almeida, w.s a dinâmica dos fluxos migratórios intermunicipais de mão de obra qualificada em...

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1 A DINÂMICA DOS FLUXOS MIGRATÓRIOS INTERMUNICIPAIS DE MÃO DE OBRA QUALIFICADA EM PERNAMBUCO E SEUS PRINCIPAIS CONDICIONANTES (2010) 1 Wallace da Silva de Almeida 2 RESUMO: A mobilidade de trabalhadores em um dado território, principalmente daqueles qualificados, constitui um fenômeno que apresenta grande potencial com relação à transferência de conhecimento de uma localidade para outra. No entanto, os estudos sobre migração tendem a desconsiderar a relevância dos deslocamentos de capital humano qualificado. Entende-se por migrante qualificado pessoas que possuem nível educacional superior completo ou incompleto e sejam economicamente ativas. O objetivo principal deste trabalho 3 é verificar quais características municipais impactam na atração de indivíduos com tal perfil em Pernambuco. Para tanto, a estimação do modelo empírico foi feita por meio do método OLS (Ordinary Least Squares) utilizando os microdados do Censo de 2010, além de dados fornecidos pelo Ministério da Educação (MEC), pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA). Pretende-se ainda apresentar um ranking das cidades a fim de responder a questões como: quais regiões estão presenciando um processo de fuga de cérebros (brain drain) e quais, inversamente, testemunham a chegada de migrantes com alto nível de escolaridade? Isto será feito através da construção de um índice de migração qualificada líquida. Este indicador será mapeado para todos os municípios de Pernambuco. Os resultados indicam que a existência de instituições de ensino superior, o tamanho da população, a disponibilidade de acesso a saúde (médicos), o estoque de capital humano, entre outros atributos, são condicionantes relevantes na atração de migrantes qualificados por parte dos municípios pernambucanos. Palavras-chave: Migração intermunicipal; Indivíduos qualificados; Pernambuco. 1 Artigo desenvolvido como requisito de avaliação da disciplina de Economia Regional. 2 Mestrando em Economia pelo PPGECON/UFPE. Email: [email protected] 3 Artigo direcionado ao tópico de Desenvolvimento Regional da V Semana Gepetis.

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A DINÂMICA DOS FLUXOS MIGRATÓRIOS INTERMUNICIPAIS DE MÃO DE OBRA QUALIFICADA EM PERNAMBUCO E SEUS PRINCIPAIS CONDICIONANTES (2010)

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    A DINMICA DOS FLUXOS MIGRATRIOS INTERMUNICIPAIS DE MO DE OBRA QUALIFICADA EM PERNAMBUCO E SEUS PRINCIPAIS

    CONDICIONANTES (2010)1

    Wallace da Silva de Almeida2

    RESUMO: A mobilidade de trabalhadores em um dado territrio, principalmente daqueles qualificados, constitui um fenmeno que apresenta grande potencial com relao transferncia de conhecimento de uma localidade para outra. No entanto, os estudos sobre migrao tendem a desconsiderar a relevncia dos deslocamentos de capital humano qualificado. Entende-se por migrante qualificado pessoas que possuem nvel educacional superior completo ou incompleto e sejam economicamente ativas. O objetivo principal deste trabalho3 verificar quais caractersticas municipais impactam na atrao de indivduos com tal perfil em Pernambuco. Para tanto, a estimao do modelo emprico foi feita por meio do mtodo OLS (Ordinary Least Squares) utilizando os microdados do Censo de 2010, alm de dados fornecidos pelo Ministrio da Educao (MEC), pelo Programa das Naes Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e pelo Instituto de Pesquisa Econmica Aplicada (IPEA). Pretende-se ainda apresentar um ranking das cidades a fim de responder a questes como: quais regies esto presenciando um processo de fuga de crebros (brain drain) e quais, inversamente, testemunham a chegada de migrantes com alto nvel de escolaridade? Isto ser feito atravs da construo de um ndice de migrao qualificada lquida. Este indicador ser mapeado para todos os municpios de Pernambuco. Os resultados indicam que a existncia de instituies de ensino superior, o tamanho da populao, a disponibilidade de acesso a sade (mdicos), o estoque de capital humano, entre outros atributos, so condicionantes relevantes na atrao de migrantes qualificados por parte dos municpios pernambucanos.

    Palavras-chave: Migrao intermunicipal; Indivduos qualificados; Pernambuco.

    1 Artigo desenvolvido como requisito de avaliao da disciplina de Economia Regional.

    2Mestrando em Economia pelo PPGECON/UFPE. Email: [email protected]

    3 Artigo direcionado ao tpico de Desenvolvimento Regional da V Semana Gepetis.

  • 2

    INTRODUO

    Apesar da relevncia do fenmeno da migrao para compreenso da dinmica

    demogrfica de uma localidade so poucas as pesquisas que objetivam averiguar

    quais so os fatores motivadores de sua ocorrncia, ou seja, quais so os principais

    fatores que fazem com que os municpios atraiam migrantes? E ser que o

    fenmeno da migrao est de alguma maneira relacionada com as caractersticas

    apresentadas pelo municpio de destino do migrante? No Brasil, grande parte dos

    estudos4 sobre migrao optam por analis-la em nvel estadual. No entanto, a

    tomada de deciso do indivduo, de acordo com Da Mata et al., (2007), baseia-se

    principalmente na avaliao das caractersticas da cidade de destino, e no do

    estado de destino. Alm disso, uma vez que os censos populacionais fornecem

    informaes por municpio de origem e destino, abre-se a possibilidade da realizao

    de uma anlise mais refinada acerca do tema.

    Assim, a principal contribuio deste trabalho est em associar diretamente a

    anlise da migrao com os atributos apresentados pelos municpios, ou seja, o

    estudo em tela estudar o fenmeno da migrao a nvel municipal. Outra relevante

    contribuio deste trabalho est em realizar um estudo direcionado a uma categoria

    especfica de migrantes: os qualificados.A importncia deste aspecto est

    relacionada ao grande potencial de transferncia de conhecimento, de uma

    localidade para outra, apresentado pelos indivduos com tal perfil.

    Entende-se por migrante qualificado pessoas que possuem nvel educacional

    superior completo ou incompleto e sejam economicamente ativas (15 idade 65).

    A partir desta abordagem ser possvel observar caractersticas inerentes aos

    municpios tais como o nvel de desenvolvimento humano, disponibilidade de acesso

    a sade, educao e segurana pblica, o que no possvel na abordagem

    estadual, devido s disparidades existentes dentro dos Estados, e simultaneamente

    verificar quais destes atributos municipais impactam significativamente na atrao de

    indivduos com alto nvel de instruo.

    Portanto, o objetivo principal deste trabalho realizar uma anlise sobre a

    dinmica dos fluxos migratrios intermunicipais de indivduos qualificados em

    Pernambuco e seus principais condicionantes. O estudo visa verificar o porqu de

    algumas cidades atrarem migrantes com tal perfil, isto , quais atributos municipais

    4Ver Sahota (1968), Azzoni et al. (1999) e Silveira Neto (2005).

  • 3

    so mais importantes: o dinamismo econmico e o nvel de desenvolvimento

    humano municipal ou a disponibilidade de sade, educao, segurana pblica e o

    custo de transporte do municpio a capital estadual?

    Inicialmente, apresenta-se um ranking das cidades que exibem maior atrao de

    migrantes qualificados. Isto foi feito atravs da construo de um ndice de migrao

    qualificada lquida. Atravs do mapeamento deste indicador para todos os

    municpios pernambucanos ser possvel visualizar facilmente quais regies esto

    presenciando um processo de fuga de crebros (brain drain) e quais, inversamente,

    testemunham a chegada de migrantes com alto nvel de instruo. Logo em seguida,

    atravs da estimao de um modelo emprico por meio do mtodo OLS (Ordinary

    Least Squares) ser realizada uma anlise acerca dos principais atributos municipais

    no que se refere atrao de migrantes qualificados. A base de dados utilizada para

    a consecuo dos objetivos propostos se refere a todos os 185 municpios do estado

    de Pernambuco e foi construda a partir de informaes fornecidas pelos microdados

    do Censo de 2010, alm de dados divulgados pelo Ministrio da Educao (MEC),

    pelo Programa das Naes Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e pelo Instituto

    de Pesquisa Econmica Aplicada (IPEA).

    O texto est subdivido em seis sees, alm desta introduo. Na primeira

    seo realizada uma reviso acerca das mais relevantes referncias sobre

    migrao abordando tanto seus aspectos micro quanto macroeconmicos. Em

    seguida, na terceira seo, feita uma anlise exploratria dos dados coletados.

    Nela ser apresentado o ranking dos municpios e das mesorregies que mais

    atraem migrantes qualificados no estado. A quarta seo foi reservada para a

    apresentao da metodologia empregada na realizao da pesquisa, desde a

    especificao das fontes de dados utilizadas at a estratgia emprica adotada na

    anlise. Na quinta seo sero demonstrados e analisados os resultados empricos

    da pesquisa. Por fim, a ltima seo apresenta as concluses derivadas do estudo.

    1. REVISO DE LITERATURA SOBRE MIGRAO E SEUS CONDICIONANTES

    A literatura indica quatro teorias principais no estudo da migrao, essenciais no

    entendimento dos fatores que a motivam. A primeira dentre elas a teoria

    neoclssica da migrao (LEWIS, 1954 e SJAASTAD, 1962), a segunda a teoria

    do mercado de trabalho segmentado (PIORE, 1979), a terceira a nova economia

  • 4

    da migrao do trabalho (STARK & BLOOM, 1985) e, por fim, a teoria do capital

    social (MASSEY et al., 1993).

    A teoria mais antiga e tradicional a teoria neoclssica da migrao que busca

    compreender e demonstrar a forma como ocorre mobilidade de mo de obra, tanto

    em nvel micro quanto em nvel macroeconmico. O pressuposto bsico desta teoria

    que o principal fator motivador da migrao dos trabalhadores so as diferenas

    geogrficas de oferta e demanda por mo de obra. Logo, segundo a teoria

    neoclssica da migrao, se a regio detm maior dotao do fator trabalho

    relativamente ao fator capital, em geral, sero observados baixos salrios. Ao

    contrrio, as regies que possurem pouca dotao do fator trabalho relativamente

    ao fator capital devero, na maior parte dos casos, apresentar elevados salrios.

    O resultado deste processo se apresenta, portanto, na forma de diferenciais

    salariais entre as regies, provocando, em um primeiro momento, o movimento

    migratrio de trabalhadores das reas que ofertam baixos salrios para as regies

    que oferecem salrios maiores. No segundo momento, como resposta a esse

    movimento inicial da mo de obra, a regio cuja dotao do insumo trabalho seja

    baixa ter ampliada a oferta deste fator de produo reduzindo, assim, o valor

    monetrio atribudo a ele, neste caso este valor expresso em salrio. J naquelas

    reas que apresentam uma elevada dotao de trabalho a oferta deste insumo

    reduz-se elevando o nvel dos salrios. No equilbrio, estes diferenciais salariais

    expressam-se somente nos custos da migrao.

    Portanto, como fora demonstrado, a teoria neoclssica da migrao considera o

    diferencial salarial como principal determinante da movimentao dos trabalhadores

    em um dado territrio. A partir desta teoria Frey (1995) conclui que o resultado

    natural do processo de migrao da mo de obra poderia ser a tendncia de

    convergncia regional da razo capital-trabalho, caso a migrao no seja seletiva5.

    A teoria neoclssica da migrao foi o ponto de partida para a gerao de

    diversos outros modelos que visam o estudo deste fenmeno. Podem-se citar como

    exemplo os modelos push-pull6. Nesses modelos as regies de origem detm fatores

    push que estimulam os indivduos a deixarem estas regies, no entanto, existem

    outras regies, as de destino, que possuem fatores pull que incitam os indivduos a

    5Trata-se de uma quase escolha entre as pessoas que ingressam em uma determinada regio ou

    pas. 6 Ver The new phenomenon of brain drain within developed countries: An German and Dutch case

    study. (BENEFADER & BOER, 2006).

  • 5

    migrarem para elas. Entre os fatores push esto a escassez de oportunidades

    econmicas, o exacerbado crescimento demogrfico e o diminuto nvel de qualidade

    de vida. Por outro lado, entre os fatores pull encontram-se a disponibilidade de

    terras, a demanda por mo de obra e boas oportunidades econmicas.

    Segundo a teoria do mercado de trabalho segmentado, deve-se considerar na

    anlise sobre os determinantes da migrao no s os fatores econmicos, mas

    tambm os aspectos sociolgicos e subjetivos. Isto porque os indivduos, alm da

    obteno de renda, tambm buscam, entre outras coisas, status social atravs da

    concesso de sua fora de trabalho. Neste sentido, variveis referentes ao setor de

    atividade e ocupao, por exemplo, podem gerar impactos significativos no processo

    de tomada de deciso do indivduo quanto migrao. De acordo com Piore (1979),

    a migrao motivada pelos fatores de atrao dos locais de destino e no pelos

    fatores de repulso das regies das quais os indivduos se originam.

    Em meados da dcada de 1980 mais precisamente em 1985 Oded Stark e

    David Bloom propuseram a nova economia da migrao do trabalho atravs do

    relaxamento de pressupostos da teoria neoclssica. O pressuposto bsico da nova

    economia da migrao que a tomada de deciso de migrao no realizada

    individualmente pelos agentes, mas por uma unidade maior de indivduos

    relacionados entre si, geralmente famlias ou domiclios, na qual os agentes atuam

    conjuntamente a fim de maximizar a renda esperada, e tambm minimizar os riscos

    e restries relacionadas s falhas de mercado (MASSEY et al., 1993).

    A partir da execuo desta estratgia de ao torna-se possvel minimizar os

    riscos inerentes a migrao, uma vez que ocorre uma diversificao na alocao dos

    recursos familiares. Desta forma, abre-se a possibilidade para que alguns

    integrantes da unidade familiar migrem enquanto outros permanecem no local de

    origem. Logo, conforme esta teoria, a observao de diferenciais salariais no

    essencial para que os agentes decidam migrar de uma regio para outra, pois as

    famlias so estimuladas a diversificar a alocao de seus recursos atravs da

    mobilidade.

    Na teoria do capital social a migrao determinada por fatores micro e

    macroeconmicos. Nessa teoria distingue-se o capital econmico, do capital social e,

    tambm, do capital humano. O pressuposto bsico que o indivduo somente optar

    pela migrao quando ele confiar que a dotao dos trs tipos de capital

    supracitados mais elevada no local de destino do que na regio de origem.

  • 6

    Tradicionalmente as pesquisas que versam sobre migrao interna vm sendo

    desenvolvidas adotando duas vertentes muito claras, uma com foco no

    comportamento a nvel micro e a outra enfocando o local. Em geral, nas pesquisas a

    nvel micro, a migrao habitualmente modelada como um processo de

    maximizao da utilidade de um indivduo ou famlia. Segundo este modelo o

    movimento migratrio seria determinado por fatores econmicos, principalmente os

    relacionados ao mercado de trabalho; regionais; pessoais; e familiares. De outra

    forma, as pesquisas que enfocam no local tentam explicar os movimentos

    migratrios em nvel agregado. Adotando uma abordagem macro este modelo tem

    como fatores determinantes da mobilidade dos indivduos: o desemprego, o nvel de

    preos, o tamanho da populao e os salrios.

    Uma anlise mais detalhada acerca dos aspectos relacionados forma como as

    abordagens micro e macroeconmicas explicam os fluxos migratrios e seus

    condicionantes ser realizada nas duas subsees a seguir.

    2. A DINMICA DO FLUXO MIGRATRIO QUALIFICADO E SEUS CONDICIONANTES

    A fuga de crebros (brain drain) uma das formas possveis de migrao e est

    associada sada (emigrao) de trabalhadores qualificados de suas respectivas

    localidades de origem em busca de melhores oportunidades em outras localidades,

    representando, portanto, uma transferncia de recursos humanos entre o local de

    origem e destino do migrante.

    Diferentemente da ideia exposta acima, que se refere apenas ao fluxo de sada

    dos indivduos de uma determinada regio, este trabalho busca analisar o saldo do

    fluxo migratrio de mo de obra qualificada, ou seja, o estudo em tela trata tanto do

    fenmeno da emigrao (fluxo de sada) quanto do fenmeno da imigrao (fluxo de

    entrada) de indivduos qualificados, possibilitando, assim, a obteno de um vetor

    resultante da interao entre essas duas foras opostas, denominado aqui de Saldo

    de Migrao Qualificada Lquida (SMQL). Desta forma, a regio ser receptora de

    indivduos qualificados (SMQL> 0) se obtiver um nmero de imigrantes superior ao

    nmero de emigrantes e emissora (SMQL< 0) no caso contrrio.

    O presente artigo reconhece tanto a existncia de fatores push, que

    impulsionam a sada de pessoas de uma determinada regio e provoca o processo

    de fuga de crebros, quanto existncia de fatores pull, que possuem a

  • 7

    capacidade de atrair as pessoas para determinadas regies. Contudo, como o

    objetivo principal desta pesquisa verificar quais caractersticas municipais geram

    efetivo impacto em seu SMQL, sero utilizados na anlise apenas os fatores push-

    pull referentes aos locais de origem e destino do migrante, desconsiderando,

    portanto, as caractersticas do indivduo e, tambm, os aspectos inerentes ao seu

    emprego que potencialmente so capazes de influenciar na deciso de migrao.

    Segundo Portes (1976), o grau de desigualdade entre a regio de origem e

    destino, principalmente no que se refere s condies sociais e de pesquisa, assim

    como, a dinmica do mercado de trabalho so fatores pushque motivam a fuga de

    crebros. Por outro lado, Miyagiwa (1991) destaca a relevncia da economia de

    escala da educao como fator de atrao de migrantes com alto grau de instruo.

    Para o autor, o efeito de escala da educao eleva a produtividade do trabalhador o

    que tende a possibilitar o aumento do nvel de renda dos indivduos qualificados.

    De acordo com Golgher (2006) as localidades que tendem a atrair um maior

    nmero de indivduos qualificados so aquelas que possuem um ambiente cultural e

    social bem desenvolvido, diversificado e movimentado, e tambm que apresentam

    os ndices mais elevados de qualidade de vida. Todas estas caractersticas

    relacionadas s regies so extremamente relevantes, pois potencialmente

    influenciam o processo de tomada de deciso do indivduo e, conseqentemente,

    podem impactar significativamente na capacidade de atrao e/ou repulso de

    pessoas qualificadas por uma determinada localidade.

    Para Sttiwell (2008) os fatores push-pull de uma regio so determinados, em

    parte, por suas caractersticas sociais, econmicas e fsicas. Essas caractersticas

    podem ser mensuradas atravs de variveis como renda per capita, taxa de

    desemprego, crescimento de nmero de empregos, salrio, preo do aluguel, gastos

    do governo, criminalidade, poluio, qualidade de vida, clima, educao etc.

    No mbito internacional, Marfouk (2007) ao estudar o continente africano conclui

    que as oportunidades de emprego e a distncia geogrfica entre os pases de

    origem e destino so os principais fatores determinantes na deciso de migrao dos

    indivduos qualificados. No contexto das migraes internas, Ritsil & Haapanem

    (2003) concluem que os migrantes qualificados deslocam-se, majoritariamente, para

    municpios urbanos, densamente povoados, que apresentam boas oportunidades de

    emprego e aprimoramento das habilidades.

  • 8

    No mbito nacional, Da Mata et al., (2007) demonstra que as pessoas

    qualificadas tendem a migrar para cidades que apresentam um mercado de trabalho

    dinmico. Outro importante resultado encontrado pelo autor que amenidades tais

    como, menor violncia e menor desigualdade social so importantes fatores de

    atrao de migrantes altamente qualificados.De acordo com Sabbadini & Azzoni

    (2006), deve-se destacar como fatores de atrao a qualidade de vida, a renda e o

    nmero de programas de ps-graduao.

    Em geral, as pesquisas realizadas no Brasil tendem a utilizar variveis

    agregadas, desconsiderando as caractersticas do indivduo. Assim como Sabbidini

    & Azzoni (2006 e Da Mata et al., (2007), grande parte dos pesquisadores desta

    temtica utilizam a base de dados fornecida pelos Censos demogrficos do Instituto

    Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE). Embora o emprego desta base de

    dados seja largamente difundido preciso reconhecer que existem limitaes. Pode-

    se citar como exemplo a impossibilidade de acompanhamento dos indivduos ao

    longo do tempo, o que impede, por consequncia, a utilizao de um painel de

    dados. Cabe ressaltar que, no Brasil, so escassos os estudos que investigam as

    motivaes do deslocamento de indivduos qualificados. Ainda mais raro so os

    trabalhos que analisam a temtica a nvel municipal. Desta forma, o presente artigo

    objetiva contribuir com a literatura na compreenso dos fluxos migratrios

    qualificados no Estado de Pernambuco a partir dos atributos apresentados pelos

    municpios de origem e destino do migrante.

    3. ANLISE EXPLORATRIA DE DADOS

    3.1. Ranking dos municpios pernambucanos

    Nesta seo ser elaborado e apresentado um ranking dos municpios

    pernambucanos a fim de facilitar a identificao daqueles que esto presenciando

    um processo de fuga de crebros (brain drain) e os que, por outro lado, tem

    observado a chegada de migrantes com alto nvel de qualificao.

    Primeiramente, foi construda uma matriz de migrao intermunicipal entre 2005

    e 2010 que abrange os deslocamentos de indivduos qualificados de todos os 185

    municpios pernambucanos. Esta matriz foi construda da seguinte forma:

  • 9

    Onde:

    ai j= sada do migrante do municpio i para o municpio j

    85

    ( )

    85

    ( )

    a11 = a22 = a33 =

    ai j = 0

    Atravs desta matriz torna-se possvel identificar os fluxos migratrios

    intermunicipais de pessoas qualificadas por todo o estado de Pernambuco. Desta

    forma, com as informaes geradas pela matriz acima e os dados referentes a

    populao total de cada municpio, viabiliza-se a construo do ndice de Migrao

    Qualificada Lquida (IMQL) cuja formulao expressa-se a seguir.

    Onde:

    otal de imigrantes (entrada) do muni pio em 20 0

    otal de emigrantes (sa da) do muni pio em 20 0

    PT = Populao Total do municpio em 2010

    Este indicador foi mapeado para todos os municpios do estado de Pernambuco

    com a finalidade de observar quais deles tm conseguido atrair migrantes

    qualificados e, inversamente, quais tm sofrido um processo de fuga de crebros

    (brain drain) no mbito estadual, conforme demonstra a figura abaixo.

  • 10

    FIGURA 1

    ndice de migrao qualificada lquida dos municpios pernambucanos em 2010

    Fonte: CENSO 2010. Elaborao do autor.

    Observa-se, atravs da FIGURA 1, que a regio do Agreste pernambucano

    detm um maior nmero de municpios receptores lquidos de migrantes

    qualificados. Alm disso, esta a mesorregio que possui o maior Saldo de

    Migrao Qualificada Lquida (SMQL), apresentando-se, portanto, como a grande

    receptora de crebros do estado de Pernambuco no perodo analisado, conforme

    demonstra a TABELA 1. Entre os municpios que mais se destacam positivamente

    nesta rea do estado esto: Frei Miguelinho, Calado, Pesqueira e So Joaquim do

    Monte que se encontram entre os dez municpios mais bem classificados com

    relao ao IMQL a nvel estadual. Mais adiante, na parte emprica deste estudo, ser

    realizada uma investigao a cerca dos principais fatores locacionais que impactam

    na atrao de indivduos qualificados. Vale salientar que a varivel dependente

    utilizada na estimao do modelo emprico ser o SMQL.

    TABELA 1 Fluxo de migratrio nas mesorregies pernambucanas em 2010

    Mesorregio N de

    Municpios Habitantes/Km

    2 PT IQ EQ SMQL

    Agreste Pernambucano 71 94,84 2.217.600 3.611 4.497 886

    Mata Pernambucana 43 155,43 1.310.638 2.482 2.358 -124

    Metropolitana de Recife 15 869,99 3.693.177 18.327 17.243 -1.084

    So Francisco Pernambucano 15 22,98 578.203 1.043 1.378 335

    Serto Pernambucano 41 26,72 996.830 1.926 1.884 -42

    Fonte: CENSO 2010. Elaborao do autor.

    Conforme demonstra a tabela acima, a RMR a grande emissora lquida de

    migrantes qualificados. Portanto, pode-se dizer que esta mesorregio sofre um

    processo de fuga de crebros (brain drain). Cabe ressaltar que, apesar da

    mesorregio do Agreste apresentar-se como a grande receptora lquida de

    migrantes qualificados verifica-se que alguns dos municpios que a compem

  • 11

    destacam-se negativamente no mbito estadual so eles: Gravat, Agrestina,

    Garanhuns e Caruaru que esto entre os dez municpios que mais emitem migrantes

    com o perfil analisado. A partir da TABELA 3 ser exibido o ranking estadual dos dez

    municpios com mais elevado valor do IMQL. Inversamente, a TABELA 4 mostrar

    os dez municpios com menor valor para o mesmo indicador.

    TABELA 2 Ranking: as dez melhores classificaes quanto ao IMQL em 2010

    72

    Ranking Municpio IMQL

    1 Frei Miguelinho 0.00672

    2 Floresta 0.00461

    3 Calado 0.00449

    4 Itacuruba 0.00366

    5 Sertnia 0.00320 6 Pesqueira 0.00319

    7 Verdejante 0.00317

    8 Barreiros 0.00265 9 Palmares 0.00250

    10 So Joaquim do Monte 0.00244

    Fonte: CENSO 2010. Elaborao do autor.

    TABELA 3 Ranking: as dez piores classificaes quanto ao IMQL em 2010

    Ranking Municpio IMQL

    185 Ingazeira -0.02558

    184 Paudalho -0.00551

    183 Tuparetama -0.00315

    182 Gravat -0.00292

    181 Agrestina -0.00291

    180 Garanhuns -0.00271

    179 Caruaru -0.00261

    178 Jaboato dos Guararapes -0.00256

    177 Tamandar -0.00256

    176 Moreilndia -0.00234

    Fonte: CENSO 2010. Elaborao do autor.

    A fim de captar os fluxos migratrios quantitativamente mais significativos foi

    elaborado tambm um ranking considerando apenas os municpios com populao

    superior a 100 mil habitantes, excluindo as localidades com menor porte

    populacional.

    TABELA 4 Ranking dos municpios com populao superior a 100.000 mil habitantes em 2010

    Ranking Municpio SMQL IMQL

    1 Vitria de Santo Anto 74 0.00057 2 Cabo de Santo Agostinho 99 0.00054

    3 Camaragibe 16 0.00011

    4 Olinda 21 0.00006 5 Recife 15 0.00000

    6 Petrolina -62 -0.00021

    7 Paulista -283 -0.00094 8 Jaboato dos Guararapes -1650 -0.00256

    9 Caruaru -821 -0.00261

    10 Garanhuns -351 -0.00271

    Fonte: CENSO 2010. Elaborao do autor.

  • 12

    O fato de que nenhum dos municpios mais populosos de Pernambuco aparece

    se quer entre as cinqenta primeiras posies do ranking estadual e que apenas

    quatro deles apresentaram um IMQL positivo durante o perodo de anlise, como

    demonstrado acima, pode estar sinalizando que o investimento em capital humano

    tm se direcionado as reas menos povoadas. Cabe salientar que, em geral, no

    Brasil e em Pernambuco, estas localidades possuem menor dotao de

    trabalhadores qualificados. Caso esta hiptese seja confirmada pela anlise emprica

    a ser implementada mais adiante, os municpios com tal perfil tendero a apresentar

    um maior retorno ao investimento em capital humano e, conseqentemente,

    possuiro maior poder de atrao de indivduos qualificados.

    4. METODOLOGIA

    4.1. Fonte de Dados

    Na atual seo sero apresentadas todas as variveis empregadas no modelo

    emprico de anlise utilizado neste trabalho, assim como, suas respectivas fontes de

    coleta de dados e sinais esperados.

    Os dados referentes migrao provm do Censo Demogrfico de 2010 (IBGE,

    2010). Considera-se migrante o indivduo que morava em locais distintos em duas

    datas prefixadas, cinco anos antes (31/07/2005) e na data de referncia do Censo

    (3 /07/20 0). Na literatura esta varivel denotada por migrao data fixa. Como a

    pesquisa restringe sua anlise a dinmica dos fluxos migratrios intermunicipais

    pernambucanos foram excludas da amostra as informaes referentes migrao

    internacional e interestadual. Vale destacar que, entende-se por migrante qualificado

    pessoas que possuam nvel educacional superior completo ou incompleto e

    classificavam-se como economicamente ativas no perodo do Censo 2010.

    Considera-se economicamente ativo o indivduo que possui entre 15 e 65 anos de

    idade, retirando-se da amostra os aposentados.

    Adota-se a diviso territorial municipal (185 municpios pernambucanos em

    2010) como unidade de anlise, e no aglomeraes urbanas/regies

    metropolitanas, pois o tipo especfico de migrante ao qual o estudo se refere, em

    tese, recebe remunerao suficiente para morar no mesmo municpio em que

    trabalha. claro que isto no necessariamente se verifica para o caso dos migrantes

  • 13

    menos favorecidos. Portanto, neste artigo, utilizam-se as fronteiras municipais do

    estado de Pernambuco. A escolha desta escala territorial, alm dos benefcios j

    mencionados nas sees anteriores, possibilita que mais adiante o trabalho possa

    ser estendido para outros estados e regies do pas.

    Os dados utilizados para formular a varivel dummy referente s Instituies de

    Ensino Superior so provenientes do Ministrio da Educao (MEC). A fonte dos

    dados referentes populao, sade (mdicos por mil habitantes), participao do

    eleitorado, desenvolvimento humano (IDHM), segurana (proporo de homicdios

    no total de bitos), custo de transporte at a capital, estoque de capital humano e

    assistncia social (Programa Bolsa Famlia) advm do Instituto de Pesquisa

    Econmica Aplicada (IPEA). Com relao varivel utilizada para mensurar o nvel

    de desigualdade social (ndice de Gini) os dados foram fornecidos pelo Programa

    das Naes Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).A seguir ser realizada uma

    breve descrio das variveis explicativas empregadas no modelo de regresso

    adotado.

    4.2. Descrio das variveis explicativas

    A seleo das variveis citadas na subseo anterior foi realizada a partir de

    uma reviso da literatura com a finalidade de identificar quais seriam as informaes

    plausveis e essenciais para captar as caractersticas dos municpios

    pernambucanos que, potencialmente, seriam capazes de atrair ou repelir indivduos

    com elevado nvel de instruo, permitindo, assim, a realizao de uma anlise

    sobre a importncia relativa destes fatores.

    Segundo Sttiwell (2008) os fatores push-pull de uma regio so determinados,

    em parte, por suas caractersticas sociais e econmicas. Alm desses fatores, o

    presente artigo, tambm considera a possibilidade de influncia de fatores polticos.

    Dentre as variveis utilizadas para de captar as caractersticas de ordem social

    encontram-se a disponibilidade de acesso a educao de nvel superior (IES), o

    tamanho da populao, o IDHM, o ndice de Gini, a quantidade de mdicos por mil

    habitantes, a quantidade de benefcios concedidos em dezembro de 2005 pelo

    Programa Bolsa Famlia e a proporo de homicdios no total de bitos. De acordo

    com Harbison (1981), as caractersticas da sociedade por si s no provocam o

    movimento migratrio, mas possuem a capacidade de gerar mudanas nas

  • 14

    expectativas, exercendo, portanto, forte influncia no processo de deciso do

    indivduo.

    As variveis econmicas empregadas na anlise so: o estoque de capital

    humano7 e o custo de transporte at a capital. A primeira delas refere-se ao valor

    esperado presente dos rendimentos anuais (descontados a 10% a.a.) associados

    escolaridade e experincia (idade) da populao em idade ativa (15 a 65 anos). A

    varivel poltica utilizada foi a quantidade mdia de eleitores que compareceram as

    urnas entre 2000 e 2004. Esta varivel busca testar se os municpios politicamente

    mais representativos tendem a possuir maior capacidade de atrao de migrantes

    qualificados.A seguir encontra-se um quadro demonstrativo das variveis, suas

    respectivas fontes de dados e sinais esperados.

    QUADRO 1 Descrio das Variveis

    VARIVEIS FONTES SINAL

    Varivel Dependente Saldo Migratrio Qualificado Lquido (IQ-EQ) CENSO 2010

    Variveis Independentes

    Instituies de ensino superior em 2005 MEC ( + )

    Populao em 2000 IPEADATA ( + )

    Eleitores (mdia 2000-2004) IPEADATA ( + )

    ndice de desenvolvimento humano municipal em 2000 IPEADATA ( + )

    ndice de Gini em 2000 PNUD ( )

    Mdicos por mil hab. em 2000 IPEADATA ( + )

    Estoque de capital humano em 2000 IPEADATA ( + )

    Programa Bolsa Famlia em 2005 IPEADATA ( )

    Proporo de homicdios (2000-2005) IPEADATA ( )

    Custo de transporte at a capital mais prxima IPEADATA ( )

    Fonte: Elaborao do autor.

    4.3. Modelo e Estratgia Emprica

    A partir das variveis descritas na seo anterior o seguinte modelo proposto

    para alcanar o objetivo da pesquisa:

    SMQL = 0 + 1IESi + 2Popi + 3Elti + 4IDHMi + 5Ginii +6Medi + 7EstCHi + 8PBFi

    +9PHomi + 10CTmuncapi +

    7 O estoque de capital humano calculado pela diferena entre o rendimento obtido no mercado de

    trabalho e a estimativa daquele auferido por um trabalhador sem escolaridade e experincia.

  • 15

    Onde:

    SMQL = Saldo de migrao qualificada lquida dos municpios pernambucanos

    em 2010

    IESi = Municpio possui Instituio de Ensino Superior (varivel dummy) em 2005

    Popi= Populao total do municpio em 2000

    Elti = Quantidade de eleitores que compareceram as urnas (mdia 2000-2004)

    IDHMi = ndice de desenvolvimento humano municipal em 2000

    Ginii = ndice de Gini em 2000

    Medi= Nmero de mdicos por mil habitantes em cada municpio em 2000

    EstCHi = Estoque de capital humano em 2000

    PBFi = Nmero de benefcios concedidos por municpio em dezembro de 2005

    PHomi = Proporo de homicdios no total de bitos entre 2000 e 2005

    CTmuncapi = Custo de transporte at a capital mais prxima

    Primeiramente, o modelo foi estimado pelo mtodo OLS (Ordinary Least

    Squares). A fim de identificar a existncia de multicolinearidade, foi construda a

    matriz de correlao das variveis e realizou-se o teste Variance Inflation Factor no

    qual a intuio que, se o regressor no for ortogonal aos demais regressores a

    varincia do respectivo parmetro ser inflacionada.

    Verificou-se, atravs do teste de White, a presena de heterocedasticidade no

    modelo. Assim, fez-se necessrio estim-lo novamente, desta vez, com a correo

    robusta de White objetivando o ajuste dos erros-padro a partir da

    heterocedasticidade apresentada. Os critrios de Akaike (AIC) e o de Schwarz

    (BIC) foram utilizados a fim de identificar e selecionar o modelo com maior poder de

    explicao do fenmeno analisado.

    Na seo seguinte sero apresentados os resultados obtidos a partir da

    estratgia emprica de investigao empregada nesta pesquisa.

    5. RESULTADOS

    5.1. Estatsticas Descritivas

    De acordo com os dados do CENSO 2010, durante do perodo de anlise,

    27.389 indivduos migraram para outros municpios, representando cerca de 7,67%

    do total da populao qualificada do estado de Pernambuco. Quando comparado o

  • 16

    perfil mdio dos migrantes com os no migrantes, observa-se que os indivduos que

    permaneceram no mesmo municpio possuem, de modo geral, uma condio de

    moradia melhor quando comparados aos que optaram pela mudana para outro

    municpio, ainda que recebam uma renda inferior.

    O grupo dos migrantes composto, em mdia, por chefes de famlia do sexo

    feminino, brancas, de 37 anos com unio estvel e filhos. Moram, em sua maioria,

    com mais duas pessoas em residncias prprias, com energia eltrica e gua

    canalizada proveniente de rede geral de distribuio. Trabalham mais e recebem

    cerca de R$ 474,60 a mais do que os no migrantes, conforme evidencia a tabela a

    seguir.

    TABELA 5 Estatsticas Descritivas dos Migrantes e No Migrantes Qualificados em 2010

    VARIVEIS MIGRANTES NO MIGRANTES

    TOTAL % TOTAL %

    Renda domiciliar per capita(*) 2.493,47 2.279,84 Renda proveniente do trabalho(*) 3.440,43 2.965,83 Homes 15.443 49.44 138.056 42.40

    Mulheres 15.792 50.56 187.542 57.60 Brancos 19.194 61.45 189.456 58.19

    No Brancos 12.041 38.55 136.142 41.81

    Idade(*) 37 39 Chefe da famlia 16.654 53.32 143.062 46.94

    Casados 16.906 54.13 165.968 50.97

    Possui filhos 9.383 59.42 113.893 60.73 Npes(*) 3 3 Urbano 30.757 98.47 318.141 97.71

    Rural 478 1.53 7.457 2.29 Casa prpria 17.614 56.39 252.512 77.55

    Energia eltrica 31.033 99.97 325.041 99.98

    gua (Rede geral de distribuio) 25.521 81.71 274.798 84.40 Horas Trabalhadas(*) 38 37 TOTAL 27.389 7.76 325.598 92.24

    Fonte: CENSO 2010. Elaborao do autor. Obs: (*) mdia

    5.2. Resultados do Modelo

    Nesta subseo sero apresentados e analisados os resultados da estimao do

    modelo emprico proposto a fim de captar a influncia relativa dos principais fatores

    de atrao e/ou repulso de indivduos qualificados por parte dos municpios

    pernambucanos.

    A disponibilidade de acesso a educao de nvel superior (IES) a primeira

    relao a ser testada. Em todas as especificaes adotadas tem-se que a presena

    de instituies de ensino superior est positivamente relacionada ao saldo de

  • 17

    migrao qualificada lquida. Logo, os municpios que possuem IES, na mdia,

    tendem a atrair mais migrantes com o perfil analisado.

    Conforme demonstra o QUADRO 2, a varivel populao, ao contrrio do que

    era esperado, apresenta relao negativa com a varivel endgena do modelo de

    regresso. O sinal negativo desta varivel aponta uma tendncia de direcionamento

    dos fluxos migratrios qualificados para os municpios de menor porte populacional.

    Logo, pode-se dizer que, durante o perodo de anlise, os municpios menos

    populosos exibiam melhores perspectivas de retorno ao investimento em capital

    humano.

    QUADRO 2

    Resultados da regresso por OLS (Ordinary Least Squares)

    Varivel Dependente: SMQL (1) (2) (3) (4) (5) (6)

    OLS OLS OLS OLS OLS OLS

    IES em 2005 41.9753** (20.6329)

    40.6133** (19.6398)

    93.0889*** (20.8216)

    93.4821*** (20.6857)

    90.2615*** (21.3287)

    90.9250*** (21.8499)

    Populao em 2000 -0.0227***

    (0.00204)

    -0.0226***

    (0.00182)

    -0.0223***

    (0.00141)

    -0.0223***

    (0.00140)

    -0.0222***

    (0.00138)

    -0.0222***

    (0.00139)

    Eleitores (mdia 2000-2004) 0.0412***

    (0.00350)

    0.0406

    (0.00315)

    0.03145***

    (0.00263)

    0.0312***

    (0.00264)

    0.0318***

    (0.00278)

    0.0316***

    (0.00285)

    IDHM em 2000 -672.6394***

    (165.4937) -694.7176***

    (167.9683) -646.6650***

    (120.1415) -659.9062***

    (119.7133) -637.7763***

    (135.5789) -633.0318***

    (135.2638)

    ndice de Gini em 2000 245.4336**

    (115.1953)

    250.0174**

    (112.3015)

    186.3468*

    (98.5776)

    164.9979*

    (99.6670)

    176.7542*

    (99.7075)

    184.6283*

    (103.5701)

    Mdicos por mil hab. em 2000

    104.0817**

    (43.9531)

    71.8236**

    (35.8474)

    69.1648*

    (36.2164)

    62.73444*

    (34.0830)

    62.5882*

    (34.3092)

    Estoque de capital humano

    0.00012*** (0.00003)

    0.00013*** (0.00003)

    0.00012*** (0.00004)

    0.00012*** (0.00004)

    PBF em 2005

    -0.0342** (0.01659)

    -0.0320* (0.01780)

    -0.0321* (0.01783)

    Homicdios (mdia 2000-2005)

    -179.2898

    (177.5279)

    -184.1127

    (174.7617)

    Custo de transporte at a capital

    -0.01134

    (0.03198)

    Constante 252.0429**

    (115.2544)

    260.4347**

    (114.3802)

    314.9612***

    (92.3901)

    314.9612***

    (92.3901)

    328.3727***

    (105.7657)

    325.4932***

    (105.4624)

    Observaes 185 185 185 185 185 184

    R-squared 0.8715 0.8778 0.9051 0.906 0.9074 0.9075

    AIC 2.188,19 2.180,89 2.136,17 2.136,36 2.125,12 2.126,99

    BIC 2.207,51 2.203,44 2.161,94 2.165,35 2.157,27 2.162,36

    Fonte: Elaborao prpria. Notas: ( ) erros-padro ; *** significante a 1%; ** significante a 5%; * significante a 10%;

    AIC Akaike Information Criterion; BIC Schwarz's Bayesian Information Criteria.

    No que diz respeito influncia dos coeficientes relacionados ao fator poltico,

    mensurado pela quantidade mdia de eleitores que compareceram as urnas entre

    2000 e 2004, os resultados demonstram a existncia de uma relao positiva entre

    esta varivel e o saldo de migrao qualificada lquida. Portanto, os municpios mais

    representativos politicamente tendem a atrair mais migrantes.

  • 18

    Os sinais dos coeficientes associados s variveis IDHM e ndice de Gini no

    expressam o tipo de relao esperada com o SMQL. No primeiro caso, a relao

    inversa e no segundo a relao direta. Logo, o fluxo migratrio de indivduos

    qualificados em Pernambuco tem se direcionado para as reas menos

    desenvolvidas, do ponto de vista humano, e mais dspares, do ponto de vista social.

    Considerando a relao positiva existente entre a varivel estoque de capital

    humano e o SMQL infere-se que, estas reas tendem a apresentar melhores

    perspectivas de retorno ao investimento em capital humano, pelo menos durante o

    perodo analisado.

    A varivel referente quantidade de benefcios concedidos pelo Programa Bolsa

    Famlia possui uma relao inversa com o SMQL em todos os modelos, sugerindo,

    assim, que a ampliao da quantidade de benefcios concedidos ao municpio pelo

    governo federal tende a provocar uma reduo de seu SMQL.

    Duas variveis relacionadas com as amenidades foram testadas. A primeira foi

    a razo do nmero de mdicos por mil habitantes, que serve como proxy para

    mensurar a disponibilidade de acesso a sade, a qual apresentou uma relao

    significativa e positiva com a varivel endgena do modelo. Isto indica que os

    migrantes tendem a deslocar-se para as localidades cuja disponibilidade de acesso a

    sade maior. A segunda foi proporo de homicdios no total de bitos. Esta

    varivel apresentou sinal negativo, como o esperado, porm seu coeficiente no foi

    estatisticamente significativo.

    A varivel custo de transporte at a capital tambm no apresentou significncia

    estatstica. Vale salientar que a constante foi significante em todos os modelos. Com

    relao aos critrios de seleo de modelos Akaike e Schwarz, os resultados

    demonstram que o modelo da especificao 5 (QUADRO 2) aprimora o poder

    explicativo da estratgia emprica adotada.

    CONSIDERAES FINAIS Este trabalho teve como objetivo analisar as caractersticas municipais que

    impactaram na atrao e/ou repulso de indivduos qualificados em Pernambuco em

    2010. Para tanto, foi estimado um modelo emprico por meio do mtodo OLS

    (Ordinary Least Squares) atravs da utilizao dos microdados do Censo de 2010,

    alm de dados fornecidos pelo Ministrio da Educao (MEC), pelo Programa das

  • 19

    Naes Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e pelo Instituto de Pesquisa

    Econmica Aplicada (IPEA).

    Inicialmente, realizou-se a construo e mapeamento do ndice de migrao

    qualificada lquida para todos os municpios pernambucanos a fim de facilitar a

    identificao daqueles que presenciaram um processo de fuga de crebros (brain

    drain) e os que, por outro lado, observaram a chegada de migrantes com alto nvel

    de qualificao durante o perodo de anlise.

    Alm disso, demonstrou-se que o grupo dos migrantes composto, em mdia,

    por chefes de famlia do sexo feminino, brancas, de 37 anos com unio estvel e

    filhos. Moram, em sua maioria, com mais duas pessoas em residncias prprias,

    com energia eltrica e gua canalizada proveniente de rede geral de distribuio.

    Trabalham mais e recebem cerca de R$ 474,60 a mais do que os no migrantes.

    Os resultados do OLS mostram que a existncia de instituies de ensino

    superior, o tamanho da populao, a disponibilidade de acesso a sade (mdicos), o

    estoque de capital humano, o desenvolvimento humano, o nvel das disparidades

    sociais, a representatividade poltica e a quantidade de benefcios concedidos pelo

    programa bolsa famlia so fatores fundamentais para explicar o fluxo de migratrio

    intermunicipal de mo de obra qualificada no estado de Pernambuco.

    REFERNCIAS

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