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ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCACIONAIS ESPECIAIS NO ENSINO DE
CIÊNCIAS: O ENSINO DE ASTRONOMIA Talita de Lima Garcia
Silmara Sartoreto de Oliveira RESUMO
O ensino deve ser focado na conscientização crítica do aluno para seu convívio em sociedade e deve trazer o ensino para a realidade de cada um. Os alunos com necessidade educacional especializada apresentam além das dificuldades encontradas por qualquer aluno, a necessidade de se adaptar ao ensino regular, além de todo o preconceito e discriminação que enfrentam. Os professores por sua vez encontram dificuldades em adaptar suas aulas de ciências aos alunos com ou sem necessidades educacionais especiais, devendo sempre tentar abordar o conteúdo com o intuito de formar opiniões e atender a todos os alunos. Este trabalho teve por objetivo abordar o ensino de conteúdos sobre astronomia no ensino fundamental, utilizando a abordagem investigativa. Para tanto, foram realizadas atividades em uma abordagem investigativa, com o intuito de atender todos os alunos do ensino regular e em específico, alunos com esquizofrenia, com um material adaptado as dificuldades encontradas. As atividades consistiam em um programa para computadores de disponibilidade gratuita que desenvolve noções de força peso em corpos em diferentes gravidades. Após o desenvolvimento da atividade os dados obtidos foram analisados a partir de uma discussão em sala de aula conduzida pelo professor na qual os alunos deveriam apresentar suas conclusões a respeito dos conteúdos previstos em forma de relatos de experiência, roda de conversa e posteriormente descritiva. Concluiu-se que o uso de metodologias diferenciadas acrescenta na construção do conhecimento e aprimorar a inclusão de aluno com necessidades educacionais especiais aumentando o grau de aprendizagem e interação com os demais alunos.
Palavras-chave: Inclusão escolar. Esquizofrenia. Astronomia. Abordagem investigativa
INTRODUÇÃO
O processo de inclusão escolar é uma realidade no ambiente educacional,
contudo a comunidade escolar tem sido surpreendida pela falta de preparo
necessária para atender as necessidades educacionais de todos os alunos.
Na tentativa de propor atividades direcionadas aos alunos com NEEs -
Necessidades Educacionais Especializadas, este estudo objetivou abordar o
conteúdo estruturante Astronomia, na disciplina de ciências, que por si só já é um
desafio a ser vencido, pela falta de preparo dos professores. É considerado também
um conteúdo de difícil assimilação pelos alunos, apesar de fazer parte do cotidiano
do mesmo, não conseguem fazer a ligação dos fenômenos físicos com sua realidade
diária.
O intuito foi trabalhar com o tema utilizando um programa livre de internet
pressupondo que desta forma, o meio tecnológico favorece o acesso ao
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conhecimento científico, principalmente no que tange aos alunos oriundos do
processo de inclusão.
Historicamente os alunos com necessidades educacionais especiais foram
durante muito tempo, atendidos em unidades de atendimento especializado, de
forma paralela e separados dos demais alunos. Acreditava-se esta ser a melhor
forma de atendimento a estes alunos, que não se adaptavam ao ensino regular
(BRASIL, 2010. p. 19).
A inclusão no Brasil é algo provocador, devido aos estereótipos da historia
de nossa educação, que sempre esteve focada na elite e seguida de grandes
exclusões (SANFELICE, 2006). Apesar dessa premissa, não se deve evidenciar a
desigualdade historicamente construída, deve-se ver a inclusão escolar com bons
olhos, como uma porta que se abre, de forma ampla e continua. É extremamente
necessária a inclusão de forma geral e não somente na educação formal e sim em
toda sociedade, onde não deve estar focada apenas no aluno com alguma
necessidade especial e sim, agregando à comunidade escolar todas as diferenças
que possam ser encontradas (Mészáros, 2005 apud SANFELICE, 2006, p. 39;
SANT’ANA, 2005; CARVALHO, 2005).
Com o passar dos anos o pensamento de separação ou segregação na
educação formal deu origem á um processo de inclusão, de acordo com a
Declaração de Salamanca de 1994, que:
“As escolas regulares com orientação inclusiva constitue um dos meios mais eficazes de combater atitudes discriminatórias e que alunos com necessidades educacionais especiais devem ter acesso à escola regular, tendo como princípio orientador que “as escolas deveriam acomodar todas as crianças independentemente de suas condições físicas, intelectuais, sociais, emocionais, linguísticas ou outras (BRASIL, 2010. p.20)”.
Com a Declaração de Salamanca, abre-se assim um novo parêntese na
historia da educação, propiciando aos alunos com necessidades especiais a
convivência em uma escola regular com alunos regulares. Contudo ainda não se
alcançou os objetivos almejados, a educação especial deveria caminhar juntamente
com a escola regular atendendo as necessidades em todo o decorrer do seu ensino,
algo que ainda a alcançar.
A educação inclusiva visa à adaptação de alunos e professores a diferentes
realidades que podem ser encontradas no dia-a-dia escolar, seja esta adaptação a
alunos com alguma necessidade especial ou até a aquele aluno desmotivado e
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abandonado. A comunidade escolar deve se conscientizar de que nem todos são
iguais e as necessidades de adaptações são continuas.
De acordo com Sant’Ana , (2005) e Carvalho(2005) a inclusão escolar
almeja segundo seus fundamentos metodológicos uma educação de qualidade a
todos, respeitando as individualidades de cada aluno. Insistindo sempre na
preparação dos professores de sala comuns que receberão estes alunos, com ou
sem necessidades educacionais especiais. Neste sentido, os professores são
considerados a porta de recepção a esta educação inclusiva, com um papel de
formador, não apenas de conhecimento, mas também de opiniões. No entanto a
falta de preparo destes profissionais em atender a diversidade no processo de
inclusão afeta grandemente o se processo (GOFFREDO, 1992 e MANZINI, 1999
apud SANT’ANA, 2005), ainda deparamo-nos com a falta de infraestrutura e
materiais apropriados para o melhor atendimento e desempenho destes alunos no
ensino regular.
Entretanto a inclusão não se faz somente com professores, deve ser
entendida como um trabalho conjunto com o corpo docente da escola, diretores,
equipes pedagógicas e demais funcionários para que todos possam estar
preparados para atender os alunos de acordo com suas necessidades, permite a
escola a assumir e cumprir seu compromisso. Uma das alternativas encontradas
está no oferecimento de cursos de aperfeiçoamento e capacitação profissional a
todos os agentes envolvidos com a educação (SANT’ANA, 2005).
De acordo com Carvalho (2005), a educação inclusiva necessita que
elucidemos todas as dificuldades relacionadas ao ambiente escolar, como um
grande desafio que provoca uma nova visão da inclusão não somente dos alunos
com necessidades especiais, mas também de todo corpo docente e de estrutura
escolar.
Esquizofrenia: algumas considerações sobre a patologia
Muitos estudos foram realizados sobre a esquizofrenia. Porém poucos estão
relacionados ao processo de inclusão de crianças em idade escolar. Os alunos
esquizofrenicos são tratados pela sociedade como loucos ou endemoniados, na
maioria dos casos por falta de conhecimento sobre a patologia e mitos (ROMANHA,
2012). De acordo com Monteiro e Louzã (2007), Adad, Castro e Mattos (2000) e
CRUZ, SALGADO e ROCHA (2010) esquizofrenia é um transtorno mental que afeta
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processos cognitivos, comportamentais e emocionais, e causa prejuízo da atenção
continua aos indivíduos. Este transtorno pode afetar o convívio em sociedade, a
relação com a realidade assim como atividades diárias. Seus principais sintomas são
alucinações e delírios, transtornos de pensamento e fala, perturbação das emoções
e do afeto, déficits cognitivos e falta de vontade nas atividades cotidianas, suas
causas podem ser internas.
É um transtorno mental grave, porém pode se manifestar de formas
diferentes em cada individuo, com menor ou maior intensidade. Assim, cada um
deve ser atendido de forma individualizada e de acordo com seus sintomas
principais. Estes sintomas são classificados em positivos e negativos, onde positivos
incorporam os delírios, alucinações, alterações na fala e no comportamento, já os
negativos são considerados os de perda de afeto e contado com outros indivíduos. A
demonstração destes sintomas na esquizofrenia acabam afetando o processo de
construção do individuo no âmbito social e afetivo (OLIVEIRA; FACINA; JÚNIOR,
2012)
No ambiente escolar, os alunos com esquizofrenia acabam não conseguindo
se concentrar. De acordo com Oliveira et al (2012) os esquizofrênicos que
trabalhavam antes do diagnóstico da doença não conseguem concluir uma tarefa
sentindo-se desanimados e sem ânimo para concluí-las até o final. O mesmo ocorre
em sala de aula, pois o aluno sente-se frustrado quando não consegue realizar as
atividades e sentem medo ao lidar com as frustrações que possam ocorrer.
Os estudos publicados sobre este transtorno ainda são em sua grande
maioria focados em aspectos clínicos e farmacológicos e não demonstram como a
esquizofrenia afeta na vida escolar e nem o dia a dia do individuo que a desenvolve,
apesar dos sintomas aparecerem na idade escolar. A desinformação acarreta no
diagnostico tardio provocando o preconceito e a exclusão destes alunos que fogem
da homogeneização das escolas do nosso país e pela falta de informação
(ROMANHA, 2012).
Segundo Romanha (2012) o professor pode auxiliar à evidenciar os
primeiros sintomas da esquizofrenia já que é na escola onde os alunos começam as
suas relações sociais favorecendo a observação do professor no ambiente escolar.
Nas escolas é onde os alunos aprendem a se socializar com os demais e
para um aluno com fortes tendências a desenvolver a esquizofrenia, este ambiente
acaba afetando e agravando os primeiros sintomas tornando-o cada vez mais
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reprimido e consequentemente afetando seu desenvolvimento cognitivo e
ocasionando um futuro abandono escolar (ROMANHA, 2012).
A realidade do ensino de astronomia no Brasil
Muitos dos conceitos fundamentais da astronomia não são trabalhados nas
salas de aula do ensino fundamental. Segundo os Parâmetros Curriculares
Nacionais, decorridos da Lei de Diretrizes e Bases (LDB) de 1996 estes conceitos
deveriam ser incluídos nas disciplinas de ciências no ensino fundamental e físico no
ensino médio. Contudo a realidade que encontramos é a falta de preparo dos
profissionais em trabalhar este conteúdo, devido sua formação falha, a falta de
experiência e de metodologias para o ensino de astronomia. Os conteúdos de
astronomia estão diluídos nos demais do currículo escolar, no ensino fundamental,
não sendo trabalhados de forma a obter a compreensão dos alunos (LANGHI e
NARDI, 2009).
A astronomia no ensino fundamental ainda tem sido apresentada de forma
abstrata e sem conexão com a realidade do aluno (LANGHI E NARDI, 2009 e
BARROSO; BORGO, 2010). Ocorre um desconhecimento da população em geral a
respeito das novas descobertas e estudos relacionados à astronomia, e isso afeta o
desejo dos alunos a adquirir este conhecimento, tornando-o algo distante de sua
realidade.
Segundo Langhi e Nardi (2009) mesmo com a grande produção científica no
campo da astronomia, esta ciência não tem enfoque na mídia popular e continua
pouco abortada na comunidade escolar. Para sua transformação, o uso de
diferentes ferramentas no ensino de astronomia é de grande importância para sua
compreensão (LANGHI e NARDI, 2004).
A PESQUISA
Para compor os dados investigativos, optou-se pela pesquisa qualitativa,
seguindo a sequência de ensino investigativo ou SEI, proposto por Carvalho (1997),
onde este método prioriza os questionamentos a partir de um problema para a
construção do conhecimento científico, deixando seu aluno livre na forma de resolver
este determinado problema acaba evidenciando o poder do aluno em construir seu
conhecimento, e não priorizando as aulas expositivas do professor, e sim este
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agindo como um orientador na construção do conhecimento, trabalhando com o
ensino de ciências por investigação.
A sequência de ensino investigativo ou SEI proposta por e Carvalho (2011),
proporciona ao aluno a busca pelo conhecimento através de situações problemas
introduzidas pelo professor, que age como um produtor de questões, um mediador,
proporcionando aos alunos a elaboração de justificativas ao problema proposto,
despertando no aluno o prazer no conhecimento por meio de aulas motivadoras e
proporcionando ao aluno um conhecimento investigativo.
O problema proposto dentro de uma SEI, deve ser desafiador e instigar o
aluno a procura de uma solução, e de acordo com Carvalho (2013 apud Bellucco e
Carvalho) e Carvalho (1997) algumas etapas do raciocínio científico deve estar
presente em uma SEI:
● Partir do conhecimento prévio, elaborar hipóteses e testá-las para a
resolução do problema;
● Discussão para a resolução do problema;
● Solucionar o problema e produzir uma explicação e,
● Formar conceito científico para o problema proposto.
Foram participantes desta pesquisa alunos do 9° ano do ensino Fundamental
II, de uma escola de ensino estadual da cidade de Cambé, com 32 alunos na qual a
pesquisadora lecionava a disciplina de ciências, acompanhando o desenvolvimento
da mesma desde o começo do ano.
Os alunos apresentam idade e série compatível com o esperado para a
turma, 13 para 14 anos, com exceção do aluno diagnosticado com esquizofrenia que
apresenta uma distorção na idade.
Apresentando a forma de coleta e análise dos dados
A pesquisadora colocou no quadro duas palavras aos alunos: PESO e
MASSA e foram questionados de suas similaridades e diferenças encontradas.
Na sequência foi utilizado como base para o levantamento de dados um
programa livre de computadores disponível em:
http://www.labvirt.fe.usp.br/simulacoes/fisica/sim_fis_questaogravidade.htm, de
nome: Uma questão de Gravidade, que desenvolve noções de força peso de um
corpo nas diferentes gravidades do nosso sistema solar. O programa proporciona ao
aluno a noção exata de que a força peso não é a mesma em todos os planetas. O
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jogo apresenta interação entre os alunos e um astronauta para poderem juntos
desvendar através de cálculos a força peso deste astronauta em todos os planetas
do sistema solar, como mostra nas figuras 1 e 2 com páginas do jogo.
Figura 1: Tela de abertura do jogo.
Figura 2: Páginas do jogo com a interação do astronauta com os alunos.
O jogo tem por objetivo final completar a tabela apresentada na figura 3, com
todas as forças peso em todos os planetas do sistema solar efetuando assim o
comparativo das mesmas.
Após a elaboração da atividade os alunos foram questionados novamente a
respeito de peso e massa através da seguinte charge:
Figura 4: Charge Garfiled
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Por meio desta, questionamos se a massa corporal do astronauta presente
na atividade anterior sofreu a mesma alteração que o Garfield propõe ao procurar
um planeta com a gravidade menor e se atingirá seu objetivo, utilizando 3 perguntas
norteadoras. Foram elas:
1. Observe a tirinha do Garfield e compare com o que aconteceu com o
astronauta, ele terá o objetivo alcançado indo para um planeta com a
gravidade menor?
2. Desenhe demonstrando como o corpo do astronauta se comportaria em
diversas gravidades. Ele realmente vai ficar mais gordo ou mais magro?
3. Este peso que o Garfield fala é o mesmo peso que o astronauta apresenta
nos demais planetas do sistema solar.
Para efetuar a coleta de dados, optou-se por: um diário de bordo, desenho,
texto e roda de conversa.
Essas atividades propiciaram a discussão sobre a diferença de força peso e
massas corporais e onde ambas as forças, se podem ser encontradas e aplicadas, e
como concluíram estas diferenças. Vale ressaltar que o sujeito da pesquisa, o aluno
esquizofrênico, analisando se o mesmo formulou o conhecimento como os demais,
sua interação com os colegas de sala, quais suas principais dificuldades e seus
avanços.
Foram necessárias 4 aulas de 50 minutos para aplicação completa do
método, descritas passo a passo a seguir.
Aulas 1 e 2: os alunos foram questionados das similaridades e diferenças
dos termos propostos: MASSA e PESO em debate aberto na sala. Em duplas os
alunos foram apresentados ao programa livre de computadores e puderam aplicar o
jogo. Com auxilio de uma calculadora, calcularam a força peso do astronauta em
cada planeta do sistema solar. A Tabela mostrada na figura 3 foi copiada no caderno
para futuras discussões.
Aula 3: foi entregue aos alunos a charge do Garfield com as 3 perguntas
para que pudessem estabelecer um comparativo da charge com o resultado obtido
no jogo. Esta atividade foi realizada com grupos de 5 a 6 alunos.
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Figura 5: Charge Garfiel
1. Observe a tirinha do Garfield e compare com o que aconteceu com o astronauta, ele
terá o objetivo alcançado indo para um planeta com a gravidade menor?
2. Desenhe demonstrando como o corpo do astronauta se comportaria em diversas
gravidades. Ele realmente vai ficar mais gordo ou mais magro?
3. Este peso que o Garfield fala é o mesmo peso que o astronauta apresenta nos
demais planetas do sistema solar.
Aula 4: foi realizada uma roda de discussão aberta com toda a sala, dirigida
pela professor, versando sobre os conteúdos trabalhados em grupo e em duplas,
observando as respostas de cada aluno e os desenhos desenvolvidos sobre o tema.
Ao fim da discussão todos puderam completar suas respostas dadas no inicio da
atividade, e explicar o conceito atribuído a força peso.
RESULTADOS E DISCUSSÃO DOS DADOS
De acordo com Carvalho (1997), o professor deve tornar as aulas atrativas
desenvolvendo nos alunos o prazer em aprender através de aulas que os instiguem,
transformando o ambiente intelectualmente ativo, para que o aprendizado aconteça.
Ao ser lançado o questionamento do significado da expressão “Força peso”,
muitos ficaram sem entender e atribuíram ao conceito algo relacionado apenas com
força. Foi apresentado ao aluno alavras guia para que pudessem achar o significado
da expressão tais como: “O que é?”, “Para que serve?” e “Onde é usado?” não
necessariamente sendo obrigada a seguir esta linha de raciocínio deixando-os livres
a responder.
Obtivemos varias respostas, onde muitos desmembraram as palavras e
deram o significado separado de cada uma dela, como montra na figura abaixo:
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Figura 6: Atividade em sala 1º questionamento
O Aluno 1, portador de esquizofrenia, fez o desmembramento da expressão,
porém direcionou a sua explicação apenas para força física, não fazendo relação
com gravidade, assim como muitos dos seus colegas em sala.
Figura 7: Atividade em sala do primeiro questionamento,
respostas do Aluno 1.
Vale ressaltar que quando o professor inclui em sua metodologia jogos de
computadores, estes se mostram atrativos para os alunos já que nesta idade, é uma
atividade que gostam de praticar. Propõe-se então, o incentivo na escola da relação
de ciências, tecnologia e sociedade, proposto por Carvalho (2011) como um fator
essencial em uma SEI. Ao final da atividade, com os cálculos, alguns alunos
questionaram sobre o conceito de massa que se encontrava na fórmula. Surgiram
alguns questionamentos, tais como: a- Massa é igual peso?, b- se a massa que
colocamos na fórmula é o peso do astronauta, o que é força peso que aparece na
fórmula?. Aqui observamos a importância do erro na construção do conhecimento,
proposto por Carvalho (2011), pois iniciaram os questionamentos e emitiram
respostas que deram origem a pergunta inicial, mesmo que inconscientemente
formularam o conhecimento cientifico.
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A primeira impressão que o Aluno 1 teve, foi de surpresa, pois nunca fora
deixado tão livre para realizar uma atividade, já que sua professora de apoio também
não interferiu, deixando-o desvendar o jogo na maior parte do tempo sozinho. Pediu
ajuda somente para compreender a fórmula e o que colocaria no lugar de cada letra,
porém foi até o fim sozinho e sem maiores dificuldades.
Após todos os alunos terem terminado de preencher a tabela, figura 8,
finalizamos o jogo retornamos a sala de aula, para na aula seguinte realizar a
atividade da charge do Garfield acompanhado das 3 perguntas.
Figura 8: Tabela preenchida com os dados de força peso obtida no fim do jogo.
Para o aluno esquizofrênico este foi um grande desafio, pois dentro de umas
de suas maiores dificuldades está no relacionamento com outro, pois os
esquizofrênicos sempre tendem ao isolamento (ROMANHA, 2012). Neste sentido, o
trabalho realizado em grupo foi essencial e dentro de suas limitações, procurou fazer
o melhor, contando sempre com o apoio dos colegas, professores e professora de
apoio.
A maior parte dos alunos conseguiu identificar que não ocorre mudança na
estrutura corporal do astronauta, para tanto se o Garfield for para outro planeta não
ocorrera alteração em sua massa corporal não ficando nem mais magro e nem mais
gordo, pois isso ocorreu com o astronauta.
Para completarmos a atividade proposta, solicitou-se que os alunos
desenhassem o corpo do astronauta em todos os planetas, podendo assim
evidenciar o entendimento dos alunos em um desenho deles próprios, Figura 8, que
mostra que identificaram que o que muda não é a sua massa corporal e sim o peso
gravitacional em cada planeta.
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Figura 9: Resposta do questionamento feito para os alunos.
Para o Aluno 1 o entendimento da diferença entre força peso e massa
corporal foi construído juntamente com os demais colegas, como aponta a Figura 10.
Está fase do trabalho realizado é muito utilizada quando os esquizofrênicos nas
terapias ocupacionais, pois trabalham em grupos suas habilidades individuais,
proporcionando a capacidade de concluir uma tarefa proposta, promovendo ao
esquizofrênicos a certeza de que tem a capacidade de realiza-la (SHIRAKAWA,
2000).
Figura 10: Resposta do Aluno 1
Na aula 4, iniciamos a discussão dos conteúdos trabalhados com toda a sala
com a professora mediadora. De acordo com Capecchi; Carvalho e Silva (2002) a
argumentação em sala de aula é essencial para a construção do conhecimento
científico, enriquecendo seu vocabulário e experimentando situações novas,
observamos como cada aluno compreendeu o assunto e como chegaram à
conclusão que os termos utilizados eram palavras homônimas, com a mesma grafia,
porém significados diferentes.
O aluno esquizofrênico pode ter um grande desinteresse em qualquer uma
das atividades propostas, como evidência Koga e Furegato (2002). Contudo
notamos que o Aluno 1 apresentou uma grande motivação e vontade na busca pelo
conhecimento. Sua interação com a turma, pode levá-lo a compreender a atividade
proposta e a construção do conhecimento científico.
Observamos que foi necessário o trabalho em grupo para que construção do
conhecimento fosse favorecida. O papel do professor neste momento foi de
agregador de conhecimento, introduzindo os termos científicos e aprimorando o
vocabulário dos mesmos (CARVALHO, 2011).
Notamos que em uma escola acolhedora e preparada para receber alunos
de inclusão o conhecimento se torna mais agradável, o uso de metodologias
apropriadas para atendê-los não é somente algo que devamos usar eventualmente.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Apesar de instigante aplicar uma metodologia nova para uma sala com
alunos de inclusão, constatou-se que não é algo tão difícil de ser alcançado. Os
alunos estão muito abertos a mudanças, e cabe aos professores propiciar novas
propostas para assim deixar as aulas mais atrativas.
Trabalhar com um aluno esquizofrênico é um grande desafio, não apenas
pelas suas limitações, que podem ser superadas a cada dia, mas pelas nossas
próprias limitações, principalmente no modelo engessado, e não aberto a mudanças
aos quais são apresentados.
Apesar de poucas publicações cientificas relacionando a esquizofrenia e o
ambiente escolar notou-se que os alunos incluídos responsavelmente com o devido
tratamento, se apresenta favorável, dentro de suas limitações, sempre superando,
permitindo assim que consigam aprimorar seus conhecimentos e interagir com seus
colegas.
As SEIs é apresentada como um desafio ao trabalho do professor, porém
quando superado se mostra de grande ajuda às aulas de ciências e ao tema
astronômia, pois é considerada uma metodologia inovadora, de fácil aplicação e de
grande aceitação pelos alunos.
Com a SEI o entendimento se mostra gradual e estimulante para o aluno,
proporcionando um aprendizado de forma natural. Sua aplicação em salas com
alunos com NEEs foi de grande ajuda, pois aprimorou o entendimento de si mesmo
e de suas capacidades de superação.
Podemos evidenciar que o papel da estrutura escolar de apoio ao aluno com
NEEs é de grande valia, pois com todos os subsídios necessários, é sempre
acolhedora e assim podemos superar as diferenças.
O papel do educador como mediador dos estudos é de estrema importância
para o aperfeiçoamento do conhecimento dos alunos, pois a transformação do
conhecimento popular para o conhecimento científico só é possível com a boa
condução da atividade proposta, ou todo o trabalho acaba se tornando sem sentido
para o aluno, onde o mesmo não consegue se desenvolver de forma individualizada
somente.
Uma escola preparada para acolher as diferenças é essencial. Os alunos
com NEEs necessitam de acolhimento e não devem ser apenas colocados dentro de
uma sala sem o mínimo de atendimento a que necessitam, tornando a inclusão
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imposta, nada gradual e preparada para acontecer. A escola como um todo deve se
preparar para acolher seus alunos.
O ambiente acolhedor e preparado favorece o aprendizado de forma natural,
para todos os alunos.
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