alterações do clima: a intervenção humana sobre o ambiente ... · referências bibliográficas...
TRANSCRIPT
Licenciatura em ciências · USP/ Univesp
5Ubiratan de Paula Santos
AlterAçõeS do ClimA: imPACtoS nA SAúde
5.1 introdução5.2 Poluição: alterações climáticas e efeitos na saúde5.3 o que se conhece sobre as alterações do clima5.4 os principais indicadores que refletem as mudanças climáticas5.5 As causas envolvidas nas mudanças climáticas5.6 o impacto nas populações5.7 evitar as mudanças climáticas5.8 Conclusãoreferências Bibliográficas
A in
terv
ençã
o hu
man
a so
bre
o am
bien
te e
sua
s co
nseq
uênc
ias.
Pr
oble
mas
de
saúd
e pú
blic
a
97
A intervenção humana sobre o ambiente e suas consequências. Problemas de saúde pública
Licenciatura em Ciências · USP/Univesp · Módulo 5
5.1 IntroduçãoNas aulas anteriores tratamos do assunto da poluição do ar e seus efeitos diretos na saúde.
Nesta aula trataremos do tema, também associado à poluição do ar, relacionado à alterações do
clima e suas repercussões.
A abordagem do tema neste curso tem como objetivo ampliar o conhecimento sobre o
assunto, em especial as repercussões na saúde associadas às mudanças climáticas, estimular o
debate e a participação na busca de medidas mitigadoras deste importante problema mundial.
5.2 Poluição: alterações climáticas e efeitos na saúde
Nos últimos 20 anos têm sido analisado e discutido de maneira mais abrangente e pública as
alterações climáticas - suas causas e consequências e as medidas com vistas a evitar os cenários
previstos, a se manter a geração de poluentes no ritmo atual, que pode elevar a temperatura
global da Terra em até 6º C, ao final do século XXI. Muitos já ouviram falar no protocolo de
Kyoto/Japão (1997- tratado internacional que estabeleceu metas e compromissos mais rígidos
para a redução da emissão dos gases que agravam o efeito estufa), das Conferências das Nações
Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento realizadas no Rio de Janeiro/Brasil em
1992 (ECO-92) e na Rio +20 (2012), e das dificuldades dos países (com a liderança dos Estados
Unidos, principal emissor global) em aceitar as condições sugeridas e chegarem a acordos sobre
a emissão de gases de efeito estufa, por reterem calor e aquecerem o planeta. Embora alguns
cientistas sejam céticos de que o aquecimento global que vimos presenciando tenha origem
na intervenção do homem, ou seja, tenha origem antropogênica, a maioria dos cientistas que
estudam o tema demonstra, com dados consistentes, que nos últimos 250 anos e, em especial
nos últimos 60 anos, aumentou a geração de poluentes, de gases de efeito estufa como o CO2
e de gases que destroem/reduzem o tamanho da camada de ozônio (NO2) na ,
tendo como consequência o aumento da temperatura da superfície da Terra (Gráfico 5.1).
98
5 Alterações do Clima: impactos na Saúde
Licenciatura em Ciências · USP/Univesp · Módulo 5
Alegam os céticos de que a terra já passou por alterações climáticas em milênios anteriores,
com a maioria dos cientistas concordando de que ela já passou sim, mas agora as mudanças
têm sido ocasionadas pela ação do homem e podem ser prevenidas se medidas forem tomadas
pelos países, além do que as consequências num planeta ocupado por sete bilhões de indivíduos
merece outra preocupação.
Embora o alerta sobre o impacto da poluição no clima date de mais de um século; em 1896
o físico sueco Svant Arrhenius sugeriu que a produção de CO2 poderia ter impacto na elevação
da temperatura, apenas com o estabelecimento do IPCC em 1988 o tema vem tendo maior
destaque. A elevação da poluição do ar, além dos efeitos diretos na saúde, aumentando a morbi-
mortalidade, contribui com alterações climáticas (compreendidas como quaisquer mudanças no
clima que podem ser identificadas por alterações na média ou na variabilidade de suas proprie-
dades, seja por causas naturais ou provocadas pela ação do homem, que persistem por períodos
estendidos - décadas ou mais) (IPCC, 2007). A grande quantidade de óxidos nitrosos (N2O)
(RavishankaRa, Daniel, PoRtmann, 2009) e de gases halogenados, como os clorofluorcarbonos
(CFC) são depletores da camada protetora de ozônio (O3) localizada na estratosfera (20-50 Km
da superfície da Terra) (tang et al., 2011) . A redução da camada de O3 aumenta a intensidade da
Gráfico 5.1: Variação na temperatura da superfície da Terra nos últimos 20 mil anos (apesar da escala semilog no eixo x é possível perceber a mais rápida aceleração do aumento da temperatura prevista para este século). / Fonte: adaptado de WHO, 2003.
99
A intervenção humana sobre o ambiente e suas consequências. Problemas de saúde pública
Licenciatura em Ciências · USP/Univesp · Módulo 5
radiação solar que atinge a superfície da Terra ( ) onde os raios ultravioletas (UV) de-
sencadeiam reação fotoquímica, envolvendo compostos orgânicos voláteis e óxidos nitrosos, indu-
zindo produção de ozônio e de aerossóis, como os sulfatos (tang et al., 2011). Este fato associado
à crescente geração de gases de efeito estufa (CO2, CH
3) que absorvem a radiação infravermelha
(IV) solar que atinge a superfície da terra, aumenta sua temperatura provocando desequilíbrios no
clima com a ocorrência de eventos extremos – estiagens prolongadas, cheias/inundações, altera-
ções da flora e fauna, repercussões na agricultura e facilitação para propagação de vetores. Isso afeta
a saúde e a qualidade de vida de milhões de pessoas em todo o mundo como tem sido alertado
pela OMS e o Painel Internacional sobre Mudanças Climáticas (IPCC) (Tabela 5.1)(Costello
et al., 2009; IPCC, 2007, mCmiChael, WooDRuff, hales, 2006; nobRe et al., 2010).
Assim, os gases de efeito estufa (GEE) que tem um papel de manter a terra aquecida, neces-
sário para a vida humana, se sua concentração estiver em excesso acaba por elevar a temperatura
acima do desejado, provocando desequilíbrios capazes de afetar o homem.
5.3 O que se conhece sobre as alterações do climaNo ritmo atual estima-se que a
temperatura da Terra deverá expe-
rimentar um aumento, no período
compreendido entre os anos 1990
a 2100, de 1,8 a 4,0 °C (1,1- 6,4)
(IPCC, 2007).
De 12 anos no período entre
1995 a 2006, em 11 a temperatura
média global foi a maior desde 1880,
com maior incremento no início
deste século (Gráfico 5.2).
↑ temp. superfície
terra
↑ nível dos mares
↓ 28% Cobertura de
neve
Gráfico 5.2: Evidências do aquecimento: aumento da temperatura da superfície Global (Terra e oceanos), do nível dos mares e redução da cobertura de neve. / Fonte: adaptado de IPCC, 2007.
100
5 Alterações do Clima: impactos na Saúde
Licenciatura em Ciências · USP/Univesp · Módulo 5
Ocorrência de eventos extremos: ondas de calor, como a ocorrida na Europa em 2003 que
foi responsável por mais de 40 mil óbitos (AYRES et al., 2009) , o fenômeno do ,
furacões como Katrina que acometeu a costa sul dos Estados Unidos (2005), períodos de extremo
frio, inundações, são exemplos (Gráficos 5.3 e 5.4) (Who, 2011; CheCkley et al., 2000).
A elevação da temperatura embora seja global é mais acentuado no hemisfério norte sendo
as áreas mais vulneráveis os árticos, as zonas costeiras e a região Mediterrânea (IPCC, 2007;
ayRes et al., 2009; PinkeRton et al., 2012).
A temperatura global nas regiões terrestres vem aumentando mais do que nos oceanos, de
maneira mais acentuada a partir de 1950, que coincide com crescimento da industrialização
no pós-guerra e principalmente com o vertiginoso aumento na produção de veículos e do
consumo de combustíveis e energético (Gráfico 5.5).
Medidas consistentes registram a elevação do
nível dos mares, aumento de alagamentos em deter-
minadas áreas e da seca em outras áreas, alterações
no solo, com repercussões na agricultura e na pesca,
impondo deslocamento de populações.
As análises realizadas pelo IPCC e por outros pesquisadores (PinkeRton et al., 2012; ayRes,
2009) são inequívocas em apontar as alterações que vem ocorrendo no clima em consequência
da ação do homem (Gráfico 5.2 e 5.5).
Para saber mais sobre alterações climáticas causadas por desastres am-bientais, assista ao vídeo do IPCC: http://www.ipcc-wg2.gov/SREX/
Gráfico 5.3: Eventos associados a mudanças climáticas: aumento de óbitos em Paris, 2003. / Fonte: adaptado de Filleul et al., 2006.
101
A intervenção humana sobre o ambiente e suas consequências. Problemas de saúde pública
Licenciatura em Ciências · USP/Univesp · Módulo 5
5.4 Os principais indicadores que refletem as mudanças climáticas
• Elevação da temperatura do ar na superfície da terra;
• elevação da temperatura da superfície dos mares;
• elevação da temperatura do ar sobre os oceanos;
• elevação do nível do mar. De 1961 a 2003 a elevação média anual foi de 1,8 mm e de
1993 a 2003, de 3,1 mm;
• aquecimento dos oceanos;
• elevação da umidade;
• elevação da temperatura troposférica (camada mais próximo da superfície da Terra superfície;
• redução do gelo do mar Ártico;
• redução das geleiras;
• redução da cobertura de neve primavera no hemisfério Norte (IPCC, 2007; ayRes et
al., 2009; PinkeRton et al., 2012).
Modelo usando apenas o efeito das forças naturais (solar e vulcânicas)Modelo usando o efeito das forças naturais e antropogênicas
Gráfico 5.4: Efeito do El Niño e da temperatura ambiente na admissão hospitalar por diarréia em crianças no Perú. / Fonte: adaptado de CheCkley et al., 2000.
Gráfico 5.5: Comparação das temperatura na superfície da terra e nos oceanos nos últimos 100 anos. Na linha de tendência de cor preta pode-se perceber o incremento maior da temperatura nos últimos 50 anos. / Fonte: adaptado de IPCC, 2007.
102
5 Alterações do Clima: impactos na Saúde
Licenciatura em Ciências · USP/Univesp · Módulo 5
Todos os continentes e maioria dos oceanos são afetados por alterações climáticas, em espe-
cial pelo aumento da temperatura.
Na América Latina, as previsões, se não forem reduzidas as emissões, é de que em meados
do século XXI ocorra elevação da temperatura e redução da quantidade de água com provável
substituição da floresta tropical da região leste da Amazônia por savana (IPCC, 2007).
Tabela 5.1: Eventos adversos e prováveis consequências das alterações climáticas. / Fonte: Costello et al., 2009; MCMiChael et al., 2006; Pinkerton et al., 2012.
Eventos Efeitos Consequências
Temperaturas extremas
Maior % de dias quentes, stress térmico,
↑ risco de ciclones, ↑ ozônio, ↑ risco de incêndios → MP, COV
Aumento da mortalidade e morbidade geral, aumento
internação e óbito pacientes com DPOC,
asma, DCV
Mais chuvas e inundações Acidentes, propagação de vetores
Aumento de óbitos, de sequelas de acidentes,
de doenças infecciosas e trauma mental
Aumento dos períodos de polinização
Maior produção de aeroalergenos
Aumento incidência de asma e rinite
Contaminação da água Aumenta risco de transmissão hídrica por cólera, salmonela
Aumento da morbimortalidade
p/ diarréia
Aumento do número de mosquitos-transmissores
Aumento da transmissão de doenças, como dengue,
malária, encefalite, febre amarela
Aumento da morbimortalidade
Declínio ou mudança dos locais de pesca
Redução do fornecimento e consumo de pescado
Menor oferta de proteínas, desnutrição em
populações pobres
Elevação do nível do mar Salinização das costas, deslocamento de populações
Redução da qualidade de vida
*Nota: COV: compostos orgânicos voláteis; DPOC: doença pulmonar obstrutiva crônica; DCV: doença cardiovascular;
MP: material particulado.
Como consequência, vivemos atualmente, num período com maior frequência e duração das
ondas de calor, menor número de dias frios e maior número de dias com ocorrência de temporais.
Registra-se que embora venha ocorrendo uma elevação progressiva da temperatura, episódios de frio
extremo e aumento de mortalidade por doenças cardiovasculares e respiratórias, ainda são frequentes
em determinadas regiões, como registrado no inverno na região do mediterrâneo (WHO, 2011).
103
A intervenção humana sobre o ambiente e suas consequências. Problemas de saúde pública
Licenciatura em Ciências · USP/Univesp · Módulo 5
5.5 As causas envolvidas nas mudanças climáticas
As mudanças climáticas observadas decorrem do aquecimento médio global da superfície da
terra devido ao aumento da concentração de gases e substâncias de efeito estufa, que retêm a
radiação infravermelha do sol e a refletem em várias direções aumentando a temperatura da
superfície. Por outro lado o aumento dos gases poluentes que reduzem a camada de ozônio na
estratosfera facilita que os raios UV do sol atinjam a superfície terrestre aumentando a geração de
poluentes e de doenças (WHO, 2013). O principal gás de efeito estufa é o dióxido de carbono
(CO2), mas outros gases como metano (CH
3), ozônio (O
3), óxido nitroso (N
2O) tem papel rele-
vante. Mais recentemente vem ganhando desta-
que o papel do , um componente
do material particulado fino (MP2,5
), como envol-
vido no efeito estuda (PinkeRton et al., 2012;
CaRmiChael et al.,2009; montzka, 2011). Os
gases associados à destruição da camada de ozônio
são o N2O, hidrofluorcarbono (HFC), hidrocloro-
fluorcarbono, bromofluorcarbono, perfluorcarbono
(PFC) (Figura 5.1) (RavishankaRa, 2009;
montzka, 2011). Estes gases N2O e CFC são
muitos estáveis na troposfera, onde são gerados,
e são transportados atingindo a estratosfera onde
liberam substâncias químicas ativas que reagem
com o ozônio e, por consumi-lo, destroem a
camada de O3.
Figura 5.1: Óxido nitroso tem efeito estufa na troposfera e como depletor de ozônio na estratosfera. / Fonte: adaptado de Wuebbles, 2009.
Você sabia?
O ano de 2010 foi o mais quente e o 34º ano consecutivo de ele-vação da temperatura desde 1880, inicio dos registros de tempera-tura global (PinkeRton et al., 2012).
104
5 Alterações do Clima: impactos na Saúde
Licenciatura em Ciências · USP/Univesp · Módulo 5
Os transportes de pessoas e mercadorias e as emis-
sões veiculares decorrentes, a demanda por produção
de energia com a queima de combustíveis fósseis
para gerar eletricidade, como as usinas termoelétricas
(Figura 5.2) (yano, 2013), a crescente demanda na
agricultura para a produção de alimentos, indústrias,
queimadas, disposição inadequada de resíduos sólidos
são ações geradores dos gases e aerossóis de efeito estufa
(ayRes et al., 2009).
A emissão de gases de efeito estufa vem crescendo
desde o período que antecede a revolução indus-
trial, com um aumento de 70%, entre 1970 e 2004
(Gráfico 5.6), período em que a emissão anual de
CO2, principal gás de efeito estufa, passou de 21 para
38 GIGATONS (Gt)(IPCC, 2007). E a perspectiva
é de que as emissões de gases estufa continuem
aumentando nas próximas décadas, como é previsto
nos diversos cenários avaliados pelo IPCC. O IPCC avalia que entre 2000 e 2030, o aumento
de GEE varie entre 25% e 90% (Gráfico 5.7).
Figura 5.2: Termoelétrica a carvão, município de Candiota (RS). / Fonte: yano, 2013.
Gráfico 5.6: a) Emissão global por tipo de gás estufa (Gt/ano) de 1970-2004; b) Participação percentual dos vários Gases no total de emissões, em CO2 equivalente; c) Participação dos diferentes setores na geração dos gases estufa, em em CO2 equivalente. / Fonte: adaptado de IPCC, 2007.
a
b
c
105
A intervenção humana sobre o ambiente e suas consequências. Problemas de saúde pública
Licenciatura em Ciências · USP/Univesp · Módulo 5
O aumento da concentração de gases de efeito estufa e de aerossóis (carbono negro), que
cobrem a superfície da Terra e a radiação solar, alteram o balanço energético do sistema climá-
tico gerando alterações que induzem às variações do clima. Elas afetam a absorção, a limpeza/
eliminação e a emissão de radiação na atmosfera e na superfície da Terra. A resultante, positiva
ou negativa, das mudanças no balanço energético decorrente é chamada de força radioativa,
utilizada para comparar as influencias no clima global (IPCC, 2007).
Como pode ser visualizado no Gráfico 5.8 as concentrações de CO2, CH
4 e N
2O vem aumen-
tando significativamente nos últimos 250 anos e excede os valores da era pré-industrial, como
atestam dados medidos por análise de carbono em geleiras (IPCC, 2007). O Gráfico 5.9 mostra
que a elevação da temperatura acompanha o aumento das emissões e da concentração de CO2.
Gráfico 5.7: a) Emissões global de GEE em seis cenários na ausência de políticas climáticas, entre 2000 a 2100; b) Média mundial de aquecimento segundo diversos cenários (B1, A1T, B2, A1B, A2, A1FI) de concentrações de GEE (600, 700, 800, 850, 1250, 1550 ppm), tendo como base o período de 1989 a 1999. / Fonte: adaptado de IPCC, 2007.
a b
Gráfico 5.8: Concentração atmosférica de CO2, N2O e CH4 nos últimos 10 mil anos e em destaque nos últimos 250 anos. / Fonte: adaptado de IPCC, 2007.
106
5 Alterações do Clima: impactos na Saúde
Licenciatura em Ciências · USP/Univesp · Módulo 5
O aumento da temperatura por sua vez reduz a capacidade de captação de CO2 pelos
oceanos e terrestre aumentando a fração emitida do gás gerado que permanece na atmosfera.
5.6 O impacto nas populaçõesEstimativas da OMS (2009) para o ano de 2004 revelam que as mudanças climáticas sejam
responsáveis por 3% dos óbitos por diarréia, 3% dos óbitos por malária, 3,8% por dengue,
correspondendo a 0,2% do total de óbitos global, 85% deles em crianças, alem de 12 mil óbitos
associados à elevação de temperatura, totalizando cerca de 140 mil óbitos e 5,4 milhões de
DALYs, decorrentes mudanças climáticas, em nível global. Estudo realizado no Peru (Gráfico
5.4), sobre admissão hospitalar por diarréia associados à elevação da temperatura, entre os
anos de 1993 a 1998, revelou que durante o período do El Niño em 1997-98, a elevação de
5 °C na temperatura esteve associada ao aumento de 200% no número de internações por
diarréia. Fora do período do El Niño, para cada elevação de 5 °C, o aumento nas interações
foi de 40%, sugerindo que o fenômeno do El Niño afeta muito mais as internações do que
seria esperado pela variação sazonal da temperatura ambiente (CheCkley et al., 2000).
Gráfico 5.9: O gráfico apresenta a evolução das emissões de car-bono, da concentração de CO2 e da variação da temperatura, nos últimos 1000 anos . Observa-se o grande aumento do uso de combustíveis fósseis, a elevação da concetração de CO2 que passou de 280 para 390 ppm desde a revolução industrial. / Fonte: adaptado de IPCC, 2007.
107
A intervenção humana sobre o ambiente e suas consequências. Problemas de saúde pública
Licenciatura em Ciências · USP/Univesp · Módulo 5
As alterações climáticas estão associadas a:
1. aumento do número de óbitos e da morbidade aguda devido a ondas de calor;
2. aumento da frequência de eventos cardiorrespiratórios devido a elevadas concentrações
de ozônio e de material particulado na superfície da terra;
3. variação na frequência de doenças respiratórias devido à maior dispersão/viagem da
poluição (e.g. relacionadas a incêndios geradores de gases e aerossóis);
4. alteração da distribuição espacial e temporal de alergenos e de vetores de doenças infecciosas
(malária, dengue, leishmaniose, hantaviroses, doença de Chagas, leptospirose, encefalite);
5. má nutrição, pela interferência na produção de alimentos;
6. aumento da ocorrência de eventos extremos e repercussões tanto agudas (traumas),
como crônicas nas populações;
7. aumento de diarréias decorrentes de inundações e de alterações como as decorrentes
do El Niño, associadas ao aumento da cólera no Peru e em Bangladesh (Tabela 5.1)
(ayRes et al., 2009; st louis et al., 2008).
Os impactos na saúde das mudanças do clima são observados não apenas em quem tem doenças
crônicas, mas são responsáveis pelo aumento da incidência de doenças, como o câncer de pele.
Diversos estudos (Costello et al., 2009; mCmiChael, WooDRuff, hales, 2006; PinkeRton
et al., 2012; WHO, 2012) demonstram os impactos diretos ou indiretos das alterações do clima
na saúde antes referidos:
1. O aumento e modificação na liberação de polens e alterações em esporos de fungos,
cuja decorrência é o aumento do risco de incidência e de exacerbação de sintomas de
rinite e de asma;
2. Ondas de calor aumentam o risco de intercorrências emergenciais, com maior número
de consultas em unidades de emergência, de internações hospitalares e de óbitos;
3. As alterações do clima e da poluição associados aumentam as exacerbações em indi-
víduos com asma e DPOC, com aumento das internações e de óbitos;
4. A desertificação com baixa umidade aumenta a exposição a material particulado e as
doenças decorrentes, entre elas a meningite em áreas como ocorre na África Subsaariana
(Gráfico 5.10) (WHO, 2012);
5. As alterações do clima impactam negativamente na produção de alimentos e na oferta
de água, condições associadas à má nutrição e em decorrência à maior morbimortali-
dade por doenças infecciosas, como pneumonias;
108
5 Alterações do Clima: impactos na Saúde
Licenciatura em Ciências · USP/Univesp · Módulo 5
6. O aumento da temperatura aumenta a proliferação de mosquitos e, em consequência,
a transmissão de doenças. Um dos exemplos é malária que acomete entre 200 e 500
milhões em todo mundo e que no Brasil, no ano de 2004, acometeu 334 mil pessoas;
7. Aumento de migrações forçadas e aglomerações com condições inadequadas de moradia
e saneamento, como tem ocorrido na África, que tem contribuído para o aumento de
doenças, como a tuberculose;
8. Aumento da exposição à radiação solar, UV e IV. Nos últimos 40 anos, tem dobrado a
incidência de melanoma maligno de pele a cada 7-8 anos e a incidência de alterações
oculares - córnea, retina, cristalino;
9. Aumento de eventos extremos - temporais, ciclones, inundações, incêndios e longos
períodos de seca, que além das consequências agudas tem implicações na oferta de
alimentos, de água e no deslocamento de populações. Em 2011 foram registrados 332
desastres em 101 países, que afetou 244 milhões de pessoas, sendo que 31 mil morreram.
No Brasil, entre os eventos relevantes, registram-se os temporais em Santa Catarina,
em 2008, e os períodos de seca na região Amazônica, entre 2004 e 2008, os piores nos
últimos 60 anos. Na Região Metropolitana de São Paulo vem aumentando as ondas
e ilhas de calor e, como pode ser observado no Gráfico 5.11, vem aumentando os
eventos de chuvas intensas nos últimos 70 anos (nobRe et al., 2010);
10. Aumento da geração de aerossóis e de ozônio na troposfera, tanto pelo efeito direto
da temperatura mais elevada facilitando as reações fotoquímicas geradoras de ozônio,
como pelo aumento da geração biogênica de compostos orgânicos voláteis e de NOx
pela vegetação e pelo aumento da atividade microbiana no solo, substratos para a for-
mação de ozônio. O aumento de ozônio está associado à maior morbimortalidade por
doenças respiratórias e os aerossóis aos efeitos já comentados para o material particu-
lado, tratado na aula sobre poluição do ar (tang et al., 2011; oRRu et al., 2013).
Gráfico 5.10: Casos de meningite aumentam com clima seco, quente e com maior presença de poeiras (Burkina-Faso: 2005-2011). /Fonte: adaptado de WHO, 2012.
109
A intervenção humana sobre o ambiente e suas consequências. Problemas de saúde pública
Licenciatura em Ciências · USP/Univesp · Módulo 5
Dentre todos estes efeitos, as alterações de temperatura, com as prolongadas e frequentes ondas
de calor, tem sido uma das principais responsáveis por efeitos na Saúde (PinkeRton et al., 2012;
CaRmiChael et al., 2009; shinDell, faluvegi, 2009; bRaga, zanobetti, sChWaRtz, 2001; meDina,
2006). Pessoas com doenças crônicas são mais suscetíveis de morrer durante as ondas de calor do
que nas variações normais ou padrões do clima. Estudo (meDina et al., 2006) que analisou as causas
de 7,8 milhões de óbitos entre 1989 a 2000 em 50 cidades dos EUA revelou que idosos (com
65 ou + anos), diabéticos, negros (piores condições sócio-econômicas), menor número de anos
de estudo, mulheres, indivíduos que morreram fora do hospital e pacientes com comorbidades
cardiovasculares foram mais suscetíveis aos efeitos das elevações de temperatura, apresentaram risco
aumentado de óbitos por doenças cardiovasculares e por outras doenças como por pneumonia.
O aumento da temperatura gerando ondas de calor em grandes centros urbanos leva a formação
de grandes quantidades de ozônio ao nível da superfície do solo que estão associadas à exacerbação
de indivíduos com asma, DPOC, fibrose pulmonar e infecções respiratórias (PinkeRton et al.,
2012). As ocorrências das ondas de calor estão frequentemente associadas à elevação da poluição,
havendo provável combinação de ambos na geração dos efeitos observados. Os principais fatores
associados às mudanças climáticas – calor, poluição e presença aerossóis alergenos – são os que
apresentam maior impacto na morbidade respiratória global (PinkeRton et al., 2012).
No verão do ano de 2003, na Itália, houve aumento de 34% nos óbitos em indivíduos com
mais de 65 anos, com maior risco associado à causas respiratórias, ao sexo feminino, a indivíduos
com DPOC e em internados em hospitais sem sistema de controle do clima adequado durante os
períodos com a presença de ondas de calor (ayRes et al., 2009). Na Europa a estimativa de óbitos
Gráfico 5.11: Eventos de Chuvas intensas em São Paulo por décadas (1933-2009). / Fonte: adaptado de INPE.
110
5 Alterações do Clima: impactos na Saúde
Licenciatura em Ciências · USP/Univesp · Módulo 5
associadas às ondas de calor nesse ano (2003) foi de 70.000 pessoas, a maioria por doenças cardior-
respiratórias (Costello et al., 2009). A mais recente onda de calor que atingiu a Rússia demonstrou
que a desigualdade socioeconômica pode aumentar o risco de óbito pelo calor (WHO, 2011).
Estudo da OMS (2005) revela que as mulheres são mais afetadas pelos homens pelos efeitos
das mudanças do clima. No ciclone de Bangladesh em 1991, que vitimou 140 mil pessoas,
90% eram do sexo feminino. Nos episódios de ondas de calor, observados na Europa em
2003, as mulheres foram mais atingidas com relação aos homens. Também nas áreas endêmicas
ou epidêmicas de malária as gestantes são mais suscetíveis ao mosquito, por melhor atraí-los
em decorrência de odores exalados pelas alterações hormonais e pela maior ventilação que
demanda, entre outros fatores.
5.7 Evitar as mudanças climáticasCom os estudos e avaliações coordenadas pelo IPCC vem aumentando o empenho dos
países no controle das emissões, mas ainda existe muita resistência como tem sido comprovado
pelas resoluções dos sucessos eventos, a última delas a Rio+20, de 2012.
O Brasil se comprometeu com a redução entre 36 e 39% emissões de GEE em 2020 (MMA,
[s.d]; INPE, [s.d]). Entre as medidas para a redução dos gases de efeito estufa e depletores da
camada de ozônio e, em decorrência, responsáveis pelo aquecimento global estão:
• redução de queimadas;
• redução do uso de fertilizantes nitrogenados;
• melhorar o controle do uso da terra e conter desmatamentos;
• melhorar o controle para reduzir as emissões industriais;
• redução das emissões de aviões e navios;
• melhorar a eficiência energética;
• aumentar a geração de energia de fontes não poluentes, como a eólica;
• aumentar restrição ao uso de termoelétricas a carvão;
• redução das emissões veiculares:
• melhoria e ampliação dos transportes públicos;
• mudança dos padrões construtivos estimuladores de até 10 garagens por domicílio e com
isto de veículos;
111
A intervenção humana sobre o ambiente e suas consequências. Problemas de saúde pública
Licenciatura em Ciências · USP/Univesp · Módulo 5
• melhoria dos combustíveis;
• melhoria dos motores de veículos, incluindo motos;
• modificações nos padrões das edificações utilizadas por idosos, para reduzir o calor interno.
A utilização de ar condicionado quando possível pode ser tentada, mas é uma medida que
consome energia e, portanto, também contribui para o aquecimento global (ayRes et al., 2009).
5.8 ConclusãoA poluição do ar antropogênica ganhou relevo no mundo, a partir da revolução industrial, há
cerca de 300 anos. Nos últimos 70 anos têm sido observados, de maneira consistente efeitos na
saúde, com aumento da morbidade, da mortalidade e piora da qualidade de vida e, nas últimas
décadas, importantes alterações climáticas vêm sendo observadas. A alteração do clima, com
elevação da temperatura, resulta da emissão antropogênica de gases de efeito estufa, a urbanização
e as novas tecnologias permitiram reduzir, na maior parte do mundo, o emprego da queima de
combustível nos domicílios, embora ainda seja significativa na zona rural de países como o
Brasil e principalmente na China, Índia, em países africanos e asiáticos. Entretanto, lançando
mão de métodos pré-históricos a prática da queima de biomassa como florestas, pastagens e
cana-de-açúcar, a ação do homem tem reintroduzido, em grande escala, agentes poluentes em
centenas de cidades e na zona rural. A atividade humana vem aumentando o acúmulo de gases
de efeito estufa com repercussões no com amplas repercussões na saúde,
tanto pelos efeitos diretos das ondas de calor como pelo aumento da frequência e intensidade
de eventos extremos. A redução da emissão de poluentes, através de novos procedimentos na
agricultura, na indústria e na mobilidade urbana é única maneira de enfrentar este grave
problema que ganhou dimensão no século passado e se apresenta como desafio para o atual.
Em síntese, as alterações climáticas estão associadas ao aumento da morbimortalidade por
calor, ao aumento de eventos cardiorrespiratórios, de doenças respiratórias devidas à maior
geração e “viagem” de poluentes e alergenos a longas distâncias, de alteração na distribuição
temporal e espacial de alergenos e de vetores de doenças infecciosas e ao aumento de eventos
extremos (Wuebbles, 2009; D’amato et al., 2010).
112
5 Alterações do Clima: impactos na Saúde
Licenciatura em Ciências · USP/Univesp · Módulo 5
Referências BibliográficasayRes, J. G. et al. Climate change and respiratory disease: European Respiratory Society position
Statement. European Respiratory Journal, n. 34, p. 295-302, 2009.
bRaga, a. l.; zanobetti, a.; sChWaRtz, J. The time course of weather-related deaths.
Epidemiology, n. 12, p. 662-667, 2001.
CaRmiChael, G. R. et al. Asian aerosols: current and year 2030 distributions and implications
to human health and regional climate change. Environmental Science & Technology,
n. 43, p. 5811-5817, 2009.
CheCkley, W. et al. Effect of El Niño and ambient temperature on hospital admissions for
diarrhoeal diseases in Peruvian children. The Lancet, n. 355, p. 442-450, 2000.
Costello, A. et al. Managing the health effects of climate change: Lancet and University College
London Institute for Global Health Commission. The Lancet, n. 373, p. 1693-1733, 2009.
D’amato, G. et al. Urban air pollution and climate change as environmental risk factors of
respiratory allergy: an update. Journal of Investigational Allergology and Clinical
Immunology, n. 20, p. 95-102, 2010.
D’amato, G. et al. Climate change, air pollution and extreme events leading to increasing
prevalence of allergic respiratory diseases. Multidisciplinary Respiratory Medicine, n. 8,
p. 12, 2013.
filleul, L. et al. The Relation Between Temperature, Ozone, and Mortality in Nine French
Cities During the Heat Wave of 2003. Environmental Health Perspectives, n. 114,
p. 1344-1347, 2006.
INPE. El Niño e La Niña. Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos. Disponível
em: <http://enos.cptec.inpe.br/>. Acesso em: Mar. 2013.
IPCC. Fourth Assessment Report (AR4). Climate Change 2007: Synthesis Report. [S.l.]:
[s.n.]. 2007.
mCmiChael, a. J.; WooDRuff, R. e.; hales, S. Climate change and human health: present and
future risks. The Lancet, n. 367, p. 859-869, 2006.
meDina-Ramón, M. et al. Extreme temperatures and mortality: assessing effect modification
by personal characteristics and specific cause of death in a multi-city case-only analysis.
Environmental Health Perspectives, n. 114, p. 1331-1336, 2006.
113
A intervenção humana sobre o ambiente e suas consequências. Problemas de saúde pública
Licenciatura em Ciências · USP/Univesp · Módulo 5
MMA. Ministério do Meio Ambiente. Plano Nacional sobre Mudança do Clima.
Disponível em: <http://www.mma.gov.br/clima/politica-nacional-sobre-mudanca-do-
-clima/plano-nacional-sobre-mudanca-do-clima>. Acesso em: Mar. 2013.
montzka, s. a.; DlugokenCky, e. J.; butleR, J. H. Non-CO2 greenhouse gases and climate
change. Nature, n. 476, p. 43-50, 2011.
nobRe, C. A. et al. A Vulnerabilidade das Megacidades Brasileiras às Mudanças
Climáticas: Região Metropolitana de São Paulo. Sumário Executivo, 2010.
oRRu, H. et al. Impact of climate change on ozone-related mortality and morbidity in Europe.
European Respiratory Journal, n. 41, p. 285-294, 2013.
PinkeRton, K. E. et al. An official American Thoracic Society workshop report: Climate change
and human health. Proceedings of the American Thoracic Society, n. 9, p. 3-8, 2012.
PoRtmann, R. W.; Daniel, J. s.; RavishankaRa, A. R. Stratospheric ozone depletion due
to nitrous oxide: influences of other gases. Philosophical Transactions of the Royal
Society B: Biological Sciences, n. 367, p. 1256-1264, 2012.
RavishankaRa, a. R.; Daniel, J. s.; PoRtmann, R. W. Nitrous oxide (N2O): the dominant
ozone-depleting substance emitted in the 21st century. Science, n. 326, p. 123-125, 2009.
shinDell, D. & faluvegi, G. Climate response to regional radiative forcing during the twentieth
century. Nature Geoscience, n. 2, p. 294-300, 2009.
st louis, m. e. & hess, J. J. Climate change: impacts on and implications for global health.
American Journal of Preventive Medicine, n. 35, p. 527-538, 2008.
tang, X. et al. Changes in air quality and tropospheric composition due to depletion of
stratospheric ozone and interactions with climate. Photochemical & Photobiological
Sciences, n. 10, p. 280-291, 2011.
WHO. Climate change and human health - Risks and Responses. Geneva, 2003.
WHO. Gender, climate change and health - Draft Discussion Paper, 2009.
WHO. Global health risks: mortality and burden of disease attributable to select major risks.
Geneva, 2009.
WHO. Climate change, extreme weather events and public health - Meeting report.
[S.l.]: WHO Regional Office for Europe, 2011.
WHO. Health effects of black carbon. Copenhagen: Regional Office for Europe, 2012.
114
5 Alterações do Clima: impactos na Saúde
Licenciatura em Ciências · USP/Univesp · Módulo 5
WHO. Climate change: Burden of disease by region. Global Health Observatory Data
Repository. Disponível em: <http://apps.who.int/gho/data/node.main.132>. Acesso em:
Mar. 2013.
WHO & WMO. Atlas of Health and Climate. Geneva, 2012.
Wuebbles, D. J. Atmosphere - Nitrous oxide: no laughing matter. Science, n. 326, p. 56-57, 2009.
yano, C. Carvão Mineral, um mal necessário? Ciência Hoje, n. 301, p. 20-25, 2013.
GlossárioAerossol: são partículas líquidas ou sólidas em suspensão em meio gasoso. Exemplos são a partículas
presentes na fumaça e na poluição do ar ou os aerossóis usados no domicílio como medicamentos para asma, como pesticidas e aromatizantes.
Carbono negro (Black carbon): são partículas de aerossol carbonáceo (ricos em carbono), de cor enegre-cida, geradas pela combustão incompleta de combustíveis fósseis, de biocombustíveis e de biomassa. As principais fontes geradoras são as máquinas e veículos a diesel, fogões e queima de madeira. Diferente do CO
2, ele depois de gerado permanece dias em suspensão e tem a capacidade de absorver
com grande intensidade a luz do sol.
Ciclo hidrológico: movimento e circulação de água na atmosfera, na superfície da terra, e através do solo sob as superfícies das rochas. Cerca de 97% das águas do mundo estão nos oceanos e 75% da água doce estão nas formas de geleiras ou nos gelos polares. O vapor d’água da atmosfera condensa e retorna como orvalho ou chuva. Água líquida, gelo e neve evaporam.
El Niño: El Niño representa o aquecimento anormal das águas superficiais e sub-superficiais do Oceano Pacífico Equatorial. A palavra El Niño é derivada do espanhol, e refere-se à presença de águas quentes que todos os anos aparecem na costa norte de Peru na época de Natal. Os pescadores do Peru e Equador chamaram a esta presença de águas mais quentes de Corriente de El Niño em referência ao Niño Jesus ou Menino Jesus. Na atualidade, as anomalias do sistema climático que são mundial-mente conhecidas como El Niño e La Niña representam uma alteração do sistema oceano-atmos-fera no Oceano Pacífico tropical, e que tem consequências no tempo e no clima em todo o planeta. Nesta definição, considera-se não somente a presença das águas quentes da Corriente El Niño, mas também as mudanças na atmosfera próxima à superfície do oceano, com o enfraquecimento dos ventos alísios (que sopram de leste para oeste) na região equatorial. Com esse aquecimento do oceano e com o enfraquecimento dos ventos, começam a ser observadas mudanças da circulação da atmosfera nos níveis baixos e altos, determinando mudanças nos padrões de transporte de umidade, e, portanto variações na distribuição das chuvas em regiões tropicais e de latitudes médias e altas. Em algumas regiões do globo também são observados aumento ou queda de temperatura (WHO, 2003). La Niña representa um fenômeno oceânico-atmosférico com características opostas ao EL Niño, e que se caracteriza por um esfriamento anormal nas águas superficiais do Oceano Pacífico Tropical. Alguns dos impactos de La Niña tendem a ser opostos aos de El Niño, mas nem sempre uma região afetada pelo El Niño apresenta impactos significativos no tempo e clima devido à La Niña.
115
A intervenção humana sobre o ambiente e suas consequências. Problemas de saúde pública
Licenciatura em Ciências · USP/Univesp · Módulo 5
Estratosfera: camada com cerca de 20 km de espessura, localizada logo acima da troposfera.
GEE: gases de efeito estufa.
Greenhouse Gases (GHG): gases de efeito estufa.
Gt: gigatoneladas.
IPCC: Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima, criado em 1998 pelo programa da ONU para o meio ambiente e pela Organização Meteorológica Mundial. Reúne milhares de cientistas de diversos países que estudam os efeitos das alterações climáticas. O Governo Brasileiro criou o IPCC Brasil em abril de 2009, que congrega mais de 300 cientistas. O último relatório, AR4 (Assessment Report 4), é de 2007, estando previsto um novo para outubro de 2014.
Troposfera: camada de ar com espessura de 16-30 km a partir da superfície da terra.