alometria em grandes felinos

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USO DE EXTRAPOLAÇÃO ALOMÉTRICA EM TERAPÊUTICA ANTIPARASITÁRIA EM GRANDES FELINOS MANTIDOS EM CATIVEIRO - RELATO DE CASO Marianna Ricciardi Curi 1 ; Sady Alexis Chavauty Valdes 1 . 1 Zoológico Municipal de Piracicaba, SP, [email protected] Animais selvagens comumente mantidos em cativeiro apresentam grandes variações de massas corpóreas e taxas metabólicas basais. Em termos de terapêutica medicamentosa, este é um desafio crucial, já que os animais devem ser medicados com os fármacos disponíveis, sem estudos farmacológicos realizados para a maioria das espécies. Para evitar erros em cálculo de dose por extrapolação empírica com base em massa corpórea, ou seja, doses em mg/kg, vem sendo utilizada a extrapolação alométrica, que considera o metabolismo basal do paciente, expressando as doses em mg/kcal. Nos dias 15, 16 e 17 de janeiro de 2008 foram colhidas amostras de fezes de todos os felinos do setor de exposição do Zoológico Municipal de Piracicaba: jaguatirica, gato mourisco, gato-do-mato-pequeno, onça pintada, onça parda e leões. Este material foi acondicionado em frascos com formalina a 4%. Ao final do terceiro dia de colheita de material, as amostras de cada recinto foram agrupadas e procedeu-se a exame coproparasitológico pelos métodos de flutuação (Willis) e sedimentação. Os dois métodos evidenciaram ovos de Toxascaris leonina nos leões. As onças pardas apresentaram Toxocara sp e Ancylostoma sp no exame de flutuação e Toxocara sp no exame de sedimentação. Os outros exames apresentaram resultado negativo. O medicamento de escolha para o tratamento de ambos os recintos foi o Endal Gatos® (Schering-Plough), que tem como princípios ativos o pamoato de pirantel e o praziquantel (230 e 20 mg/comprimido, respectivamente). A dose indicada para gatos domésticos é de 1 comprimido para cada 4 kg de peso corpóreo. Utilizando a constante teórica de proporcionalidade (K) para mamíferos placentários, calculou-se a taxa metabólica basal de um gato de 4 kg (198 kcal), de um leão de 200 kg (3722,8 kg), de uma leoa de 150 kg (3000,3 kcal), de uma onça parda de 50 kg (1316,2 kcal) e de uma onça parda de 40 kg (1113,4 kcal). Com base na relação entre as taxas metabólicas basais dos animais-alvo (leões e onças) em relação ao animal-modelo (gato doméstico), calculou-se a dose de 18,8 comprimidos para o leão, 15,2 comprimidos para a leoa, 6,7 comprimidos para as onças-pardas de 50kg e 5,6 comprimidos para a onça parda de 40kg. Caso tivesse sido usada extrapolação pela massa corpórea, as doses por animal seriam, respectivamente, 50, 38, 13 e 10 comprimidos. Os comprimidos foram ministrados aos animais juntamente com a alimentação (pescoço de frango) no dia 26 de janeiro. Além disso, foram tomadas medidas sanitárias complementares para quebrar o ciclo parasitário no ambiente, com uso de vassoura-de-fogo e desinfecção minuciosa dos recintos com produtos a base de iodo. Nos dias 13, 14 e 15 foram feitas novas colheitas de fezes e novos exames nestes animais, seguindo o mesmo esquema anterior. Os resultados foram todos negativos, demonstrando que a dosagem utilizada foi eficiente para o tratamento dos felinos.

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Page 1: Alometria Em Grandes Felinos

USO DE EXTRAPOLAÇÃO ALOMÉTRICA EM TERAPÊUTICA ANTIPARASITÁRIA EM GRANDES FELINOS MANTIDOS EM CATIVEIRO -

RELATO DE CASO

Marianna Ricciardi Curi1; Sady Alexis Chavauty Valdes1.

1 Zoológico Municipal de Piracicaba, SP, [email protected]

Animais selvagens comumente mantidos em cativeiro apresentam grandes variações de

massas corpóreas e taxas metabólicas basais. Em termos de terapêutica medicamentosa,

este é um desafio crucial, já que os animais devem ser medicados com os fármacos

disponíveis, sem estudos farmacológicos realizados para a maioria das espécies. Para evitar

erros em cálculo de dose por extrapolação empírica com base em massa corpórea, ou seja,

doses em mg/kg, vem sendo utilizada a extrapolação alométrica, que considera o

metabolismo basal do paciente, expressando as doses em mg/kcal. Nos dias 15, 16 e 17 de

janeiro de 2008 foram colhidas amostras de fezes de todos os felinos do setor de exposição

do Zoológico Municipal de Piracicaba: jaguatirica, gato mourisco, gato-do-mato-pequeno,

onça pintada, onça parda e leões. Este material foi acondicionado em frascos com formalina

a 4%. Ao final do terceiro dia de colheita de material, as amostras de cada recinto foram

agrupadas e procedeu-se a exame coproparasitológico pelos métodos de flutuação (Willis) e

sedimentação. Os dois métodos evidenciaram ovos de Toxascaris leonina nos leões. As

onças pardas apresentaram Toxocara sp e Ancylostoma sp no exame de flutuação e

Toxocara sp no exame de sedimentação. Os outros exames apresentaram resultado

negativo. O medicamento de escolha para o tratamento de ambos os recintos foi o Endal

Gatos® (Schering-Plough), que tem como princípios ativos o pamoato de pirantel e o

praziquantel (230 e 20 mg/comprimido, respectivamente). A dose indicada para gatos

domésticos é de 1 comprimido para cada 4 kg de peso corpóreo. Utilizando a constante

teórica de proporcionalidade (K) para mamíferos placentários, calculou-se a taxa

metabólica basal de um gato de 4 kg (198 kcal), de um leão de 200 kg (3722,8 kg), de uma

leoa de 150 kg (3000,3 kcal), de uma onça parda de 50 kg (1316,2 kcal) e de uma onça

parda de 40 kg (1113,4 kcal). Com base na relação entre as taxas metabólicas basais dos

animais-alvo (leões e onças) em relação ao animal-modelo (gato doméstico), calculou-se a

dose de 18,8 comprimidos para o leão, 15,2 comprimidos para a leoa, 6,7 comprimidos para

as onças-pardas de 50kg e 5,6 comprimidos para a onça parda de 40kg. Caso tivesse sido

usada extrapolação pela massa corpórea, as doses por animal seriam, respectivamente, 50,

38, 13 e 10 comprimidos. Os comprimidos foram ministrados aos animais juntamente com

a alimentação (pescoço de frango) no dia 26 de janeiro. Além disso, foram tomadas

medidas sanitárias complementares para quebrar o ciclo parasitário no ambiente, com uso

de vassoura-de-fogo e desinfecção minuciosa dos recintos com produtos a base de iodo.

Nos dias 13, 14 e 15 foram feitas novas colheitas de fezes e novos exames nestes animais,

seguindo o mesmo esquema anterior. Os resultados foram todos negativos, demonstrando

que a dosagem utilizada foi eficiente para o tratamento dos felinos.