alvinho

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Araçatuba Da Redação MÚSICA U m instrumento rústi- co nas mãos de um artista preocupado em suprir a sensibilidade do público na busca pelo diferen- te. Essa é a caracterização da música apresentada pelo araçatubense e integrante da Orquestra Sinfônica de Ame- ricana Álvaro Salomão Sabi- no Damazo, de 36 anos, a partir do contrabaixo acústi- co, popularmente conhecido como o rabecão, o 'crescimento' do violino. Antes de atrair pela sonori- dade durante as apresentações, a dupla músico e instrumento no palco desperta a curiosidade pela grandeza do contrabaixo e flexibi- lidade do artista ao interpretar as composições. Há 18 anos distante de Araçatuba, Damazo realizou na úl- tima quarta-feira a primeira apre- sentação na cidade. Com o espetá- culo solo "O rabecão ao alcance de todos", o músico integrou a programação de volta às aulas de uma universidade, onde desmistifi- cou o classicismo do instrumento ao apresentar uma peça que mes- cla música clássica com MPB, em um concerto semelhante a uma aula didática. "Tudo que eu toco é bem ilustrado. Procuro falar bastante, explicar o contexto da música in- terpretada e facilitar o entendi- mento do público, mesmo quan- do não há nenhum conhecimento prévio. Isso tem resultado em uma grande aceitação", afirma. FORMAÇÃO Nascido em Penápolis, Da- mazo permaneceu na cidade por pouco tempo, quando mudou-se com a família para Araçatuba. Fi- lho dos professores Francisco An- tonio Tito Damazo e Tânia Sabino Damazo, o artista tem na família a fonte de sua formação musical. INFLUÊNCIA "Em casa sempre tive um ambiente musical. Da parte da minha mãe veio uma formação mais clássica devido a sua atua- ção como professora de piano. Do meu pai veio muito forte a in- fluência da música popular. Co- mo sempre ouvi muitos discos fui me interessando aos poucos pela música", conta. Até o encontro com o rabe- cão, Damazo testou as aptidões musicais no violão e baixo elétri- co, potenciais desenvolvidos em uma banda de rock durante a ado- lescência. Em 1989, ao estudar na escola do também músico José Renato Gimenes, o futuro contra- baixista ouviu pela primeira vez uma nota do instrumento em que se formaria profissionalmente. "Foi o suficiente para eu me en- cantar pelo som e escolher a músi- ca como profissão". A formação acadêmica em contrabaixo no Conservatório de Tatuí e a especialização na UniRio (Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro), além da complementação teórica em com- posição na Escola de Música de Pi- racicaba, onde atualmente dá aula, possibilitaram a aprovação de Da- mazo no concurso municipal para integrar a Orquestra Sinfônica de Americana, em 2001, e convites eventuais para tocar na orquestra de Campinas. Respirando música e dividin- do o tempo entre atuações profis- sionais e projetos musicais parale- los, o araçatubense é prova de que "viver de música é possível". "Apesar de parecer algo 'restrito', você pode atuar em vá- rias áreas. Eu escolhi basicamente a música de orquestra e também dou aula do meu instrumento. O importante é você estudar bastan- te, tocar o melhor possível e fazer provas em orquestras. Eu, por exemplo, moro em Piracicaba, tra- balho em Americana e faço cachê em Campinas. A grande dificulda- de é saber lidar com o mercado de trabalho, mas depende de você e suas escolhas", afirma. PARCERIA Após ministrar aulas para o público infantil, Damazo iniciou um trabalho para tornar a música clássica mais didática. A contextualização de cada composi- ção e inserção do público na reali- dade de cada período musical foi o caminho encontrado para con- cretizar esse objetivo. Após obter resultados na sala de aula, o músico decidiu apresen- tar essa metodologia em espetácu- los. O primeiro passo foi a parcei- ra com as produções poéticas de seu pai que resultou na idealização da peça "O rabecão ao alcance de todos". "Para facilitar o entendimen- to, decidi compor uma melodia para os poemas. Iniciei com o tex- to 'Sapo Rex', escrito por meu pai, e construí também para ou- tras produções, como o poema 'A Pedra', de Carlos Drummond de Andrade. Tenho visto uma grande aceitação do público e acima de tudo a interação deles", finaliza. Músico penapolense encanta a plateia com o toque sensível do contra- baixo durante espetáculo que mescla música clássica com MPB O rabecão ao alcance de A formação de um público para a música clássica não é mais um desafio para pessoas e órgãos ligados à cultura, e sim uma realidade já conquistada e que precisa continuar a ser con- solidada, segundo Damazo. Ele afirma que a globalização e massificação de al- guns estilos musicais feitos pela mídia têm levado o público a buscar coisas diferentes para se entreter e ao mesmo tempo aprender. "É resultado das pessoas buscarem e estarem sensíveis a coisas diferentes. O acesso está mais fácil, o que leva o público a mesclar o tradicional com o que ainda não tem conhecimento". EMPREGO A contrapartida dessa pro- cura, destaca o contrabaixista, é o crescimento da oportunidade de emprego em orquestras e es- colas de música, sejam elas clás- sicas ou populares. "Mesmo no interior, muitas orquestras estão surgindo e se profissionalizando, o que era ra- ro. É preciso estudar bastante e ter uma boa orientação. Certa- mente o campo de trabalho de um instrumentista está aumentan- do bastante tanto dentro do nos- so Estado quanto fora também. Quem se dedicar com certeza en- contrará trabalho". Da Redação Damazo testou as aptidões musicais no violão e baixo elétrico todos Alexandre Souza/Folha da Região - 09/02/2011 ‘Público busca o diferente’ DIDÁTICA O músico Álvaro Salomão Sabino Damazo torna o concerto uma verdadeira aula, ao explicar ao público o contexto da música D1 Araçatuba, sábado, 12 de fevereiro de 2011

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Page 1: Alvinho

Araçatuba

Da Redação

MÚSICA

Um instrumento rústi-co nas mãos de umartista preocupado

em suprir a sensibilidade dopúblico na busca pelo diferen-te. Essa é a caracterizaçãoda música apresentada peloaraçatubense e integrante daOrquestra Sinfônica de Ame-ricana Álvaro Salomão Sabi-no Damazo, de 36 anos, apartir do contrabaixo acústi-co, popularmente conhecido

c o m o o r a b e c ã o , o'crescimento' do violino.

Antes de atrair pela sonori-dade durante as apresentações,

a dupla músico e instrumento nopalco desperta a curiosidade pelagrandeza do contrabaixo e flexibi-lidade do artista ao interpretar ascomposições.

Há 18 anos distante deAraçatuba, Damazo realizou na úl-tima quarta-feira a primeira apre-sentação na cidade. Com o espetá-culo solo "O rabecão ao alcancede todos", o músico integrou aprogramação de volta às aulas deuma universidade, onde desmistifi-cou o classicismo do instrumentoao apresentar uma peça que mes-cla música clássica com MPB, emum concerto semelhante a umaaula didática.

"Tudo que eu toco é bemilustrado. Procuro falar bastante,explicar o contexto da música in-terpretada e facilitar o entendi-mento do público, mesmo quan-do não há nenhum conhecimentoprévio. Isso tem resultado emuma grande aceitação", afirma.

FORMAÇÃONascido em Penápolis, Da-

mazo permaneceu na cidade porpouco tempo, quando mudou-se

com a família para Araçatuba. Fi-lho dos professores Francisco An-tonio Tito Damazo e Tânia SabinoDamazo, o artista tem na famíliaa fonte de sua formação musical.

INFLUÊNCIA"Em casa sempre tive um

ambiente musical. Da parte daminha mãe veio uma formaçãomais clássica devido a sua atua-ção como professora de piano.Do meu pai veio muito forte a in-fluência da música popular. Co-mo sempre ouvi muitos discosfui me interessando aos poucospela música", conta.

Até o encontro com o rabe-cão, Damazo testou as aptidõesmusicais no violão e baixo elétri-co, potenciais desenvolvidos emuma banda de rock durante a ado-lescência. Em 1989, ao estudarna escola do também músico JoséRenato Gimenes, o futuro contra-baixista ouviu pela primeira vezuma nota do instrumento em quese formaria profissionalmente."Foi o suficiente para eu me en-cantar pelo som e escolher a músi-ca como profissão".

A formação acadêmica emcontrabaixo no Conservatório deTatuí e a especialização na UniRio(Universidade Federal do Estadodo Rio de Janeiro), além dacomplementação teórica em com-posição na Escola de Música de Pi-racicaba, onde atualmente dá aula,possibilitaram a aprovação de Da-mazo no concurso municipal para

integrar a Orquestra Sinfônica deAmericana, em 2001, e conviteseventuais para tocar na orquestrade Campinas.

Respirando música e dividin-do o tempo entre atuações profis-sionais e projetos musicais parale-los, o araçatubense é prova deque "viver de música é possível".

"Apesar de parecer algo'restrito', você pode atuar em vá-rias áreas. Eu escolhi basicamentea música de orquestra e tambémdou aula do meu instrumento. Oimportante é você estudar bastan-te, tocar o melhor possível e fazerprovas em orquestras. Eu, porexemplo, moro em Piracicaba, tra-balho em Americana e faço cachêem Campinas. A grande dificulda-de é saber lidar com o mercadode trabalho, mas depende de vocêe suas escolhas", afirma.

PARCERIAApós ministrar aulas para o

público infantil, Damazo iniciouum trabalho para tornar a músicac láss ica mais d idát ica . Acontextualização de cada composi-ção e inserção do público na reali-dade de cada período musical foio caminho encontrado para con-cretizar esse objetivo.

Após obter resultados na salade aula, o músico decidiu apresen-tar essa metodologia em espetácu-los. O primeiro passo foi a parcei-ra com as produções poéticas deseu pa i que re su l t ou naidealização da peça "O rabecão aoalcance de todos".

"Para facilitar o entendimen-to, decidi compor uma melodiapara os poemas. Iniciei com o tex-to 'Sapo Rex', escrito por meupai, e construí também para ou-tras produções, como o poema 'APedra', de Carlos Drummond deAndrade. Tenho visto uma grandeaceitação do público e acima detudo a interação deles", finaliza.

Músico penapolense encanta a plateia com o toque sensível do contra-baixo durante espetáculo que mescla música clássica com MPB

O rabecão ao alcance de

A formação de um públicopara a música clássica não émais um desafio para pessoas eórgãos ligados à cultura, e simuma realidade já conquistada eque precisa continuar a ser con-solidada, segundo Damazo.

E l e a f i r m a q u e aglobalização e massificação de al-guns estilos musicais feitos pelamídia têm levado o público abuscar coisas diferentes para seentreter e ao mesmo tempo

aprender."É resultado das pessoas

buscarem e estarem sensíveis acoisas diferentes. O acesso estámais fácil, o que leva o público amesclar o tradicional com o queainda não tem conhecimento".

EMPREGOA contrapartida dessa pro-

cura, destaca o contrabaixista, éo crescimento da oportunidadede emprego em orquestras e es-

colas de música, sejam elas clás-sicas ou populares.

"Mesmo no interior, muitasorquestras estão surgindo e seprofissionalizando, o que era ra-ro. É preciso estudar bastante eter uma boa orientação. Certa-mente o campo de trabalho deum instrumentista está aumentan-do bastante tanto dentro do nos-so Estado quanto fora também.Quem se dedicar com certeza en-contrará trabalho". Da Redação

Damazo

testouas aptidões

musicais no violão

e baixo elétrico

todosAlexandre Souza/Folha da Região - 09/02/2011

‘Público busca o diferente’

DIDÁTICAO músico ÁlvaroSalomão SabinoDamazo tornao concerto umaverdadeira aula,ao explicar aopúblico ocontexto damúsica

D1 Araçatuba, sábado, 12 de fevereiro de 2011