, na maior parte das vezes, assintomático.

Em doentes com acumulação exuberante observam-se sinais de hipoesplenismo (corpos

Page 21: AMILOIDOSE AL: INVESTIGAÇÃO E PRÁTICA CLINICA · 3.6.2. Sistema nervoso autónomo ... focada na investigação e prática clínica. Esta tem como objetivo uma revisão bibliográfica

21

de Howell-Joly) no esfregaço sanguíneo, associados frequentemente a trombocitopenia.

Existem também descritos alguns casos de rutura espontânea do baço.

3.5. TRATO GASTROINTESTINAL

O envolvimento do trato gastrointestinal é comum – observado em 80% das

biópsias do estômago (Figura 5) ou reto – e frequentemente assintomático. A

sintomatologia habitual inclui comprometimento do trânsito intestinal, podendo também

contribuir para esta o envolvimento do sistema nervoso autónomo, bem como, hemorragia

oculta. Num espetro de complicações mais grave, podem surgir quadros de mal-absorção,

perfuração, hemorragia ou obstrução intestinal aguda.10

Figura 5 – Depósitos anelares de substância amilóide rodeiam os capilares da mucosa gástrica.

A – hematoxilina-eosina, B – vermelho do Congo

Fonte: Cichoż-Lach H et al, Hepatomegaly, weight-loss and general malaise – the first manifestations of primary

systemic amyloidosis, Prz Gastroenterol. 2014;9(1):57-61.

3.6. SISTEMA NERVOSO

3.6.1. SISTEMA NERVOSO PERIFÉRICO

O atingimento do sistémico nervoso periférico está presente em 20% dos doentes

com amiloidose AL e caracteriza-se por uma polineuropatia sensitivomotora periférica,

dolorosa e lentamente progressiva, semelhante à neuropatia diabética.

3.6.2. SISTEMA NERVOSO AUTÓNOMO

A neuropatia autonómica, que pode surgir isoladamente, ou associada a neuropatia

periférica, manifesta-se com gastroparesia, diarreia ou obstipação, impotência e, muito

frequentemente, é responsável por hipotensão postural grave e incapacitante, com

Page 22: AMILOIDOSE AL: INVESTIGAÇÃO E PRÁTICA CLINICA · 3.6.2. Sistema nervoso autónomo ... focada na investigação e prática clínica. Esta tem como objetivo uma revisão bibliográfica

22

necessidade de períodos de decúbito prolongados, representando elevado impacto na

sobrevida.

3.7. SISTEMA RESPIRATÓRIO

A doença a nível pulmonar é caracterizada pela infiltração intersticial de substância

amilóide, cuja expressão clínica depende da difusão e localização dos depósitos. A

insuficiência respiratória rapidamente progressiva pode surgir com o envolvimento

broncoalveolar e aparentemente é mais frequente em doentes com paraproteinemia IgM.

A presença de nódulos pulmonares isolados está associada a doença localizada.

3.8. TECIDOS MOLES E PELE

O envolvimento dos tecidos moles origina macroglossia, síndrome do túnel cárpico,

nódulos na pele, artropatia, alopecia, distrofia ungueal, hipertrofia das glândulas

submandibulares, púrpura peri-orbitária e rouquidão. Salienta-se que a macroglossia,

apesar de presente numa minoria dos doentes, é muito típica da amiloidose AL.

Encontram-se assim descritas uma série de lesões a nível da pele, desde o típico

hematoma periorbital já referido a pápulas, nódulos e máculas e, excecionalmente,

vesículas ou bolhas, localizadas na face e tronco.

3.9. ARTICULAÇÕES E MÚSCULO

Articularmente pode surgir poliartropatia bilateral, simétrica e progressiva, que

atinge os dedos, pulsos, ombros e joelhos. A substância amilóide pode infiltrar a bainha

dos tendões criando o clássico sinal shoulder pad. Quando esta invade o músculo o doente

apresenta uma aparência pseudo-atlética, comumente associada a cardiopatia amilóide.

3.10. SISTEMA ENDÓCRINO

Estão descritos casos raros de endocrinopatias, como hipotiroidismo e insuficiência

adrenal, provocados por acumulação de substância amilóide nas glândulas, em doentes

com amiloidose AL.16

3.11. ALTERAÇÕES DA COAGULAÇÃO

Por fim, a amiloidose está bem associada a complicações hemorrágicas, fruto de

deficiências nos fatores de coagulação (maioritariamente do X, menos frequentemente do

V ou IX) com aumento da fibrinólise.24–26

Page 23: AMILOIDOSE AL: INVESTIGAÇÃO E PRÁTICA CLINICA · 3.6.2. Sistema nervoso autónomo ... focada na investigação e prática clínica. Esta tem como objetivo uma revisão bibliográfica

23

3.12. AMILOIDOSE LOCALIZADA

Alguns doentes apresentam uma forma localizada de amiloidose AL, resultado da

deposição da substância amilóide num local próximo à sua produção por um clone focal de

plasmócitos. A maior parte destes indivíduos não possui evidência de gamopatia

monoclonal. A bexiga, trato urinário, sistema respiratório, globo ocular e pele, são os

principais locais associados a esta forma de amiloidose.10

Um artigo publicado em 2013 por Raja et al, descreve um caso raro de amiloidose

localizada na bexiga. O doente, do sexo masculino e com 56 anos de idade, apresentava

hematúria recorrente (há 3 meses) e intermitente (1 a 2 episódios/semana) sem outra

sintomatologia associada, apresentação esta típica, apesar de alguns doentes poderem

apresentar sintomas maioritariamente irritativos. Esta patologia surge geralmente entre a

sexta e oitava décadas e representa um desafio diagnóstico pela sua semelhança a uma

neoplasia infiltrativa da bexiga. A figura 6 apresenta os resultados obtidos na biópsia

realizada por cistoscopia. Os depósitos da substância amilóide geralmente encontram-se

na lâmina própria e atingem principalmente as paredes laterais ou posteriores da bexiga,

resultados semelhantes foram encontradas no doente em questão.

Tal como esperado, o rácio de cadeias leves livres encontrava-se normal, bem

como todos os outros exames realizados, destinados a excluir amiloidose AL sistémica,

MM e outras neoplasias comumente associadas a amiloidose.27

Figura 6 – A. Coloração Hematoxilina e Eosina de biópsia da bexiga demonstra depósitos nodulares de

material hialiano e acelular na lamina (setas) B. Coloração com prata mostra a coloração negativa do material

hialino (setas).

Fonte: Raja K, Ahmed E, Mubarak M, Iqbal T, Hassan SM, Primary localized amyloidosis of urinary bladder: a

case report and review of literature, Nephrourol Mon. 2013, 5(5):994-6.

Page 24: AMILOIDOSE AL: INVESTIGAÇÃO E PRÁTICA CLINICA · 3.6.2. Sistema nervoso autónomo ... focada na investigação e prática clínica. Esta tem como objetivo uma revisão bibliográfica

24

4. DIAGNÓSTICO

O diagnóstico de amiloidose AL é muitas vezes tardio, fruto da sintomatologia

inespecífica e vaga da mesma. O facto da presença de sintomatologia indicar um dano

orgânico grave, que condiciona mau prognóstico, realça a importância do diagnóstico

precoce.3 Tal tem particular relevância nos doentes que se encontram em risco,

nomeadamente, doentes com gamopatia monoclonal de significado incerto (GMSI)

(particularmente os que apresentam alteração do rácio к:λ), em que a deteção de

albuminúria deve levantar a suspeição de amiloidose AL (figura 7).8 A associação de

síndrome nefrótico e insuficiência cardíaca, neuropatia periférica e autonómica simultâneas

em doentes não diabéticos ou critérios ecocardiográficos de hipertrofia ventricular

esquerda sem evidência eletrocardiográfica consistente, são outros exemplos de situações

clínicas que devem levantar a suspeição desta patologia.1 Alguns doentes com amiloidose

cardíaca não diagnosticada e uma percentagem de plasmócitos na medula óssea <10%,

podem vir a ser referenciados a um hematologista com o diagnóstico de MM “atípico”, pois

a fadiga é atribuída a anemia ligeira e a infiltração cardíaca não é reconhecida pela

manutenção da fração de ejeção, normalidade da silhueta cardíaca e atribuição do

espessamento ventricular a hipertrofia e não a infiltração.2

Figura 7 – Espetro das possíveis progressões da GMSI

Fonte: Merlini G, Determining the significance of MGUS, Blood. 2014, 123(3):305-7.

De referir que a deposição de substância amilóide é contínua no tempo, bem como

os danos por ela causada, não sendo de todo irrelevante o intervalo decorrente até ao

Page 25: AMILOIDOSE AL: INVESTIGAÇÃO E PRÁTICA CLINICA · 3.6.2. Sistema nervoso autónomo ... focada na investigação e prática clínica. Esta tem como objetivo uma revisão bibliográfica

25

início do tratamento, especialmente no que diz respeito à amiloidose AL, a amiloidose

sistémica com evolução mais rápida.8

Outra das dificuldades no diagnóstico desta patologia reside na ausência de um

único teste imagiológico, ou de outra modalidade, que realize o diagnóstico definitivo. A

tomografia de emissão de positrões (PET) com 18F-florbetapir – aprovada na doença de

Alzheimer – está sob investigação como possível exame diagnóstico de imagem nos

doentes com depósitos sistémicos de substância amilóide.2

O diagnóstico de amiloidose envolve três etapas principais, a primeira consiste na

verificação da presença de depósitos amilóides nos tecidos; posteriormente é necessário

determinar qual o tipo de substância amilóide e, finalmente, avaliar a extensão do

dano/disfunção orgânica.8

4.1. VERIFICAÇÃO DA PRESENÇA DE DEPÓSITOS AMILÓIDES

A demonstração da presença de depósitos amilóides requer a realização de biópsia

tecidual e posterior coloração com vermelho do Congo para visualização das amostras à

microscopia ótica com luz polarizada – depósitos amilóides apresentam birrefringência

verde (figura 8).8,12 A biópsia de agulha fina de gordura abdominal subcutânea é um

procedimento simples e relativamente pouco invasivo, positivo para depósitos amilóides

em mais de 70% dos doentes com amiloidose AL.3 Outros tecidos que permitem realização

de biópsia menos invasivamente são as glândulas salivares menores – método utilizado se

elevada suspeição clínica e biópsia de gordura abdominal subcutânea negativa - gengiva,

reto e pele.1,28 Contudo, por vezes pode ser necessária a realização de biópsia de um

órgão-alvo afetado; nestes casos deve existir avaliação da hemostase, pois na amiloidose

AL são comuns anomalias da coagulação (mais comum o défice de fator X) que aumentam

substancialmente o risco hemorrágico associado à realização de biópsia. Na presença de

biópsia positiva em qualquer órgão, o nível de envolvimento do mesmo é definido por

parâmetros clínicos, laboratoriais e imagiológicos, consistentes com lesão provocada por

acumulação de substância amilóide.8

Apesar de ser usada há várias décadas, a coloração de vermelho de Congo pode

facilmente originar resultados falso-positivos ou falso-negativos se realizada em centros

menos experientes. Um estudo recentemente publicado, realizado por Sjölander et al,

comparou a coloração h-FTAA (heptameric formic thiophene acetic acid) com o vermelho

do Congo e concluiu que a primeira é mais sensível que a segunda, apesar de ter uma

especificidade baixa. Sendo a deteção precoce uma premissa fundamental nas

amiloidoses sistémicas, a elevada sensibilidade deste método de coloração, associada à

sua fácil aplicação na prática clínica, torna-o uma ferramenta de diagnóstico promissora.29

Page 26: AMILOIDOSE AL: INVESTIGAÇÃO E PRÁTICA CLINICA · 3.6.2. Sistema nervoso autónomo ... focada na investigação e prática clínica. Esta tem como objetivo uma revisão bibliográfica

26

Figura 8: Biópsia de gordura abdominal corada com vermelho do Congo. Birrefringência verde da substância

amilóide quando sob luz polarizada (direita). Fonte: Halloush R A et al, Diagnosis and typing of systemic amyloidosis: The role of abdominal fat pad fine

needle aspiration biopsy. CytoJournal 2009, 6:24 (15 January 2010)

4.2. TIPAGEM DA SUBSTÂNCIA AMILÓIDE

Uma vez comprovada a presença de substância amilóide é necessário determinar

qual a proteína percursora, de forma a classificar a amiloidose, pela abordagem terapêutica

distinta inerente a cada tipo.1 Apesar de existirem variações na apresentação clínica das

várias amiloidoses, não é possível realizar um diagnóstico definitivo sem recorrer a exames

de diagnóstico que identifiquem inequivocamente o subtipo. Além disso, a importância da

instituição da terapêutica correta o mais precocemente possível torna compreensível a

necessidade absoluta de um diagnóstico preciso. Os métodos histológicos tradicionais,

baseados em identificação com anticorpos, através da microscopia ótica por

imunohistoquímica ou imunofluorescência, possuíam algumas desvantagens (o

processamento das proteínas depositadas leva a alterações na conformação que podem

condicionar a não deteção das mesmas pelos anticorpos - que foram desenvolvidos para

as proteínas nativas - e estas técnicas só podem ser informativas se entre os anticorpos

usados se encontrarem os dirigidos à proteína amilóide presente na amostra), apesar de

poderem ser otimizados se realizados por laboratórios de referência.8,30 Assim, o advento

da proteómica revolucionou o método de tipagem da substância amilóide. Foram

desenvolvidos alguns métodos baseados na proteómica, sempre assentes na identificação

da proteína por espetrometria de massa (EM) (figura 9).31–34 A técnica mais amplamente

utilizada consiste na seleção das áreas amilóide-positivas por microdisseção com laser

com posterior realização de EM.35 No final deste processo o patologista determina o subtipo

de amilóide pela lista de proteínas identificadas, considerando as espécies amiloidogénicas

mais abundantes detetadas ao longo das várias microdisseções. Outro método, também

utilizado em diversos laboratórios de referência, consiste na identificação dos depósitos

proteicos no tecido todo, ou seja, sem seleção prévia das zonas amilóide-positivas. O

Page 27: AMILOIDOSE AL: INVESTIGAÇÃO E PRÁTICA CLINICA · 3.6.2. Sistema nervoso autónomo ... focada na investigação e prática clínica. Esta tem como objetivo uma revisão bibliográfica

27

princípio que suporta esta abordagem é a presença de maior abundância proteica nos

indivíduos afetados, em relação aos não afetados. Assim, a tipagem obtém-se por

comparação do perfil proteico dos doentes com perfis proteicos de referência de tecidos

controlo (obtidos de indivíduos não afetados).36 Ambos os processos possuem fases

morosas, apesar de em etapas distintas, sendo o objetivo futuro maior simplificação e

rapidez dos mesmos.8

A identificação de cadeias leves amiloidogénicas requer a combinação de

imunofixação do soro e da urina com quantificação das cadeias leves (rácio к:λ).37 Mesmo

sendo identificadas cadeias leves monoclonais no soro e/ou urina, a biópsia de medula

permanece necessária para exclusão de mieloma múltiplo ou outras gamopatias

monoclonais menos comuns, como por exemplo, macroglobulinemia de Waldenström.38

Na amiloidose AL, a infiltração medular geralmente é modesta (mediana de 5-10%) e os

clones λ dominam os к por 4:1, contrariamente à proporção de 2:3 encontrada no MM. Se

a imunofixação do soro e da urina é negativa e o rácio de cadeias leves livres é normal, a

amiloidose AL é pouco provável e não é necessária a realização de mais exames, exceto

se o nível de suspeição clínica for muito alto.2

Uma banda monoclonal na imunofixação do soro e/ou urina de indivíduos com mais

de 70 anos pode constituir apenas um achado acidental em 5-10% dos doentes – GMSI. A

distinção desta entidade de outras discrasias de plasmócitos reside na ausência de dano

orgânico. Contudo, o facto de todas serem doenças prevalentes nos idosos, que possuem

muitas vezes diversas comorbilidades, pode tornar complexa a determinação da etiologia

dos danos orgânicos encontrados.3,39

Figura 9: Espetrometria de massa com a identificação de diversos tipos de amiloidose Fonte: Sanjeev Sethi, Julie A Vrana, Jason D Theis, Nelson Leung, Anjali Sethi et al., Laser microdissection

and mass spectrometry-based proteomics aids the diagnosis and typing of renal amyloidosis. Kidney International, Apr 11, 2012

Page 28: AMILOIDOSE AL: INVESTIGAÇÃO E PRÁTICA CLINICA · 3.6.2. Sistema nervoso autónomo ... focada na investigação e prática clínica. Esta tem como objetivo uma revisão bibliográfica

28

4.3. AVALIAÇÃO DA EXTENSÃO DO DANO E DISFUNÇÃO ORGÂNICA

Assim, surge a última etapa diagnóstica, a avaliação dos danos orgânicos

presentes.

4.3.1. CORAÇÃO

O envolvimento cardíaco pode ser evidente pela presença de sintomatologia ou

alterações ecocardiográficas e eletrocardiográficas típicas, já referidas. A Ressonância

Magnética (RM) cardíaca pode identificar depósitos amilóides em doentes com espessura

ventricular esquerda (VE) normal.40 Contudo, o ideal será a sua deteção no estadio pré-

sintomático, recorrendo a biomarcadores, como o NT-proBNP, BNP e troponinas.18 Na

presença de valores de NT-proBNP inferiores a 332ng/L o envolvimento cardíaco pode ser

excluído. Por outro lado, valores superiores a 332ng/L são sugestivos do mesmo e surgem

antes de qualquer manifestação clínica e ecográfica. No entanto, existem outras patologias

(fibrilhação auricular e insuficiência renal, por exemplo) que podem ser responsáveis pelo

aumento deste marcador. A presença de insuficiência renal moderada a grave obriga a

uma interpretação mais cuidada, com adaptação dos valores de cutoff, pois a clearence

dos péptidos natriuréticos é dependente da função renal e a sua concentração aumenta na

insuficiência renal. De facto, em doentes com doença renal terminal deve ser preferido o

uso do BNP, apesar de ser um marcador menos sensível de amiloidose cardíaca pois

existem doentes com valores normais, ou abaixo do cutoff definido, e com atingimento

cardíaco.41

4.3.2. RIM

O diagnóstico de amiloidose renal requer a confirmação da presença de substância

amilóide por biópsia ou, na impossibilidade da realização da mesma, a presença de

proteinúria superior a 0,5g/dia, predominantemente constituída por albumina, associada a

evidência histológica de substância amilóide de outro tecido.42 Quando realizada biópsia

renal em doentes com envolvimento renal, esta é positiva para depósitos amilóides em

80% dos casos. Estes surgem predominantemente no mesângio e ao longo da membrana

glomerular. Depósitos vasculares e intersticiais também são observados com frequência,

mas raramente isolados.4 A avaliação do atingimento renal deve também incluir o cálculo

da TFG de forma a determinar a repercussão na função renal.8

Page 29: AMILOIDOSE AL: INVESTIGAÇÃO E PRÁTICA CLINICA · 3.6.2. Sistema nervoso autónomo ... focada na investigação e prática clínica. Esta tem como objetivo uma revisão bibliográfica

29

4.3.3. FÍGADO

Como referido anteriormente, o envolvimento hepático é também comum. Valores

de fosfatase alcalina 1,5 vezes superiores ao limite superior do normal é critério

estabelecido de envolvimento hepático.42

O esquema 1 representa, em forma de resumo, um algoritmo possível para a

avaliação diagnóstica de um doente com amiloidose AL confirmada histologicamente.43

Esquema 1 – Algoritmo para avaliação diagnóstica de doente com amiloidose AL

Adaptado de Weber N et al, Management of systemic AL amyloidosis: recommendations of the Myeloma

Foundation of Australia Medical and Scientific Advisory Group, Intern Med J. 2015, 45(4):371-82.

CLL – cadeias leves livres, MO – medula óssea, TFG – débito de filtração glomerular, APTT – tempo de

tromboplastina parcial, TP – tempo de pró-trombina, INR – índice internacional normalizado, RM – ressonância

magnética, EMG – eletromiografia, EDA – endoscopia digestiva alta, TC – tomografia computorizada,

SAP – Amilóide do soro A

Page 30: AMILOIDOSE AL: INVESTIGAÇÃO E PRÁTICA CLINICA · 3.6.2. Sistema nervoso autónomo ... focada na investigação e prática clínica. Esta tem como objetivo uma revisão bibliográfica

30

5. TRATAMENTO

A abordagem terapêutica tem dois pressupostos principais: melhoria da disfunção

orgânica e aumento da sobrevida, com a cessação da produção do percursor da proteína

amilóide. Assim, o objetivo da terapêutica é a supressão do clone de células plasmáticas

responsáveis pela produção de cadeias leves monoclonais. A decisão terapêutica deve ter

sempre em consideração a dicotomia eficácia/tolerabilidade do tratamento. De facto, o

tratamento da amiloidose tem que ser adaptado à heterogeinidade de manifestações e

gravidade da doença, que resultam em padrões distintos de atingimento e disfunção

orgânica. Em suma, indivíduos de baixo risco beneficiam de terapia agressiva, enquanto

que os de alto risco devem ser tratados com terapias menos agressivas mas que,

simultaneamente, atuem rapidamente. Os critérios que definem os grupos de risco estão

descritos na Tabela II. 1,3,10

Tabela II – Definição dos grupos de risco na amiloidose AL

BAIXO RISCO ALTO RISCO RISCO INTERMÉDIO

Deve respeitar todos os

seguintes critérios:

Idade≤65 anos

cTn dentro dos níveis

de referência

FE>45%

PAS em ortostatismo

>90mmHg

DLCO>50%

Performance status

(ECOG)<3

TFG>50mL/minx1.73m2

Basta possuir um dos

seguintes critérios:

cTnI>0,1ng/mL ou

cTnT>0,035ng/mL

Performance status

(ECOG)≥3, desde

que não exista

envolvimento do SNA

Todos os doentes que não

podem ser incluídos nos

grupos de baixo ou alto risco

Adaptado de Terapia dell’amiloidosi AL sistemica – Linee Guida 2011. cTn – troponinas cardíacas, FE – fração

de ejeção, PAS – pressão arterial sistólica, DLCO – capacidade de difusão do monóxido de carbono,

ECOG - Eastern Cooperative Oncology Group, TFG – débito de filtração glomerular, cTnI – troponina I,

cTnT – troponina T, SNA – sistema nervoso autónomo

Page 31: AMILOIDOSE AL: INVESTIGAÇÃO E PRÁTICA CLINICA · 3.6.2. Sistema nervoso autónomo ... focada na investigação e prática clínica. Esta tem como objetivo uma revisão bibliográfica

31

Tabela III – Escala performance status (ECOG)

Grau Eastern Cooperative Oncology Group (ECOG)

0 Totalmente ativo, capaz de manter todo o desempenho pré-doença sem restrições.

1 Restrito em atividade física extenuante, porém capaz de realizar um trabalho de natureza

leve ou sedentária, por exemplo, as tarefas de casa leves, o trabalho de escritório.

2 Doente em ambulatório e capaz de todo o autocuidado, mas incapaz de realizar

quaisquer atividades de trabalho. De pé ≥50% das horas de vigília.

3 Capaz de autocuidado mas com limitação, confinado a uma cama ou cadeira ≥50% das

horas de vigília.

4 Completamente incapacitado. Incapaz de autocuidado. Permanentemente confinado a

uma cama ou cadeira.

5 Falecido

Adaptado de Oken M, Creech R, Tormey D, et al. Toxicity and response criteria of the Eastern Cooperative

Oncology Group.AM J CLIN ONCOL. 1982;5:649-655.

Um estudo recente, publicado na revista Amyloid, avaliou o valor prognóstico da

quantificação semiautomática do encurtamento do longo eixo ventricular esquerdo, um

parâmetro facilmente obtido na ecografia. Este foi obtido logo na avaliação inicial e

demonstrou ser um preditor independente de sobrevida logo no primeiro ano após o

diagnóstico. Este estudo veio atribuir a este parâmetro ecocardiográfico um possível valor

na estratificação de risco dos doentes recentemente diagnosticados com amiloidose AL.44

Teoricamente, qualquer tratamento que tenha mostrado eficácia no mieloma

múltiplo ou outras doenças linfoproliferativas pode ser usado na amiloidose.10 É com base

neste pressuposto que os doentes são tratados, pois não existem fármacos aprovados

especificamente para o tratamento da amiloidose.7 Contudo, os doentes com amiloidose

AL não possuem uma neoplasia hematológica, mas sim dano orgânico funcional, que os

deixa extremamente frágeis e mais suscetíveis à toxicidade da quimioterapia. Posto isto,

não existindo evidência suficiente para ser definido qual o melhor tratamento, sempre que

possível os doentes devem ser inseridos nos ensaios clínicos que se encontram a

decorrer.45

Com o tratamento pretende-se a aquisição de uma resposta hematológica,

idealmente completa, ou parcial muito boa, a primeira claramente associada a aumento

significativo da sobrevida e qualidade de vida.10 A aquisição de uma resposta hematológica

completa tem um impacto muito distinto na amiloidose AL, comparando com o MM. Uma

baixa quantidade de cadeias leves de imunoglobulinas circulantes é suficiente para a

formação de substância amilóide e subsequente acumulação orgânica, pelo que uma

resposta hematológica completa é um fator prognóstico essencial. De facto, uma resposta

completa num doente com amiloidose AL representará uma sobrevida média de 113

Page 32: AMILOIDOSE AL: INVESTIGAÇÃO E PRÁTICA CLINICA · 3.6.2. Sistema nervoso autónomo ... focada na investigação e prática clínica. Esta tem como objetivo uma revisão bibliográfica

32

meses, enquanto que num doente com MM corresponderá a uma sobrevida média de 59,5

meses. Tal diferença deve-se provavelmente à natureza não proliferativa da amiloidose

AL, pois as recaídas desenvolvem-se mais lentamente.2

A resposta hematológica completa é definida por (todos os critérios têm que estar

presentes): ausência de componente monoclonal no soro e na urina na eletroforese com

imunofixação; rácio de cadeias leves livres no plasma normal; biópsia de medula óssea

com <5% de plasmócitos e sem predominância clonal à imunohistoquímica.3

Uma vez que o seguimento dos doentes, com avaliação da resposta à terapêutica,

é realizado através da concentração de cadeias leves livres circulantes e dos

biomarcadores cardíacos (NT-proBNP e troponinas cardíacas), os níveis basais destes

devem ser obtidos antes do início da terapêutica.46

5.1. TRATAMENTO ESPECÍFICO

5.1.1. TRATAMENTO DE 1ª LINHA

O transplante autólogo de células estaminais (TACE), associado a melfalano em

altas doses (MAD), deve ser considerado em doentes de baixo risco, dado o aumento de

sobrevida que pode ser adquirido. A seleção adequada dos doentes aptos a este

tratamento permite reduzir a mortalidade relacionada com o transplante a menos de 5%.

Os critérios de elegibilidade são os seguintes: cTnT<0,06ng/mL; NT-proBNP<5000ng/L;

idade<65 anos; performance status entre 0 e 2; fração de ejeção>45%; PAS>90mmHg

(medida em pé) e DLCO>50%.47,48 A dose de melfalano utilizada pode ser adaptada (100,

140, ou 200mg/m2) consoante a idade e as funções renal e cardíaca.10 Se usada uma dose

atenuada deve ser realizada consolidação com bortezomib ou talidomida, pois aumenta

substancialmente a taxa de respostas hematológicas completas, com consequente

aumento da sobrevida (é atingida uma sobrevida média de 8 anos).43 Infelizmente, apenas

uma pequena percentagem de doentes (20-25%) possui as características necessárias à

realização deste tratamento.2

A maior parte dos doentes inclui-se no risco intermédio e benefecia de tratamentos

com quimioterapia combinada. De facto, foi demonstrada eficácia semelhante à do

TACE/MAD com regimes de melfalano associado a dexametasona (MDex) ou vincristina

associada a adriamicina e dexametasona (VAD).49,50 Os regimes com MDex obtêm muitas

vezes respostas hematológicas completas que são duradouras, mantendo-se durante 3

anos em pelo menos 70% dos doentes, com baixos níveis de toxicidade. Um estudo

realizado por Palladini et al, obteve 76% de respostas hematológicas e uma sobrevida

Page 33: AMILOIDOSE AL: INVESTIGAÇÃO E PRÁTICA CLINICA · 3.6.2. Sistema nervoso autónomo ... focada na investigação e prática clínica. Esta tem como objetivo uma revisão bibliográfica

33

média de 7,4 anos, em doentes que toleravam melfalano em altas doses. A resposta dos

doentes de alto risco a este regime não é satisfatória – sobrevida média de apenas 20

meses.51

Diversos estudos têm demonstrado resultados encorajadores com o uso de novos

agentes, como a talidomida ou a lenalidomida e o bortezomib.52–57 A combinação destes

agentes com dexametasona induz resposta hematológica num curto espaço de tempo na

maior parte dos doentes. Regimes com talidomida associada a ciclofosfamida e

dexametasona parecem obter resultados semelhantes aos obtidos com MDex, enquanto

que a combinação de lenalidomida com MDex aumenta ligeiramente a percentagem de

respostas hematológicas.52,53 Relativamente ao bortezomib, as respostas obtidas com

toxicidade reduzida e em relativamente pouco tempo de tratamento, tornam-no útil no

tratamento de doentes em alto risco, que necessitam de resultados rápidos.1,58–60 Existem

vários regimes que incluem este fármaco, sendo o mais recomendado nos doentes de alto

risco uma associação de dexametasona a bortezomib em baixas doses, com aumento

progressivo e controlado das mesmas, de forma a evitar toxicidade, nomeadamente

retenção hídrica ou arritmias induzidas por dexametasona, ou a diminuição brusca da

fração de ejeção que pode ocorrer, ocasionalmente, em doentes com cardiomiopatia

amiloidótica avançada, com o bortezomib.10 Outra combinação já estudada foi a de

ciclofosfamida, bortezomib e dexametasona (CyBorD), aplicada em doentes com estadio

III da Mayo Clinic para a amiloidose cardíaca, tendo sido obtido 68% de respostas

hematológicas, 42% completas ou parciais muito boas, resultando em 32% de respostas a

nível cardíaco.61

O esquema 2 representa um algoritmo de tratamento possível nos doentes

diagnosticados com amiloidose.

Page 34: AMILOIDOSE AL: INVESTIGAÇÃO E PRÁTICA CLINICA · 3.6.2. Sistema nervoso autónomo ... focada na investigação e prática clínica. Esta tem como objetivo uma revisão bibliográfica

34

Esquema 2 – Algoritmo de tratamento dos doentes com amiloidose AL. TACE – transplante autólogo de células

estaminais, MAD – melfalano em altas doses, MDex – melfalano e dexametasona

5.1.2. TRATAMENTO DE DOENÇA REFRATÁRIA E RECORRENTE

A escolha dos fármacos a utilizar depende do tratamento prévio realizado e das

manifestações clínicas do doentes em questão. Na doença recorrente, se a primeira

remissão foi prolongada, pode ser tentada a re-aquisição de resposta com a terapêutica

usada em primeira linha. Os regimes com bortezomib são os preferidos em doentes que

ainda não foram expostos a este fármaco e não possuem neuropatia grave.45

O principal problema no tratamento destes doentes reside no desenvolvimento de

envolvimento cardíaco grave, o que reduz muito as opções terapêuticas e prevê um

prognóstico sombrio.1

Foram realizados, por Palladini et al, dois estudos distintos com doentes resistentes

a melfalano, bortezomib e talidomida. O primeiro, publicado em 2011, utilizou um regime

de lenalidomida (15mg nos dias 1-21) e dexametasona (20mg nos dias 1, 8, 15 e 22), tendo

sido realizado o ajuste necessário das doses à função renal do doente. Este tratamento foi

capaz de ultrapassar a resistência criada aos tratamentos anteriores, com níveis de

toxicidade aceitáveis. Apesar de não terem existido respostas completas, daqueles que

atingiram a resposta parcial (41%), estimou-se que 90% estariam vivos dali a 2 anos. O

segundo, publicado em 2012, utilizou um regime com ciclofosfamida, lenalidomida e

Page 35: AMILOIDOSE AL: INVESTIGAÇÃO E PRÁTICA CLINICA · 3.6.2. Sistema nervoso autónomo ... focada na investigação e prática clínica. Esta tem como objetivo uma revisão bibliográfica

35

dexametasona. Foi obtida resposta hematológica em 62% dos doentes, uma delas

completa. A sobrevida média foi de 3 anos e este aumento da sobrevida foi relacionado

com a existência de resposta hematológica. Contudo, mais de metade dos doentes

sofreram efeitos adversos, tendo sido o mais comum a neutropenia. Assim, a adição de

ciclofosfamida permitiu aumentar a percentagem de respostas hematológicas, mas

aumentou a toxicidade sofrida.56,62

Novos fármacos estão atualmente em estudo, o que poderá permitir aumentar as

opções terapêuticas.1

5.2. TRATAMENTO DE SUPORTE

Independentemente do tratamento específico dirigido à discrasia de plasmócitos, é

necessário tratamento de suporte para diminuição de sintomas e suporte de órgãos

afetados.

5.2.1. CORAÇÃO

No que diz respeito ao tratamento da cardiomiopatia amiloidótica, este consiste na

restrição salina e administração de diuréticos, que deve ser cuidadosa, pela dificuldade em

atingir o equilíbrio entre controlo da insuficiência cardíaca e depleção de volume

intravascular; principalmente nos doentes com concomitante envolvimento do sistema

nervoso autónomo ou envolvimento renal com síndrome nefrótico. A resistência ao

tratamento diurético é comum nos doentes com síndrome nefrótico, sendo necessária a

associação de metolazona ou espironolactona aos diuréticos de ansa. Além disso, os

doentes com diminuição do volume sistólico podem beneficiar da diminuição de pós-carga

obtida com inibidores da enzima conversora da angiotensina (IECAs). Contudo, a utilização

destes agentes requer cuidado (iniciar com baixa dose) pelo possível desenvolvimento de

hipotensão postural, que requer o abandono desta terapêutica. A digoxina geralmente não

tem um papel no tratamento da cardiomiopatia amiloidótica, exceto talvez nos doentes com

fibrilhação auricular (FA) com resposta ventricular rápida. A disfunção contrátil auricular é

comum e constitui indicação para terapia anticoagulante, mesmo da ausência de FA. Os

bloqueadores dos canais de cálcio devem ser evitados pois podem piorar a insuficiência

cardíaca da cardiomiopatia amiloidótica. Doentes com síncopes de repetição podem

requerer a implantação de pacemaker; as arritmias ventriculares geralmente são tratadas

com amiodarona e, em doentes selecionados, com CDI. O papel do transplante cardíaco

tem sido muito limitado pela natureza sistémica e rapidamente progressiva da doença,

idade avançada dos doentes e complicações relacionadas com o tratamento. Um doente

Page 36: AMILOIDOSE AL: INVESTIGAÇÃO E PRÁTICA CLINICA · 3.6.2. Sistema nervoso autónomo ... focada na investigação e prática clínica. Esta tem como objetivo uma revisão bibliográfica

36

com amiloidose AL, elegível para transplante cardíaco, teria de ter as seguintes

características: <60 anos, estadio III da Mayo Clinic para amiloidose cardíaca, classe III ou

IV da New York Heart Association (NYHA) após terapia diurética adequada, boa função

renal e hepática, neuropatia autonómica não significativa, baixa percentagem de

plasmócitos na medula óssea e ainda ser elegível para TACE após o transplante cardíaco.

Estudos demonstraram que com a seleção adequada de candidatos este método

proporciona melhor prognóstico e aumento da sobrevida. Porém, esta abordagem é

também limitada pela disponibilidade de dadores.18–20,63,64

5.2.2. SISTEMA NERVOSO AUTÓNOMO

A hipotensão ortostática pode ser grave e difícil de tratar. O uso de meias de

compressão elástica e midodrina pode ser útil. A fludrocortisona geralmente não é uma

boa opção pela retenção hídrica que causa. Perfusão contínua de norepinefrina foi relatada

como um tratamento de sucesso nos casos refratários ao tratamento convencional.

Nos doentes com envolvimento do sistema nervoso autónomo a diarreia é um

problema comum e muito incapacitante, o uso de octreótido pode diminuir este sintoma em

muitos doentes, mas a pseudo-obstrução intestinal crónica é refratária ao tratamento. A

suplementação nutricional oral ou intravenosa adequada é sempre mandatária nos doentes

subnutridos. A dor neuropática é muito difícil de controlar – a gabapentina como tratamento

é bem tolerada mas muito frequentemente ineficaz.3,43

5.2.3. RIM

O tratamento de suporte para a amiloidose com atingimento renal, bem como para

outras causas de síndrome nefrótico, inclui a restrição salina, tratamento diurético e

tratamento da hiperlipidemia. Os IECAs, como já referido, devem ser usados com cuidado,

além disso, não foi provado que desacelerassem o processo de disfunção renal. Tanto a

hemodiálise como a diálise peritoneal são utilizadas na doença renal terminal associada à

amiloidose. A seleção do melhor método de diálise deve ter em conta a existência ou não

de fragilidade hemodinâmica, ou sintomas gastrointestinais, como saciedade precoce. À

semelhança do papel do transplante cardíaco, também o papel do transplante renal é

limitado. Similarmente, o sucesso desta abordagem depende da seleção adequada dos

doentes. Bom performance status, ausência de envolvimento clinicamente relevante de

outros órgãos ou aquisição de resposta completa ou parcial muito boa com quimioterapia

associada ou não a TACE, constituem os principais critérios necessários à elegebilidade

Page 37: AMILOIDOSE AL: INVESTIGAÇÃO E PRÁTICA CLINICA · 3.6.2. Sistema nervoso autónomo ... focada na investigação e prática clínica. Esta tem como objetivo uma revisão bibliográfica

37

dos doentes. De referir a importância de uma avaliação cardíaca exaustiva, que, como já

discutido, pode ser difícil pela influência da insuficiência renal nos marcadores

cardíacos.3,65,66

Page 38: AMILOIDOSE AL: INVESTIGAÇÃO E PRÁTICA CLINICA · 3.6.2. Sistema nervoso autónomo ... focada na investigação e prática clínica. Esta tem como objetivo uma revisão bibliográfica

38

6. AVALIAÇÃO DA RESPOSTA TERAPÊUTICA E PROGNÓSTICO

Apesar da abordagem terapêutica da amiloidose ter sido construída com base nos

conhecimentos adquiridos com o MM, o seu prognóstico é definido por parâmetros

distintos. A eficácia terapêutica é determinada pela cessação de produção de cadeias leves

monoclonais, bem como, pelo bloqueio e possível reversão dos danos orgânicos

existentes. A cardiomiopatia amiloidótica constitui a principal causa de morte nestes

doentes e a gravidade da disfunção cardíaca é o principal fator prognóstico. Deste modo,

a medição direta do percursor amiloidogénico – as cadeias leves livres (CLL) – e a

avaliação minuciosa da função cardíaca através dos biomarcadores, NT-proBNP e

troponinas, representa um bom método de estadiamento dos doentes.67–70

Desde de 2003, vários estudos demonstraram um aumento da sobrevida associado

a redução da concentração das CLL e melhoria da função cardíaca (avaliada através do

NT-proBNP).71,70,69,68,72 Contudo, apenas em 2012 foi publicado um estudo que permitiu

identificar e validar quais os critérios de resposta hematológica que melhor discriminam

grupos prognóstico (Tabela IV).

Tabela IV – Resposta hematológica

RESPOSTA HEMATOLÓGICA CRITÉRIO

Resposta completa Imunofixação negativa do soro e da urina

Rácio CLL normal

Resposta parcial muito boa dCLL < 40mg/dL

Resposta parcial dCLL com diminuição > 50%

Sem resposta

Adaptado de Palladini G et al, New criteria for response to treatment in immunoglobulin light chain amyloidosis

based on free light chain measurement and cardiac biomarkers: impact on survival outcomes, J Clin Oncol. 2012, 30(36):4541-9. CLL – cadeias leves livres, dCLL – diferença entre cadeias leves envolvidas e não envolvidas

O estudo referido, realizado por Palladini et al, identificou e validou critérios de

resposta hematológica e cardíaca a terapia de 1ª linha, com base na sua associação com

a sobrevida.

Os dados obtidos demonstraram que a qualidade da resposta na quantidade de

CLL está estrita e diretamente relacionada com a sobrevida. A concentração absoluta após

quimioterapia, e não a percentagem de redução, constitui o melhor indicador,

independentemente do valor inicial observado. Contrariamente ao que ocorre no MM, mas

consistente com os mecanismos patológicos recentemente identificados na amiloidose AL,

a resposta na quantidade de CLL correlacionou-se melhor com a sobrevida do que a

resposta no componente monoclonal (CM). De facto, doentes com resposta no CM que

Page 39: AMILOIDOSE AL: INVESTIGAÇÃO E PRÁTICA CLINICA · 3.6.2. Sistema nervoso autónomo ... focada na investigação e prática clínica. Esta tem como objetivo uma revisão bibliográfica

39

não obtiveram resposta na quantidade de CLL, não obtiveram melhoria na sobrevida. Este

constitui mais um dado consistente com a toxicidade celular direta das CLL. O estudo

revelou também que a resposta hematológica ao fim de 3 meses de tratamento já prevê a

sobrevida, o que possibilita uma avaliação precoce da eficácia terapêutica, permitindo

assim alteração precoce da terapêutica nos casos não-responsivos.

Outras conclusões obtidas neste mesmo estudo dizem respeito ao biomarcador NT-

proBNP. As alterações no mesmo são as que melhor definem a resposta ou progressão da

disfunção cardíaca, com aumentos ou diminuições significativas a demonstrar forte

correlação com alterações na sobrevida. Além disso, uma resposta no NT-proBNP foi

associada à qualidade da resposta hematológica. Também este marcador pode ser

avaliado ao fim de 3 meses, o que permite, mais uma vez, alterações terapêuticas precoces

nos casos não-responsivos. Como já referido, a clearence do NT-proBNP depende quase

exclusivamente da sua filtração a nível glomerular, portanto, este foi validado como

marcador de resposta e progressão do envolvimento renal em doentes com insuficiência

renal. Contudo, a presença de insuficiência renal afeta a capacidade deste marcador em

avaliar a resposta cardíaca e predizer a sobrevida. Posto isto, o NT-proBNP não deve ser

utilizado como marcador de progressão e resposta cardíacas em doentes que sofrem

agravamento da sua insuficiência renal.

Outros biomarcadores amplamente usados na avaliação do atingimento cardíaco

na amiloidose AL são as troponinas (T ou I). O aumento de 33% nas mesmas está

associado a pior percurso da doença, constituindo mais um bom marcador para o follow-

up da disfunção cardíaca. Ambas as troponinas, ou seja T ou I, representam o mesmo valor

prognóstico.

O critério tradicional de avaliação de resposta cardíaca, uma redução de 2mm do

septo interventricular (SIV), não mostrou neste estudo benefício na sobrevida. Além disso

não foi demonstrada correlação entre alterações no NT-proBNP e diminuição do SIV,

sugerindo baixa correlação entre o grau de disfunção cardíaca e a dimensão da deposição

de substância amilóide. Outros critérios que se demonstraram válidos na avaliação da

resposta cardíaca são a resposta na classe New York Heart Association (NYHA) e o

agravamento da fração de ejeção (FE). Não obstante, é necessário ter em atenção a

subjetividade da classificação do NYHA, pelo que se deve preferir o uso dos

biomarcadores. De referir que a melhoria na classe NYHA foi sempre associada a resposta

no NT-proBNP. Os critérios com valor prognóstico que podem ser utilizados na avaliação

cardíaca, bem como a sua interpretação, encontram-se resumidos na Tabela V.73

Page 40: AMILOIDOSE AL: INVESTIGAÇÃO E PRÁTICA CLINICA · 3.6.2. Sistema nervoso autónomo ... focada na investigação e prática clínica. Esta tem como objetivo uma revisão bibliográfica

40

Tabela V – Critérios de resposta e progressão cardíaca com valor prognóstico

CRITÉRIO INTERPRETAÇÃO

NT-proBNP

Resposta cardíaca: diminuição >30% e >300ng/L se valor de base

≥650ng/L

Progressão: aumento >30% e >300ng/L

cTn Progressão: aumento ≥33%

Classe NYHA Resposta cardíaca: diminuição ≥ a 2 classes, se classe de base 3 ou 4

FE Progressão: diminuição ≥ 10%

Adaptado de Palladini G et al, New criteria for response to treatment in immunoglobulin light chain amyloidosis

based on free light chain measurement and cardiac biomarkers: impact on survival outcomes, J Clin

Oncol. 2012, 30(36):4541-9. cTn – troponinas cardíacas; FE – fração de ejeção

Contudo, um estudo, realizado por Tendler et al, publicado no corrente ano na

revista Amyloid, veio questionar a utilidade da FE na determinação da sobrevida. De facto,

é sabido que a mesma se pode manter normal ou preservada, apesar da diminuição

existente no volume sistólico (VS) que acompanha a progressão da doença, mesmo em

estadios avançados, pela diminuição no volume da câmara cardíaca ser progressiva. A

fração de contração miocárdica (FCM) é definida pela razão entre o VS sobre o volume

miocárdico (VM) e constitui uma medição volumétrica do encurtamento miocárdico. Uma

vez que a amiloidose cardíaca resulta em diminuição progressiva do encurtamento

miocárdico, o estudo referido pôs como hipótese uma maior utilidade da FCM em relação

à FE. Os resultados obtidos revelaram que a FCM é um importante fator preditor de

sobrevida, ao invés da FE, que não o é. O fato de este ser um parâmetro facilmente

calculado através de medidas ecográficas facilita a sua utilização futura em grande escala.

De referir que este estudo tem como principal limitação uma amostra pequena, sendo

necessários estudos de maiores dimensões que confirmem a validade estatística do

mesmo.74

Novos biomarcadores cardíacos estão a ser estudados, principalmente os que

representam um mecanismo fisiopatológico distinto do dos marcadores atualmente

utilizados, com o intuito de adicionar valor prognóstico. Um estudo publicado no corrente

ano, realizado pela equipa de investigação da Mayo Clinic, avaliou a utilidade de dois

biomarcadores em doentes com amiloidose AL, a galactina-3 e o supressor tumoral solúvel

2 (sST2), pois a sua validade prognóstica havia sido demonstrada em doentes com doença

arterial coronária estável, enfarte do miocárdio e insuficiência cardíaca congestiva. Ambos

mostraram valor prognóstico, apesar de apenas o sST2 ser independente das troponinas,

NT-proBNP, CLL e PAS. O sST2 constitui assim um novo biomarcador com valor

prognóstico adicional, na medida em que este representa fibrose miocárdica, as troponinas

refletem necrose miocárdica e o NT-proBNP estiramento do miocárdio.75

Page 41: AMILOIDOSE AL: INVESTIGAÇÃO E PRÁTICA CLINICA · 3.6.2. Sistema nervoso autónomo ... focada na investigação e prática clínica. Esta tem como objetivo uma revisão bibliográfica

41

Existem também definidos critérios de resposta a nível renal e hepático, que se

encontram resumidos na Tabela VI. Não existem definidos critérios para avaliação de

resposta no que diz respeito ao atingimento do sistema nervoso periférico, incluindo o

sistema nervoso autónomo.46

Tabela VI – Critérios de resposta renal e hepática

Avaliação Renal Avaliação Hepática

Resposta: redução ≥50% na

proteinúria (que deve ser no mínimo

0,5g/24h antes do início da terapia)

Progressão: redução na

TFG≥25mL/minx1,73m2 e aumento da

concentração de creatinina de pelo

menos 0,5g/dL

Pelo menos um dos seguintes critérios para a

existência de resposta hepática:

Redução ≥2cm na dimensão do

fígado, avaliada através de TC ou

ecografia abdominais

Redução ≥50% da fosfatase alcalina

Adaptado de Terapia dell’amiloidosi AL sistemica – Linee Guida 2011. TFG – débito de filtração glomerular,

TC – tomografia computorizada

A resposta renal foi também relacionada com a sobrevida em geral. Um estudo

realizado por Leung et al, verificou que, apesar de uma redução >50% na proteinúria

parecer estar associada a melhoria da sobrevida, esta só ocorria verdadeiramente em

doentes com diminuições >75% na proteinúria. Além disso, uma melhoria mais acentuada

na sobrevida foi encontrada nos doentes com reduções >95% na proteinúria, o que sugere

que diferentes níveis de resposta originam diferentes impactos na sobrevida. Por fim,

observou-se que um aumento de 25% na creatinina sérica não possui impacto negativo

nos doentes que atingiram diminuição >75% na proteinúria. Tal pode significar que a

diminuição na proteinúria >75% representa recuperação do rim em relação aos efeitos da

acumulação do substância amilóide, pelo que o aumento da creatinina não será fruto da

amiloidose AL, levando a um diferente impacto na sobrevida. Outra interpretação para este

resultado pode ser que a diminuição >75% na proteinúria consegue ultrapassar o efeito

negativo do aumento da creatinina. Estes resultados, se confirmados em larga escala,

podem originar uma nova definição de resposta renal, sendo que os autores sugerem a

apresentada na Tabela VII.76

Page 42: AMILOIDOSE AL: INVESTIGAÇÃO E PRÁTICA CLINICA · 3.6.2. Sistema nervoso autónomo ... focada na investigação e prática clínica. Esta tem como objetivo uma revisão bibliográfica

42

Tabela VII – Nova definição de resposta renal sugerida por Leung et al

RESPOSTA RENAL COMPLETA Diminuição >95% na proteinúria

RESPOSTA RENAL PARCIAL Diminuição >75% na proteinúria

RESPOSTA RENAL MÍNIMA Diminuição >50% na proteinúria

Adaptado de Leung N et al, A detailed evaluation of the current renal response criteria in AL amyloidosis: is it

time for a revision?, Haematologica. 2013, 98(6):988-92.

A demonstração da subnutrição como fator prognóstico em diversas doenças

agudas e crónicas, com impacto na qualidade de vida, grau de tolerância aos tratamentos

(por exemplo, quimioterapia), aumento na morbilidade e mortalidade, levou ao estudo do

impacto da mesma nos doentes com amiloidose AL.77

A subnutrição é uma comorbilidade comum nos doentes diagnosticados com

amiloidose AL. O seu fator prognóstico na amiloidose AL está demonstrado, mas

inicialmente foi também associado a envolvimento cardíaco, o que sugeria possível

interação entre ambos os fatores. Um estudo publicado em 2014 veio clarificar a

associação entre estado nutricional, grau de envolvimento cardíaco e mortalidade nos

doentes com amiloidose AL. Assim, tanto um Índice de Massa Corporal (IMC) <22kg/m2,

como uma perda intencional de peso (PIP) ≥10%, constituem fatores independentes

associados a maior taxa de mortalidade (subnutrição moderada). Estes dois fatores,

quando associados (subnutrição severa) estão associados a um risco semelhante de maior

mortalidade, do que quando analisados independentemente. Este estudo revelou também

que o efeito da subnutrição na taxa de mortalidade é independente do estadio de

envolvimento cardíaco - apesar de este se manter como principal fator prognóstico - e da

resposta hematológica. O IMC e a PIP constituem dados fáceis de obter de forma

económica e rápida e não requerem interpretações particulares, pelo que devem ser

determinados em todos os doentes com amiloidose AL desde a primeira consulta.78,79 De

referir que, outro estudo, publicado em 2011, revelou que o estado nutricional é também

um fator independente na determinação da qualidade de vida dos doentes com amiloidose

AL desde o momento do diagnóstico.80

Page 43: AMILOIDOSE AL: INVESTIGAÇÃO E PRÁTICA CLINICA · 3.6.2. Sistema nervoso autónomo ... focada na investigação e prática clínica. Esta tem como objetivo uma revisão bibliográfica

43

7. RELATÓRIO DE ESTÁGIO

7.1. INTRODUÇÃO E ENQUADRAMENTO

Este relatório é realizado no âmbito do Projeto/Dissertação de Mestrado Integrado

em Medicina, sobre o tema “Amiloidose AL”. Consiste na descrição do estágio

observacional realizado, durante o período de mobilidade Erasmus, no Centro per lo Studio

e la Cura delle Amiloidosi Sistemiche (CITASP), no ano letivo 2014/2015.

A motivação para a realização do estágio surge pela oportunidade única de

contactar com um centro de referência a nível internacional, bem como os seus métodos

de trabalho e investigação, no que diz respeito a uma doença, que pela sua baixa

prevalência, carece do mesmo.

Entre os principais objetivos do estágio constam os seguintes: observação e

compreensão do método de funcionamento do centro; contacto com os métodos de

diagnóstico clínico da amiloidose AL, assim como, o trabalho realizado a nível laboratorial.

7.2. CARACTERIZAÇÃO DO CITASP

O CITASP foi fundado em 1986 e a sua sede está localizada no hospital

universitário Policlinico San Matteo. Este centro é reconhecido como de referência em

doenças raras na região da Lombardia e possui estreitas colaborações com diversos

centros a nível internacional. São avaliados anualmente cerca de 2000 doentes com

amiloidose.

O centro funciona em regime ambulatório, com recolha de informação clínica e

realização dos exames diagnósticos necessários ao estabelecimento do diagnóstico e

decisão terapêutica. Se necessário pode ser realizada consulta de cardiologia e/ou

nutrição. Existe colaboração estreita com o Policlinico San Matteo, pelo que na

necessidade de internamento este é realizado no serviço de Medicina Interna ou de

Oncologia do mesmo.

Os doentes são referenciados de toda a Itália, além disso, como centro de

referência a nível internacional, recebe também inúmeros pedidos de avaliação a doentes

tanto europeus, como não-europeus. A observação anual de vários doentes com

amiloidose, a sua inclusão em diversos ensaios clínicos, bem como a investigação clínica

e laboratorial continuamente realizadas, resultaram na publicação de cerca de 200 artigos

em revistas internacionais, com impacto direto no tratamento desta patologia.

O centro de Pavia coordena o grupo de estudo italiano para a amiloidose, uma rede

de 62 serviços e instituições de pesquisa espalhados por todo o território nacional, que

constituem pontos de atendimento qualificado e de fácil acesso para os doentes. A

Page 44: AMILOIDOSE AL: INVESTIGAÇÃO E PRÁTICA CLINICA · 3.6.2. Sistema nervoso autónomo ... focada na investigação e prática clínica. Esta tem como objetivo uma revisão bibliográfica

44

atividade do grupo é regulada por um protocolo de diagnóstico e terapêutica comum, que

é discutido e atualizado a cada dois anos. Estudos realizados demonstram que a

abordagem multicêntrica, coordenada pelo grupo de Pavia, é viável e rentável para os

pacientes com amiloidose. Além disso, colabora com algumas das instituições

internacionais mais importantes para o estudo e tratamento da amiloidose. Os projetos

conjuntos são realizados com a Mayo Clinic (EUA), com o l'Amyloid Treatment and

Research Program da Faculdade de Medicina da Universidade de Boston (EUA), com a

Unidade de Amiloidose do Instituto de Biologia Molecular e Celular do Porto (Portugal) e

com o National Amyloidosis Centre em Londres (Reino Unido).

7.3. DESCRIÇÃO DAS ATIVIDADES

As atividades no CITASP foram divididas em duas vertentes principais: o trabalho

desenvolvido na clínica e o trabalho desenvolvido a nível laboratorial.

O trabalho na clínica é, como já referido, em regime ambulatório e consiste em

consultas de avaliação e seguimento de doentes já diagnosticados ou com suspeita de

amiloidose, bem como, em consultas de seguimento dos doentes inseridos em ensaios

clínicos. Tive a oportunidade de assistir a diversas consultas realizadas pelo Prof. Doutor

Giovanni Palladini; sempre estruturadas em duas fases essenciais, colheita pormenorizada

de história clínica com posterior realização de exame físico dirigido. Diversos doentes são

referenciados ao centro por outros clínicos sob suspeita de amiloidose, nos casos em que

a suspeição clínica é de facto elevada, procede-se à realização dos exames diagnósticos

necessários, nomeadamente, biópsia de gordura abdominal periumbilical, biópsia de

medula óssea, colheita de sangue e urina para análise e, se pertinente, avaliação cardíaca

incluindo realização de eletro e ecocardiograma. De facto, uma das manhãs de estágio foi

dedicada à observação da avaliação cardiológica, o que me permitiu visualizar diversos

aspetos ecográficos, desde o normal até ao aspeto clássico de deposição de substância

amilóide, passando por alterações fruto de cardiopatia isquémica e hipertensiva, bem

como, diversas valvulopatias (a maior parte de etiologia provavelmente degenerativa pela

faixa etária elevada da maior parte dos doentes). Também na consulta de avaliação

cardiológica pude observar diversos eletrocardiogramas e os aspetos típicos neles

observados nos doentes com amiloidose AL.

A observação do trabalho realizado na clínica possibilitou maior familiarização com

a apresentação clínica dos doentes com amiloidose, bem como com os principais

procedimentos diagnósticos realizados. O surgimento desta doença maioritariamente em

faixas etárias avançadas, em doentes que possuem muitas vezes diversas comorbilidades,

pode tornar os achados clínicos de difícil interpretação, mesmo por clínicos experientes e

Page 45: AMILOIDOSE AL: INVESTIGAÇÃO E PRÁTICA CLINICA · 3.6.2. Sistema nervoso autónomo ... focada na investigação e prática clínica. Esta tem como objetivo uma revisão bibliográfica

45

familiarizados com a patologia em questão. Todos os casos que surgiam, principalmente

os mais complexos, eram discutidos com o Prof. Doutor Giampaolo Merlini, pela sua vasta

experiência e conhecimento na área em questão. Realça-se também a importância dos

métodos laboratoriais pois são, de facto, os mais precisos e essenciais ao diagnóstico

definitivo.

A segunda vertente do estágio foi, portanto, o contacto com o trabalho desenvolvido

a nível laboratorial pela Prof.ª Doutora Francesca Lavatelli. Uma das atividades consistia

na interpretação dos resultados obtidos nas eletroforeses com imunofixação do soro e da

urina dos doentes, tanto para efeitos diagnósticos, como para seguimento. Nos doentes

com atingimento renal, foi possível observar na urina a presença de proteinúria constituída

maioritariamente por albumina. A dificuldade na interpretação reside na baixa concentração

do componente monoclonal que gera por vezes bandas muito ténues, salientando-se a

importância da existência de centros de referência com profissionais experientes para

otimização da sensibilidade e especificidade das técnicas utilizadas. Outra das atividades

realizadas foi a observação de amostras coradas com vermelho do Congo à microscopia

ótica com luz polarizada. Também a nível laboratorial são realizadas análises genética e

proteómica com recurso a espetrometria de massa.

Page 46: AMILOIDOSE AL: INVESTIGAÇÃO E PRÁTICA CLINICA · 3.6.2. Sistema nervoso autónomo ... focada na investigação e prática clínica. Esta tem como objetivo uma revisão bibliográfica

46

8. CONCLUSÃO

Vários avanços têm sido feitos ao longo dos últimos anos no âmbito da amiloidose,

tanto na compreensão da fisiopatologia da mesma, como na avaliação dos melhores

marcadores pré-sintomáticos e de prognóstico e novas opções terapêuticas.

O advento de diversos marcadores prognóstico, que permitem também avaliar a

resposta à terapêutica, nomeadamente a nível de disfunção orgânica, possibilita uma

vigilância apertada dos doentes e mudança precoce de terapia quando esta se revela

ineficaz. Tal é de extrema importância pela necessidade absoluta de melhoria na função

dos órgãos afetados para aumento da sobrevida e da qualidade de vida.73

O principal desafio reside ainda em armas de diagnóstico precoce, pois é sabido

que na presença de doença avançada, especialmente se a nível cardíaco, o prognóstico é

sombrio e as hipóteses terapêuticas limitadas. Pela baixa prevalência da doença

dificilmente se justificarão exames de rastreio na população geral, mas estes são fulcrais

nas populações de alto risco – doentes com GMSI e rácio de CLL alterado.1

A aprovação de diversos fármacos para o tratamento do MM permitiu o uso dos

mesmos na amiloidose AL, contudo, características exclusivas dos doentes com

amiloidose (atingimento multi-orgânico e maior fragilidade à toxicidade dos tratamentos

disponíveis) traduzem diferente eficácia. Estudos específicos e em grande escala são

necessários para reunir evidência necessária à determinação da melhor opção terapêutica.

O futuro residirá numa abordagem multifacetada que atue bloqueando os diversos

mecanismos patogénicos envolvidos – cessação da produção do percursor amilóide,

prevenção da formação de agregados fibrilares e indução da reabsorção das fibrilas.1,2,10

Page 47: AMILOIDOSE AL: INVESTIGAÇÃO E PRÁTICA CLINICA · 3.6.2. Sistema nervoso autónomo ... focada na investigação e prática clínica. Esta tem como objetivo uma revisão bibliográfica

47

AGRADECIMENTOS

Um especial agradecimento à Prof.ª Doutora Luísa Lobato, ICBAS, Universidade

do Porto, pela sua disponibilidade e imprescindível orientação. Agradeço a toda a equipa

do Centro per lo Studio e la Cura delle Amiloidosi Sistemiche – do Hospital Policlinico San

Matteo, Pavia, particularmente à Prof.ª Doutora Francesca Lavatelli e ao Prof. Doutor

Giovani Palladini pela constante disponibilidade e simpatia ao longo da realização de todo

o estágio.

Page 48: AMILOIDOSE AL: INVESTIGAÇÃO E PRÁTICA CLINICA · 3.6.2. Sistema nervoso autónomo ... focada na investigação e prática clínica. Esta tem como objetivo uma revisão bibliográfica

48

BIBLIOGRAFIA

1. Merlini G, Wechalekar AD, Palladini G. Systemic light chain amyloidosis: An update for treating physicians. Blood. 2013;121(26):5124-5130.

2. Gertz MA. CME Information : Immunoglobulin Light Chain. 2014;89(12).

3. Sanchorawala V. Light-chain (AL) amyloidosis: diagnosis and treatment. Clin J Am Soc Nephrol. 2006;1(6):1331-1341.

4. Khalighi M a., Dean Wallace W, Palma-Diaz MF. Amyloid nephropathy. Clin Kidney J. 2014;7(2):97-106.

5. Merlini G, Seldin DC, Gertz M a. Amyloidosis: Pathogenesis and new therapeutic options. J Clin Oncol. 2011;29(14):1924-1933.

6. Barreiros AP, Galle PR, Otto G. Familial amyloid polyneuropathy. Dig Dis. 2013;31(1):170-174.

7. Cohen AD, Comenzo RL. Systemic Light-Chain Amyloidosis : Advances in Diagnosis , Prognosis , and Therapy Introduction : A Proteotoxic Clonal Plasma Cell. Hematology. 2010;(Table 1):287-294.

8. Lavatelli F, Albertini R, Di Fonzo A, Palladini G, Merlini G. Biochemical markers in early diagnosis and management of systemic amyloidoses. Clin Chem Lab Med. 2014;52(11):1517-1531.

9. Sipe JD, Benson MD, Buxbaum JN, et al. Nomenclature 2014: Amyloid fibril proteins and clinical classification of the amyloidosis. Amyloid. 2014;21(4):221-224.

10. Desport E, Bridoux F, Sirac C, et al. Al amyloidosis. Orphanet J Rare Dis. 2012;7:54.

11. Müller AMS, Geibel A, Neumann HPH, et al. Primary (AL) amyloidosis in plasma cell disorders. Oncologist. 2006;11(7):824-830.

12. Merlini G, Molecular Mechanisms of Amyloidosis — NEJM. http://www.nejm.org/doi/full/10.1056/NEJMra023144.

13. Shi J, Guan J, Jiang B, et al. Amyloidogenic light chains induce cardiomyocyte contractile dysfunction and apoptosis via a non-canonical p38alpha MAPK pathway. Proc Natl Acad Sci U S A. 2010;107(9):4188-4193.

14. Pezzulo A a, Tang XX, Hoegger MJ, et al. NIH Public Access. 2013;487(7405):109-113. doi:10.1038/nature11130.Reduced.

15. Benson MD, Liepnieks JJ, Kluve-Beckerman B. Hereditary systemic immunoglobulin light-chain amyloidosis. Blood. April 2015.

16. Kyle RA, Gertz MA. Primary systemic amyloidosis: clinical and laboratory features in 474 cases. Semin Hematol. 1995;32(1):45-59. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/7878478.

17. Dember LM. Emerging treatment approaches for the systemic amyloidoses. Kidney Int. 2005;68(3):1377-1390.

18. Falk RH. Diagnosis and management of the cardiac amyloidoses. Circulation. 2005;112(13):2047-2060.

Page 49: AMILOIDOSE AL: INVESTIGAÇÃO E PRÁTICA CLINICA · 3.6.2. Sistema nervoso autónomo ... focada na investigação e prática clínica. Esta tem como objetivo uma revisão bibliográfica

49

19. Selvanayagam JB, Hawkins PN, Paul B, Myerson SG, Neubauer S. Evaluation and management of the cardiac amyloidosis. J Am Coll Cardiol. 2007;50(22):2101-2110.

20. Kapoor P, Thenappan T, Singh E, Kumar S, Greipp PR. Cardiac amyloidosis: a practical approach to diagnosis and management. Am J Med. 2011;124(11):1006-1015.

21. Dubrey SW, Hawkins PN, Falk RH. Amyloid diseases of the heart: assessment, diagnosis, and referral. Heart. 2011;97(1):75-84.

22. Park MA, Mueller PS, Kyle RA, Larson DR, Plevak MF, Gertz MA. Primary (AL) hepatic amyloidosis: clinical features and natural history in 98 patients. Medicine (Baltimore). 2003;82(5):291-298.

23. Cichoż-Lach H, Prozorow-Król B, Swatek J, et al. Hepatomegaly, weight loss and general malaise – the first manifestations of primary systemic amyloidosis. Gastroenterol Rev. 2014;1(1):57-61.

24. Kyle RA, Linos A, Beard CM, et al. Incidence and natural history of primary systemic amyloidosis in Olmsted County, Minnesota, 1950 through 1989. Blood. 1992;79(7):1817-1822. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/1558973.

25. Kyle RA, Bayrd ED. Amyloidosis: review of 236 cases. Medicine (Baltimore). 1975;54(4):271-299. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/1152671.

26. Bouma B, Maas C, Hazenberg BPC, Lokhorst HM, Gebbink MFBG. Increased plasmin-alpha2-antiplasmin levels indicate activation of the fibrinolytic system in systemic amyloidoses. J Thromb Haemost. 2007;5(6):1139-1142.

27. Raja K, Ahmed E, Mubarak M, Iqbal T, Hassan SM. Primary localized amyloidosis of urinary bladder: a case report and review of literature. Nephrourol Mon. 2013;5(5):994-996.

28. Foli A, Palladini G, Caporali R, et al. The role of minor salivary gland biopsy in the diagnosis of systemic amyloidosis: results of a prospective study in 62 patients. Amyloid. 2011;18 Suppl 1:80-82.

29. Sjölander D, Bijzet J, Hazenberg BP, Nilsson KPR, Hammarström P. Sensitive and rapid assessment of amyloid by oligothiophene fluorescence in subcutaneous fat tissue. Amyloid. 2014;6129(1):1-7.

30. Arbustini E, Morbini P, Verga L, et al. Light and electron microscopy immunohistochemical characterization of amyloid deposits. July 2009. http://informahealthcare.com/doi/abs/10.3109/13506129709014380.

31. Brambilla F, Lavatelli F, Merlini G, Mauri P. Clinical proteomics for diagnosis and typing of systemic amyloidoses. Proteomics - Clin Appl. 2013;7(1-2):136-143.

32. Stoppini M, Obici L, Lavatelli F, et al. Proteomics in protein misfolding diseases. Clin Chem Lab Med. 2009;47(6):627-635.

33. Vrana JA, Theis JD, Dasari S, et al. Clinical diagnosis and typing of systemic amyloidosis in subcutaneous fat aspirates by mass spectrometry-based proteomics. Haematologica. 2014.

34. Lavatelli F, Vrana J a. Proteomic typing of amyloid deposits in systemic amyloidoses. Amyloid. 2011;18(4):177-182.

35. Brambilla F, Lavatelli F, Di Silvestre D, et al. Reliable typing of systemic amyloidoses through proteomic analysis of subcutaneous adipose tissue. Blood. 2012;119(8):1844-1847.

Page 50: AMILOIDOSE AL: INVESTIGAÇÃO E PRÁTICA CLINICA · 3.6.2. Sistema nervoso autónomo ... focada na investigação e prática clínica. Esta tem como objetivo uma revisão bibliográfica

50

36. Brambilla F, Lavatelli F, Di Silvestre D, et al. Shotgun protein profile of human adipose tissue and its changes in relation to systemic amyloidoses. J Proteome Res. 2013;12(12):5642-5655.

37. Palladini G, Russo P, Bosoni T, et al. Identification of amyloidogenic light chains requires the combination of serum-free light chain assay with immunofixation of serum and urine. Clin Chem. 2009;55(3):499-504.

38. Kyle RA, Durie BGM, Rajkumar S V, et al. Monoclonal gammopathy of undetermined significance (MGUS) and smoldering (asymptomatic) multiple myeloma: IMWG consensus perspectives risk factors for progression and guidelines for monitoring and management. Leukemia. 2010;24(6):1121-1127.

39. Merlini G, Palladini G. Differential diagnosis of monoclonal gammopathy of undetermined significance. Hematology Am Soc Hematol Educ Program. 2012;2012(Table 1):595-603.

40. Banypersad SM, Sado DM, Flett AS, et al. Quantification of myocardial extracellular volume fraction in systemic AL amyloidosis: an equilibrium contrast cardiovascular magnetic resonance study. Circ Cardiovasc Imaging. 2013;6(1):34-39.

41. Palladini G, Foli A, Milani P, et al. Best use of cardiac biomarkers in patients with AL amyloidosis and renal failure. Am J Hematol. 2012;87(5):465-471.

42. Gertz MA, Comenzo R, Falk RH, et al. Definition of organ involvement and treatment response in immunoglobulin light chain amyloidosis (AL): a consensus opinion from the 10th International Symposium on Amyloid and Amyloidosis, Tours, France, 18-22 April 2004. Am J Hematol. 2005;79(4):319-328.

43. Weber N, Mollee P, Augustson B, et al. Management of systemic AL amyloidosis: recommendations of the Myeloma Foundation of Australia Medical and Scientific Advisory Group. Intern Med J. 2015;45(4):371-382.

44. Riffel JH, Mereles D, Emami M, et al. Prognostic significance of semiautomatic quantification of left ventricular long axis shortening in systemic light-chain amyloidosis. Amyloid. 2015;22(1):45-53.

45. Wechalekar AD, Gillmore JD, Bird J, et al. Guidelines on the management of AL amyloidosis. Br J Haematol. 2015;168(2):186-206.

46. Centro per lo studio e la cura della amiloidosi sistemiche - Fondazione IRCSS Policlinico San Matteo e Università di Pavia. Diagnosi delle amiloidosi sistemiche Linee Guida 2011 - 2012. 2012.

47. Skinner M, Sanchorawala V, Seldin DC, et al. High-dose melphalan and autologous stem-cell transplantation in patients with AL amyloidosis: an 8-year study. Ann Intern Med. 2004;140(2):85-93. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/14734330.

48. Seldin DC, Anderson JJ, Sanchorawala V, et al. Improvement in quality of life of patients with AL amyloidosis treated with high-dose melphalan and autologous stem cell transplantation. Blood. 2004;104(6):1888-1893.

49. Palladini G, Russo P, Nuvolone M, et al. Treatment with oral melphalan plus dexamethasone produces long-term remissions in AL amyloidosis. Blood. 2007;110(2):787-788.

50. Jaccard A, Moreau P, Leblond V, et al. High-Dose Melphalan versus Melphalan plus Dexamethasone for AL Amyloidosis. N Engl J Med. 2007;357(11):1083-1093.

Page 51: AMILOIDOSE AL: INVESTIGAÇÃO E PRÁTICA CLINICA · 3.6.2. Sistema nervoso autónomo ... focada na investigação e prática clínica. Esta tem como objetivo uma revisão bibliográfica

51

51. Palladini G, Milani P, Foli A, et al. Oral melphalan and dexamethasone grants extended survival with minimal toxicity in AL amyloidosis: Long-term results of a risk-adapted approach. Haematologica. 2014;99(4):743-750.

52. Wechalekar AD, Goodman HJB, Lachmann HJ, Offer M, Hawkins PN, Gillmore JD. Safety and efficacy of risk-adapted cyclophosphamide, thalidomide, and dexamethasone in systemic AL amyloidosis. Blood. 2007;109(2):457-464.

53. Moreau P, Jaccard A, Benboubker L, et al. Lenalidomide in combination with melphalan and dexamethasone in patients with newly diagnosed AL amyloidosis: a multicenter phase 1/2 dose-escalation study. Blood. 2010;116(23):4777-4782.

54. Kastritis E, Wechalekar AD, Dimopoulos MA, et al. Bortezomib with or without dexamethasone in primary systemic (light chain) amyloidosis. J Clin Oncol. 2010;28(6):1031-1037.

55. Reece DE, Sanchorawala V, Hegenbart U, et al. Weekly and twice-weekly bortezomib in patients with systemic AL amyloidosis: results of a phase 1 dose-escalation study. Blood. 2009;114(8):1489-1497.

56. Palladini G, Russo P, Milani P, et al. A phase II trial of cyclophosphamide, lenalidomide and dexamethasone in previously treated patients with AL amyloidosis. Haematologica. 2013;98(3):433-436.

57. Sanchorawala V, Wright DG, Rosenzweig M, et al. Lenalidomide and dexamethasone in the treatment of AL amyloidosis: results of a phase 2 trial. Blood. 2007;109(2):492-496.

58. Huang X, Wang Q, Chen W, et al. Induction therapy with bortezomib and dexamethasone followed by autologous stem cell transplantation versus autologous stem cell transplantation alone in the treatment of renal AL amyloidosis: a randomized controlled trial. BMC Med. 2014;12:2.

59. Sanchorawala V, Brauneis D, Shelton AC, et al. Induction Therapy with Bortezomib Followed by Bortezomib-High Dose Melphalan and Stem Cell Transplantation for Amyloid Light Chain Amyloidosis: Results of a Prospective Clinical Trial. Biol Blood Marrow Transplant. 2015.

60. Kastritis E, Anagnostopoulos A, Roussou M, et al. Treatment of light chain (AL) amyloidosis with the combination of bortezomib and dexamethasone. Haematologica. 2007;92(10):1351-1358.

61. Jaccard A, Comenzo RL, Hari P, et al. Efficacy of bortezomib, cyclophosphamide and dexamethasone in treatment-naïve patients with high-risk cardiac AL amyloidosis (Mayo Clinic stage III). Haematologica. 2014;99(9):1479-1485.

62. Palladini G, Russo P, Foli A, et al. Salvage therapy with lenalidomide and dexamethasone in patients with advanced AL amyloidosis refractory to melphalan, bortezomib, and thalidomide. Ann Hematol. 2012;91(1):89-92.

63. Merlini G, Palladini G. Treating advanced cardiac damage in light chain amyloidosis: still an unmet need. Haematologica. 2014;99(9):1407-1409.

64. Palladini G, Russo P, Lavatelli F, et al. Treatment of patients with advanced cardiac AL amyloidosis with oral melphalan, dexamethasone, and thalidomide. Ann Hematol. 2009;88(4):347-350.

65. Bridoux F, Ronco P, Gillmore J, Fermand JP. Renal transplantation in light chain amyloidosis: Coming out of the cupboard. Nephrol Dial Transplant. 2011;26(6):1766-1768.

Page 52: AMILOIDOSE AL: INVESTIGAÇÃO E PRÁTICA CLINICA · 3.6.2. Sistema nervoso autónomo ... focada na investigação e prática clínica. Esta tem como objetivo uma revisão bibliográfica

52

66. Bansal T, Garg A, Snowden J a., McKane W. Defining the role of renal transplantation in the modern management of multiple myeloma and other plasma cell dyscrasias. Nephron - Clin Pract. 2012;120(4).

67. Palladini G. Circulating amyloidogenic free light chains and serum N-terminal natriuretic peptide type B decrease simultaneously in association with improvement of survival in AL. Blood. 2006;107(10):3854-3858.

68. Dispenzieri A, Lacy MQ, Katzmann JA, et al. Absolute values of immunoglobulin free light chains are prognostic in patients with primary systemic amyloidosis undergoing peripheral blood stem cell transplantation. Blood. 2006;107(8):3378-3383.

69. Sanchorawala V, Seldin DC, Magnani B, Skinner M, Wright DG. Serum free light-chain responses after high-dose intravenous melphalan and autologous stem cell transplantation for AL (primary) amyloidosis. Bone Marrow Transplant. 2005;36(7):597-600.

70. Lachmann HJ, Gallimore R, Gillmore JD, et al. Outcome in systemic AL amyloidosis in relation to changes in concentration of circulating free immunoglobulin light chains following chemotherapy. Br J Haematol. 2003;122(1):78-84. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/12823348.

71. Palladini G, Barassi A, Klersy C, et al. The combination of high-sensitivity cardiac troponin T (hs-cTnT) at presentation and changes in N-terminal natriuretic peptide type B (NT-proBNP) after chemotherapy best predicts survival in AL amyloidosis. Blood. 2010;116(18):3426-3430.

72. Palladini G, Lavatelli F, Russo P, et al. Circulating amyloidogenic free light chains and serum N-terminal natriuretic peptide type B decrease simultaneously in association with improvement of survival in AL. Blood. 2006;107(10):3854-3858.

73. Palladini G, Dispenzieri a., Gertz M a., et al. New Criteria for Response to Treatment in Immunoglobulin Light Chain Amyloidosis Based on Free Light Chain Measurement and Cardiac Biomarkers: Impact on Survival Outcomes. J Clin Oncol. 2012;30(36):4541-4549.

74. Tendler A, Helmke S, Teruya S, Alvarez J, Maurer MS. The myocardial contraction fraction is superior to ejection fraction in predicting survival in patients with AL cardiac amyloidosis. Amyloid. 2015;22(1):61-66.

75. Dispenzieri A, Gertz M a., Saenger A, et al. Soluble suppression of tumorigenicity 2 (sST2), but not galactin-3, adds to prognostication in patients with systemic AL amyloidosis independent of NT-proBNP and troponin T. Am J Hematol. 2015.

76. Leung N, Glavey S V., Kumar S, et al. A detailed evaluation of the current renal response criteria in AL amyloidosis: Is it time for a revision? Haematologica. 2013.

77. Norman K, Pichard C, Lochs H, Pirlich M. Prognostic impact of disease-related malnutrition. Clin Nutr. 2008;27(1):5-15.

78. Caccialanza R, Palladini G, Klersy C, et al. Malnutrition at Diagnosis Predicts Mortality in Patients With Systemic Immunoglobulin Light-Chain Amyloidosis Independently of Cardiac Stage and Response to Treatment. JPEN J Parenter Enteral Nutr. 2013:2013-2016.

79. Caccialanza R, Palladini G, Klersy C, et al. Nutritional status of outpatients with systemic immunoglobulin light-chain amyloidosis. Am J Clin Nutr. 2006;83(2):350-354.

80. Caccialanza R, Palladini G, Klersy C, et al. Nutritional status independently affects quality of life of patients with systemic immunoglobulin light-chain (AL) amyloidosis. Ann Hematol. 2012;91(3):399-406.

Page 53: AMILOIDOSE AL: INVESTIGAÇÃO E PRÁTICA CLINICA · 3.6.2. Sistema nervoso autónomo ... focada na investigação e prática clínica. Esta tem como objetivo uma revisão bibliográfica

53

Na elaboração desta tese não incorri em plágio (ato pelo qual o indivíduo, mesmo por omissão,

assume a autoria de um determinado trabalho intelectual, ou parte dele). Mais declaro que o retirado

de trabalhos anteriores pertencente a outros autores foi devidamente referenciado. As tabelas e

algoritmos apresentados possuem a citação da fonte bibliográfica. No caso de adaptação da tabela

ao atual trabalho esta metodologia também é nomeada.