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Alteração do granito no contacto com o filão de minérios uraníferos da Urgeiriça

Autor(es): Neiva, J. M. Cotelo

Publicado por: Museu e Laboratório Mineralógico e Geológico; Centro de EstudosGeológicos

URLpersistente: http://hdl.handle.net/10316.2/38008

Accessed : 23-Apr-2021 11:55:29

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1953

J. M. Cotelo Neiva — Alteração do granito no contacto com o filão de minérios uraníferos da Urgeiriça. Miguel Montenegro de Andrade — Sobre a ocorrên- cia de doleritos pigeoníticos em Boila (Moçambique). Miguel Montenegro de Andrade — Um riolito de Marracuene, Moçambique. Marília Xavier de Morais — Contribuição para o conhecimento geoquímico das cassiterites por- tuguesas. J. Custódio de Morais — Furnas dos Açores.

S U M Á R I O

Memóriase Notícias

PUBLICAÇÕES DO MUSEU E LABORATÓRIO MINERALÓGICO E GEOLÓGICO E DO CENTRO DE ESTUDOS GEOLÓGICOS DA UNIVERSIDADE DE COIMBRA

N.° 35

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Alteração do granito no contacto com o filão de minérios uraníferos da Urgeiriça

por

J . M . Cotelo NeivaProfessor da Universidade de Coimbra

A rocha dominante na Urgeiriça é o granito porfiróide de duas micas em que a biotite predomina.

No contacto com o importante filão de minérios uraníferos, que a Companhia Portuguesa do Radium, L.da ali explora, o gra­nito sofreu profundas modificações devido a metamorfismo hidro- termal quando da génese daquele filão.

E de essas modificações que o granito sofreu por contacto que me ocuparei neste trabalho, pois não só têm interesse para o estudo genético do jazigo de minérios uraníferos mas também para a prospecção destes minérios

Estudei amostras colhidas em 1936 pelo Prof. Custódio de Morais e outras íiltimamente colhidas por mim quando efectuei observações de campo (1).

Granito porfiróide da Urgeiriça

O granito porfiróide inalterado, que constitui a maior parte dos afloramentos de rochas quártzicas da Urgeiriça, foi por nÓ3

(1) À Ex.ma direcção da Companhia Portuguesa do Radium, L.da e aos Ex.mos Senhores Eng. J. Birne e Dr. J. Cameron, respectivamente direc­tor técnico e chefe da secção de geologia daquela Empresa, os meus agra­decimentos pelas atenções dispensadas quando da minha visita às minas da Urgeiriça e por me terem facultado a colheita de diversas amostras.

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descrito em outro trabalho (1). Contudo, como é da comparação deste granito com a mesma rocha alterada por contacto com o filão metalífero que surgirão as nossas considerações e conclusões, repetirei aqui o seu estudo.

Macroscopia—É um granito de grão grosseiro com abundan­tes fenocristais de feldspato (microclina) no geral com macia de Carlsbad. Não é difícil distinguir à lupa o feldspato potássico da plagioclase por serem frequentemente visíveis nesta as macias polissintéticas. O quartzo, granular, é grosseiro. A biotite e a moscovite ressaltam pelo brilho das faces de clivagem.

Microscopia — Tem textura porfiróide de base hipautomórfica- -granular grosseira.

Os fenocristais são de microclina, hipidiomorfos, com nume­rosas inclusões de oligoclase, biotite e algumas de moscovite e quartzo (Est. I — fig. 1) que lhe conferem, por vezes, pela sua orientação, aspecto poiquilítico. As inclusões dominam em direc­ções paralelas às faces principais dos fenocristais. Estes mos­tram-se albitizados (microclina-micropertite), com aspectos de albi­tização que variam do venado ao pontual.

Na massa fundamental, de grão grosseiro, ocorrem: microclina? alotriomorfa, albitizada; plagioclase, do tipo oligoclase, hipídio a alotriomorfa, no geral maclada segundo a lei da albite e por vezes com o complexo albite Carlsbad, ligeiramente sericitizada na porção central dos cristais; biotite, alotriomorfa, pleocróica (ϒ = castanho pinhão, α = β = amarelo palha), com profusas inclu­sões de zircão com halos negros pleocróicos (Est. I — fig. 2), e, quando ligeiramente cloritizada, com acículos e grânulos de rútilo e alguns de magnetite; moscovite, em menor quantidade do que a biotite, intercrescendo por vezes com este mineral, mas no geral ligeiramente ulterior; quartzo, por vezes incluso na micro­clina, mas com a sua geração principal ulterior a todos os mine­rais da rocha, de que mostra inclusões, tendo extinção ligeira­mente ondulante e inclusões de rútilo; apatite, granular, inclusa no quartzo e alguma individualizada.

(1) Cotelo Neiva, J. M., 1953 — Granitos da Urgeiriça Memórias e Notícias, publ. do Mus. e Lab. Min. e Geol. da Universidade de Coimbra, N.° 34.

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Trata-se de granito porfiróide de duas micas em que a biotite predomina, e que apresenta a seguinte moda:

%Quartzo.............................................................. 28,39Microclina......................................................... 49,93Oligoclase......................................................... 16,03Biotite................................................................. 3,41Moscovite........................................................... 2,24

100,00

Granito porfiróide alterado por contacto com o filão de minérios uraniferos da Urgeiriça

Macroscopia — Os fenocristais de microclina têm cor vermelha suja, bem como alguma microclina da massa de grão grosseiro que envolve aqueles fenocristais. Esta massa, além de conter micro­clina, é fundamentalmente constituída por quartzo de granulado idêntico ao do granito inalterado, por lamelas de mica branca e por sericite de tonalidade verde muito clara que forma agregados compactos no lugar dos feldspatos.

Microscopia — Mantém se a textura da rocha inalterada.A microclina vê-se intensa e parcialmente sericitizada (Ests. n

e III), sericitização que se efectuou da periferia para o centro dos cristais. E a porção central de diversos cristais que ainda se mantém. Contudo, nestas porções há pigmentos ferríferos aver­melhados que penetraram clivagens e fracturas constituindo fre­quentemente muito finas vénulas (Est. ii — fig. 1; Est. IV — fig. 2). Também se reconhecem alguns aspectos de siiicificação, em que o quartzo penetrou a microclina em finas vénulas que lembram arabescos.

Da plagioclase não se observam cristais visto terem sido totalmente sericitizados.

A biotite transformou-se numa mica branca (Est. III; Est. iv — fig. 1), muito ligeiramente pleocróica (ϒ = verde muito claro; α = β = branco), com cores de polarização idênticas às da mosco- vite mas pràticamente uniaxial, a bauerite (biotite descolorida). Mostra inclusões de zircão sem halos pleocróicos, que foram absorvidos ou dissolvidos, e de acículos de rútilo.

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A moscovite é mais abundante do que no granito inalterado. Distingue-se da biotite baueritizada pela figura de interferência e por serem em pequena quantidade as inclusões de zircão. Vêem-se alguns aspectos de sericitização centrípeta da moscovite.

O quartzo apresenta as mesmas características que no granito inalterado, mas vê-se sericitizado nos bordos de alguns cristais, por vezes em plagas ainda extensas, e penetrado por pigmentos ferríferos avermelhados

Ocorrem pequenos cristais individualizados e alongados de apatite com inclusões de zircão.

A sericite forma conjuntos que semelham feltro (Ests. n e m; Est. iv—fig. 1), e, por vezes, toma arranjo parcialmente esfe- rolítico.

Os pigmentos ferríferos são de natureza hematítica.A composição volumétrica real desta rocha é a seguinte:

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Descritos o granito dominante na região e a sua porção mais alterada no contacto com o filão de minérios uraníferos da Urgei­riça, vou procurar interpretar, tomando por termo de comparação a rocha inalterada, as modificações que esta sofreu por contacto com aquele filão.

Embora genèricamente esteja convencido que a lei de igual volume não se pode verificar num senso restrito, mesmo no meta­morfismo regional, e, portanto, ainda menos no metamorfismo hidrotermal, vou supor, por a textura da rocha ter ficado total­mente preservada e também por esquema simplista, que o metaso­matismo que o granito sofreu obedeceu àquela lei.

Para se poder fazer a comparação das modificações químicas e de composição mineralógica que o granito sofreu, apresento a seguir uma série de quadros.

Modificações que o granito sofreu no contacto com o filão de minérios uraníferos

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No quadro I refiro as análises químicas (1) da rocha inalte­rada e da rocha alterada:

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(1) Ao Ex.mo Senhor Eng. J. Guimarães dos Santos, Director do Ser- viço de Fomento Mineiro, agradeço reconhecido o haver mandado realizar, no Serviço que superiormente dirige, as análises químicas das rochas da Urgeiriça.

Os valores de UO3 foram determinados no Museu e Laboratório Mine­ralógico e Geológico da Universidade de Coimbra pelos Drs. Duarte Gui­marães e Reis Torgal.

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No quadro II aquelas análises estão recalculadas para 100% depois de haver subtraído H2O — :

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Para o quadro III as análises foram recalculadas de forma a darem-nos a composição química de 1 m3 de cada uma das rochas :

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0 quadro IV, deduzido do quadro III, mostra as adições e as subtracções que se efectuaram na alteração metasomática do granito :

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Para comparação das composições mineralógicas volumétricas reais concatenamos as modas no quadro Y :

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Mas, neste quadro, sabendo se que a mica branca, exceptuando a sericite, entra na proporção de 7,76%, e não sendo possível, ao determinar a composição volumétrica pela platina integradora, distinguir a moscovite da bauerite (biotite totalmente descolorida), admito, na porção alterada, a ocorrência de bauerite numa propor­ção Pràticamente semelhante à da biotite no granito inalterado, 3,34%, deduzindo para a moscovite 4,42%, o que não deve estar longe da verdade pelo exame cuidado das lâminas delgadas.

Conhecendo o peso específico das amostras, cuidadosamente determinado, calculei a composição mineralógica real de 1 m3 de cada uma das rochas (quadro VI):

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Da comparação dos quadros IV e VII, isto é, das modifica­ções químicas e mineralógicas que o granito sofreu por metasoma­tismo, ressaltam diversas conclusões:

Assim, o aumento em Si O2 explica-se, em parte, por quartzo de neoformação hidrotermal. Mas o grande aumento em quartzo não se pode explicar somente por simples adição, pois esta só deve ter originado um aumento de cerca de 2/5 do quartzo recém-for­mado. Os outros 3,5 de aumento em quartzo originaram-se pro­vavelmente quando da moscovitização e da sericitização dos felds­patos.

O aumento em Fe2 O3 é explicável pelos numerosos pigmentos ferríferos, hematíticos, que impregnaram a microclina não sericiti­zada e, por vezes, algumas porções desta e da oligoclase sericitiza- das. E natural que o aumento em Mn lhe esteja correlacionado.

O aumento em K2O é explicável por alguma moscovite de ueoformação e, em grande parte, pela sericitização dos feldspatos.

E a partir deste quadro deduzi o quadro VII, de que cons­tam as principais modificações mineralógicas (adições e subtrac- ções) que o granito sofreu por metasomatismo hidrotermal ocasio­nado quando da génese do filão de minérios uraníferos da Urgeiriça:

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Os aumentos em P2O5 e UO3 explicam se por muito ligeiro aumento de apatite e ocorrência de algum mineral uranífero fos­fatado, naturalmente metatorbernite.

As alterações micáceas e a ocorrência de alguma moscovite de neoformação explicam o aumento em H2O+.

As diminuições em Ti O2, Mg O e da maior parte do Fe O são compreensiveis pela baueritização da biotite. Foram mobilizados pelas soluções hidrotermais ascendentes.

As diminuições em Na2 O, Ca O e Al2 O3 resultam da oligo­clase ter sido totalmente sericitizada e da sericitização parcial e abundante da microclina albitizada.

As principais modificações que o granito sofreu por contacto com o filão de minérios uraníferos da Urgeiriça decrescem a par­tir do contacto com o filão e são muitas vezes quase ou prática- mente nulas a cinco metros, em média, de distância daquele con­tacto.

Não considero a albitização da microclina, com formação de micropertites, como inerente às actividades hidrotermais filo­neanas, mas anterior, por se estender Pràticamente a todo o maciço, granítico, e contemporânea de fases de mais alta temperatura.

As modificações que o granito sofreu foram: baueritização, moscovitização, sericitização, silicificação, fosfatizações e pigmen­tação ferrífera.

Destas modificações, as mais importantes macroscopicamente pela sua extensão foram: a pigmentação ferrífera, a baueritização, a sericitização e a silicificação.

Baueritização — A alteração da biotite para uma mica branca foi total e acompanhada de dissolução ou reabsorção dos halos pleocróicos dos pequenos cristais de zircão, que apresenta como inclusões, e de exsudação de alguns grânulos e acículos de rutilo. Deu-se a descoloração da biotite, mas a birrefriugência mantém-se constante.

Referi em outro trabalho aspectos de baueritização da biotite do granito no contacto com pegmatites graníticas complexas (1).

(1) Cotelo Neiva, J. M , 1949 — Jazigos Portugueses de Cassiterite e de Volframite. Com. Serv. Geol. de Portugal, t. xxv.

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A exsudação de óxidos de ferro é constante na baueritização.Suponho a baueritização efectuada por acção de soluções

hidrotermais alcalinas.

Moscovitização — Algumas porções de cristais de oligoclase e de microclina alteraram-se para pequenas plagas alotriomorfas de moscovite. Suponho essa substituição simultânea da introdução de algum quartzo.

A moscovitização pode ser produzida por soluções hidroter­mais tanto ácidas como alcalinas. Creio-a, neste caso, efectuada por solução alcalina devido a adjunção de algum potássio.

Sericitização — Foi total na plagioclase, o que mostra ser este mineral mais facilmente sericitizado do que os feldspatos potás- sicos. A microclina mostra-se intensamente sericitizada, mas não totalmente.

O quartzo também se mostra sericitizado nos bordos dos cris­tais, por vezes intensamente.

Vêem-se também alguns aspectos de sericitização centrípeta da moscovite e da biotite baueritizada, e penetração destas micas pela sericite.

A sericitização dos feldspatos é concomitante de alguma sili- cificação.

A faixa de intensa sericitização atinge frequentemente a espessura de 2 metros para cada lado do filão.

E natural que a sericitização se deva a acção de solução hidrotermal alcalina a temperatura superior a 100° C., pois na Urgeiriça envolveu adição de algum potássio e migração do sódio e do cálcio dos feldspatos.

Silicificação — No geral a moscovitização e a sericitização .foram acompanhadas de libertação de sílica sob forma de quartzo. E, assim, tiveram importância na sua formação as soluções alca­linas.

Mas também houve adição de alguma sílica, e esta é prová­vel tenha resultado de solução hidrotermal onde estavam também presentes os álcalis.

Fosfatizaçôes — Considero dois tipos de fosfatização pois forma­ram-se dois minerais fosfatados diferentes: apatite e metatorbernite,

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A apatite é, incontestàvelmente, mais abundante no granito metasomatizado do que no inalterado.

A ocorrência de metatorbernite suponho a pela existência de 0,05 % de U O3 na análise, o que corresponderá no granito alte­rado à ocorrência de 0,08% de metatorbernite.

A apatite formar-se-ia de solução hidrotermal ácida rica em mineralizadores (fase mista pneumatolítico-hidrotermal), que inva­diu o granito encaixante.

A metatorbernite teria a sua génese a temperatura mais baixa e a partir de solução hidrotermal que penetrou fendas capilares e subcapilares do granito.

Pigmentação ferrífera— A pigmentação ferrífera foi intensa, pois conferiu aos fenocristais de microclina e a algumas porções não seritizadas deste mineral, na massa de grão grosseiro, a cor vermelha suja.

O pigmento ferrífero é constituído por hematite.Por isomorfismo é natural que Mn ocorra no pigmento hema­

títico.A pigmentação ferrífera foi anterior à baueritização e à

sericitização. Encontram-se algumas porções de granito forte­mente impregnadas por pigmento hematítico, em que a biotite se conserva inalterada e os feldspatos não sofreram sericitização.

Por vezes a pigmentação ferrífera encontra-se, em diversos locais, ainda à distância de 10 m. do filão.

Pelas relações entre os diversos minerais conclui-se que a ordem pela qual se teriam efectuado os fenómenos de metasoma­tismo do granito seria: l.°—fosfatização apatítica; 2.°— pigmen­tação ferrífera; 3.° — moscovitização e silicificação ; 4,° — baue­ritização; 5.° — sericitização e silicificação; 6.° — silicificação; 7.° — fosfatização uranífera.

Interesse, para a prospecção mineira, das modificações do granito no contacto com os filões

de minérios uraníferos

São de grande interesse para a prospecção mineira as modi­ficações nítidas, bem definidas, que as rochas encaixantes de um jazigo hidrotermal, pneumatolítico ou pegmatítico sofreram quando

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da formação de este, pois essas modificações podem-se generalizar a idênticas rochas encaixantes de jazigos do mesmo tipo e da mesma substância.

E assim, são de grande importância algumas das modificações referidas no caso dos jazigos de minérios uraníferos.

A sericitização dos feldspatos e do quartzo, a pigmentação ferrífera dos feldspatos e a baueritização da biotite são típicas modificações que o granito sofreu não só no contacto com o filão da Urgeiriça mas também em contacto com outros filões de miné­rios uraníferos, por exemplo em Reboleiro, Alto da Várzea, Car- rasca, Vilar Seco, Rãs, Terranho, Moreira do Rei, etc.

E essas modificações são bem visíveis no granito da proximi­dade dos filões, quer nos afloramentos e nos trabalhos mineiros, quer nos testemunhos das sondagens efectuadas.

Por isso, será de suma importância localizar nos afloramentos graníticos do Maciço Hespérico essas zonas com aspectos conjun­tos de profusa sericitização dos feldspatos e do quartzo, abundante pigmentação ferrífera dos feldspatos e intensa baueritização da bio­tite, e prospectá-las inicialmente por contadores de Geiger e por contadores de cintilação.

E de esperar que se obtenham bons resultados na prospecção destas áreas, de forma a levar à descoberta de novos jazigos de minérios uraníferos.

Conclusões

1) — As adições e subtracções de minerais que por m3 o gra­nito sofreu no contacto com o filão de minérios uranífe­ros da Urgeiriça foram :

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2) — As adições e subtracções químicas que por m3 o granito sofreu, no referido contacto, foram:

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3) — As modificações que o granito sofreu por contacto com o filão de minérios uraníferos da Urgeiriça foram: baueri­tização, moscovitização, sericitização, silicificação, fosfa- tizações e pigmentação ferrífera.

4) —As mais importantes alterações foram: a pigmentaçãoferrífera, a baueritização, a sericitização e a silicificação.

5) — A faixa de intensa sericitização atinge frequentemente alargura de 2 m. de cada lado do filão.A faixa de pigmentação ferrífera é mais larga e, por vezes, encontra-se ainda à distância de 10 m. do filão.

6) — A ordem pela qual se teriam efectuado os fenómenos dematasomatismo do granito seria: l.° — fosfatização apa- títica; 2.° — pigmentação ferrífera; 3.°— moscovitização e silicificação; 4.° — baueritização; 5.°—sericitização e

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silicificação; 6.° — silicificação; 7.° — fosfatização uraní- fera.

7) — Baueritização — Foi tofcal da biotite, acompanhada pordissolução ou reabsorção dos halos dos pequenos cristais de zircão inclusos. A baueritização implica quimica­mente migração de Ti O2, Mg O, Fe O e, provavelmente, de substâncias radioaetivas.Moscovitização — Efectuou-se nalgumas porções de cris­tais de oligoclase e de microclina, o que trouxe certo aumento em H2 O + e K2 O e algum decréscimo em Ca O, Na2 O e Al2 O3.Serieitização — Foi total da oligoclase, parcial da micro­clina e do quartzo (neste nos bordos dos cristais) e tam­bém de alguma moscovite e de alguma bauerite. Traz como consequência química aumento em K2 O e H2 O+ e diminuição em Na2 O, Ca O e Al2 O3.Silicificação — Parte foi concomitante da moscovitização e da sericitização, em que houve libertação de quartzo (cerca de 3/5 do aumento em quartzo); outra parte corresponde a adição deste mineral (cerca de 2/5 do quartzo recém-formado).Fosfatizações — Efectuaram-se em muito pequena quan­tidade, correspondendo a adições de apatite e de meta- torbernite, e só se podem aperceber nas análises quí­micas.Pigmentação ferrífera — Foi intensa, em especial dos cristais de microclina, trazendo nas análises aumento em Fe2 03 com que se deve correlacionar o aumento em Mn.

8) — Seriam soluções hidrotermais alcalinas que teriam pro­vocado a baueritização, a moscovitização, a sericitização, a silicificação e, talvez, a pigmentação ferrífera.A fosfatização apatítica poderá ter sido originada por solução hidrotermal ácida rica em componentes voláteis. A fosfatização uranífera efectuou-se a temperatura mais baixa.

9) — Nas regiões graníticas do Maciço Hespérico que apresen­tem aspectos conjuntos de profusa sericitização dos

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2) — Les additions et soustractions chimiques que le granite a subies par m3, au dit contact, sont les suivantes :

R É S U M É

Altérations du granite au contact avec le filon de minerais uranifères de l'Urgeiriça, Portugal

1) — Les additions et soustractions de minéraux que le granite a subies,, par m3, au contact avec le filon de minerais uranifères de FUr- geiriça sont les suivantes :

feldspatos e do quartzo, abundante pigmentação ferrífera dos feldspatos e intensa baueritização da biotite devem-se prospectar os minérios de urânio.

Coimbra, Outubro de 1953.

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3) —, Les modifie j tions que le granite a subies, au contact avec le filon de minerais uranifères de l’Urgeiriça, sont les suivantes : baueriti- sation, muscovitisation, séricitisation, silicification, phosphatisa- tions et pigmentation ferrifère.

4) —Les altérations les plus importantes sont: la pigmentation ferri­fère, la baueritisation, la séricitisation et la silicification.

5) — La zone d'intense séricitisation atteint fréquemment la largeur de 2 m. de chaque côté du filon.La zone de pigmentation ferrifère est plus large et on la retrouve, parfois, encore à une distance de 10 m. du filon.

6 )— L’ordre selon lequel auraient eu lieu les phénomènes de métaso- matose du granite, serait le suivant: l.° —phosphatisation apatiti- que; 2.° — pigmentation ferrifère: 3.° — muscovitisation et silicifi­cation; 4.° — baueritisation ; 5.° — séricitisation et silicification; 6 .° — silicification; 7.° — phosphatisation uranifère.

7 ) —Baueritisation: Elle a été totale pour la biotite, accompagnée de dissolution ou de réabsortion des auréoles des petits cristaux de zircon inclus. La baueritisation suppose chimiquement la migra­tion de Ti O2 , Fe O, Mg O et, probablement, de substances radio­actives.

Muscovitisation: elle s'est effectuée sur quelques parties d'oligo- clase et de microcline, ce qui a fait augmenter le H2 O H- et le K2 O et diminuer le Na2 O, le Ca O et l’Al2 O3 .

Séricitisation: elle fut totale pour l'oligoclase, partielle pour la microcline et le quartz (pour ce dernier, au bord des cristaux) et aussi pour certaine muscovite et bauerite. La conséquence chi­mique c'est l'augmentation de la teneur en K 2 O et H2O+ et la diminution en Na2 O, Ca O et Al2 O3 .

Silicification: une partie s'est effectuée en même temps que la muscovitisation et la séricitisation, où il y a eu une libération de quartz (environ 3/5 d'augmentation de la teneur en quartz) ; une autre partie correspond à l'addition de ce minéral (envi­ron 2/5 du quartz que s'était formé).

Phosphatisations : Elles ont eu lieu en très petites quantités, et elles correspondent à l’addition d'apatite et de metatorbernite, que l’on ne peut déceler que par analyse chimique.

Pigmentation ferrifère: Elle fut intense surtout des cristaux de microcline, et les analyses montrent une augmentation du Fe2 O 3 qui est en rapport avec l'augmentation en Mn.

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8) — Ce seraient des solutions hydrothermales alcalines qui auraientprovoqué la baueritisation, la muscovitisation, la séricitisation, la silicification et, peut-être, la pigmentation ferrière.La phosphatisation apatitique aurait pu être provoquée par une solution hydrothermale acide riche en composants volatiles.La phosphatisation uranifère s'est faite à une température plus basse.

9) — C'est dans les régions granitiques du Massif Hispérique (MesetaIbérique) qui présentent des ensembles de profonde séricitisation des feldspaths et du quartz, abondante pigmentation ferrifère des feldspaths et intense baueritisation de la biotite qu'on doit pros­pecter les minerais d'uranium.

S U M M A R Y

Alteration of granite due to contact with the vein of uranous ores of Urgeiriça, Portugal

1)—The additions and subtractions of minerals that granite has suffered per cubic metre due to contact with the vein of uranous ores of Urgeiriça were:

2) — The chemical additions and subtractions which granite has suffered per cubic metre in said contact were:

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3) — The modifications which granite has suffered due to contact withthe vein of uranous ores of Urgeiriça were: baueritization, mus- covitization, sericitization, silicification, phosphatizations and fer­riferous pigmentation.

4) —The most important alterations were: ferriferous pigmentation,.baueritization, sericitization and silicification.

5) — The range of intense sericitization frequently reaches the widthof two metres on each side of the vein.The range of ferriferous pigmentation is wider, and is at times still found 10 metres away from the vein.

6) — The order in which the phenomena of metasomatism may haveoccurred in granite is: 1 st — apatitic phosphatization; 2nd — fer­riferous pigmentation; 3rd — muscovitization and silicification; 4th—baueritization; 5th - sericitization and silicification; 6th —sili­cification ; 7 tli — uranous phosphatization.

7 ) — Baueritization — complete in biotite, along with dissolution or reabsorption of the halos of the small enclosed crystals of zircon. Baueritization chemically implies migration of Ti O2, Mg O, Fe O and probably of radioactive substances.

Muscovitization — occurred in some portions of crystals of oligo­clase and microcline, and this occasioned an increase in H2 OF and K2 O and a decrease in Na2 O, Ca O and AI2 O3.

Sericitization — complete in oligoclase, partial in microcline and quartz (on the edges of the crystals of the latter) and also in some muscovite and bauerite. As a chemical consequence there was an increase in K2 O and H2 O+, and a decrease in Na2 O, Ca O and Al2 O3.

Silicification — part was concomitant of muscovitization and seri­citization, there being liberation of quartz (about 3/5 of the increase

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in quartz); another part corresponding to the addition of this mineral (about 2/5 of recently-formed quartz).

Phosphatizations — occurred in very small quantity, corresponding to additions of apatite and metatorbernite, which can be verified only through chemical analyses.

Ferriferous pigmentation— intense, «specially in crystals of micro- cline, bringing forth an increase of Fe2 O3 in analyses, with which the increase of Mn is related.

8) — Hydrothermal alkaline solutions may have given rise to baueriti-zation, muscovitization, sericitization, silicification, and, probably, ferriferous pigmentation.Apatitic phosphatization could have arisen from a hydrothermal acid solution rich in volatile components.Uranous phosphatization occurred in lower conditions of tempe­rature.

9) — Uranium ores should be prospected in the granitic regions of theHesperic Massif (Iberian Tableland) presenting a combined aspect of profuse sericitization of the feldspars and quartz, abundant ferriferous pigmentation of the feldspars and intense baueritiza- tion of the biotite.

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EST. I

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EST. II

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EST. III

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EST. IV