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Oralidade e Naturalidade na Tradução Audiovisual: os desafios técnicos, culturais e linguísticos na tradução de gírias, expressões idiomáticas e expressões convencionais na legendagem do sitcom The Middle Aline Carolina dos Santos Mehedin 1 Resumo O presente artigo tem por objetivo analisar as legendas do sitcom The Middle com o intuito de observar os desafios de cunho técnico, cultural e linguístico que os tradutores devem transpor, e observar se é possível manter a naturalidade, a oralidade e o teor de humor nas traduções de gírias, expressões idiomáticas ou convencionais. A metodologia situa-se nos estudos descritivos de tradução de Campos (1987) e Rónai (2012) e em duas teorias de tradução; a Teoria da Relevância, de Sperber e Wilson (1987), e a Teoria do Escopo, de Vermeer (1996). Complementam a análise, os estudos de tradução audiovisual, pautados nas pesquisas de Diáz e Remael (2007); e também os estudos da Tradução de Humor, de Rosas (2002), e a Teoria da Superioridade, de Hobbes (1840). Foram analisadas amostras de gírias, expressões idiomáticas ou convencionais coletadas de todos os episódios da primeira temporada de The Middle, com o objetivo de verificar principalmente se o humor, a oralidade e a naturalidade foram mantidos nas legendas em português e quais foram os processos mais utilizados pelos tradutores nas legendas. As amostras revelaram que os três processos mais utilizados na tradução de legendas com gírias, expressões idiomáticas e expressões convencionais neste sitcom foram a explicitação, a substituição e a transposição e que foi possível manter a naturalidade e a oralidade nas legendas e o teor do humor, através do conhecimento linguístico, cultural e também criatividade por parte do tradutor para encontrar as melhores soluções para as dificuldades no projeto. Palavras-chave: Desafios da legendagem de sitcoms. Tradução de humor. Conhecimento cultural e linguístico. Gírias, expressões idiomáticas, expressões convencionais. 1 Professora particular de Língua Inglesa, Tradutora e Revisora dos pares ING <>BPOR. E-mail: [email protected].

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Oralidade e Naturalidade na Tradução Audiovisual: os desafios técnicos, culturais e

linguísticos na tradução de gírias, expressões idiomáticas e expressões convencionais

na legendagem do sitcom The Middle

Aline Carolina dos Santos Mehedin1

Resumo

O presente artigo tem por objetivo analisar as legendas do sitcom The Middle

com o intuito de observar os desafios de cunho técnico, cultural e linguístico que os

tradutores devem transpor, e observar se é possível manter a naturalidade, a oralidade

e o teor de humor nas traduções de gírias, expressões idiomáticas ou convencionais. A

metodologia situa-se nos estudos descritivos de tradução de Campos (1987) e Rónai

(2012) e em duas teorias de tradução; a Teoria da Relevância, de Sperber e Wilson

(1987), e a Teoria do Escopo, de Vermeer (1996). Complementam a análise, os estudos

de tradução audiovisual, pautados nas pesquisas de Diáz e Remael (2007); e também

os estudos da Tradução de Humor, de Rosas (2002), e a Teoria da Superioridade, de

Hobbes (1840). Foram analisadas amostras de gírias, expressões idiomáticas ou

convencionais coletadas de todos os episódios da primeira temporada de The Middle,

com o objetivo de verificar principalmente se o humor, a oralidade e a naturalidade

foram mantidos nas legendas em português e quais foram os processos mais utilizados

pelos tradutores nas legendas. As amostras revelaram que os três processos mais

utilizados na tradução de legendas com gírias, expressões idiomáticas e expressões

convencionais neste sitcom foram a explicitação, a substituição e a transposição e que

foi possível manter a naturalidade e a oralidade nas legendas e o teor do humor,

através do conhecimento linguístico, cultural e também criatividade por parte do tradutor

para encontrar as melhores soluções para as dificuldades no projeto.

Palavras-chave: Desafios da legendagem de sitcoms. Tradução de humor.

Conhecimento cultural e linguístico. Gírias, expressões idiomáticas, expressões

convencionais.

1 Professora particular de Língua Inglesa, Tradutora e Revisora dos pares ING <>BPOR. E-mail:

[email protected].

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Introdução

Neste artigo, será apresentada a análise de legendas coletadas do sitcom

americano The Middle, sendo essas amostras focadas em gírias, expressões

idiomáticas e expressões convencionais. Os principais objetivos desta análise serão

observar os possíveis desafios técnicos, culturais e linguísticos neste tipo de projeto de

legendagem; observar os processos de tradução escolhidos pelos tradutores em cada

legenda, e; constatar se o tradutor foi bem sucedido na questão de manter a

naturalidade e a oralidade das falas dos personagens, respeitando aspectos como

cultura e humor.

O suporte teórico da presente análise será pautado primeiramente nos estudos

descritivos de tradução, como os de Campos (1987) e Rónai (2012) e em duas teorias

de tradução: a Teoria da Relevância, através de estudos de Sperber e Wilson (1987), e

a Teoria do Escopo, de Vermeer (1996). Como a pesquisa será focada em

legendagem, complementam a análise os estudos de tradução audiovisual, pautados

nas pesquisas de Diáz e Remael (2007), principalmente. Na questão referente ao

humor, a pesquisa será complementada também pelos estudos da Tradução de Humor,

de Rosas (2002), e pela Teoria da Superioridade, de Hobbes (1840).

Serão analisadas amostras de gírias, expressões idiomáticas e expressões

convencionais coletadas de todos os episódios da primeira temporada do sitcom The

Middle, ressaltando que a análise será meramente descritiva, observando

principalmente se o humor, a oralidade e a naturalidade foram mantidos nas legendas

em português.

Os desafios técnicos, culturais e linguísticos

A legendagem é um campo da tradução que vem crescendo exponencialmente

no mundo todo. Com o avanço das tecnologias computacionais, de satélite, cabos de

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fibra ótica, mais pessoas estão tendo acesso a programas internacionais e, por essa

razão, a figura do tradutor de material audiovisual vem sendo cada vez mais

requisitada. Há vários desafios no que concerne a profissão de tradutor audiovisual que

serão explorados nas seções a seguir.

Tradução e Legendagem

Antes de tudo, é importante que se defina o que é tradução, tradução audiovisual

e legendagem para que o presente artigo fique bem posicionado e compreendido. A

definição de tradução no dicionário Larousse da língua portuguesa (2009, p. 811) é "ato

ou efeito de traduzir". Geir Campos, no livro O que é tradução? (1987, p. 7),

complementa:

Enquanto ato, leva o tempo que o tradutor emprega no seu trabalho; como efeito, é o que resulta desse trabalho. O verbo traduzir vem do verbo latino TRADUCERE, que significa conduzir ou fazer passar de um lado para o outro, algo como atravessar.

Outra definição de tradução é a do ensaísta inglês John Cunnison Catford (apud

Campos, 1987, p.11) que disse que “tradução é a substituição de material textual de

uma língua por material textual equivalente em outra língua”. Embora não tão

claramente, está subentendida na opinião de Calford, quando se refere a “material

textual”, que não são meramente palavras substituídas de uma língua para outra, mas

existe toda uma questão semântica envolvida, que deve ser posta em primeiro plano e,

só desta forma é que se conseguirá atingir o objetivo específico da tradução e é

também marcante em sua citação a palavra "equivalente" o que nos traz à tona a

discussão se é possível fazer uma tradução realmente fiel ao texto ou se ela sempre

será uma cópia em outra língua de um texto. Nesta questão, Paulo Rónai, em seu livro

Escola de Tradutores, expõe seu ponto de vista:

A fidelidade alcança-se muito menos pela tradução lateral do que por uma substituição contínua. A arte do tradutor consiste justamente em saber quando pode verter e quando deve procurar equivalências. (2012, p. 24)

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Pensando nesta questão da equivalência em tradução que Catford e Rónai

levantaram em suas definições, as duas teorias de tradução nas quais este trabalho foi

baseado foram a Teoria da Relevância e a Teoria do Escopo (ou Skopostheorie).

A Teoria da Relevância é uma teoria da área da Pragmática e foi proposta por

Dan Sperber e Deirdre Wilson. É uma teoria que considera as inferências implícitas na

comunicação e argumenta que o ouvinte/o leitor/o público irá buscar por significado em

qualquer situação que envolva comunicação e, assim que encontrar o significado que

faça jus às suas expectativas de relevância, irá parar a busca e o processamento por

mais significado. Essa não é uma teoria da Linguística em sentido estrito, pois permeia

entre as áreas da Cognição e da Comunicação. Para Sperber e Wilson, a cognição

humana tem uma forte tendência a sempre buscar a relevância na comunicação.

Segundo Sperber e Wilson, em artigo publicado em 1987 num periódico da

Universidade de Cambridge, p.465:

A cognição humana objetiva o melhoramento da quantidade, qualidade e

organização do conhecimento do indivíduo. Para alcançar esse objetivo do modo mais eficiente possível, o indivíduo precisa, a todo momento, tentar disponibilizar seus recursos de processamento à informação mais relevante. [...] à informação que tem maior probabilidade de gerar o maior aumento de conhecimento com o menor esforço de processamento. (tradução nossa).

A segunda teoria na qual o presente artigo foi baseado é a Teoria do Escopo.

Skopos em grego significa propósito e esse é o principal fundamento dessa teoria, que

é um conceito do campo dos estudos de tradução e argumenta que a tradução é uma

atividade com um propósito final e que se aplica a qualquer projeto de tradução. Essa

teoria foi estabelecida pelo linguista alemão Hans Vermeer e defende que a tradução e

a interpretação devem, acima de tudo, levar em consideração a função da mensagem,

tanto no texto fonte quanto no texto meta. Para Vermeer, traduzir significa produzir um

texto meta numa situação meta com um propósito meta para uma audiência meta, ou

seja, a função da mensagem deve ser passada até o receptor final, custe o que custar

em termos de linguagem. Para Vermeer, "[...] os textos meta variam dependendo do

escopo que se pretende alcançar"; e a tradução "é uma ação que é determinada por

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sua finalidade (está em função da sua finalidade). Em tradução, vale dizer que o fim

justifica os meios". (Vermeer, 1996, p.84 apud Rosas, 2002, p.47).

A Teoria do Escopo serve de base, principalmente, para estudos que envolvam

tradução e cultura. Nas palavras de Vermeer:

A língua meta, o translatum, é direcionada à cultura meta, e é essa que define

sua adequação. É por isso que os textos fonte e meta podem diferenciar-se um do outro consideravelmente, não somente na formulação e na distribuição do conteúdo, mas também em relação aos objetivos que são buscados em cada um, e são nesses objetivos que a organização do conteúdo é, de fato, determinada". (Vermeer, 2000, p.229 - tradução nossa).

A área de tradução é muito abrangente e ampla e compreende vários ramos. A

tradução audiovisual é um conjunto de práticas de tradução de filmes, séries,

programas de TV, novelas, documentários, palestras, desenhos, tanto projetados para

o cinema quanto para a televisão ou distribuição em VHS, DVD ou Blue-Ray. Nessa

área o tradutor pode contribuir de duas formas: fazendo tradução para legendagem ou

para dublagem. O presente artigo discute os desafios que permeiam o trabalho do

tradutor de material audiovisual no que diz respeito à naturalidade e às adequações

necessárias nos materiais traduzidos para a legendagem, que é assim definida por Diáz

e Remael em seu livro Audiovisual Translation: Subtitling, de 2007:

A legendagem pode ser definida como uma prática de tradução que consiste

em apresentar um texto escrito, geralmente na parte inferior da tela, que objetiva recontar o diálogo original dos falantes, assim como os elementos discursivos que aparecem na imagem (cartas, inscrições, grafite, sinalizações, etc.) e a informação que está contida na trilha sonora (canções e outras vozes). (tradução nossa).

No campo da legendagem, há vários detalhes técnicos que podem dificultar o

trabalho do tradutor, entre eles o equilíbrio entre a imagem, o tempo de fala e o texto

escrito traduzido, ou seja, para que se obtenha o sincronismo na legendação, é

necessário que se observe o tempo de apresentação do material a ser traduzido, o

tempo de entrada e retirada da legenda e o tempo de leitura do telespectador. Sabine

Gorovitz, em sua dissertação de mestrado sobre legendagem, expõe essa questão:

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Além desses obstáculos (de linguagem), trata-se de uma redução significativa

dos elementos semânticos. O tradutor, pelas limitações técnicas impostas, deve resumir e sintetizar ao máximo o diálogo, tentando produzir uma mensagem curta e clara e tendo unidade semântica. Essas restrições são condicionadas pelas necessidades do olho físico em relação ao tempo de leitura. Assim, a mensagem deve estar contida em, no máximo, duas linhas de até 56 caracteres. (2006, p.65)

O tradutor de material audiovisual para legendagem também tem um outro

dificultador que é a questão de prazos. Tradutores que trabalham para estúdios

grandes de cinema e de televisão muitas vezes têm que trabalhar com prazos muito

curtos e, além da tradução em si, precisam fazer as marcações dos tempos das

legendas e, para isso, precisam aprender a trabalhar com softwares bem específicos.

Nas seções a seguir, o artigo trata de outros desafios no trabalho de legendagem, mais

especificamente a questão da tradução de humor e o conhecimento da cultura fonte e

da cultura meta.

Cultura e Humor

Existem várias definições do que vem a ser cultura; uma delas é que cultura

engloba estilos de vida, costumes, hábitos, crenças, línguas e valores de certa

comunidade, cidade, país ou região. Vermeer (apud Nikolic, 2011) definiu cultura como

"a totalidade de normas, convenções e opiniões que determinam o comportamento dos

membros de uma sociedade e todos os resultados deste comportamento" (tradução

nossa). Para tradutores se faz extremamente necessário ter muito conhecimento sobre

a cultura fonte e também sobre a cultura meta para que o texto a ser transmitido não

esteja correto somente em termos linguísticos, mas que faça sentido também no que se

refere ao mundo em torno da língua meta, levando-se em consideração aspectos

regionais, culturais, entre outros.

Um destes aspectos que pode variar de cultura para cultura é a questão do

humor. O humor é algo difícil de ser definido por ser algo subjetivo: o que pode ser

engraçado para uma pessoa talvez não o seja para outra e o humor está intimamente

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conectado com questões culturais, entre outras coisas. Existem várias teorias do

humor, provenientes das áreas de Filosofia, Psicologia e também da Linguística. A

teoria de humor utilizada para poder definir o que é engraçado e poder limitar a análise

dos dados levantados nesta pesquisa foi a Teoria da Superioridade.

A Teoria da Superioridade é uma das mais antigas teorias do humor e começou

a ser delineada por Platão e Aristóteles, que em seus estudos e escritos enfatizaram os

sentimentos mais agressivos que acabavam alimentando o humor. No entanto, a Teoria

da Superioridade costuma ser associada ao filósofo do século XVII, Thomas Hobbes,

que defende que o humor consiste na expressão de superioridade em relação ao objeto

do nosso riso. Em seu livro Treatise on Human Nature, de 1840, Hobbes expõe:

Os homens riem perante as dificuldades e as indecências, nas quais não se

espera encontrar graça ou gozação...Os homens também riem das fraquezas dos outros...Devo, por isso, concluir que a paixão relacionada ao riso nada mais é do que uma sensação de glória repentina proveniente do repentino entendimento de que possuímos alguma distinção ou eminência em nós mesmos em comparação com a fraqueza dos outros, ou de nós mesmos, num momento anterior de nossas vidas. Por isso, os homens riem de seus erros e besteiras de seus passados quando lembram delas; mesmo trazendo junto com as memórias uma certa desonra pelos erros cometidos. (Hobbes apud Gruner, 2000, p.13 - tradução nossa)

Segundo Hobbes, o humor elege sempre alguma vítima ou aponta para algum

defeito alheio, como é o caso de muitas piadas e anedotas. Mesmo quando o humor,

como frequentemente acontece, funciona como uma espécie de denúncia social ou

política, estará expressando superioridade moral, intelectual ou de outro tipo. O

presente artigo baseia-se nesta teoria e, consequentemente, na sua definição de humor

e na sua avaliação do que é engraçado pelo fato do objeto da análise ser um sitcom,

que explora o humor de uma maneira bastante peculiar, crítica e estereotipada.

Sitcom é a forma abreviada de situation comedy, comédia de situação, em

português. Essas séries exploram situações do cotidiano de um determinado grupo de

pessoas, de uma determinada classe social ou num determinado contexto e o humor

proveniente destas séries está intimamente relacionado com a cultura do ambiente

onde a série se passa e há uma grande exploração de certos estereótipos de tal

ambiente e de tal cultura e sempre que se explora estereótipos são inevitáveis as

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relações de superioridade ou, simplesmente, de diferenças entre uns personagens em

comparação com outros ou com os próprios telespectadores.

Rosas, em seu livro Tradução de Humor (2002, p.23), cita a linguista Nancy

Niedzielsky, que estuda as relações entre linguística e cultura, para explicar o senso de

humor.

O senso de humor depende de vários fatores sociais e mesmo individuais. Vez

que cada comunidade cultural organiza seu próprio sistema de valores, costumes e comportamentos de modo distinto do de qualquer outra comunidade, as normas e incongruências humorísticas variam de cultura para cultura. Na verdade, a percepção e a expressão do humor são determinadas pela lógica coletiva de uma dada comunidade e pela lógica particular, dela derivada, que possui cada membro dessa comunidade. (Niedzielsky, 1989, apud Rosas, 2002, p. 23)

Sitcoms são uma das expressões mais puras da cultura de um determinado lugar

e por isso se tornam um desafio para tradutores de legendas, pois além das

dificuldades e desafios técnicos do ofício, precisam decodificar o humor de certa cultura

e transferi-lo para uma outra cultura, fazendo o que for possível para que o senso de

humor seja preservado e que o conteúdo continue fazendo sentido. Isso condiz

perfeitamente com o que Rónai diz em seu livro Escola de Tradutores (2012, p.25):

"para ser fiel, o tradutor, além do indispensável conhecimento dos dois idiomas, precisa,

sobretudo, de imaginação". No entanto, a questão da fidelidade fica um tanto confusa

quando se trata de questões culturais, pois nem sempre existe a possibilidade de

manter-se completamente fiel ao texto, pois o que foi escrito ou dito originalmente talvez

não venha a fazer sentido para o leitor, ou no caso de material audiovisual, o

expectador; muitas vezes em um único projeto audiovisual poderá ocorrer tanto a

domesticação de termos quanto a estrangeirização. Assim explicam Diáz e Remael,

(apud Nikolic, 2011):

Não se trata somente de domesticação ou estrangeirização. Muitas vezes

acontecerá a domesticação de termos e ocorrerá também muitas vezes a estrangeiração, ambos os processos num mesmo projeto de legendagem. Tudo dependerá do tom, do escopo ou da função da tradução, e também de toda a ação da qual o tradutor faz parte.

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Diáz e Remael, em seu livro, Audiovisual Translation (2007, p. 202-207),

explicam que o tradutor de legendagem sempre terá que fazer escolhas e que há vários

processos que podem ocorrer em legendagem que serão pautados em questões

linguísticas, mas principalmente culturais. Esses processos são: 1) empréstimo, 2)

decalque, 3) explicitação, 4) substituição, 5) transposição, 6) recriação lexical, 7)

compensação e 8) omissão.

O empréstimo ocorre em uma situação na qual o texto ou frase fonte são

incorporados na língua meta porque a tradução não é possível e as duas línguas

utilizam a mesma palavra. O decalque é a tradução literal de uma palavra ou frase da

língua fonte para a língua meta. A explicitação ocorre quando o legendador tenta fazer

com que o texto fonte fique mais acessível, mais mastigado, para o espectador; isso

acontece através de uma especificação ou generalização. A substituição é uma forma

de explicitação e acontece muito em legendagem, principalmente por causa das

restrições de espaço e tempo das legendas. A transposição acontece quando um

conceito cultural de uma cultura é substituído pelo conceito cultural de outra. A

recriação lexical ou invenção de neologismos é usada na língua meta quando os

falantes da língua fonte também criam palavras. A compensação acontece quando o

tradutor, para não perder algo, tem de acrescentar palavras na tradução para a língua

meta ou fazer alguma alteração. E, finalmente, a omissão, que nada mais é do que o

corte de palavras na hora da tradução; sendo bastante criticada, porém inevitável em

muitos casos, novamente por causa de restrições relacionadas a tempo e espaço de

legendas ou porque não há nada na língua meta que possa equivaler em sentido.

Todos esses processos foram observados e estudados na análise dos dados.

Língua, Oralidade e Naturalidade

É fato que um tradutor necessita conhecer muito bem todas as línguas com as

quais trabalha. O conhecimento da língua fonte permite que ele compreenda o texto a

ser traduzido, com todas as suas particularidades e o conhecimento da língua meta é

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fundamental para que a mensagem seja transmitida de forma correta e que faça sentido

para os leitores/espectadores do material traduzido. No entanto, há uma categoria

especial de frases e palavras que podem complicar o trabalho do tradutor/legendador,

pois não dependem somente do conhecimento linguístico do tradutor. Essa é a

categoria das gírias, ditados populares, expressões convencionais e expressões

idiomáticas que, além do conhecimento linguístico, requer do tradutor também um

grande conhecimento cultural, tanto da cultura fonte quanto da cultura meta, pois nas

situações em que se usam essas expressões raramente existe a possibilidade de se

fazer uma tradução ipisis literis, ou seja, ao pé da letra, e é o conhecimento cultural do

tradutor e também a sua capacidade de imaginação e adaptação que poderão garantir

maior naturalidade na tradução, principalmente de legendas. Campos expõe a grande

importância do conhecimento cultural para que o trabalho do tradutor seja bem

realizado:

Não se traduz, afinal, de uma língua para outra, e sim de uma cultura para

outra; a tradução requer assim, do tradutor qualificado, um repositório de conhecimentos gerais, de cultura geral, que cada profissional irá aos poucos ampliando e aperfeiçoando de acordo com os interesses do setor a que se destine o seu trabalho. (Campos, 1987, p.27)

E quando relacionamos língua e cultura, não é somente uma questão de dialetos

e sotaques, mas também de convencionalidades na fala das pessoas de certo lugar e

de expressões e gírias que só fazem sentido naquele lugar. O tradutor, quando depara

com gírias e expressões convencionais ou idiomáticas, muitas vezes tem que transcriar

o sentido do diálogo, já que nem sempre, na verdade, muito raramente, haverá

equivalência de uma língua para outra e de uma cultura para outra nestes casos.

Gírias, ditos populares, expressões convencionais e idiomáticas são como uma

identidade de certo grupo, algo que traz unidade a um certo grupo de pessoas, ou uma

certa classe, ou de um lugar específico e o tradutor precisa estar muito atento a esse

tipo de identidade cultural. Segundo Ferreira, 1986, citado por Tagnin em seu livro

Expressões Idiomáticas e Convencionais:

Quando nos referimos ao 'jeito que a gente diz' estamos, na verdade, falando

de convenção, ou seja, daquilo que é aceito de comum acordo. As convenções

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linguísticas são os 'jeitos' aceitos pela comunidade que fala determinada língua. Assim, podemos chamar de convencionalidade ao aspecto que caracteriza a forma peculiar de expressão numa dada língua. (Ferreira apud Tagnin, 1989, p.11)

Quando se pensa em língua e cultura na tradução para legendas, há ainda mais

um detalhe técnico ao qual o tradutor deve prestar atenção: a questão da oralidade e

naturalidade. Um dos desafios é o fato de o tradutor legendador estar transformando

um texto que é falado, que naturalmente é acompanhado de diferentes entonações,

tons diferentes de voz, inflexões que podem trazer pressupostos e significados

subentendidos e também ocorrências intraduzíveis que podem significar algo como

hesitações, gaguejos, etc.; num texto escrito, que deve ser claro, conciso e que possa

ser lido e interpretado facilmente e rapidamente pelo espectador. Gorovitz coloca bem

essa questão ao dizer que "a legendagem, submetida a imposições técnicas, é um texto

'deficiente'; [...] e constitui uma transposição de linguagem oral, com todos os elementos

que ela carrega, para uma expressão econômica e restrita." (2006, p.10)

Como dito anteriormente, o tradutor de legendas, especificamente de seriados

de comédia, tem muitos desafios a serem contornados e vencidos num projeto deste

tipo. Ele deve estar muito consciente sobre o material com o qual trabalhará, ter um

bom entendimento linguístico e cultural a respeito do cenário de fundo e dos

personagens envolvidos no seriado, qual a relação de humor e cultura existente no

seriado e sempre procurar as melhores soluções possíveis em termos de transmissão

da mensagem, da construção/reconstrução do humor e da manutenção da naturalidade

no discurso. A seguir veremos como os legendadores do seriado The Middle

contornaram estes desafios.

Análise dos dados

O objeto de estudo para este trabalho foi a primeira temporada do seriado The

Middle, exibido legendado no Brasil pelo canal de televisão a cabo Warner Channel. O

seriado se passa na pequena cidade fictícia de Orson, em Indiana, nos Estados Unidos

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e retrata o dia a dia da família Heck, formada por Frankie e Mike Heck e seus filhos Axl,

Sue e Brick. O humor no seriado é bem sutil, mas expressa de forma crítica e irônica o

estilo de vida, economia, crenças, visões políticas, preconceitos e certos estereótipos

da sociedade americana. Segundo os produtores, o nome The Middle foi escolhido para

representar o meio, pois a família mora no meio do nada, são de classe média e

Frankie e Heck estão na meia idade. Para entender o humor crítico do seriado, é

importante conhecer os personagens e o que eles representam, assim como o lugar

que serve como pano de fundo para tudo.

Frankie Heck, interpretada pela atriz Patricia Heaton, é a personagem central do

seriado e aparece como narradora em várias partes do programa. Ela é esposa e mãe

dedicada e para ela não existe nada mais importante do que sua família, mesmo que

quase sempre ela tenha que colocar-se em segundo plano para cuidar deles. Frankie

iniciou os estudos na faculdade, mas não os concluiu e trabalha como vendedora na

Ehlert Motors, uma concessionária de automóveis, cujo dono é extremamente machista

e preconceituoso. Seu marido, Mike Heck, interpretado por Neil Flynn, é conhecido por

sua extrema honestidade e estabilidade emocional. Mike trabalha como gerente de uma

mineradora e é um pai e marido compreensível e dedicado. Parece ser meio ríspido,

mas ama sua família incondicionalmente.

Frankie e Mike são pais de Axl, Sue e Brick. Axl Heck, interpretado por Charlie

McDermott, é o filho adolescente mais velho de Frankie e Mike e passa o dia todo em

casa só de cueca samba canção. É extremamente sarcástico, preguiçoso, narcisista e

egoísta em relação aos irmãos. No entanto, de vez em quando, mostra que no fundo

tem um bom coração. Axl não gosta de estudar, só quer saber de namorar e jogar

basquetebol, tem uma banda e aparentemente teve o seu nome escolhido por causa de

Axl Rose.

Sue Heck, interpretada por Eden Sher, a filha do meio, também adolescente, é

uma garota de personalidade genuína, extremamente otimista e persistente, o que

muitas vezes faz com que vire motivo de piada, principalmente por parte de seu irmão

mais velho. Embora ela sempre esteja tentando se esforçar em todos os sentidos, é

simplesmente ignorada por professores e colegas, como se fosse invisível na escola.

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Ela se veste de maneira bem peculiar e usa aparelhos dentários e vive tentando fazer

parte de todos os grupos e clubes da escola, não desiste nunca.

Finalmente, o filho mais novo, Brick Heck, interpretado por Atticus Shaffer, é

simplesmente apaixonado por livros, passa o dia todo lendo e tem uma mania de repetir

sempre a última palavra que fala, num sussurro. Tem memória fotográfica, é o garoto

mais inteligente da classe, mas se distrai muito facilmente e vive postergando suas

tarefas. No seriado, fica meio subentendido que Brick sofre da Síndrome de Asperger,

pois não lida muito bem com situações em que tem que socializar com outras crianças

e adultos e tem muita dificuldade para fazer amigos.

Os cinco personagens principais e mais alguns extras moram na pacata cidade

fictícia chamada Orson, no estado de Indiana, que segundo eles mesmos, fica no meio

do nada e não tem nada de interessante, exceto pela maior vaca de poliuterano do

mundo, uma escultura que fica na entrada da cidade.

Para a análise, foram assistidos todos os episódios e foram coletadas de cada

episódio algumas amostras contendo gírias, expressões idiomáticas e quaisquer outros

tipos de frases que pudessem oferecer uma dificuldade maior ao legendador em

relação às línguas, à cultura e ao tipo de humor apresentado no seriado. Essas frases

foram analisadas com o objetivo de levantar quais foram os processos utilizados e as

soluções que o legendador adotou e se foi possível manter o humor, a oralidade e a

naturalidade do texto na tradução para as legendas em português. Para não tornar o

artigo tão extenso, foram transcritas aqui apenas as falas analisadas, sem o diálogo

inteiro de onde foram tiradas.

1 - Episódio Piloto (Escrito por DeAnn Heline e Eileen Heisler e dirigido por Julie Anne

Robinson)

1- Brick is a very quirky child. Brick é um garoto muito peculiar. Decalque

2 - Get out of town! Pare com isso! Explicitação

3 - You think you're some sort of a big shot just 'cause you play ball?

Você acha que é o cara só porque joga basquete?

Transposição

4 - All kids are screwed up. Todas crianças são estragadas. Decalque

5- I was at the end of my rope. Eu já estava sem saco. Transposição

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2 - Episódio Líder de Torcida (Escrito por DeAnn Heline e Eileen Heisler e dirigido por

Lee Shallat Chemel)

6 - If someone's gonna dash her hopes [...]

Se tem alguém que pode acabar com as esperanças dela [...]

Decalque

7 - Dork! Idiota! Decalque

8 - Knock it off! Parem com isso! Explicitação

9 - I'm not gonna sugarcoat it. Eu não vou amenizar a situação. Substituição

3 - Episódio A Comemoração Adiada (Escrito por Rob Ulin e dirigido por Gail Mancuso)

10 - Those days, they called it foosball.

Hoje em dia, é o que se chama de totó.

Transposição (totó é falado em apenas algumas regiões do Brasil).

11 - My daughter was telling me about her first big crush.

Minha filha estava falando sobre a primeira atração por um garoto.

Explicitação

4 - Episódio A Viagem (Escrito por Jana Hunter e Mitch Hunter e dirigido por Lee Shallat

Chemel)

12 - [...] to buy crap they don't want or need.

[...] para comprar porcarias que ele não precisam.

Decalque

13 - Sue was driven. She was driven by Mike all over Indiana.

Sue era levada. Ela era levada por Mike por toda Indiana.

Compensação

14 - I really thought I nailed the Sue thing.

Eu achei que mandei muito bem no caso da Sue.

Transposição

15 - But I stood my ground and explained the situation.

Mas eu não recuei e expliquei a situação.

Substituição

16 - If we don't hear before then, we'll step in.

Se nós não soubermos de nada, então interferimos.

Decalque

17 - There's this new boy in my class who eats his boogers.

Há um garoto novo na minha sala que come meleca.

Transposição

18 - [...] she's found some other poor sucker she can torment.

[...] ela encontrou outro idiota para incomodar.

Explicitação

5 - Episódio O Festival (Escrito por Alex Reid e dirigido por Ken Whittingham)

19 - Lawnmower races are lame. Corridas de cortador de grama são caretas.

Transposição

20 - Oh, mom, are you going to the booster club thing at school on Friday?

Ah, mãe, você vai no clube de apoio na escola na sexta?

Substituição

21 - I just feel like I've slacked off.

Eu acho que acabei relaxando. Explicitação

22 - He's gonna suck! Ele vai se sair mal! Explicitação

23 - The block party was finally here, and my worries were melting away.

O festival finalmente chegou e minhas preocupações acabaram.

Explicitação

24 - In Orson, Indiana, that's some serious trash-talking.

Em Orson, Indiana, isso é provocação séria.

Substituição

25 - And when you get the E quando você tem a chance de Explicitação

Page 15: Aline - Oralidade e Naturalidade na Tradução Audiovisual versão final do TCC

15

chance to give me a little shout-out, what do you do?

me dar um pouco de reconhecimento, o que faz?

6 - Episódio A Porta da Frente (Escrito por Russ Woody e dirigido por Michael Spiller)

26 - [...] to carry the torch for all

the lady-kind and [...]

[...] para dar o exemplo a todas as mulheres e [...]

Explicitação

27 - Over the next few days, I tried every sales trick in the book.

Nos dias seguintes, usei todos os truques de venda que conhecia.

Substituição

28 - The third time's the charm. A terceira tentativa é a que vale.

Explicitação

7 - Episódio O Arranhão (Escrito por DeAnn Heline e Eileen Heisler e dirigido por

Wendey Stanzler e Alex Reid)

29 - [...] you can see we're just your average family.

[...] você vê que somos uma família típica.

Transposição

30 - We have a teenage son that is a huge pain in the butt.

Temos um filho adolescente que é uma grande amolação.

Explicitação

31 - And at that moment, it

dawned on us [...]

Naquele momento, ficou claro para nós [...]

Explicitação

32 - Well, if this whole thing goes south, [...]

Bem, se isso tudo der errado [...]

Explicitação

33 - Any scorned woman would kill for this chance!

Qualquer mulher passada para trás mataria por essa chance!

Transposição

34 - I tried to be as mellow as Mike,[...]

Tentei ser tão madura quanto Mike, [...]

Decalque

35 - [...] but the truth is, I was a

basket case.

[...], mas na verdade, eu não sabia o que fazer.

Explicitação

36 - [...] it came in handy. [...] foi bem conveniente. Explicitação

8 - Episódio Ação de Graças (Escrito por Vijal Patel e dirigido por Michael Spiller)

37 - She just totally freaked out on me!

Ela teve um ataque! Substituição

38 - Oh, I am not dragging my butt through another corn maze.

Oh, eu não vou me arrastar por mais um labirinto no milharal.

Decalque

39 - [...] 'cause Big Mike's kind of a hoarder.

[...] porque o pai de Mike é o que se pode chamar de acumulador.

Explicitação

40 - That's why we're gonna pick up the slack [...]

É por isso que vamos pôr a mão na massa [...]

Transposição (não tão exata, pois a expressão significa "tirar o atraso")

41 - But if you're on the fence, don't fire me.

Mas se você estiver em dúvida, não me demita.

Explicitação

9 - Episódio Irmãos (Escrito por Rob Ulin e dirigido por Barnet Kellman)

42 - [...] really bugged the hell [...] realmente me incomodou. Substituição

Page 16: Aline - Oralidade e Naturalidade na Tradução Audiovisual versão final do TCC

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out of me.

43 - After all the crap that had been thrown at me that night [...]

Depois da noite difícil que tive [...]

Substituição

44 - I didn't really put my finger on why till I got home.

Não entendi muito bem o porquê até chegar em casa.

Explicitação

45 - And then it hit me. E então a ficha caiu. Transposição

46 - All the women in our family get a little loopy toward the end.

Todas as mulheres em minha família acabam ficando meio doidas.

Explicitação

47 - [...] a little ahead of schedule?

[...] um pouco antes da hora? Substituição

48 - Mike knew he was gonna have to bite the bullet.

Mike sabia que teria que criar coragem.

Explicitação

10 - Natal (Escrito por Roy Brown e dirigido por Barnet Kellman)

49 - It's worth a shot. Vale a pena tentar. Transposição

50 - [...] trying to get him out of his funk.

[...] tentando animá-lo. Substiuição

51 - I'm here busting my butt getting Christmas together, [...]

Estou aqui me esforçando para fazer o nosso Natal, [...]

Explicitação

52 - [...], I gotta bounce. [...] tenho que ir. Explicitação

53 - Don't get me wrong. Não me leve à mal. Transposição

11 - O Jeans (Escrito por Jana Hunter e Mitch Hunter e dirigido por Jamie Babbit)

54 - [...] but one thing doesn't change: teenagers suck.

[...] uma coisa nunca muda: adolescentes são um saco.

Transposição

55 - Okay, against all judgement, you can watch Doris.

Ok, apesar de tudo, você pode tomar conta da Doris.

Substituição

56- See if she buys it. Vamos ver se ela acredita. Explicitação

57 - And Sue was over the moon with her new jeans.

E Sue estava encantada com sua nova calça jeans.

Substituição

58 - Well, you are no picnic to live with either!

Bem, você não é moleza! Transposição

59 - Well, the joke's on her, [...] Azar o dela, [...] Transposição

60 - You totally rock! Você é demais! Transposição

12 - A Vizinhança (Escrito por Jana Hunter e Mitch Hunter e dirigido por Lee Shallat

Chemel)

61 - You know, it's time to take a stand.

Você sabe que já é hora de tomar uma atitude.

Explicitação

62 - [...] nicely played, little man. [...] boa sacada, garoto. Transposição

13 - A Entrevista (Escrito por Vijal Patel e Dirigido por Ken Whittingham)

63 - So Mike picked himself up. Mike sacodiu a poeira. Transposição

Page 17: Aline - Oralidade e Naturalidade na Tradução Audiovisual versão final do TCC

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14 - A Gritaria (Escrito por Rob Ulin e dirigido por Elliot Hegarty)

64 - Maybe we should call that one a write-off.

Talvez devemos deixá-lo de lado.

Explicitação

65 - Am I talking for my own health here?

Estou gastando meu latim à toa?

Transposição

66 - Okay, the point is, we've gotten into a bad pattern.

Acontece que entramos num ciclo ruim.

Substituição

67 - Cut yourself some slack. Seja paciente consigo mesma. Explicitação

68 - [...] and what happened is, is that it's a load of crap.

[...] o que acontece é que isso tudo é uma grande bobagem.

Explicitação

15 - Dia dos Namorados (Escritos por Bruce Rasmussen e dirigido por Chris Koch)

* Nada significativo foi encontrado neste episódio.

16 - O Concurso (Escrito por Eileen Heisler e DeAnn Heline e dirigido por Ken

Whittingham)

69 - But I had a lot on my plate! Havia muita coisa acontecendo. Explicitação

70 - It's not a big deal! Não é importante! Substituição

17 - O Rompimento (Escrito por Vijal Patel e dirigido por Wendey Stanzler)

71 - [...] chipping in and doing what we can for the common good.

[...] contribuindo e fazendo o que podemos para o bem comum.

Decalque

72 - [...] we have a proud history of lending a helping hand;

[...] nós temos um histórico de ajudar uns aos outros.

Explicitação

73 - [...] we have what I like to call my sucker list,

[...] temos o que chamamos de lista de otários.

Substiuição

74 - It's just that she's so... Going places...

É que ela vai alcançar muitas coisas...

Substiuição

75 - [...] and doesn't seem to want to go anywhere.

[...] e ele não vai conseguir nada.

Substituição

76 - Way to go, Mike. Muito bem, Mike. Transposição

77 - Are you nuts? Você está louca? Explicitação

18 - A Casa Divertida (Escrito por Roy Brown e dirigido por Chris Koch)

78 - [...] and they were called gold diggers,

[...] e elas eram chamadas de caça-dinheiro,

Substituição

79 - You think I should make my move while she's still hammered?

Você acha que devo agir, mesmo ela estando bêbada?

Explicitação

80 - Bear with us. She's in training.

Aguente firme. Ela está aprendendo.

Transposição

81 - I'm at work dealing with this nut bag [...]

Estou no trabalho lidando com esta louca [...]

Explicitação

82 - You are crackers, lady. Você é maluca, moça. Explicitação

Page 18: Aline - Oralidade e Naturalidade na Tradução Audiovisual versão final do TCC

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19 - Os Últimos Quatro (Escrito por Rob Ulin e dirigido por Alex Reid)

83 - She thinks I have trouble fitting in.

Ela acha que eu não consigo me misturar.

Substituição

84 - Well, then maybe you should just suck it up and go.

Então, talvez só resta a você conformar-se e ir.

Explicitação

85 - All signs are clear that he is coming.

Tudo indica que ele vai. Explicitação

86 - So just leave it alone! Então deixa quieto! Transposição

87 - Pull yourself together. Comporte-se! Substituição

88 - We got away with it. Nós escapamos dessa. Explicitação

20 - TV ou Não TV (Escrito por Vijal Patel e dirigido por Lee Shallat Chemel)

89 - Cut to the chase. Seja direto. Substituição

90 - Mr. Seifried, we're not cut out for the playground.

Mr. Seifried, nós não fomos feitos para brincar no parque.

Transposição

91 - [...] 'cause I thought we agreed to spin the wheel.

[...] porque achei que tínhamos combinado de arriscar.

Substituição

21 - Preocupação (Escrito por Bruce Rasmussen e dirigido por Lee Shallat Chemel)

92 - Food, drinks, games, the whole shebang.

Comida, bebida, e tudo mais. Substituição

93 - Yeah, right. Até parece! Transposição

94 - Whose greatest pearls of wisdom are "shake it off" and "man up."

Cujas grandes pérolas de sabedoria são "relaxa" e "deixa de ser fresco."

Explicitação e Transposição

95 - She would not be jerkin' you around like this.

Ela não brincaria assim com os seus sentimentos.

Transposição

96 - Mom, I didn't tell you I'm back with Morgan, 'cause I knew you'd flip out.

Mãe, eu não te contei que voltei com a Morgan, porque sabia que você ficaria louca.

Explicitação

97 - So could we just drop it? Podemos encerrar este caso? Transposição

98 - And with no scholarship, he can kiss college good-bye.

E sem bolsa de estudos, ele pode desistir da faculdade.

Substituição

22 - Dia das Mães (Escrito por Jana Hunter e Mitch Hunter e dirigido por Barnet

Kellman)

99 - Stop goofing around! Parem de brincadeira! Transposição

100 - Never mind. Deixa pra lá. Transposição

101 - Ship's pretty much sailed on that one.

A vaca já foi para o brejo. Transposição

102 - I could finally catch a break.

Pude finalmente ter uma folga. Explicitação

103 - It doesn't always live up to the hype.

Não faz jus às expectativas. Transposição

Page 19: Aline - Oralidade e Naturalidade na Tradução Audiovisual versão final do TCC

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23 - Sinais (Escrito por Eileen Heisler and DeAnn Heline e dirigido por Jamie Babbit)

104 - I make the chitchat. Eu jogo conversa fora. Transposição

105 - That's a lot of hassle. Dá muito trabalho. Explicitação

106 - The odd squad pageant. A apresentação dos esquisitos.

Explicitação

107 - Most of us take for granted.

Coisas que a maioria de nós considera praxe.

Transposição

108 - You wanna go down this road?

Você quer mesmo falar sobre isso?

Explicitação

109 - But it was kind of a pain to have to drive her.

Era um saco ter de levá-la. Transposição

110 - Attaboy! Bom garoto! Transposição

111 - The Heck barbecue was in full swing.

O churrasco dos Heck estava a todo vapor.

Transposição

112 - Yeah, Mike and Brick were never gonna be social butterflies.

Sim, Mike e Brick nunca seriam os reis da festa.

Transposição

24 - Regras Comuns (Escrito por DeAnn Heline e Eileen Heisler e dirigido por Wendey

Stanzler)

113 - I just can't seem to place her face.

Não consigo ligar o nome à pessoa.

Transposição

114 - And stay positive in the face of all odds.

E pensar positivamente apesar de tudo.

Explicitação

Com a análise concluída, é possível observar que foram utilizados principalmente

os processos de transposição, explicitação e substituição e que em todas as legendas

analisadas foram mantidas a naturalidade e a oralidade e que o teor de humor foi

preservado.

Conclusão

Após assistir a todos os episódios e acompanhar as legendas em inglês e a

tradução das mesmas para o português, conclui-se que o tradutor, ou tradutores,

buscou aproximar-se ao máximo do que poderia ser natural em nossa língua e cultura,

com clareza e habilidade e sem perder o toque de oralidade nas falas dos personagens

e conseguindo também transmitir o humor sutil e mais crítico presente na série The

Middle.

Page 20: Aline - Oralidade e Naturalidade na Tradução Audiovisual versão final do TCC

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Pela própria natureza das amostras (gírias, expressões idiomáticas e expressões

convencionais) já era de se esperar que houvesse poucos decalques, já que quase

nunca o significado destas expressões pode ser literal. Das 115 amostras em negrito, o

tradutor, ou tradutores, pôde usar decalque apenas 9 vezes. Nas outras amostras, há

43 usos de explicitação, pois muitas vezes o tradutor precisa explicar um pouco o que o

personagem quis dizer com outras palavras e quando isso não é possível por questões

de limitação de espaço da legenda e tempo, o tradutor opta pela substituição, presente

nas amostras 24 vezes. Ou seja, ele explica, mas de uma forma um pouco mais

concisa, substituindo toda a explicação por uma palavra ou expressão equivalente mais

fácil ou mais curta. Apenas em 38 amostras, foi feita a transposição, trazendo as

expressões para a nossa cultura ao fazer uso de gírias e expressões idiomáticas ou

convencionais na Língua Portuguesa. Só houve um caso de compensação, pois

nenhuma das outras técnicas faria jus ao texto em inglês, portanto o tradutor teve que

ser extremamente criativo e adaptar o texto (amostra 13) para dar conta do humor e do

significado naquela frase.

Comprova-se com esta pesquisa que tradutores, além de um conhecimento

extenso de sua língua materna e de sua língua estrangeira de trabalho, devem também

ter um grande interesse e conhecimento na cultura que envolve o projeto que está

executando. Além disso, por limitações técnicas, de prazo e também da própria língua

portuguesa, o tradutor para legendagem há de ser muito criativo, pois muitas vezes terá

que procurar vários caminhos até encontrar a solução adequada, que corresponda ao

sentido do texto original, e que mantenha a naturalidade e a oralidade das falas dos

personagens e a carga humorística, especificamente no caso das sitcoms.

Page 21: Aline - Oralidade e Naturalidade na Tradução Audiovisual versão final do TCC

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Orality and Naturality in Audiovisual Translation: the technical, cultural and linguistic

challenges in the translation of slangs, idiomatic expressions and conventional

expressions in the subtitling of the sitcom The Middle

Abstract:

This article aims at analyzing the subtitles of the sitcom The Middle with the

purpose of observing the technical, cultural and linguistic challenges translators have to

overcome and observe if it is possible to maintain the naturality and the orality and the

humoristic tone in the translation of slangs, idiomatic or conventional expressions. The

methodology is based on the descriptive studies of translation by Campos (1987) and by

Rónai (2012) and on two translation theories; the Relevance Theory, by Sperber e

Wilson (1987) and the Skopos Theory, by Vermeer (1996). The analysis is

complemented by the audiovisual translation studies, based on research made by Diáz

e Remael (2007); as well as by the studies in Humor Translation by Rosas (2002) and

the Superiority Theory, by Hobbes (1840). Samples containing slangs, idiomatic or

conventional expressions were collected from all the episodes in the first season of The

Middle with the objective to verify if the humor, the orality and the naturality were kept in

the subtitles in Portuguese and verify what were the processes more often used by the

translators in the subtitles. The subtitles revealed that the three processes that were

more often used in the subtitles containing slangs, idiomatic or conventional expressions

were the explicitation, the substitution and the transposition and that it was possible to

maintain the naturality and the orality in the subtitles as well as the humoristic tone, but

the translator needed to have great linguistic and cultural knowledge and had to be

creative in order to find the best ways to overcome the difficulties in the project.

Keywords: The challenges of subtitling sitcoms. Translating Humor. Cultural and

Linguistic Knowledge. Slangs, idiomatic expressions, conventional expressions.

Page 22: Aline - Oralidade e Naturalidade na Tradução Audiovisual versão final do TCC

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Referências Bibliográficas:

ALVES, Fábio; MAGALHÃES, Célia; PAGANO, Adriana. Traduzir com Autonomia:

Estratégias para o Tradutor em Formação. São Paulo: Editora Contexto, 2000. 159p.

CAMPOS, Geir. O que é tradução. 2 ed. São Paulo: Editora Brasiliense, 1987. 87p.

CARVALHO, Laiz Barbosa de. Minidicionário Larousse da Língua Portuguesa. 3 ed.

São Paulo: Editora Larousse do Brasil, 2009. 866p.

CLAIRE, Elizabeth. Student's Introduction to American Humor. 3rd ed. Virgínia

(USA): Eardley Publications, 2012. Kindle Edition.

DIÁZ, Jorge; REMAEL, Aline. Audiovisual Translation: Subtitling. New York (USA):

Routlegde, 2007. Kindle Edition.

GOROVITZ, Sabine. Os labirintos da Tradução: A Legendagem Cinematográfica e a

Construção do Imaginário. Brasília: Editora UnB, 2006. 78p.

GRUNER, Charles. The Game of Humor: A Comprehensive Theory of Why We Laugh.

New Brunswick (USA): Transaction Publishers, 2000.

NIKOLIC, Kristjian. Dissertation: The Perception of Culture through Subtitles.

Zagreb (Croatia), Universitat Wien, 2011. Kindle Edition.

RÓNAI, Paulo. Escola de Tradutores. 7 ed. Rio de Janeiro: Editora José Olympio,

2012. 190p.

ROSAS, Marta. Tradução de Humor: Transcriando Piadas. Rio de Janeiro: Editora

Lucerna, 2002. 122p.

SPERBER, Dan; WILSON, Deirdre. Précis of Relevance: Communication and Cognition.

Behavioral and Brain Sciences Journal. Cambridge (UK), Volume 10, 1987.

TAGNIN, Stella Ortweiler. Expressões Idiomáticas e Convencionais. São Paulo:

Editora Ática, 1989. 88p.

Page 23: Aline - Oralidade e Naturalidade na Tradução Audiovisual versão final do TCC

23

THE Middle 1ª Temporada. Criação de Eileen Heisler e DeAnn Heline. Warner Bros.

Estados Unidos da América, 2009. AMZ Mídia Industrial. Manaus, AM, 2013. DVD

(5h15m), colorido, legendado.

VERMEER, Hans Joseph. Skopos and Comission in Translational Action. In:

CHESTERMAN, Andrew (Ed.). Readings in Translation Theory. Helsink (Finland): Oy

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______ . Skopos and Commission in Translational Action. In: VENUTI, Lawrence (Ed.).

The Translation Studies Reader. New York (USA) Routledge, 2000. p. 221–32.