ambiente físico: qual o peso dele na percepção do paciente sobre

108
i FACULDADE DE ECONOMIA E FINANÇAS IBMEC PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM ADMINISTRAÇÃO E ECONOMIA DISSERTAÇÃO DE MESTRADO PROFISSIONAL EM ADMINISTRAÇÃO Ambiente físico: qual o peso dele na percepção do paciente sobre satisfação na área hospitalar? Estudo de caso do Centro Pediátrico da Lagoa BRUNO GARCIA REIS DE MELLO ORIENTADOR: PROF. DR. EDUARDO HALPERN Rio de Janeiro, 31 de agosto de 2014.

Upload: duonghanh

Post on 10-Jan-2017

216 views

Category:

Documents


2 download

TRANSCRIPT

Page 1: Ambiente físico: qual o peso dele na percepção do paciente sobre

i

FACULDADE DE ECONOMIA E FINANÇAS IBMEC PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM ADMINISTRAÇÃO E ECONOMIA

DDIISSSSEERRTTAAÇÇÃÃOO DDEE MMEESSTTRRAADDOO PPRROOFFIISSSSIIOONNAALL EEMM AADDMMIINNIISSTTRRAAÇÇÃÃOO

Ambiente físico: qual o peso dele na percepção do paciente sobre satisfação na

área hospitalar? Estudo de caso do Centro Pediátrico da Lagoa

BBRRUUNNOO GGAARRCCIIAA RREEIISS DDEE MMEELLLLOO

ORIENTADOR: PROF. DR. EDUARDO HALPERN

Rio de Janeiro, 31 de agosto de 2014.

Page 2: Ambiente físico: qual o peso dele na percepção do paciente sobre

ii

“AMBIENTE FÍSICO: QUAL O PESO DELE NA PERCEPÇÃO DO PACIENTE

SOBRE SATISFAÇÃO NA ÁREA HOSPITALAR?

ESTUDO DE CASO DO CENTRO PEDIÁTRICO DA LAGOA”

BRUNO GARCIA REIS DE MELLO

Dissertação apresentada ao curso de Mestrado Profissional em Administração como requisito parcial para obtenção do Grau de Mestre em Administração. Área de Concentração: Marketing de servciços

ORIENTADOR: DR. EDUARDO HALPERN

Rio de Janeiro, 31 de agosto de 2014.

Page 3: Ambiente físico: qual o peso dele na percepção do paciente sobre

iii

“AMBIENTE FÍSICO: QUAL O PESO DELE NA PERCEPÇÃO DO PACIENTE

SOBRE SATISFAÇÃO NA ÁREA HOSPITALAR?

ESTUDO DE CASO DO CENTRO PEDIÁTRICO DA LAGOA”

BRUNO GARCIA REIS DE MELLO

Dissertação apresentada ao curso de Mestrado Profissional em Administração como requisito parcial para obtenção do Grau de Mestre em Administração.

Avaliação:

BANCA EXAMINADORA:

_____________________________________________________

Professor Dr. EDUARDO HALPERN (Orientador) Instituição: IBMEC _____________________________________________________

Professor EDUARDO MURAD Instituição: IBMEC _____________________________________________________

Professor CECÍLIA MATTOSO Instituição: ESTÁCIO

Rio de Janeiro, 31 de agosto de 2014.

Page 4: Ambiente físico: qual o peso dele na percepção do paciente sobre

iv

M527 Mello, Bruno Garcia Reis de.

Ambiente físico: qual o peso dele na percepção do paciente sobre satisfação na área hospitalar? estudo de caso do centro pediátrico da lagoa / Bruno Garcia Reis de Mello. - Rio de Janeiro: [s.n.], 2014. 105 f.: il.

Dissertação de mestrado Profissional em Administração do IBMEC.

Orientador(a): Prof. Dr. Eduardo Halpern.

1. Marketing de serviços. 2. Servicescape. 3. Saúde - Hospital. I. Título.

CDD 658.8

Page 5: Ambiente físico: qual o peso dele na percepção do paciente sobre

v

DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho a minha família, ao meu pai pelo apoio e a minha esposa, Daniele, pela compreensão pelos momentos de ausência.

Page 6: Ambiente físico: qual o peso dele na percepção do paciente sobre

vi

AGRADECIMENTOS

Agradeço ao meu orientador, Eduardo Halpern, pelo auxílio durante esta jornada, e a minha

banca, composta pelos professores Eduardo Murad e Cecília Mattoso, que contribuíram de

forma inestimável para a finalização desta obra.

Agradeço também a profissionais que me incentivaram diretamente a conduzir meus estudos

para a área de gestão em saúde, entre eles os professores Renato Gregório, Marinho Jorge

Scarpi, e à toda equipe da Editora DOC

Um agradecimento especial ao Dr. Guilherme Sargentelli, que indicou o CPLagoa para estudo

de caso e aos seus dirigentes, em especial Ana Paula Ferreira e Dra. Gina Sgorlon, que me

receberam para a realização da pesquisa.

Page 7: Ambiente físico: qual o peso dele na percepção do paciente sobre

vii

RESUMO

O trabalho tem como objetivo central compreender como os ambientes físicos de serviços em

saúde podem servir de elemento estratégico na administração hospitalar para garantir maior

satisfação dos pacientes. O trabalho tem como base um estudo de caso no Centro Pediátrico

da Lagoa (CPLagoa), hospital referência no Rio de Janeiro no atendimento a pacientes

infantis. O referencial teórico utilizado para dar suporte à investigação foi baseado na

literatura sobre marketing de serviços e, mais especificamente, o servicescape, bem como na

literatura sobre hotelaria hospitalar. Por meio de entrevistas semi-estruturadas em

profundidade e observação participante foi possível identificar as abordagens utilizadas para

projetar e gerenciar tal ambiente físico.

Palavras Chave: servicescape, marketing de serviços, marketing hospitalar, satisfação

Page 8: Ambiente físico: qual o peso dele na percepção do paciente sobre

viii

ABSTRACT

The research´s main goal was to understand how health service environment can be used as

competitive advantage to guarantee consumer satisfaction. This work is based on a case study

at Centro Pediátrico da Lagoa (CPLagoa), a referenced hospital in Rio de Janeiro specialized

on children healthcare. The literature review conducted to give theorical support to the

investigation was based on services marketing and, more specificaly, on servicescape, and

health hospitality too.

Key Words: servicescape, service marketing, health marketing, satisfaction

Page 9: Ambiente físico: qual o peso dele na percepção do paciente sobre

ix

LISTA DE FIGURAS

Figura 1- Serviço como sistema ........................................................................................... 17

Figura 2 – Dominância do tangível/intangível ...................................................................... 23

Figura 3 – Modelo Servicescape........................................................................................... 27

Figura 4 – Recepção do CPLagoa......................................................................................... 63

Figura 5 – Detalhe na decoração de um dos quartos do CPLagoa ......................................... 64

Figura 6 – Visão de um quarto do CPLagoa ......................................................................... 68

Figura 7 – Exemplo de sinalização dentro do CPLagoa ........................................................ 70

Figuras 8 e 9 – Funcionários e pacientes em evento de Páscoa e Natal ................................. 74

Figura 10 – Aniversário de paciente no CPLagoa ................................................................. 75

Page 10: Ambiente físico: qual o peso dele na percepção do paciente sobre

x

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Distribuição dos hospitais no Brasil ...................................................................... 7

Tabela 2 – Características dos serviços ................................................................................. 15

Page 11: Ambiente físico: qual o peso dele na percepção do paciente sobre

xi

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 1

1.1 OBJETIVO ....................................................................................................................................... 3

1.2 RELEVÂNCIA ................................................................................................................................. 4

1.3 DELIMITAÇÕES ............................................................................................................................. 5

1.4 ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO ................................................................................................ 5

2 REVISÃO DA LITERATURA ............................................................................... 7

2.1 O MERCADO DE HOSPITAIS PRIVADOS .................................................................................. 7

2.2 CARACTERÍSTICAS DOS SERVIÇOS ........................................................................................12

2.3 O MARKETING MIX EM SERVIÇOS..........................................................................................19

2.4 O SERVICESCAPE.........................................................................................................................22 2.4.1 O SERVICESCAPE NO AMBIENTE HOSPITALAR ..................................................................30

2.5 HOTELARIA E ACOLHIMENTO NA ÁREA HOSPITALAR ....................................................33

3 METODOLOGIA ................................................................................................ 40

3.1 MÉTODO ESCOLHIDO.................................................................................................................40

3.2 LIMITAÇÕES ...................................................................................... 4Erro! Indicador não definido. 3.2.1 UNIDADE DE ANÁLISE .............................................................................................................43 3.2.2 SATURAÇÃO TEÓRICA .............................................................................................................49

3.3 DESAFIOS INERENTES À METODOLOGIA ESTUDO DE CASO ...........................................51

3.4 COLETA DE DADOS .....................................................................................................................55

3.5 FONTES DE EVIDÊNCIA ..............................................................................................................56 3.5.1 OBSERVAÇÃO............................................................................................................................56 3.5.2 ENTREVISTAS ............................................................................................................................57

Page 12: Ambiente físico: qual o peso dele na percepção do paciente sobre

xii

3.5.3 DOCUMENTOS ...........................................................................................................................58 3.5.4 ANÁLISE DE DADOS .................................................................................................................58

4 RESULTADOS................................................................................................... 60

4.1 ANÁLISE DAS EVIDÊNCIAS FÍSICAS ........................................................................................61

4.2 TANGIBILIZANDO A SATISFAÇÃO ...........................................................................................70

4.3 PROCESSOS ...................................................................................................................................71

4.4 AVALIAÇÃO DOS SERVIÇOS .......................................................... 7Erro! Indicador não definido.

5 CONCLUSÃO .................................................................................................... 77

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 81

APÊNDICE A ........................................................................................................... 90

APÊNDICE B ........................................................................................................... 93

APÊNDICE C ........................................................................................................... 95

Page 13: Ambiente físico: qual o peso dele na percepção do paciente sobre

1

1 INTRODUÇÃO

O mercado hospitalar privado brasileiro passa por um processo de profissionalização da sua

gestão. O amadurecimento da economia e o fortalecimento da classe média fazem com que a

demanda por serviços aumente, o que gera um crescimento para este setor.

A Saúde Pública, incluindo hospitais universitários federais e unidades de saúde militares

representaram 34,8% desse total. Os serviços privados de saúde foram responsáveis por

32,4% (IBGE, 2010).

De acordo com o IBGE, o consumo de bens e serviços de saúde, em 2007, representou 8,4%

do PIB. A despesa das famílias com bens e serviços de saúde chegou a R$ 128,9 bilhões

(4,8% do PIB), dos quais R$ 69 bilhões representaram gastos com serviços de saúde e R$ 45

bilhões com medicamentos. Entre 2005 e 2007, a renda gerada pelas atividades do setor de

saúde cresceu 8,9%, enquanto o aumento de renda total da economia brasileira foi de 9,7%.

Diante disso, os hospitais passam a investir mais em estratégias de marketing de serviços para

obter vantagem e gerar a percepção de qualidade para o paciente/consumidor do serviço de

saúde, que exige a cada dia atendimento e recursos mais complexos e refinados. A Rede

D´Or, por exemplo, anunciou investimentos da ordem de R$ 500 milhões em 2013, um

montante 67,2% maior que o investido em 2012 (Valor Econômico, 3 de abril de 2013).

Page 14: Ambiente físico: qual o peso dele na percepção do paciente sobre

2

O crescimento da iniciativa privada no mercado de saúde tornou este setor mais competitivo.

De acordo com o IBGE (2010), o número de estabelecimentos de saúde em atividade total ou

parcial aumentou de 77 mil em 2005 para 94 mil em 2009 (22,2%). Das 52 mil unidades

assistenciais públicas em atividade, 95,6% são municipais e, das 42 mil unidades particulares,

90,6% têm fins lucrativos.

Contudo, a profissionalização não acompanhou o mesmo ritmo (Yamamoto, 2002).Apesar

desta expansão, estas empresas e seus administradores ainda não percebem o marketing sob a

ótica do seu potencial para a criação de diferencial e serviços de qualidade. O marketing na

saúde ainda é visto com certa desconfiança, pois poderia macular a visão sacerdotal que o

médico tem de sua profissão, além de comprometer o dever que este profissional teria de

salvar vidas, ao introduzir uma lógica “mercantilista” no serviço (GREGÓRIO, 2009).

De acordo com Seixas e Melo (2004), os hospitais tanto no Brasil quanto em outros países,

tradicionalmente eram administrados por religiosos, médicos, enfermeiros ou pessoas da

comunidade,devido ao fato de não serem vistos como uma empresa e sim como uma

“instituição de caridade”.

Nem sempre, este gestor conhecia a prática hospitalar, nem as técnicas de gerenciamento.

Mais recentemente, percebe-se que muitos profissionais buscam um maior conhecimento

nesta área, já entendendo que estes aspectos são cruciais para o sucesso e a conservação de

um negócio.

Além do aumento da concorrência, esta gradual conscientização a respeito da importância de

profissionalizar a gestão da saúde está ligada também a uma mudança no perfil dos clientes

(Gregório, 2009). Mais exigentes em relação à qualidade oferecida pelos serviços de

Page 15: Ambiente físico: qual o peso dele na percepção do paciente sobre

3

atendimento, estes novos clientes forçam os gestores em saúde a repensar diversas de suas

práticas.

Se o marketing é uma batalha de percepções na mente dos clientes, ou seja, uma batalha pelo

posicionamento (Ries, Trout, 1987), os gestores hospitalares devem buscar orientar seus

serviços para que em cada ponto de contato com o cliente, sejam transmitidos os valores e

conceitos que reforcem sua marca.

Diante de um cenário mais competitivo, com consumidores mais exigentes e custos elevados,

um dos caminhos para ganhar a dianteira do mercado é por meio da construção de ativos

intangíveis. Nesse contexto, a marca se transforma em um elemento de vantagem competitiva.

É natural que no mercado hospitalar, as estratégias de atendimento adotadas pelas empresas

sejam representativas de elementos como confiabilidade, qualidade e cordialidade e atenção

na entrega (SCARPI, 2010). Neste contexto, o ambiente físico pode ser considerado como um

dos elementos que servem para tangibilizar a marca, os atributos e os valores de um serviço.

Mais recentemente, autores que escrevem diretamente sobre marketing e construção de marca

em serviços de saúde associam ideias da atmosfera defendida por Kotler e do Servicescape,

desenvolvido por Bitner. Gregório (2009), por exemplo, elenca pontos da estrutura física

como fundamentais para o que ele classifica como “dimensões” do marketing na saúde:

layout, estrutura e decoração são alguns deles.

1.1 OBJETIVO

Page 16: Ambiente físico: qual o peso dele na percepção do paciente sobre

4

Pelo contexto atual da economia brasileira e com a esfera de serviços se desenvolvendo e se

tornando mais complexa, a área hospitalar também precisa fortalecer elementos para

tangibilizar a qualidade e entregar uma experiência que gere confiança no consumidor.

O problema a ser investigado é se o ambiente físico realmente interfere ou não e como ele

influencia a percepção de pacientes e funcionários em relação à satisfação percebida no

atendimento.

O objetivo a ser investigado é:

Se o ambiente físico de um ambiente hospitalar influencia a experiência de pacientes e

funcionários em relação à satisfação percebida no atendimento.

A proposta principal deste trabalho é tentar entender como o ambiente físico interfere na

percepção do paciente sobre a marca do hospital e a qualidade do atendimento hospitalar e

como ele influencia a maneira como os serviços são prestados e consumidos neste ambiente.

Outros aspectos que são tangenciados neste trabalho estão ligados a entender a motivação dos

gestores para investir no ambiente e na estrutura física; identificar a satisfação dos pacientes

em relação ao ambiente físico; identificar a satisfação da equipe em relação ao ambiente

físico; e descrever o ambiente, identificando elementos dos Servicescape.

1.2 RELEVÂNCIA

Dentro de um cenário de maior competitividade e de um paciente mais questionador e

exigente, a construção de uma marca forte e de credibilidade na área hospitalar tende a gerar

Page 17: Ambiente físico: qual o peso dele na percepção do paciente sobre

5

maior diferencial para o negócio, construindo uma relação mais forte com os

pacientes/clientes e transformando-os em embaixadores da marca. A relevância desta pesquisa

está em buscar entender melhor um importante aspecto (ambiente físico) ligado à satisfação

nos serviços hospitalares.

1.3 DELIMITAÇÕES

Este trabalho aborda o ambiente hospitalar pela teoria do Servicescape e tenta entender como

ele influencia na satisfação. O foco são os hospitais privados com fins lucrativos e não serão

levadas em consideração para esta pesquisa outras ferramentas ligadas ao campo da

comunicação. Será verificado como estes hospitais trabalham o ambiente e como isso

influencia na percepção de qualidade dos seus públicos.

1.4 ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO

Esta pesquisa se propõe a revisar a literatura sobre marketing de serviços, servicescape e

marketing hospitalar para tentar traçar uma correlação entre os ambientes físicos dos hospitais

e a construção de marca. O primeiro passo é revisitar os principais trabalhos sobre marketing

de serviços, o que inclui autores como Bitner, Lovelock, Bateson e Grönroos.

Serão revistos os principais conceitos na área de serviços, as estratégias de marketing de

serviços e o comportamento do consumidor no processo decisório. Também serão levantados

os principais modelos de gestão de qualidade em serviços.

Na sequência, o trabalho apresentará o modelo servicescape, suas características e impactos

gerados na percepção dos consumidores e dos colaboradores de uma marca.

Page 18: Ambiente físico: qual o peso dele na percepção do paciente sobre

6

A segunda parte do referencial teórico resgata toda a literatura sobre marketing hospitalar,

apresentando seus modelos, conceitos e especificidades.

A terceira parte da pesquisa é o método, que foi um estudo de caso descritivo com o Centro

Pediátrico da Lagoa (CPL). A partir do estudo de caso, este trabalho pretende verificar a

hipótese sobre a ambientação física das unidades hospitalares e a percepção de qualidade

pelos públicos envolvidos. O objetivo é verificar como funciona esta organização, como está

estruturada e como o ambiente físico influencia na percepção de marca pelo público externo.

O estudo de caso descritivo será elaborado a partir de entrevistas realizadas com gestores,

colaboradores e pacientes (e seus acompanhantes), e da observação do ambiente.A finalidade

é observar, registrar e analisar o ambiente do hospital e tentar explicar como ele interfere na

percepção de qualidade por parte dos públicos interessados.

Page 19: Ambiente físico: qual o peso dele na percepção do paciente sobre

7

2 REVISÃO DA LITERATURA

2.1 O MERCADO DE HOSPITAIS PRIVADOS

De acordo com a Federação Brasileira de Hospitais (FBH), o país possui 4.548 hospitais

privados, sendo 2.637 deles com fins lucrativos e 1.911 sem fins lucrativos. Enquanto isso, os

hospitais públicos somam 2.142, sendo 1.517 hospitais municipais, 470 hospitais estaduais e

57 hospitais federais (2012). A tabela a seguir mostra os números mais recentes

disponibilizados pelo Ministério da Saúde e pelo Cadastro Nacional de Estabelecimentos de

Saúde (CNES):

HOSPITAIS DO BRASIL MUNICIPAIS 21% ESTADUAIS 8% FEDERAIS 1% PRIVADOS 70%

TOTAL : 6.873

FONTE: CNES - Março/2013

Tabela 1 – Distribuição dos hospitais no Brasil

Segundo Farias (2007), o setor privado responde por 41,3% do total de estabelecimentos de

saúde do país, e é amplamente majoritário nos segmentos hospitalar e de apoio à diagnose e

terapia,concentrando, respectivamente, 65% e 94% dos estabelecimentos nestes segmentos.Já

no que se refere ao segmento ambulatorial, as unidades do setor público respondem por 75%

dos estabelecimentos.

No Sudeste 50,3% dos estabelecimentos de saúde são privados, enquanto no Norte estes são

apenas 22,2%. Isso reflete uma relação diretamente proporcional da força do setor hospitalar

Page 20: Ambiente físico: qual o peso dele na percepção do paciente sobre

8

privado ao desenvolvimento econômico de uma determinada região. Nos estados de Roraima,

Acre e Alagoas a participação do setor privado em número de estabelecimentos é inferior a

16%. Enquanto isso, São Paulo, Rio de Janeiro e no Distrito Federal a participação do setor

privado alcança patamares bem mais altos com 54,9%, 62,3% e 84% dos estabelecimentos,

respectivamente (Farias, 2007).

O faturamento dos hospitais privados brasileiros chegou a R$ 9,4 bilhões em 2011, segundo a

4ª Edição do Observatório da Associação Nacional de Hospitais Privados (ANAHP). A

principal origem dessa receita vem das operadoras de planos privados de saúde, que

respondem por R$ 8,9 bilhões desse montante - o equivalente a 94,4%. (Diagnóstico Web,

2012). Este incremento no faturamento do setor é de 20,5% em relação a 2010, quando o

registro ficou em R$ 7,8 bilhões (Rossi, 2012). O mesmo relatório mostra que a média de

crescimento do faturamento dos anos anteriores foi de aproximadamente 14%.

Com o cenário mais competitivo, também aumentaram os investimentos da iniciativa privada

no setor. Até o final de 2013, alguns dos maiores hospitais privados com fins lucrativos do

país estarão investindo uma quantia próxima a R$ 1 bilhão. São 60 hospitais privados de

grande peso na economia nacional investindo em itens como reestruturação física,

modernização e aquisição de equipamentos. A lista inclui nomes como Rede DOr São Luiz,

Sírio-Libanês, Albert Einstein, Beneficência Portuguesa e os hospitais próprios da Amil, uma

das maiores operadoras de plano de saúde do país. (ANAHP, 2012)

Os investimentos são necessários porque a taxa de ocupação destes hospitais em alguns casos

já supera 77%, de acordo com números da ANAHP. A receita média por hospital alcançou R$

250,2 milhões, o que representa uma expansão de 23,7% desde 2009.

Page 21: Ambiente físico: qual o peso dele na percepção do paciente sobre

9

“A Rede DOr, que tem o BTG Pactual como sócio, pretende investir R$ 280 milhões

em melhorias e refresh tecnológico. O grupo possui 24 hospitais distribuídos pelo Rio

de Janeiro, São Paulo, Brasília e Recife, e prevê um faturamento de R$ 3,5 bilhões

para 2012.Com 22 hospitais espalhados pelo território nacional, a Amil, de Edson

Bueno, vai investir R$ 250 milhões em expansão. O grupo já tem em andamento o

Hospital das Américas, no Rio de Janeiro, e o TotalCor, em São Paulo”

(DIAGNÓSTICOWEB, 2012).

Mas embora a receita total dos hospitais filiados à ANAHP tenha registrado alta, o Ebtida

(lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) apresentou queda de dois pontos

percentuais.

“Essa queda está atrelada ao aumento de despesas com insumos hospitalares que

representam hoje 54% das receitas”, explicou, em comunicado, o presidente do

Conselho Deliberativo da ANAHP, Henrique Salvador. (SAÚDEBUSINESSWEB,

2011)

Este dado nos dá uma pista de que além da maior competição, o cenário para os hospitais

particulares no Brasil teve as suas margens reduzidas, o que reforça a necessidade de um

aperfeiçoamento na gestão e na criação de diferencial competitivo.

A visão destas organizações apenas com foco em sua atividade fim, associada á rigorosa

fiscalização de entidades como a Associação Médica Brasileira (AMB) e o Conselho Federal

de Medicina (CFM) sobre como o setor de saúde e os médicos podem ou devem traçar

diretrizes e estratégias de marketing e comunicação, pode ser um dos fatores que levou boa

parte dessas empresas a não adotarem estratégias de construção de marca mais arrojadas.

Page 22: Ambiente físico: qual o peso dele na percepção do paciente sobre

10

“Recorda-se que os hospitais, em geral, não têm precisado pensar em termos de

marketing nos últimos 30 ou 40 anos e que, para a maioria deles, até mesmo o

conceito de marketing parece uma ideia esquisita em se tratando de hospitais. O Santa

Mônica Hospital não tinha um executivo de marketing àquela época; a posição foi

criada em conseqüência das discussões realizadas quando do lançamento do programa

de serviço”. (ALBRECHT, 1995, Pág. 166)

Nos últimos anos, o setor de serviços como um todo vem passando por um crescimento. Entre

1999 e 2003, o setor de serviços cresceu 42%, contra 31% do comércio e 18% da indústria

(Ipea, 2006).Em 2009, o setor já respondia por 68,5% do PIB e por mais de 70% dos

empregos formais, de acordo com o Panorama do Comércio, do Ministério do

Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.

No Brasil o efeito é percebido desde a década de 2000, pois de acordo com o Instituto de

Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA (2005), a polarização metropolitana das empresas de

serviços ocorre em todos os estados e, mais especificamente, em suas respectivas capitais

administrativas. A região metropolitana de São Paulo, por exemplo, responde por 34% da

massa salarial dos serviços nacional, enquanto o restante do estado é responsável por outros

11%. Ainda, o interior de São Paulo, em termos de oferta de serviços, equivale a toda a região

Sul ou Nordeste, a duas vezes a região Centro-Oeste, ou a dez vezes a região Norte (Ipea).

Quatro anos depois, mais uma vez foi o setor de serviços o responsável por bons resultados na

economia nacional. Em 2011, o crescimento de 0,8% do setor de serviços foi a principal

alavanca para o aumento do Produto Interno Bruto (PIB), em relação ao ano anterior (IBGE,

2011).

Page 23: Ambiente físico: qual o peso dele na percepção do paciente sobre

11

Outro fator que contribui para o crescimento dos serviços é o desenvolvimento tecnológico. O

uso de novas tecnologias vem exigindo o aparecimento de novos serviços e fazendo de muitos

deles insumos fundamentais para os demais setores econômicos, particularmente para a

indústria. Este processo trouxe consigo novas exigências para a sociedade no campo da

educação, do treinamento/conhecimento e da saúde. (MELO, H. P; ROCHA. F; FERRAZ, G;

SABBATO, A; DWECK, 1998, Pág. 4).

Impulsionado pelo amadurecimento dos serviços no Brasil, o sistema de saúde suplementar

vem crescendo ano após ano, tendo atingido a marca de cerca de 50 milhões de beneficiários

de planos de saúde e um faturamento total de mais de R$ 85 bilhões (Panorama ANAHP,

2013). São números que impactam diretamente o segmento de hospitais privados com fins

lucrativos.

De acordo com o Panorama Setor Saúde de 2013, a saúde suplementar brasileira tem crescido

em harmonia com o desenvolvimento nacional, mas o cenário, embora favorável, está longe

de ser perfeito, uma vez que as instituições de menor porte sofrem para seguirem no mercado.

Page 24: Ambiente físico: qual o peso dele na percepção do paciente sobre

12

2.2 CARACTERÍSTICAS DOS SERVIÇOS

Albrecht (1992) afirma que as economias desenvolvidas se baseiam fortemente nos serviços e

mesmo indústrias mais tradicionais se utilizam de estratégias de serviços para ganhar mais

espaço e garantir a fidelização dos clientes. Como o próprio autor lembra, um serviço se

constrói a partir “de um resultado psicológico e fundamentalmente pessoal, ao passo que um

produto físico é geralmente ‘impessoal’, quanto ao seu impacto sobre o cliente” (1992, Pág.

4).

A transformação cada vez maior na economia e na própria indústria como um todo em uma

área dominada pela lógica de serviços, de acordo com Albrecht (1992) está relacionado a

alguns fatores, como, entre outros: o serviço está se transformando cada vez mais em fator de

competição; a qualidade do serviço converte-se em lucro na maioria das indústrias; há apenas

uma poucas empresas de serviço realmente excelentes; e há enormes oportunidades de

competição na maioria das indústrias.

“Jan Carlzon, presidente da Scandinavian Airlines, é particularmente direto a esse

respeito. Ele diz: veja nosso balanço. No lado do ativo, podemos ver tantos aviões

valendo uns quantos bilhões. Mas isso está errado; estamos nos iludindo. O que

devemos colocar no lado do ativo é: no ano passado, a SAS transportou uns tantos

passageiros satisfeitos. Porque esse é o único ativo que possuímos – pessoas

satisfeitas com o nosso serviço e dispostas a voltar e pagar por ele novamente”.

(ALBRECHT, 1995, Pág. 25).

Em serviços, produção e consumo se dão ao mesmo tempo, o que faz com que este tipo de

atividade tenha uma série de peculiaridades, a começar pelos momentos em que clientes

entram em contato com a empresa prestadora.

Page 25: Ambiente físico: qual o peso dele na percepção do paciente sobre

13

Os serviços de saúde podem estar inseridos em uma categoria especial do campo da prestação

de serviços. Enquanto negócio, apresentam uma série de peculiaridades, tanto no seu

funcionamento quanto em seus aspectos subjetivos, como filosofia de trabalho e

considerações que envolvem, além do impacto de relevância que possuem na vida dos

pacientes.

Tanaka e Kuazaqui (2008) trazem uma definição das unidades hospitalares enquanto

organização. “Pode-se evidenciar que o hospital é o somatório da organização (como um

sistema e não como uma entidade jurídica) com os comportamentos e atividades direcionados

a um objetivo específico: a preservação da saúde de uma comunidade”. (TANAKA, L. C. T.

& KUAZAQUI, E. 2008, Pág. 34).

Arrow (1963) mostra que o mercado de serviços em saúde possui uma série de

particularidades, entre elas a demanda não ser constante e previsível, a busca por serviços em

saúde normalmente acontecer em circunstâncias anormais (o cliente/paciente possui um

problema na sua própria saúde ou na saúde de alguém próximo a ele), o paciente não poder

utilizar experiências anteriores para eliminar a incerteza, pois no caso da atenção médica, não

há garantia de que uma experiência anterior bem-sucedida, como, por exemplo, uma cirurgia,

se repita da mesma maneira.

Na opinião de Borba (2011), o setor de saúde ainda apresenta muita resistência em trabalhar

os hospitais para que tenham um forte componente empresarial, com a adesão de hospitais

que invistam em gestão para superar as adversidades conjunturais e as ameaças do mercado.

Carlzon (1987) também chama a atenção na dinâmica dos serviços para a hora da verdade,

todos os momentos em que o cliente fica frente a frente com os prestadores do serviço

Page 26: Ambiente físico: qual o peso dele na percepção do paciente sobre

14

(colaboradores) ou quando ficam diante de um ou mais setores da empresa. Para o autor,

todos estes momentos devem ser gerenciados com precisão, pois é a união de todas as

experiências acumuladas nestes diversos momentos que resulta na percepção sobre um

serviço, empresa ou marca.

A prestação de um serviço pode ser sistematizada como uma sequência de horas da verdade

(Albrecht, 1995) onde não raro, o cliente é o único participante deste processo que vê o

quadro como um todo, pois o vivencia durante o ciclo de atendimento.

De acordo com a American Marketing Association (AMA), serviços são atividades,

benefícios ou satisfações que são colocados à venda ou proporcionadas em conexão com a

venda de bens. Para Bitner e Zeithaml (2008), serviços são ações, processos e atuações onde

há maior dominância do intangível onde não há transferência de propriedade.

Já Grönroos (1993) localiza serviço como uma atividade ou uma série de atividades de

natureza mais ou menos intangível – que normalmente, mas não necessariamente, acontece

durante as interações entre clientes e empregados de serviços e/ou recursos físicos ou bens

e/ou sistemas do fornecedor de serviços – que é fornecida como solução ao(s) problema(s)

do(s) cliente(s). O autor complementa lembrando que em algumas situações de serviços, o

cliente não interage diretamente com a empresa de serviço, mas com um intermediário.

Ainda assim, são elencadas as principais características que podem ser identificadas em todos

os serviços, conforme a tabela 2:

Page 27: Ambiente físico: qual o peso dele na percepção do paciente sobre

15

ServiçosIntangívelHeterogêneoProdução, distribuição e consumo são processos simultâneosUma atividade ou processoValor principal é produzido nas interações entre comprador e vendedorClientes participam da produçãoNão pode ser mantido em estoqueNão transfere propriedade

Tabela 2- Características dos serviços (adaptado de Grönroos, 1993)

Dentre estas, quatro podem ser consideradas básicas e fundamentais para a caracterização de

praticamente todos os tipos de serviços, sendo elas:

a) O caráter intangível dos serviços;

b) Os serviços são uma atividade ou uma série de atividades, em vez de coisas

(produtos);

c) Os serviços são, até certo ponto, produzidos e consumidos simultaneamente;

d) O cliente participa, até certo ponto, do processo de produção.

Intangibilidade – De acordo com Kotler (1998), ao contrário de produtos, os serviços não

podem ser vistos, provados, sentidos, ouvidos ou cheirados antes de serem comprados. “A

pessoa que pretende mudar as feições não pode ver os resultados antes de comprar a cirurgia

plástica e o paciente que vai ao consultório do psicanalista não pode prever o resultado da

análise” (KOTLER, 1998).

Page 28: Ambiente físico: qual o peso dele na percepção do paciente sobre

16

Produção, distribuição e consumo são simultâneos – Esta característica também é chamada

de inseparabilidade. Isso significa que não é possível separar a produção e o consumo de

serviços. As duas etapas acontecem ao mesmo tempo e no mesmo local. Gregório (2009)

explica que o serviço médico acontece no instante em que é consumido e no local em que é

produzido (o consultório, a clínica ou o hospital).

Heterogeneidade – Também conhecido com variabilidade, esta característica indica que não

há garantia que as repetidas produções de um mesmo serviço produzam resultados idênticos,

pois há outros elementos que influenciarão diretamente nesta variação. Para Kotler (1998), a

variabilidade nos serviços em saúde é ainda mais evidente, pois os resultados variam de

acordo com a interação entre prestador (médico) e cliente (paciente).

Perecibilidade – Por se tratar de uma série encadeada de ações e não de um bem de consumo,

os serviços não podem ser estocados. Portanto, ele só pode ser produzido no instante em que é

consumido.

Estas características geram um desafio para os prestadores de serviços, pois estes precisam

tornar um serviço tangível para os clientes, através da utilização de evidências físicas

concretas (SHOSTACK, 1977). Como resultado destas características, os serviços tendem a

ser percebidos pelo cliente de maneira subjetiva (GRÖNROOS, 1993).

Pelas suas peculiaridades, gerenciar a qualidade percebida em um serviço e,

consequentemente, a marca que está sendo construída na mente do consumidor, acaba sendo

uma tarefa mais complexa:

Page 29: Ambiente físico: qual o peso dele na percepção do paciente sobre

17

“Por que o serviço não é uma coisa, mas uma série de atividades ou processos que,

além de tudo, são produzidos e consumidos simultaneamente (é o que chamamos de

característica da inseparabilidade), pelo menos até certo ponto, é difícil gerenciar o

controle de qualidade e praticar um marketing no sentido tradicional. Não há

qualidade pré-produzida para ser controlada com antecedência, antes do serviço ser

vendido e consumido”. (GRÖNROOS, 1993, Pág. 39)

Falando especificamente dos serviços hospitalares, Lovelock e Wright (2001) enfatizam que o

atendimento em saúde se enquadra no nível de serviços de alto contato, ou seja, serviços onde

os clientes tendem a visitar diretamente as instalações da prestadora e ao longo da prestação

em si, acabam ativamente envolvidos com a organização e com os seus colaboradores. E na

medida em que aumenta o nível de contato, os encontros entre clientes e serviços tendem a ser

mais numerosos e mais demorados.

Dentro de um hospital, o sistema de serviço segue o modelo tradicional de gerenciamento de

serviços, conforme figura a seguir.

Figura 01 - Serviço como sistema, adaptado de Lovelock e Wright (2001).

Base técnica

Suporte físico

Pessoal de contato

Bastidores (invisível)

Frente (visível)

Cliente

Page 30: Ambiente físico: qual o peso dele na percepção do paciente sobre

18

Observando o esquema proposto, percebe-se que a parte de suporte físico e os profissionais

que participam do processo de prestação de serviço são os grupos balizadores da percepção e

experiência do cliente. A correlação entre estes dois grupos não apenas fornece pistas sobre a

qualidade de um serviço como influencia também a avaliação do cliente.

Além disso, de acordo com o nível de complexidade do serviço, tornam-se mais importantes

elementos que gerem confiança nas pessoas (Berry e Parasuraman, 1992).

“Já que os clientes devem tentar entender um serviço sem realmente vê-lo e como

desejam conhecer o que estão comprando e saber por que haveriam de comprar antes

de tomar uma decisão, tendem a estar especialmente atentos a pistas tangíveis sobre o

serviço. De alguma forma, para o bem ou para o mal, estas pistas tangíveis informam

alguma coisa. Se estiverem fora de controle, podem transmitir todas as mensagens

equivocadas sobre o serviço, abalando seriamente toda a estratégia de marketing. Se

bem administradas, as pistas podem ensinar aos clientes algo sobre o serviço,

trazendo vitalidade e reforço à estratégia do marketing”. (BERRY E

PARASURAMAN, 1992, Pág. 113)

Um exemplo é a participação dos funcionários neste processo, de acordo com Albrecht (1995)

que possui grande peso no resultado final percebido, pois pelas mais diversas razões como

problemas de cultura e clima organizacional, qualidade de vida no trabalho e até mesmo

circunstâncias que vão além do alcance da administração, a equipe pode deixar de se importar

com o atendimento ao cliente. Segundo Albrecht, “a orientação para o serviço precisa, de

alguma forma, tornar-se um elemento fundamental da psique organizacional coletiva” (1995,

Pág. 191).

Page 31: Ambiente físico: qual o peso dele na percepção do paciente sobre

19

O mesmo autor enfatiza também que esta qualidade na entrega necessita de uma manutenção

constante para gerar resultados confiáveis:

“A qualidade do serviço é como a boa forma física: ela não dura a menos que você a

mantenha. Se você acha que basta emitir um cheque e autorizar um programa de

serviço, e que você pode então esperar e gozar dos frutos da excelência do serviço

para sempre, pode se preparar para uma grande decepção. O comprometimento com o

serviço precisa ser renovado diariamente”. (ALBRECHT, 1995, pág. 247)

2.3 O MARKETING MIX EM SERVIÇOS

Um dos desafios para as organizações que trabalham com serviços é a adaptação dos

conceitos derivados do marketing de produtos. Shostack (1977) diz que a literatura seminal de

marketing deriva quase que completamente da indústria de bens de consumo, logo, fazendo

com que empresas de serviços acabem absorvendo também esta lógica.

“O mix de marketing clássico, a literatura seminal e a linguagem do marketing

derivam da produção de bens de consumo. Profissionais de marketing tendem a

pensar em termos de produto, particularmente nos mercados de bens de consumo de

massa. Algumas empresas de serviço inclusive chamam seus outputs de produtos”.

(SHOSTACK, 1977, Pág.78)

Em seu artigo “Breaking free through product marketing”, Shostack (1977) enfatiza as

características que tornam os serviços tão diferentes dos bens de consumo, por isso mesmo

demandando uma teorização própria para as empresas que atuam neste setor. Ainda segundo

Shostack (1977), somente assim a companhia pode assumir o controle sobre esta importante

parte do seu mix de marketing.

Page 32: Ambiente físico: qual o peso dele na percepção do paciente sobre

20

Outro ponto defendido pelo autor é que, diferente dos fabricantes de bens de consumo, as

organizações do setor de serviços devem estar focados na produção e gerenciamento de

evidências concretas que ajudem o consumidor a tangibilizar o que está sendo entregue.

“Intangibilidade não é um fator modificador. É um estado (...) Profissionais de

marketing de serviços devem focar em fortalecer e diferenciar realidades através da

manipulação de pistas tangíveis. O gerenciamento de evidências vem em primeiro

lugar”. (SHOSTACK, 1977, Pág; 78).

No marketing de produtos, o composto de marketing é baseado nas indicações de Jerome

McCarthy, depois atualizadas por Kotler, para a utilização dos 4 Ps (Produto, Preço, Praça e

Promoção). Em serviços, o marketing mix (ou composto de marketing) está focado em outros

elementos, a saber: Perfil, Processos, Procedimentos e Pessoas.

Entre os Ps do marketing de serviços, autores como Shostack, Las Casas e Gregório destacam

o perfil, que refere-se ao estabelecimento em que acontecerá a prestação de serviços. Ele

inclui toda a comunicação visual de uma loja ou escritório, como também limpeza, disposição

dos móveis e layout.

“O perfil é um componente de comunicação de muita importância. Devido à

intangibilidade do serviço, um cliente, ao entrar em um escritório de um prestador de

serviços, busca evidências para apoiar sua decisão. Se o seu serviço é do setor

alimentício, por exemplo, o cliente buscará evidências de higiene”. (LAS CASAS,

2002, Pág. 79)

Este elemento do composto dos serviços remete diretamente ao ambiente físico. Outro P, o de

processos, também é impactado pela forma como o ambiente de prestação de serviços é

organizado.

Page 33: Ambiente físico: qual o peso dele na percepção do paciente sobre

21

Pela sua característica de ser produzido e consumido ao mesmo tempo, Bitner (1992), afirma

que o efeito disso é que o consumidor “está na fábrica o tempo todo”. “Pelo fato do serviço

geralmente ser produzido e consumido simultaneamente, o consumidor está na fábrica,

experimentando totalmente o serviço dentro das instalações da empresa. A fábrica, ou o local

onde o serviço é produzido, não pode ser escondido e pode causar um forte impacto na

percepção do consumidor sobre a experiência do serviço”. (BITNER, 1992, pág. 57).

Esse mesmo entendimento é defendido por Carvalho & Motta (2002), a respeito dos

elementos que o consumidor realmente observa durante o consume de um serviço, processo

bem diferente que no marketing clássico, baseado na indústria de bens de consumo.

“A partir dessa perspectiva, a experiência de serviços deixa de ser vista como uma

simples atividade econômica e passa a incluir a observação cognitiva pelo

consumidor de diversas variáveis intervenientes no ambiente, aptas a gerar interação

social, pausa nas rotinas diárias, estimulação sensória, exercício físico, voyeurismo,

exibicionismo...” (CARVALHO, J. MOTTA, 2002, Pág. 60)

Isso remete à percepção de qualidade, que na visão de Grönroos (1993) é totalmente definida

a partir do entendimento e da interpretação do consumidor e não necessariamente a uma

característica objetiva e racional que esteja sendo analisada pelo cliente.

“Parte-se do pressuposto de que percepções e expectativas são a base para o

julgamento da qualidade do serviço e que, portanto, a qualidade deve ser considerada

do ponto de vista do cliente, considerando que este age com base em suas

percepções” (PARASURAMAN, ZEITHAML e BERRY, 1985, 1988; LOVELOCK

e WRIGHT, 2002).

Page 34: Ambiente físico: qual o peso dele na percepção do paciente sobre

22

Las Casas (2002) também faz a conexão direta da qualidade em serviços à satisfação do

cliente. Para o autor, qualidade em serviços está ligada à satisfação. Um cliente satisfeito com

o prestador de serviços estará percebendo um serviço como de qualidade. E isso acontece em

qualquer situação em que possa ocorrer essa satisfação, como a solução de um problema, o

atendimento de uma necessidade ou de qualquer outra expectativa (Pág. 89).

2.4 O SERVICESCAPE

Os serviços hospitalares, especificamente, têm processos cujos destinatários são as pessoas

(os clientes/pacientes). Para Lovelock e Wirtz (2006), nesta categoria de serviços enquadram-

se negócios onde o ambiente físico assume especial importância. Por se enquadrar em um

serviço de alto contato, o atendimento hospitalar precisa de elementos que a cada momento da

verdade tangibilizem suas qualidades, valores e atributos.

O próprio Kotler (1973), já havia destacado a importância do ambiente físico para a

experiência do consumidor e o resultado obtido no setor varejista. Segundo ele, a atmosfera

do negócio produz pistas para o cliente a respeito do segmento de marketing em que ele está

consumindo algo.

Para Kotler (1973), as perguntas que devem ser respondidas a respeito da atmosfera de

marketing são: quem é o público-alvo, o que este público espera da experiência de compra,

quais as variáveis da atmosfera podem fortalecer crenças e reações emocionais nos

compradores, os resultados geram diferencial competitivo? (KOTLER, 1973, Pág. 61)

Page 35: Ambiente físico: qual o peso dele na percepção do paciente sobre

23

Um dos modelos que serve como referencial para explicar o impacto do ambiente físico para

os serviços é a Servicescapes (Bitner,1992), que busca demonstrar a existência de relações

entre este ambiente e o comportamento tanto de consumidores quanto dos colaboradores.

Se a prestação do serviço em saúde é caracterizada pela alta intangibilidade, esta pesquisa se

propõe a identificar quais dimensões, dentre aquelas listadas por Bitner (1992) para o modelo

Servicescape possuem maior interferência para tangibilizar qualidade.

Para Johstone, Todd e Oliver (2006), é preciso entender como as pessoas consomem os

espaços e ambientes, embora o marketing tenha desenvolvido muitas ferramentas para

compreender o consumo das mercadorias. O significado e o valor nestes espaços é uma co-

criação social entre todos os atores envolvidos.

Bitner (1992) classifica serviços em saúde e hospitais na categoria “Interpersonal services”,

dentro de uma régua desenvolvida por Shostack (1977) onde os outros dois extremos são self-

service (apenas o cliente) e remote service (apenas o prestador de serviço), conforme imagem

a seguir (Shostack, 1977):

Page 36: Ambiente físico: qual o peso dele na percepção do paciente sobre

24

Figura 02 – Dominância do tangível/intangível (Shostack, 1977)

Bitner (1992) afirma ainda que nesta escala de intangibilidade no qual se enquandram os

serviços em saúde. De acordo com a autora, um dos desafios na montagem e estruturação de

ambientes é potencializar os comportamentos de aproximação e encorajar as apropriadas

interações sociais no ambiente de serviços (BITNER, 1992, Pág. 61).

Na categoria de serviços interpessoais, por estarem localizados entre os extremos da régua de

intangibilidade proposta por Shostack (1977), consumidores e prestadores de serviços atuam

juntos, no mesmo ambiente, influenciando diretamente os resultados finais. A própria Bitner

(1992) afirma que um quarto hospitalar pode ser concebido pensando no conforto do paciente

e na sua satisfação, ao mesmo tempo em que propicia maior produtividade dos funcionários.

Para Halpern (2008), nestes tipos de serviço, o ambiente físico tende a assumir papel bastante

significativo na experiência dos mesmos. Em tais situações, ele assume o papel de uma

espécie de fábrica até onde os consumidores se dirigem para a obtenção de serviços com cuja

operação eles convivem durante um período de tempo.

Dentro deste contexto, ganha aplicabilidade o modelo servicescape, desenvolvido por Bitner

(1992). O servicescape diz respeito a ambientes físicos criados pelos homens para satisfazer

determinadas necessidades de seus consumidores. Estes ambientes são capazes de influenciar

tanto a percepção dos consumidores, quanto da própria equipe de colaboradores da prestação

dos serviços.

Page 37: Ambiente físico: qual o peso dele na percepção do paciente sobre

25

O Servicescape se refere ao uso da evidência física para projetar ambientes de serviço. Por

causa da inseparabilidade, o modelo reconhece que o ambiente da empresa pode afetar

igualmente clientes e colaboradores (Hoffman & Bateson, 2008). Segundo estes autores,

devido a esta inseparabilidade, o ambiente deve ser projetado para satisfazer as necessidades

dos indivíduos que passam a maior parte do tempo dentro deste ambiente.

De acordo com Bitner & Zeithaml (2008), as evidências físicas servem como referenciais para

os clientes, que tendem a procurar indicativos tangíveis nos serviços para avaliá-lo antes da

compra e também para mensurar sua satisfação durante e após o consumo. As autoras

sugerem que alguns serviços são comunicados principalmente por estas evidências físicas:

“É evidente que alguns serviços são comunicados principalmente por meio de

evidência física (p. ex. hospitais, resorts, creches), enquanto outros fornecem

evidência física limitada (p. ex. seguros, correio expresso). Todos os elementos de

evidência física listados em cada serviço comunicam algo acerca do serviço aos

clientes e/ou facilitam o desempenho do serviço”. (BITNER & ZEITHAML, 2008,

Pág. 233)

Bitner (1992), diz também que ambos os grupos (consumidores e colaboradores) vão

responder de forma cognitiva, psicológica e emocional ao ambiente servicescape.

Ainda segundo a autora, a correta utilização do modelo servicescape influencia as crenças das

pessoas sobre um determinado ambiente, bem como suas crenças a respeito dos produtos,

serviços e pessoas encontrados neste mesmo ambiente. Neste sentido, o ambiente pode ser

entendido como uma forma de comunicação não-verbal.

Page 38: Ambiente físico: qual o peso dele na percepção do paciente sobre

26

“No caso de uma unidade hospitalar, que crenças, emoções e respostas psicológicas

devem ser estimuladas para encorajar os pacientes a tentarem uma caminhada pelas

instalações da instituição, caso isso seja importante para a sua recuperação?”

(BITNER, 1992, Pág. 64).

Na definição da própria autora, o ambiente físico em serviços pode ter o mesmo efeito que a

embalagem (package) possui no marketing para bens de consume, ajudando a enfatizar e

tornar concreto as promessas que uma determinada marca faz aos seus consumidores. Além

disso, o ambiente também serve como elemento diferenciador, sinalizando o segmento de

marketing em que a organização atua, seu posicionamento e proposta de valor em relação a

outros competidores.

Neste sentido, o servicescape serve como elemento para reforçar e manter as promessas feitas

por uma determinada marca na percepção dos consumidores:

“Keeping promises is the essence of a mutually beneficial service relationship. But

the ability to keep promises hinges on and is inextricably tied to two others activities

– making realistic promises and enabling delivery of service promises”. (BITNER,

1995, Pág. 246)

Antes ainda de Bitner, Kotler (1973) definiu a “atmosfera” como importante elemento de

marketing, seja para produtos ou para serviços. De acordo com ele, como outras ferramentas

de marketing se tornam neutralizadas devido o excesso de competição, “a atmosfera se torna o

campo para a interminável busca das empresas por vantagens diferenciadas” (1973, Pág. 63).

“One of the most significant features of the total product is the place where it is

bought or consumed. In some cases, the place, more specifically the atmosphere of

Page 39: Ambiente físico: qual o peso dele na percepção do paciente sobre

27

the place, is more influential than the product itself in the purchase decision. In some

cases, the atmosphere is the primary product”. (KOTLER, 1973, Pág. 48)

De acordo com o ambiente servicescape em questão, o consumidor pode responder com um

movimento de aproximação ou de afastamento. Isso dá ao modelo diversos papéis

estratégicos. Segundo Bitner (1992), ele pode ser utilizado pelos clientes para avaliar a

qualidade potencial dos serviços. Ele também serve como parâmetro de diferenciação e

posicionamento da empresa em relação aos seus concorrentes.

O modelo servicescape desenvolvido por Bitner (1992) é apresentado na figura 3, a seguir:

Figura 03 – Modelo Servicescape (BITNER, 1992)

Neste contexto, Bitner & Zeithaml (2008) explicam que as evidências físicas que tangibilizam

o serviço podem influenciar comportamentos individuais, interações entre os grupos presentes

no ambiente e também a maneira como o serviço é compreendido e avaliado.

DimensõesAmbientais

Ambiente“Integral” Moderadores Respostas

InternasComporta-

mento

CondiçõesAmbientais

-Temperatura- Qualidade ar

- Ruídos- Música- Odores

Espaço/Funcionalidade

-Mobiliário-Equipamentos

-Layout

SinaisSímbolos

e Artefatos-Estilo

-Sinalização

AmbientePercebido

Moderadoresdos

Consumidores

Moderadoresdos

Funcionários

Consumidores(cognitivas,

emocionais efisiológicas)

Funcionários(cognitivas,

emocionais efisiológicas)

AproximaçãoX

Afastamento

Interações

DimensõesAmbientais

Ambiente“Integral” Moderadores Respostas

InternasComporta-

mento

CondiçõesAmbientais

-Temperatura- Qualidade ar

- Ruídos- Música- Odores

Espaço/Funcionalidade

-Mobiliário-Equipamentos

-Layout

SinaisSímbolos

e Artefatos-Estilo

-Sinalização

AmbientePercebido

Moderadoresdos

Consumidores

Moderadoresdos

Funcionários

Consumidores(cognitivas,

emocionais efisiológicas)

Funcionários(cognitivas,

emocionais efisiológicas)

AproximaçãoX

Afastamento

Interações

Page 40: Ambiente físico: qual o peso dele na percepção do paciente sobre

28

Segundo Hoffman & Bateson (2008), o ambiente físico inclui as seguintes dimensões:

condições ambientais, espaço/função, sinais, símbolos e objetos. As condições do ambiente

incluem ainda elementos como iluminação, qualidade do ar, ruídos e músicas. Estes

elementos ajudam na percepção do posicionamento da empresa, reforçando sua identidade e

seus diferenciais competitivos:

“Administrar estrategicamente o servicescape percebido ajuda a estabelecer uma

estratégia de posicionamento que diferencia a empresa das concorrentes e em última

análise influencia o processo de decisão do cliente quando escolhe entre alternativas

competitivas. A empresa deve desenvolver o servicescapess com o seu mercado-alvo

em mente”. (HOFFMAN & BATESON, 2008, Pág. 259)

Shotstack (1977) afirma que os consultórios médicos são um bom exemplo de como as

evidências podem evidenciar ou minimizar a qualidade percebida dentro de um serviço de

saúde. De acordo com seu artigo, quanto mais elementos intangíveis estão envolvidos na

prestação do serviço, mais o consumidor buscará indícios concretos para classificar como

evidência material e ajudar a confirmar ou refutar sua tomada de decisão.

“Intangibles may come with tangibles trappings but no amount of money can buy

physical ownership of such intangibles as experience (movies), time (consultants) or

process (dry cleaning). A service is rendered. A service is experienced”.

(SHOTSTACK, 1977, Pág. 73)

A experiência com o ambiente também impacta na postura e produtividade da equipe de

colaboradores. Se os funcionários são impactados pelo chamado marketing interno, conforme

diz Berry (1981), pois o “marketing interno é a visão do empregado como cliente e a visão

dos cargos como produtos e a partir daí, um esforço para oferecer o produto interno que

Page 41: Ambiente físico: qual o peso dele na percepção do paciente sobre

29

satisfaça os desejos e necessidades destes clientes enquanto se procura alcançar os objetivos

da organização”.

Na parte do marketing externo, a conduta dos empregados, o design e a decoração do

ambiente também são elementos que comunicam e reforçam uma determinada promessa ao

consumidor (Bitner, 1995).

Sherry Jr. (1998) acrescenta que no ambiente servicescape, a percepção final é uma co-criação

não apenas entre consumidores e prestadores de serviço, mas também entre os profissionais

responsáveis pelo design do espaço.

“Place may eventually become the predominant element on the marketing mix. It

profoundly shapes the nature and reception of the other variables. Indeed, in a post-

instant-gratification era where the interlude between a wish and its fulfillment

becomes vanishingly small, one of marketers´ most pressing concern is to reach the

person who doesn´t know that he or she wants to shop at that moment”. (SHERRY

JR., 1998. Pág. 440).

Na visão de Shostack (1977), o impacto causado pelo ambiente físico criar diferentes

oportunidades para os profissionais de marketing, desde que eles consigam “gerenciar as

evidências físicas” para obter a percepção desejada tanto do público quanto dos

colaboradores.

“Service marketers, on the other hand, should be focused on enhancing and

differentiating realities through manipulation of tangible clues. The management of

evidence comes first for service marketers, because service reality is arrived at by the

consumer mostly through a process of deduction, based on the total impression that

the evidence creates”. (SHOSTACK, 1977, Pág. 78)

Page 42: Ambiente físico: qual o peso dele na percepção do paciente sobre

30

2.4.1 O SERVICESCAPE NO AMBIENTE HOSPITALAR

De acordo com Iunes (1995), a demanda por um bem ou serviço pode ser definida como a

quantidade do bem ou serviço que as pessoas desejam consumir em um determinado período

de tempo, dadas as suas restrições orçamentárias. Arrow, citado por Iunes (1995), afirma que

a demanda em saúde é influenciada por alguns elementos especiais, o que torna os serviços de

atendimento em saúde diferentes dos demais, por exigirem maior atenção do prestador em

relação ao paciente.

Iunes (1995) elenca que a demanda por atenção à saúde ocorre em uma circunstância anormal,

a doença, o que pode comprometer a racionalidade da decisão do consumidor. E não apenas o

consumo de serviços de saúde envolve algum risco (às vezes substancial) para o paciente,

como também o mercado não pode ser utilizado como um processo de aprendizagem. O

paciente geralmente não pode utilizar experiências anteriores, suas ou de terceiros, para

eliminar esse tipo de incerteza.

Para Iunes (1995), o fato de o consumidor haver gostado anteriormente de um produto serve

como informação permanente para que outras vezes ele venha a consumi-lo. No caso da

atenção médica, não há garantia de que uma experiência anterior bem-sucedida, como, por

exemplo, uma cirurgia, se repita da mesma maneira, ainda que sob os cuidados da mesma

equipe médica. Estas condições geram a necessidade de um elo mais forte de confiança no

relacionamento entre o paciente e o seu médico.

Bitner (1995) enumera as principais dimensões do modelo servicescape que podem ser

utilizadas para encorajar ou desestimular atitudes e percepções dos consumidores e dos

colaboradores. Entre eles podemos citar iluminação, som, cheiro, mobília, sinalização visual,

Page 43: Ambiente físico: qual o peso dele na percepção do paciente sobre

31

decoração, entre outros. Mas outros trabalhos também focaram os seus esforços em tentar

compreender mais diretamente como o servicescape se aplica ao ambiente hospitalar.

Hutton & Richardson (1995) cunharam o termo “healthscape” para designar a aplicação do

modelo desenvolvido previamente por Bitner no ambiente de serviços de saúde.

“To improve patient and other purchaser´s perceptions of quality and satisfaction in

health care, management must focus on the controllable physical cues, as well as the

tangible and intangible human components of health services delivery.

Customer/patient expectations for tangibles must be evaluated and met, without being

exceeded. (…) We have coined the term healthscapes to describe the cognitive and

affective influences the tangible environment has on patient satisfaction, perceptions

of quality and certain behavioral intentions, such as willingness to return and

willingness to recommend a provider to family and friends”. (HUTTON &

RICHARDSON, 1995, Pág. 10)

O trabalho de Hutton & Richardson busca mesclar os elementos básicos de atmosfera

definidos por Kotler (1973), com pontos da psicologia ambiental e o modelo servicescape.

“Kotler defined atmospherics as the influence of what we can see, touch, feel, and smell on

consumer behavior. Bitner´s servicescape added the tangible elements of the service provider

to atmospherics” (1995, Pág. 10).

Lee (2011) elenca alguns fatores do servicescape que possuem maior peso no setor de saúde:

fatores ambientais (Temperatura, Qualidade do ar, Acústica, Aconchego do ambiente,

Iluminação, Mobília), fatores de serviço (Conveniência, Privacidade, Facilidade de

comunicação com a equipe, Limpeza, e Wayfinding - conjunto de elementos visuais e de

Page 44: Ambiente físico: qual o peso dele na percepção do paciente sobre

32

layout que orientam uma pessoa a se locomover com segurança e facilidade dentro de

determinado ambiente.

De acordo com Lee (2011), estes fatores são mais importante para a percepção positiva do

paciente. Hutton & Richardson (1995) evidenciam que os elementos físicos no ambiente de

prestação de serviço no ambiente de saúde podem oferecer valiosas estratégias em um

Mercado onde este tipo de diferenciação pode ser a única saída para desenvolver verdadeira

vantagem competitiva.

Lee (2011) acrescenta que é crescente o movimento de consumeirismo entre os pacientes, o

que reforça a necessidade dos provedores de serviços em saúde compreenderem o que

pacientes e seus familiares experimentam dentro de suas unidades hospitalares.

O servicescape dentro do ambiente de saúde também pode focar seus esforços para ajudar no

tratamento e recuperação dos pacientes (Lee, 2011). Um exemplo é que o ambiente da

unidade hospitalar pode ser projetado para encorajar ou desencorajar determinadas atitudes e

comportamentos, estas que podem ser fundamentais para um tratamento mais rápido e eficaz.

De acordo com Bitner & Zeithaml (2008), os psicólogos ambientais sugerem que os

indivíduos reagem aos lugares com duas formas genéricas, e opostas, de comportamento:

aproximação e distanciamento.

“Comportamentos de aproximação incluem todos os comportamentos positivos que

possam ser relacionados a um lugar em particular, como desejo de permanecer,

investigar, trabalhar e apoiar. Os comportamentos de afastamento refletem o oposto –

o desejo de não ficar, não investigar, não trabalhar ou não apoiar. (...) Além de atrair

ou barrar o acesso, o cenário de serviços pode, de fato, influenciar o grau de sucesso

Page 45: Ambiente físico: qual o peso dele na percepção do paciente sobre

33

com que os consumidores e os funcionários realizam as experiências de execução de

seus planos, uma vez dentro do cenário”. (BITNER, M. J. & ZEITHAML, V. A.

2008, Pág. 239)

Já Chang (2000) complementa que as percepções positivas produzidas por um determinado

ambiente podem influenciar os consumidores no seu desejo por ficar, retorna e gastar mais

dinheiro.

Por outro lado, no ambiente de serviços em saúde, os consumidores tendem a se focar mais

nos aspectos negativos. Weinrach (2000) reforça que nos momentos de maior estresse físico

ou mental, as pessoas tendem a observar com maior atenção a todos os detalhes que lhes

incomodam, enquanto Lee (2011) aponta que no ambiente de saúde, boa parte das pessoas

chega já com uma carga emocional grande, e no caso do ambiente possuir elementos de

estranhamento, estes serão ainda mais reforçados pela condição psicológica dos pacientes.

2.5 HOTELARIA E ACOLHIMENTO NA ÁREA HOSPITALAR

Dentro das organizações hospitalares, também está estabelecido o conceito de hotelaria,

oferecendo estrutura mais próxima a um hotel que às unidades de saúde tradicionais, com o

intuito de tornar menos desgastante e mais aconchegante a estadia de pacientes e familiares

nestas instalações.

Uma das definições mais utilizadas para a hotelaria hospitalar é:

“Hotelaria hospitalar é a reunião de todos os serviços de apoio, que, associados aos

serviços específicos, oferecem aos clientes internos e externos conforto, segurança e

bem-estar durante o seu período de internação”. (BOERGER, 2003, Pág. 24)

Page 46: Ambiente físico: qual o peso dele na percepção do paciente sobre

34

De acordo com Boerger (2003), o objetivo é conciliar a saúde e o ato de hospedar bem,

tornando o ambiente mais acolhedor para a família e o paciente. Os benefícios dos serviços de

hotelaria nesse ambiente ajudam a minimizar o desconforto dessa situação, visando tornar a

estadia ,mais agradável. Todas as mudanças devem estar voltadas para o objetivo mais

importante, que é humanizar o ambiente hospitalar.

Com a maior complexidade dos serviços em saúde, o paciente também passa a apresentar

demandas mais complexas e rebuscadas, entre elas a necessidade de uma estrutura que facilite

a sua passagem pela unidade hospitalar. “A partir do conceito de melhoria das condições de

infraestrutura do hospital para atender bem o cliente externo, a hotelaria hospitalar contribui

para dar melhores condições ao profissional que presta serviços ao hospital” (BOERGER,

2003, Pág. 8).

Para Taraboulsi (2004) e Boerger (2003), um dos trunfos da hotelaria hospitalar está na

humanização dos ambientes onde são prestados os serviços, e ajudando a tornar o hospital um

espaço digno para os momentos difíceis dos clientes em saúde.

Dentro deste contexto, o controle de todos os elementos de servicescape é ponto fundamental

para a oferta adequada desta humanização. De acordo com Taraboulsi (2004), a humanização

na área hospitalar resulta da hotelaria hospitalar, conceito que resulta no aconchego físico e na

humanização dos serviços. O autor afirma que a hotelaria hospitalar implica na criação,

inserção e a adaptação de vários departamentos de hotelaria na unidade hospitalar.

“Melhor relacionamento entre pacientes e médicos, com atendimento impecável de

toda a equipe de colaboradores do hospital e bom acolhimento, são fatores que não

Page 47: Ambiente físico: qual o peso dele na percepção do paciente sobre

35

devem ser esquecidos pelos administradores, médicos, enfermeiros e todos os

envolvidos no contato com os pacientes” (BOERGER, 2003, Pág. 234)

Na visão de Ghellere (2001), a humanização é a palavra utilizada para falar da melhoria da

qualidade do atendimento aos clientes. É o cuidado prestado com respeito, dignidade, ternura

e empatia ao cliente e a sua família. A grande questão, segundo ele, é que os gestores em sua

maioria ainda estão mais preocupados com os processos e com questões técnicas, do que com

outros elementos, mais capazes de transmitir e gerar boas percepções e sensações nos

pacientes e seus familiares.

“Consequentemente, nos deparamos com ambientes tecnicamente perfeitos, mas sem

alma e sem ternura. A pessoa que já está vulnerável pela doença deixou de ser o

centro das atenções e foi instrumentalizada em função de determinado fim”.

(GHELLERE, 2001, Pág. 58)

Por outro lado, Silva (2000) enfatiza que muitos gestores têm compreendido a hotelaria

hospitalar como a simples mudança estética de suas instalações e reduzem, erroneamente, o

conceito de hotelaria hospitalar à mera construção de fachadas luxuosas, paisagismo,

corredores agradáveis, cyber cafés, floriculturas, lojas de conveniência, lanchonetes e quartos

sofisticados, que levam seus pacientes a esquecer que estão em um hospital. No entanto, o

conceito de hotelaria hospitalar vai muito além destes parâmetros.

Mais do que beleza, é importante usar a gestão do ambiente para transformar o espaço

hospitalar em uma área estimulante para todos que por ali trafegam. Silva (2000) lembra que

o projeto e a construção das instituições de atenção à saúde podem transformar de uma

instalação assustadora a um ambiente estimulante. Estrutura bonita e moderna é um grande

Page 48: Ambiente físico: qual o peso dele na percepção do paciente sobre

36

diferencial, porém a qualidade do atendimento e do acolhimento são vantagens competitivas

que precisam ser trabalhadas.

Com base neste cenário, o cliente de saúde está cada vez mais ciente de que a tecnologia e o

conhecimento técnico e científico estão praticamente ao alcance de todos, em todos os

hospitais particulares e até em alguns serviços públicos. Este cliente não mais procura

somente pelos benefícios do serviço de saúde; ele prima também, e muito, pelas vantagens

que lhe são oferecidas e que são caracterizadas pelo respeito e solidariedade ao seu estado

físico e emocional (Taraboulsi, 2004)

“O triunfo da hotelaria está na humanização do ambiente hospitalar: serviços

eficientes que encantam, cores suaves, plantas e jardins bem cuidados e,

principalmente, pessoas entusiasmadas interagindo com os clientes de saúde,

revelando de tal forma o segredo dessa nova proposta”. (TARABOULSI, 2004, Pág.

48)

O autor explica que “no contexto da hospitalidade, a hotelaria é vislumbrada como a arte de

oferecer serviços repletos de presteza, alegria, acolhimento, dedicação e respeito; fatores que

geram a satisfação, o encantamento e a fidelização dos clientes” (2004, Pág. 177).

Boeger (2003) ressalta que para a construção da hotelaria com humanização do atendimento,

a arquitetura hospitalar tem papel fundamental no que se refere ao conforto dos seus clientes e

melhoria da produtividade no trabalho da equipe de saúde em geral.

“É evidente que, com o uso de técnicas (...) tem-se um local mais agradável para o trabalho,

tanto para funcionários quanto para acompanhantes e pacientes. O ambiente torna-se menos

agressivo que a imagem convencional de um hospital”. (BOEGER, 2003, Pág. 28)

Page 49: Ambiente físico: qual o peso dele na percepção do paciente sobre

37

Também há recomendação para a construção de espaços especiais e relaxantes para

acompanhantes e visitantes, onde eles possam descansar, conversar e trocar ideias, sem

necessariamente estar na presença do paciente para, por exemplo, tratar de assuntos delicados

sobre o tratamento dele, e também para a família poder conversar sem perturbar o sono e

descanso do paciente.

“Dentro de um hospital, a gestão hoteleira deve respeitar as regras e funções

hospitalares, adaptando-se a elas. Em contrapartida, as funções hoteleiras devem ser

vistas como a tradução da qualidade pela prestação de serviços de atendimento e

acolhimento”. (BOEGER, 2003, Pág. 55)

Para Taraboulsi (2004), a hotelaria hospitalar transforma serviços, pessoas, condutas, espaços

físicos (grifo nosso), decisões estratégicas e ações em todos os níveis da instituição de saúde.

Boerger (2003) ressalta que o investimento no ambiente de serviço em saúde e na

humanização dos processos (hotelaria) vem mostrando-se um bom gerador de retorno

financeiro para estas empresas.

“Em um dos hospitais pesquisados, além do aumento do número de clientes,

percebeu-se um aumento de 15,3% no faturamento anual, após 12 meses de

implantação da hotelaria, concomitante com a implantação de novos leitos.

Verificando dados financeiros do mesmo hospital, percebeu-se que após 12 meses de

implementação, além desse incremento no faturamento, a rentabilidade sobre o lucro

líquido passou de 2,3% para 3,9%”. (BOEGER, 2003, Pág. 91)

Na avaliação de Barbosa, Meira e Dyniewicz (2013), as questões e recursos ligados à área de

hotelaria se tornaram nos últimos anos o principal elemento gerador de diferencial entre as

empresas hospitalares. “A hotelaria hospitalar representa vantagem competitiva, por meio de

Page 50: Ambiente físico: qual o peso dele na percepção do paciente sobre

38

serviços organizados de apoio que assegurem conforto e segurança ao cliente e

acompanhantes”. (BARBOSA, MEIRA, DYNIEWICZ, 2013, Pág. 588)

Na hotelaria, conforme Bitner e Zeithaml (2003), o cenário tem sido usado como elemento

diferenciador, uma vez que neste setor, especialmente, o projeto e a decoração, bem como a

aparência e atitude do pessoal de contato, influenciam as experiências e percepções do cliente.

Por fim, vale destacar a abordagem de Vergara e Carvalho (2002) sobre o marketing

interativo e gestão de microssituações dentro do cenário de serviços:

“A visão do marketing interativo – gestão de microssituações de encontros entre

consumidores e prestadores de serviço como alicerce para a construção gradativa da

satisfação do cliente – fundamenta-se na premissa de que o maior valor criado pela

empresa origina-se das experiências interpretativas propiciadas pelo fenômeno de

serviços”. (VERGARA E CARVALHO, 2002, Pág. 79)

Dentro de um cenário onde o ambiente potencialmente é problemático (hospitalar como

gerador de estresse) e o paciente traz alta carga emocional para o momento da prestação de

serviço, a gestão destas microssituações tornar-se elemento chave para o sucesso da hotelaria.

“O ambiente físico da organização e os diversos elementos que compõem os espaços

de serviços – proporciona o pano de fundo para a performance de serviços. (...) Os

espaços de serviços englobam o cenário e seus elementos tangíveis e intangíveis,

incluindo portanto, a atmosfera ou as condições ambientais que propiciam”.

(VERGARA E CARVALHO, 2002, Pág. 80)

Page 51: Ambiente físico: qual o peso dele na percepção do paciente sobre

39

Ainda segundo Vergara e Carvalho (2002), essas horas são aquelas em que a organização tem

uma oportunidade única de diferenciar sua oferta e constituem, portanto, em campo de

trabalho especialmente interessante e promissor.

Page 52: Ambiente físico: qual o peso dele na percepção do paciente sobre

40

3 METODOLOGIA

Para entender o impacto do ambiente físico na avaliação de qualidade na área hospitalar, foi

realizado um estudo de caso descritivo com o Centro Pediátrico da Lagoa (CPL). Neste estudo

de caso único, foram analisados no ambiente físico do hospital os fatores elencados no

modelo servicescape, decisões estratégicas tomadas pela direção da unidade, pesquisa de

satisfação com pacientes/familiares e modelo de gestão utilizando o ambiente para obter

melhores resultados da equipe interna de colaboradores.

3.1 MÉTODO ESCOLHIDO

Vergara (2005) afirma que o método de pesquisa pode ser definido como o conjunto de

atividades organizadas que, por meio da máxima racionalidade, tornam possível ao

pesquisador desenvolver e concluir satisfatoriamente sua pesquisa, sistematizando a coleta e a

organização dos dados.

Neste trabalho, optou-se pelo estudo de caso único descritivo como ferramenta mais indicada

para analisar o problema proposto.

Na definição de Vergara (1997), um estudo de caso:

“É um circunscrito a uma ou poucas unidades, entendidas essas como uma pessoa,

uma família, um produto, uma empresa, um órgão público, uma comunidade ou

mesmo um país. Tem caráter de profundidade e detalhamento. Pode ou não ser

realizado no campo”. (VERGARA, 1997, Pág. 47)

Page 53: Ambiente físico: qual o peso dele na percepção do paciente sobre

41

De acordo com Yin (2006), o estudo de caso é uma metodologia de pesquisa adequada

quando a forma da questão utilizada na pesquisa contém os termos “como” e “por que”.

Porém, o próprio autor alerta que este método é o que exige maior empenho, dedicação e

seriedade do pesquisador. Ele deve ser produzido com o maior rigor possível (Yin, 2006).

Este trabalho partiu da revisão bibliográfica para buscar referenciais teóricos que dão suporte

à hipótese analisada. Com isso, foi elaborado o estudo de caso descritivo para verificar a

correlação entre estes referenciais e a realidade do hospital estudado.

Para Graham (2010), o benefício de aplicar a metodologia de estudo de caso neste tipo de

contexto é:

“Os estudos de caso representam uma fonte valiosa de recursos de ensino e

aprendizagem não apenas no ambiente tradicional de ensino, como também para fins

de aprendizagem organizacional ou transferência de conhecimento. (...) Uma boa

razão para isso é que os estudos de caso são concebidos para ressaltar detalhes a partir

dos múltiplos pontos de vista daqueles envolvidos em uma situação. Tanto para o

ensino quanto para o entendimento de questões multifacetadas, a complexidade se

aproxima mais da realidade de uma situação do que descrições lineares ou

unidimensionais (...)”. (GRAHAM, 2010, Pág. 23)

Ainda segundo Yin (2006), um estudo de caso serve diretamente a uma investigação empírica

quando se analisa um fenômeno contemporâneo dentro do seu contexto da vida real,

especialmente quando os limites entre o fenômeno e o contexto não estão claramente

definidos.

Page 54: Ambiente físico: qual o peso dele na percepção do paciente sobre

42

Neste sentido, a investigação de um estudo de caso tende a se debruçar sobre uma situação

tecnicamente única, baseando-se em evidências e no desenvolvimento prévio de proposições

teóricas. (YIN, 2006)

Maffezzolli e Boehs (2008) categorizam os estudos de caso em três grupos distintos:

exploratórios, descritivos e explanatórios (ou explicativos). Na visão dos autores:

- O tipo descritivo é aquele que “busca descrever uma situação em detalhes”. O objetivo é

observar, registrar e analisar os fenômenos ou sistemas.

- O tipo exploratório contribui para esclarecer uma situação na qual as informações são

escassas.

- O tipo explicativo, por sua vez, busca explicar a razão, o porquê dos fenômenos, uma vez

que aprofunda o conhecimento de uma dada realidade.

3.2 LIMITAÇÕES

Sobre as limitações do método escolhido, entende-se que a escolha de um método se traduz

em possibilidades e limitações (Vergara, 1997). O estudo de caso em si é um método criticado

(Yin, 2006), por nem sempre trazer consigo o rigor científico e a profundidade adequados.

Maffezzolli e Boehs (2008) enumeram alguns pontos que normalmente são criticados em

relação a estudos de caso, como os fatores que levam à escolha dos estudos, a qualidade do

estudo e os processos de generalização.

Page 55: Ambiente físico: qual o peso dele na percepção do paciente sobre

43

O próprio Yin (2006) afirma que uma das características deste método é a falta de controle do

pesquisador sobre o fenômeno que está sendo abordado. Como resultado, o estudo de caso

está mais voltado para questões onde o pesquisador se debruça sobre fenômenos

contemporâneos para fins de análise (Maffezzolli e Boehs, 2008).

Outras definições sobre estudo de caso são: “a exploração de um sistema limitado ou um caso

(ou múltiplos casos) [...] que envolve coleta de dados em profundidade e múltiplas fontes de

informação em um contexto” (CRESWELL, 1997, apud Maffezzolli e Boehs, 2008).

Segundo Yin (2006), a análise de construção de uma explanação significa estipular elos

causais entre um conjunto presumido de elementos. A construção da explanação pode ser feita

sob a forma de uma narrativa, o que garante maior facilidade na visualização e compreensão

das informações apresentadas. Mas Yin (2006) alerta que “uma vez que as narrativas não

podem ser precisas, os melhores estudos de caso são aqueles em que as explanações refletem

algumas proposições teoricamente significativas”.

O mesmo autor também alerta para o risco do pesquisador se perder diante do processo

iterativo, caso não tenha uma perspicácia apurada, e acaba se distanciando do foco original do

estudo de caso.

A pesquisa acabou sofrendo por uma limitação de acesso aos pacientes (poucas pessoas

disponíveis ou interessadas em falar), o que foi compensado pelo acesso aos recentes estudos

de satisfação conduzidos pela própria administração do hospital.

3.2.1 UNIDADE DE ANÁLISE

Page 56: Ambiente físico: qual o peso dele na percepção do paciente sobre

44

O Centro Pediátrico da Lagoa vem passando por um intenso processo de reestruturação depois

de ser comprado pelo mesmo grupo que opera o ProntoBaby, em 2011. Situado na Av. Lineu

de Paula Machado, 64, Lagoa, o hospital foi totalmente reestruturado e modernizado entre

2011/2012, quando a nova diretoria assumiu a sua gestão do hospital.

Instalado em prédio de quatro andares, o CPLagoa ocupa uma área construída de 3.600 m².

Atualmente, dispõe de 42 leitos, com instalações modernas e apartamentos equipados com ar-

condicionado, refrigerador e TV com programação infantil.

O Hospital possui laboratório de análises clínicas e setor de imagens: raio-X, tomografia

computadorizada, ultrassonografia, ecocardiografia com doppler colorido e intensificador de

imagem (Arco em C) com atendimento 24 horas. O Centro Cirúrgico também está equipado

com Arco em C, preparado para a realização de cirurgias de alta complexidade. A unidade

conta ainda com um Centro de Diagnóstico por Imagem equipado com tomógrafo de última

geração.

Outra preocupação do CPLagoa é com o controle de infecções. A Comissão de Controle de

Infecção Hospitalar (CCIH) é coordenada por médico e enfermeira que acompanham com

atenção as rotinas executadas, garantindo segurança e tranquilidade às famílias e aos

profissionais.

Toda a sua estrutura vem sendo desenvolvida para suportar procedimentos de alta

complexidade, como a quimioterapia e cirurgias mais minuciosas – cardíaca, neurológica,

ortopédica, microcirurgia e reimplantes entre outras – são realizados no hospital, com o

auxílio de equipamentos de vídeocirugia e do intensificador de imagem.

Page 57: Ambiente físico: qual o peso dele na percepção do paciente sobre

45

A qualidade dos medicamentos é controlada por uma equipe de farmacêuticos. A distribuição

dos medicamentos é de responsabilidade da Farmácia Central, que os identifica nominalmente

e os faz chegar aos diferentes setores, inclusive à Farmácia Satélite da UTI e da unidade de

Onco-hematologia.

O hospital conta com emergência, além da estrutura localizada em endereço próximo, na Rua

Jardim Botânico, 448 - Jardim Botânico.

Nas instalações da Av. Lineu de Paula Machado, o hospital conta com:

- 27 quartos;

- 24 quartos e outras três enfermarias com dois leitos;

- 11 leitos de UTI e dois leitos de emergência.

Em seu site institucional, o CPLagoa apresenta sua missão, visão e valores:

Missão: prestar assistência pediátrica integral de qualidade com resolutividade no Estado do

Rio de Janeiro.

Visão: ser reconhecido como instituição de excelência em pediatria.

Valores: comprometimento, humanização, orgulho, respeito e transparência.

O conteúdo também destaca a equipe como um diferencial:

Page 58: Ambiente físico: qual o peso dele na percepção do paciente sobre

46

“Pediatras com larga experiência em atendimentos de baixa, média e alta

complexidade trabalham em conjunto com uma equipe multiprofissional formada por

enfermeiros com especialidade em pediatria e profissionais especializados em

fisioterapia respiratória, motora e em Método Bobath. Completam esse “time” os

profissionais do serviço de Nutrição com experiência em dieta enteral e parenteral

para todas as idades pediátricas”. (www.centropediatricodalagoa.com.br, acessado em

fevereiro de 2014)

O hospital possui suporte a diversas especialidades pediátricas: cirurgiões, ortopedistas,

otorrinolaringologistas, entre outros, além dos serviços especializados de apoio como Centro

de Imagem e Laboratório de Análises Clínicas 24 horas.

O cuidado com as instalações também é destacado no conteúdo institucional:

“Instalações - Todos os apartamentos foram reformados e estão equipados com TV a

cabo, refrigerador e ar-condicionado, e contam com um serviço de hotelaria

diferenciado. Os espaços de convivência também foram reestruturados. Tudo para

garantir conforto e segurança aos pacientes e seus familiares”.

(www.centropediatricodalagoa.com.br, acessado em fevereiro de 2014)

Após as obras de modernização, realizadas em 2013, a unidade passou a contar com:

consultórios exclusivos para o atendimento de crianças e adolescentes; sala de procedimentos

para realização de pequenos procedimentos invasivos imobilizações e reanimação

cardiorrespiratória similar à unidade de alta complexidade, com equipamentos de suporte a

vida; leitos de observação; poltronas exclusivas para a sala de nebulização, centro de imagem

composto de raio X, tomografia computadorizada e ultrassonografia, serviços próprio de

transferência e remoção: o que garante comodidade e atendimento personalizado nas 24h,

laboratório de Análises Clínicas - atendimento 24 horas.

Page 59: Ambiente físico: qual o peso dele na percepção do paciente sobre

47

Após a nova gestão assumir o hospital em 2011, amplas reformas vêm sendo desenvolvidas

na sua estrutura (os valores, tanto da compra do CPLagoa quanto dos investimentos realizados

em obras e infraestrutura não são revelados pela direção do hospital).

Alguns setores ainda passam por reformas, conforme o pesquisador pode constatar na ocasião

em que esteve no Centro Pediátrico.

Os diretores responsáveis pela gestão do hospital são:

Direção Geral – Dr. Mario Eduardo Viana

Direção Administrativa/Comercial - Adm. Ana Paula Ferreira

Direção Médica - Drª. Gina Sgorlon

A escolha do Centro Pediátrico da Lagoa para ser objeto deste estudo de caso se deve

principalmente ao fato da unidade ser alvo de intensos investimentos para reformas e

melhorias de sua estrutura física e do ambiente interno que é oferecido tanto aos pacientes

quanto à equipe de colaboradores.

Vários hospitais particulares poderiam ser objeto deste estudo, mas pelo próprio momento que

o CPLagoa está vivenciando e pelo fato de seus gestores estarem engajados sobre a

importância no ambiente na construção de vantagem competitiva, seu exemplo se mostra

capaz de gerar mais dados interessantes para esta pesquisa.

Page 60: Ambiente físico: qual o peso dele na percepção do paciente sobre

48

Dentro da unidade hospitalar escolhida, serão analisadas as estruturas físicas, a aplicação ou

não do modelo servicescape e os resultados obtidos. Como o estudo de caso documenta a

experiência de uma organização na superação de desafios específicos (Graham, 2010),

permite que profissionais possam ver os fatos e o contexto associado a práticas, e como estas

funcionaram.

De acordo com Graham (2010), um estudo de caso representa uma metodologia interessante

para identificação de uma prática proeminente, ou ainda para ser utilizado como forma

estruturada para compartilhar experiências, revelar desafios e oportunidades, com os quais

uma organização se depara, e comunicar lições aprendidas e práticas pioneiras que podem

auxiliar outros em situações similares.

O estudo de caso, seja único, seja baseado em casos múltiplos, pode fornecer pouca base para

uma generalização científica, mas para Yin (2006), o estudo de caso neste sentido não se

apresenta como uma amostragem, pois seu objetivo é generalizar teorias (generalização

analítica) e não enumerar freqüências (generalização estatística). Em outras palavras, mesmo

em um estudo de caso único, o objetivo é traçar uma análise “generalizante” e não

“particularizante” (Yin, 2006).

A escolha pela elaboração de um estudo de caso único atende a um dos critérios colocados

pelo próprio Yin (2006):

“No geral, o projeto de caso único é eminentemente justificável sob certas condições

– quando o caso representa (a) um teste crucial para a teoria existente, (b) uma

circunstância rara ou exclusiva, (c) um caso típico ou representativo, ou quando o

caso serve a um propósito (d) revelador ou (e) longitudinal”. (YIN, 2006, Pág. 67)

Page 61: Ambiente físico: qual o peso dele na percepção do paciente sobre

49

Entende-se que a escolha pelo modelo único neste caso tem como pressuposto que a análise

aprofundada da unidade em questão (Centro Pediátrico da Lagoa) pode ser um caso

representativo.

Segundo Maffezzolli e Boehs (2008), a escolha do caso para o desenvolvimento do estudo

pode obedecer a alguns critérios. Um deles é o seu caráter de uniqueness (ser único). Um

outro critério é pelo fato do caso em questão ser considerado intrínseco ou instrumental, que é

a abordagem escolhida neste trabalho. Neste tipo de estudo de caso, um caso particular é

examinado para prover insights em um assunto ou para o refinamento da teoria. Segundo os

autores, o caso em si não é escolhido por ser único e o interesse por ele é secundário, pois seu

papel é de apoio para fornecer a compreensão de algo.

3.2.2 SATURAÇÃO TEÓRICA

O desenvolvimento do estudo de caso descritivo envolverá a condução de entrevistas com três

públicos distintos: gestores, colaboradores e pacientes. Para Bauer e Aarts (2007), é complexo

definir um padrão para o tamanho do corpus em pesquisas qualitativas. O caminho ideal para

delimitar se baseia no alcance da saturação teórica. Para isso, os autores sugerem o

estabelecimento de padrões que devem ser observados na amostra para que sirvam de indícios

de que chegou-se ao corpus adequado, entre elas a própria evidência para a saturação.

O termo corpus vem da Linguística e foi incorporado às ciências sociais ao pensar sobre a

melhor forma de seleção de dados para pesquisas qualitativas (BAUER & AARTS, 2007).

Outra definição para corpus é “uma coleção finita de materiais, determinada de antemão pelo

analista com (inevitável) arbitrariedade e com a qual ele irá trabalhar”. (Barthes, 1967, Pág.96

in BAUER & AARTS, 2007, Pág. 44)

Page 62: Ambiente físico: qual o peso dele na percepção do paciente sobre

50

Segundo Fontanella & Turato (2008):

“A avaliação da saturação teórica a partir de uma amostra é feita por um processo

contínuo de análise dos dados, começado já no início do processo de coleta. Tendo

em vista as questões colocadas aos entrevistados, que refletem os objetivos da

pesquisa, essa análise preliminar busca o momento em que pouco de substancialmente

novo aparece, considerando cada um dos tópicos abordados (ou identificados durante

a análise) e o conjunto dos entrevistados”. (FONTANELLA & TURATO, 2008, Pág.

20)

Segundo Bauer e Aarts (2007), os procedimentos para delimitação do corpus da pesquisa, são

a) selecionar preliminarmente, b) analisar essa variedade; c) ampliar o corpus até que não se

descubra mais variedade, ou seja, atinja-se o ponto de saturação teórica.

“Observe-se, então, que o fechamento da amostra resulta de um balanço que o

pesquisador faz sobre valorizar, no conjunto das informações obtidas, as diferenças

ou, em contraposição, o que se repete. Isso leva à reflexão sobre a relação indivíduo-

grupo e sobre qual desses aspectos a abordagem teórica do pesquisador privilegia”.

(FONTANELLA & TURATO, 2008, Pág. 23)

Ainda de acordo com Fontanella & Turato (2008), a constatação de saturação depende dos

objetivos do pesquisador: se ele tem como objetivo a captação daquilo que caracteriza o

grupo, a saturação amostral se dá num determinado nível. “Este nível poderá garantir maior

validade externa, ou seja, maior transferibilidade das interpretações para contextos mais

amplos”. (FONTANELLA & TURATO, 2008, Pág. 23)

“Amostragem por saturação é uma ferramenta conceitual de inequívoca aplicabilidade

prática, podendo, a partir de sucessivas análises paralelas à coleta de dados, nortear

Page 63: Ambiente físico: qual o peso dele na percepção do paciente sobre

51

sua finalização. O ponto de saturação da amostra depende indiretamente do

referencial teórico usado pelo pesquisador e do recorte do objeto e diretamente dos

objetivos definidos para a pesquisa, do nível de profundidade a ser explorado”.

(FONTANELLA & TURATO, 2008, Pág. 25)

Porém, Bauer e Aarts (2007) lembram que o pesquisador que utilizar este método deve

“renunciar a qualquer esperança de conseguir um corpus totalmente representativo, para

propósitos gerais, com respeito a um tópico”. (BAUER & AARTS, 2007, Pág. 60).

Ainda sobre a saturação, Fontanella & Turato (2008) adicionam que:

“Dessa forma, as semelhanças predominantemente indicarão, na perspectiva social, o

discurso do grupo, da formação social à qual pertence o sujeito ou, na perspectiva

psicanalítica, as estruturas do aparelho psíquico mais universais ou gerais. Por sua

vez, as diferenças marcarão as vivências pessoais e as condições imediatas de

produção da fala, podendo incluir os fenômenos ditos transferenciais na relação com

pesquisador ou com a instituição onde a pesquisa é conduzida. Entretanto, por ser

uma ferramenta inerentemente influenciada por fenômenos cognitivos e afetivos da

dupla pesquisador/pesquisados, na prática da pesquisa qualitativa o encontro desse

ponto de saturação está sujeito a imprecisões”. (FONTANELLA & TURATO, 2008,

Pág. 26)

3.3 DESAFIOS INERENTES À METODOLOGIA ESTUDO DE CASO

Para Demo (2011), fazer um estudo de caso é realçar um caso apenas e a partir de

aprofundamentos, verificar dinâmicas e estruturas que poderiam ocorrer também em outros

casos. O autor lembra que a ciência tende a não se interessar tanto por casos singulares, haja

Page 64: Ambiente físico: qual o peso dele na percepção do paciente sobre

52

vista que a perspectiva é levantar regularidades e recorrências para que estas ajudem a

estruturar ordenadamente os fenômenos.

Porém, o estudo de caso não permite propriamente uma generalização (Demo, 2011), pois “se

de muitos casos, não se podem induzir conclusões gerais, muito menos de um só. Mas pode

ser direcionado a pinçar características que poderiam ocorrer em outros casos, fazendo, então,

do caso, fonte de inspiração pelo menor”. (Pág. 134).

Para Joia (2004), a metodologia de estudo de caso se torna mais comum na área de ciências

sociais aplicadas, entre outras razões, por permitirem explorar novas áreas do conhecimento,

no caso, os exploratórios, segundo definição de Yin (2006). Contudo, Joia chama a atenção

para o fato de que apesar da importância, os estudos de caso apresentam alguns desafios, em

especial pela “dificuldade de generalizar (o que também se entende por validade externa),

tornando-se presas fáceis de avaliadores rigorosos de trabalhos científicos que, [...]

questionam, muitas vezes impiedosamente, as conclusões a ele associados (2004, Pág. 124).

Ainda segundo Joia (2004), o objetivo de um estudo de caso é generalizar e não particularizar.

Para se aproximar ao máximo de seu objetivo, esta metodologia deve vir associada a um

mixer de evidências qualitativas e quantitativas, sendo estas necessárias para a fundamentação

de um estudo.

O autor admite que embora a área de gestão empresarial esteja buscando um maior rigor

científico em suas análises e para isso, focando mais em pesquisas quantitativas e modelos

estatísticos, é fato que a administração de empresas é bastante suscetível a fatores indutores de

um determinado fenômeno. Por conseguinte, em alguns casos é possível que modelos

Page 65: Ambiente físico: qual o peso dele na percepção do paciente sobre

53

matemáticos e estatísticos usados para mensurar e/ou compreender um fenômeno, podem não

estar de fato simulando o fenômeno real. Nas palavras do próprio Joia:

“Muitas vezes, complexos modelos matemáticos e estatísticos são usados, enquanto

que vetores indutores do fenômeno ou não são considerados ou não podem ser

medidos com acurácia. Ou seja, os dados nada têm a ver com a realidade e, depois de

tratados analiticamente, conduzem a resultados obtidos com extrema sofisticação,

porém que em nada simulam o fenômeno real; apenas a modelagem matemática”.

(JOIA, 2004, Pág. 146).

O autor ainda complementa a sua defesa da metodologia de estudo de caso afirmando que

dentro de um cenário de extrema complexidade em que se tornou a gestão empresarial, o

cenário atual demanda cada vez mais soluções “factíveis e adequadas” para a realidade.

Segundo Yin (2006), um estudo de caso exemplar deve ser: significativo; completo; deve

apresentar evidências suficientes; considerar perspectivas alternativas e; ser elaborado de

maneira atraente.

O mesmo autor explica que, como estratégia de pesquisa, o estudo de caso pode ser utilizado

para contribuir em muitas situações a partir do conhecimento que já se tem sobre fenômenos

individuais, organizacionais, sociais, políticos e de grupo, além de outros fenômenos

relacionados. Na sua própria definição, um bom estudo de caso deve estar baseado em:

entrevistas focais; entrevistas espontâneas; observações em visitas aos locais e; análise de

documentos internos.

Page 66: Ambiente físico: qual o peso dele na percepção do paciente sobre

54

A partir das conclusões obtidas em cada uma dessas fontes, será feita a triangulação dos

dados, buscando a convergência de evidências (Yin, 2006). De posse das evidências, o passo

seguinte será seguir as proposições teóricas a respeito do tema pesquisado.

Outro cuidado que deve ser tomado é com as chamadas explicações concorrentes:

“Em primeiro lugar, a análise deve deixar claro que ela se baseou em todas as

evidências. As estratégias analíticas por você utilizadas, incluindo o desenvolvimento

de hipóteses concorrentes, devem ser exaustivas. Sua análise deve demonstrar como

ela procurou tantas evidências quanto se encontravam disponíveis, e suas

interpretações devem considerar todas as evidências e não deixar nenhuma

indefinição. Sem atingir esse padrão, sua análise pode se mostrar vulnerável a

interpretações alternativas baseadas na evidência que você (inadvertidamente)

ignorou. Em segundo lugar, sua análise deve abranger todas as principais

interpretações concorrentes. Se uma outra pessoa tiver uma explicação alternativa

para uma ou várias de suas descobertas, faça desta explicação alternativa uma

explicação concorrente”. (YIN, 2006, Pág. 167)

De acordo com Farquhar (2012), a metodologia de estudo de caso permite ao pesquisador

adquirir conhecimento aprofundado e singular sobre algum fenômeno contemporâneo.

Quando aplicado ao ambiente de negócios, este método parte da coleta de informações e

evidências de que um determinado fenômeno acontece de acordo com algumas variáveis

identificadas durante a pesquisa, encontrando-se alguma correlação entre elas.

Ainda segundo o autor, os estudos de caso são pesquisas demasiadamente empíricas, que

servem para responder a questões que necessitam tanto da experiência vivenciada dentro do

contexto quanto do arcabouço teórico.

Page 67: Ambiente físico: qual o peso dele na percepção do paciente sobre

55

Mesmo que o resultado final seja uma análise mais interpretativa (Vergara e Carvalho, 2002),

a partir da análise e das discussões levantadas, é de se esperar que deste trabalho sejam

criadas hipóteses testáveis em futuros trabalhos acadêmicos que utilizem o método hipotético-

dedutivo.

Outro ponto é a maximização possível do aprendizado gerado pelo estudo de caso único.

Stake (1995) adverte que a situação mais corriqueira é que o pesquisador não tenha o tempo e

os recursos em abundância, o que quase sempre o leva a escolha o caso que será objeto de sua

análise levanto em conta também aspectos práticos como a facilidade de acesso a ele e a

hospitalidade com a qual a organização recebe tal atividade em seu dia a dia.

Porém, lembra o autor, estes elementos jamais devem ficar acima de aspectos fundamentais

da pesquisa, como a relevância, unicidade e contextos que tornam um caso em particular

interessante e conectado ao tema pesquisado.

3.4 COLETA DE DADOS

A coleta de dados envolverá entrevistas informais, observação, consulta a documentos do

hospital e visita aos diversos setores do mesmo. De acordo com Stake (1995), o acesso ao

ambiente em questão no estudo de caso é um aspecto crítico para a sua realização.

Segundo Stake (1995), não se busca um estudo de caso na tentativa de compreender outros,

mas o pesquisador possui como obrigação primordial entender o caso que está sendo objeto

da sua análise. A partir deste entendimento, ele poderá obter insights e gerar hipóteses que

serão aplicadas posteriormente em outros casos ou outras pesquisas.

Page 68: Ambiente físico: qual o peso dele na percepção do paciente sobre

56

Farquhar (2012) explica que a correta condução da coleta de dados garante que o trabalho de

pesquisa tenha uma “coluna dorsal”.

Maffezzolli e Boehs (2008) afirmam que a partir de uma coleta de dados rica, é possível fazer

uma melhor triangulação dos dados. A triangulação tem sido compreendida como a adoção de

múltiplas percepções para clarear o significado e, de certa forma, verificar a repetição de

determinada observação ou interpretação alcançada por uma fonte de dados, em comparação

com outras fontes utilizadas. Mas:

“Como observações ou interpretações não são perfeitamente replicáveis, a

triangulação serve também para clarear o entendimento das diferentes formas pelas

quais o fenômeno é percebido”. (MAFFEZZOLLI E BOEHS, 2008, Pág. 104).

Para BAUER & AARTS (2007) toda pesquisa social empírica seleciona evidências para

argumentar e necessita justificar a seleção que é a base de investigação, descrição,

demonstração, prova ou refutação de uma afirmação específica.

3.5 FONTES DE EVIDÊNCIA

3.5.1 OBSERVAÇÃO

Para a condução da pesquisa, foi realizada uma visita ao Centro Pediátrico da Lagoa, que

aconteceu no dia 29 de abril de 2014. O pesquisador chegou à unidade por volta das 9:00 da

manhã, sendo recebido pela coordenadora do Centro de Apoio ao Familiar (CAF), Shirley

Santos.

Page 69: Ambiente físico: qual o peso dele na percepção do paciente sobre

57

Ao todo, a visita durou cerca de oito horas, divididas entre conhecer todas as instalações da

unidade, foto e observação dos espaços, consulta a documentos sobre pesquisa de satisfação

do hospital, e as entrevistas com gestores, colaboradores e pacientes.

3.5.2 ENTREVISTAS

As entrevistas, por sua vez, tiveram a duração média de 20 a 25 minutos cada. Todas as

entrevistas foram presenciais e tiveram o áudio captado com a ajuda de equipamento digital.

Cada entrevista foi conduzida livremente entre o pesquisador e o entrevistado, sempre em

ambientes fechados e sem a interferência de terceiros. O roteiro das entrevistas contou com

perguntas abertas e em momentos específicos, foi pedido aos entrevistados que dessem nota

para aspectos enumerados pelo pesquisador a respeito do ambiente físico do Centro Pediátrico

da Lagoa.

As entrevistas foram divididas em três focos, basicamente, a saber:

Avaliação dos gestores

Avaliação dos colaboradores

Avaliação dos pacientes

Na avaliação com os gestores, foi adotado o roteiro que consta no Apêndice:

No caso específico dos pacientes, por estarmos tratando de um hospital pediátrico, o foco está

na avaliação dos pais e responsáveis pelas crianças. De qualquer forma, o pesquisador teve

Page 70: Ambiente físico: qual o peso dele na percepção do paciente sobre

58

acesso a inúmeras cartas e declarações produzidas pelas próprias crianças, onde fica ressaltada

sua percepção sobre o ambiente e a qualidade do atendimento.

Neste tipo de pesquisa dentro da área hospitalar, é importante olhar para pacientes e para os

seus acompanhantes, em geral familiares, pois estes dois grupos podem ter percepções

absolutamente distintas sobre a qualidade e o impacto do ambiente no serviço.

Pela particularidade desse trabalho tratar de um hospital totalmente pediátrico, esta pesquisa

não consegue explorar tanto a percepção dos pacientes sobre os pontos abordados.

Durante a visita para a produção do estudo de caso, também foram feitas fotos para compor o

trabalho e enfatizar o cuidado que a administração tem com os espaços construídos para

pacientes e colaboradores do centro pediátrico. Além das fotos registradas pelo próprio

pesquisador, algumas imagens foram cedidas diretamente do CAF (Centro de Apoio ao

Familiar), que tem por procedimento usual registrar as atividades e eventos envolvendo

pacientes e equipe de atendimento no dia a dia do hospital.

3.5.3 DOCUMENTOS

O pesquisador também teve acesso a documentos internos de alguns setores do hospital, em

especial a pesquisas de satisfação realizadas pela gestão atual da unidade. Também foi

possível acessar documentos e arquivos do Centro de Apoio ao Familiar (CAF).

3.5.4 ANÁLISE DE DADOS

Page 71: Ambiente físico: qual o peso dele na percepção do paciente sobre

59

O modelo servicescape proposto por Bitner (1992) elenca algumas dimensões do ambiente

onde ocorre a prestação de serviço, busca entender como estas informações são interpretadas

pelos moderadores do ambiente tanto por parte dos consumidores quanto por parte dos

prestadores de serviço, analisa as respostas cognitivas geradas pelo ambiente, para então

explicar um possível movimento de aproximação ou afastamento destes grupos em relação ao

ambiente analisado.

A partir das dimensões, este trabalho organizarou as informações colhidas no estudo de caso,

fazendo a correlação destas informações com a teoria em questão e observando se o modelo

serve para explicar o movimento de afastamento ou de aproximação proposto nos estudos

prévios sobre impacto do ambiente físico nos serviços.

O setor de hotelaria hospitalar do CPLagoa também recebe atenção especial na construção

deste estudo de caso, por ser ele o responsável por boa parte dos processos que garantem que

os elementos do servicescape estejam de acordo com o planejado.

Page 72: Ambiente físico: qual o peso dele na percepção do paciente sobre

60

4 RESULTADOS

Desde 2011, quando a nova administração assumiu o Centro Pediátrico da Lagoa, intensos

investimentos vêm sendo realizados com atenção especial a melhorias na infraestrutura e no

ambiente, com foco na humanização e na oferta de serviços que estejam no mesmo patamar

que serviços pediátricos de excelência internacional, conforme afirma a diretora médica do

hospital, Dra. Gina Sgorlon:

“O hospital possui um escritório de arquitetura que desenvolve os ambientes levando

em conta a qualidade e a sensação de acolhimento. Além disso, pela própria vivência

do dr. Mario, Diretor Geral, em hospitais que ele visitou dentro e fora do Brasil,

sempre esteve claro que o objetivo era fazer com que o paciente se sentisse em um

ambiente menos hostil, pois o hospital é um ambiente hostil. Tentamos manter este

ambiente de forma mais acolhedor possível para o paciente e também para os pais.

Eles estando tranqüilos, ajudam os pacientes e melhoram a resposta ao tratamento,

que se torna mais rápida”. (SGORLON, 2014, em entrevista ao pesquisador)

O valor investido até o momento não é revelado pela administração no hospital, mas as obras

de reforma e melhoria são contínuas, desde que a unidade foi adquirida em 2011. Alguns

setores ainda passam por reformulação. Na ocasião em que o pesquisador esteve no hospital,

foram visitados alguns setores que não foram inaugurados, bem como parte do departamento

administrativo que também passa por obras de reestruturação.

Ao mesmo tempo em que investe na melhoria dos espaços internos do hospital, os gestores do

CPLagoa também mostram uma preocupação com a qualidade dos colaboradores que atuam

na unidade, bem como sua motivação e empenho para a execução das tarefas no dia a dia. A

Page 73: Ambiente físico: qual o peso dele na percepção do paciente sobre

61

administração propõe algumas ferramentas para melhorar a performance da equipe, além de

sistemas de avaliação.

“Os funcionários também precisam estar satisfeitos na hora da assistência, pois o

ambiente é hostil para eles também. O CTI, por exemplo, é muito estressante e

tentamos reduzir isso com a equipe. Temos a musicoterapia que é para os pacientes,

mas também para a equipe. (SGORLON, 2014, em entrevista ao pesquisador)

Em paralelo, um ano após assumir por completo do Centro Pediátrico da Lagoa, a nova gestão

iniciou uma pesquisa de satisfação periódica, avaliando diversos aspectos do atendimento

hospitalar e o grau de aceitação dos pacientes/familiares durante o período de hospedagem na

unidade. As pesquisas de satisfação são conduzidas e tabuladas pelo núcleo coordenado por

Shirley Santos, o Centro de Apoio ao Familiar (CAF).

A partir destas informações, tanto a direção médica quanto a direção administrativa têm

melhores condições de avaliar quais áreas/elementos estão gerando ou não satisfação junto ao

público-alvo do Centro Pediátrico da Lagoa.

4.1 ANÁLISE DAS EVIDÊNCIAS FÍSICAS

Em parceria com o CAF funciona o departamento de hotelaria hospitalar, que cuida para que

todo o ciclo de atendimento ao paciente, desde a sua chegada até a sua alta seja confortável,

acolhedor e funcione dentro dos parâmetros previstos pela administração.

Page 74: Ambiente físico: qual o peso dele na percepção do paciente sobre

62

O departamento de hotelaria é coordenado por Ednalda Arruda, que explica o funcionamento

e as principais atribuições e responsabilidades suas e de sua equipe:

“O setor de hotelaria é responsável por três processos principais: a portaria, onde

acontece a entrada do paciente. O segundo é o processo de higienização do quarto e a

terceira é a rouparia, para a entrega do quarto ao paciente. Outro processo importante

é o gerenciamento de resíduos, que é a etapa final de tudo. Então cuidamos do

paciente desde a entrada, na admissão do paciente, recepção, internação e saída”

(ARRUDA, 2014, em entrevista ao pesquisador).

Ao lado disso, há uma preocupação em humanizar todos os processos dentro da unidade

hospitalar. Essa preocupação pode ser observada na maneira como os diálogos são conduzidos

e também nos ambientes e atividades propostas pelo CAF.

Em todos os ambientes, existe um cuidado com a decoração e a disposição dos elementos para

gerar uma sensação de familiaridade e aconchego. Na recepção, por exemplo, há um aquário

cuja estrutura também pode ser vista no corredor interno à sala de espera.

A disposição estratégica do aquário neste ambiente tem como objetivo “acalmar e distrair

tanto os pequenos pacientes quanto os seus acompanhantes”, de acordo com a coordenadora

do Centro de Apoio ao Familiar (CAF), Shirley Santos.

No outro lado do aquário, que dá para um dos corredores do hospital, o local costuma ser

ponto de visita de crianças que estão internadas na unidade, criando um ambiente de

descontração que tenta reduzir o caráter “hostil” do contexto hospitalar.

Page 75: Ambiente físico: qual o peso dele na percepção do paciente sobre

63

Figura 04 – Recepção do CPLagoa. Foto tirada pelo pesquisador.

Um ponto que favorece a construção de um ambiente interno que favoreça a prestação do

serviço em saúde é que o Centro Pediátrico da Lagoa é uma unidade totalmente voltada para o

público infantil. No planejamento e desenho dos ambientes, o fato de não existirem pacientes

e especialidades com foco em diferentes faixas etárias permite à administração concentrar

todos os seus esforços nas necessidades e demandas do público pediátrico, o que facilita a

administração de evidências físicas.

“Um fator é que somos um hospital exclusivamente pediátrico. Isso nos facilita, pois

ao contrário de um hospital geral, que acaba misturando os ambientes, aqui

conseguimos manter maior controle sobre o espaço. Temos como dar maior foco e

atenção a determinados aspectos. O ambiente faz parte do planejamento estratégico

do hospital”. (SGORLON, 2014, em entrevista ao pesquisador)

Page 76: Ambiente físico: qual o peso dele na percepção do paciente sobre

64

Mesmo que o CPLagoa possua espaços destinados a pacientes com doenças mais graves, há

uma clara tentativa de trabalhar todos os ambientes para que eles sejam percebidos como

menos hostis e mais amistosos às famílias que passam algum tempo na unidade.

Figura 05 – Detalhe na decoração de um dos quartos do CPLagoa. Foto tirada pelo pesquisador.

O investimento neste tipo de decoração e layout possui o mesmo efeito, na visão de Bitner

(1992), que as embalagens oferecem no marketing de bens de consumo.

Shostack (1977) ressalta a importância dos elementos que proveem evidências físicas e

materiais dentro de um ambiente onde os elementos intangíveis são mais proeminentes e

relevantes para a avaliação feita pelo consumidor.

Para Lee (2011), os provedores de serviços em saúde devem ter especial atenção aos aspectos

do ambiente físico, pois eles atuam encorajando ou desencorajando determinadas sensações e

atitudes dentro da estrutura hospitalar, inclusive impactando o processo de cura dos pacientes.

Page 77: Ambiente físico: qual o peso dele na percepção do paciente sobre

65

No caso de um ambiente de serviço em saúde, Chang (2000) diz que as percepções positivas

causadas pela estrutura física e pelo ambiente construído pelo prestador vão influenciar

diretamente no desejo das pessoas de permanecerem no local e, em determinados casos, na

predisposição em realizarem maiores gastos.

Na ocasião em que o pesquisador esteve no hospital, foi constatado que há uma preocupação

da administração do CPLagoa em oferecer ambientes centrados nas necessidades de pacientes

e familiares. Uma particularidade do hospital pediátrico é que muitas crianças gostam de

deitar e rolar pelo chão, o que demanda um cuidado redobrado com limpeza e higienização

dos espaços. Outro ponto é que qualquer objeto, material o estrutura que esteja acessível em

alturas mais baixas precisa ser repensado ou adaptado. Um exemplo são as tomadas: todas

precisam ter uma espécie de “capa” de proteção, impedindo que a criança ponha o dedo e

acaba se ferindo com uma descarga elétrica. Este é um pequeno exemplo das adaptações

demandadas neste ambiente e que realmente funcionam, pois o pesquisador testemunhou a

rapidez de uma criança em alcançar uma tomada na recepção e tentar acessá-la com o dedo.

- Temperatura

A temperatura nas instalações do Centro Pediátrico é mantida sob controle e nos quartos, cada

família pode ajustar o funcionamento do ar condicionado da maneira que julgar mais

conveniente. A exceção fica por conta de espaços onde a saúde mais delicada dos pacientes e

os próprios equipamentos envolvidos demandam que a temperatura seja mantida a níveis mais

baixos.

Na entrevista com pacientes, foi constatado que no quesito temperatura, há satisfação por

parte dos usuários do hospital. Pelo fato deste elemento ser, em alguns casos, necessariamente

Page 78: Ambiente físico: qual o peso dele na percepção do paciente sobre

66

mantido sob controle por requisitos do próprio ambiente, a temperatura muitas vezes não é

questionada, pois há este entendimento por parte dos usuários.

E como nos quartos, há instalação de ar condicionado com controle remoto, neste caso a

temperatura fica sob o controle direto dos usuários.

Mesmo em outros espaços, de circulação, exame ou recepção, o ambiente é muito bem

climatizado, conforme o pesquisador pode constatar durante visita à unidade.

- Qualidade do ar & Odores

Da mesma forma que a temperatura, a qualidade do ar é muito bem controlada em todos os

ambientes do Centro Pediátrico da Lagoa. A qualidade do ar faz parte de dois importantes

parâmetros dentro da área hospitalar, que são a higienização do ambiente e a harmonia do

ambiente, conforme explicação da coordenadora de hotelaria hospitalar, Ednalda Arruda:

“O ambiente precisa estar sempre em harmonia. Ele deve estar sempre higienizado,

limpo e organizado, para assim a qualidade aparecer. Se o paciente ao chegar,

encontrar uma recepção desorganizada, isso já gera um problema. Esse é o primeiro

impacto dele com a instituição e ele vai entender que toda a instituição funciona desta

maneira”. (ARRUDA, 2014, em entrevista ao pesquisador).

De acordo com Bitner (1992), todos os elementos do ambiente que podem ser experimentados

fisicamente se tornam evidências que tangibilizam, na visão do usuário, a qualidade de um

serviço.

- Ruídos & Música

Page 79: Ambiente físico: qual o peso dele na percepção do paciente sobre

67

Todos os sons e ruídos no ambiente são muito bem gerenciados no Centro Pediátrico da

Lagoa. Como é próprio de ambientes hospitalares, não há barulho em excesso e há um

cuidado de toda a equipe e prestadores de serviço para não incomodar durante a estadia de

pacientes e seus familiares. A coordenadora do Centro de Apoio ao Familiar (CAF), Shirley

Santos, informa que os colaboradores são instruídos a tomarem muito cuidado neste aspecto,

inclusive para não causarem má impressão ou gerarem algum tipo de constrangimento.

Em determinada ocasião, ela teve que alertar uma funcionária da limpeza para que não

“cantarolasse” durante o serviço, principalmente porque essa atitude poderia ser encarada

como falta de respeito por alguma família que estivesse enfrentando uma situação de estresse

ou delicada.

Da mesma forma que os ruídos e o som são extremamente controlados, não há música

ambiente nos espaços do hospital. Nos quartos, a família pode optar por assistir TV, pois há

serviço de canais por assinatura disponíveis.

A música é usada de uma outra maneira: há sessões de musicoterapia disponíveis tanto para

os pacientes quanto para a equipe do hospital.

- Mobiliário & Equipamentos

Na mobília e principalmente nos equipamentos, há uma preocupação da administração do

Centro Pediátrico da Lagoa de oferecer as melhores condições para os seus pacientes.

De acordo com a coordenadora de hotelaria hospitalar, Ednalda Arruda, tudo é trabalhado nos

espaços do hospital para compor a decoração. “Trabalhamos as decorações e os efeitos e

Page 80: Ambiente físico: qual o peso dele na percepção do paciente sobre

68

pinturas dos quartos de forma muito especial. Todos os novos setores que estamos

inaugurando como o de hematologia, oncologia e transplantes já obedecem a estes

parâmetros”, afirma.

No que tange o investimento em equipamentos de ponta, embora a administração não informe

os valores, afirma-se que há um investimento constante para oferecer o melhor aos usuários

do CPLagoa.

Figura 06 – Visão de um quarto do CPLagoa. Foto tirada pelo pesquisador.

- Layout & Estilo

No Centro Pediátrico da Lagoa, “o ambiente é pensado como um elemento estratégico do

hospital”, segundo a Dra. Gina Sgorlon, diretora médica do hospital. Há um escritório de

arquitetura especialmente designado para este fim, do desenvolvimento de ambientes a um

estilo próprio dentro da unidade.

Page 81: Ambiente físico: qual o peso dele na percepção do paciente sobre

69

Além do design em si, também é preciso pensar no conforto dos familiares que acompanham

os pacientes em jornadas que, em alguns casos, “podem durar meses”, nas palavras de Shirley

Santos, coordenadora do Centro de Apoio ao Familiar (CAF).

O layout que facilita a organização também gera um diferencial para a equipe de

colaboradores. Na visão da coordenadora de hotelaria hospitalar, Ednalda Arruda, os

funcionários “sentem diretamente os benefícios de um ambiente mais equilibrado”, por duas

razões. Por um lado, este ambiente menos hostil ajuda a suportar as jornadas e ameniza as

respostas emocionais mesmo em situação de maior estresse. O segundo ponto apontado pela

coordenadora tem relação direta com a boa aceitação dos pacientes e seus familiares.

“O ambiente mais equilibrado e estruturado fatalmente reduz as reclamações. Eles são

a linha de frente de atendimento e sentem esse efeito diretamente. Se o ambiente está

mais harmonioso, fatalmente as queixas serão reduzidas e isso torna o trabalho deles

mais tranqüilo. Eles estão em contato com as pessoas diariamente. Com o ambiente

mais harmonioso, o funcionário sente maior satisfação em vir trabalhar, pois isso

impacta diretamente no seu trabalho. Se por outro lado, o ambiente não garante esta

boa estrutura, obviamente o funcionário já não terá a mesma satisfação”. (ARRUDA,

2014, em entrevista ao pesquisador).

O layout adequado não faz com que o paciente e seus acompanhantes desacreditem que estão

em um hospital, mas ajuda a transmitir melhor sensação de acolhimento, conforme afirma

mãe de paciente, em entrevista ao pesquisador

- Sinalização

Page 82: Ambiente físico: qual o peso dele na percepção do paciente sobre

70

No quesito sinalização, o Centro Pediátrico da Lagoa oferece bom suporte aos seus usuários,

com boa sinalização em todas as suas instalações. Os espaços e a arquitetura bem desenhada

colaboram para que o trânsito de pessoas, sejam funcionários, pacientes, familiares e terceiros

seja encaminhado corretamente dentro da unidade hospitalar.

Figura 07 – Exemplo de sinalização dentro do CPLagoa. Foto tirada pelo pesquisador.

4.2 TANGIBILIZANDO A SATISFAÇÃO

Além dos itens que servem como elementos básicos dentro do modelo servicescape, a

satisfação do ambiente é complementada pelo atendimento e serviços de hotelaria hospitalar.

Isso requer tanto cuidados em pequenos detalhes referentes ao acolhimento dentro da unidade

hospitalar. De acordo com Shirley Santos, coordenadora do Centro de Apoio ao Familiar

(CAF), existe um cuidado para os ambientes onde não há janela ou visão direta para o lado de

fora do prédio. “Temos o cuidado de, por exemplo, em quartos sem janela, colocarmos

Page 83: Ambiente físico: qual o peso dele na percepção do paciente sobre

71

pinturas na parede que transmita certa sensação de amplitude e liberdade. Isso acalma as

crianças, que estão vendo os desenhos nas paredes”, afirma.

Outro cuidado diz respeito à própria distribuição de pacientes pela estrutura do hospital.

Superadas as questões médicas ligadas à natureza e à gravidade de cada mazela apresentada

pelo paciente, a administração do hospital procura ocupar os quartos com melhor visibilidade

para o exterior do prédio com famílias que potencialmente terão maior tempo de estadia no

local.

De acordo com Shirley Santos, coordenadora do Centro de Apoio ao Familiar (CAF), os

quartos com vista para a Lagoa “são geralmente reservados para crianças que vão passar mais

tempo no hospital, pois internamos a família inteira e não apenas o paciente. A estadia por

semanas ou meses pode ser muito desgastante e estes espaços oferecem uma maneira de fazer

com que tanto o paciente quanto os familiares relaxem um pouco mais”.

4.3 PROCESSOS

Dentro dos cuidados referentes à hotelaria hospitalar, diversos processos são essenciais para

garantir que os usuários tenham acesso ao melhor ambiente possível dentro do Centro

Pediátrico da Lagoa.

“Depois que o paciente já está acomodado dentro do seu quarto, uma camareira faz

sua primeira abordagem, se apresenta e verifica as primeiras necessidades. Ainda na

parte de rouparia, é verificado se a criança vai para centro cirúrgico ou se é apenas

clínico. Na higienização, há uma limpeza concorrente diária e ela pode retornar

quantas vezes forem necessárias. E a portaria é mais um controle de visitantes,

acompanhantes e assim mantemos o hospital funcionando com um acompanhante

Page 84: Ambiente físico: qual o peso dele na percepção do paciente sobre

72

para cada paciente, além de controlarmos o fluxo de pessoas, sejam funcionários,

familiares e fornecedores”. (ARRUDA, 2014, em entrevista ao pesquisador).

Os processos bem desenhados e bem executados garantem que tanto o paciente quanto os seus

familiares tenham uma percepção mais acolhedora do ambiente, facilitando o movimento de

aproximação sugerido por Bitner (1992). Entre os estudiosos da área de hotelaria hospitalar,

este movimento é explicado pelo prisma da questão emocional, que deve ser contornada a

partir da hospitalidade:

“No ambiente hospitalar, as pessoas passam por momentos de grande instabilidade

emocional, que levam a reflexões sobre a vida e a morte (...) A hospitalidade é

manifestada através da hotelaria hospitalar no aconchego do ambiente físico, na

humanização dos serviços médico-hospitalares e, essencialmente, na espontaneidade

dos gestos e atitudes das pessoas”. (TARABOULSI, 2004, Pág. 180)

4.4 AVALIAÇÃO DOS SERVIÇOS

Dentro do estudo de caso desenvolvido no Centro Pediátrico da Lagoa, o ambiente e suas

dimensões se mostram como fatores de aproximação com os seus usuários. Entre os

depoimentos colhidos durante a pesquisa, o de uma mãe parece refletir melhor esta sensação.

Acompanhando seu filho de apenas um ano e oito meses que já passou por oito cirurgias

desde o nascimento, a pessoa que será identificada apenas por B. afirma dar preferência ao

Centro Pediátrico, embora tenha facilidade para acessar outros hospitais particulares de

renome e até mais próximos de sua residência:

Page 85: Ambiente físico: qual o peso dele na percepção do paciente sobre

73

“Das oito cirurgias realizadas no meu filho, apenas a primeira foi realizada em outro

hospital, onde ele nasceu. Em relação ao número de internações, eu já perdi as contas.

E eu trago o meu filho para cá justamente porque gosto muito daqui. Ele é um

hospital pequeno, aconchegante, e percebemos uma preocupação genuína em receber

bem as pessoas e acomodá-las. Meu filho era muito ativo antes de todas essas

cirurgias e ele aproveitou bem tudo isso que eles oferecem. Há uma atenção muito

grande, mesmo nos dias comuns, sem ser nos dias comemorativos. Meu filho tem um

cirurgião que o acompanha desde o nascimento e ele atende em vários hospitais. Meu

plano de saúde é bem amplo e poderia levar meu filho para outro lugar, mas opto por

aqui por todos estes pontos positivos que eles oferecem. Ficar em hospital é muito

chato, principalmente para a criança”. (B., 2014, em entrevista ao pesquisador)

Na ocasião em que esteve no hospital, o pesquisador pode observar que as pessoas tendem a

se sentir mais à vontade quando o ambiente e os processos são desenhados para proporcionar

o clima de acolhimento e menor hostilidade. “Tanto nas pessoas abordadas na recepção do

hospital quanto nas outras com as quais interagi durante o processo de pesquisa, o tom leve do

ambiente colabora para que as pessoas se sintam em uma atmosfera segura e assim estejam

mais abertas e receptivas” (observação do pesquisador).

Além dos cuidados com o ambiente e processos, a administração do CPLagoa procura

promover diversas atividades extras que servem como mais “pistas tangíveis” no qual os

consumidores podem se apoiar para avaliar a qualidade percebida nos serviços oferecidos

pelo hospital. São comuns atividades para as crianças e eventos temáticos para datas como

Natal e Páscoa, por exemplo.

Page 86: Ambiente físico: qual o peso dele na percepção do paciente sobre

74

Figuras 08 e 09 – Funcionários e pacientes em eventos de Páscoa e Natal. Fotos cedidas pela

administração.

Page 87: Ambiente físico: qual o peso dele na percepção do paciente sobre

75

Este tipo de atividade ajuda também na integração entre os colaboradores e os familiares dos

pequenos pacientes. Também é comum que o Centro de Apoio ao Familiar (CAF) comemore

os aniversários de pacientes que estão internados.

Figura 10 - Aniversário de paciente no CPLagoa. Fotos cedidas pela administração

Grönroos (1993) explica que a qualidade em um serviço é totalmente definida a partir do

entendimento e da interpretação do consumidor e não necessariamente a uma característica

objetiva e racional. Neste sentido, o ambiente totalmente amistoso colabora para esta

interpretação positiva do ambiente.

A preocupação de uma administração com a criação de um ambiente de serviços deve

abranger todas as variáveis que podem, de alguma forma, modificar o comportamento de

consumo. Essa atitude é corroborada por Carvalho & Motta (2002), que afirmam que os

fatores presentes no cenário de serviço são aptos a fazer com que o consumidor resolvesse

Page 88: Ambiente físico: qual o peso dele na percepção do paciente sobre

76

permanecer ou sair do ambiente. Contudo, ainda há uma grande parcela de subjetividade nesta

análise.

Neste sentido, os mesmos pesquisadores sugerem que a característica fundamental presente

em um cenário de serviços deve ser sua capacidade de colocar o usuário como “protagonista”.

“Os cenários de serviços sonhados pelos consumidores são aqueles em que as pessoas

podem sentir-se no papel do personagem central da história”. (CARVALHO &

MOTTA, 2002, Pág. 55)

Esse aspecto é reafirmado por Bitner (1992), quando diz que um dos desafios no design de

ambientes de serviços é a capacidade de potencializar a aproximação com os usuários e a

maior interação social entre os atores envolvidos. Enquanto forma de comunicação não-

verbal, o ambiente físico colabora de alguma forma para a crença que o consumidor constrói a

respeito do produto ou serviço que será oferecido neste espaço.

Anteriores a Bitner, Mehrabian & Russel (1974) propuseram que existe um impacto da

atmosfera sobre as emoções ativação, prazer e dominância, e uma relação dessas variáveis

sobre as respostas dos compradores. Esse modelo é conhecido como modelo “Estímulo-

Organismo-Resposta”. Este modelo sugere que a música, o cheiro, a quantidade de pessoas no

ambiente, dentre outros estímulos têm associação com várias emoções dos consumidores.

“Essas emoções podem ser classificadas em três grandes fatores, denominados

Prazer-Desprazer (“P”), Ativação- Desativação (“A”) e Dominância-Submissão

(“D”). Por conseqüência, os estados emocionais nos indivíduos impactam nas

respostas intencionais ou nas respostas efetivas, classificadas em uma dimensão

bipolar, conhecida como Aproximação-Afastamento” (VIEIRA, 2008, Pág. 02).

Page 89: Ambiente físico: qual o peso dele na percepção do paciente sobre

77

5 CONCLUSÃO

Em todos os modelos propostos sobre a relação entre ambiente e comportamento de consumo,

o Centro Pediátrico da Lagoa se mostra como um exemplo positivo de gestão do ambiente

físico de serviço para criar um movimento de aproximação com todos os atores envolvidos

neste cenário: pacientes, familiares e prestadores de serviço. Em relação aos funcionários:

“Os médicos e colaboradores também percebem o ganho pelo fato de haver uma

estrutura adequada. Isso se reflete em maior satisfação no dia a dia de trabalho. Esta

percepção positiva é verbalizada o tempo todo pelos profissionais”. (SGORLON,

2014, em entrevista ao pesquisador)

Em relação aos usuários, pesquisas de satisfação conduzidas pela própria administração do

hospital mostram que o resultado dos investimentos feitos desde 2011, quando o Centro

Pediátrico da Lagoa foi adquirido, estão gerando o resultado esperado, que é a alta qualidade

percebida pelos pacientes. Em novembro de 2012, o nível de satisfação verificado entre os

pacientes internados na unidade era de:

Em relação ao serviço prestado

48,6% - Ótimo

32,4% - Bom

10,8% - Regular

2,7% - Ruim

Page 90: Ambiente físico: qual o peso dele na percepção do paciente sobre

78

No mês seguinte, os resultados foram os seguintes:

34,8% - Ótimo

46,5% - Bom

4,6% - Regular

Nos anos seguintes, até 94% dos usuários do CPLagoa disseram que o recomendariam para

um amigo ou parente. O nível de satisfação dos pacientes em 2013 chegou a 56% (ótimo).

Considerando as avaliações entre bom e ótimo, este índice sempre esteve acima dos 60%. O

mesmo vale para o primeiro trimestre de 2014 (última pesquisa realizada antes da finalização

do estudo de caso), quando até 46% dos usuários consideraram o serviço ótimo (a tabulação

completa dos resultados se encontra nos anexos).

Em linhas gerais, os resultados dessas pesquisas de satisfação indicam que o Centro

Pediátrico da Lagoa está sendo bem sucedido no seu trabalho de construção de um ambiente

diferenciado e menos hostil e isso, de fato, está gerando um movimento de aproximação com

seus consumidores.

O objetivo foi alcançado, pois há indícios de que os investimentos feitos na estrutura física do

hospital realmente geram um movimento de maior aproximação.

Embora o período estudado seja relativamente curto, as respostas encontradas já indicam uma

certa constante nos resultados. Na avaliação dos serviços, em todos os meses analisados, a

Page 91: Ambiente físico: qual o peso dele na percepção do paciente sobre

79

percepção de ótimo e bom juntas somam mais do que 50% das respostas, enquanto ruim ou

muito ruim ficam quase sempre sem somar nenhum voto.

As pesquisas de satisfação são conduzidas pelo Centro de Apoio ao Familiar (CAF) e

supervisionadas pela administração do hospital. Somando todos os meses pesquisados entre

2012 e 2014, ao todo 555 famílias foram abordadas para a elaboração desta análise.

Este trabalho buscou analisar a relação entre o ambiente físico e a percepção de satisfação dos

consumidores na área hospitalar. Para este fim, foi desenvolvido um estudo de caso com o

Centro Pediátrico da Lagoa, hospital particular localizado na zonal sul do Rio de Janeiro, que

foi adquirido em 2011 pelo mesmo grupo que administra o ProntoBaby, também de cunho

pediátrico.

Com base modelo Servicescape, proposto por Bitner (1992) e por referencial teórico das áreas

de marketing de serviços, psicologia ambiental e hotelaria hospitalar, o pesquisador esteve

nos ambientes do Centro Pediátrico da Lagoa, ouviu pacientes, funcionários e gestores, além

de ter acesso às pesquisas de satisfação conduzidas na unidade desde que foi adquirida pela

nova administração.

A proposição de que os elementos físicos geram sensação de aconchego e acolhimento,

resultando em maior satisfação por parte dos usuários também se mostra verdadeira.

Page 92: Ambiente físico: qual o peso dele na percepção do paciente sobre

80

Embora o estudo de caso único seja limitado no sentido de que analisa apenas um contexto

específico de uma unidade específica, o Centro Pediátrico da Lagoa, pela sua própria história

recente, se configura como excelente exemplo.

Pela abordagem ampla deste trabalho, que tentou observar em um curto espaço de tempo

diversas variáveis que envolvem o modelo servicescape, esta pode ser considerada uma

limitação, ao mesmo tempo em que gera oportunidades para estudos futuros que olhem

especificamente para um ou outro elemento do modelo proposto por Bitner.

Outros modelos teóricos também poderiam servir de base para uma análise semelhante,

modelos estes que foram citados neste trabalho, mas não receberam maior aprofundamento,

como propostas oriundas da psicologia ambiental, das teorias de humanização na área

hospitalar ou ainda da atmosfera de consumo.

Também é recomendado um estudo comparativo entre unidades hospitalares, tomando por

base todo o conjunto de elementos do servicescape ou somente algum deles, o que pode

proporcionar uma conclusão mais assertiva sobre como cada dimensão do ambiente

(iluminação, som, decoração etc.) impacta na maneira como os consumidores interpretam o

serviço, como os funcionários interpretam o serviço, e como ambos os grupos interagem entre

si.

Page 93: Ambiente físico: qual o peso dele na percepção do paciente sobre

81

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AAKER, D., JOACHIMSTHALER, E. Como construir marcas líderes. São Paulo: Artmed,

2007.

ABDALA, V. Serviços puxam crescimento da economia no segundo trimestre deste ano.

Agência Brasil: Brasília, 2011.

ALBRECHT, K. Revolução nos Serviços. São Paulo: Pioneira, 1992.

AUBERT-GAMET, V. COVA, B. Servicescapess: from modern non-places to

postmodern common places. Journal of Business Research, v. 44, Special Issue: Service

Marketing and Management: European Contributors, p. 37-45, 1999.

ANDRADE, V. M. Gerenciamento de impressões em serviços de hospitalidade:

investigando o servicescapes em hotéis com base na metáfora teatral. Programa de Pós-

Graduação em Administração/Universidade Federal da Paraíba/Centro de Estudos em

Marketing e Pessoas/Programa de Pós-Graduação em Administração/Universidade Federal de

Pernambuco - PPGA/UFPB/MKP/PROPAD/UFPE) 2004

ARROW, J. K. Uncertainty and the Welfare Economics of Medical Care. American

Economics Association, Vol. LIII, Number 5, 1963.

BAUER, M. W; GASKELL, G. Pesquisa qualitativa com texto, imagem e som: um

manual prático. Petrópolis, RJ. Vozes, 2007.

Page 94: Ambiente físico: qual o peso dele na percepção do paciente sobre

82

BAUER, M. W; AARTS, B. A construção do corpus: um princípio para a coleta de dados

qualitativos. In. BAUER, M. W; GASKELL, G. Pesquisa qualitativa com texto, imagem e

som: um manual prático. Petrópolis, RJ. Vozes, 2007.

BERRY, L. & PARASURAMAN, A. Serviços de marketing: competindo através da

qualidade. São Paulo: Maltese-Norma, 1992.

BITNER, M. J. Servicescapes: The impact of physical surroundings on customers and

employees. Journal of Marketing; Apr 1992; 56, 2; ABI/INFORM Global.

BITNER, M. J. Services Marketing: Perspectives on Service Excellence. Journal of

Retailing. Volume 73,pp. 3-6. 1997.

BITNER, M. J. Building Service Relationships: It´s all about promises. Journal of the

Academy of Marketing Science. Vol. 23. N° 4, Pp. 246-251, 1995.

BITNER, M. J. & ZEITHAML, V. A. Marketing de Serviços – A empresa com foco no

cliente. Porto Alegre: Bookman, 2008.

BOERGER, M. A. Gestão em Hotelaria Hospitalar. São Paulo: Atlas, 2003.

BORBA, V. R. Marketing hospitalar - instrumentação, estratégia e casos práticos. Rio de

Janeiro: Cultura Médica, 1989.

BORBA, V. R. (Org.). Estratégia e ação – BSC no contexto das organizações de saúde.

Rio de Janeiro: Editora DOC, 2011.

Page 95: Ambiente físico: qual o peso dele na percepção do paciente sobre

83

CAHEN, R. Comunicação empresarial: a imagem como patrimônio da empresa e

ferramenta de marketing. Rio de Janeiro: Best Seller, 2005.

CAMPOS, J.& BORBA, V. R. Marketing de relacionamento no campo da saúde: o

desafio da década. São Paulo: Jotacê, 2003.

CARLZON, J. A hora da verdade - moments of truth. Rio de Janeiro: COP, 1989.

CARVALHO, J. A luz nos cenários de serviços: fenomenologia da experiência interativa

dos participantes dos encontros de serviços com a iluminação ambiental. Rio de Janeiro:

PUC, 2003.

CARVALHO, J. MOTTA, P. Experiências em cenários temáticos de serviços. Revista de

Administração de Empresas, v. 42, n. 2, p. 54-65, abr./jun. 2002.

CHANG, K. The Impact of Perceived Physical Environments on Customer´s Satisfaction

and Return Intentions. Journal of Professional Services Marketing. Vol. 21. 2000.

DEMO, P. Praticar ciência. metodologias do conhecimento científico. São Paulo: Saraiva,

2011.

DIAGNÓSTICO WEB. ANAHP: Hospitais privados faturaram R$ 9,4 bilhões em 2011.

22 de maio de 2012.(http://www.diagnosticoweb.com.br/noticias/mercado-e-negocios/anahp-

hospitais-privados-faturaram-r-94-bilhoes-em-2011.html)

FARQUHAR, J. D. Case study research for business. USA. SAGE: 2012.

Page 96: Ambiente físico: qual o peso dele na percepção do paciente sobre

84

FARIAS, L. O. Estabelecimentos de saúde privados no Brasil: questões acerca da

distribuição geográfica e do financiamento da demanda. Departamento de Ciências

Sociais da Escola Nacional de Saúde Pública –ENSP/FIOCRUZ. (2002)

FONTANELLA, B. J. B; TURATO, E. R. Amostragem por saturação em pesquisas

qualitativas em saúde: contribuições teóricas. CAD. SAÚDE PÚBLICA, RIO DE

JANEIRO, 24(1):17-27, JAN, 2008.

FOTTLER, M. FORD, R. ROBERTS, V. & FORD, E. (2000). Creating a healing

environment: The importance of the service setting in the new consumer oriented

healthcare system. Journal of Healthcare Management, 45 (2), 91-106, 2000.

GOMES, J. S. O método de estudo de caso aplicado à gestão de negócios. São Paulo:

Atlas, 2009.

GRAHAM, A. Como escrever e usar estudos de caso para ensino e aprendizagem no

setor público. Brasília: Enap, 2010.

GREGÓRIO, R. Marketing Médico – Criando valor para o paciente. Rio de Janeiro:

Editora DOC, 2009.

GRÖNROOS, C. Marketing: Gerenciamento e Serviços. Rio de Janeiro: Editora Campus,

1993.

HALPERN, E. Apropriação de Ambientes Físicos de Serviços por Tribos Urbanas O

Caso Casa da Matriz, Tese de Doutorado, FGV, 2008.

Page 97: Ambiente físico: qual o peso dele na percepção do paciente sobre

85

HIGHTOWER, R. Framework for managing the Servicescapes: A Sustainable

Competitive Advantage. Marketing Management Journal, 2003.

HOFFMAN, K. D. & BATESON, J. E. G. Princípios de Marketing de Serviços. São Paulo:

Cengage Learning, 2008.

HUTTON, J. & RICHARDSON, L. Healthscapes: The Importance of Place. Journal of

Healthcare Marketing, Vol. 15, N° 1, 1995.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Um panorama da

Saúde no Brasil - 2008. Disponível em <www.ibge.gov.br>. Acessado em 15 de abril de

2013.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Atividades de

saúde representam 5,3% da economia brasileira - 2008. Disponível em

<www.ibge.gov.br>. Acessado em 15 de abril de 2013.

IUNES, R. F. Demanda e demanda em saúde. In: PIOLA, S. F.; SOLON, M. V. Economia

da Saúde. Brasília: IPEA, 1995.

JOHNSTONE, M; TODD, S; OLIVER, M. B. CONSUMING SPACE: FINDING

MEANING WITHIN THE SERVICESCAPES – A RESEARCH AGENDA. European

Advances in Consumer Research, Volume 7, 2006.

KASSOUF, A. L. Acesso aos Serviços de Saúde nas Áreas Urbana e Rural do Brasil.

RER, Rio de Janeiro, vol. 43, nº 01, p. 000-000, jan/mar 2005 – Impressa em março 2005

Page 98: Ambiente físico: qual o peso dele na percepção do paciente sobre

86

KOIKE, B. Rede Do´r vai investir R$ 500 milhões. São Paulo: Valor Econômico, Caderno

B6, 3 de abril de 2013

KOTLER, P. Administração de marketing. São Paulo: Pearson, 2000.

KOTLER, P. Administração de marketing. Análise, Planejamento, Implementação e

Controle. São Paulo: Atlas, 1998.

KOTLER, P. Atmospherics as a Marketing Tool. Journal of Retailing. Vol. 49, N° 4, 1973.

LAS CASAS, A. L. Marketing de Serviços. São Paulo: Atlas, 2002.

LEE, S. Evaluating Servieability of Healthcare Servicescapes: Service Design Perspective.

International Journal of Design, 61-71, 2011.

LOVELOCK, C. & WRIGHT, L. Serviços, Marketing e Gestão. São Paulo: Saraiva, 2001.

LUCAS, L. (Org). Com credibilidade não se brinca. São Paulo: Summus. 2004.

MAFFEZZOLLI, E. BOEHS, C. Uma reflexão sobre o estudo de caso como método de

pesquisa. Rev. Fae, Curitiba, V.11, N.1, P.95-110, JAN./JUN. 2008.

MELO, H. P. ROCHA, F. FERRAZ, G. DWECK, R. DI SABBATOO, A. Setor de serviços

no Brasil: uma visão global (1985/1995). Rio de Janeiro: IPEA, 1998.

MEYER, I. Marketing para médicos: um caminho ético. Porto Alegre: AGE Editora, 2005.

Page 99: Ambiente físico: qual o peso dele na percepção do paciente sobre

87

MEHRABIAN, A. RUSSEL J. An approach to Environmental Psychology. Cambridge:

Massachusetts Institute of Technology, 1974.

MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO, INDÚSTRIA E COMÉRCIO EXTERIOR.

Serviços, Panorama no Comércio Internacional, 2009. Disponível em

<www.desenvolvimento.gov.br>. Acessado em 21 de abril de 2013.

NEVES, R. C. Imagem empresarial. Rio de Janeiro. Mauad: 1998.

PATTON, M. Qualitative evaluation and research methods (pp. 169-186). Beverly Hills,

CA: Sage: 1990.

PESSOA, S. Dissertação não é bicho-papão. Rio de Janeiro: Rocco, 2005.

ROSENBAUM, M. S. MASSIAH, C. An expanded servicescapes perspective. Service

Management, 22 (4), 471-490, 2011.

ROSSI, M. Faturamento dos hospitais privados sobe mais de 20% em 2011. Isto É

Dinheiro. 23 de maio de 2012. Acessado em 30 de março de 2013.

(http://guilhermebarros.istoedinheiro.com.br/2012/05/23/faturamento-dos-hospitais-privados-

sobe-mais-de-20-em-2011/)

SCARPI, M. J. (org.). Administração em Saúde. Rio de Janeiro: Editora DOC, 2010.

Page 100: Ambiente físico: qual o peso dele na percepção do paciente sobre

88

SETOR SAÚDE. Crescimento nacional favorece hospitais privados. 26 de março de 2013.

Acessado em 30 de março de 2013. (http://setorsaude.com.br/crescimento-nacional-favorece-

hospitais-privados/)

SHERRY Jr., J. F. (Ed.). Servicescapess: the concept of place in contemporary markets.

Chicago: NTC Business Books, 1998. Pág. 440.

SHOSTACK, G. L.: Breaking free through product marketing. The Journal of Marketing,

Vol. 41, No. 2 (Apr., 1977), pp. 73-80

SILVA, A. M; NEGRI, J. A; KUBOTA, L. C. Estrutura E Dinâmica Do Setor De Serviços

No Brasil, IPEA, 2006.

STAKE, R. The art of case study research (pp. 49-68). Thousand Oaks, CA: SAGE:1995.

TROIANO, J. As marcas no divã. Rio de Janeiro: Globo, 2009.

VAZ, G. N. Marketing Institucional, o mercado de idéias e imagens. São Paulo: Pioneira

Thomson Learning: 2003.

VERGARA, S. C; CARVALHO, J. L. F. A Fenomenologia e a Pesquisa dos Espaços de

Serviços. 2002, RAE – REVISTA DE ADMINISTRAÇÃO DE EMPRESAS/FGV-EAESP,

SÃO PAULO, BRASIL.

VERGARA, S. C. Projetos e relatórios de pesquisa em administração. São Paulo: Atlas,

1997.

Page 101: Ambiente físico: qual o peso dele na percepção do paciente sobre

89

VIEIRA, V. A. Meta-Análise do Modelo Teórico “E-O-R” de Mehrabian e Russell

(1974). XXXII ENCONTRO DA ANPAD. RIO DE JANEIRO, SETEMBRO DE 2008.

VIEIRA, M. M. F. Por uma (boa) pesquisa qualitativa em administração. In VIEIRA, M.

M. F. & ZOUAIN, D. M. Pesquisa qualitativa em administração. Rio de Janeiro: FGV, 2004.

TANAKA, L. C. T. & E KUAZAQUI, E. Marketing e Gestão estratégica em serviços de

saúde. São Paulo: Cengage Learning, 2008.

TRINTA, J. L. Avaliação de marcas: proposição e verificação da aceitabilidade de um

modelo integrativo. Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP, São

Paulo, 2009.

YANAZE, M. Gestão de marketing e comunicação. São Paulo: Saraiva, 2007.

YAMAMOTO, E. Os novos médicos administradores - cuidando da saúde dos pacientes e

das empresas. São Paulo: Futura, 2001.

YIN, R. K. Estudo de caso. Planejamento e métodos. 3ª EDIÇÃO. PORTO ALEGRE:

BOOKMAN, 2006.

TARABOULSI, F. A. Administração de Hotelaria Hospitalar. 2ª EDIÇÃO. SÃO PAULO:

ATLAS, 2004.

WEINRACH, J. ENVIRONMENTAL PSYCHOLOGY: WHY SHOULD WE CARE?

Environmental Quality Management, 2000.

Page 102: Ambiente físico: qual o peso dele na percepção do paciente sobre

90

APÊNDICE A

Para a produção do estudo de caso, serão conduzidas entrevistas com os seguintes grupos:

- Gestores:

Diretor Médico

Gestor de Atendimento

Gestor de Hotelaria Hospitalar

- Pacientes e/ou familiares/acompanhantes (até cinco pessoas)

Aplicação de breve questionário

As entrevistas serão abertas e a única questão fechada pede para que as pessoas avaliem em

ordem de importância as dimensões do ambiente físico que mais transmitem credibilidade,

confiabilidade, conforto e os elementos da marca Centro Pediátrico da Lagoa.

Page 103: Ambiente físico: qual o peso dele na percepção do paciente sobre

91

Entrevista com gestores

Na entrevista com os gestores, serão abordados os seguintes tópicos:

- Avaliação da importância do ambiente como elemento estratégico para o hospital;

- Investimento feito na estrutura da unidade;

- No planejamento estratégico do hospital, como foi pensada a questão do ambiente físico?

- Como é a estrutura gerencial para cuidar do ambiente físico do hospital;

- Como é avaliada a qualidade do atendimento?

- Quais são os canais de relacionamento com os pacientes?

- Adequação do Servicescapes ao modelo adotado no hospital;

- Indicadores adotados pela administração para avaliar o desempenho do hospital a médio e

longo prazo;

- Indicadores de reputação/marca adotados pela administração?

Page 104: Ambiente físico: qual o peso dele na percepção do paciente sobre

92

Entrevista com pacientes e acompanhantes (familiares):

- Importância do ambiente físico na prestação dos serviços em saúde;

- Como o ambiente influencia a percepção dos pacientes;

- Votação por ordem de relevância das dimensões do Servicescapes que mais contribuem para

a construção de credibilidade, reputação e força da marca;

- Como é avaliada a qualidade do atendimento?

- Avaliação do ambiente percebido;

Page 105: Ambiente físico: qual o peso dele na percepção do paciente sobre

93

APÊNDICE B - CHECK LIST DE ITENS OBSERVADOS NO AMBIENTE

Além das entrevistas, será observada a interação dos pacientes e funcionários com o ambiente

físico. Neste processo de observação, serão identificadas as seguintes dimensões do ambiente:

� Iluminação

� Limpeza

� Organização

� Conforto

� Layout

� Cores

� Som ambiente

Page 106: Ambiente físico: qual o peso dele na percepção do paciente sobre

94

� Odores

� Estilo

� Sinalização

� Temperatura

� Qualidade do ar

� Mobiliário

� Equipamentos

Page 107: Ambiente físico: qual o peso dele na percepção do paciente sobre

95

APÊNDICE C - RESULTADOS TABULADOS DAS PESQUISAS DE SATISFAÇÃO CONDUZIDAS PELO CPLAGOA

Pergunta: recomendaria ou não o CPLagoa para amigo ou parente?

jan/13 fev/13 mar/13 abr/13 mai/13 jun/13 Sim 84% 85% 91% 90% 81% 89% Não 0% 3% 6% 5% 4% 0% S/R 16% 12% 3% 5% 15% 11% Nível de satisfação

jan/13 fev/13 mar/13 abr/13 mai/13 jun/13 Ótimo 47% 53% 35% 27% 41% 37% Bom 37% 28% 41% 59% 26% 47% Regular 16% 13% 15% 10% 19% 5% Ruim 0% 0% 0% 0% 0% 0% Muito ruim 0% 0% 0% 0% 0% 0% S/N 6% 9% 4% 14% 11%

No segundo semestre de 2013, os resultados para a primeira pergunta são:

jul/13 ago/13 set/13 out/13 nov/13 dez/13 Sim 88% 93% 87% 69% 94% 92% Não 12% 7% 3% 3% 6% 8% S/R 0% 0% 10% 28% 0% 0%

Page 108: Ambiente físico: qual o peso dele na percepção do paciente sobre

96

Na avaliação sobre a qualidade percebida no serviço, os resultados no mesmo período são:

jul/13 ago/13 set/13 out/13 nov/13 dez/13 Ótimo 19% 56% 55% 64% 50% 48% Bom 69% 26% 29% 33% 38% 48% Regular 12% 7% 0% 3% 12% 4% Ruim 0% 0% 0% 0% 0% 0% Muito ruim S/R 0% 11% 16% 0% 0% 0%

No primeiro trimestre de 2014, os resultados para a primeira pergunta são:

jan/14 fev/14 mar/14 Sim 89% 68% 76% Não 9% 10% 20% S/R 2% 22% 4%

E sobre o nível de qualidade percebido no CPLagoa:

jan/14 fev/14 mar/14 Ótimo 40% 38% 46% Bom 43% 41% 33% Regular 9% 16% 7% Ruim 0% 3% 4% Muito ruim 0% 0% 2% S/R 8% 2% 8%