alterações morfológicas e estruturais induzidas por um...

79
Universidade Federal de Goiás Instituto de Ciências Biológicas Programa de Pós-Graduação em Biologia Área de concentração: Biologia Celular e Molecular Alterações morfológicas e estruturais induzidas por um componente do açafrão (Curcuma longa L.) em células de melanoma humano em cultura Marcella Lemos Brettas Carneiro Goiânia

Upload: hoanghanh

Post on 06-Nov-2018

215 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Alterações morfológicas e estruturais induzidas por um ...portais.ufg.br/up/101/o/diss_marcellaCarneiro.pdf · Instituto de Ciências Biológicas Programa de Pós-Graduação em

Universidade Federal de Goiás

Instituto de Ciências Biológicas

Programa de Pós-Graduação em Biologia

Área de concentração: Biologia Celular e Molecular

Alterações morfológicas e estruturais induzidas por um

componente do açafrão (Curcuma longa L.) em células de

melanoma humano em cultura

Marcella Lemos Brettas Carneiro

Goiânia

Page 2: Alterações morfológicas e estruturais induzidas por um ...portais.ufg.br/up/101/o/diss_marcellaCarneiro.pdf · Instituto de Ciências Biológicas Programa de Pós-Graduação em

2007

ii

Page 3: Alterações morfológicas e estruturais induzidas por um ...portais.ufg.br/up/101/o/diss_marcellaCarneiro.pdf · Instituto de Ciências Biológicas Programa de Pós-Graduação em

UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS

INSTITUTO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM BIOLOGIA

ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: BIOLOGIA CELULAR E MOLECULAR

ALTERAÇÕES MORFOLÓGICAS E ESTRUTURAIS INDUZIDAS POR UM

COMPONENTE DO AÇAFRÃO (CURCUMA LONGA L.) EM CÉLULAS DE

MELANOMA HUMANO EM CULTURA

Dissertação a ser defendida como

requisito para obtenção do título de

Mestre em Biologia.

MARCELLA LEMOS BRETTAS CARNEIRO

ORIENTADORA: PROFa: DRa: LIDIA ANDREU GUILLO

CO-ORIENTADORA: PROFa: DRa SÔNIA NAIR BÁO

Goiânia, 2007.

iii

Page 4: Alterações morfológicas e estruturais induzidas por um ...portais.ufg.br/up/101/o/diss_marcellaCarneiro.pdf · Instituto de Ciências Biológicas Programa de Pós-Graduação em

Instituto de Ciências Biológicas

Programa de Pós-Graduação em Biologia

Marcella Lemos Brettas Carneiro

Alterações morfológicas e estruturais induzidas por um componente do

açafrão (Curcuma longa L.) em células de melanoma humano em cultura

Comissão Examinadora:

----------------------------------------------------------------------

Profa: Dra. Lidia Andreu GuilloOrientadora/Presidente

UFG

-----------------------------------------------------------------------Prof: Dr. Cirano José Ulhoa

Membro TitularUFG

------------------------------------------------------------------Dr. José Realino de Paula

Membro TitularUFG

Goiânia, fevereiro de 2007.

iv

Page 5: Alterações morfológicas e estruturais induzidas por um ...portais.ufg.br/up/101/o/diss_marcellaCarneiro.pdf · Instituto de Ciências Biológicas Programa de Pós-Graduação em

Dedicatória

À Deus por ter me concedido a graça de concluir mais uma etapa de minha caminhada com sucesso.

Ao Walfredo, meu marido, grandioso incentivador do meu trabalho, minha fonte perene de inspiração e motivação.

À minha mãe e a minha avó, tenras fonte de carinho e amor, que muito contribuíram na minha formação.

À minha orientadora Professora Dra. Lidia Andreu Guillo e à minha co-orientadora Professora Sônia Nair Báo, pela dedicação e doação concedidas para a elaboração dessa dissertação.

v

Page 6: Alterações morfológicas e estruturais induzidas por um ...portais.ufg.br/up/101/o/diss_marcellaCarneiro.pdf · Instituto de Ciências Biológicas Programa de Pós-Graduação em

Agradecimentos

À Deus Jeová, por ter me concedido magníficas oportunidades que tornaram possíveis todo o percurso da minha formação acadêmica e científica.

À Profª Dra. Lidia Andreu Guillo, pelas boas sugestões, empenho e orientação durante a execução deste trabalho e, sobretudo, por ter participado, ativamente, da minha formação acadêmica, inclusive durante a iniciação científica.

À Profª Dra. Sônia Nair Báo, pelo seu pleno apoio, carinho e interesse que tornaram possíveis muitas análises, essenciais ao trabalho; pela oportunidade de trabalhar no seu laboratório e pela sua competente participação como co-orientadora.

À Universidade Federal de Goiás (UFG), por ter proporcionado a minha formação acadêmica desde a graduação e pelas boas oportunidades que obtive durante os 6 anos em que pertenci ao seu corpo discente.

A todos os colegas do Laboratório de Microscopia Eletrônica que me ofereceram suporte e auxílio durante a execução deste trabalho, e, principalmente, à aluna Elaine Porfírio, pela sua influente colaboração nas análises de microscopia eletrônica de transmissão.

Aos pesquisadores Dra. Andréia H. Otake e ao Dr. Roger Chammas, do Laboratório de Oncologia Experimental, da Universidade de São Paulo, pelas excepcionais contribuições e parceria neste trabalho.

À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal (CAPES) pela bolsa concedida durante os 24 meses do mestrado.

À minha avó pelo seu intenso apoio e carinho que me acolheram durante toda a minha formação acadêmica.

E, a todos os outros colegas, amigos e professores que, de uma forma ou de outra, contribuíram para a realização deste trabalho.

vi

Page 7: Alterações morfológicas e estruturais induzidas por um ...portais.ufg.br/up/101/o/diss_marcellaCarneiro.pdf · Instituto de Ciências Biológicas Programa de Pós-Graduação em

Sucesso

Rir muito e com freqüência;

ganhar o respeito de pessoas inteligentes

e o afeto das crianças;

merecer a consideração de críticos honestos e

suportar a traição dos falsos amigos;

apreciar a beleza, encontrar o melhor nos outros;

deixar o mundo um pouco melhor,

seja por uma saudável criança,

um canteiro de jardim ou

uma redimida condição social;

saber que ao menos uma vida

respirou mais fácil porque você viveu.

Isto é ter sucesso!!!

vii

Page 8: Alterações morfológicas e estruturais induzidas por um ...portais.ufg.br/up/101/o/diss_marcellaCarneiro.pdf · Instituto de Ciências Biológicas Programa de Pós-Graduação em

Ralph Waldo Emerso

viii

Page 9: Alterações morfológicas e estruturais induzidas por um ...portais.ufg.br/up/101/o/diss_marcellaCarneiro.pdf · Instituto de Ciências Biológicas Programa de Pós-Graduação em

SUMÁRIO

RESUMO...........................................................................................................xiiiSUMMARY........................................................................................................xiv

1-INTRODUÇÃO....................................................................................................1

1.1-Origem, progressão e incidência do melanoma cutâneo.................................11.2-Alterações moleculares em tumores................................................................41.2.1-Vias de proliferação celular: implicações do ciclo celular no câncer.....................................................................................................................41.2.2-Vias de morte celular: implicações no câncer ............................................. 71.3-Abordagens terapêuticas empregadas no melanoma e suas limitações.............................................................................................................111.4-Mecanismos de resistência do melanoma.....................................................121.5-Efeitos biológicos de um composto do açafrão (Curcuma longa L.).........................................................................................................................141.5.1-Origem, descrição e constituição de Curcuma longa L...........................................................................................................................141.5.2-Atividades biológicas da curcumina e sua potencial aplicação terapêutica............................................................................................................16

2-REVISÃO DA LITERATURA.............................................................................18

JUSTIFICATIVA...................................................................................................22

3-OBJETIVOS......................................................................................................23

Objetivo geral.......................................................................................................23Objetivos específicos...........................................................................................23

4-MATERIAIS E MÉTODOS...............................................................................24

4.1-Preparação de soluções................................................................................244.2-Cultura e manutenção das linhagens celulares.............................................244.3-Tratamento das células com curcumina (diferuloilmetano)............................264.4-Ensaios de avaliação de morte celular: análise por citometria de fluxo.........264.4.1-Avaliação de morte e ciclo celular por incorporação de iodeto de propídio................................................................................................................264.4.2--Avaliação da dissipação do potencial transmembranar mitocondrial por JC1.......................................................................................................................274.5 -Análise morfológica e estrutural das células.................................................284.5.1-Análise por Microscopia de Fluorescência..................................................284.5.2-Análise ultra-estrutural por Microscopia Eletrônica de Transmissão (M.E.T).................................................................................................................294.5.3-Análise por Microscopia Eletrônica de Varredura (M.E.V)..........................304.5.4 Análise estatística.......................................................................................31

5-RESULTADOS .................................................................................................32

vii

Page 10: Alterações morfológicas e estruturais induzidas por um ...portais.ufg.br/up/101/o/diss_marcellaCarneiro.pdf · Instituto de Ciências Biológicas Programa de Pós-Graduação em

5.1-Curcumina induz fragmentação do DNA........................................................325.2-Curcumina induz acúmulo de células em G0G1 na concentração de 5 µM em SKMEL.................................................................................................................355.3-Curcumina não altera o potencial transmembranar da mitocôndria em SKMEL 37............................................................................................................385.4-Curcumina induz alterações morfológicas e estruturais em SKMEL 37........405.5-Curcumina induz alterações ultra-estruturais em SKMEL 37........................425.6-Curcumina induz alterações estruturais na superfície da membrana plasmática em SKMEL 37....................................................................................45

6-DISCUSSÕES...................................................................................................47

CONCLUSÕES....................................................................................................53

PERSPECTIVAS..................................................................................................54

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.....................................................................55

viii

Page 11: Alterações morfológicas e estruturais induzidas por um ...portais.ufg.br/up/101/o/diss_marcellaCarneiro.pdf · Instituto de Ciências Biológicas Programa de Pós-Graduação em

LISTA DE ABREVIATURAS

AIDS - Síndrome da Imunodeficiência Adquirida

AKT – quinases da proteína B

COX - ciclooxigenases

COX 2 - Ciclooxigenase 2

DMSO - Dimetil Sulfóxido

DAPI - diacetato de 4,6 diamino 2-fenilindol

DNA - Ácido desoxirribonucléico

EDTA - Ácido etilenodiaminotetracético

EGFR - Receptor do Fator de Crescimento Epitelial

Faa-1 - Fator de ativação de apoptose-1

GSH - L-γ glutamil-L-cisteinil-glicina

ICAM1 - Molécula 1 de Adesão Intercelular

IL-1 - interleucina 1

IL-6 - interleucina 6

IL-8 - interleucina 8

IL-12 - interleucina 12

iNOS - Óxido Nítrico Sintase

JC1 - iodeto de 5,5’,6,6’-tetracloro-1,1’,3,3’-tetraetilbenzimidazolilcarbocianina

MAPK - proteína quinase ativada por mitógeno

MEM – Meio de Eagle modificado

MDR – multi-resistencia a drogas

NFkB - Fator Nuclear Kappa B

PBS - Tampão fosfato-salina

PI- iodeto de propídio

ix

Page 12: Alterações morfológicas e estruturais induzidas por um ...portais.ufg.br/up/101/o/diss_marcellaCarneiro.pdf · Instituto de Ciências Biológicas Programa de Pós-Graduação em

PKA - proteína quinase A

PKB - proteína quinase B

PKC - proteína quinase C

RNA - ácido ribonucléico

SFB – Soro fetal bovino

TNFα - Fator de Necrose Tumoral α

TGF-beta 1 - Fator de Crescimento-Beta-1

VCAM1 - Molécula-1 de Adesão de Célula Vascular

x

Page 13: Alterações morfológicas e estruturais induzidas por um ...portais.ufg.br/up/101/o/diss_marcellaCarneiro.pdf · Instituto de Ciências Biológicas Programa de Pós-Graduação em

LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Melanoma maligno na fase "in situ"...................................................................1

Figura 2: Representação espacial das taxas brutas de incidência por 100.000 mulheres,

estimadas no ano 2006, segundo a Unidade da Federação (melanoma maligno da pele).

...........................................................................................................................................2

Figura 3: Representação espacial das taxas brutas de incidência por 100.000 mulheres,

estimadas no ano 2006, segundo a Unidade da Federação (melanoma maligno da

pele)...................................................................................................................................2

Figura 4: Pontos de controle do ciclo celular....................................................................6

Figura 5: Vias da ativação de caspases na indução da apoptose pela via de receptores

da morte (via extrínseca) e pela via mitocondrial (via intrínseca)...................................10

Figura 6: Rizoma de Curcuma longa Lin.........................................................................14

Figura 7: Curcuma longa Lin...........................................................................................15

Figura 8: Estrutura química de Curcuminóides extraídos de Curcuma longa.................16

Figura 9: Morfologia da linhagem de melanoma humano SKMEL 37.............................25

Figura 10: Modelos de gráficos e tabela, adquiridos em citômetro de fluxo, após

avaliação de morte e ciclo celular por incorporação de iodeto de propídio.....................32

Figura 11: Curcumina induz aumento de fragmentação do DNA após 24 horas de

tratamento........................................................................................................................33

Figura 12: Curcumina induz aumento de células hipodiploides após 24 horas de

tratamento.

Figura 13: Curcumina induz acúmulo de células no ciclo na subfase G0G1 na

concentração de 5 µM após 24 horas de tratamento.......................................................36

xi

Page 14: Alterações morfológicas e estruturais induzidas por um ...portais.ufg.br/up/101/o/diss_marcellaCarneiro.pdf · Instituto de Ciências Biológicas Programa de Pós-Graduação em

Figura 14: Comparação do percentual de hipodiploidia, de células em G0G1 e de

células em SG2M, entre células tratadas na ausência e na presença de 5 µM de

curcumina.........................................................................................................................36

Figura 15: O aumento de populações de células na subfase G0G1 na dose de 5 µM foi

acompanhado por redução em populações de células na subfase SG2M após 24 horas

de incubação com a curcumina.......................................................................................37

Figura 16: O tratamento de SKMEL 37 com curcumina não induz a dissipação do

potencial transmembranar mitocondrial após 24 horas de tratamento............................39

Figura 17: Curcumina induz alterações morfológicas em SKMEL 37.............................41

Figura 18: Curcumina induz fragmentação do núcleo em células da linhagem SKMEL

37.....................................................................................................................................41

Figura 19: Micrografia eletrônica de transmissão de células da linhagem SKMEL 37 na

ausência de tratamento com curcumina..........................................................................43

Figura 20: Micrografia eletrônica de transmissão de células da linhagem SKMEL 37

após tratamento com curcumina......................................................................................44

Figura 21: Micrografia eletrônica de varredura de células da linhagem SKMEL37 em cultura..............................................................................................................................46

xii

Page 15: Alterações morfológicas e estruturais induzidas por um ...portais.ufg.br/up/101/o/diss_marcellaCarneiro.pdf · Instituto de Ciências Biológicas Programa de Pós-Graduação em

RESUMO

O melanoma humano é uma forma de câncer muito agressiva, que frequentemente adquire resistência a agentes quimioterápicos. Em virtude da baixa eficácia de agentes quimioterápicos empregados até o momento, torna-se primordial o desenvolvimento de novos agentes que sejam menos tóxicos e que não desencadeiem quimiorresistência. A curcumina é um fitoquímico derivado do rizoma do açafrão (Curcuma longa Linn) e é responsável por uma ampla variedade de propriedades farmacológicas incluindo antiinflamatória, antioxidante, antiproliferativa e antitumoral. Este fitoquímico é considerado um agente quimiopreventivo e é farmacologicamente seguro, representando, dessa forma, uma nova perspectiva terapêutica para o melanoma. Neste estudo, avaliamos o efeito da curcumina sobre a proliferação, perfil do ciclo celular, indução de apoptose e dissipação do potencial transmitocondrial em células de melanoma humano, da linhagem SKMEL 37. As células foram tratadas com 5, 10, 15 e 20 µM de curcumina por 24 horas. Análises da indução de fragmentação do DNA, das alterações do perfil das fases do ciclo celular e a avaliação da dissipação do potencial transmitocondrial foram realizadas por citometria de fluxo. As alterações morfológicas e ultra-estruturais foram examinadas por microscopia de fluorescência e microscopia eletrônica de transmissão e de varredura. Observou-se que a indução de fragmentação do DNA foi proporcional ao aumento da concentração de curcumina. Nossos resultados indicaram que a população de células com DNA fragmentado aumentou de 2.36% (± 0.76), no controle, para 3.53% (±1.61), 7.52% (± 5.05), 11.1% (± 5.43) e 18,43% (± 7.02) em células tratadas com 5, 10, 15 e 20 µM, respectivamente (p<0.001). Células tratadas com 5 µM de curcumina apresentaram acúmulo significativo na subfase G0G1 do ciclo celular, em relação aos demais tratamentos (p<0.001). Ademais, alterações morfológicas e estruturais como blebbing de membrana e fragmentação nuclear, em células tratadas com concentrações acima de 10 µM de curcumina, foram observadas em microscópio de fluorescência. Outros aspectos morfológicos e ultra-estruturais, peculiares à apoptose, tais como compactação e segregação da cromatina, formação de blebs de membrana, de corpos apoptóticos e de vacúolos citoplasmáticos também foram observados em células tratadas com estas concentrações de curcumina. Paralelamente, a análise das células em microscopia eletrônica de varredura corroborou os resultados obtidos em microscopia de transmissão e microscopia de fluorescência, visto que também foram observadas blebbings de membrana, característica esta que evidencia o processo de morte celular por apoptose em SKMEL 37. Além disso, a curcumina não induz alteração do potencial transmembranar da mitocôndria, sugerindo que a via de sinalização de apoptose, induzida por curcumina, não é mediada por esta organela. Nossos dados sugerem, portanto, que a curcumina induz alteração no perfil do ciclo celular e morte por apoptose, por uma via de sinalização que não é mediada pela mitocôndria, em SKMEL 37. Assim, a curcumina representa uma valiosa ferramenta para o desenvolvimento de terapias em tumores como o melanoma humano. Estudos mais aprofundados sobre seus possíveis alvos moleculares, no mecanismo de indução de apoptose, somados à estudos pré-clínicos em pacientes com melanoma, poderão tornar possível o uso clínico da curcumina como um agente quimioterápico.

Palavras-chave: curcumina, melanoma, apoptose, ciclo celular.

xiii

Page 16: Alterações morfológicas e estruturais induzidas por um ...portais.ufg.br/up/101/o/diss_marcellaCarneiro.pdf · Instituto de Ciências Biológicas Programa de Pós-Graduação em

SUMMARY

The human melanoma is a very aggressive form of cancer, tha frequently becomes resistant to chemotherapeutic agents. Due to the low effectiveness of chemotherapeutic agents employed currently, the development of new agents that are less toxic and do not unchain chemoresistance becomes primordial. The curcumin is a phytochemistry derived from rhizomes of the turmeric (Curcuma longa Linn) and is responsible for a large variety of pharmacological properties including antiinflammatory, antioxidant, antiproliferative and anticancer. This phytochemistry is considered a chemopreventive agent and is pharmacology safe, representing a new therapeutical perspective for the melanoma. In this study, we evaluate in a human melanoma cell line (SKMEL 37), the effect of the curcumin on the proliferation, profile of the cell cycle, induction of apoptosis and dissipation of the transmitochondrial potential. Cells were treated with 5, 10, 15 and 20 µM curcumin for 24 hours. Induction of DNA fragmentation, alterations on cell cycle and evaluation of transmitochondrial potential dissipation was assessed by flow cytometry. Morphologic and ultra-structural alterations were examined by fluorescence microscopy and transmission and scanning electron microscopy. It was observed that the induction of DNA fragmentation was proportional to the increase of the curcumin concentration. Our results has indicated that the population of cells with DNA fragmentation increased of 2.36 (± 0,76), in the control, for 3.53% (±1.61), 7,52% (± 5,05), 11,1% (± 5,43) and 18.43% (± 7,02) in cells treated with 5, 10, 15 µM and 20 µM, respectively (p < 0.001). Cells treated with curcumin 5 µM has presented significant accumulation in G0G1 phase, in relation to others treatments (p<0.001). Moreover, morphologic and structural alterations, such as membrane blebbing and nucleus fragmentation, in cells treated with concentrations above to 10 µM of curcumin, has been observed by fluorescence microscopy. Other morphologic and ultra-structural alterations, peculiar to apoptosis, such as compacting and segregation of the chromatin, formation of membrane blebs, apoptotic bodies and cytoplasmic vacuoles has been also observed in cells treated with these concentrations of curcumin. Parallel, the analysis of the cells by electronic scanning microscopy corroborated the results gotten in transmission electron microscopy and fluorescence microscopy since they has been also showed membrane blebbings, characteristic that evidences the process of cellular death by apoptosis. Moreover, curcumin does not induce transmitochondrial potential alterations, suggesting that events in the apoptosis signalling, are not mediated by mitochondria. All together, our data suggest, therefore, that curcumin induces alteration on cell cycle profile and death by apoptosis, in a signalling pathway that isn’t mediated by the mitochondria, in SKMEL 37. Thus, the curcumin represents a valuable tool for the development of therapies in tumors as the human melanoma. Deepened studies on its possible molecular targets, on the mechanism of induction of apoptosis, and more clinical selections, in patients with melanoma, will be able to become possible the clinical use of curcumin as a chemotherapeutic agent.

xiv

Page 17: Alterações morfológicas e estruturais induzidas por um ...portais.ufg.br/up/101/o/diss_marcellaCarneiro.pdf · Instituto de Ciências Biológicas Programa de Pós-Graduação em

Word-key: curcumin, melanoma, apoptosis, cell cycle.

xv

Page 18: Alterações morfológicas e estruturais induzidas por um ...portais.ufg.br/up/101/o/diss_marcellaCarneiro.pdf · Instituto de Ciências Biológicas Programa de Pós-Graduação em

1-INTRODUÇÃO

1.1-ORIGEM, PROGRESSÃO E INCIDÊNCIA DO MELANOMA CUTÂNEO

O melanoma humano (Figura 1) é um tipo de tumor maligno que tem origem

no crescimento desordenado de melanócitos, células localizadas entre a epiderme

e a derme da pele humana. A função destas células está associada à produção de

um pigmento denominado melanina. Este pigmento dá cor à pele e a protege

contra os efeitos nocivos dos raios ultravioletas do tipo A e B, produzidos pelo sol.

A progressão de melanócitos normais para melanócitos névicos pode ser

iniciada pela perda de contato entre os melanócitos e os queratinócitos (Li &

Herlyn, 2000). Queratinócitos são células que se localizam na camada basal da

epiderme, formando interações com os melanócitos para formação da

pigmentação da pele. Uma lesão névica surge devido a uma hiperplasia de

melanócitos, podendo ser classificada em benigna ou maligna. A formação do

melanoma está associada à manutenção de células névicas malignas em estado

proliferativo, ou alternativamente mais resistente à morte celular (Chammas et al.,

2003).

Figura 1: Melanoma maligno na fase "in situ". Características oriundas de melanoma cutâneo, tais como, assimetria, bordas irregulares, coloração variada e diâmetro maior que 6 milímetros são observadas nesta lesão melanocítica. Fonte: http://www.dermatologia.net.

1

Page 19: Alterações morfológicas e estruturais induzidas por um ...portais.ufg.br/up/101/o/diss_marcellaCarneiro.pdf · Instituto de Ciências Biológicas Programa de Pós-Graduação em

As causas do melanoma são variadas, podendo ser externas ou internas ao

organismo, estando ambas inter-relacionadas. As causas externas relacionam-se

a exposição à luz ultravioleta (UV), intensa e prolongada, que provoca mutações

diretamente no DNA, formando dímeros de bases, isto é, nas regiões do DNA

onde existem duas timinas (T) sucessivas na mesma fita, essas perdem a

capacidade de parear com as adeninas de outra fita, estabelecendo pareamento

T-T. Esses dímeros não se desfazem naturalmente e precisam ser removidos por

um complexo sistema de reparo das células. Na maioria das vezes, as mutações

são corrigidas, porém, em células neoplásicas, elas podem ser reparadas

erroneamente, por substituições de bases diferentes na molécula de DNA

(Camargo & Costa, 2003). As causas internas são geneticamente pré-

determinadas (Perlis & Herlyn, 2004; Inca, 2007).

As etapas da progressão do melanoma estão associadas à capacidade

proliferativa da lesão névica. Na fase inicial, por exemplo, o melanoma está restrito

à camada mais superficial da pele correspondendo, nesse caso, ao melanoma "in

situ" (Figura 1). Neste estádio, o melanoma é caracterizado por um crescimento

horizontal (fase de crescimento radial), onde não houve disseminação de células

tumorais à distância (metástase), sendo, portanto o momento ideal para realização

do diagnóstico e tratamento. Quando o melanoma deixa de ser plano, formando

lesão elevada na pele, é sinal de que também está progredindo em profundidade,

sendo caracterizado por um crescimento vertical. A profundidade atingida e a

espessura da lesão são os parâmetros que definem a gravidade da lesão, pois

aumentam os riscos de metástases para outros órgãos. Esta fase está associada

à invasão dos vasos sanguíneos e linfáticos da pele e, consequentemente,

formação de metástases (Otake, 2005).

A incidência de melanoma é mais expressiva em populações de cor de

pele branca. De acordo com as estimativas, realizadas pelo INCA (Instituto

Nacional do Cancer), em 2006, a incidência do câncer de pele melanoma foi de

2.710 casos novos em homens e 3.050 casos novos em mulheres. As maiores

taxas de incidência, tanto em homens como em mulheres, ocorreram na região

Sul do Brasil, como pode ser observado nas figuras 2 e 3 (Inca, 2007).

2

Page 20: Alterações morfológicas e estruturais induzidas por um ...portais.ufg.br/up/101/o/diss_marcellaCarneiro.pdf · Instituto de Ciências Biológicas Programa de Pós-Graduação em

Figura 2: Representação espacial das taxas brutas de incidência por 100.000 homens, estimadas no ano 2006, segundo a Unidade da Federação (melanoma maligno da pele). Fonte: www.inca.gov.br

Figura 3: Representação espacial das taxas brutas de incidência por 100.000 mulheres, estimadas no ano 2006, segundo a Unidade da Federação (melanoma maligno da pele). Fonte: www.inca.gov.br

Embora o melanoma de pele represente apenas 4% dos tipos de câncer de

pele, esse tipo de tumor é a forma mais agressiva e severa de câncer de pele. Sua

taxa de letalidade é elevada devido à alta probabilidade da lesão melanocítica

disseminar metástases para outros órgãos. Contudo, o prognóstico do melanoma

pode ser considerado bom, se detectado nos estádios iniciais. Nos últimos anos,

houve uma grande melhora na sobrevida dos pacientes com esse tipo de câncer,

3

Page 21: Alterações morfológicas e estruturais induzidas por um ...portais.ufg.br/up/101/o/diss_marcellaCarneiro.pdf · Instituto de Ciências Biológicas Programa de Pós-Graduação em

principalmente devido à detecção precoce do mesmo. A média mundial de

sobrevida estimada para este tipo de tumor, atualmente, é de 69%, em média

(Inca, 2007).

1.2-ALTERAÇÕES MOLECULARES EM TUMORES

1.2.1-Vias de proliferação celular: implicações do ciclo celular no câncer

Melanomas, como todos os cânceres, surgem devido ao acúmulo de

mutações que levam ao descontrole da transcrição de produtos gênicos críticos

para a proliferação, diferenciação e morte celular. O controle da proliferação celular,

por exemplo, requer a expressão coordenada e interdependente de vários genes,

tais como, o p53, Bcl2, Bax, p21, dentre outros. Mutações gênicas podem levar à

superexpressão e/ou hiperatividade de seus produtos e resultar em proliferação

celular não controlada. Assim, alterações genéticas que acarretam a ativação de

oncogenes ou levam à perda da função de genes supressores de tumor, são

responsáveis pela formação de neoplasias (Miracco et al., 1998; Otake, 2005).

A progressão das células no ciclo celular ocorre em quatro fases

seqüenciais: G1, S, G2 e M. Células na fase G0 (gap0) são diferenciadas e estão

no estado quiescente. Em resposta a estímulos externos específicos, as células

iniciam o ciclo de divisão celular passando da fase G0 (células quiescentes) ou G1

(gap1) para as fases S, G2 (gap2) e finalmente M (mitose), quando se completa a

divisão celular. Na fase G1, ocorre a síntese das proteínas envolvidas com a

maquinaria de duplicação do DNA, tais, como proteínas, enzimas e RNA. Na fase S

ocorre replicação das moléculas de DNA, na fase G2 ocorre a síntese das proteínas

relacionadas com o processo de divisão celular e na fase M (mitose), ocorre a

divisão celular, propriamente dita (Alberts et al., 2004).

Para que o conteúdo genético da célula replique corretamente, é fundamental

a existência de um balanço entre estímulos positivos e negativos que coordenam a

progressão dentro do ciclo celular. Três eventos diferentes podem ocorrer diante de

mutações gênicas, envolvidas no controle do ciclo celular: (1) mecanismos de

reparo destas mutações podem ser acionados; (2) mecanismos de indução de

morte celular programada podem ser ativados e, (3) a alteração gênica pode ser

4

Page 22: Alterações morfológicas e estruturais induzidas por um ...portais.ufg.br/up/101/o/diss_marcellaCarneiro.pdf · Instituto de Ciências Biológicas Programa de Pós-Graduação em

transmitida para células-filhas, considerando que os mecanismos de controle da

proliferação não funcionaram adequadamente (Golsteyn, 2005).

No ciclo celular normal, a divisão da célula, pode ser interrompida em pontos

de restrição (R), conhecido também como check points, que ocorrem durante a

transição das fases G1/S e G2/M, onde eventuais erros genéticos são identificados

e reparados. A existência de R serve como um marca-passo que evita que a célula

progrida no ciclo até que o restante da maquinaria celular necessária esteja pronto.

Quando ocorre a interrupção do ciclo, inicia-se o processo de morte celular por

apoptose. Este processo funciona como um controle negativo do ciclo celular, a fim

de que falhas como mutações, possam ser excluídas, evitando a formação de um

futuro tumor (Alberts et al., 2004).

Durante a fase G0, a célula é sensível às condições do ambiente celular. Se

estas não forem favoráveis, a divisão celular pára em G1. No entanto, se há

estímulos para ocorrência da mitose (M), a célula ultrapassa o primeiro ponto de

restrição (R), e a divisão celular ocorre independentemente de condições

ambientais. Este evento ocorre frequentemente em células neoplásicas, onde os

mecanismos de controle e proliferação celular encontram-se desregulados. Outros

pontos de restrição no início de G2 e na fase mitótica são responsáveis por verificar

a qualidade do DNA celular replicado e a correta distribuição dos cromossomas nas

células-filhas, respectivamente (Figura 4).

A progressão da célula no ciclo, de G0 para G1, é decorrente de um estímulo

mitogênico de fatores de crescimento, como o EGF (fator de crescimento

epidérmico). O estímulo é, em geral, iniciado quando receptores celulares

específicos ligam esses fatores de crescimento, desencadeando uma complexa

cascata de fosforilação e de desfosforilação de enzimas denominadas quinases e

fosfatases, respectivamente, responsáveis pela progressão das células nos pontos

de restrição do ciclo celular (Mangoni & Federico, 2003; Alberts et al., 2004;

Golsteyn, 2005).

5

Page 23: Alterações morfológicas e estruturais induzidas por um ...portais.ufg.br/up/101/o/diss_marcellaCarneiro.pdf · Instituto de Ciências Biológicas Programa de Pós-Graduação em

Figura 4: Pontos de controle do ciclo celular. A progressão das células no ciclo celular ocorre em quatro fases seqüenciais: G1, S, G2 e M. Caso a célula tenha estímulos para proliferar, elas progridem de G0 para G1. Nesta fase, a célula é sensível às condições ambientais. Se estas não forem favoráveis, a divisão celular pára em G1. No entanto, havendo estímulos proliferativos, a célula ultrapassa o ponto R, progredindo para a etapa subseqüente (S). Outros pontos de controle, no início de G2 e de M, são responsáveis pela checagem de outros fatores importantes para a correta progressão das células no ciclo celular. Fonte: Ward, L. S. Arq Bras Endocrinol Metab, v. 46, n. 4, agosto, 2002.

As quinases formam complexos com outras proteínas denominadas ciclinas.

Estas são proteínas fase-específicas do ciclo celular que controlam a ativação e

desativação de complexos, formados por ciclinas e quinases dependentes de

ciclinas (complexos ciclina-Cdk). Os complexos de ciclina-Cdks são responsáveis

pela progressão das células, de forma controlada, em cada fase do ciclo (Mangoni

& Federico, 2003). Já o controle negativo do ciclo celular é exercido, principalmente,

por inibidores de quinase-dependente de ciclina, que inibem a transição entre as

fases G1 e S, do ciclo celular. Em tumores, essas moléculas encontram-se em

níveis reduzidos (Golsteyn, 2005).

São descritas várias ciclinas e Cdks na literatura, sendo que as mais bem

caracterizadas são as ciclinas A, B, C, D, E e cdk1, cdk2, cdk4 e cdk6,

respectivamente. Sabe-se que membros da ciclina D e ciclina E são importantes na

transição da fase G1/S do ciclo celular, enquanto membros da família de ciclina A

são requeridos tanto na fase S como na fase M. Cdk1 é especialmente requerida

para a M, enquanto Cdk2 e Cdk4 são requeridas durante a fase G1/S. Células

6

Page 24: Alterações morfológicas e estruturais induzidas por um ...portais.ufg.br/up/101/o/diss_marcellaCarneiro.pdf · Instituto de Ciências Biológicas Programa de Pós-Graduação em

tumorais apresentam perda da regulação de ciclinas e Cdks, não apresentando,

portanto, uma regulação apropriada dos mecanismos de controle da progressão das

células em pontos de restrição no ciclo celular (Mangoni & Federico, 2003;

Golsteyn, 2005).

1.2.2-Vias de morte celular: implicações no câncer

O processo de morte celular pode ocorrer por três mecanismos distintos:

necrose, autofagia e apoptose. A necrose, também chamada de morte celular

patológica ou acidental, ocorre quando as células são expostas a uma variação

extrema de suas condições fisiológicas, tais como hipertermia, hipoxia, isquemia,

metabólitos tóxicos e irradiação. Estas condições fisiológicas culminam com a perda

abrupta da integridade da membrana plasmática (citólise) e alteração de seus

gradientes eletroquímicos. Ademais, a liberação dos seus constituintes

intracelulares para o meio extracelular estimula a resposta inflamatória e ampliam a

lesão tecidual (Parolin & Reason, 2001; Edinger & Thompson, 2004).

Células necróticas apresentam características bastante diferentes de células

em apoptose. Essas características incluem expansão das células e dos seus

fluidos, dilatação das cisternas de retículos endoplasmáticos, contração seguida de

expansão dos compartimentos internos de mitocôndrias, dispersão de ribossomos e

suave acúmulo de cromatina nuclear (Edinger & Thompson, 2004).

Autofagia e apoptose são consideradas mortes programadas, podendo ser

comparadas, metaforicamente, a um “suicídio celular”. Morte celular por autofagia é

um mecanismo que caracteriza uma espécie de “reciclagem” dos constituintes

celulares. Este tipo de morte celular é estimulado em células que estão passando

por stress bioenergético e parece estar relacionada a uma forma de morte celular

programada. Nesse processo, observa-se formação de vesículas que culminam

com a degradação dos seus constituintes celulares, por ação de enzimas

hidrolíticas (Edinger & Thompson, 2004).

A apoptose é um mecanismo importante para a ativação de um programa de

autodestruição celular intrínseco e controlado. Quando a célula sofre uma injúria,

que não é reparada, ocorre ativação de vias de sinalização, que podem culminar

com a apoptose (Otake, 2005). Esta pode ser induzida por uma variedade de

7

Page 25: Alterações morfológicas e estruturais induzidas por um ...portais.ufg.br/up/101/o/diss_marcellaCarneiro.pdf · Instituto de Ciências Biológicas Programa de Pós-Graduação em

estímulos, como inanição, fatores de crescimento, DNA danificado, infecção viral,

linfócitos citotóxicos, ação citotóxica de drogas antineoplásicas, irradiação

ultravioleta, ativação de citocinas, privação de fatores de sobrevivência e ligações

de indutores químicos a determinados receptores de morte presentes na superfície

celular.

O processo de morte celular por apoptose é fundamental em processos

fisiopatológicos. Disfunções nos mecanismos de controle do sistema, como

apoptose deficiente ou excessiva resultam em uma variedade de condições

patológicas, tais como imunodeficiência, doença auto-imune, doença degenerativa

(Parkinson e Alzheimer) e câncer (Edinger & Thompson, 2004).

Em decorrência de alguns agentes quimioterapêuticos atuarem em

populações de células malignas, induzindo apoptose, nosso foco, neste trabalho,

será dado a este processo de morte celular, visto que a indução de apoptose pode

oferecer grandes perspectivas no tratamento de doenças proliferativas, tais como o

melanoma.

A morte celular programada, por apoptose, desencadeia uma série de

alterações morfológicas e estruturais nas células, dentre elas, podem-se citar

alterações no citoesqueleto celular, contração do volume citoplasmático, formação

de bolhas na membrana citoplasmática, exposição de um lipídio de membrana

(fosfatidilserina) na porção externa da membrana plasmática e condensação da

cromatina nuclear, seguida de fragmentação do DNA, em segmentos de tamanho

proporcional (aproximadamente em 200 pares de bases nitrogenadas).

A exposição de fosfatidilserina na porção externa da membrana celular indica

sinais para o recrutamento de células fagocitárias, como linfócitos T. Estas células

englobam seus fragmentos e completam o processo de degradação das células que

sofreram apoptose (Edinger & Thompson, 2004). Assim, este processo não

desencadeia resposta inflamatória em tecidos adjacentes, já que a autodigestão dos

fragmentos remanescentes das células é controlada por linfócitos, em consonância

com a remoção de células lesadas, sem alteração do microambiente celular (Kerr et

al., 1995; Parolin & Reason, 2001).

Vários genes estão envolvidos no processo de apoptose celular, tais como

p53, Bcl-2, Bax, p16, p15, p19, p21, p27 e p57, desempenhando papéis críticos na

regulação desse tipo de morte celular programada. Algumas proteínas, produtos

destes genes, que regulam a proliferação celular encontram-se ora em níveis

8

Page 26: Alterações morfológicas e estruturais induzidas por um ...portais.ufg.br/up/101/o/diss_marcellaCarneiro.pdf · Instituto de Ciências Biológicas Programa de Pós-Graduação em

aumentados, ou constitutivamente ativadas, ora em níveis reduzidos, no caso de

moléculas inibitórias do ciclo celular. Sabe-se que células tumorais escapam à

apoptose, devido às alterações que ocorrem na regulação de proteínas transcritas

por esses genes (Ward, 2002).

A atividade de uma proteína kinase B (PKB), também está envolvida nos

mecanismos de sinalização que medeiam a regulação da proliferação e

sobrevivência celular. Em células de melanoma, a sobrevivência celular depende

frequentemente da ativação de PKB (Cho & Choi, 2002; Friedlander, 2004; Testa &

Tsichilis, 2005).

Diversas moléculas são reguladas por uma ampla variedade de mecanismos

de sinalização celular durante a apoptose. Este processo pode ser iniciado por

estímulos externos, através de receptores específicos na superfície celular,

chamados receptores da morte, ou por estímulos internos, associados ao estresse

intracelular, tais como lesão do DNA ou perturbações no ciclo celular. Essas

diferentes vias culminam com a ativação de uma cascata de caspases, família de

proteases cisteínas que desempenham papel fundamental no processo de morte

celular (Kumar, 2007; Lamkanfi et al., 2007).

A cascata de caspases é ativada por duas rotas: uma que inicia o estímulo

na superfície celular (via extrínseca) e outra na mitocôndria (via intrínseca).

A ativação de caspases através da rota da superfície celular requer componentes

celulares como receptores de membrana, proteínas adaptadoras e caspase-8. Já a

ativação da mitocôndria requer um fator de ativação de apoptose, o Faa-1, caspase-

9 e citocromo c citosólico.

A via extrínseca, via mediada pela membrana celular, ocorre através da

ativação de receptores de membrana (Figura 5 A), entre eles, será destacado o

receptor Fas. Linfócitos são células que apresentam uma relevante importância na

resposta imune antitumoral. Estas células, agregadas com ligante Fas, se ligam à

célula através do receptor Fas, ativando proteínas específicas (Fas) na superfície

da célula alvo. Logo, proteínas adaptadoras ligam-se na região intracelular das

proteínas Fas agregadas, promovendo agregação de moléculas de procaspase-8,

seguida por ativação de caspases iniciadoras, até então presentes no citoplasma,

na forma de pró-enzimas inativas. Estas, uma vez ativadas, ativam outras caspases

efetoras que atuarão no núcleo celular, desencadeando a apoptose. O receptor Fas

9

Page 27: Alterações morfológicas e estruturais induzidas por um ...portais.ufg.br/up/101/o/diss_marcellaCarneiro.pdf · Instituto de Ciências Biológicas Programa de Pós-Graduação em

funciona, portanto, como um supressor do tumor (Kaji et al., 1994, Parolin &

Reason, 2001; Alberts et al., 2004).

A via intrínseca (Figura 5 B) é sinalizada pela liberação de citocromo c para o

citoplasma. A seguir, o citocromo c se liga a uma proteína adaptadora formando um

complexo (apoptossomo), que ativa caspase-9, que por sua vez, ativa uma cascata

de caspases executoras e, posteriormente, DNAses (enzimas que induzem

fragmentação do DNA) culminando com a morte celular por apoptose (Parolin &

Reason, 2001; Friedlander, 2004; Alberts et al., 2004; Otake, 2005).

Ainda na presença de sinais de estresse intracelular, proteínas pró-

apoptóticas, tais como Bax e Bid, são translocadas do citoplasma para a

mitocôndria, resultando na liberação do citocromo c da mitocôndria para o citosol.

A seguir, o citocromo c forma um complexo como o fator ativador da apoptose 1

(Faa-1), levando à ativação de caspase-9, que ativa caspases efetoras (Parolin &

Reason, 2001)

Figura 5: Vias da ativação de caspases na indução da apoptose pela via de receptores da morte (via extrínseca) e pela via mitocondrial (via intrínseca). (A) A ativação extrínseca é mediada pela membrana plasmática e ocorre quando um ligante, tal como o Fas, se liga e ao seu respectivo receptor na superfície da célula-alvo, ocasionando a ativação de caspase-8. Esta protease induz a ativação de caspases executoras, tais como caspases 3, 6 e 7, que por sua vez, induzem morte celular por apoptose. (B) Já a ativação intrínseca resulta de sinais de estresse intracelular que induzem a liberação de citocromo c e ativação de caspase-9, que por sua vez, induz a ativação das caspases executoras induzindo à apoptose. Ainda, na presença de sinais estresse intracelular pode ocorrer a translocação de Bid, do citosol para a mitocôndria, levando à ativação de caspase-9 e,

A B

10

Page 28: Alterações morfológicas e estruturais induzidas por um ...portais.ufg.br/up/101/o/diss_marcellaCarneiro.pdf · Instituto de Ciências Biológicas Programa de Pós-Graduação em

subsequentemente, à ativação de caspases efetoras, induzindo apoptose. Fonte: Parolin, M. B & Reason, I. J. M. Arq Gastroenterol, v. 38, n. 2, abr./jun., 2001.

1.3-ABORDAGENS TERAPÊUTICAS EMPREGADAS NO MELANOMA E SUAS

LIMITAÇÕES

Atualmente, as modalidades terapêuticas convencionalmente empregadas

para o melanoma abrangem a cirurgia, radioterapia e quimioterapia. A cirurgia é a

mais utilizada e pode ser definitiva quando utilizada em pacientes com tumores

localizados em regiões acessíveis e com lesões pequenas e não metastásicas.

Algumas desvantagens deste método são as complicações pós-operatórias, que

podem gerar seqüelas físicas e funcionais e, em casos extremos, a morte (Lacava &

Morais, 2004).

Já a radioterapia é o tratamento mais utilizado quando a neoplasia está

localizada em áreas que impossibilitam sua remoção parcial ou total através de

intervenção cirúrgica, ou em casos de reincidência após cirurgia. Por acometer

tanto os tecidos tumorais quanto os normais, a radioterapia pode provocar muitos

efeitos colaterais e aumentar a probabilidade de desenvolvimento de cânceres

secundários (Marks et al., 1991).

A quimioterapia, por sua vez, é utilizada no caso de doença sistêmica.

A maioria dos quimioterápicos afeta, direta ou indiretamente, moléculas de DNA de

células em divisão. Os efeitos colaterais advindos do uso de agentes

quimioterapêuticos ocorrem em função do efeito tóxico exercido também sobre

células normais do organismo. Os principais problemas associados com a

administração dos quimioterápicos incluem falta de especificidade da droga ao sítio

patológico e a necessidade de alta dose para atingir alta concentração no local

desejado. Devido à toxicidade das drogas empregadas, diarréia, vômito, náuseas e

perda de cabelo são sintomas observados durante a quimioterapia (Torchilin, 2000).

Dessa forma, o tratamento quimioterápico apresenta ainda muitas limitações para a

curabilidade das neoplasias.

No entanto, existem perspectivas para melhorar a eficácia da quimioterapia

empregando produtos naturais de plantas, os denominados fitoquímicos.

Fitoquímicos, derivados de componentes da dieta alimentar, têm despertado

considerável interesse científico para o combate de doenças humanas,

11

Page 29: Alterações morfológicas e estruturais induzidas por um ...portais.ufg.br/up/101/o/diss_marcellaCarneiro.pdf · Instituto de Ciências Biológicas Programa de Pós-Graduação em

especialmente para doenças cardiovasculares e câncer. A curcumina, um

componente ativo do açafrão (Curcuma longa L.), é um exemplo de fitoquímico

usado na dieta alimentar que apresenta diversas propriedades biológicas, que têm

recebido considerável atenção na comunidade científica (Sharma et al., 2005).

Pesquisas realizadas com compostos de Curcuma longa L. serão descritas na

seção “Revisão da Literatura” e seu mecanismo de ação será abordado no item 1.5

desta introdução (página 14).

Outras formas de tratamento alternativas para o melanoma referem-se a

imunoterapia e terapia gênica. A eficácia destas está ainda em investigação. Uma

da formas de imunoterapia utiliza uma vacina antitumoral, denominada

CâncerVax™, que poderia ser usada como adjuvante no tratamento do melanoma

(www.gbm.org.br). O emprego desta vacina tem como finalidade reduzir o risco das

células tumorais escaparem do reconhecimento imune, o que é bastante comum

ocorrer em células de melanoma. Outra abordagem refere-se à imunoterapia

adoptiva, que consiste na infusão endovenosa de linfócitos imunes específicos, que

reconhecem células tumorais. Embora a taxa de resposta seja promissora, a sua

duração é muito curta. Ainda como terapia experimental, cientistas têm tentado

alterar geneticamente os glóbulos brancos do sangue de pacientes, induzindo essas

células a atacar os tumores. Embora a pesquisa até o momento tenha obtido

sucesso, as perspectivas em longo prazo são imprevisíveis (Romero et. al., 2006).

As inúmeras desvantagens apresentadas, atualmente, pelas terapias

empregadas no tratamento do melanoma e o crescente número de falecimentos em

função desta doença suscita a busca de novas alternativas terapêuticas, que sejam

mais eficientes e menos tóxicas.

1.4-MECANISMOS DE RESISTÊNCIA DO MELANOMA

Um fator crítico no sucesso de agentes quimioterapêuticos está na sua

habilidade em induzir apoptose em populações de células malignas. Alguns estudos

demonstram que a apoptose é um mecanismo comum pelos quais agentes

quimioterápicos exercem sua citotoxicidade (Bush et. al, 2001).

Atualmente, células de melanoma são resistentes à indução de apoptose por

drogas anticancerígenas, tais como cisplatina, vimblastina, tamoxifen e ácido

12

Page 30: Alterações morfológicas e estruturais induzidas por um ...portais.ufg.br/up/101/o/diss_marcellaCarneiro.pdf · Instituto de Ciências Biológicas Programa de Pós-Graduação em

betulínico, não havendo assim um tratamento eficiente para o melanoma

metastático. O índice de resposta dos pacientes a esses tratamentos é baixo,

correspondendo a uma faixa de apenas 30%. Vários mecanismos de aquisição de

resistência do melanoma à quimioterapia têm sido descritos. Um deles é a

capacidade das células de manter baixas concentrações intracelulares das drogas,

devido à extrusão destas drogas por membros da família da glicoproteína P (Pgp) e

MDR (multidrug resistence). Em geral, melanomas acumulam altos níveis destas

proteínas na sua membrana plasmática, atuando como bombas reversas de drogas

para o meio extracelular (Otake, 2005).

A regulação alterada dos mecanismos moleculares envolvidos com a

apoptose celular pode ser outro fator que explica a resistência do melanoma a

vários agentes quimioterapêuticos (Karin & Lin, 2002).

Vários mecanismos estão associados à perda da susceptibilidade da

ativação da apoptose em células tumorais, frente à esses agentes

quimioterapêuticos. Estes mecanismos incluem baixa regulação ou mutação de

alguns genes, como o p53, aumento da expressão de c-myc e de genes

antiapoptóticos como o Bcl2 e mutação de oncogenes como N-ras (Salvucci et al.,

2001).

A resistência à droga e a regulação alterada dos mecanismos moleculares

envolvidos com a apoptose celular são aspectos muito importantes na biologia

tumoral. Em virtude de estes aspectos influenciarem na eficácia terapêutica, é

necessário elucidar novos mecanismos moleculares que tornem tumores

quimiorresistentes, como o melanoma, mais susceptíveis à ativação da morte

celular programada (Zheng et al., 2004).

13

Page 31: Alterações morfológicas e estruturais induzidas por um ...portais.ufg.br/up/101/o/diss_marcellaCarneiro.pdf · Instituto de Ciências Biológicas Programa de Pós-Graduação em

1.5-EFEITOS BIOLÓGICOS DE UM COMPONENTE DO AÇAFRÃO (Curcuma

longa L)

1.5.1-Origem, descrição e constituição de Curcuma longa L

Por toda a história da medicina, produtos de plantas têm demonstrado ser

valiosas fontes para drogas antitumorais, por produzirem uma ampla variedade de

substâncias fornecedoras de um amplo espectro de propriedades biológicas.

Curcuma longa L é considerada uma planta mágica, dada às suas propriedades

terapêuticas e protetoras a nível hepático e cutâneo. A curcumina, extraída do

rizoma de Curcuma longa L. (Figura 6), é um exemplo de substância com

propriedades biológicas associadas a aplicações terapêuticas. Este fitoquímico é

largamente usado, na medicina tradicional indiana para cura de várias doenças, tais

como reumatismo, sinusite, desordens hepáticas e cardiovasculares, câncer, entre

outras. (Mans et al., 2000; Araújo & Leon, 2001; Sharma et al., 2005; Shishodia et

al., 2005).

Curcuma longa L. (Figura 7) é uma planta herbácea, perene, com

aproximadamente 1 metro de altura. Esta planta, de origem asiática, pertence à

família das Zingiberáceas e é amplamente cultivada em regiões tropicais e

subtropicais da Ásia, Índia, China e América Latina. No Brasil, essa planta é

conhecida como açafrão e é comumente usada na culinária como condimento no

preparo de alimentos (Ramsewak et al., 2000; Araújo & Leon, 2001).

Figura 6: Rizoma de Curcuma longa Lin. Fonte: www.jardin-mundani.info

14

Page 32: Alterações morfológicas e estruturais induzidas por um ...portais.ufg.br/up/101/o/diss_marcellaCarneiro.pdf · Instituto de Ciências Biológicas Programa de Pós-Graduação em

Figura 7: Curcuma longa Lin. Fonte: www.pacificbulbsociety.org

Curcuma longa , apresenta na sua composição, turmerina, uma proteína

solúvel em água, óleos essenciais e curcuminóides (Sharma et al., 2005). Existem

três tipos de curcuminóides: curcumina, demetoxicurcumina e

bisdemetoxicurcumina (Figura 8), extraídos de seu rizoma. Neste trabalho foi

utilizado a curcumina, também conhecida como curcumina I (Figura 8A, página 16).

Esta apresenta cor amarela e corresponde de 2-5% do peso bruto do rizoma dessa

planta e é o componente mais abundante e ativo do rizoma de Curcuma longa L.,

seguido de curcumina II (demetóxicurcumina) e curcumina III

(bisdemetóxicurcumina). Estes curcuminóides são compostos fenólicos insolúveis

em água e éter, porém solúveis em etanol, dimetil sulfoxido (DMSO) e outros

solventes orgânicos (Ruby et al., 1995; Ramsewak et al., 2000; Shrishodia et al.,

2005; Maheshwari et al., 2006).

15

Page 33: Alterações morfológicas e estruturais induzidas por um ...portais.ufg.br/up/101/o/diss_marcellaCarneiro.pdf · Instituto de Ciências Biológicas Programa de Pós-Graduação em

Figura 8: Estrutura química de Curcuminóides extraídos de Curcuma longa. (A) Curcumina (B) Demetoxicurmina. (C) Bisdemetoxicurcumina. Fonte: Maheshwari, R. K., Singh, A. K., Gaddipati, J., Srimal, R, C. Life Sciences, v. 78, p.2081–2087, 2006.

1.5.2-Atividades biológicas da curcumina e sua potencial aplicação terapêutica

As propriedades antiinflamatórias da curcumina são conhecidas há bastante

tempo na Índia e na Indonésia (Sambaiah et al., 1982). A curcumina I foi isolada,

pela primeira vez, em 1.842 e sua estrutura (C21H20O6) foi quimicamente

caracterizada em 1.910. Desde então, diversos estudos vêm sendo realizados a fim

de investigar suas atividades biológicas, tais como, sua ação antimicrobiana,

antiinflamatória, imunomoduladora, hipolipodérmica, antioxidante, antitumoral,

anticarcinogênica, dentre outras (Mesa et al., 2000; Araújo & Leon, 2001). Suas

distintas atividades biológicas têm despertado investigações para associar os seus

diversos efeitos biológicos aos seus respectivos mecanismos de ação. A principal

linha de investigação dos efeitos biológicos da curcumina, nos últimos anos, têm

sido conhecer sua atividade antiproliferativa, antitumoral e anticarcinogênica (Bush

et al., 2001).

A atividade antiproliferativa, antitumoral e anticarcinogênica da curcumina

parece associada à sua capacidade de regular alguns alvos moleculares em células

A

B

C

16

Page 34: Alterações morfológicas e estruturais induzidas por um ...portais.ufg.br/up/101/o/diss_marcellaCarneiro.pdf · Instituto de Ciências Biológicas Programa de Pós-Graduação em

neoplásicas, tais como, fatores de transcrição, citocinas, enzimas e genes que

regulam a apoptose celular. No entanto, o mecanismo pelo qual a curcumina exerce

sua atividade antitumoral ainda não é totalmente compreendido. Esta pesquisa foi

idealizada em virtude de observações anteriores realizadas em nosso laboratório

mostrando a alta atividade antiproliferativa in vitro sobre células de melanoma

humano, motivando-nos a compreender o mecanismo de ação da curcumina para

futuros estudos envolvendo animais.

A curcumina representa um enorme potencial terapêutico para o melanoma,

uma vez que apresenta atividade antitumoral e é farmacologicamente segura (Mesa

et al., 2000). Além disso, esse fitoquímico pode reduzir a resistência do tumor à

droga, visto que promove a redução da expressão de proteínas, associadas à

resistência de drogas em tumores, como a MDR (multi-resistência a drogas)

(Shishodia et al., 2005). O uso clínico da curcumina poderia, dessa forma, aumentar

a eficácia da quimioterapia, revelando uma nova esperança para o tratamento de

tumores quimiorresistentes como o melanoma humano.

17

Page 35: Alterações morfológicas e estruturais induzidas por um ...portais.ufg.br/up/101/o/diss_marcellaCarneiro.pdf · Instituto de Ciências Biológicas Programa de Pós-Graduação em

2-REVISÃO DA LITERATURA

As propriedades medicinais da planta Curcuma longa são documentadas há

séculos na medicina chinesa e indiana (revisado por Maheshwari et al., 2006).

Várias propriedades biológicas são atribuídas aos extratos desta planta.

Componentes bioativos extraídos do seu rizoma, conhecidos como fitoquímicos,

tem sido amplamente empregados para cura de diversas afecções cutâneas,

hepáticas, digestivas, entre outras. Na medicina chinesa, por exemplo, os extratos

de Curcuma longa são aplicados a nível tópico, sobre a pele, para a cicatrização de

feridas (revisado por Mesa et al., 2000; Thangapazham, et al., 2006).

As propriedades medicinais de Curcuma longa têm sido atribuídas à

fitoquímicos denominados curcuminóides. A curcumina é o principal curcuminóide

presente no rizoma de Curcuma longa L. Esse curcuminóide foi identificado há

quase dois séculos, mas pesquisas sobre suas propriedades biológicas começaram

a intensificar-se há três décadas. Suas propriedades famacocinéticas têm sido

estudadas desde 1991 e publicações sobre os estudos clínicos realizados com

curcumina datam três anos (revisado por Shishodia et al., 2005; Sharma et al.,

2005; Maheshwari et al., 2006).

A curcumina é um composto polifenólico. Estudos demonstrando a relação

existente entre a estrutura química e as atividades biológicas da curcumina

indicaram que os fenóis e grupos metóxi, existentes na sua composição química, é

que são responsáveis pelas propriedades biológicas que este fitoquímico exerce em

diversas linhagens celulares (Ahsan, et al., 1999; Ramsewak, et al., 2000; Joe et al.,

2004).

As diversas atividades farmacológicas da curcumina, tais como,

antiinflamatória, antioxidante, antibiótica, antiprotozoária, imunomoduladora,

hipolipodérmica, antiproliferativa, antitumoral e anticarcinogênica têm despertado

interesses em muitos pesquisadores para investigação do seu mecanismo de ação

(revisado por Mesa et al., 2000; Ramsewak et al., 2000; Araújo & Leon, 2001; Joe

et al., 2004; Odot et al., 2004; Sharma et al., 2005; Shishodia, et al., 2005;

Maheshwari et al., 2006; Thangapazham, et al., 2006). Existem ainda relatos na

literatura indicando efeitos terapêuticos da curcumina em doenças como diabetes,

AIDS (síndrome da imunodeficiência adquirida), artrite reumatóide, esclerose

18

Page 36: Alterações morfológicas e estruturais induzidas por um ...portais.ufg.br/up/101/o/diss_marcellaCarneiro.pdf · Instituto de Ciências Biológicas Programa de Pós-Graduação em

múltipla, doença de Alzheimer e fibrose cística (revisado por Shishodia, et al.,

2005).

Diversos relatos, descritos na literatura, têm revelado que a curcumina

desencadeia várias atividades farmacológicas, por modular distintos alvos

moleculares, incluindo, fatores de transcrição, enzimas, proteínas do ciclo celular,

citocinas, receptores e moléculas de adesão celular (revisado por Shishodia et al.,

2005).

A curcumina pode inibir a ativação do fator transcrição NFkB (fator nuclear

kappa B) e da enzima iNOS (óxido nítrico sintase). Níveis reduzidos de iNOS e de

seu produto, o óxido nítrico, estão correlacionados com funções antiapoptóticas nas

células. NFkB é constitutivamente ativado em células de melanoma humano e é

responsável por modular a expressão de uma variedade de fatores que interferem

na sinalização da apoptose celular, da inflamação, da angiogênese, do ciclo celular

e da diferenciação. Este fator de transcrição também modula a expressão de

moléculas de adesão, de migração e de sobrevivência celular (Zheng et al., 2004).

Alvos moleculares como o receptor EGFR (receptor do fator de crescimento

epitelial) e proteínas quinases, como MAPK (proteína quinase ativada por

mitógeno), PKA (proteína quinase A), PKC (proteína quinase C) também são

inibidos por curcumina. Estes alvos moleculares estão envolvidos em várias vias de

sinalização relacionada aos estímulos mitogênicos para proliferação celular (Testa

et al., 2005).

Além disso, a curcumina pode inibir moléculas de adesão, como a ICAM-1

(molécula 1 de adesão intercelular) e a VCAM-1 (molécula-1 de adesão de célula

vascular) e ainda de enzimas como a COX-2 (ciclooxigenase 2) . Moléculas como

VCAM-1 e ICAM-1 modulam mecanismos de evasão da resposta imune de células

tumorais, sendo que seus níveis aumentados estão correlacionados com a

progressão do câncer no organismo. COX-2 é uma forma induzida de COX

(ciclooxigenase) que catalisa metabólitos para síntese de prostaglandinas

(moléculas pró-inflamatórias). A expressão aumentada dessa enzima está

associada aos estímulos proliferativos em células malignas e à progressão do tumor

(revisado por Shishodia, et al., 2005).

É descrito também na literatura que a curcumina aumenta a regulação de

proteínas supressoras de tumor como a p53 e p21 e suprime a atividade de

proteínas chaves para a progressão de células no ciclo celular, como as ciclinas D1

19

Page 37: Alterações morfológicas e estruturais induzidas por um ...portais.ufg.br/up/101/o/diss_marcellaCarneiro.pdf · Instituto de Ciências Biológicas Programa de Pós-Graduação em

e B1. Esse fitoquímico também é responsável por reduzir a regulação de proteínas

antiapoptóticas como a Bcl-2 e de proteínas de multi-resistência à droga como a

MDR, que atuam como bombas reversoras de drogas, mantendo baixos os níveis

intracelulares de drogas (revisado por Shishodia et al., 2005).

A principal linha de investigação sobre o potencial terapêutico da curcumina,

nos últimos anos, têm sido conhecer suas atividades antioxidante, antiinflamatória,

anticarcinogênica e principalmente, sua atividade antitumoral. O mecanismo de

ação da curcumina para cada uma destas atividades será descrito a seguir.

Sua atividade antioxidante está associada à sua habilidade em reduzir os

níveis intracelulares de glutationa reduzida (GSH, L-γ glutamil-L-cisteinil-glicina),

enzima envolvida no sistema de defesa ao stress oxidativo nas células (revisado por

Shishodia, et al., 2005).

Outra atividade da curcumina, bastante interessante, está na sua potente

ação antiinflamatória. Este efeito está associado à influência que esse fitoquímico

exerce sob citocinas, eicosanóides (moléculas pró-inflamatórias) e enzimas

proteolíticas, moléculas envolvidas no processo de inflamação celular. Revisões

sobre a atuação da curcumina, na mediação da resposta inflamatória, indicam que

esse curcuminóide pode inibir a produção de TNFα (Fator de Necrose Tumoral α),

IL-1 (interleucina 1), IL-6 (interleucina 6), IL-8 (interleucina 8) e IL-12 (interleucina

12). Já os efeitos da curcumina sobre os eicosanóides podem estar associados à

inibição da formação de ácido araquidônico, importante substrato de eicosanóides.

A curcumina também pode inibir a atividade de enzimas como as COX

(ciclooxigenases) e lipooxigenases e também a produção de mediadores da

resposta inflamatória, como as prostaglandinas (revisado por Joe et al., 2004).

O grande potencial terapêutico da curcumina, como agente quimioterápico e

quimiopreventivo, estão também relacionados ao seu efeito na modulação da

expressão de diversos alvos moleculares. A base molecular do efeito

anticarcinogênico da curcumina é atribuída ao seu efeito sobre fatores de

transcrição, moléculas de adesão, reguladores da angiogênese e moléculas de

sinalização celular, como PKB (proteína quinase B), NFkB e MAPK. Estas

moléculas apresentam regulações alteradas quando são induzidas por agentes

carcinogênicos em mecanismos de transdução de sinais (revisado por Aggarwal et

al., 2003; Thangapazham, et al., 2006).

20

Page 38: Alterações morfológicas e estruturais induzidas por um ...portais.ufg.br/up/101/o/diss_marcellaCarneiro.pdf · Instituto de Ciências Biológicas Programa de Pós-Graduação em

É conhecido também que esse agente suprime a proliferação e progressão

do tumor, por modular a expressão gênica de protooncogenes e por suprimir vários

genes de sobrevivência e de proliferação celular, incluindo Bcl-2, ciclina D1 e IL-6

(revisado por Thangapazham, et al., 2006). Existem evidências sugerindo que a

curcumina também interfere na migração celular. Foi observado que este

fitoquímico bloqueia o fator de crescimento-beta-1 (TGF-β 1), molécula que estimula

a migração e invasão de células (revisado por Joe et al., 2004).

Ainda, estudos pré-clínicos têm revelado o potencial quimiopreventivo da

curcumina em vários tipos de tumor incluindo cólon, duodeno, estômago, próstata e

na carcinogênese de mama (Thangapazham, et al., 2006).

A atividade antitumoral da curcumina provém da sua capacidade em induzir

apoptose em uma variedade de células tumorais. Este fitoquímico inibe a

proliferação celular por induzir apoptose em várias linhagens celulares de tumores,

incluindo melanoma (linhagens A375, B16R, B15F10 e MeWo), linfoma, câncer de

ovário e câncer de mama, o que demonstra seu grande potencial como agente

quimioterapêutico (revisado por Mesa, et al., 2000; Araújo, et al., 2001; Bush, et al.,

2001; Joe, et al., 2004; Odot, et al., 2004; Zheng, et al., 2004; Uddin et al., 2005;

Maheshwari et al., 2006; Shi, et al., 2006; Thangapazham, et al., 2006).

Numerosos estudos realizados com curcumina indicam que esta é

toxicologicamente inerte nas células, não demonstrando ser tóxica em animais ou

humanos, mesmo sob administração de até 8 gramas por dia. Assim, a vantagem

do seu uso está associada ao fato de apresentar baixa toxicidade, no organismo,

em relação a outros quimioterápicos (Ahsan, et al., 1999; Aggarwal, et al., 2002; Joe

et al., 2004; Sharma et al., 2005; Maheshwari et al., 2006).

Todavia, considerando que o desenvolvimento de novas drogas requer

estudos de toxicidade e farmacocinética das mesmas, em conjunto com avaliações

da sua atividade, tanto em modelos in vitro como in vivo, mais estudos devem ser

realizados a fim de elucidar os mecanismos de ação da curcumina, em um número

maior de linhagens celulares e de animais de experimentação, para tornar possível

sua futura aplicação clínica em regimes quimioterápicos (revisado por Sharma et al.,

2005).

21

Page 39: Alterações morfológicas e estruturais induzidas por um ...portais.ufg.br/up/101/o/diss_marcellaCarneiro.pdf · Instituto de Ciências Biológicas Programa de Pós-Graduação em

JUSTIFICATIVA

As elevadas taxas de letalidade do melanoma humano, a crescente

incidência deste câncer e a falta de métodos terapêuticos amplamente eficientes

suscitam a busca de novas alternativas terapêuticas. A curcumina poderia

representar uma nova alternativa terapêutica para tumores quimiorresistentes

como o melanoma. A compreensão do mecanismo de ação deste fitoquímico

poderá contribuir para sua futura aplicação terapêutica em regimes

quimioterápicos.

22

Page 40: Alterações morfológicas e estruturais induzidas por um ...portais.ufg.br/up/101/o/diss_marcellaCarneiro.pdf · Instituto de Ciências Biológicas Programa de Pós-Graduação em

2-OBJETIVOS

Tendo em vista o enorme potencial terapêutico da curcumina para o

melanoma, visamos avaliar o efeito desta substância em cultura de células de

melanoma humano, da linhagem SKMEL 37, esperando contribuir para seu

posterior uso clínico.

Objetivos específicos:

1. Avaliar o efeito da curcumina sob a proliferação e progressão do ciclo

celular em SKMEL 37.

2. Avaliar o envolvimento da mitocôndria na sinalização do processo de

morte celular mediado por curcumina em SKMEL 37.

3. Comparar características morfológicas e ultra-estruturais de células

tratadas com distintas concentrações de curcumina, relacionando-as ao tipo de

morte celular induzido por curcumina em SKMEL 37.

23

Page 41: Alterações morfológicas e estruturais induzidas por um ...portais.ufg.br/up/101/o/diss_marcellaCarneiro.pdf · Instituto de Ciências Biológicas Programa de Pós-Graduação em

4-MATERIAIS E MÉTODOS

4.1-Preparação de soluções

As soluções de PBS (solução tampão de fosfato salina) e EDTA (ácido

etilenodiaminotetracético) foram preparadas por pesagem e dissolução em

quantidade adequada de água deionizada e esterilizadas em unidades filtrantes

Milipore com poros de 0,22 µm.

A solução estoque de curcumina (Fluka, USA) foi preparada por

dissolução de massa adequada em etanol (Merck, USA) e esterilizado por

filtração. A concentração foi calculada através de pesagem de massa adequada

da curcumina e as diluições foram preparadas a partir de uma solução de 10 mM

de curcumina utilizando volume adequado de etanol como solvente. Para o

tratamento das células com diferentes concentrações de curcumina, foi utilizada

a solução estoque 10 mM, variando-se apenas o volume desta solução para

cada tratamento. A solução de curcumina foi mantida a 4ºC protegida da luz.

4.2-Cultura e manutenção das linhagens celulares

A linhagem de células de melanoma SKMEL 37 (Figura 9) empregadas

neste estudo foi obtida por doação do Instituto Sloan-Kettering, NY. As células

estocadas em nitrogênio líquido foram descongeladas e transferidas para

frascos de cultura de 80 cm2 (Nunc Brand Products, USA) e mantidas em meio

de cultura MEM (Sigma, St. Louis, MO), suplementado com 10% de soro fetal

bovino (SFB) (Cultilab, Campinas, Brasil) e 100 U/µL de penicilina (Gibco BRL,

Argentina) e fungizona (Gibco BRL, Argentina). A linhagem SKMEL 37 foi

mantida rotineiramente em incubadora úmida com 5% de CO2 a 37ºC.

Os repiques eram feitos quando as células atingiam confluência no frasco

de cultura. As células eram então semeadas em densidade inicial de cerca de

30% da confluência e repicadas a cada três dias e mantidas em incubadora

úmida até atingirem um número suficiente para os experimentos. Os repiques

eram realizados da seguinte maneira: as células eram lavadas duas vezes com

solução de PBS-EDTA (137 mM NaCl, 2,7mM KCl, 1 mM Na2HPO4, 2 mM

24

Page 42: Alterações morfológicas e estruturais induzidas por um ...portais.ufg.br/up/101/o/diss_marcellaCarneiro.pdf · Instituto de Ciências Biológicas Programa de Pós-Graduação em

KH2PO4, 1mM EDTA, pH 7,2) e desprendidas da garrafa por ação proteolítica

de solução 0,25% de tripsina-EDTA (Cultilab, Campinas, Brasil) por 2 minutos a

37ºC. A seguir, a ação proteolítica era neutralizada pela ressuspensão das

células em meio MEM suplementado com 10% de soro fetal bovino (v:v).

O número de células para os experimentos era estimado através de contagem

direta em câmara de Neubauer e a avaliação da viabilidade celular era feita pelo

método de exclusão por azul de Tripan.

Quando as células não eram utilizadas para experimentos, o meio de

cultura era trocado três vezes por semana. Os procedimentos de repique,

substituição de meio e tratamentos das células eram realizados em fluxo laminar

para evitar contaminação das células por microorganismos. As ponteiras e

outros materiais utilizados durante as técnicas de cultivo celular eram

rigorosamente esterilizados para este fim. A morfologia da linhagem de

melanoma SKMEL 37 está representada abaixo:

Figura 9: Morfologia da linhagem de melanoma humano SKMEL 37. As células

foram fixadas com metanol 10%, coradas com Giemsa e observadas por microscopia de

campo claro (Leite, 2003). Ampliação: 40X.

Nos períodos em que não eram realizados os experimentos, as células

eram congeladas. O congelamento era feito por ressuspensão das células em

solução de congelamento (meio MEM suplementado com 10% de soro fetal

bovino) e 5% de dimetilsulfoxido (DMSO) (Sigma, St. Louis, MO) e estocadas em

ampolas de congelamento a 70ºC por 24 horas e transferidas para nitrogênio

líquido.

25

Page 43: Alterações morfológicas e estruturais induzidas por um ...portais.ufg.br/up/101/o/diss_marcellaCarneiro.pdf · Instituto de Ciências Biológicas Programa de Pós-Graduação em

4.3-Tratamento das células com curcumina (diferuloilmetano)

As células (3 X 105) foram semeadas em placas de poliestireno

(Nunc Brand Products, USA) de 9,6 cm2 (~3,1 X 104/ cm2) e mantidas sob

condições de cultura, descritas anteriormente. Transcorridas 24 horas, elas

foram tratadas com diferentes concentrações de curcumina (5, 10, 15 e 20 µM) e

mantidas em incubadora úmida por 24 horas. Células sem adição de curcumina

e células com adição de 0,5% de etanol filtrado estéril (diluente da curcumina)

foram utilizados como controle do ensaio.

Para realizar os tratamentos das células, utilizamos uma solução estoque

10 mM de curcumina, variando apenas o volume para cada tratamento, ou seja,

foi adicionado 1, 2, 3 e 4 µL, o que correspondia a uma concentração final no

meio de cultura de 5, 10, 15 e 20 µM, respectivamente. A concentração de etanol

em todas as amostras foi de 0,5%, percentual usado na concentração mais

elevada de curcumina.

Após o período de 24 horas de incubação das células com a curcumina,

foram recolhidos os sobrenadantes e as células, aderidas na placa, foram

removidas por ação proteolítica de tripsina.

4.4-Ensaios de avaliação de morte celular: análise por citometria de fluxo

4.4.1-Avaliação de morte celular e das fases do ciclo celular por

incorporação de iodeto de propídio

A análise de morte celular por incorporação de iodeto de propídio (PI)

(Invitrogen), realizada em citômetro de fluxo, permitiu-nos avaliar possíveis

alterações no ciclo celular e, ao mesmo tempo, quantificar a fragmentação de

DNA de células tratadas com curcumina. De acordo com a quantidade de DNA

celular, avaliamos a distribuição das células nas diferentes fases do ciclo celular.

Utilizamos o fluorocromo iodeto de propídio, que intercala nos pares de

bases nitrogenadas do DNA, e, quando excitado por um feixe de luz de

26

Page 44: Alterações morfológicas e estruturais induzidas por um ...portais.ufg.br/up/101/o/diss_marcellaCarneiro.pdf · Instituto de Ciências Biológicas Programa de Pós-Graduação em

comprimento de onda adequado é capaz de emitir fluorescência, cuja

intensidade é proporcional à quantidade de DNA na célula. A morte celular foi

então avaliada através da incorporação deste fluorocromo no DNA das células

após os tratamentos indicados no item 4.3 (página 26).

Para a análise por citometria de fluxo, após coleta por centrifugação, as

células foram suspensas em 1 mL de etanol 70 % (Merck) para permeabilização

por 2 horas ou por até 20 dias a -20ºC. A seguir, foram lavadas com 1 mL de

PBS (137mM NaCl, 2,7mM KCl, 10mM Na2HPO4, 2mM KH2PO4, pH 7,2) por

duas vezes, centrifugadas e ressuspensas em 200 µL de solução de PI contendo

200 µg/mL de RNAse (Sigma), 20 µg/mL de PI e 0,1% v:v de Triton X-100

(Sigma) em PBS. Logo, as células foram mantidas em temperatura ambiente por

30 minutos, protegidas de luz, e as amostras foram adquiridas e analisadas em

citômetro de fluxo (FACScan Becton & Dickinson, WinMDI 2.8)

Após a calibração do aparelho, foram analisadas 10.000 partículas por

amostra, em fluxo de cerca de 300 eventos/segundo. O conteúdo de DNA foi

avaliado pela fluorescência vermelha, captada no canal de fluorescência

2 (FL2-H) e analisado em histograma representativo.

O percentual de células analisadas nas diferentes fases do ciclo foi

mensurado utilizando-se o programa Cell QuestTM e os dados foram analisados

estatisticamente por análise de variância (ANOVA) não paramétrica, conforme

descrito no item 4.5.4 (página 31). Os experimentos foram repetidos quatro

vezes e foram realizados em triplicatas.

4.4.2-Avaliação da dissipação do potencial transmembranar mitocondrial por JC1

JC1 (5,5’,6,6’-tetrachloro-1,1’,3,3’-tetraethylbenzimidazolylcarbocyanine

iodide) (Molecular Probes) é um fluorocromo catiônico que se acumula na

mitocôndria sob a forma de agregados, e este evento é indicado pela mudança

de emissão de fluorescência verde para fluorescência laranja/vermelho.

Enquanto em sua forma monomérica JC1 emite fluorescência na faixa do verde

(530 nm), em sua forma agregada ele fluoresce na faixa do laranja/vermelho

(>590 nm).

27

Page 45: Alterações morfológicas e estruturais induzidas por um ...portais.ufg.br/up/101/o/diss_marcellaCarneiro.pdf · Instituto de Ciências Biológicas Programa de Pós-Graduação em

Esse fluorocromo se difunde livremente para o interior da célula quando o

potencial transmembranar da mitocôndria não está alterado. Quando há

alteração deste potencial, JC1, que se agrega dentro da mitocôndria, flui para o

citoplasma. Isto resulta numa redução da intensidade de fluorescência na faixa

do vermelho/laranja.

Um dos eventos iniciais da apoptose é a despolarização da mitocôndria e

esta é indicada, neste tipo de análise, pela redução da razão da intensidade da

fluorescência vermelha/verde após aquisição das amostras em citômetro de

fluxo.

Esse ensaio nos permitiu avaliar a dissipação do potencial de membrana

da mitocôndria a fim de determinar se o processo de morte celular,

desencadeado por curcumina, em SKMEL 37, é mediado pela mitocôndria. Para

esta análise, o sobrenadante e as células aderidas foram ressuspendidas em

meio de cultura suplementado com 10% de SFB, após o período de incubação

das células com curcumina (descrito no item 4.3, página 26) por 24 horas. A

seguir, foi adicionado às células 0,2 μM de JC1, seguindo por agitação intensa

em vórtex por 20 segundos, para que o JC1 entrasse nas membranas celulares.

Logo, as células foram centrifugadas e lavadas, por duas vezes, em PBS e

incubadas por 15 minutos em temperatura ambiente e no escuro.

As amostras foram então adquiridas em citômetro de fluxo e a análise foi

feita usando o programa “Cell QuestTM”. Os experimentos foram repetidos duas

vezes e foram realizados em triplicatas.

4.5-Análise morfológica e estrutural das células

4.5.1-Análise por Microscopia de Fluorescência

Utilizamos dois fluorocromos para esta análise: JC1 e DAPI

(4’,6-diamidino-2-phenylindole, dilactate) (Sigma). O primeiro já descrito

anteriormente, é um fluorocromo que se difunde livremente na membrana

citoplasmática e na membrana mitocondrial, sendo visualizado no citoplasma e

mitocôndria. Já o fluorocromo DAPI se difunde para o núcleo celular, corando

preferencialmente o DNA.

28

Page 46: Alterações morfológicas e estruturais induzidas por um ...portais.ufg.br/up/101/o/diss_marcellaCarneiro.pdf · Instituto de Ciências Biológicas Programa de Pós-Graduação em

As células (1 X 105) foram semeadas em lamínulas de vidro, previamente

montadas, em placas de poliestireno (Nunc Brand Products, USA) de 9,6 cm2

(~3,1 X 104 cm2) e mantidas sob condições de cultura. Após o período de

incubação das células com curcumina (descrito no item 4.3, página 26), as

células foram incubadas com 20 μM de JC1, diluído em MEM com 10% de SFB

na proporção 1:200, durante 15 minutos a 37ºC. A seguir, as células foram

lavadas duas vezes em PBS adicionando-se 1 μM de DAPI e incubando-se por

30 minutos, no escuro. Logo, as células foram lavadas duas vezes com PBS,

sendo que na última lavagem, a solução de PBS foi mantida na placa

protegendo-se da luz. Em seguida, as lamínulas foram montadas em lâminas

com glicerol e mantidas no escuro. As células foram finalmente examinadas e

fotografadas em microscópio de fluorescência Nikon Eclipse E6000. Carl

4.5.2-Análise ultra-estrutural por Microscopia Eletrônica de Transmissão (M.E.T)

A análise das células, realizada em microscópio eletrônico de

transmissão, permitiu-nos avaliar as alterações ultra-estruturais induzidas por

curcumina em SKMEL 37. Após os períodos de 6 e 24 horas de incubação com

0, 5, 10 e 15 µM de curcumina, as células foram fixadas com 1 mL de

glutaraldeído 2% e paraformaldeído 2% e 3% de sacarose em tampão cacodilato

de sódio 0,1 M pH 7,2 por 30 minutos. A seguir foram efetuadas três lavagens,

de 15 minutos cada, em tampão cacodilato de sódio 0,1 M, pH 7,2. A pós-fixação

foi realizada em solução de tetróxido de ósmio a 1% em tampão cacodilato de

sódio (0,1 M, pH 7,2), e solução de ferrocianeto de potássio a 0,8% em tampão

cacodilato de sódio (0,1 M, pH 7,2) por 1 hora. Posteriormente, foram efetuadas

três lavagens, de 5 minutos cada, em água destilada. As células foram

desidratadas em uma série de concentrações crescente de acetona, incluindo

banhos de 30% a 90% por 10 minutos, e a 100%, foram efetuados três banhos

de 5 minutos cada. A seguir, as células foram imersas em mistura de acetona

100% e resina Spurr’s na proporção de 2:1 por 12 horas. Posteriormente, as

células foram novamente imersas na mesma mistura em proporção 1:1 por 6

horas e, em seguida, por mais 6 horas em mistura 1:2. Após este período, as

células foram então colocadas em resina pura onde permaneceram por 6 horas.

29

Page 47: Alterações morfológicas e estruturais induzidas por um ...portais.ufg.br/up/101/o/diss_marcellaCarneiro.pdf · Instituto de Ciências Biológicas Programa de Pós-Graduação em

A inclusão das células na resina pura foi feita nos tubos ependorf mantidos em

estufa, a 60ºC, por três dias, para polimerizar. Após a polimerização, os blocos

foram aparados e seccionados em cortes ultrafinos em ultramicrótomo Reichert,

modelo Supernova. A seguir, os cortes foram coletados em telas de 200 malhas,

contrastados com acetato de uranila a 5% durante 30 minutos, e com citrato de

chumbo por 10 minutos. Os cortes foram examinados em microscópio eletrônico

de transmissão Jeol JEM, modelo 1011, operado a 80 KV e fotografados com

câmera Gatan Ultrascan.

4.5.3-Análise por Microscopia Eletrônica de Varredura (M.E.V)

Através da análise por M.E.V., avaliamos as alterações morfológicas na

superfície das células induzidas por curcumina. Após o período de 24 horas de

incubação com 0, 10, 15 e 20 µM de curcumina, as células foram fixadas com 1

mL de glutaraldeído 2% e paraformaldeído 2% e 3% de sacarose em tampão

cacodilato de sódio 0,1 M pH 7,2 por 30 minutos. A seguir foram efetuadas três

lavagens, de 15 minutos cada, em cacodilato de sódio (0,1 M, pH 7,2). Na

terceira lavagem, as células foram ressuspendidas em 0,5 mL de tampão e

aplicadas em lamínulas, previamente tratadas com poli-L-lisina.

A fixação primária foi seguida de uma pós-fixação em solução de tetróxido de

ósmio (1%) em tampão de cacodilato de sódio (0,1 M, pH 7,2) e solução de

ferrocianeto de potássio a 0,8% em tampão de cacodilato de sódio (0,1 M, pH

7,2) por 1 hora. Posteriormente, foram efetuadas duas lavagens, de 5 minutos

cada, em água destilada. As células foram desidratadas em uma série de

concentrações crescentes de acetona, seguindo o mesmo padrão adotado em

M.E.T. Após a desidratação, procedeu-se a secagem ao ponto crítico de CO2, no

aparelho de Critical Point Dryer CPP030 (Balzers). Logo, as amostras foram

cobertas com uma fina camada de ouro no aparelho de Sputter Coater SCD050

(Balzers), observadas e fotografadas em microscópio eletrônico de varredura

JEOL JSM 840, operado a 10 KV.

30

Page 48: Alterações morfológicas e estruturais induzidas por um ...portais.ufg.br/up/101/o/diss_marcellaCarneiro.pdf · Instituto de Ciências Biológicas Programa de Pós-Graduação em

4.5.4 – Análise estatística

Os dados experimentais, obtidos em citômetro de fluxo, correspondentes

ao item 4.4.1 (página 26), foram analisados estatisticamente por análise de

variância (ANOVA) não paramétrica. Em seguida, foi feito o teste de comparação

múltipla de Bonferroni. O intervalo de confiança adotado foi de 95% e as

diferenças entre os tratamentos foram consideradas estatisticamente

significantes quando o valor de “p” era menor do que 0,05 (p<0,05).

31

Page 49: Alterações morfológicas e estruturais induzidas por um ...portais.ufg.br/up/101/o/diss_marcellaCarneiro.pdf · Instituto de Ciências Biológicas Programa de Pós-Graduação em

5-RESULTADOS

5.1-Curcumina induz fragmentação do DNA

A análise da fragmentação do DNA e do ciclo celular, avaliada através de

incorporação de iodeto de propídio, em citômetro de fluxo, foi baseada na

quantidade de DNA para cada fase do ciclo celular, conforme descrito por

Rabinovitch (1995). Após a aquisição das amostras, o citômetro de fluxo fornece

um gráfico de dispersão (Figura 10 A) e um histograma (Figura 10 B). Este é

demarcado em 4 marcadores: M1, M2, M3 e M4, de acordo com a quantidade de

DNA (unidade arbitrária), observada no eixo x (FL2-H). Os valores percentuais

relacionados a cada marcador também são fornecidos pelo aparelho, após a

análise das amostras (Figura 10 C).

O marcador M1 corresponde às populações de células que apresentaram

fragmentação do DNA (hipodiplóides), o que corresponde às células em

processo de morte celular. Os demais marcadores (M2, M3 e M4) correspondem

às populações de células em GOG1, SG2M e debris, respectivamente.

Figura 10: Modelos de gráficos e tabela, adquiridos em citômetro de fluxo, após avaliação de morte e ciclo celular por incorporação de iodeto de propídio. Os

gráficos e valores são referentes a células após incubação por 24 horas, apenas na

presença de meio de cultura e 10 % de SFB (controle).

A B

C

32

Page 50: Alterações morfológicas e estruturais induzidas por um ...portais.ufg.br/up/101/o/diss_marcellaCarneiro.pdf · Instituto de Ciências Biológicas Programa de Pós-Graduação em

Após 24 horas de tratamento, observamos um aumento na fragmentação

do DNA, em concentrações acima de 10 µM, mostrado com o alargamento da

base correspondente ao marcador M1 (Figura 11).

Figura 11: Curcumina induz aumento de fragmentação do DNA após 24 horas de tratamento. As células SKMEL 37 foram incubadas na ausência, na presença de 0.5% de etanol e na presença de 5, 10, 15 e 20 µM de curcumina, por 24 horas. A avaliação de morte celular foi feita com iodeto de propídio e a porcentagem de células hipodiploides (M1) foi analisada. Em concentrações acima de 15 µM de curcumina, observamos um aumento significativo em relação ao controle (p<0.001) na porcentagem de células hipodiploides.

FL2-H

N.ºde eventos

Controle Etanol (0.5%)

Curcumina 5 M Curcumina 10 µM

Curcumina 15 µM Curcumina 20 µM

33

Page 51: Alterações morfológicas e estruturais induzidas por um ...portais.ufg.br/up/101/o/diss_marcellaCarneiro.pdf · Instituto de Ciências Biológicas Programa de Pós-Graduação em

O percentual de células hipodiploides (M1) foi colocado em um gráfico em

barras (Figura 12) para melhor visualização dos resultados encontrados.

05u

M10

uM

15 uM

20 uM

0.02.55.07.5

10.012.515.017.520.022.5

05uM10uM15 uM20 uM

Concentração de curcumina

% d

e hi

podi

ploi

dia

Figura 12: Curcumina induz aumento de células hipodiploides após 24 horas de tratamento. As células SKMEL 37 foram incubadas na presença de diferentes concentrações de curcumina. Cada ponto representa média±erro padrão de ensaio de quatro experimentos independentes realizados em triplicatas. Os asteriscos são referentes às diferenças estatisticamente significantes entre células tratadas (asteriscos) em relação ao controle (ausência de curcumina). Os dados foram analisados por ANOVA não paramétrica e pelo teste de Bonferroni.

Observou-se que células sem adição de curcumina apresentaram um

baixo percentual de hipodiploidia 2.36% (± 0.76) em relação às células tratadas

(Figura 12). Células incubadas na presença de etanol (diluente da curcumina)

também não demonstraram efeito citotóxico (Figura 11).

Nossos resultados indicam que não há diferença significativa no número

de células hipodiplóides entre o controle e concentrações de 5 µM de

curcumina. Porém, observamos um aumento na proporção de células

hipodiploides à medida que aumentamos a concentração de curcumina. A

população de células com DNA fragmentado aumentou de 2.36%

(± 0.76), no controle, para 7.52 % (± 5.05), 11.1 % (± 5.43) e 18,43% (± 7.02)

em células tratadas com 10, 15 e 20 µM, respectivamente. Em células tratadas

com 10 (p<0,01), 15 e 20 µM (p<0,001) de curcumina, o percentual de células

hipodiplóides, aumentou significativamente em relação ao controle (Figura 12).

***

***

*

34

Page 52: Alterações morfológicas e estruturais induzidas por um ...portais.ufg.br/up/101/o/diss_marcellaCarneiro.pdf · Instituto de Ciências Biológicas Programa de Pós-Graduação em

Este resultado sugere que o número de células hipodiploides é dependente da

concentração de curcumina.

5.2-Curcumina induz acúmulo em G0G1

Na figura 13 observamos que células tratadas com 5 µM de curcumina

por 24 horas, apresentaram acúmulo, estatisticamente significante, na subfase

G0G1 do ciclo celular, em relação aos demais tratamentos. Observou-se,

claramente, que há acúmulo em G0G1 e redução em SG2M, para esta

concentração, embora o percentual de hipodiploidia seja insignificante (Figura

14).

Células tratadas com 5 µM de curcumina talvez não entrem em fase

proliferativa (G1), permanecendo em estado quiescente (G0). No entanto, caso

as células entrem em fase proliferativa (G1), o acúmulo em G0G1 poderia indicar

que a transição G1/S foi bloqueada, sem, contudo, provocar morte celular.

Para concentrações mais elevadas de curcumina (10, 15 e 20 μM),

verificamos um decréscimo na proporção de células em G0G1 (Figura 13). Isto

poderia ser atribuído ao fato de que células submetidas a concentrações mais

elevadas de curcumina, escapam dos pontos de checagem do ciclo celular, o

que explicaria sua progressão por G0G1 e posterior morte, indicada pelo

respectivo aumento de hipodiploidia.

35

Page 53: Alterações morfológicas e estruturais induzidas por um ...portais.ufg.br/up/101/o/diss_marcellaCarneiro.pdf · Instituto de Ciências Biológicas Programa de Pós-Graduação em

05 u

M10

uM15

uM20

uM0

25

50

7505 uM10 uM15 uM20 uM

Concentração

% d

e G

OG

1

Figura 13: Curcumina induz acúmulo na subfase G0G1 do ciclo celular após 24 horas de tratamento. As células SKMEL 37 foram incubadas por 24 horas na presença de diferentes concentrações de curcumina, conforme indicado no gráfico. Cada ponto representa a média±erro padrão de ensaio de quatro experimentos independentes realizados em triplicatas. A diferença entre o percentual de células, tratadas com 5 µM é estatisticamente significante (asteriscos) em relação ao controle (p<0,001) e em entre os tratamentos com 10 µM (p<0.01), 15 µM (p<0.001) e 20 µM (p<0.001). Os dados foram analisados por ANOVA não paramétrica e pelo teste de Bonferroni.

Figura 14: Comparação do percentual de hipodiploidia, de células em G0G1 e de células em SG2M, entre células tratadas na ausência e na presença de 5 µM de curcumina. Cada ponto representa a média±erro padrão de ensaio de quatro experimentos independentes realizados em triplicatas. A diferença entre o percentual de células tratadas com 5 µM é estatisticamente significante (asteriscos) em relação ao controle (p<0,001) para GOG1 e SG2M.

***

***

***

36

Page 54: Alterações morfológicas e estruturais induzidas por um ...portais.ufg.br/up/101/o/diss_marcellaCarneiro.pdf · Instituto de Ciências Biológicas Programa de Pós-Graduação em

O aumento percentual de populações de células na subfase G0G1, na

concentração de 5 μM de curcumina, foi acompanhado por redução do

percentual de populações de células em SG2M. Células tratadas com 20 μM de

curcumina também apresentaram uma redução significativa no percentual de

população de células em SG2M (Figura 15).

05 u

M10

uM15

uM20

uM0

10

20

30

4005 uM10 uM15 uM20 uM

Concentração de curcumina

% d

e SG

2M

Figura 15: O aumento de populações de células na subfase G0G1 na concentração de 5 µM foi acompanhado por redução em populações de células na subfase SG2M após 24 horas de incubação com a curcumina. Cada ponto representa a média±erro padrão de ensaio de quatro experimentos independentes realizados em triplicatas. A diferença entre o percentual de células, tratadas com 5 µM é estatisticamente significante (asteriscos) em relação ao controle (p<0,001). Foi constatada diferença significativa entre o tratamento com 20 µM de curcumina e na ausência de curcumina (p<0,01).

*** ***

37

Page 55: Alterações morfológicas e estruturais induzidas por um ...portais.ufg.br/up/101/o/diss_marcellaCarneiro.pdf · Instituto de Ciências Biológicas Programa de Pós-Graduação em

5.3-Curcumina não altera o potencial transmembranar da mitocôndria

As concentrações de curcumina empregadas no ensaio de JC1 foram

estabelecidas com o ensaio de morte celular por incorporação de iodeto de

propídio, através da análise de fragmentação do DNA (fração de células

hipodiploides), como indicado na figura 12 (página 34).

A despolarização da membrana da mitocôndria foi avaliada usando o

fluorocromo JC1. Os gráficos de dispersão de pontos (Figura 16) representam

dois parâmetros: intensidade de fluorescência verde (FL1) e intensidade de

fluorescência vermelha (FL2). A freqüência de células com dissipação do

potencial transmembranar mitocondrial é estimada através da análise destes

parâmetros, e, é demonstrada pela redução da intensidade da fluorescência

vermelha de JC1 (leitura em FL2).

A fim de facilitar a análise dos resultados, os gráficos de dispersão,

obtidos nesta análise, foram demarcados em quatro quadrantes: superiores

direito (SD) e esquerdo (SE) e inferiores direito (ID) e esquerdo (IE). Antes da

análise das amostras, no citômetro de fluxo, os controles de viabilidade máxima

foram mantidos no quadrante superior da direita (SD), o que corresponde às

células onde não houve alteração do potencial transmitocondrial.

Assim, as alterações no potencial transmembranar da mitocôndria

correspondem à redução da intensidade de fluorescência de FL2, que pode ser

verificada com o deslocamento de células do quadrante superior direito (SD)

para o quadrante inferior direito (ID).

Nossos resultados não indicaram deslocamento de população de células

do quadrante SD para o ID em células tratadas com 0.5% de etanol (controle)

(Figura 16 a). Esta mesma observação foi verificada em células tratadas com

curcumina (Figura 16 b, c, d).

Observou-se que a intensidade da fluorescência vermelha não reduziu

nas populações de células analisadas, demonstrando que a curcumina não

altera o potencial transmembranar mitocôndria, no período de 16 horas e nas

concentrações de 5 a 20 μM. Este efeito sugere, portanto, que o processo de

morte celular, desencadeado por esta droga, não é mediado por esta organela. m

38

Page 56: Alterações morfológicas e estruturais induzidas por um ...portais.ufg.br/up/101/o/diss_marcellaCarneiro.pdf · Instituto de Ciências Biológicas Programa de Pós-Graduação em

Figura 16: O tratamento de SKMEL 37 com curcumina não induz a dissipação do potencial transmembranar mitocondrial após 24 horas de tratamento. As células

SKMEL 37 foram incubadas por 24 horas na ausência e na presença de curcumina.

(a) Controle. (b) 10 μM de curcumina. (c) 15 μM de curcumina. (d) 20 μM de curcumina.

A população de células no quadrante superior direito corresponde às células em que

não houve dissipação do potencial transmembranar mitocondrial. O ensaio foi realizado

em triplicatas e repetido duas vezes. Os resultados de ambos os ensaios foram

semelhantes.

A

FL1-H

FL2-HF

Etanol 0.5% Curcumina 10 μMb

FL1-H

FL2-HF

Curcumina 15 μM Curcumina 20 μMc d

a

IE ID

SE

IE

SDSE

IE

SD

ID

SE

IE

SD

ID

SDSE

ID

39

Page 57: Alterações morfológicas e estruturais induzidas por um ...portais.ufg.br/up/101/o/diss_marcellaCarneiro.pdf · Instituto de Ciências Biológicas Programa de Pós-Graduação em

5.4-Curcumina induz alterações morfológicas e estruturais em SKMEL 37

Células incubadas por 16 horas em meio de cultura com 10% de SFB e

0,5% de etanol, sem adição de curcumina, não apresentaram alterações

morfológicas (Figura 17 a). O tratamento com curcumina tornou as células mais

arredondadas, isto poderia estar associado às alterações estruturais decorrentes

de morte celular e possivelmente às alterações no citoesqueleto (Figura 17 b, c e

d). Foi observada formação de blebs de membrana em células tratadas com

15 µM de curcumina (setas) (Figura 17 d). Além destas alterações morfológicas,

observamos a fragmentação do núcleo em células tratadas com as

concentrações de 10 e 15 μM de curcumina (Figuras 18 a e b). Os resultados

obtidos indicam, provavelmente, que a curcumina induz morte celular por

apoptose, já que alterações como formação de blebs de membrana e

fragmentação do DNA são características peculiares de eventos apoptóticos.

40

Page 58: Alterações morfológicas e estruturais induzidas por um ...portais.ufg.br/up/101/o/diss_marcellaCarneiro.pdf · Instituto de Ciências Biológicas Programa de Pós-Graduação em

A: Etanol 0,5 % B: Curcumina 5 µM

Curcumina 10 µM Curcumina 15 µM

Figura 17: Curcumina induz alterações morfológicas nas células e formação de ‘blebs’ de membrana em SKMEL 37. As células SKMEL 37 foram tratadas com diferentes doses de curcumina por 16 horas, incubadas com JC1 e visualizadas em microscópio de fluorescência. (a) Controle; (b) 5 μM de curcumina. (c) 10 μM de curcumina; (d) 15 μM de curcumina. As setas indicam as alterações morfológicas nessas células.

Curcumina 10 µM Curcumina 15 µMFigura 18: Curcumina induz fragmentação do núcleo em células da linhagem SKMEL 37. As células foram tratadas com 10 e 15 µM de curcumina por 16 horas, incubadas com DAPI e visualizadas em microscópio de fluorescência. (a) 10 μM de curcumina; (b) 15 μM de curcumina. As setas indicam a fragmentação nuclear.

5.5 - Curcumina induz alterações ultraestruturais em SKMEL 37

a

dc

b

ba

10 µm10 µm

10 µm 10 µm

25 µm25 µm

41

Page 59: Alterações morfológicas e estruturais induzidas por um ...portais.ufg.br/up/101/o/diss_marcellaCarneiro.pdf · Instituto de Ciências Biológicas Programa de Pós-Graduação em

Métodos que avaliam a apoptose são claramente necessários para

aplicação de agentes indutores de apoptose, visto o papel central que esse

mecanismo exerce na quimioterapia (Fraker et al., 1995). Assim, a análise

ultraestrutural, foi essencial para avaliar alterações celulares decorrentes da

morte induzida por curcumina.

Observações ao microscópio eletrônico de transmissão mostraram

detalhes ultra-estruturais de mudanças morfológicas decorrentes do processo de

morte celular induzidas por curcumina em SKMEL 37. Células desta linhagem

são geralmente células ricas em projeções de superfície de membrana (Figuras

19 a, b). O núcleo, a membrana plasmática e as organelas citoplasmáticas das

células, na ausência do tratamento com curcumina, permaneceram íntegros

(setas), após a incubação em meio de cultura com 10% de SFB, por 6 e

24 horas (Figura 19 a, b).

Não foram observadas alterações morfológicas em células tratadas com

5 µM de curcumina por um período de 6 horas (Figura 20 a). Porém, células

tratadas incubadas por 24 horas, nesta mesma concentração, apresentaram

uma discreta segregação da cromatina para a periferia do núcleo (Figura 20 b).

Em concentrações acima de 10 µM de curcumina, observou-se características

decorrentes de processos de morte celular, tais como segregação de porções de

heterocromatina para a periferia do núcleo e formação intensa de vacúolos

(Figura 20 c-e). Observou-se também formação de fragmentos celulares,

eliminados na superfície das células (corpos apoptóticos) em células tratadas

com 10 e 15 µM de curcumina por 24 horas (Figura 20 d, f). Essas mudanças

morfológicas, induzidas por curcumina, possivelmente, indicam que o processo

de morte celular, verificado anteriormente no item. 4.4.1 (página 26), é mediado

por apoptose.

Durante o processo de morte celular mediado por necrose há alterações

nas organelas citoplasmáticas. Não observamos quaisquer alterações nas

organelas celulares nos distintos tratamentos (Figura 20 a-f). Todavia,

observamos um intenso acúmulo de vacúolos em células tratadas com

curcumina (Figura 20 c-e), que, possivelmente, fazem parte do sistema

autofágico, decorrente de eventos de apoptose celular, ainda não muito bem

esclarecidos.

42

Page 60: Alterações morfológicas e estruturais induzidas por um ...portais.ufg.br/up/101/o/diss_marcellaCarneiro.pdf · Instituto de Ciências Biológicas Programa de Pós-Graduação em

Figura 19: Micrografia eletrônica de transmissão de células da linhagem SKMEL 37 na ausência de tratamento com curcumina. Secção transversal mostrando a integridade do núcleo, das membranas e organelas celulares na ausência de tratamento com curcumina. (a) As células foram mantidas por 6 e (b) 24 horas em incubadora úmida em meio de cultura com 10% de SFB sem adição de curcumina. Abreviações: (n) núcleo, (cr) cromatina, (mt) mitocôndria, (ct) citoplasma, (mp) membrana plasmática.

ba

nn

cr

mt

mp

mpct

2 µm

43

Page 61: Alterações morfológicas e estruturais induzidas por um ...portais.ufg.br/up/101/o/diss_marcellaCarneiro.pdf · Instituto de Ciências Biológicas Programa de Pós-Graduação em

Figura 20: Micrografia eletrônica de transmissão de células da linhagem SKMEL 37 após tratamento com curcumina. Secção transversal mostrando as mudanças morfológicas induzidas por curcumina, tais como, segregação da cromatina para a periferia do núcleo (setas), formação de vacúolos (setas tracejadas) e corpo apoptótico (asterisco). As células foram tratadas com 5 μM de curcumina por 6 (a) e 24 horas (b); 10 μM de curcumina por 6 (c) e 24 horas (d); e 15 μM por 24 horas (e, f). Abreviações: (n) núcleo, (cr) cromatina, (mt) mitocôndria.

5.6-Curcumina induz alterações estruturais na superfície da membrana plasmática em SKMEL 37

a b

c d

ef

nn

n

n

mt

*

*

cr

cr

*

*

2 µm

cr

cr2 µm

1 µm

44

Page 62: Alterações morfológicas e estruturais induzidas por um ...portais.ufg.br/up/101/o/diss_marcellaCarneiro.pdf · Instituto de Ciências Biológicas Programa de Pós-Graduação em

A análise das células em microscopia eletrônica de varredura nos permitiu

visualizar as mudanças na superfície das células, induzidas por curcumina,

complementando, dessa forma, os resultados, obtidos anteriormente, através da

análise em M.E.T.

Células que não receberam tratamento com curcumina possuem muitas

projeções citoplasmáticas (Figura 21 a), característica já observada na análise

em M.E.T. (Figura 19). Todavia, células tratadas com 10, 15 e 20 µM de

curcumina, por um período de 24 horas, apresentaram redução destas projeções

e formação de blebs na superfície da membrana plasmática (setas),

característica decorrente do processo de morte celular por apoptose (Figura 21

b-d).

Dessa forma, nossos resultados, obtidos através da análise de M.E.T. e

M. E. V., indicam que a curcumina, possivelmente, induz morte celular por

apoptose.

45

Page 63: Alterações morfológicas e estruturais induzidas por um ...portais.ufg.br/up/101/o/diss_marcellaCarneiro.pdf · Instituto de Ciências Biológicas Programa de Pós-Graduação em

Figura 21: Micrografia eletrônica de varredura de células da linhagem SKMEL37 em cultura. Curcumina induz formação de blebs de membrana (setas) em SKMEL 37, característica decorrente de eventos de morte celular por apoptose. As células foram incubadas por 24 horas na presença e ausência de curcumina. (a) SKMEL 37 na ausência de curcumina (controle); (b) na presença de 10 μM; (c) na presença de 15 μM e (d) na presença de 20 μM de curcumina. (a-c) barra=2 µm; (d) barra=3µm. As setas indicam os blebs na superfície da membrana plasmática.

6- DISCUSSÃO

cccSD

dSDF

aSDF

bSDF

cSDF

46

Page 64: Alterações morfológicas e estruturais induzidas por um ...portais.ufg.br/up/101/o/diss_marcellaCarneiro.pdf · Instituto de Ciências Biológicas Programa de Pós-Graduação em

O melanoma humano é uma forma de câncer muito agressiva, que

frequentemente torna-se resistente a agentes quimioterápicos. Em virtude da baixa

eficácia de agentes quimioterápicos empregados atualmente, torna-se necessário o

desenvolvimento de novos agentes que sejam menos tóxicos e que não

desencadeiem quimiorresistência nessas células.

A cada dia, novos compostos naturais ou sintéticos farmacologicamente ativos

contra os diversos tipos de tumores são descritos. Polifenóis, por exemplo, têm sido

extensivamente estudados, e estes estudos têm sugerido sua propriedade tanto de

prevenir como de tratar o câncer. A curcumina, agente utilizado na nossa pesquisa, é

um composto polifenólico. Estudos relatam que seus grupos fenólicos e metóxis e, a

presença de dois grupos cetona, na sua estrutura química, são aspectos muito

importantes para suas atividades biológicas (revisado por Joe et al., 2004).

O potencial terapêutico da curcumina, como um agente antitumoral, tem sido

amplamente discutido na literatura (revisado por Shi et al., 2006). Diversos estudos

têm demonstrado o efeito inibitório da curcumina na tumorigênese e no crescimento

do tumor em células in vitro e in vivo, através da indução de apoptose celular em

várias linhagens de células tumorais, indicando seu grande potencial terapêutico para

o câncer (revisado por Shi et al., 1999; Mesa, et al., 2000; Araújo, et al., 2001; Bush,

et al., 2001; Aggarwal et al., 2003; Odot, et al., 2004; Zheng, et al., 2004; Joe, et al.,

2004; Uddin et al., 2005; Maheshwari et al., 2006; Shi, et al., 2006; Thangapazham,

et al., 2006). Recentemente, vários trabalhos têm mostrado que a curcumina

apresenta perfis de citotoxicidade distintos, conforme o tecido celular e a

concentração deste fitoquímico (revisado por Sharma, et al., 2005).

No presente estudo, constatou-se o efeito inibitório da curcumina sob a

proliferação de células de melanoma humano, da linhagem SKMEL 37. Vários

estudos têm relatado o efeito inibitório da curcumina na proliferação de várias

linhagens celulares, incluindo, câncer de ovário, câncer de mama, linfoma e

melanoma (Simon et al., 1998; Zheng et al., 2004; Odot, et al., 2004; Uddin et al.,

2005; Shi et al., 2006).

Observamos que a curcumina induziu baixo percentual de fragmentação do

DNA em células tratadas com 5 µM de curcumina, mas o contrário foi notado em

células tratadas com 10, 15 e 20 µM. Nossos resultados indicam, portanto, que o

47

Page 65: Alterações morfológicas e estruturais induzidas por um ...portais.ufg.br/up/101/o/diss_marcellaCarneiro.pdf · Instituto de Ciências Biológicas Programa de Pós-Graduação em

percentual de hipodiploidia, associado ao seu efeito antiproliferativo, é proporcional à

concentração de curcumina. Esta observação está de acordo com vários relatos

descritos na literatura (Simon, et al., 1998; Zheng, et al., 2004; Uddin, et al., 2005;

Shi et al., 2006).

Atualmente, sabe-se que a compreensão dos mecanismos de regulação do

ciclo celular é essencial para o desenvolvimento de novos alvos terapêuticos, que

visem tornar às células susceptíveis à apoptose, como ocorre em regimes

quimioterápicos (Zheng, et al., 2004).

Neste estudo, observou-se que a curcumina altera o perfil do ciclo celular,

bloqueando a progressão das células no ciclo celular na fase do ciclo GOG1. Este

efeito é, contudo, dependente da concentração de curcumina. Enquanto foi verificado

acúmulo na fase G0G1 no ciclo celular, na concentração de 5 µM de curcumina, por

outro lado, foi notado um decréscimo na proporção de células, nesta mesma fase,

para concentrações acima de 10 µM.

Possivelmente, na concentração de 5 µM de curcumina, os mecanismos de

reparo celular devem ser acionados, como se estivesse ocorrendo, por exemplo, uma

deprivação de nutrientes para as células. Este mecanismo evitaria a progressão

destas células no ciclo e, sua posterior morte. Assim, nesta concentração de

curcumina, as células não morrem, mas ocorre uma contenção destas no ciclo

celular. Por outro lado, células submetidas a concentrações mais elevadas (acima de

10 µM) de curcumina escapariam de pontos de checagem, no ciclo celular, devido à

sua citotoxicidade mais intensa. Isto, provavelmente, explicaria a progressão de

células tratadas com 10, 15 e 20 µM de curcumina em G0G1 e posterior morte,

indicada pelo respectivo aumento da hipodiploidia nestes tratamentos.

Vários trabalhos têm demonstrado o efeito da curcumina no ciclo celular, tanto em

células em cultura como em modelos animais (Chen & Huang et al., 1998; Zheng, et

al., 2004; Uddin, et al., 2005). Observações descritas na literatura indicam que a

curcumina induz apoptose por bloquear a progressão das células, em várias fases do

ciclo celular, de maneira dependente da concentração, do tempo e também do tecido

celular (Karunagaran, et al., 2005; Su et al., 2006).

Chen & Huang demonstraram que para baixas concentrações (10-6 M), a

curcumina induz acúmulo nas fases GO-G1/G2/S e para altas concentrações (10-4 M),

ocorre indução de apoptose, em células musculares de vasos sanguíneos, o que

poderia fornecer suporte aos nossos resultados (revisado por Joe et al., 2005).

48

Page 66: Alterações morfológicas e estruturais induzidas por um ...portais.ufg.br/up/101/o/diss_marcellaCarneiro.pdf · Instituto de Ciências Biológicas Programa de Pós-Graduação em

Entretanto, encontramos relatos de que a curcumina induz acúmulo, na fase G2/M

do ciclo celular, em células de câncer de mama da linhagem MCF-7 bem como em

linhagens de células de melanoma humano A375 e MeWo (Simon et al., 1998, Zheng

et. al. 2004). Ainda, recentes estudos demonstraram que a curcumina também induz

acúmulo em G2/M e apoptose em células de câncer de ovário humano, resistentes à

cisplatina (Weir, et al., 2007).

Um estudo realizado por Quin & Ng, (2002) demonstrou que a cisplatina, um

agente amplamente empregado na quimioterapia, também interfere na progressão

das células no ciclo celular, em células de hepatoma. Este estudo indicou que em

altas concentrações, a cisplatina induz um acúmulo de células em G1(transitório) em

períodos de tratamento abaixo de 24 horas e, após este período, o estudo indicou

que as células entram em apoptose.

O mecanismo pelo qual a curcumina bloqueia as células, na concentração de

5 µM, em G0G1, ainda não foi esclarecido por nosso grupo. Possivelmente, este

efeito da curcumina, estaria relacionado à inibição de quinases e cdks (Golsteyn,

2005). Alguns estudos têm relatado que a curcumina inibe o tumor e induz apoptose

por suprimir genes de sobrevivência e de proliferação celular, tais como Bcl-2 e

ciclina D1 e c-myc. A redução de c-myc, por exemplo, pode resultar em contenção na

subfase G1 no ciclo celular, impedindo a progressão para fase S e, eventualmente,

levando à morte celular por apoptose (revisado por Thangapazham, et al., 2006).

Dessa forma, novos estudos devem ser realizados a fim de elucidar o mecanismo

molecular, no qual a curcumina induz apoptose e contenção em G0G1.

São descritos na literatura vários eventos associados à indução de apoptose, por

curcumina, incluindo inibição de mecanismos de sinalização, envolvendo Akt e NFkB.

Tais moléculas estão relacionadas à contenção de células no ciclo celular (revisado

por Sharma et al., 2005). Um alvo molecular importante envolvido na proliferação,

sobrevivência celular, invasão, angiogênese e metástase é o NFkB Recentemente,

vários estudos têm demonstrado que a curcumina inibe a ativação de NFkB

(Aggarwal, et al., 2003; Joe, et al., 2004; Zheng, et al., 2004; Sharma et al., 2005;

Shishodia, et al., 2005; Singh & Khar, 2006; Thangapazham, et al., 2006).

Ainda, nossos resultados demonstraram que a curcumina induz alterações

morfológicas e estruturais, tais como formação de blebbings de membrana e

fragmentação do DNA, em células tratadas com concentrações de curcumina acima

de 10 µM. Além disso, outros aspectos morfológicos ultra-estruturais, peculiares à

49

Page 67: Alterações morfológicas e estruturais induzidas por um ...portais.ufg.br/up/101/o/diss_marcellaCarneiro.pdf · Instituto de Ciências Biológicas Programa de Pós-Graduação em

apoptose, como condensação e segregação da cromatina para a periferia do núcleo,

formação de corpos apoptóticos e ausência de mudanças ultraestruturais nas

organelas citoplasmáticas, também foram observados com estas concentrações de

curcumina. Paralelamente, a análise das células em microscopia eletrônica de

varredura corroborou os resultados obtidos em microscopia de transmissão e

microscopia de fluorescência, visto que também foram observadas blebbings de

membrana, característica que evidencia o processo de morte celular por apoptose em

SKMEL 37.

Também observamos um intenso acúmulo de vacúolos citoplasmáticos em células

tratadas com concentrações de curcumina acima de 10 µM. Esta observação é

descrita, por alguns autores, como decorrente de uma vacuolização autofágica (Boya

et al., 2005; Pólo et al., 2005). Recentemente, os processos de morte celular por

autofagia têm despertado as atenções de muitos pesquisadores, visto que diferentes

tipos de células tumorais sofrem autofagia após várias terapias antitumorais (Kondo &

Kondo, 2006).

Contudo, os vacúolos observados, em células tratadas com concentrações de

curcumina acima de 10 µM, certamente são precedentes à apoptose, já que a

literatura também têm descrito que a formação de vacúolos autofágicos, é uma das

características que pode ocorrer no processo de apoptose. Além disso, estudos têm

indicado que a autofagia e a apoptose fazem parte de processo de morte celular

programada e ambos podem estar intrinsecamente interligados (Cho & Choi, 2002;

Edinger & Thompson, 2004; Boya et al., 2005; Pierron et al., 2005, Pólo et al., 2005).

Sabe-se que a morte celular por apoptose é um processo ativo mediado por vários

mecanismos de sinalização, cuja ativação pode ser iniciada por uma variedade de

estímulos intracelulares e extracelulares. Numerosos fatores associados com esses

mecanismos de sinalização incluem caspases, dentre diversos outros fatores (Cho &

Choi, 2002).

As caspases são enzimas fundamentais para o processo de indução de apoptose.

Uma rota de ativação de caspases pode ser iniciada na superfície celular por

estímulos apoptóticos (via extrínseca). Fas-L têm demonstrado induzir a cascata de

caspase por se ligar e ativar seu receptor de membrana (Fas). Esta ligação permite a

associação desse complexo com caspase-8 e, subsequentemente, sua ativação, que

leva à ativação de caspases executoras, tais como a caspase-3 (Cho & Choi, 2002).

50

Page 68: Alterações morfológicas e estruturais induzidas por um ...portais.ufg.br/up/101/o/diss_marcellaCarneiro.pdf · Instituto de Ciências Biológicas Programa de Pós-Graduação em

A mitocôndria pode ser um outro sítio onde estímulos para apoptose podem

ocorrer por sinalização que também medeia a ativação de caspases (via intrínseca).

Esta organela desempenha um papel central no mecanismo de apoptose, em

decorrência desta liberar citocromo c para o citosol, o que culmina com a ativação de

caspase-9 e, subsequentemente da cascata de caspases executoras (Cho & Choi,

2002). As caspases executoras são responsáveis pela ativação de DNAses e,

consequentemente, à apoptose.

Sobretudo, os dois mecanismos de sinalização (intrínseca e extrínseca) para

ativação de caspases podem, algumas vezes, estar interconectados. A caspase-8,

por exemplo, pode não só clivar uma cascata de caspases, como também outros

substratos de proteínas, como a proteína Bid. Esta molécula se move para a

mitocôndria e estimula a liberação de citocromo c no citoplasma, ativando a

caspase-9 (Cho & Choi, 2002).

Nossos resultados não demonstraram alteração do potencial transmembranar

mitocondrial, sugerindo que o processo de apoptose, induzido por curcumina, não é

mediado pela mitocôndria. Em virtude do processo de morte celular, induzido por

curcumina, ser decorrente de apoptose e, considerando que este processo não é

mediado pela via intrínseca, aventa-se a hipótese de que a sinalização, envolvida

neste processo de morte celular, em SKMEL 37, deve estar associada à via

extrínseca. Contudo, futuros ensaios, a fim de esclarecer esta hipótese, poderão

determinar a atividade enzimática de caspases 8, em SKMEL 37, após o tratamento

com curcumina.

Estudos realizados por Bush et al. (2001) e Anto et al. (2002) demonstraram que a

curcumina induz apoptose, através do receptor Fas e ativação de caspase 8. Por

outro lado, outros estudos têm demonstrado que a curcumina induz alterações no

potencial de membrana da mitocôndria, processo que culmina com a liberação de

citocromo c e ativação de caspase 3 (revisado por Sharma et al., 2005; Su et al.,

2006; Tan, et al., 2006).

No presente estudo, a curcumina mostrou interferir na progressão das células no

ciclo celular e induzir apoptose. Sabe-se que o sucesso de agentes

quimioterapêuticos estaria vinculado à potencialidade em induzir apoptose em células

malignas (Syng-ai et al., 2004). Assim, compostos que previnem a progressão das

células no ciclo celular, e induzem apoptose, como a curcumina, podem ser usados

51

Page 69: Alterações morfológicas e estruturais induzidas por um ...portais.ufg.br/up/101/o/diss_marcellaCarneiro.pdf · Instituto de Ciências Biológicas Programa de Pós-Graduação em

como reguladores negativos da proliferação celular no tratamento do câncer, inclusive

do melanoma (Chen & Huang, 1998).

As plantas continuam sendo importantes para o desenvolvimento de novas

drogas, por possuírem uma larga variedade de substâncias químicas, com ações

farmacológicas. Considerando o fato de a curcumina ser um constituinte da dieta

natural e ser farmacologicamente segura, sua aplicação torna-se cada vez mais

promissora. Destacamos, portanto, a emergente importância de pesquisas nesta

área, a fim de promover o desenvolvimento de terapias que envolvam a curcumina no

tratamento do câncer, incluindo do melanoma.

52

Page 70: Alterações morfológicas e estruturais induzidas por um ...portais.ufg.br/up/101/o/diss_marcellaCarneiro.pdf · Instituto de Ciências Biológicas Programa de Pós-Graduação em

CONCLUSÕES

O melanoma humano é uma forma de câncer muito agressiva, que

frequentemente torna-se resistente a agentes quimioterápicos. Em virtude da baixa

eficácia dos agentes quimioterápicos empregados torna-se primordial o

desenvolvimento de novos agentes que sejam menos tóxicos e que não

desencadeiem quimiorresistência.

Nossos resultados indicaram que a curcumina interfere na progressão das

células no ciclo celular, induzindo acúmulo na subfase G0G1 em SKMEL 37, na

concentração de 5 µM. Além disso, este agente induziu morte celular por apoptose,

em concentrações acima de 10 µM, por mecanismos que não são mediados pela

mitocôndria. A curcumina representa um enorme potencial terapêutico para o

melanoma, visto que atua como um agente indutor de apoptose e interfere na

progressão de células no ciclo celular. Estes aspectos são importantes para a eficácia

de agentes quimioterapêuticos.

53

Page 71: Alterações morfológicas e estruturais induzidas por um ...portais.ufg.br/up/101/o/diss_marcellaCarneiro.pdf · Instituto de Ciências Biológicas Programa de Pós-Graduação em

PERSPECTIVAS

As plantas continuam sendo importantes no descobrimento de novas drogas.

A curcumina, isolado do rizoma da planta Curcuma longa L., representa um enorme

potencial terapêutico para o melanoma, visto que é considerada farmacologicamente

segura e um agente quimiopreventivo. Porém, estudos rigorosos do seu efeito

antitumoral em modelos de experimentação animal e linhagens celulares in vitro

devem ser realizados a fim de elucidar seu mecanismo de ação. Isso implica,

intrinsecamente, esclarecer alguns dos seus alvos moleculares nas vias de

sinalização de apoptose, como o receptor EGFR, o fator de transcrição NFkB,

proteínas como a Bcl-2, p53, Bax, PKB, MAPK e enzimas como ciclinas, iNOS e

caspases 3 e 8. Estas análises somadas à estudos pré-clinicos em pacientes com

melanoma, poderão tornar possível o uso clínico da curcumina como um agente

quimioterápico.

Nesse sentido, um estudo piloto em pacientes com melanoma está sendo

delineado em colaboração com o Ambulatório de Cabeça e Tórax do Hospital Araújo

Jorge de Goiânia.

54

Page 72: Alterações morfológicas e estruturais induzidas por um ...portais.ufg.br/up/101/o/diss_marcellaCarneiro.pdf · Instituto de Ciências Biológicas Programa de Pós-Graduação em

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AGGARWAL, S., ICHIKAWA, H. TAKADA, Y., SANDUR, S. K., SHISHODIA, S.,

AGGARWAL, B. B. Curcumin (Diferuloylmethane) down-regulates expression of

cell proliferation and antiapoptotic and metastático gene products through

suppression of IkBα kinase and Akt activation. Cellular Signalling, v. 14, p. 649-

654, 2002.

AGGARWAL, B.B., KUMAR, A., BHARTI, A. C. Anticancer potential of curcumin:

preclinical and clinical studies. Anticancer Research, v. 23, p. 363-398, 2003.

AHSAN, H., PARVEEN, N. KHAN, N. U., HADI, S. M. Pro-oxidant, antioxidant

and cleavage activities on DNA of curcumin and its derivatives

demethoxycurcumin and bisdemethoxycurcumin. Chemico-Biological Interactions, v. 121, p. 161-175, 1999.

ALBERTS, B., JOHNSON, A., LEWIS, J., RAFF, M., ROBERTS, K., WALTER, P.

Biologia Molecular da Célula. In: Ciclo Celular e Morte Celular Programada.

4a ed., Editora Artumed, Porto Alegre, p. 983-1025, 2004.

ANTO, R. J., MUKHOPADHYAY, A., DENNING, K., AGGARWAL, B. B.

Curcumin (diferuloilmetano) induces apoptosis through activation of caspase-8,

BID cleavage and cytochrome c release: its suppression by ectopy expression by

ectopic expression of Bcl-2 and Bcl-xl. Carcinogenesis, v. 23, n. 1, p. 143-150,

2002.

ARAÚJO, C. A.C., LEON, L. L. Biological Activities of Curcuma Longa L. Mem Inst Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, v. 96, n. 5, p. 723-728, jul., 2001.

BOYA, P., POLO, R-A. G., CASARES, N., PERFETTINI, J-L., DESSEN, P.,

LAROCHETTE, N., MÉTIVIER, D., MELEY, D., SOUQUERE, S., YOSHIMORI,

T., PIERRON, G., CODOGNO, P., KROEMER, G. Inhibition of Macroautophagy

Triggers Apoptosis. Molecular and Cellular Biology, p. 1025-1040, feb. 2005.

55

Page 73: Alterações morfológicas e estruturais induzidas por um ...portais.ufg.br/up/101/o/diss_marcellaCarneiro.pdf · Instituto de Ciências Biológicas Programa de Pós-Graduação em

BUSH, J. A., CHEUNG, K-J. J, LI, G. Curcumin induces apoptosis in human

melanoma cells through a Fas receptor/caspase-8 pathway independent of p53.

Experimental Cell Research, v. 271, p. 305-314, 2001.

CAMARGO, A. A., COSTA, F. F. Oncogenes e supressores de tumor. In: Bases da Oncologia (Brentani, Coelho & Kowalski, eds) 2rd ed., Editora Marina e

Tecmedd, São Paulo, p. 71-86, 2003.

CHAMMAS, R., DUARTE, A. P. M., OTAKE, A. H., COSTA, M. Genética e

Biologia Molecular do Melanoma e de sua progressão. In: Melanoma Cutâneo Localizado e Linfonodo Sentinela (Oliveira, R.S ed), Editora Lemar, São

Paulo, p. 1-19, 2003.

CHEN, H-W. & HUANG, H-C. Effect of curcumin on cell cycle progression and

apoptosis in vascular smooth muscle cells. British Journal of Pharmacology,

v. 124, P. 1029-1040, 1998.

CHO, S-G., CHOI, E.J. Apoptotic sinaligng Pathways: Caspases and Stress-

Activated Protein Kinases. Biochemistry and Molecular Biology, v. 35, n. 1,

p. 24-27, 2002.

Dermatologia.net. Doenças da pele. Disponível em

< http://www.dermatologia.net/> Acesso em 05 jan. 2007.

EDINGER, A. L., THOMPSON, C. B. Death by design: apoptosis, necrosis and

autophagy. Current Opinion in Cell Biology, v. 16, p. 663-669, 2004.

FRAKER, P.J., KING, L.E., LILL-ELGHANIAN, D. AND TELFORD, W.G.

Quantification of apoptotic events in pure and heterogeneous populations of cells

using flow cytometry. In Cell Death. Schwartz, L.M. and Osborne, B.A. (eds.)

Methods in Cell Biology, v. 46, Ed. Academic Press, San Diego. pp 57-76,

1995.

56

Page 74: Alterações morfológicas e estruturais induzidas por um ...portais.ufg.br/up/101/o/diss_marcellaCarneiro.pdf · Instituto de Ciências Biológicas Programa de Pós-Graduação em

FRIEDLANDER, R. M. Apoptosis and Caspases in Neurodegenerative Diseases.

The New England Journal of Medicine, v. 348, p. 1365-1375, 2004.

GOLSTEYN, R. M. Cdk1 and Cdk2 complexes (cyclin dependent kinases) in

apoptosis: a role beyond the cell cycle. Cancer Letters, v. 217, nº 2, p. 129-138,

2005.

GRUPO BRASILEIRO DE MELANOMA (GBM). Boletim informativo do GBM –

ano IV– nº. 15, 2001. Disponível em

<http://www.gbm.org.br/gbm/boletim/2001/infor15.aspx> Acesso em 05 jan.

2007.

INSTITUTO NACIONAL DO CÂNCER (INCA), MINISTÉRIO DA SAÚDE.

Incidência de câncer no Brasil. São Paulo (Brasil). Disponível em

<http://www.inca.gov.br/estimativa/2006/index.asp?

link=conteudo_view.asp&ID=5>. Acesso em 04/01/2007.

JARDIM MUNDANI. Disponível em: <www.jardin-mundani.info>. Acesso em

04/01/2007.

JOE, B., VIJAYKUMAR., LOKESH, R. B. Biological properties of curcumin-

cellular and molecular mechanisms of action. Critical Reviews in Food Science and Nutrition, v. 44, p. 97-111, 2004.

KARUNAGARAN, D., RASHMI, R., KUMAR, T. R. Induction of apoptosis by

curcumin and implications for cancer therapy. Curr Cancer Drug Targets, v. 5,

n. 2, p. 117-129, 2005.

KARIN, M., LIN, A. NF-kappa B at the crossoarsds of life and death. Nature Immunology, v. 3, p. 221-227, 2002.

KERR, J. F. R., GOBÉ, G. C., WINTERFORD, C. M., HARMON, B. V. A.

Anatomical Methods in Cell Biology. In Cell Death. Schwartz, L.M. and Osborne,

B.A. (eds.) Methods in Cell Biology, v. 46, Ed. Academic Press, San Diego.

57

Page 75: Alterações morfológicas e estruturais induzidas por um ...portais.ufg.br/up/101/o/diss_marcellaCarneiro.pdf · Instituto de Ciências Biológicas Programa de Pós-Graduação em

p. 1-27, 1995.

KONDO, Y., KONDO, S. Autophagy and cancer therapy. Autophagy, v. 2, n. 2,

p. 85-90, 2006.

KUMAR, S. Caspase function in programmed cell death. Cell death and differentiation, v. 14, p. 32-43, 2007.

LACAVA, L. M., MORAIS, P. C. Aplicações biomédicas de nanopartículas

magnéticas. Universia, 2004. Disponível em <http://www.universia.com.br>

Acesso em 13 nov. 2006.

LAMKANFI, M., FESTJENS, N., DECLERCQ, W., BERGHE, V.,

VANDENABEELE, P. Caspases in cell survival, proliferation and differentiation.

Cell Death and differentiation, p. 44-55, 2007.

LEITE, V. C. Avaliação da atividade fototóxica in vitro de furanocumarinas em

células de melanoma humano e fibroblastos humanos. Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Biologia Molecular, Instituto de Ciências Biológicas, UFG (2003).

LI, G. HERLYN, M. Dynamics of intercellular communication during melanoma

development. Mol Med Today, v. 6, p. 163-169, 2000.

MAHESHWARI, R. K., SINGH, A. K., GADDIPATI, J., SRIMAL, R, C. Multiple biological activities of curcumin: a short review. Life Sciences, v. 78, p. 2081–2087, 2006.

MANGONI, F. R. R., FEDERICO, M. H. H. Ciclo Celular.In: Bases da Oncologia. (Brentani, Coelho & Kowalski, eds) 2rd ed., Editora Marina e

Tecmedd, São Paulo, p. 137-145, 2003.

MANS, D. R. A., ROCHA, A. B., SHWARTSMANN, G. Anti-Cancer Drug

Discovery and Development in Brazil: Targeted Plant Collection as Rational

Strategy to Acquire Candidate Anti-Cancer Compounds. The Oncologist, v. 5,

58

Page 76: Alterações morfológicas e estruturais induzidas por um ...portais.ufg.br/up/101/o/diss_marcellaCarneiro.pdf · Instituto de Ciências Biológicas Programa de Pós-Graduação em

p. 185-198, 2000.

MARKS, G., MOHIUDDIN, M., EITAN, A., MASONI. L., BASILE, M. Sphincter

preservation surgery for rectal-cancer utilizing high-dose preoperative radiation-

the Thomas-Jeferson-University-Hospital experience. Lyon Chirurg, v. 87, p. 25-

28, 1991.

MESA, M. D., RAMIREZ-TORTOSA, M. C., AGUILEIRA, C. M., RAMIREZ-

BOSCÁ, A., GIL, A. Efectos farmacológicos y nutricionales de los extractos de

Curcuma longa L. y de los curcuminoides. Ars Pharmaceutica, v. 41, n. 3, p.

307-321, 2000.

MIRACCO, C., SANTOPIETRO, R., BIAGIOLI, M., LAZZI, S., NYONGO, A.,

VATTI, R., LUZI, P. Different patterns of the cell proliferation and death and

onocogene expression in cutaneous malignant melanoma. J. Cutan Pathol,

v. 25, p. 244-251, 1998.

ODOT, J. ALBERT, P., CARLIER, M., DEVY, J., MADOULET, C. In vitro and in

vivo anti-tumoral effect of curcumin against melanoma cells. Int. J. Cancer,

v. 111, p. 381-387, 2004.

OTAKE, A. H. Papel de dissialogangliosídeos na proliferação e morte celular

induzida de melanócitos e melanomas in vitro. Tese apresentada ao Programa de Pós-graduação em Oncologia Experimental, Faculdade de Medicina, USP

(2005).

PACIFIC BULB SOCIETY. Disponível em < www.pacificbulbsociety.org> Acesso

em 22 jan. 2007.

PAROLIN, M. B., REASON, I. J. M. Apoptose como mecanismo de doenças

hepatobiliares. Arq Gastroenterol, v. 38, n. 2, p. 138-144, 2001.

PERLIS, C., HERLYN, M. Recent Advances in Melanoma Biology. The Oncologist, v. 9, p. 182-187, 2004.

59

Page 77: Alterações morfológicas e estruturais induzidas por um ...portais.ufg.br/up/101/o/diss_marcellaCarneiro.pdf · Instituto de Ciências Biológicas Programa de Pós-Graduação em

PIERRON, G., CODOGNO, P., KROEMER, G. Inhibition of Macroautophagy

Triggers Apoptosis. Molecular and Cellular Biology, p. 1025-1040, feb. 2005.

POLO, R-A. G., BOYA, P., PAULEAU, A-L., JALIL, A., LAROCCHETTE, N.,

SOUQUÉRE, S., ESKELINEN, E-L., PIERRON, G., SAFTIG, P., KROEMER, G.

The apoptosis/autophagy paradox: autophagic vacuolization before apoptotic

death. Journal of the Cell Science, v. 118, p. 3091-3102, 2005.

QUIN, L. F., NG, I. O. L. Induction of apoptosis by cisplatin and its effect on cell

cycle-related proteins and cell cycle changes in hepatoma cells. Cancer Letters,

v. 175, p. 27-38, 2002.

RABINOVITCH, P. S. DNA Content Histogram and Cell-Cycle Analysis. In Cell

Death. Schwartz, L.M. and Osborne, B.A. (eds.) Methods in Cell Biology, v. 41,

Ed. Academic Press, San Diego. pp 263-295, 1995.

RAMSEWAK, R. S., DeWitt, D. L., NAIR, M. G. Cytotoxicity, antioxidant and anti-

inflamatory activities of Curcumins I-III from Curcuma longa. Phytomedicine, v.

7, n. 4, p. 303-308, jul., 2000.

ROMERO, P., CEROTTINI, J. C., SPEISER, D. E. The human T Cell Response

to Melanoma Antigens. Advances in Immunology, v. 92, p. 187-224, 2006.

RUBY , A. J., KUTTAN, G., BABU, D., RAJASEKHARAN, K. N., KUTTAN, R.

Anti-tumour and antioxidant activity of natural curcuminoids. Cancer Letters, v.

94, p. 79-83, 1995.

SALVUCCI, O., CARSANA, M., BERSANI, I., TRAGNI, G., ANICHINI, A.

Antiapoptotic role of nitric oxide in human melanoma cells. Cancer Research, v.

61, p. 318-326, January I 2001.

SAMBAIAH K. RATANKUMAR, S., KAMANNA, V. S. SATYARANAYANA, M. N.,

RAO, M. V. L. Ifluence of turmeric and curcumin on growth, blood constituents

60

Page 78: Alterações morfológicas e estruturais induzidas por um ...portais.ufg.br/up/101/o/diss_marcellaCarneiro.pdf · Instituto de Ciências Biológicas Programa de Pós-Graduação em

and serum enzymes in rats. Journal of Food Science and Technology,

Mysore, v. 19, p. 187, 1982.

SHARMA, R. A., GESCHER, A. J., STEWARD, G. W. P. Curcumin: the story so

far. European Journal of Cancer, v. 41, p. 1955-1968, 2005.

SHI, M. CAI, Q., YAO, L., MAO, Y., MING, Y., OUYANG, G. Antiproliferation and

apoptosis induced by curcumin in human ovarian cancer cells. Cell Biology International, v. 30, p. 221-226, 2006.

SHISHODIA, S. SETHI, G., AGGARWAL, B. B. Curcumin: Getting Back to the

Roots. Ann N Y Acad Sci, v. 1056, p. 206-217, nov., 2005.

SIMON, A., ALLAIS, D. P., DUROUX, J. L., BASLY, J.P., FONTANIER, D.,

DELAGE, C. Inhibitory effect of curcuminoids on MCF-7 cell proliferation and

structure-activity relationships. Cancer Letters, v. 129, p. 111-117, 1998.

SINGH, S., KHAR, A. Biological effects of curcumin and its role in cancer

chemoprevention and therapy. Anticancer Agents Med Chem, v. 6, n. 3, p.

259-270, 2006.

SYNG-AI, C. KUMARI, A. L., KHAR, A. Effect of curcumin on normal and tumor

cells: Role of glutathione and bcl-2. Mol Cancer Ther, v. 3, n. 9, 2004.

SU, C. C., LIN, J. G., LI, T. M., CHUNG, J. G., YANG, J. S., IP, S. W., LIN, W.

C., CHEN, G. W. Curcumin-induced apoptosis of human colon cancer colo 205

cells through the production of ROS, Ca2+ and activation of caspase-3.

Anticancer Research, v. 26, p. 4379-89, 2006.

THANGAPAZHAM, R. L., SHARMA, A., MAHESWARI, R. K. Multiple molecular

targets in cancer chemoprevention by curcumin. The AAPS Journal, v. 8, n. 3,

p. 443-449, 2006.

TAN, T. W., TSAI, H. R., LIN, H. L., TSOU, M. F., LIN, Y. T., TSAI, H. Y. CHEN,

61

Page 79: Alterações morfológicas e estruturais induzidas por um ...portais.ufg.br/up/101/o/diss_marcellaCarneiro.pdf · Instituto de Ciências Biológicas Programa de Pós-Graduação em

Y. F., CHUNG, J. G. Curcumin-induced cell cycle arrest and apoptosis in human

acute promyelocytic leukemia HL-60 cells via MMP changes and caspase-3

activation. Anticancer Research, v. 26, p. 4361-4371, 2006.

TESTA, J. R., TSICHILIS, P. N. AKT signaling in normal and malignant cells.

Oncogene, v. 24, p. 7391-7393, 2005.

TORCHILIN, V. P. Drug targeting. Eur. J. Pharm. Sci, v. 11, p. 91-94, 2000.

UDDIN, S., H., A. R., MANOGARAN, P. S., Al-HUSSEIN, K.,PLATANIAS, C. L.,

GUTIERREZ, M. I., BHATIA, K. G. Curcumin suppresses growth induces

apoptosis in primary effusion lymphoma. Oncogene, v. 24, p. 7022-7030, 2005.

WARD, L. S. Entendendo o processo molecular da tumorigênese. Arq Bras Endocrinol Metab, v. 46, n. 4, agosto, 2002.

WEIR, N. M., SELVENDIRAN, K., KUTALA, V. K., VISHWANATH, S.,

RAJARAM, M., TRIDANDAPANI, S., ANANTS, S., KUPPUSAMY, P. Curcumin

induces G2/M arrest and apoptoseis in cisplatin-Resistent Human Ovarian

Câncer Cells by modulating Akt e p38 MAPK. Cancer Biology Therapy, v. 6, n.

2, 2007.

ZHENG, M., EKMEKCIOGLU, S., WALCH, T. E., TANG C., GRIMM, A. E.

Inhibition of nuclear factor kB and nitric oxide by curcumin induces G2/M cell

cycle arrest and apoptosis in human melanoma cells. Melanoma Research, v.

14, n. 3, p. 165-171, 2004.

62