alma gran

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Português 10.º ano Dalila Guerra Escola Secundária de Penafiel Grupo I - Guião de análise do conto “ Alma – Grande “ de Miguel Torga. 1. O autor – perfil biobibliografico “O que dizemos ou o que fazemos pouco ou nada revela de nós. Por mim falo. Converso, escrevo páginas maciças de confissão, actuo, pareço transparente. E quem um dia quiser saber quem eu fui terá de adivinhar.” (…) “ As pessoas confundiram o meu temperamento de modéstia com orgulho, pudor com egoísmo, franqueza com agressividade, desinteresse com estratégia.” Miguel Torga Diário XI “Olhamos o seu perfil duro, como uma fraga talhada a pico e sofrimento, mas sabemos que por detrás dos seus olhos inquietos e perscrutadores há uma alma cândida e fraterna, sedenta de ternura, como a de uma criança” António Arnaud “ Para ser grande sê inteiro / nada teu exagere ou exclui… Esta inteireza que Ricardo Reis preconiza é a marca de Miguel Torga. E se nele há exagero trata – se da sua espontaneidade desmesurada de uma forma intima, de uma juventude indomável de uma ambição em absoluto…”

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Português 10.º anoDalila Guerra

Escola Secundária de Penafiel

Grupo I - Guião de análise do conto “ Alma – Grande “ de Miguel Torga.

1. O autor – perfil biobibliografico

“O que dizemos ou o que fazemos pouco ou nada revela de nós. Por mim falo. Converso, escrevo páginas maciças de confissão, actuo, pareço transparente. E quem um dia quiser saber quem eu fui terá de adivinhar.”

(…)

“ As pessoas confundiram o meu temperamento de modéstia com orgulho, pudor com egoísmo, franqueza com agressividade, desinteresse com estratégia.”

Miguel Torga Diário XI

“Olhamos o seu perfil duro, como uma fraga talhada a pico e sofrimento, mas sabemos que por detrás dos seus olhos inquietos e perscrutadores há uma alma cândida e fraterna, sedenta de ternura, como a de uma criança”

António Arnaud

“ Para ser grande sê inteiro / nada teu exagere ou exclui… Esta inteireza que Ricardo Reis preconiza é a marca de Miguel Torga. E se nele há exagero trata – se da sua espontaneidade desmesurada de uma forma intima, de uma juventude indomável de uma ambição em absoluto…”

“(…) escritor situado no concreto, ligado ao húmus natal, dir – se – a que pela via do casticismo atinge a universalidade! É dizer pouco mas significa muito.”

Jacinto Prado Coelho

“Como é Torga? (…) Não direi que seja um homem de trato fácil (…) mas não é intratável como o pintam. Temos de respeitar a sua maneira de

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ser. Se lhe batermos à porta com outro intuito que não seja de o ouvir ou ele nos ouvir, sujeitamo – nos a um desaire. Mas se de recta intenção lhe batermos a porta. A porta abrir – se – a para um diálogo não raro cordial. (…) Pode o interlocutor ter outras crenças religiosas, outras ideias políticas, outras concepções literárias: essas divergências, longe de serem obstáculo ao diálogo, estimulam – no. (…) Tudo que é simples, espontâneo, natural como um brotado de terra o comove. Daí que às obras sofisticadas prefira as genuínas - essas que têm o gosto forte da terra como vinho da boa cepa, parecem ter o gosto forte da terra e o sabor da uva. Os livros que prefere são, pois, os de raízes bem mergulhadas no húmus - livros que, nacionais na fonte, são universais nos propósitos. Os seus heróis na literatura e na vida são os homens e mulheres de carne e sangue (…) se quisermos ferir – lhe a corda sensível é falar do Douro, de negrilho de guarda à casa natal em S. Martinho de Anta, de S. Leonardo da Galafura, do reino maravilhoso de Trás – os - Montes , do Portugal telúrico e mítico de toda a sua grandeza que a nossa pequenez não vê.”

João Bigotte Chorão

” O seu papel não foi, como nunca o é o de um escritor enquanto tal, o de povoar o seu reino maravilhoso com ficções consoladoras, mas de assumir pela escrita um drama de séculos que a obra pode invocar mas não resolver.”

“ (…) Na realidade, porem, é sobretudo e antes de tudo, a sua terra de infância transmontana, dura, fria e pura, sem mácula do pecado, lastro de toda a sua obra e objecto de infinita complacência (…)”

Eduardo Lourenço

“ Exigente com os outros porque exigente consigo, o seu grande compromisso é com a palavra e a responsabilidade ontológica do acto de escrever. Escrever não é um pretexto fútil para a mundiciência e a inconfidência , mas é um testemunho em que o poeta exprime o homem, numa intima e total coerência.”

João Bigotte Chorão

1.1 À luz das citações transcritas, apresenta os traços da personalidade de Miguel Torga.

1.2 Relaciona o verso de Ricardo Reis com os traços caracterizadores do autor.

1.3 Apresenta algumas características da sua obra.

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2. O conto

“(…) o conto propriamente dito, depois de ser oral, tornara – se escrito, e adquiriria com o Realismo, uma maioridade que de maneira nenhuma o privava das suas prerrogativas seculares. O conto sempre contou em poucas páginas uma história que pela sua qualidade oral se manteve mais em harmonia com a voz do contador ou do contista (…)”

João Gaspar Simões

“ (…) as categorias da narrativa que de um modo mais notório são atingidas pela reduzida extensão do conto são a acção, as personagens e o tempo. No que à primeira vista diz respeito, importa notar que o conto tende à concentração dos eventos: sendo normalmente linear, sem consentir a inserção de intrigas secundárias que o romance admite, a acção do conto baseia – se precisamente nessa concentração e nessa linearidade a sua capacidade de seduzir o receptor (…)”

Carlos Reis

“ No conto tudo precisa de ser apontado num risco leve e sóbrio: das figuras deve ver – se apenas a linha flagrante e definidora que revela e fixa uma personalidade, do sentimento apenas o que caiba num olhar, da paisagem somente os longes, numa cor unida.”

Campos Matos

16.1 Analisa as citações transcritas e dá a tua opinião acerca de uma ou várias.

16.2 Atendendo à história do conto e ao tipo de discurso, aponta uma possível opinião de Miguel Torga acerca da Eutanásia. Justifica claramente a tua resposta.

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17. Identifica os seguintes recursos expressivos, apontando a sua funcionalidade.

“ Riba Dal é terra de judeus. Baldadamente, pelo ano fora, o padre João benze, perdoa, baptiza e ensina o catecismo por perguntas e respostas.”“ (…) tenaz das suas mãos”“O velho a aceitar o destino de abreviar a morte como um rio aceita o movimento”“ atravessa impávido , silencioso”(…) pela rua abaixo, só o vento falava. Rouco de tanto bradar, monocórdico, persistente.”“ tinha de subr pela encosta acima a lutar como um barco num mar encapelado”“ Alto, mal encarado, nariz adunco (…)”“ aquele pai da morte”“ pela rua baixo, só o vento falava(…)”“ através dos passos lentos e pesados pelo corredor ficava um angústia calada (…)”“ Isaac era cedro do Líbano(…)”“ E os três formavam como que uma ilha de desespero no mar calmo da povoação”

Grupo II - Propostas de outras actividades

Trabalho de Pesquisa

1. Judeus em Portugal – realiza uma pesquisa tendo em conta os seguintes itens:

Época histórica Dualidade judeus / cristãos Situação dos cristãos novos Posição da Igreja

2. Eutanásia - realiza uma pesquisa tendo em conta os seguintes itens: Eutanásia – Suicídio Eutanásia activa versus passiva

Trabalho em Oficina de Escrita

1. Redige um comentário comparativa entre o “ Doutor Morte “ Jack Revorkian e a personagem Torguiana Alma – Grande.

2. Elabora um texto de opinião acerca da atitude da igreja face à “farsa” dos cristãos - novos.

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3. Das citações transcritas e a luz do conto analisado, selecciona uma e redige um texto de opinião.

“ No caso particular da ficção Torguiana, as personagens polarizam sempre a narrativa e assumem a categoria de marcos identificadores da obra, pois são, geralmente tipos singulares carregados de simbolismo, que se projectam vincadamente, no estaco e no tempo do seu universo diegético.”

“ Desses abafadores encarregados de abreviar as penas deste mundo, o maior que há memória é Alma – Grande (…)o Alma – Grande era esse e desempenhava de tal modo o seu papel que só na morte, assim semeada como um dever, encontrava a sua grandeza.”

“Os tipos Torguianos são, pois, figuras vivas e autênticas, arrancadas ao húmus, à realidade portuguesa contemporânea, que se movimentam por quer por entre as rudes fragas transmontanas, quer nas calçadas polidas das urbes cosmopolitas. Homens e bichos, e homens que são bichos, estão esculpidos a fogo, e cada traço é, neles, tão indissociável como o céu do mar, ou a montanha dos vales que a circundam e justificam. São tipos inteiriços, de uma força avassaladora, emblemáticos, impondo – se verdadeiros protótipos literários e humanos, pela sua singularidade primordial.”