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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO FACULDADE DE ECONOMIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM AGRONEGÓCIOS E DESENVOLVIMENTO REGIONAL Aline Beatriz Mucellini OS EFEITOS DAS EXPORTAÇÕES DE CARNE BOVINA SOBRE O NÍVEL DE EMPREGO DA INDÚSTRIA FRIGORÍFICA DE MATO GROSSO CUIABÁ MT 2010

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

FACULDADE DE ECONOMIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM AGRONEGÓCIOS E

DESENVOLVIMENTO REGIONAL

Aline Beatriz Mucellini

OS EFEITOS DAS EXPORTAÇÕES DE CARNE BOVINA SOBRE O

NÍVEL DE EMPREGO DA INDÚSTRIA FRIGORÍFICA DE MATO

GROSSO

CUIABÁ – MT

2010

ii

ALINE BEATRIZ MUCELLINI

OS EFEITOS DAS EXPORTAÇÕES DE CARNE BOVINA SOBRE O

NÍVEL DE EMPREGO DA INDÚSTRIA FRIGORÍFICA DE MATO

GROSSO

Dissertação apresentada à Universidade

Federal de Mato Grosso como requisito para

obtenção do título de Mestre em Economia, no

Programa de Pós-Graduação em Agronegócios

e Desenvolvimento Regional.

Orientador: Profª. Drª. Sandra Cristina de

Moura Bonjour

CUIABÁ – MT

2010

iii

M942e Mucellini, Aline Beatriz.

Os Efeitos da exportação de carne bovina sobre o nível de

emprego na indústria frigorífica de Mato Grosso. Cuiabá,

2010.

xiv, 78f. ; il. color. 30 cm (Incluem figuras tabelas).

Orientadora: Sandra Cristina de Moura Bonjour.

Dissertação (Mestrado). Universidade Federal de Mato

Grosso. Faculdade de Economia. Programa de Pós-Graduação em

Agronegócios e Desenvolvimento Regional, 2010.

1. Carne bovina - Exportações. 2. Indústria frigorífica -

Empregos. 3. Modelo ARMA. 4. Comércio exterior – Mato

Grosso. I. Título.

CDU 339.5:637.5(817.2)

iv

Aline Beatriz Mucellini

OS EFEITOS DAS EXPORTAÇÕES DE CARNE BOVINA SOBRE O

NÍVEL DE EMPREGO DA INDÚSTRIA FRIGORÍFICA DE MATO

GROSSO

Dissertação apresentada à Universidade

Federal de Mato Grosso como requisito para

obtenção do título de Mestre, em Economia no

Programa de Pós-Graduação em Agronegócios

e Desenvolvimento Regional.

Aprovada em: 13/09/2010.

BANCA EXAMINADORA

________________________________________________________________

Profª. Drª. Sandra Cristina de MouraBonjour– UFMT

________________________________________________________________

Prof. Dr. Adriano Marcos Rodrigues Figueiredo – UFMT

________________________________________________________________

Prof. Dr.Antônio Carvalho Campos– UFV

v

AGRADECIMENTOS

Meus profundos agradecimentos...

Primeiramente a Deus.

Aos meus pais, pelo amor e educação intensos, e pelo empenho dedicado aos meus estudos.

Ao Gustavo, pelo apoio, compreensão e companheirismo em toda a jornada do mestrado.

À Prof. Dra. Sandra C.M. Bonjour, pela orientação e paciência durante todo processo de

construção deste trabalho.

Ao Profs. Drs. Adriano M. R. Figueiredo, Dilamar Dallemole e Antônio Carvalho Campos

(UFV) pelas contribuições e sugestões oferecidas neste trabalho.

Ao Programa de Pós-Graduação em Agronegócios e Desenvolvimento Regional da UFMT

pela oportunidade de realizar o curso de mestrado.

Aos colegas e amigos do mestrado, que mesmo nos momentos duros de estudo, estiveram

presentes para tornar esta nossa caminhada mais feliz, pois a amizade ameniza as mais árduas

circunstâncias.

A todos os professores e funcionários do Programa de Pós-Graduação em Agronegócios e

Desenvolvimento Regional da UFMT pelo aprendizado e atendimento prestado.

A todos minha sincera e profunda gratidão!

vi

―Se quiser lucrar em um ano, plante arroz;

em 10 anos plante uma árvore,

em 100 anos, Eduque‖

(Provérbio chinês).

vii

LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Evolução do rebanho bovino do estado de Mato Grosso, de 1994 a 2008. ............... 7

Figura 2. Apresentação esquemática do recorte da cadeia produtiva da bovinocultura de corte

do estado de Mato Grosso. ......................................................................................................... 9

Figura 3. Remuneração (em salários mínimos) dos trabalhadores da indústria frigorífica

bovina do estado de Mato Grosso em 2008, em porcentagem. ................................................ 10

Figura 4. Taxa de rotatividade (em porcentagem) de emprego da indústria frigorífica bovina

em Mato Grosso de 2002 a 2008. ............................................................................................. 12

Figura 5. Estoque de emprego do setor de transformação da carne bovina em Mato Grosso de

2002 a 2008. ............................................................................................................................. 12

Figura 6. Mapa de distribuição do número de empregos da indústria frigorífica por região do

estado de Mato Grosso em 2008. ............................................................................................. 14

Figura 7. Mapa de distribuição de unidades frigoríficas por região do estado de Mato Grosso

em 2008. ................................................................................................................................... 15

Figura 8. Evolução do abate de bovinos no estado de Mato Grosso, de 2002 a 2009. ........... 18

Figura 9. Quantidade exportada e consumo interno de carne bovina do estado de Mato

Grosso, de 2002 a 2008. ........................................................................................................... 60

Figura 10. Estoque de emprego e produtividade do trabalho da indústria frigorífica de Mato

Grosso, de 2002 a 2008. ........................................................................................................... 61

Figura 10. Função de Autocorrelação para os valores das exportações de carne bovina de

Mato Grosso. ............................................................................................................................ 64

Figura 11. Função de Autocorrelação para os valores de emprego da indústria frigorífica de

Mato Grosso. ............................................................................................................................ 65

Figura 12. Exportações, estoque de emprego, consumo interno de carne bovina e

produtividade da indústria frigorífica, Mato Grosso de 2002 a 2008 ...................................... 66

Figura 13. Distribuição das raízes unitárias do modelo estimado. .......................................... 69

Figura 14. Distribuição dos resíduos da estimação do modelo ARMA(0,2). ......................... 70

viii

LISTA DE TABELAS

Tabela 1. Principais produtos de carne bovina exportados pelo estado de Mato Grosso, em

US$ F.O.B., de 2004 a 2008. ..................................................................................................... 8

Tabela 2. Evolução do abate nacional de bovinos por região, de 1998 a 2008. ...................... 16

Tabela 3. Relação dos produtos bovinos mais exportados por Mato Grosso e suas

nomenclaturas, em 2008. .......................................................................................................... 50

Tabela 4. Teste de causalidade de Granger para as variáveis estudadas. ................................ 62

Tabela 5. Resultados da estimação do modelo ARMA para a variável dependente Log

(emprego). ................................................................................................................................ 67

Tabela 6. Teste Dickey-Fuller para série de resíduos do processo ARMA(0,2). .................... 71

ix

LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

ABIEC Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne

AIC Akaike Information Criterion

ALICEWEB Sistema de Análise das Informações de Comércio Exterior via Internet

AR Auto-regressivo

ARMA Auto-regressivo e média móvel

CAGED Cadastro Geral de Empregados e Desempregados

CLT Consolidação das Leis do Trabalho

CNAE Classificação Nacional de Atividades Econômicas

DF Teste de Dickey Fuller

FAC Função de Autocorrelação

FIEMT Federação das Indústrias no Estado de Mato Grosso

FOB Free on Board (Livre de Frete)

HOS Hecksher-Ohlin-Samuelson

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IMEA Instituto Mato-Grossense de Economia Agrícola

IPEA Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada

IPEADATA Base de dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada

ISIC International Standard Industrial Classification

MA Média móvel (do inglês, moving average)

MAPA Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

MDIC Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior

MERCOSUL Mercado Comum do Sul

MQO Mínimos Quadrados Ordinários

MTE Ministério do Trabalho e Emprego

NCM Nomenclatura Comum do Mercosul

PIB Produto Interno Bruto

P&D Pesquisa e Desenvolvimento

RAIS Relação Anual de Informações Sociais

x

SC Schwarz Criterion

SECEX Secretaria de Comércio Exterior

SISBOV Sistema de Gestão para Certificadoras de Rebanho Bovino e Bubalino

SISCOMEX Sistema Integrado de Comércio Exterior

xi

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 1

2. A DINÂMICA NAS RELAÇÕES DE COMÉRCIO, EMPREGO, LOGÍSTICA E OS

ENCADEAMENTOS DO SETOR DA CARNE BOVINA DE MATO GROSSO............. 6

2.1 O COMÉRCIO INTERNACIONAL DE MATO GROSSO ........................................... 6

2.2 A CADEIA PRODUTIVA DA BOVINOCULTURA DE MATO GROSSO ................. 9

2.2.1 Mercado de Trabalho Atual do Setor de Carne Bovina ............................................ 10

2.2.2 O Segmento de Abate e Processamento ....................................................................... 16

2.2.3 Sazonalidade e Ciclo da Pecuária Bovina de Corte ................................................... 20

2.2.4 Aspectos Tecnológicos ................................................................................................... 22

2.2.5 Canais de Comercialização e Coordenação dos Segmentos ...................................... 25

2.2.6 Insumos .......................................................................................................................... 27

2.2.7 Relações de Mercado ..................................................................................................... 28

2.2.8 Estrutura de Mercado ................................................................................................... 29

2.3 O SISTEMA LOGÍSTICO ATUAL DE MATO GROSSO ........................................... 31

2.3.1 O Sistema e Infra-Estrutura de Transportes de Mato Grosso .................................. 32

3. REFERENCIAL TEÓRICO ............................................................................................. 36

3.1 A ESCOLA CLÁSSICA E A ESCOLA KEYNESIANA ............................................... 36

3.2 A TEORIA HECKSHER-OHLIN-SAMUELSON ........................................................ 38

3.3 A TEORIA DE NICHOLAS KALDOR .......................................................................... 41

4. METODOLOGIA .............................................................................................................. 49

4.1 FONTES DE DADOS E DEFINIÇÃO DAS VARIÁVEIS ............................................ 49

4.2 PROCESSO ESTOCÁSTICO ESTACIONÁRIO ......................................................... 51

4.3 PROCESSO AUTO-REGRESSIVO (AR) ..................................................................... 53

4.4 PROCESSO DE MÉDIA MÓVEL (MA) ........................................................................ 55

4.5 O MODELO ARMA ......................................................................................................... 56

4.6 CAUSALIDADE ............................................................................................................... 57

5. RESULTADOS ................................................................................................................... 59

xii

5.1 ANÁLISE DOS RESULTADOS OBTIDOS E DAS VARIÁVEIS ASSOCIADAS .... 59

5.2 TESTE DE CAUSALIDADE ........................................................................................... 62

5.3 AVALIAÇÃO DOS COMPONENTES DAS SÉRIES .................................................. 63

5.4 ESTIMAÇÃO DO MODELO DE REGRESSÃO .......................................................... 67

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................ 73

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................. 75

xiii

RESUMO

Mucellini, Aline Beatriz. Universidade Federal de Mato Grosso, Setembro de 2010. Os

Efeitos das Exportações de Carne Bovina Sobre o Nível de Emprego da Indústria

Frigorífica de Mato Grosso. Orientadora: Profª. Drª. Sandra Cristina de Moura Bonjour.

Este trabalho tem por objetivo estudar as relações entre o comércio internacional da carne

bovina do estado de Mato Grosso e o mercado de trabalho da indústria frigorífica.

Especificamente, fez-se uma análise comparativa com outras variáveis associadas ao modelo

estudado, o consumo interno de carne bovina e a produtividade da indústria frigorífica

estadual, para verificar a adequação com o modelo teórico de Kaldor de crescimento

industrial relacionado de forma direta e positiva com a elevação do nível de emprego e

conseqüentemente elevação da produtividade do trabalho da indústria. Posteriormente,

analisou-se a relação de causalidade entre essas duas variáveis, esperando que o nível de

emprego da indústria fosse determinado pela demanda externa por carne, estimou-se um

modelo econométrico auto-regressivo e de média móvel (ARMA) para especificar a relação

de causa das exportações sobre o nível de emprego de acordo com os valores defasados e de

termos de resíduos. Os resultados mostraram que no caso do estado de Mato Grosso as

suposições da teoria de Kaldor acerca do crescimento industrial são válidas, pois o nível de

emprego é induzido pela demanda, ou seja, determinado pelas exportações e não através de

recursos exógenos como, por exemplo, a taxa de câmbio. E a produtividade do trabalho

acompanhou o crescimento da produção industrial, entretanto, em menor ritmo, validando

mesmo assim a segunda lei de Kaldor.

Palavras-Chave: Exportações de carne bovina. Nível de emprego. Modelo ARMA.

xiv

ABSTRACT

Mucellini, Aline Beatriz. Federal University of Mato Grosso, September, 2010. The Effects

of Exports of Beef about the Employment Level of Slaughtering Industry of Mato

Grosso. Advisor: Profª. Drª.Sandra Cristina de Moura Bonjour.

This work aims to study the relationship between international trade in beef in the state of

Mato Grosso and the labor market of the meatpacking industry. Specifically, there was a

comparative analysis with other variables associated with this model, domestic consumption

of beef and productivity of state meatpacking industry, to check the suitability with the

theoretical model of Kaldor industrial growth related directly and positively with increasing

levels of employment and therefore increase labor productivity in the industry. Subsequently

analyzed the causal relationship between these two variables, hoping that the employment

level of the industry is determined by foreign demand for beef, it was estimated an

econometric model and autoregressive moving average (ARMA) to specify the relationship

question of exports on the level of employment in accordance with the terms and lagged

values of waste.The results showed that in the case of Mato Grosso assumptions on Kaldor's

theory of industrial growth are valid, because the level of employment is driven by demand, ie

determined by exports, not through exogenous resources such as the exchange rate. And labor

productivity accompanied the growth of industrial production, however, to a lesser pace,

validating yet Kaldor's second law.

Keywords: Exports of beef. Employment. ARMA model.

1. INTRODUÇÃO

O estudo da relação entre o efeito do comércio internacional sobre o mercado de

trabalho, especialmente sobre os baixos salários daqueles trabalhadores pouco especializados,

tem incorrido em opiniões diferentes em torno destas questões pelo mundo. O ponto central

do debate é a percepção do efeito da globalização sobre o emprego.

Após a segunda metade dos anos de 1980, o interesse sobre a relação entre o

comércio, o crescimento econômico e os seus efeitos no emprego e distribuição da renda,

aumentou devido à elevação significativa dos fluxos internacionais de bens e capital.

Davidson e Matusz (2004) mostram as diferentes vertentes no que diz respeito às

teorias de comércio internacional. Existem estudos que possuem uma predisposição para se

opor a liberalização comercial, com argumentos de que reduzem os custos de produção e com

uma regulamentação menor que em outros países permitem a empresas estrangeiras competir

com os produtores internos, resultando em menor produção interna e menos empregos

domésticos. Por outro lado, aqueles que desejam ver uma maior liberalização argumentam,

muitas vezes, que o livre comércio expande os mercados para a exportação, resultando em

uma maior demanda de produtos, uma maior produção nacional e mais empregos.

De Negri et al. (2006) expõem que a incorporação de novas tecnologias aos

processos produtivos é um elemento importante de efeito sobre o mercado de trabalho. Assim

como no exterior, no Brasil a tecnologia e a inovação têm modificado constantemente velhos

padrões de organização da produção, inovando nas formas de produzir os mesmos produtos

ou produtos antes inexistentes. As inovações tecnológicas, especialmente nos processos

produtivos, costumam substituir o trabalho, em particular o menos qualificado.

No Brasil, a abertura comercial foi iniciada no final da década de 1980 e foi

aprofundada no início da década de 1990. A partir dessa data foi seguido por uma

liberalização financeira, com efeitos sobre a balança de pagamentos. Outro fator

importantetem sido o efeito sobre o mercado de trabalho brasileiro após a liberalização

comercial.

2

A indústria frigorífica empregou, em 2008, no estado de Mato Grosso 20.767

pessoas. Em comparação com o ano de 2007 houve um decréscimo no número de empregos

na ordem de 3,63%. Contudo, um crescimento de 23,38% se comparado com o ano de 2006.

O que evidencia uma elevação na geração de postos de trabalho na indústria transformadora

da cadeia produtiva da bovinocultura estadual. Essa quantidade de postos de trabalho da

indústria transformadora representava em termos gerais, 4,5% do total de empregos formais

de todo o estado de Mato Grosso em 2008 (MTE, 2008).

Dentro do cenário nacional, o estado de Mato Grosso possui o maior rebanho de

bovinos, sendo de 26.021.367 cabeças em 2008, representando 13,02% do rebanho nacional,

possuindo, além disso, apesar da queda na produção frigorífica do ano de 2007 para 2008, o

maior número de abates do país com 3.824.386 cabeças no ano de 2008 (IBGE, 2008).

A importância do setor da pecuária bovina em Mato Grosso dá-se principalmente

pelo fornecimento de alimentos e geração de divisas com as exportações, pois, segundo dados

do IMEA (2008), há um comprometimento da produção estadual com o abastecimento

interno, já que do total produzido em 2008, 75,98% destinaram-se ao mercado local. Mesmo

com a diminuição da produção no ano de 2008, foram mantidas as proporções dos produtos

comercializados interna e externamente, com participação de 25,33% destinado ao exterior e

em 2008 com 24,02% do total.

Os valores relativos à geração de divisas advindas das exportações de carnes de

bovinos são significativos, pois considerando apenas o elo das indústrias frigoríficas dentro da

cadeia produtiva da carne, essa foi responsável por 12,88% do total produzido em toda

balança comercial de Mato Grosso do ano de 2008, ou seja, US$ 841.884.457 F.O.B. (MDIC,

2008).

A permanência da importância do setor no estado está ligada às mudanças na

agropecuária nacional com evolução do padrão tecnológico empregado e a integração dos

mercados, ou seja, ao melhor desempenho com a produtividade.

As transformações ocorridas na economia mundial, através da disseminação de

informações e tecnologias, levaram a fortes pressões econômicas e comerciais. Desse

processo surgiu um novo padrão de competição adaptado às modificações nas preferências da

demanda, que passaram a exigir novos produtos e novas formas de produção da carne bovina.

3

O novo padrão de competição fez com que dentro do estado se ampliassem as plantas

frigoríficas, pois ocorria a expansão dos mercados consumidores internacionais e também da

produção nas propriedades rurais dentro do estado.

Este trabalho busca informações acerca da relação entre a demanda externa pelos

produtos bovinos estadual e o crescimento de sua indústria frigorífica. Se o crescimento do

setor estaria dependente apenas das variações da demanda através das exportações de carne. E

através dessa investigação trazer contribuições para o setor industrial, principalmente

identificar os elementos desse comércio internacional que favoreçam a indústria de Mato

Grosso.

Desta maneira, com o desenvolvimento da cadeia de produção da carne bovina mato-

grossense nos últimos anos, e com sua produção voltada para o comércio internacional, a

questão central do estudo é: onível de emprego do setor estaria sofrendo influência direta das

oscilações das exportações da carne?

Existem incertezas sobre o que impulsiona o comércio, as ligações entre as causas do

comércio e dos seus efeitos sobre o mercado de trabalho nem sempre são claras. No caso de

considerações de modelos de comércio sob competição imperfeita, não há uma clara

compreensão das implicações do comércio para o mercado de trabalho. Isto porque, na

presença de mercados competitivos imperfeitos, a maneira que as empresas irão responder às

mudanças no nível de concorrência internacional, não pode ser prevista, a priori, sem fazer

suposições restritivas sobre o ―comportamento das empresas" e a exata estrutura de mercado

(CHETWIN; BAIRAM, 2001).

Segundo Britto (2007), a taxa de crescimento das exportações, a taxa de crescimento

do setor industrial, assim como sua taxa de emprego são fatores importantes e coloca que

segundo a teoria de Kaldor, a taxa de crescimento de uma nação é determinada pela taxa de

crescimento das exportações, sendo esse o elemento autônomo da demanda agregada, de

forma que possuem relação positiva. Essa premissa contraria vigorosamente a visão

neoclássica tradicional que é centrada em fatores do lado da oferta, e representa um passo à

frente no que se refere aos modelos keynesianos, uma vez que identifica as exportações como

o principal componente da demanda agregada e não o investimento. Ferrari (2005), Barbosa-

Filho (2001) e Freitas (2003), também estudaram o papel das exportações no processo de

4

crescimento da economia das nações como resultado da combinação de um modelo de

crescimento liderado pela demanda.

O objetivo geral deste estudo é analisar os efeitos do comércio internacional,

especificamente das exportações de carne bovina sobre os níveis de empregos do setor de

carne bovina do estado de Mato Grosso. Especificamente, objetiva-se:

Analisar o comportamento do emprego, das exportações e de variáveis associadas

ao modelo de estudo (produtividade e consumo interno).

Analisar a causalidade entre as exportações de carne bovina e o emprego na

indústria de carne bovina de Mato Grosso

Desenvolver um modelo de análise do comportamento das exportações e do nível

de emprego na indústria de carne bovina de Mato Grosso, por meio de modelagem

de séries temporais.

Como hipótese inicial espera-se constatar como resultado do estudo que o nível de

emprego do setor da bovinocultura esteja sim, sendo influenciado pela demanda externa, ou

seja, através das exportações desses produtos.

Apesar da consolidação da produção e das exportações de carne bovina, o setor da

bovinocultura ainda não está totalmente fortalecido, pois vem sofrendo influências da

comercialização. O mercado interno tem enfrentado dificuldades de várias amplitudes, que

prejudicam as negociações entre produtores e frigoríficos.

O acentuado descarte de matrizes no passado recente, entre 2003 e 2006, a migração

da pecuária para produção de etanol em algumas regiões brasileiras, especialmente na região

Sudeste brasileira foram alguns dos fatores já conhecidos da cadeia produtiva de bovinos que

se mostraram problemáticas a partir da segunda metade de 2008 (ABRAFRIGO, 2009).

Dados do IMEA (Instituto Mato-Grossense de Economia Agrícola) mostram a

composição do rebanho do estado. Somente em 2008 ocorreu a recuperação do rebanho de

fêmeas que existia no ano de 2004, com 8,08 milhões de cabeças de fêmeas (com mais de 36

meses) e 17,85 milhões de cabeças do restante do rebanho. A composição do abate mensal

estadual entre machos e fêmeas para o ano de 2008, foi de 37,16% do rebanho abatido era

5

composto por fêmeas adultas, ou seja, 1.552.147 de cabeças, e as demais 2.624.782 cabeças

formadas entre os demais animais (IMEA, 2009).

Por outro lado, a Abrafrigo destacou também que ocorreu a elevação da capacidade

instalada das indústriasno mercado, a interrupção de diversos financiamentos para a indústria,

a estratégia equivocada de alguns dirigentes de frigoríficos, motivada pela ambição de crescer

sem medir conseqüências de longo prazo, a desunião entre os elos da cadeia produtiva e,

finalmente, o comportamento voraz dos que mantiveram margens incompatíveis em relação

aos demais setores, inibindo o maior giro da mercadoria em suas prateleiras.

Todos estes acontecimentos causaram uma situação de paralisação dos abates,

grandes demissões e até o fechamento de várias plantas frigoríficas em todo o país e

principalmente em Mato Grosso a partir do segundo semestre de 2008. Ocorreu no estado o

não pagamento por parte das indústrias aos pecuaristas, além de demissões em massa que

dificultaram as atividades em todo setor desde então. O não pagamento de débitos atrasados

forçou os frigoríficos a buscarem alternativas para reduzir a resistência dos pecuaristas no

fornecimento de animais para o abate.

O trabalho está organizado em seis seções. Esta primeira consiste na apresentação

das idéias introdutórias, o problema e seus objetivos, sua importância e proposições a serem

discutidas. Adiante, é feita a caracterização do comércio internacional, do mercado de

trabalho para a carne bovina, uma abordagem dos aspectos gerais da cadeia produtiva da

carne bovina e dos sistemas logísticos mais utilizados no escoamento da produção de carne do

estado de Mato Grosso na seção 2.

Na seção 3 está o referencial teórico discutindo as correntes de pensamentos da teoria

de base do comércio internacional e do mercado de trabalho, estudando vários autores e

teorias. A metodologia utilizada, as variáveis de estudo para as análises e o modelo

econométrico para analisar o comportamento das séries temporais está situada na seção 4.

Seguido da análise dos resultados e discussões na quinta seção, apresentando os resultados

obtidos dos cálculos e sua confrontação com a teoria e finalizando na seção 6 com as

considerações finais e sugestões para publicações futuras.

2. A DINÂMICA NAS RELAÇÕES DE COMÉRCIO, EMPREGO, LOGÍSTICA E OS

ENCADEAMENTOS DO SETOR DA CARNE BOVINA DE MATO GROSSO

Esta seção contextualiza o setor da bovinocultura do Estado de Mato Grosso

considerando seu comércio, os dados de emprego, as relações dentro e fora da cadeia

produtiva bovina e também os aspectos logísticos importantes. As informações contidas

foram obtidas através de dados secundários das principais entidades ligadas ao setor.

2.1 O COMÉRCIO INTERNACIONAL DE MATO GROSSO

A pecuária de corte tem posição de destaque na economia no país como um todo e no

estado mato-grossense principalmente. Essa condição deve-se ao desempenho dos mercado

doméstico e internacional. O Brasil possui o segundo maior rebanho mundial, sendo superado

apenas pela Índia, que não explora a pecuária bovina com fins comerciais. Devido a isso, o

Brasil e é caracterizado como o país com o maior rebanho bovino comercial do mundo e

maior exportador de carne bovina (BRASIL, 2007).

Fatores naturais como o clima, a extensão territorial e disponibilidade de fatores de

produção criam condições decompetitividade na produção e industrialização, inclusive o que

diz respeito ao ganho de qualidade dos produtos nos últimos anos. O fato da maior parte do

gado brasileiro ser alimentado a pasto tem sido, adicionalmente, um fator de valorização da

carne bovina no mercado internacional.

Segundo Tirado et al. (2008), para que o Brasil se tornasse o principal fornecedor de

carne bovina do mundo, houve uma melhoria nos índices deaproveitamento da produção

nacional, constatado após o Plano Real, sendo esse um período de mercado interno

insuficiente para a absorção da produção. Juntamente, ocorreu um esforço da economia

nacional para a elevação da pauta de exportações, além das aplicações de técnicas modernas

de produção e utilização dos cruzamentos. Esse cenário se completa quando se verifica que a

indústria frigorífica brasileira vem, desde o final da década de 80, investindo na modernização

de sua infra-estrutura produtiva.

7

Devido às condições favoráveis à produção da carne bovina dentro do estado de

Mato Grosso, este se tornou o maior produtor de bovinos para abate desde 2001, e,

consequentemente, suas exportações cresceram consideravelmente. Conforme pode ser

observado na Figura 1, o rebanho mato-grossense seguiu uma trajetória ascendente de

produção de 1994 a 2005, quando voltou a retomar em 2007 o movimento de crescimento dos

anos anteriores.

Figura 1. Evolução do rebanho bovino do estado de Mato Grosso, de 1994 a 2008.

Fonte: SIDRA, IBGE, 2008.

Além de a infra-estrutura produtiva ser ampliada, outras transformações intensas

contribuíram para a ampliação da comercialização internacional da carne bovina como um

todo. Entre elas está a estabilização de energia elétrica, na região Centro-Oeste, e a

conseqüente ampliação da capacidade instalada dos frigoríficos abatedores. Esse processo foi

acentuado pela desvalorização cambial de janeiro de 1999, pela simultânea concentração do

capital, na indústria, e redistribuição geográfica de modernas unidades frigoríficas de abate.

O comércio internacional estadual tem em sua pauta produtos basicamente primários,

sendo os dez principais produtos exportados: grãos de soja, resíduos do óleo de soja, carnes

desossadas de bovino, milho em grão, algodão debulhado, óleo de soja bruto, carnes de galos

e galinhas, óleo de soja refinado, ouro em barras e pedaços e miudezas de galos e galinhas.

0

5

10

15

20

25

30

Milh

õe

s

8

Todos esses produtos juntos arrecadaram US$ 7.246.882.201, representando 92,76% do total

arrecadado com as exportações pelo estado de Mato Grosso no ano de 2008, segundo dados

do MDIC (2008).

A exportação de carne bovina mato-grossense tem crescido, possuindo grande

importância para o estado tanto em termos de geração de empregos, como para a integração

das atividades produtivas em toda a cadeia produtiva da bovinocultura. Segundo MDIC

(2008), a exportação de carne bovina de Mato Grosso é baseada nos seguintes produtos

(Tabela 1).

Tabela 1. Principais produtos de carne bovina exportados pelo estado de Mato Grosso,

em US$ F.O.B., de 2004 a 2008.

Descrição dos Produtos 2004 2005 2006 2007 2008

Carnes desossadas de bovino,

congeladas 63.578.789 137.034.236 395.309.293 473.215.914 597.706.492

Carnes desossadas de bovino,

frescas ou refrigeradas 23.767.566 40.036.422 97.893.275 112.640.235 35.608.770

Outras miudezas comestíveis de

bovino, congeladas 3.324.155 2.414.488 7.103.472 12.073.052 19.452.680

Tripas de bovinos, frescas,

refrig. congel. salg. 1.406.040 380.992 974.790 7.258.539 28.969.812

Línguas de bovino, congeladas 559.958 1.160.752 1.066.651 1.641.902 1.669.584

Outras pecas não desossadas de

bovino, congeladas 459.712 169.064 722.274 500.469 306.294

Fígados de bovino, congelados 65.541 155.692 1.197.692 1.055.007 875.049

Rabos de bovino, congelados 41.529 141.809 1.207.786 672.497 720.708

Carnes de bovinos, salgadas/em

salmoura/secas - 148.011 108.816 - -

Outros cortes não considerados 46.394.264 67.491.779 81.761.618 143.860.645 156.573.060

TOTAL 139.599.558 249.135.250 587.347.673 752.920.267 841.884.457

Fonte: MDIC, 2008.

Observa-se que há concentração das exportações nas carnes desossadas de bovino,

com maior valor agregado representando 75,22% das exportações desses produtos no ano de

2008. Ocorreu também um crescimento significativo de outros cortes, como miudezas, tripas,

fígado, rabo. Contudo, as carnes desossadas resfriadas tiveram um decréscimo significante,

com queda de 68,38% de 2007 para 2008, provavelmente advindo de cancelamentos de

contratos de países importadores desse produto.

9

Os principais países de destino das exportações mato-grossenses são a China, Países

Baixos, Espanha, Tailândia, Itália, França, Venezuela e Reino Unido que juntos representam

61,51% do total exportado, gerando divisas de 5.057.149 milhares de dólares para o estado no

ano de 2008 (MDIC,2008).

Existem outros fatores externos que têm a capacidade de influenciar a

competitividade das empresas e indústrias. Como exemplo, as condições de infra-estrutura

adequadas para o sistema de distribuição que, no caso de Mato Grosso, são precárias e

insuficientes para o escoamento de toda a produção existente. Essa condição deteriora a

competitividade dos produtos tanto para o mercado interno quanto para o internacional,

mostrando um panorama de possibilidade de interferência governamental para políticas

setoriais.

2.2 A CADEIA PRODUTIVA DA BOVINOCULTURA DE MATO GROSSO

Para o melhor entendimento, a cadeia produtiva da bovinocultura delimitada será

restringida ao setor de abate e processamento (representado pelas indústrias frigoríficas), e os

canais de comercialização ex post a este segmento (representado pelos entrepostos e

revendedores atacadistas e a destinação para o mercado externo). Conforme Figura 2.

Figura 2. Apresentação esquemática do recorte da cadeia produtiva da bovinocultura de corte

do estado de Mato Grosso.

Fonte: Adaptado de FAMATO; FABOV (2008).

10

2.2.1 Mercado de Trabalho atual do Setor de Carne Bovina

A quantidade de empregos formais e a taxa de participação dos diversos sub-setores

da atividade econômica do estado de Mato Grosso, apresentou uma evolução de 154% desde

1994 em toda atividade produtiva. Pois, essa representava 594.498 empregos formais em

2008, segundo os registros administrativos da RAIS (MTE, 2008).

Uma característica do trabalho formal é que a maioria desses empregos no estado é

de contratos com prazo indeterminado, e que apenas uma pequena parcela dos contratos são

temporários, ou, de prazo determinado.

A quantidade de empregos formais da atividade da indústria de transformação no

estado de Mato Grosso em 2008 foi de 83.854 postos de trabalho, aumentando os postos de

trabalho com uma variação positiva de 10,97% sobre o ano anterior (MTE, 2008).

Em relação à remuneração dos trabalhadores desse setor, a grande maioria, 62,95%

dos trabalhadores recebe de 1,01 a 1,5 salários mínimos, outros 12,62% recebem de 1,51 a 2

salários mínimos e a seguinte parcela significativa de 11,83% de trabalhadores desse setor

recebem de 0,5 a 1 salário mínimo para o mesmo ano de referência, dados o Ministério do

Trabalho e Emprego (MTE, 2008).

Figura 3. Remuneração (em salários mínimos) dos trabalhadores da indústria frigorífica

bovina do estado de Mato Grosso em 2008, em porcentagem.

Fonte: MTE, 2008.

2,51

11,83

62,95

12,62

5,14 1,87 0,91 0,71 0,6 0,22 0,07 0,07 0,51

0

10

20

30

40

50

60

70

Porc

enta

gem

11

A remuneração da indústria transformadora de bovinos apresenta características de

baixos salários, pois a concentração encontra-se na faixa salarial de 1,01 a 1,5 salários

mínimos com 62,95% dos trabalhadores, como pode ser observado na Figura 3. Em geral,

96,37% dos trabalhadores estão concentrados em uma faixa de renda de até 3 salários

mínimos.

De modo específico observa-se nos números de empregos por faixa de tempo de

emprego (em meses) que à medida que a faixa de tempo aumenta, reduz-se o número de

empregos na classe em estudo. Observa-se 12.521 empregos com menos de um mês de

duração, representando 56,88% do total, da faixa de 1 até 23,9 meses apresentam uma média

de 2.083 empregos caindo drasticamente após essa classe, chegando a 608 postos de trabalho

de 24 a 35,9 meses e finalizando com 10 postos de trabalho com 120 meses ou mais.

Evidenciando a alta rotatividade de empregados no início da admissão.

A Figura 4 apresenta a taxa de rotatividade para o setor de transformação da carne

bovina estadual para os anos de 2007 e 2008, e para se medir o percentual dos trabalhadores

substituídos mensalmente em relação ao estoque vigente no primeiro dia do mês, calcula-se a

Taxa de rotatividade1.

De acordo com conceituação do IBGE, a taxa de rotatividade é a razão do mínimo

entre as admissões e desligamentos no mês de referência da pesquisa e o número total de

pessoas ocupadas assalariadas no mês imediatamente anterior, multiplicado por 100.

Representa, portanto, a percentagem do número de trabalhadores substituídos por outros no

total de trabalhadores.

A taxa de rotatividade no estado variou de 2,79 a 7,76% no período de 01/2002 a

12/2008, a maior taxa de rotatividade observada no período foi em maio de 2005, quando a

taxa atingiu a marca de 7,765%, conforme a Figura 4.

1 O cálculo da taxa de rotatividade mensal é obtido utilizando o menor valor entre o total de admissões e

desligamentos sobre o total de empregos no 1º dia do mês, a partir do estoque base da RAIS no fechamento do

ano, ou seja, em 31/12.

TR (t) = (mínimo ( A(t) , D(t) ) x 100)/ E(t)

Em que:

TR = taxa de rotatividade do mês t; A(t) = total de admissões no mês t; D(t) = total de desligamentos no mês

t;E(t) = total de empregos no 1º dia do mês.

12

Figura 4. Taxa de rotatividade (em porcentagem) de emprego da indústria frigorífica bovina

em Mato Grosso de 2002 a 2008.

Fonte: MTE, 2008. Dados Trabalhados.

Em relação ao estoque de emprego do setor de transformação da carne bovina

estadual, observa-se uma tendência de crescimento (Figura 5), pois nos últimos meses, tem

ocorrido um acréscimo no saldo, entre admissões maiores que o número de demissões, apesar

de uma tendência declinante, no final de 2008, aumentando o estoque de empregos de 17.010

do início do período para 19.466 empregos.

Figura 5. Estoque de emprego do setor de transformação da carne bovina em Mato Grosso de

2002 a 2008.

Fonte: MTE 2008. Dados Trabalhados

2,00

3,00

4,00

5,00

6,00

7,00

8,00

01/0

2

04/0

2

07/0

2

10/0

2

01/0

3

04/0

3

07/0

3

10/0

3

01/0

4

04/0

4

07/0

4

10/0

4

01/0

5

04/0

5

07/0

5

10/0

5

01/0

6

04/0

6

07/0

6

10/0

6

01/0

7

04/0

7

07/0

7

10/0

7

01/0

8

04/0

8

07/0

8

10/0

8

Títu

lo d

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ixo

6000

8000

10000

12000

14000

16000

18000

20000

22000

01/0

2

05/0

2

09/0

2

01/0

3

05/0

3

09/0

3

01/0

4

05/0

4

09/0

4

01/0

5

05/0

5

09/0

5

01/0

6

05/0

6

09/0

6

01/0

7

05/0

7

09/0

7

01/0

8

05/0

8

09/0

8

Est

oq

ue

de

Em

pre

go

Estoque de Emprego Linear (Estoque de Emprego)

13

Os trabalhos mais recentes, como os de Chetwin e Bairam (2001), Davidson e

Matusz (2004), têm detalhado o mercado de trabalho com trabalhadores de diferentes

capacidades. Aqueles em que seus postos de trabalho não exigem muitas habilidades

oferecem baixos salários, e aqueles que requerem mais formação, a remuneração é

relativamente mais elevada. Esses respectivos empregos são tratados de forma mais

minuciosa, portanto, com maior relevância do que em modelos anteriores, empregos de baixa

qualificação no setor são fáceis de encontrar, mas não duram muito tempo (há alta

rotatividade). Empregos de alta habilidade são relativamente difíceis de encontrar, porque o

problema de correspondência entre trabalhadores e empresas é mais difícil de resolver, mas

duram mais, uma vez que empresa e trabalhador se servem.

Villela et al. (1994) ressalvam que o comportamento da produtividade do trabalho na

indústria de transformação é comumente anticíclico. Segundo o autor, a teoria sugere que

devido à presença de economias de escala na produção, a produtividade deveria crescer à

medida que se aumenta o grau de utilização da capacidade instalada da indústria, isto é,

durante os períodos de crescimento da produção. A cadeia causal seria então: ganhos de

escala → aumentos de produtividade → reajustes de preços abaixo da média → maiores

vendas e produção.

O autor afirma ainda que há uma tendência a se empregar um volume menor de

trabalhadores na indústria transformadora como um todo. A explicação estaria nos ganhos de

produtividade e a manutenção dos níveis de emprego, pois são objetivos mutuamente

exclusivos em alguns períodos, admitindo uma visão estática dos efeitos dos ganhos de

produtividade sobre o volume de emprego na economia. Segundo o autor, tal visão não pode

ser generalizada porque nem sempre há um trade-off necessário entre aumentos de

produtividade e ganhos de emprego.

Observa-se a necessidade de identificar onde se encontram os empregos e as

indústrias frigoríficas dentro do estado de Mato Grosso, para isso buscaram-se informações na

Federação das Indústrias no Estado de Mato Grosso (FIEMT) para localizar onde se

encontram as referidas indústrias. Já as informações de localização dos empregos foram

filtradas na base de dados do MDIC.

14

Os empregos da indústria frigorífica de Mato Grosso estão distribuídos em sua

maioria na parte Sul do estado, com destaque a região de Cáceres com a maior concentração

de empregos equivalente a 4.537 para o ano de 2008, seguida da região de Cuiabá com 4.193

empregos. Em terceira posição na concentração dos empregos do setor fica a região de Barra

do Garças com 3.360 unidades. Na parte Norte do estado, as regiões mais representativas no

número de empregos foram a região de Alta Floresta com 3.906 empregos formais, a terceira

maior concentração estadual e a região de Vila Rica com 1.533 em sétimo lugar do estado. As

regiões menos representativas para a distribuição do emprego da indústria frigorífica foram

Sorriso e Diamantino com 3 e 49 empregos por região, respectivamente, como pode ser

observado na Figura 6.

Figura 6. Mapa de distribuição do número de empregos da indústria frigorífica por região do

estado de Mato Grosso em 2008.

Fonte: MDIC, 2008. Elaboração própria.

Quanto à distribuição das indústrias frigoríficas, do total de 60 indústrias presentes

no estado de Mato Grosso, 43 estão situadas na parte Sul do estado, com destaque para a

15

região de Cáceres e Barra do Garças com 11 unidades cada uma, a região de Cuiabá com 6

frigoríficos instalados e a de Rondonópolis com outras 5 unidades. A maior concentração de

unidades frigoríficas por região encontra-se na região de Alta Floresta, no Norte do estado,

com 13 frigoríficos em funcionamento, seguida pelas regiões de Juara, Juína e Sinop com 3

indústrias cada uma. As regiões menos representativas em número de frigoríficos são as

regiões de Diamantino, Sorriso e Tangará da Serra com apenas uma unidade cada, devido à

atividade econômica principal dessas regiões ser a agricultura.

A Figura 7 mostra o mapa de distribuição das indústrias da transformação da carne

bovina do estado de Mato Grosso.

Figura 7. Mapa de distribuição de unidades frigoríficas por região do estado de Mato Grosso

em 2008.

Fonte: FIEMT, 2008. Elaboração própria.

Com a apresentação dessas informações acerca da concentração da atividade

frigorífica em cada região do estado, percebe-se que há uma predominância dos empregos na

parte Sul do estado tanto em número de indústrias quanto no número de empregos. A

16

dissonância encontrada foi o menor número de empregos por cada indústria da região de Alta

Floresta, pois com o maior número de frigoríficos por região, 13 unidades, apresentou apenas

a terceira maior concentração de empregos, com 3.906 unidades, 631 unidades a menos que a

região de Cáceres que possui onze frigoríficos. Este fato se deve ao tamanho das unidades

industriais daquela região, pois se tratam de frigoríficos menores e com menor número de

empregados que os encontrados na parte Sul do estado de Mato Grosso.

2.2.2 O Segmento de Abate e Processamento

Alguns estudos sobre a cadeia agroindustrial da carne bovina encontrados na

literatura foram utilizados como base para esta caracterização, como por exemplo, a série

agronegócios do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (BRASIL, 2007) e o

Diagnóstico da cadeia da bovinocultura de corte em Mato Grosso (FAMATO; FABOV,

2008).

O segmento de abate e processamento, em nível nacional, apresenta grande

concorrência entre empresas, que podem ser classificadas em dois grupos: o primeiro é

composto por aquelas que atendem a mercados mais exigentes, como o mercado externo

(exportação) e as grandes redes supermercadistas. O segundo grupo compreende aqueles

estabelecimentos que atendem às necessidades de mercados regionais, em que o preço é o

principal fator de concorrência (BRASIL, 2001).

Considerando os abates de bovinos em nível nacional (Tabela 2), percebe-se que

enquanto as regiões Sul e Sudeste mantiveram patamares de abates anuais relativamente

estáveis, a região Centro-Oeste mostrou crescimento acelerado no período de 1998 a 2008.

Tal evolução deve-se à migração dos frigoríficos da região Centro-Sul para o Centro-Oeste,

na tentativa de acompanhar a tendência de aumento da produção bovina nessa região. Quanto

às demais regiões, observa-se a baixa capacidade anual de abate bovino nas regiões Norte e

Nordeste se comparadas com as regiões Sudeste e Centro-Oeste. No entanto, é visível o

crescimento na região Norte e, em razão disso, tem ocorrido, nessa região, novos

investimentos frigoríficos recentes.

Tabela 2. Evolução do abate nacional de bovinos por região, de 1998 a 2008.

17

Ano Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste

1998 1.202.624 1.233.553 3.760.769 2.558.825 5.635.106

1999 1.787.135 1.484.513 3.673.421 2.540.725 7.167.359

2000 2.037.926 1.598.745 3.718.451 2.337.085 7.284.476

2001 2.228.498 1.736.169 4.842.747 2.160.345 7.351.833

2002 2.842.327 1.916.343 5.137.540 2.208.671 7.707.560

2003 3.079.544 2.042.435 5.457.989 2.453.963 8.461.016

2004 3.598.622 2.165.947 6.714.962 3.200.967 10.054.356

2005 4.308.421 2.384.238 6.737.399 3.681.183 10.682.517

2006 5.456.823 2.794.912 6.827.814 3.809.259 11.394.666

2007 6.281.235 3.123.471 7.134.538 3.002.207 11.171.463

2008 5.345.519 3.223.471 7.037.987 3.017.160 10.076.233 Fonte: SIDRA, IBGE, 2008.

No caso específico de Mato Grosso, o estado ganhou destaque no ranking dos

estados que mais abatem bovinos no Brasil entre 1998 e 2008. Pois, segundo o estudo

Famato; Fabov (2008) a capacidade instalada de abate de bovino do estado era de 22.189

animais diários. Destes, 12.875 animais eram destinados ao mercado exterior. Contudo, a

atual situação do estado, em termos de capacidade instalada das indústrias frigoríficas, revela

que com os fechamentos de 16 indústrias interrompeu um período de expansão verificado na

ocasião, além do fato de que várias destas plantas frigoríficas estariam com projetos de

ampliação e implantação de novas unidades industriais no estado.

Tal estudo revelou que no momento em que o setor estava em um bom

funcionamento das unidades, não haveria praticamente ociosidade de abate nos frigoríficos do

estado, uma vez que as unidades trabalhavam próximas dos seus limites de produção, e em

alguns casos ampliavam sua produção através de expansão de turnos de trabalho, para

cumprir com suas metas de abate estabelecidas. O processo de expansão da capacidade de

abate bovino em que se encontrava procurava atender ao extenso rebanho bovino do estado e

também é influenciada pela possibilidade de otimização da intermodalidade de transporte. Por

esse plano, a completa pavimentação asfálticada BR- 158 e a construção da BR-242,

interligando as BR‘s 163 e 158 de Sorriso a Ribeirão Cascalheira, tornará a carne bovina

produzida no estado extremamente competitiva no mercado internacional.

Esperava-se que o setor recuperasse o desempenho promissor de antes da crise

iniciada em 2008 para que então se retomasse a ampla expansão na capacidade de abate de

18

bovinos que estava em curso, partindo-se de 22.189 abates diários em setembro de 2007 para

um total de 45.389, aproximadamente, 105% de expansão, dados oriundos da CentroBoi

(2007). Contudo, como pode ser observado na Figura 8, devido à crise no setor ocorrida no

final do ano de 2007, a indústria frigorífica não pôde expandir sua capacidade de abate como

planejado, pois apenas no final do ano de 2009 o nível de abates se equiparou com o de 2007.

Portanto, ainda não foi criada uma efetiva expansão da capacidade do abate estadual, pois a

queda no volume de bois abatidos em 2008 foi mais acentuada do que a esperada pelo setor.

Já que os abates com inspeção federal sofreram uma retração de 13%, enquanto o setor

acreditava que a queda no ano ficaria entre 5% e 8% (SINDIFRIGO, 2008).

Figura 8. Evolução do abate de bovinos no estado de Mato Grosso, de 2002 a 2009.

Fonte: IBGE, 2008.

As expectativas em relação às exportações futuras segundo o estudo realizado pelo

Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (BRASIL, 2007) eram extremamente

positivas, contudo com a necessidade de esforços para superar barreiras internas e externas.

As barreiras internas podem ser subdivididas em dois grupos. No primeiro, estão questões de

ordem técnica, que dependem tanto de esforços governamentais, em alguns casos, quanto de

pecuaristas e indústrias processadoras, em outros. São basicamente questões sanitárias, com a

efetiva implementação da certificação de propriedades e identificação de animais, que

viabilizaria a rastreabilidade, bem como a ampliação da infra-estrutura de escoamento da

produção, que reduziria custos e permitiria credibilidade nos prazos de entrega aos clientes. É

30

40

50

60

70

80

90

100

110

Milh

õe

s

Abate MT (kg)

19

ressaltada, ainda, a necessidade de difundir sistemas de caracterização de produtos

diferenciados (por exemplo, marcas coletivas ou selos de origem), associados aos diferentes

mercados.

No segundo grupo estão questões de ordem gerencial, que dependem de esforços

governamentais, dos agentes de pesquisa e disseminação de informações, das associações de

classe e das indústrias processadoras. Essas questões estão relacionadas com a coordenação da

cadeia, sobretudo nos elos que envolvem os pecuaristas e a indústria de abate e

processamento.

Em Mato Grosso no ano de 2009, pelo menos 15 frigoríficos de médio e grande porte

encontravam-se com as operações suspensas, e sofrendo manifestações a respeito do

pagamento e negociação dos animais já abatidos (CNA, 2009). O período de estiagem faz os

pastos secarem na maioria das regiões, e a retração por parte dos compradores dando força às

pressões de preço baixo. Já que os frigoríficos com escalas maiores pressionam as cotações e

adquirem apenas o necessário, na expectativa de aumento de oferta.

A utilização da capacidade instalada dos frigoríficos de Mato Grosso segundo dados

do IMEA (2009) foi de 4.013.621 cabeças em 2008, um número 25% menor que no ano de

2007. As regiões que mais foram afetadas foram a Noroeste, Nordeste e Norte, com redução

de suas capacidades na ordem de 52%, 50% e 31% respectivamente. Já as regiões Centro-Sul

e Sudeste obtiveram comportamento contrário, pois conseguiram elevação dos abates em 32%

e 6% respectivamente. Este fato deve-se basicamente porque grande parte das plantas

frigoríficas que encontravam-se com operações suspensas estavam nas regiões que sofreram

queda na produção, e dessa forma as indústrias da região sul do estado foram beneficiadas.

Associação Brasileira de Frigoríficos (ABRAFRIGO) se mostra discordante com o

pacote de medidas do Governo para ajudar os grandes frigoríficos que passam por

dificuldades, e em especial para o estado de Mato Grosso, ressalta que os pequenos e médios

respondem por 70% do abastecimento do mercado interno. E além dessa questão aborda que

as grandes empresas foram as que mais apresentaram irregularidades financeiras e de gestão.

E também identificam as razões que explicam a necessidade de a indústria frigorífica precisar

de uma administração mais organizada e profissional.

20

Ainda segundo a ABRAFRIGO há uma baixa escolaridade por parte dos donos de

frigoríficos, desincentivo de mudanças na gestão, já que prevalece o conceito de que mudar

não seria favorável. O setor é composto por uma legislação tributária arcaica e deficiente, que

estimula a atividade clandestina, como também uma ausência de visão estratégica de longo

prazo. A baixa rentabilidade do negócio impede investimentos em modernização, logística e

inteligência corporativa. O oligopsônio dos supermercados pressiona e comprime a

lucratividade da indústria e a elevada inadimplência do pequeno varejo, ao lado da baixa

rentabilidade, dificulta ainda mais a capacidade de geração de caixa necessário aos

investimentos. E finalmente, a desunião recorrente entre os elos da cadeia produtiva dificulta

o diálogo com as autoridades, afetando a todos indistintamente.

Portanto, cabem esforços de todos os segmentos para que os prejuízos não se

estendam mais ainda sobre o nível de emprego dos setores relacionados à bovinocultura e

para toda a sociedade.

2.2.3 Sazonalidade e Ciclo da Pecuária Bovina de Corte

A sazonalidade é uma característica da maioria das cadeias produtivas do

agronegócio, isso inclui a cadeia produtiva da carne bovina. Essa especificidade ocasiona uma

série de conseqüências na dinâmica de funcionamento dos agentes que atuam nessas cadeias,

e uma das principais é a volatilidade dos preços recebidos pelos produtores rurais, ao longo do

ano. Vale dizer que a sazonalidade pode ser observada tanto na produção quanto no consumo

de produtos agroindustriais (BRASIL, 2007).

Segundo Brasil (2007), o estudo realizado para a cadeia da pecuária no Brasil, as

características do mercado europeu permitem apresentar um bom exemplo de como a

sazonalidade de consumo pode afetar a dinâmica de produção e comercialização da cadeia

produtiva de carne bovina. Observa-se que no inverno europeu há um aumento na procura de

carnes mais baratas, basicamente dianteiros para utilização em ensopados, ao passo que no

verão cresce a demanda por carnes nobres, basicamente traseiros. Para solucionar o

desequilíbrio entre a produção e a demanda, os frigoríficos europeus promovem exportações

alternadas dos respectivos excedentes, de acordo com as estações do ano. No mercado

brasileiro, não é identificada essa acentuada sazonalidade da demanda, o que permite um

21

perfil de exportações mais comportado, privilegiando as exportações das carnes nobres, de

maior valor.

O ciclo de produção na pecuária brasileira tem predominância nas épocas de

reprodução dos animais, seguindo o ciclo natural. Essa característica possui vantagem no fato

de os bezerros serem mais homogêneos (nascimento em um mesmo período do ano), exigindo

manejos semelhantes nas fases de recria e engorda, reduzindo os custos e as necessidades de

planejamento e controle das atividades. No entanto, essa característica acentua a sazonalidade

do rebanho, que poderia ser atenuada com sistemas de manejo mais eficientes. Assim, essa

estratégia produtiva incorpora maior variação da oferta, uma vez que implica entressafras

recorrentes, e, portanto, impacto nos preços, podendo gerar risco de perdas.

Durante o período de 1990 até 2004 foi observado um avanço no número de

confinamentos no território nacional e no Estado de Mato Grosso, retratando especificamente

esse fenômeno de migração das áreas de confinamento para regiões próximas das grandes

áreas produtoras de grãos (milho e soja).

No estado de Mato Grosso, a tendência de implantação dos confinamentos no

chamado circuito de produção de grãos foi evidente a procura para trazer a engorda para

locais onde há uma alta disponibilidade de resíduos da agricultura, que permite um custo de

produção menor (FAMATO; FABOV, 2008).

A utilização da produção pecuária por confinamento animal ganhou força nos

últimos anos em todo território nacional e estadual. Pois, o produtor encontrava nesta opção

como principal diferencial o aproveitamento do diferencial de preços do boi gordo, entre a

safra e a entressafra, em que era possível um valor até 30% mais alto do que no período de

safra.

Outros benefícios indiretos ao sistema confinado são também considerados, Pascoal

et al. (1999) cita, por exemplo, a aceleração do giro de capital, redução da carga animal das

pastagens durante o inverno, programação da data de comercialização dos animais.

Lopes e Magalhães (2005) completam ainda que os confinamentos proporcionam

uma lotação mais elevada que os regimes de pastejo, contudo, com um custo de produção por

22

arroba mais cara que a convencional. Deste modo, deve-se certamente fazer o uso de uma

maior produção através o aumento do desfrute com a redução da idade de abate.

Entretanto, em função deste estímulo, o que se observa no mercado é uma tendência

de aumento contínuo da quantidade ofertada de animais para abate na entressafra, o que

acarreta na redução da ociosidade dos frigoríficos que passam a não necessitar mais pagar um

elevado preço pela arroba como antes.

Com a diminuição da idade de abate, há uma melhora na qualidade da carne, mas não

há uma melhora na remuneração adicional pela qualidade de produção, e se os confinadores

não obtêm a vantagem da sazonalidade com maiores preços de venda de seu produto final e

nem a diferenciação de um produto de melhor qualidade, o único benefício é o do giro mais

rápido e, consequentemente, um maior volume de produção com a mesma quantidade de

recursos naturais utilizados (LOPES; MAGALHÃES, 2005).

Do outro lado da cadeia de produção, os frigoríficos passaram a ter uma oferta

constante e de qualidade dos animais, que diminuiu a pressão para elevação dos preços da

arroba bovina no período da entressafra. Essa disponibilidade maior de animais atenuou a

sazonalidade da oferta que existia no passado como grande entrave para todo negócio da

pecuária. Assim os confinamentos cumprem papéis importantes dentro da cadeia de produção,

o de amenizar a sazonalidade de oferta e também de ser uma opção de carne de qualidade para

o consumidor final.

2.2.4 Aspectos Tecnológicos

Parte da cadeia agroindustrial brasileira de carne bovina, com exceção daquela

voltada prioritariamente para a exportação, tem passado por um processo lento de

reestruturação produtiva e de modernização tecnológica. Esse processo ocorre particularmente

na produção para o mercado interno, dadas as restrições de renda do consumidor e a ausência

de pressão do mercado por padrões tecnológicos e produtos mais sofisticados.

Segundo Brasil (2007) os motivos do atraso tecnológico muitas vezes são função da

maneira como o ―negócio‖ pecuário é visto e gerido. Pois, ainda existe um grande número de

propriedades nas quais o gado bovino é considerado como reserva de valor. Contudo, há

23

estimativas de que haverá ganhos de produtividade com a atividade e dessa forma os

resultados financeiros dos ganhos de produtividade devem ser dirigidos para investimentos

nas possibilidades oferecidas pela utilização de raças mais adequadas aos diferentes ambientes

e requisitos (tempo de abate, produtos com requisitos especiais) e para a utilização de

instrumentos de gestão mais eficientes.

Em estudo da cadeia produtiva da bovinocultura nacional, a diversificação

tecnológica encontrada nas indústrias brasileiras e suas características são descritas da

seguinte maneira:

Alguns estudos mostraram que já no início do ano 2000, os fornecedores

disponibilizavam equipamentos tecnologicamente avançados e

diversificados, voltados a diferentes escalas. Contudo, não foram

amplamente incorporados pelo setor produtivo nacional, mantendo a

heterogeneidade entre empresas. Essa heterogeneidade é o resultado,

principalmente, do porte da empresa e do mercado que ela atende. Empresas

de maior porte e voltadas para o mercado externo tendem a ser mais

intensivas em tecnologia que empresas de menor porte voltadas para

mercados regionais. (BRASIL, 2007. p. 55).

As tecnologias de abate e processamento de carnes são relativamente maduras e

homogêneas em todo o mundo. Não existe defasagem tecnológica importante entre os grandes

frigoríficos nacionais e seus competidores externos. Dessa forma, pode-se considerar que a

tecnologia de abate e processamento não tem comprometido a qualidade e a quantidade das

exportações brasileiras de carne bovina. No entanto, o setor de abate e processamento pode

somar esforços para, a exemplo do ocorrido na indústria avícola, agregar valor às suas

atividades pelo desenvolvimento de produtos de conveniência, que não apresentem perda de

qualidades organolépticas e nutricionais.

Em relação à distribuição dos produtos cárneos, essa conta com uma realidade

tecnológica mais avançada que aquela dos outros elos da cadeia agroindustrial da carne

bovina. A evolução do mercado varejista, marcada pela concentração das grandes cadeias de

supermercados em busca de economias de escala e escopo e pela busca de estratégias

diferentes dessas por lojas independentes, tem impulsionado a modernização tecnológica

desse setor. A tecnologia da informação, por exemplo, passou a ser amplamente utilizada,

interligando e automatizando, em tempo real, as transações de compra e controle de estoques

entre produtores/fornecedores e pontos de venda.

24

Um dos caminhos para melhorar a coordenação da cadeia no Brasil é a melhor

integração entre o sistema de sanidade desenvolvido e mantido pelo governo, com o objetivo

de rastrear a sanidade animal conhecido por SISBOV (Sistema de Gestão para Certificadoras

de Rebanho Bovino e Bubalino) e as certificadoras do sistema, pois ainda coexistem

produtores, frigoríficos e distribuidores em diferentes estágios de implantação do sistema de

rastreabilidade (BRASIL, 2007).

Existem possibilidades concretas de continuidade do crescimento das exportações

brasileiras, e isso depende da capacidade da cadeia produtiva nacional de atender às

exigências do mercado externo.

Em estudo realizado para a cadeia da bovinocultura em Mato Grosso, relata-se essas

mesmas condições heterogêneas dos estabelecimentos que são encontradas em todo país de

modo geral.

Em termos de tecnologia de abate e processamento, de modo geral, os

estabelecimentos mais tecnificados e orientados para mercados mais

exigentes apresentam sistemas modernos e informatizados, enquanto aqueles

menos tecnificados encontram-se tecnologicamente defasados e em

condições precárias (BRASIL, 2001). Em comparação ao nível tecnológico

dos frigoríficos estrangeiros, os brasileiros estão em igual patamar, havendo

somente maior defasagem para o caso dos processos produtivos,

principalmente relacionados aos subprodutos do boi (FAMATO; FABOV,

2008. p. 309).

Em certo nível, o levantamento do setor de abate e processamento para o estado de

Mato Grosso possui características gerais semelhantes às descritas nos trabalhos ora citados.

Percebe-se, em Mato Grosso, um grupo de unidades frigoríficas mais tecnificado e voltado

para exportação e outro grupo menos tecnificado que atende ao mercado interno.

Quanto à disponibilidade de máquinas, equipamentos e instalações para servir de

base aos processos produtivos, o setor tem ao seu dispor tecnologia relativa aos insumos

disponíveis, que também o coloca em igual nível de competitividade com as indústrias

frigoríficas estrangeiras. Da mesma forma, a indústria beneficia-se com a disponibilidade de

tecnologia e conhecimento voltados para aprimoramento dos processos de produção, da

preparação e manipulação da carne, de seus derivados e subprodutos. Entretanto, apesar da

disponibilidade de conhecimento para aprimoramento dos processos de produção e das

características dos produtos e subprodutos, ressalta-se o potencial de avanço que a indústria

25

frigorífica da bovinocultura de corte tem, uma vez que muito ainda pode ser feito para atingir

o nível de sofisticação e diversificação de produtos derivados de outros tipos de carne,

principalmente, aqueles oriundos do setor de suínos e aves.

2.2.5 Canais de Comercialização e Coordenação dos Segmentos

Os canais de comercialização mais habitualmente utilizados no estado de Mato

Grosso, cerca de 95% das vendas da carne para o exterior são realizadas por traders

(atravessadores) e o pagamento é à vista, ou seja, o recebimento é feito quando a mercadoria

chega ao destino. Cabe ressaltar que não existem contratos de garantia de preços futuros ou de

fornecimento. A maior parte do volume exportado pelas empresas (80%) é de carne in natura

resfriada ou congelada. A carne industrializada tem como principais destinos os EUA e o

Reino Unido, mercados responsáveis pela compra de 90% do volume de carne industrializada

brasileira. Os miúdos são destinados para a Ásia. Os outros mercados compram carne in

natura do dianteiro ou traseiro do animal. Os frigoríficos trabalham com cortes específicos

para alguns países ou mercados (FAMATO; FABOV, 2008).

Devido às barreiras sanitárias, os EUA não adquirem carne bovina brasileira in

natura, mas segundo a Secretaria de Comércio Exterior (MDIC, 2008), confirmados pela

Abiec (2007), em 2006 os EUA compraram um pequeno volume de carne in natura brasileira,

correspondendo a 0,09% do total de carne in natura exportado. Assim, nota-se que a maior

parte da carne exportada para os EUA é industrializada, como preparações e conservas de

carnes cozidas com maior valor agregado.

Em Mato Grosso, segundo MDIC (2008), a empresa que mais se destacou no setor

de carne em 2008 foi o Grupo JBS-Friboi, que comercializou US$ 281.289.467 F.O.B.,

representando 3,60% de tudo que foi exportado pelo estado, contudo, esses valores foram

menores que no ano anterior, em que a empresa tinha participação de 5,45% do total

exportado pelo estado. Em Mato Grosso, a JBS-Friboi tem unidades em Araputanga, Barra do

Garças, Pedra Preta e Cáceres, que comercializam carne in natura, extrato de carne, carne

cozida e congelada, estômago congelado, miúdos e tendão desidratado, dentre outros

subprodutos. Mais adiante na subseção de estrutura de mercado será abordado a importância

adquirida pela JBS-Friboi no mercado mundial de proteína animal.

26

Em geral, como há uma heterogeneidade da demanda por carne dos países

importadores, isso gera um processo de diferenciação dos produtos exportados para esses

mercados, o que faz com que os frigoríficos procurem fugir das características de commodity

do produto, por meio de variações nos tipos de cortes, marcas, rótulos e embalagens.

Em termos de coordenação da cadeia, existe a necessidade de avanços das parcerias

entre pecuaristas e frigoríficos, estreitando o relacionamento entre os agentes. As parcerias

podem assumir a forma de contratos, sistemas compartilhados de informações e a busca de

outras ações que permitam a distribuição equilibrada dos ganhos da atividade.

O desenvolvimento de sistemas precisos e confiáveis de rastreabilidade dos animais

ainda é um dos desafios enfrentados pelos frigoríficos nacionais. Atualmente, esse sistema

permite somente a rastreabilidade por lotes de animais abatidos.

A coordenação no agronegócio da carne, conforme Zylbersztajn e Machado Filho

(2000) e IPARDES; UFSCAR; IBPQ (2002) apresentam um misto de coordenação contratual

de um subsistema de baixa qualidade, no qual a carne é uma commodity, as relações

comerciais estabelecem-se por contato pessoal entre o açougue e o consumidor, sem garantias

de origem ou qualidade, sendo o preço o principal direcionador dos negócios, e açougues e

feiras os principais locais de venda.

Em outro subsistema, considerado de alta qualidade, com maior grau de informação

em poder do consumidor, as transações dos frigoríficos ocorrem com o distribuidor

(varejista/atacadista). A comercialização é realizada com o produto carne muitas vezes

desossado e empacotado, havendo pressões por atributos de qualidade como cor, textura,

maciez e segurança do produto, e os preços estariam refletindo estes atributos. Os atacadistas

apresentam-se como alternativa de comércio, mas com grande expansão de redes

supermercadistas.

A transação entre o abatedouro/frigorífico e o atacadista/varejista no subsistema de

menor qualidade dar-se-ia sem troca de opiniões com o consumidor final, vendas de carcaças

inteiras e com intermediários compradores. No subsistema de maior qualidade, existirá

contato direto com o varejista e, assim, com possibilidade de fluxo de informações entre o

frigorífico e o consumidor final, negociando carne desossada e empacotada e com pressões

por qualidade.

27

Em geral, os sistemas mais avançados tecnicamente requerem adoção de práticas as

quais exigem supervisão, controle e certificação, seja via contratos e fiscalização da própria

empresa líder do sistema, sejam pelos requisitos de demanda.

O estado de Mato Grosso apresenta algumas peculiaridades que requerem cautela.

Uma delas envolve as chamadas áreas de fronteira. O estado divide com a Bolívia, Paraguai e

outros estados que ainda não estão livres da aftosa. Dessa forma, muitas vezes é penalizado

com zoneamentos contrários à exportação de carne bovina para mercados com melhores

remunerações do produto. Além destas áreas, tem-se também a de restrição devido à febre

aftosa, que, embora já esteja controlada em Mato Grosso há 13 anos, mas pelo fato de fazer

divisas com áreas infectadas, é empecilho e motivo para a existência de ―áreas não

habilitadas‖ para exportação para a União Européia.

2.2.6 Insumos

O estado de Mato Grosso tem o maior rebanho bovino do país e tal condição permite

uma disponibilidade quantitativa de animais para o setor de abate. Considera-se que houve

certa superioridade da oferta de animais em relação à capacidade de abate (procura por

animais terminados) nos finais de 2006 e início de 2007, e, nessa condição, os frigoríficos

encontraram-se em uma situação favorável, uma vez que, dentro da grande disponibilidade de

animais no mercado, é possível, até certo limite, escolher e comprar os melhores animais.

Adicionalmente, nesta situação de maior oferta de animais em relação à demanda,

houve favorecimento ao segmento frigorífico quanto aos preços de compra destes. Porém, em

um estágio mais atual, desde meados de 2007, percebeu-se uma inversão significativa deste

ciclo de superoferta de animais terminados para o abate. Tal fato decorreu de elevado abate de

matrizes iniciado em 2003, o que culminou, em 2006, com o abate de 50% de animais machos

e 50% de fêmeas, implicando na redução de fêmeas em todas as faixas etárias da

bovinocultura (0-12 meses, 13 - 24 meses; 24- 36 meses e acima de 36 meses).

Quando se consideram os outros insumos de produção do setor de abate e

processamento, ou seja, aditivos, embalagens e envoltórios, o setor tem disponibilidade

adequada desses em termos de quantidade e qualidade. Dentre estes, destacam-se as

28

embalagens, as quais têm sofrido importantes aprimoramentos com o objetivo de melhorar a

conservação e o acondicionamento das carnes bovinas.

2.2.7 Relações de Mercado

No que diz respeito ao relacionamento entre frigoríficos e fornecedores de insumos,

que não os pecuaristas, existe uma situação relativamente tranqüila, sem a presença de

conflitos e empecilhos ao desempenho competitivo da produção de carne bovina.

No caso do estado de Mato Grosso, maior cuidado no processo de transporte dos

animais terminados para o abate, transparência no processo de pesagem e toalete e a não

adoção de um sistema de classificação e tipificação de carcaça bovina parecem ser as grandes

causas dos conflitos que ocorrem entre estes dois elos da cadeia produtiva. Vale ressaltar que

este conflito marcado por desconfiança e oportunismo de ambos os lados é responsável pelo

maior prejuízo da cadeia de bovinocultura de corte de Mato Grosso em termos de

competitividade (FAMATO; FABOV, 2008).

Por sua vez, o relacionamento entre frigoríficos e compradores de carne, apesar de

marcado por uma situação de desequilíbrio de poder em favor dos últimos, está em melhores

condições do que o relacionamento frigoríficos-pecuaristas. Foi geral a queixa das unidades

frigoríficas consultadas quanto à situação de barganha e poder que, principalmente, grandes

redes de distribuição de carnes, entre elas supermercados, têm em relação aos

estabelecimentos frigoríficos. Segundo estes, os compradores de carne têm uma posição de

compra privilegiada, em razão da grande oferta de produto no mercado, o que faz com que

eles ditem condições de preço, pagamento e qualidade. Tal aspecto é devido à concentração

dos estabelecimentos compradores de carne na mão de um número relativamente inferior em

comparação às unidades frigoríficas produtoras de carne.

A rastreabilidade apresenta-se como uma ferramenta de grande potencial para

melhoria do sistema de gestão de marketing dos frigoríficos. Se feita com sucesso nos elos

anteriores ao frigorífico, a rastreabilidade pode oferecer a possibilidade de segmentação de

mercado, indicando os ajustes a serem implementados na linha de produção para atendimento

a mercados com exigências específicas.

29

Todavia, apesar de os frigoríficos exportadores fazerem uso dessa ferramenta para

seu processo de estratégia de marketing, de modo geral, os frigoríficos de Mato Grosso

voltados para o mercado interno, parecem não explorar a contento as possibilidades que as

informações oferecidas pela rastreabilidade dos animais bovinos permitem. Provavelmente,

tal evidência esteja ligada à constatação do diagnóstico da pecuária brasileira realizado em

2000, que indicou que os frigoríficos nacionais, de modo geral, não expressaram preocupação

sistematizada com relação a esta questão, uma vez que do ponto de vista dos abatedouros e

frigoríficos, o consumidor brasileiro ainda não está sensibilizado para exigência desse tipo de

informação e, portanto, se o estabelecimento o faz isso tem que ocorrer sem ônus para o

consumidor nacional (IEL, CNA; SEBRAE, 2000).

2.2.8 Estrutura de Mercado

Com a migração dos frigoríficos para o centro-norte do País, aqueles que

permaneceram no Sudeste tendem a se aproveitar da maior proximidade dos centros

consumidores (varejistas), especializando-se nas etapas de produção que favorecem a

exploração de segmentos de mercado de maior valor, através do desenvolvimento de alianças

estratégicas com foco na diferenciação do produto.

Essa tendência aqui identificada é mais uma realidade no caso do estado de Mato

Grosso, uma vez que há perspectivas de avanço nos modais de transporte, permitindo que a

carne produzida no estado seja competitiva no mercado externo através da utilização de portos

mais próximos, localizados na região Norte e Nordeste. Este fato faz com que as indústrias

frigoríficas do estado estejam numa posição privilegiada, ou seja, não somente próximas do

grande rebanho bovino, mas também em posição estratégica para exportação da carne

produzida.

De modo geral, os custos logísticos indicam que o abatedouro tende a se localizar

próximo ao rebanho bovino, enquanto a indústria processadora junto à distribuição de seus

produtos (BRASIL, 2001).

Em termos da estrutura de mercado, atualmente, os frigoríficos encontram-se num

estágio de concentração que favorece a atuação destes dentro do estado. Por sua vez, a

30

capacidade de abate é crescente, o que mostra que a escala de produção é favorável e pode ser

ainda mais benéfica se for aumentada.

Tais indícios são, provavelmente, conseqüência do já citado histórico de maior oferta

de animais do que a capacidade que a indústria frigorífica pode absorver, o que coloca o

segmento em uma situação de expansão, apresentando uma ausência de ociosidade da

capacidade instalada de abate.

No entanto, nota-se que mesmo com a precariedade das rodovias, a logística de saída

do estado de Mato Grosso é mais eficiente e de melhor qualidade do que a logística de

entrada. Isto se deve ao fato de que mesmo com estradas precárias, a distribuição da carne

produzida conta com um manejo de frio eficiente e maior qualidade dos caminhões

frigoríficos, além de o transporte de carnes fluir, geralmente, por vias federais e estaduais de

melhor infra-estrutura (FAMATO; FABOV, 2008).

O mercado frigorífico do estado de Mato Grosso passou por um processo com

algumas fusões de empresas desde 2008, o que tornou o mercado produtor de carnes mais

concentrado sob grandes empresas. Um exemplo foi do grupo Bertin e a JBS que firmaram

acordo de fusão das empresas unificando todas as operações dos dois frigoríficos. Além dessa

operação, houve ainda a tentativa de aquisição do grupo de frigoríficos Quatro Marcos e o

Margen (SINDIFRIGO, 2008).

O mercado da carne bovina expande a cada ano com uma evidência mundial cada

vez mais crescente, no entanto, enfrenta uma feroz competição e com uma resultante pressão

para a queda dos preços e uma contínua barreira em relação à saúde e controle sanitário dos

produtos exportados.

Uma saída eficaz para o novo mercado externo foi a internacionalização das

empresas produtoras, que passaram a ter vantagens na negociação, ganhos de escala com uma

produção maior, e possibilidade de saídas alternativas para as barreiras sanitárias impostas

pelos mercados compradores. Além disso, os investimentos diretos no estrangeiro têm

diferenças de acordo com o país que oferece as vantagens, mas partindo do ponto

determinante de que se trata de uma estratégia de diversificação (PEREIRA et al., 2009).

31

Uma empresa em Mato Grosso de destaque internacional no mercado de carne

bovina é a JBS-Friboi, o maior processador de carne bovina do mundo, que percebeu uma

possibilidade de crescimento a partir da falta de abastecimento para o mercado europeu e

saída de empresas que dominaram a indústria de carne brasileira na década de 1990 – em

conseqüência de uma crise na indústria, empresas como a Sadia, Swift, Anglo, Bordon, e

outros que dominaram o mercado de carne brasileira deixaram a indústria ou mesmo faliram –

a processadora de carne Friboi cresceu através de seus processos de internacionalização,

comprando a Swift e as suas fábricas na Argentina, Austrália e EUA e também com a marca

Inalca atuante na Itália, que possui um controle melhor por ser mais perto destes mercados.

Com a internacionalização da empresa, a JBS-Friboi teve um salto em seu

faturamento, em dez anos ela adquiriu 28 empresas, seu faturamento líquido passou de 0,4

bilhões de dólares em 1999, para 28,7 bilhões em 2009. Com essa estratégia agressiva de

compras o crescimento médio anual das receitas foi de 53%. Dessa forma, a JBS conquistou a

posição de segundo maior grupo do país (não financeiro) em faturamento, ficando atrás

apenas da Vale do Rio Doce. Todo esse crescimento e internacionalização fizeram com que o

grupo se tornasse líder mundial no mercado de proteína animal (PEREIRA et al., 2009).

Há uma divisão da produção para o mercado interno e exportador entre as maiores

empresas do setor, a JBS e Sadia. A JBS destina metade de sua produção para abastecimento

interno de carnes, enquanto a Sadia, localizada na região Sudeste é mais dedicada às

exportações, sua prioridade é a venda de seus produtos para o exterior, pois destina mais de

80% de sua produção para o mercado externo. E segundo ambas as empresas o que facilitou a

retomada das comercializações foram o câmbio a partir de 1999, que foi o principal fator

associado com o preço de venda no mercado internacional e possibilitou ganhos de mercado

que antes não existiam. Além do câmbio, o desenvolvimento de novas embalagens que

aumentam a vida útil do produto, também contribuiu para melhorar a percepção da qualidade

dos produtos brasileiros no mercado europeu principalmente.

2.3 O SISTEMA LOGÍSTICO ATUAL DE MATO GROSSO

O desenvolvimento da capacidade logística é um elemento crítico na transformação

das economias. Principalmente referindo-se ao Brasil, que dada sua extensão quase

32

continental, e sua grande população, num futuro próximo, será essencial dispor de um sistema

logístico eficiente com investimentos nas facilidades de comunicações e transportes, permitirá

ao Brasil procurar novos mercados no exterior e tornar-se mais acessível aos outros países

(FONSECA, 1997).

Graças à ampliação da fronteira agrícola para as regiões Centro-Oeste e Norte, com

atividades que incorporam modernas tecnologias de produção. Simultaneamente,

fornecedores de insumos, armazenadores e indústrias de processamento vão se aglomerando

ao redor das zonas de produção, visando principalmente à minimização dos custos de

transporte envolvidos, atendendo assim aos princípios de racionalidade econômica

(CAIXETA FILHO et.al, 1998).

Não esquecendo que a motivação principal para a busca dessa otimização, via

minimização dos custos de transportes é a necessidade de implementar a competitividade dos

produtos nacionais face à concorrência externa resultante da abertura econômica, o que

implicará não somente a redução de custos referentes às operações de exportação, mas

também a diminuição de espaços para as tentativas de avanço dos produtos importados.

A infra-estrutura de transporte é tida como atividade meio e possui uma capacidade

de variação positiva sobre a economia, através da inclusão de produtos em novos mercados

que antes não era possível devido à precariedade e, conseqüentemente, ao alto custo dos

modais de transporte. O sistema de transporte tem um importante papel potencial de romper

monopólios, provocados pelo isolamento geográfico, na produção e na comercialização de

mercadorias (MARTINS, 1998).

No estudo de Oliveira e Santos (2004), analisaram-se as principais rotas multimodais

(rodo-hidro-ferroviaria) existentes em Mato Grosso, demonstrando que a utilização do modal

rodoviário é o mais utilizado, mesmo com suas precariedades e também colocando o modal

ferroviário como uma alternativa de uso num futuro próximo, constituindo importante forma

de conferir vantagens competitivas à produção agrícola no estado.

2.3.1 O Sistema e Infra-Estrutura de Transportes de Mato Grosso

33

Dentre os papéis do sistema de transportes, destacam-se suas funções econômicas

como a de proporcionar a integração entre sociedades que produzem bens diferentes entre si,

possibilitar a especialização regional da produção e expandir mercados. A existência de um

sistema de transporte eficiente permite produção em larga escala para atender grandes

mercados, existindo relações mútuas entre desenvolvimento dos transportes e progresso

econômico citado por Martins (1998).

Do ponto de vista de custos, o transporte representa em média 60% das despesas

logísticas. Dessa forma, é essencial que o estado de Mato Grosso, localizado longe

geograficamente dos portos do país (cerca de mais de 2000 km), possua uma estrutura de

transporte eficiente para que possa minimizar as desvantagens de sua posição geográfica

(FLEURYet al., 2000).

Por via de regra, o sistema rodoviário apresenta preços de frete mais elevados do que

o modal ferroviário e hidroviário, sendo, portanto, recomendado para mercadorias de alto

valor ou perecíveis. Nesse sentido, o modal rodoviário teria a função maior de complementar

os demais, na finalização da distribuição dos produtos para o destino final. No entanto, a

realidade do estado de Mato Grosso é bem diferente, com o modal rodoviário respondendo

expressivamente do transporte total (SILVA et al., 2001).

Pereira (2007) mostra como a abertura comercial da economia de Mato Grosso

implicou em mudanças nos nexos mercantis com os centros dinâmicos do país, já que alguns

desses eixos viários atualmente desempenham importantes funções estratégicas na economia

do estado.

Os principais eixos viários do estado são a BR 364, BR 163, BR 174, BR 158, BR

070, Hidrovia Rio das Mortes-Araguaia-Tocantis, Hidrovia Madeira-Amazonas, Hidrovia

Teles Pires-Tapajós, Hidrovia Paraguai-Paraná e Ferronorte.

Com o resultado dessa abertura econômica deixa de se processar exclusivamente no

mercado interno, passando a impor novas formas e novos caminhos para essa realização.

A malha rodoviária estadual está concentrada na região Centro-Sul e Sudeste, ou

seja, apenas nessas regiões o sistema rodoviário se encontra em boas condições de tráfego.

34

Sendo a BR 364 a principal via de integração entre Sudeste, Centro-Oeste e Norte do país

(PEREIRA, 2007).

Ao extremo Norte, Oeste, Nordeste do estado, a malha viária é formada basicamente

por rodovias estaduais, não-pavimentadas, cuja funcionalidade em muitos trechos está em

condições precárias, principalmente no período chuvoso, e que prejudica não só o escoamento

da produção de carne, como também toda a produção agrícola que necessita dos mesmos

meios de transporte para seu escoamento.

A hidrovia Paraná-Paraguai desempenha importante papel na integração do Brasil

com a Argentina. Possui boas condições de navegabilidade, favorecendo essa integração, o

que deverá se acentuar à medida que se desenvolvam as regiões de influência do rio.

Atualmente há em operação oito empresas grandes e 35 pequenas (OLIVEIRA; SANTOS,

2004).

O rio Araguaia o único que apresenta uma elevada potencialidade de transporte de

cargas agrícolas a longo prazo. As demais apresentam trechos navegáveis, mas com calados

curtos, sem haver a presença de navegação comercial regular durante o ano.

De acordo com o banco de dados Aliceweb do Ministério do Desenvolvimento,

Indústria e Comércio Exterior (MDIC, 2008), as quantidades exportadas de carne bovina pelo

estado de Mato Grosso possuem apenas dois destinos, o Porto de Santos no estado de São

Paulo e Porto de Paranaguá no estado do Paraná. A distribuição das exportações de carne

bovina, em 2008 de 82% para o Porto de Santos e 18% ao Porto de Paranaguá.

A dinâmica da exportação mato-grossense de carne utiliza o Porto de Santos para o

escoamento, dado que as distâncias, e, conseqüentemente, o custo do frete são menores para

este destino. Entretanto, o Porto de Santos apresenta a maior tarifa portuária dos portos em

questão, e, por isso, o porto de Paranaguá pode ser utilizado pelos municípios de origem mais

distante, pois assim com um valor de frete maior, uma tarifa portuária de menor valor, acaba

sendo relevante para a escolha do destino.

O estudo do modal de transporte utilizado no estado de Mato Grosso mostrou que a

dependência quase exclusiva do modal rodoviário restringe as possibilidades de redução de

custos do escoamento da produção para a exportação da carne bovina. Redução de custos esta

35

que será possibilitada com investimentos de infra-estrutura em outros sistemas, como

ferrovias e hidrovias para que, assim, os produtos do estado possam adquirir maiores

vantagens sobre os produtos concorrentes, tanto internos quanto externos.

3. REFERENCIAL TEÓRICO

Nesta seção são abordadas as principais contribuições dos estudos sobreas relações

do comércio internacional e sua relação sobre o nível de emprego. Aborda-se sua teoria de

base para sustentação dos estudos propostos nesta pesquisa.

3.1 A ESCOLA CLÁSSICA E A ESCOLA KEYNESIANA

A teoria clássica surge com a premissa de que os mercados tendem a encontrar um

equilíbrio econômico no longo prazo através do liberalismo e da interpretação das inovações

tecnológicas provenientes da Revolução Industrial. Todo o contexto da Escola Clássica estava

sendo influenciado pela Revolução Industrial, e caracterizava-se pela busca do equilíbrio de

mercado, sendo que sempre a economia tenderia ao equilíbrio entre oferta e demanda, com

pleno emprego dos fatores produtivos.

A lei dos mercados era que determinava através da oferta da produção o nível ótimo

de emprego, a conhecida ―mão invisível" (Lei de Say). Esta é a fundamentação da escola

clássica, que toda oferta cria sua própria demanda, não havendo aqui a necessidade de fixação

de preços já que tudo seria reequilibrado naturalmente, e, assim, teorizando uma indefinida

possibilidade de crescimento do produto e do emprego (LOPES, 2000).

O indivíduo sempre foi considerado como racional, entendia as leis de mercado, de

modo que todos realizavam poupança. Toda a poupança da economia era canalizada para os

investimentos, que, por sua vez, são determinados pela taxa de juro e, por fim, a taxa de juro

determinava a poupança da população.

A caracterização da escola clássica neste estudo é importante para mostrar o

embasamento das primeiras teorias sobre o comércio e as suas conseqüências como

determinante do emprego.

Os mecanismos de mercado no pensamento clássico eram liberais. Assim a

intervenção do estado teria que ser mínima, apenas para garantir o bom funcionamento da

economia. No comércio implicava a liberdade de circulação, de maneira que fosse possível

adquirir uma maior quantidade de mercadorias a menores preços no exterior. A referência

37

trazida de Smith era a especialização através da divisão do trabalho e da utilização das

Vantagens Comparativas de Ricardo, tornando-se o cerne das elaboradas teorias do comércio

internacional modernas (MANKIW, 2004).

As conseqüências dessa construção das relações econômicas entre as nações era que

através do estímulo da produção de bens exportáveis que fossem vantajosos para a nação

(intervenção pelo lado da oferta), geraria uma elevação do produto nacional, com elevação do

nível de renda do trabalhador e, conseqüentemente, o aumento do nível de emprego como um

todo.

Por outro lado, o pensamento keynesiano teve o início de seu desenvolvimento no

alto índice de desemprego advindo da depressão mundial do início da década de 1930, e

influenciou a renovação das teorias clássicas e a reformulação da política de livre mercado.

A teoria da ―mão invisível‖ ou o laissez faire foi amplamente questionada nesse

período de dificuldades mundiais, passando a interrogar sobre a sua eficiência e das demais

premissas do liberalismo. A economia de mercado não era capaz de manter a estabilidade dos

preços e realizar uma distribuição de renda e riqueza socialmente aceitável. Oferecendo uma

saída para a crise vivenciada, John Maynard Keynes, em 1936, postulou uma teoria que

rompia totalmente com a idéia de não-intervencionismo, afirmando que o estado deveria sim,

interferir na sociedade, na economia e em quais áreas achasse necessário (MANKIW, 2004).

A proposição da nova teoria geral era que numa economia fechada, e outras

abstrações, o que determina, no curto prazo, os níveis de renda e emprego é a demanda

efetiva, ou seja, a soma do consumo agregado e do investimento agregado. Em geral, a

demanda efetiva nas economias capitalistas situa-se em um nível abaixo do de pleno emprego.

Assim, o governo pode intervir na economia permitindo uma sociedade sem desemprego, com

estabilidade nos preços e justa distribuição da renda e da riqueza.

O pensamento keynesiano mostrava novas abordagens das variáveis econômicas,

como a não relação entre poupança e investimento, sendo a poupança determinada pelo

rendimento e não pelo juro. Os investimentos determinados pelos lucros e não pelo juro,

fazendo essas variáveis com caminhos diferentes, sendo a decisão de investir que determina a

poupança, pela geração da necessidade de poupar.

38

O interessante dessa escola neste estudo está sob a ótica das relações comerciais

como um estímulo da produção, em um setor especializado com vantagens competitivas na

economia sendo gerado por uma demanda inicial, refutando o laissez faire. E, através dessa

demanda, ocorre o aquecimento de todo o setor, aumentando o produto total e,

conseqüentemente, elevando o nível de emprego. Dessa maneira pode-se concluir que o

investimento é determinado pelas vendas nos mercados interno (consumo interno) e externo

(exportações).

3.2 A TEORIA HECKSHER-OHLIN-SAMUELSON

A teoria da dotação relativa dos fatores desenvolvida por Hecksher-Ohlin-Samuelson

(HOS) diferenciavam as produções de duas mercadorias pela intensidade de utilização de

cada fator, sendo a mais utilizada para explicar os efeitos do comércio na distribuição de

renda em um país, logo, se o preço de um dos fatores sofresse elevação, haveria uma

redistribuição de renda em favor desse fator em questão.

Entretanto, o aumento da disponibilidade do outro fator de produção, capital, em um

quadro de preços constantes das mercadorias, faz com que ocorra a possibilidade de

crescimento de produtos intensivos nesse fator, enquanto a produção da outra mercadoria cai.

A proposição básica dessa teoria é a de que cada país tende a se especializar na

produção e exportação do item que requeira utilização intensiva do fator mais abundante no

país. Ao passo que os proprietários dos fatores abundantes ganham com o comércio, enquanto

que os donos dos fatores escassos perdem (MAGNOLI; SERAPIÃO JUNIOR, 2006).

O modelo idealiza algumas proposições, uma delas é a de que para viabilizar essa

teoria seria necessário o estabelecimento do livre-comércio, no qual o trabalho possa migrar

em busca de melhores salários e o capital se deslocar onde seu retorno fosse maior.

Entretanto, existem limitações, como a presença de barreiras, tarifas, controle de comércio ou

ainda a presença de custos de transportes que tendem a inviabilizar a validade do conjunto de

trocas entre as nações (CARMO; MARIANO, 2006).

Para Carbaugh (2004), o comércio internacional resulta em ganhos com o processo

competitivo. A concorrência é essencial para a inovação e a produção eficiente. A

39

concorrência internacional ajuda os produtores a se manterem em atividade e lhes fornece um

grande incentivo para aprimorar a qualidade de seus produtos.

Diferentemente da teoria ricardiana de vantagens comparativas, que não explicita se

países têm vantagens comparativas porque têm tecnologias diferentes ou porque tem dotação

fatorial diferente, HOS explicitamente supõe que as tecnologias de produção são as mesmas

em todos os países e o que os distingue é a dotação fatorial.

Para o entendimento do funcionamento de HOS, a utilização de um exemplo

hipotético faz-se necessário. Em dois países A e B são produzidos dois tipos de bens (tecidos

e carros), produzidos por dois tipos de fatores (engenheiros e tecelões) empregados em

intensidades diferentes em cada país, cujas dotações fatoriais são desiguais, ou seja, tanto em

A como em B produzem tanto tecidos como carros, e com as mesmas tecnologias. Além

disso, a tecnologia de produção de carros é intensiva em engenheiros, e a tecnologia de

produção de tecidos é intensiva em tecelões — para produzir uma unidade de tecido são

necessários muitos tecelões e poucos engenheiros, e para produzir uma unidade de carro são

necessários muitos engenheiros e poucos tecelões. Por último, no país B o fator escasso são os

engenheiros, e no país A os tecelões.

O quadro analítico de HOS faz as seguintes previsões:

Antes de existir comércio entre os dois países, o preço relativo dos tecidos será maior

no país A e menor em B em função da falta de tecelões no primeiro país. Já no país B, a falta

de engenheiros fará com que o preço relativo dos carros seja mais alto;

O desequilíbrio nos preços relativos será repassado aos seus fatores de produção:

enquanto no país A os tecelões serão bem pagos (em relação aos tecelões do país B), no país

B, os engenheiros serão bem pagos (em relação aos engenheiros de A);

Quando se verificar livre comércio, o país A passará a importar tecidos e pagá-los

com carros (e B fará o oposto). Isto fará com que o preço dos tecidos caia em A, e o preço dos

carros caia no país B; e finalmente;

Do mesmo jeito que o preço alto dos tecidos era repassado ao salário dos tecelões do

país A, o novo preço baixo terá impactos negativos sobre seus salários até que estes se

igualem aos dos tecelões de B, que verão seus salários subirem. O inverso ocorrerá com os

40

engenheiros, e no final do processo, os preços dos tecidos e dos carros serão os mesmos nos

dois países, assim como serão os salários dos tecelões e dos engenheiros.

No trabalho de Soares et al. (2001), é utilizada a teoria HOS para tratar abertura

comercial e mudanças no mercado de trabalho. No caso dos países em desenvolvimento,

foram observadas fortes mudanças nas relações comerciais concomitantes com

transformações no mercado de trabalho. As mudanças nas relações comerciais foram, em

geral, muito rápidas, uma vez que muitos países adotaram políticas de liberalização comercial

repentinas e, por vezes, radicais, o que traz potenciais efeitos para os preços relativos e na

alocação dos fatores.

Conquanto, a análise sobre a relação entre liberalização comercial (causa) e mercado

de trabalho (efeito) foi ressaltada a necessidade de considerar quais acontecimentos foram

mais distintos entre países desenvolvidos e em desenvolvimento. Pois no caso do Brasil de

acordo com o texto ressalta-se: ―nos países em desenvolvimento não apenas o ‗efeito‘ foi

significativo, mas a ‗causa‘ observada foi notável. Para ir além de uma causalidade possível,

temos, pois, de revisar as teorias que norteiam o debate.‖ (SOARES et al., 2001, p. 7).

Para um quadro analítico que prevê que, os salários dos trabalhadores qualificados

subirão nos países desenvolvidos, levando ao acirramento das desigualdades salariais, e cairão

nos países subdesenvolvidos, levando à queda das desigualdades salariais. Conclui-se que

junto à hipótese de que o trabalho com pouca qualificação é relativamente mais abundante no

mundo em desenvolvimento, explicam o eventual aumento da desigualdade nos países

desenvolvidos. Seria de esperar, por outro lado, queda da desigualdadenos países em

desenvolvimento.

Para a aplicabilidade do quadro teórico de HOS com a finalidade de analisar o

impacto do comércio internacional sobre o mercado de trabalho, a tecnologia de produção dos

bens trocados devem ser as mesmas em todos os países. Em segundo lugar, não pode haver

ganhos de escala nas tecnologias de produção. E finalizando, não há especialização completa

em nenhum dos dois produtos.

41

3.3 A TEORIA DE NICHOLAS KALDOR

Kaldor se dedicou a construir um modelo de crescimento com ênfase nas mudanças

estruturais do sistema produtivo, em contraposição à argumentação neoclássica e apresentou,

em 1966, um estudo empírico relacionando as diferentes taxas de crescimento de 12

economias capitalistas avançadas edesenvolveu um conjunto de proposições teóricas para

explicar as diferenças na dinâmica de crescimento dos países com ênfase em fatores ligados à

demanda agregada.

Kaldor destacou as diferenças nas estruturas produtivas dos países, atribuindo um

papel importante ao setor da indústria de transformação. Sua preocupação era com o menor

ritmo de crescimento da Grã-Bretanha em relação às outras economias capitalistas

desenvolvidas, apresentando assim, um conjunto de leis (conhecida na literatura como as leis

de Kaldor), para explicar as razões do baixo dinamismo da economia britânica.

(THIRLWALL, 1983).

A discussão sobre a taxa de crescimento das exportações, a taxa de crescimento do

setor industrial, assim como sua taxa de emprego é importante, do mesmo modo que em

outros estudos e traz novamente à tona as idéias de Nicholas Kaldor. De um modo geral, os

trabalhos que testaram as Leis de Kaldor em economias regionais comprovaram a capacidade

dessas em associar o crescimento da produção e da produtividade nas regiões dos países

pesquisados com o crescimento de suas produções industriais. A contribuição de Kaldor como

um contexto para o pensamento econômico pode ser sintetizada em duas idéias principais em

relação aos determinantes do crescimento econômico das nações.

As proposições da teoria de Kaldor através do crescimento da produtividade,

rendimentos crescentes de escala na indústria são pressupostos básicos da estrutura teórica de

Verdoorn, autor que anteriormente a Kaldor abordou os relacionamentos entre produtividade

do trabalho e crescimento cumulativo da indústria. A representação de Kaldor da lei de

Verdoorn passou a se chamar lei de Kaldor-Verdoorn, essa proposição é uma relação direta

entre o crescimento da produção e da produtividade. Segundo Rowthorn (1975) apud Marinho

et al. (2002):

[...] uma maior produtividade na indústria pode estimular a demanda

doméstica por produtos industriais, por torná-los relativamente mais baratos

ou porque novos produtos são introduzidos no mercado. A maquinaria torna-

42

se mais barata em relação ao trabalho, encorajando a adoção de técnicas

mais mecanizadas. Os produtos industrializados tornam-se, então, mais

baratos em relação a um grande número de serviços cuja produtividade

cresceu lentamente, encorajando a substituição desses serviços por produtos

industrializados.

Além disto, há o surgimento de novas unidades empresariais e/ou a ampliação das

existentes, o que possibilita o emprego de equipamentos mais modernos, possivelmente mais

adequados às unidades produtivas de maior tamanho.

A primeira lei de Kaldor baseia-se na existênciade uma forte relação entre a taxa de

crescimento da produção na indústria de transformação e a taxa de crescimento do PIB. Essa

relação é explicada pela existência de economias de escala, ou retornos crescentes, que

provocam o aumento da produtividade em resposta ao crescimento da produção total. É

importante ressaltar aqui que a relevância de fatores relacionados à oferta não são

desconsiderados, visto que a taxa de crescimento das exportações depende tanto de fatores

ligados ao preço do produto quanto a aspectos qualitativos. E, nesse sentido, fica implícita a

hipótese de que a oferta dos fatores de produção não restringe a taxa de crescimento do

produto no longo prazo.

Dentro dos aspectos qualitativos como a alta produtividade, por exemplo, faz das

exportações mais competitivas nos mercados mundiais, observando tanto pelo fator preço

como uma melhor qualidade. Esse efeito de estimulação na demanda de exportação, segundo

Rowthorn (1975), é mais característico quando há um excedente de trabalho, pois a classe

trabalhadora tem o seu poder de barganha diminuído. O aumento de produtividade é

traduzido, então, em menores custos e não em maiores salários, conforme descrito

anteriormente também por Kaldor, visto que era uma característica especial da Grã Bretanha

na época de seus estudos, haver escassez crônica de trabalho nos setores da indústria.

Kaldor procurou evidenciar empiricamente essa explicação, dando origem a mais

uma lei. Thirlwall define a ―Segunda Lei de Kaldor: existe uma forte e positiva relação entre a

taxa de crescimento da produtividade na indústria de transformação e o crescimento da

produção nessa indústria‖ (THIRLWALL, 1983).

A segunda idéia consiste em identificar os retornos crescentes de escala como o

motor do processo de crescimento econômico. Para Kaldor, os retornos de escala são, no setor

industrial, expressos pelo crescimento da produtividade em resposta ao do produto total. Mais

43

especificamente os retornos de escala são vantagens acumuladas provenientes do crescimento

da própria indústria, com o desenvolvimento de competência e de know-how, oportunidade de

comunicação fácil de idéias e de experiências, além de processos de diferenciação e

especialização em recursos humanos.

A abordagem pós-keynesiana recente tem enfatizado o papel da demanda através da

utilização do modelo desenvolvido por Thirlwall (1983), em que as restrições externas ao

crescimento possuem um papel fundamental nesse processo e, portanto, a demanda externa é

um dos principais motores do dinamismo econômico.

No modelo de Thirlwall, o comércio externo e a expansão do setor industrial

doméstico atuam como fontes de demanda por produtos industriais e, assim, determinam o

crescimento da produção industrial. Como esse crescimento implica, em uma economia

aberta, aumento de importação, o dinamismo econômico depende da demanda por exportação

relativamente à propensão a importar (THIRLWALL, 1983). Para Kaldor, o crescimento da

força de trabalho, acumulação de capital e o progresso técnico são variáveis largamente

endógenas ao sistema econômico, sendo, portanto o crescimento das exportações o

componente de demanda agregada mais importante para explicar as diferenças nas taxas de

crescimento entre as economias. Essa linha de raciocínio contrasta com as proposições

neoclássicas que buscam explicar o crescimento econômico pela a alocação dos fatores

escassos, com a tecnologia e as preferências dos consumidores exogenamente determinados,

(LAMONICA, FEIJÓ, 2007).

Kaldor (1989) assegura ser o processo de causação circular acumulativa essencial

para a compreensão das diversas tendências de importância na determinação do crescimento

das economias. Primeiramente, porque quanto maior for a taxa de crescimento do setor

industrial, maior será a taxa de crescimento e desenvolvimento entre as regiões. O

crescimento da demanda por produtos industriais é um fator importante na determinação do

crescimento das economias, pois quanto maior for o crescimento do setor industrial, maior

será a taxa de crescimento do total da produção na economia. Em segundo lugar, porque

quanto maior for a taxa de crescimento da produção industrial, maior será a taxa de

crescimento da produtividade nesse setor. Mais do que isso, o crescimento da produção

industrial também influencia o aumento da produtividade nos demais setores da economia.

44

Fortalecendo esse argumento, o autor criou mais uma generalização empírica, que passou a

ser reconhecida como a Terceira Lei:

Quanto maior o crescimento da produção da indústria de transformação,

maior a taxa de transferência de trabalhadores dos demais setores para este

setor. Assim, a produtividade total é positivamente relacionada com o

crescimento da produção e do emprego na indústria de transformação e

negativamente associada com o crescimento do emprego nos demais setores

(Thirlwall, 1983, p. 354).

Kaldor (1975) é favorável da teoria de que o trabalho absorvido no curso da

industrialização não diminui a produção no resto da economia devido à existência de

excedente de trabalho em outros setores que são eliminados no último estágio de

desenvolvimento industrial - estágio da "maturidade econômica".

Sua visão é proveniente de estudos que associam o crescimento da produtividade na

economia à taxa de crescimento da produção industrial e à diminuição do emprego não-

industrial. Tal concepção estabelece que o crescimento da produção industrial é o fator que

determina, em grande parte, o crescimento econômico, além de representar uma adição

líquida para o efetivo uso de recursos.

Rowthorn (1975) argumenta que a correta especificação da lei de Verdoorn seria a

regressão da produtividade do trabalho ou valor total da produção sobre o nível de emprego,

visto que a lenta taxa de crescimento da indústria era associada à escassez de trabalho. A

questão central nessa discussão está relacionada ao fato da variável analisada ser endógena ou

exógena

Nas discussões que tratam das causas do crescimento econômico parece prevalecer a

opinião de que o mesmo seria explicado pelo crescimento da demanda que é exógeno para o

setor industrial e não mais pela taxa de crescimento dos fatores de produção (capital e

trabalho) combinada com algum progresso técnico (exógeno) ao longo do tempo.

[...] a existência de retornos crescentes de escala na indústria (Lei de

Verdoorn) não é um elemento necessário e indispensável na interpretação

destas equações. Mesmo se a produção industrial obedeceu a lei de retornos

constantes, ele pode ainda ser verdade que o crescimento da produção

industrial é o fator que rege a taxa geral de crescimento econômico (tanto em

termos de produção total e produção per capita).

A implicação importante dessas hipóteses é que o crescimento econômico é

induzido pela demanda, e não com recursos limitados - ou seja, que deve ser

45

explicado pelo crescimento da demanda, que é exógeno ao setor industrial, e

não pelas taxas de crescimento (exogenamente dadas) dos fatores de

produção, trabalho e capital, combinado com algum progresso técnico

(exogenamente dado) o ao longo do tempo (KALDOR, 1975, p. 894-895).

A dificuldade em classificar variáveis econômicas se endógenas ou exógenas, além

do problema em estabelecer se a lei de Kaldor-Verdoorn poderia ser explicada através da

demanda ou da restrição de recursos (supply constrained) acabou gerando um extenso debate.

Kaldor (1989) argumenta que a restrição no crescimento surge da ausência de demanda por

exportação e não da oferta de trabalho, ainda mais em um contexto onde a mobilidade do

trabalho é alta, como no caso da indústria de transformação do estado de Mato Grosso.

Na literatura, as relações entre produção e produtividade estão diretamente

relacionadas com a idéia de economia de escala e as considerações teóricas sobre o setor

industrial são tratados inicialmente com as idéias de Nicholas Kaldor. O autor afirma que o

crescimento da produtividade no setor industrial é mais que proporcional ao aumento da

produção, pois as economias de escala garantiriam tal comportamento, principalmente nos

países e nas regiões mais desenvolvidas (KALDOR, 1975). Contrariamente a essa visão,

Vaciago (1975) aceita que a relação entre o crescimento do produto industrial e o da

produtividade do trabalho é positiva, mas que tal relação é menos intensa que a descrita por

Kaldor. Isso se explicaria porque as economias de escala geradas na estrutura industrial de um

país ou região não seriam ilimitadas. Pois, em certo momento, poderia surgir deseconomias de

escala causadas pela concentração excessiva das atividades industriais, da elevação dos

salários em função das ações dos sindicatos ou da escassez de mão-de-obra qualificada, do

aumento de custos ou da infra-estrutura em geral, que acabariam arrefecendo o crescimento

da produtividade.

Em Kaldor (1975), o crescimento da produtividade seria mais que proporcional ao

crescimento da produção industrial, como dito no parágrafo anterior, graças às economias de

escala nos países e nas regiões mais desenvolvidas. Esse fato seria possível graças a tais

regiões geralmente possuírem mercados internos mais dinâmicos, além de uma maior

capacidade exportadora, que permite que as empresas cresçam ao longo do tempo,

incorporando ganhos crescentes de produtividade advindos do desenvolvimento das

atividades produtivas, dos conhecimentos dos trabalhadores, das facilidades de difusão de

novos conhecimentos, da existência de economias de aglomeração, etc.

46

Os efeitos desta discussão são incontestavelmente muito importantes, pois ao admitir

que a produtividade cresce de forma mais intensa que a produção significa aceitar que há uma

forte tendência ao aumento das desigualdades entre países ou regiões ricas e pobres, uma vez

que os mais ricos incorporariam de forma mais intensa os ganhos de produtividade. Já por

outro lado, ao admitir que o crescimento da produtividade nos países mais ricos é

paulatinamente mais lento que o crescimento da produção industrial implica dizer que há uma

certa convergência da produtividade entre países ou regiões, reduzindo o diferencial de

industrialização existente entre eles, haja vista que nos países mais pobres a produtividade

tenderia a crescer de forma mais intensa, pois menores seriam as deseconomias de escala

existentes. Entretanto, deve-se ressaltar que é possível haver deseconomias de escala que

poderão fazer com que a produtividade cresça com o produto industrial, mas a taxas

decrescentes. Assim, existem dois efeitos contraditórios. Dependendo de qual deles

predomine, a industrialização tenderá a ser mais concentrada ou não em determinados países

ou regiões.

Nesta perspectiva conciliadora e a partir da idéia de que a Lei de Kaldor-Verdoorn é

antes de tudo uma proposição intrinsecamente empírica, e apenas, dessa forma, é que se pode

constatar realmente qual seria a verdadeira relação existente entre o crescimento da

produtividade e o do produto.

A visão kaldoriana do crescimento ressalta fortemente o papel que desempenha a

indústria e os retornos crescentes de escala na determinação de diferentes taxas de

crescimento verificadas numa economia.

A elevação das exportações leva a uma elevação da produção industrial, relacionada

diretamente pelo aumento da demanda total para os produtos de exportação e indústrias

relacionadas, indiretamente pelo financiamento das compras de importados necessários para

um rápido crescimento da produção doméstica. Seguindo uma seqüência lógica tem-se: maior

produtividade com elevação das exportações; a maior exportação se traduz em maior

produção industrial que acaba induzindo maior nível de investimento, proporcionando

inovações e escala de produção. Tais efeitos acabam reiniciando o ciclo através de maior

produtividade (GUIMARÃES, 2002).

47

As observações feitas até aqui acerca da teoria de crescimento Kaldor-Verdoorn

conseguem relacionar a dependência do crescimento na indústria pela demanda externa, além

de voltar para a observação de que a elevação da produtividade no setor de transformação (ou

industrial) se mostra com um comportamento cíclico, para elevação da demanda e

produtividade, como visto anteriormente.

Rowthorn (1975) enfatiza que quando o aumento de salários não ocorre como

complemento de tal movimento, maior produtividade pode se traduzir também em maiores

lucros para as firmas. Com maior parcela de lucros, as firmas podem aumentar seus

investimentos e, numa seqüência de ajustamentos, levar a uma expansão da demanda.

Ainda a respeito dos efeitos do comércio internacional sobre a economia interna, De

Negri (2006) em seu trabalho faz observações de como o comércio e a inovação tecnológica

têm efeitos diretos e indiretos sobre o volume e a qualidade do emprego.

Através da inserção de novas tecnologias no processo de produção, acarretaria em

efeitos negativos quanto ao número de empregos do setor da indústria, entretanto, esperava-se

que os efeitos negativos fossem temporários e que, no longo prazo, o efeito se inverteria. Essa

expectativa se baseava no fato de ser o Brasil um país com abundância de mão-de-obra e

recursos naturais. Em virtude disso, poderia produzir bens intensivos em mão-de-obra de

forma mais barata do que outros países, beneficiando-se de menores salários vis-à-vis os do

mundo desenvolvido. Dessa forma, no longo prazo, as atividades nas quais o país se

especializaria no comércio mundial e que sobreviveriam ao processo de abertura seriam,

justamente, aquelas que demandam mais mão-de-obra, o que poderia contribuir para a

ampliação do nível de emprego.

Contudo, a controvérsia está que na inserção dessas firmas no mercado internacional

modifica as características da mão-de-obra demandada. As empresas exportadoras são mais

produtivas do que as que não exportam, isto é, geram mais valor agregado para um mesmo

número de trabalhadores. Sabe-se também que essa maior produtividade é um dos fatores que

fazem com que a firma possa entrar no mercado internacional, ou seja, as mais produtivas têm

maiores chances de exportar do que as menos produtivas. Entretanto, também pode ocorrer o

efeito inverso – a entrada da firma no mercado internacional contribuir para aumentar sua

produtividade.

48

Essas referências mostram que o comércio internacional, especialmente as

exportações, pode ter efeitos extremamente positivos sobre o emprego na economia, ou então

com efeitos de dimensões menores graças ao aumento da produtividade individual de cada

empregado. Também mostram que a ampliação do número de firmas exportadoras e sua

manutenção no mercado internacional pode ser benéfico para a geração de empregos.

Na análise do período 1955 a 1998, Machado e Jayme Jr. (2001) obtiveram relação

entre o crescimento das exportações e o crescimento econômico, o que indica a validade do

modelo de Thirlwall.

4. METODOLOGIA

Esta seção apresenta a descrição das variáveis utilizadas, assim como a fonte de

dados de cada uma. Em seguida descreve-se o modelo analítico e seus procedimentos para a

modelagem das séries temporais.

4.1 FONTES DE DADOS E DEFINIÇÃO DAS VARIÁVEIS

Os dados utilizados neste estudo são de periodicidade mensal, de 2002 a 2008, sendo

dados de exportação de carne bovina do estado de Mato Grosso (quantidade exportada),

obtidos no sistema Aliceweb do MDIC, os dados de emprego do mercado de trabalho formal

brasileiro no banco de dados da RAIS e CAGED do MTE, consumo interno de carne bovina

em todo estado, através de dados do IBGE, e a produtividade do trabalho na indústria

frigorífica de Mato Grosso do MTE. Portanto, a amostra de estudo tem 84 observações.

O portal Aliceweb é um sistema de análise das informações de comércio exterior via

internet, que é atualizado mensalmente, quando da divulgação da balança comercial, e tem

por base os dados obtidos a partir do Sistema Integrado de Comércio Exterior (SISCOMEX),

sistema que administra o comércio exterior brasileiro.

As variáveis utilizadas para na obtenção dos dados no portal Aliceweb foram

retiradasda balança comercial nacional do MDIC, onde são encontradas todas as informações

referentes às exportações nacionais e por unidades da federação. As informações obtidas dos

produtos cárneos bovinos exportados por Mato Grosso são classificados por cortes, sendo

cada corte possuidor de uma nomenclatura específica (NCM).

A Nomenclatura Comum do Mercosul (NCM) é composta de oito dígitos, criados de

acordo com a definição estabelecida entre os países do Mercosul. A classificação das

mercadorias na NCM rege-se pelas Regras Gerais para a Interpretação do Sistema

Harmonizado. Os produtos cárneos bovinos mais exportados por Mato Grosso e suas

respectivas nomenclaturas foram as seguintes:

50

Tabela 3. Relação dos produtos bovinos mais exportados por Mato Grosso e suas

nomenclaturas, em 2008.

0201.30.00 Carnes desossadas de bovino, frescas ou refrigeradas

0202.30.00 Carnes desossadas de bovino, congeladas

0202.20.90 Outras peças não desossadas de bovino, congeladas

0206.21.00 Línguas de bovino, congeladas

0206.22.00 Fígados de bovino, congelados

0206.29.10 Rabos de bovino, congelados

0206.29.90 Outras miudezas comestíveis

Fonte: MDIC, 2008.

As informações retiradas no Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) foram obtidas

de dois registros, a RAIS e CAGED, que juntas formam os dados de emprego da indústria de

transformação escolhida para o estudo.

A Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) é um Registro Administrativo, de

âmbito nacional, com periodicidade anual, obrigatório para todos os estabelecimentos,

inclusive aqueles sem ocorrência de vínculos empregatícios no exercício, para este último a

declaração é denominada de RAIS Negativa.

As informações da RAIS permite um detalhamento dos estabelecimentos e vínculos

empregatícios, com desagregação até em nível de município, de sub-atividades econômicas e

de ocupações. Essas informações detalhada são disponibilizadas segundo o estoque (número

de empregos em 31 de dezembro de cada ano), por gênero, por faixa etária, por grau de

instrução, por rendimento médio e por faixas de rendimentos em salários mínimos, também é

possível obter dados sobre a massa salarial.

O Cadastro Geral de Empregados e Desempregados – CAGED é um registro

administrativo, fonte de informação de âmbito nacional e de periodicidade mensal.

Inicialmente, tinha por objetivo fazero acompanhamento e fiscalização do processo de

admissão e de dispensa de trabalhadores regidos pela CLT, com o intuito de subsidiar os

desempregados, através do auxilio de seguro-desemprego e, criar medidas para evitar o

desemprego.

51

A sigla CNAE significa Classificação Nacional de Atividades Econômicas, tabela

desenvolvida sob a coordenação do IBGE, de forma compatível com a International Standard

Industrial Classification – ISIC, terceira revisão aprovada pela Comissão de Estatística das

Nações Unidas em 1989 e recomendada como instrumento de harmonização das informações

econômicas em âmbito internacional. É um instrumento padrão de classificação para

identificação das unidades produtivas do Brasil, sob o enfoque das atividades econômicas

existentes.

A CNAE, portanto, é usada para classificar as unidades de produção, de acordo com

a atividade que desenvolvem, em categorias definidas como segmentos homogêneos

principalmente quanto à similaridade de funções produtivas. A atividade econômica alvo

desse estudo pertence à classificação CNAE versão 2.0, sendo a classe 10.11.2 -

Abate de reses, exceto suínos

Nas séries dos dados de empregos, entende-se por estoque de emprego o valor obtido

do número de empregados no final de cada ano e somado o número de admitidos e subtraídos

o número de desligados de cada mês daquele ano.

A série do consumo interno de carne bovina para o estado de Mato Grosso foi obtida

através de transformação da série de abate de bovinos, em quilos (kg), obtida no IBGE,

deduzida da quantidade de carne exportada pelo estado de Mato Grosso, do portal do MDIC.

A informação da quantidade de carne consumida internamente é importante para a verificação

do comportamento da série sobre as exportações.

A série de produtividade do trabalho da indústria frigorífica foi obtida pela divisão da

série de abate de bovinos do IBGE pela quantidade de horas/mês trabalhadas nas indústrias no

período selecionado, que foi calculada através de dados do MTE, dessa maneira foi possível

obter a informação da produtividade/hora do trabalho local.

As variáveis descritas anteriormente, Exportação e Emprego foram utilizadas nas

análises econométricas descritas a seguir em 4.2, 4.3, 4.4 e 4.5.

4.2 PROCESSO ESTOCÁSTICO ESTACIONÁRIO

52

A análise de regressão baseada em séries temporais como as utilizadas neste estudo,

supõe implicitamente que essas séries sejam estacionárias, ou seja, estão sendo geradas por

um processo estocástico ou aleatório. Conforme Gujarati (2005, p. 719):

[...] diz-se que um processo estocástico é estacionário se suas médias e

variância forem constantes ao longo do tempo e o valor da covariância entre

dois períodos de tempo depender apenas da distância ou defasagem entre

dois períodos, e não do período de tempo efetivo em que a covariância é

calculada.

Uma série estacionária é aquela que não apresenta tendências, enquanto que a não-

estacionária apresenta alguma tendência, sendo que esta pode ser determinística ou aleatória.

A primeira característica sobre séries temporais, apontada por Asteriou (2002), quando diz

que: ―...poucas séries econômicas podem ser consideradas como geradas por processos

estocásticos estacionários‖.

Os testes de raiz unitária têm como principal finalidade verificar a ordem de

integração das séries econômicas, ou seja, o número de diferenças necessárias para que a série

se torne estacionária. Constatado que uma série é gerada por um processo estacionário, isto

implica que os choques serão transitórios e deverão se dissipar num horizonte curto de tempo.

Segundo Fava (2000), a denominação para raiz unitária advém do fato de que o número de

diferenças necessário para tornar uma série estacionária corresponde ao número de raízes

sobre o círculo unitário presente no processo gerador da série.

A respeito do teste desta hipótese, Gujarati (2000, p. 725) diz:

Sob a hipótese nula ρ=1, a estatística t, calculada de modo convencional, é

conhecida como estatística τ (tau), cujos valores críticos foram tabulados por

Dickey e Fuller com base em simulações de Monte Carlo. Na literatura

especializada, o teste tau é conhecido como teste de Dickey-Fuller (DF)...

Note que, se a hipótese nula ρ =1 for rejeitada (isto é, a série temporal é

estacionária) podemos usar o teste t (de Student) usual.

Assim, se o valor absoluto calculado da estatística t, ou seja, |τ|, exceder os valores

críticos absolutos τde DF ou de MacKinnon-DF, então não se rejeitará a hipótese nula de que

a dita série seja estacionária. Se, por outro lado, o valor absoluto de τfor menor do que o valor

crítico, a série temporal será não-estacionária (GUJARATI, 2005).

53

Para realização dos testes de raiz unitária, inicia-se com a definição da ordem do

processo auto-regressivo das séries utilizadas no modelo. A literatura aponta diversos

procedimentos que podem ser utilizados com tal finalidade, entretanto, os critérios AIC

(AKAIKE Information Criterion) e SC (SCHWARZ Criterion) são os mais aplicados em

trabalhos empíricos. O procedimento consiste em estimar várias regressões representativas de

modelos auto-regressivos de diferentes ordens e também a soma de quadrados dos resíduos

para cada equação, valores estes posteriormente comparados utilizando-se as fórmulas:

( ) (1)

( ) (2)

Sendo a soma dos quadrados dos resíduos estimados do processo auto-regressivo

de ordem p e N o número de observações. O modelo mais adequado é aquele que apresenta o

menor valor para os critérios AIC e SC.

Vários estudos sobre a adequação desses critérios têm sido feitos, e os resultados

apontam que alguns deles levam à especificação de modelos mais parcimoniosos, o que pode

resultar em autocorrelação residual na equação utilizada para o teste de raiz unitária. Por este

motivo, utiliza-se também um teste capaz de analisar as autocorrelações dos resíduos

conjuntamente, o teste Q de Ljung-Box. Ao longo do trabalho, recorrer-se-á aos resultados

fornecidos pelos critérios AIC e SC para determinar a ordem do modelo auto-regressivo que

descreve o comportamento das séries temporais envolvidas na análise.

4.3PROCESSO AUTO-REGRESSIVO (AR)

Um modelo auto-regressivo é estabelecido entre o valor corrente de uma variável ,

seus valores defasados (j=1, 2,..., p) e um termo de erro aleatório. Em outras

palavras, esse modelo diz que a previsão do valor de X no momento t é simplesmente alguma

proporção do seu valor no tempo (t - 1) mais um choque aleatório ou perturbação no tempo t,

que os valores de X são expressos em torno dos seus valores médios.

O modelo mais simples é o auto-regressivo de primeira ordem, denominado AR(1) e

é especificado como equação abaixo:

54

(3)

Em que:

são parâmetros fixos;

é uma série temporal, para t-1, 2,...,t;

é uma erro aleatório ruído branco.

O parâmetro admite a possibilidade de que a série temporal possui média

diferente de zero.

Note a similaridade com um modelo de regressão múltipla, onde os valores passados

de fazem o papel das regressoras. Assim, processos AR podem ser usados como modelos

se for razoável assumir que o valor atual de uma série temporal depende do seu passado

imediato mais um erro aleatório.

Pelo que se observa o modelo auto-regressivo de primeira ordem especifica o valor

corrente , e do termo do erro aleatório não autocorrelacionado. Como é uma variável

aleatória não autocorrelacionada, seus valores não são desprezíveis. Segue-se daí que as

previsões realizadas a partir de modelos AR(1) dependem exclusivamente dos valores mais

recentes da série (SANTANA, 2003). Contudo, como neste trabalho não se tem como

objetivo fazer uso de previsão de valores futuros das séries, apenas será utilizado o modelo

auto-regressivo para obtenção do modelo de regressão.

A inclusão de dois valores defasados mais recentes da série verifica-se dessa

maneira:

(4)

A equação 4 é denominada de modelo auto-regressivo de segunda ordem,

denominado de AR(2), pois utiliza de dois termos defasados, e assim dando seqüência até o

termo AR(p) que for significativo ao modelo.

Os parâmetros podem ser estimados por mínimos quadrados ordinários (MQO). A

ordem do modelo de autocorrelação pode ser escolhida, testando-se a hipótese nula para a

última ordem do modelo AR estimado. Assim tem-se:

55

O teste baseia-se no fato de que um bom ajustamento requer que o parâmetro seja

estatisticamente diferente de zero, por meio da estatística t. O método estatístico mais

apropriado e utilizado aqui para determinar a ordem de defasagem da série é o proposto por

Akaike e Schwarz como explicado anteriormente.

Para a identificação da ordem do processo auto-repressivo de uma série temporal,

através do uso dos critérios de AIC ou SC, parte-se de uma especificação geral (12

defasagens, por exemplo, se os dados forem mensais) e define-se a ordem do modelo como

sendo aquela que está relacionada ao menor valor indicado pelos citados critérios. Quando os

critérios AIC e SC indicarem ordem diferente para o processo auto-regressivo que descreve o

comportamento de uma série temporal, utiliza-se o teste Q de Ljung-Box para ajudar na

especificação final do modelo utilizado para o teste de raiz unitária, de maneira que se

concilie a necessidade de resíduos não-autocorrelacionados e o princípio de parcimônia

(menor número de defasagens possível).

No processo auto-regressivo de uma ordem qualquer AR(p) para se certificar da

condição de estacionariedade das séries, ou o processo , a condição irá se satisfazer quando

todas as raízes de , ou seja, estiverem fora do círculo unitário (BOX et al., 1994).

4.4 PROCESSO DE MÉDIA MÓVEL (MA)

O texto de Santana (2003) diz que um processo de média móvel é gerado por uma

média ponderada do termo de erro (distúrbio) aleatório de algum período passado. O processo

mais simples é a média móvel de primeira ordem, denominado MA(1) e escrito da seguinte

forma:

(5)

Em que:

µ, θ são os parâmetros fixos que podem assumir valores positivos e negativos;

56

é um processo ruído branco.

O termo média móvel vem do fato de que é construída por uma soma de pesos,

como uma média dos mais recentes valores de para a MA(1).

Em suma, um processo de média móvel é simplesmente uma relação linear

combinada dos termos de erro ruído branco.

Como a média e a variância são constantes e a autocovariância não depende de t, o

processo é estacionário para todos os possíveis valores de β1, . . . , βq. Além disso, se os s

forem normalmente distribuídos os também serão e, portanto, o processo será

estritamente estacionário. Ou como no processo auto-regressivo anterior, se as raízes de MA

estiverem dentro do círculo unitário, satisfaz-se a condição de estacionariedade.

4.5 O MODELO ARMA

Uma combinação dos modelos AR(p) e MA(q) resulta em um modelo auto-

regressivo e de média móvel, ou seja, um ARMA(p,q). Um modelo auto-regressivo de média

móvel de primeira ordem, um ARMA(1,1), é representado pela equação:

(6)

Um processo ARMA(p,q) será estacionário se as condições provenientes da parcela

AR do processo forem verificadas. A média de um processo ARMA(p,q) também é dada pela

parcela auto-regressiva do modelo.

De acordo com Carsane (2005), se uma ou mais raízes características estiverem fora

do circulo unitário, a sequência yt será um processo explosivo. Se, exatamente d raízes

características forem iguais a um e as restantes p-d raízes estiverem dentro do circulo unitário,

o processo será integrado de ordem d e será denotado por I(d). Em outras palavras, diz-se que

um modelo com essas características é um modelo marginalmente estável, pois pelo menos

uma de suas raízes é igual a um. Quando o modelo está dentro do círculo unitário, com suas

raízes inferiores a um, é chamado de modelo estável e constante, e, em ambos os casos, é

satisfeita a condição de estabilidade. O modelo passa a ser instável a partir do momento que

pelo menosum autovalor das raízes for maior do que um.

57

Modelos ARMA são amplamente utilizados para modelar sistemas com

comportamento irregular (BOX, JENKINS, 1976). Apesar de lineares, estes modelos não têm

um comportamento puramente oscilatório no tempo, ou seja, apresentam oscilações

aperiódicas causadas pela presença da componente estocástica.

O ajustamento do modelo ARMA será estimado pelo método de Mínimos Quadrados

Ordinários (MQO) como dito anteriormente, e implementado através do software EVIEWS 7.

4.6 CAUSALIDADE

A análise de regressão trata da dependência de uma variável em relação a outras

variáveis, todavia isso não implica necessariamente causalidade (Gujarati, 2005). O conceito

de causalidade está relacionado à idéia de precedência temporal, ou seja, se X causa Y, então

mudanças em X precederão mudanças em Y. Para testar a precedência temporal ou

causalidade será utilizado, neste estudo, o teste de Granger.

A simples existência de correlação ou relação entre duas variáveis não é um requisito

suficiente para se dizer que exista uma relação de causalidade entre as variáveis

correlacionadas. Neste sentido, o procedimento de Granger para analisar a possível existência

de causalidade entre duas variáveis, Exportação e Emprego, consiste em determinar que parte

dos valores atuais da variável Emprego pode ser explicado a partir dos valores correntes e

defasados de Exportação.

A hipótese nula a ser testada é a de que Exportação (X) não causa Emprego (Y) em

(7) e de que Emprego (Y) não causa Exportação (X) em (8), quer dizer, β1=β2=...= βL. Tal

hipótese pode ser verificada mediante a F de Snedecor, nas duas equações. O número de

defasagens a considerar, em um conjunto de regressores, depende das especificidades de cada

caso, mas de qualquer forma, deverá ser em função da natureza da relação de causalidade que

se pretenda analisar.

Granger (1969) trabalha a estrutura do conceito de causalidade baseado em três

premissas principais:

- As variáveis testadas resultam de processos estocásticos;

58

- As variáveis são estacionárias;

- O futuro não pode causar o passado nem o presente.

Na sua abordagem, Granger propõe a estimação das seguintes regressões:

(7)

(8)

Em que L é o número de defasagens e e são os termos de erro não

correlacionados.

E a partir dessa estimação, segundo Gujarati (2000), Granger (1969) foram

encontrados quatro possíveis resultados:

Causalidade unilateral de Y para X: quando os coeficientes estimados na equação (7)

para a variável defasada Y forem conjuntamente diferentes de zero e quando o conjunto de

coeficientes estimados na equação (8) para a variável X não for estatisticamente diferente de

zero;

Causalidade unilateral de X para Y: quando o conjunto de coeficientes defasados para

a variável Y na equação (7) não for estatisticamente diferente de zero e o conjunto de

coeficientes defasados para a variável X na equação (8) for estatisticamente diferente de zero;

Bicausalidade ou simultaneidade: quando os conjuntos de coeficientes defasados de

X e de Y forem estatisticamente diferentes de zero, em ambas as regressões;

Independência das variáveis: quando, em ambas as regressões, os conjuntos de

coeficientes defasados de X e Y não forem estatisticamente diferentes de zero.

Definidos os procedimentos metodológicos a serem seguidos, as variáveis adotadas e

suas respectivas fontes, segue na próxima seção a análise dos resultados obtidos e suas

relações com a teoria de base adotada, com considerações conforme necessárias.

5. RESULTADOS

Nesta seção são apresentados os resultados encontrados nas análises estatísticas e

econométricas dos dados, e que juntamente com a teoria de base proposta anteriormente pode-

se avaliar os objetivos propostos para este estudo.

5.1 ANÁLISE DOS RESULTADOS OBTIDOS E DAS VARIÁVEIS ASSOCIADAS

Esta subseção busca obter análises das variáveis associadas com o setor industrial da

carne bovina do estado de Mato Grosso com a teoria de Kaldor proposta anteriormente no

referencial teórico.

Inicia-se a análise das variáveis com a quantidade exportada de carne bovina do

estado de Mato Grosso e o consumo interno dos abates realizados (entende-se aqui como o

consumo interno, consumo estadual e o comercializado para outros estados dentro do país). A

análise gráfica mostra as duas curvas plotadas na mesma Figura, a fim de se visualizar o

comportamento das séries ao longo do tempo. Para isso a série consumo interno passou por

uma transformação2, como pode ser observado na Figura 9.

A somatória das séries resulta no total de abates realizados no estado de Mato

Grosso, e é evidente a participação das exportações sobre a elevação da produção da indústria

frigorífica. Pois como pode ser observado na linha de tendência da série de exportações, que

apesar da série apresentar uma convergência para baixo a partir do segundo semestre de 2008,

a tendência permanece positiva para as exportações. Somando-se a isso, o consumo interno

apresenta uma distribuição mais estável sem ciclos, porém sem grande tendência positiva,

mostrando assim que são as exportações que determinam o crescimento da produção

industrial local.

2A transformação da série abate de bovinos foi feita de maneira a facilitar a visualização do comportamento das

duas séries na figura, consumo interno equantidade exportada. Para isso o consumo interno que inicialmente

tinha sua unidade de medida em milhões de kg, passou para dezenas de milhões de kg, e permanecendo a

quantidade exportada na unidade de medida em milhões de kg.

60

Figura 9. Quantidade exportada e consumo interno de carne bovina do estado de Mato

Grosso, de 2002 a 2008.

Fonte: MDIC, 2008; IBGE, 2008.

Esta condição está de acordo com o apresentado anteriormente por Kaldor (1975),

em que o crescimento como um todo é induzido pela demanda, e não com recursos

exogenamente dados, como taxas de crescimento dos fatores de produção combinado com

algum progresso técnico ao longo do tempo.

Para a análise seguinte, utilizaram-se as variáveis, estoque de emprego da indústria

frigorífica estadual e a sua respectiva produtividade do trabalho. Com a finalidade de verificar

se o argumento teórico de que se o crescimento da produção industrial frigorífica gera

também um crescimento na produtividade e, conseqüentemente, no nível de emprego.

0

5

10

15

20

25

30M

ilh

ões

Quantidade exportada Consumo Interno (un. Dezenas)

Linear (Quantidade exportada)

61

Figura 10. Estoque de emprego e produtividade do trabalho da indústria frigorífica de Mato

Grosso, de 2002 a 2008.

Fonte: MTE, 2008; IBGE, 2008.

Nota-se pela Figura 10 que a produtividade do trabalho acompanhou timidamente o

crescimento da produção industrial, com a elevação da produção, houve um aumento da

produtividade até o final do período. A linha de tendência para a produtividade da indústria

evidencia a inclinação crescente da série para o futuro. Logo, foi observada no caso de Mato

Grosso a constatação empírica da segunda lei de Kaldor, que postula ocorrer uma forte e

positiva relação entre a taxa de crescimento da produtividade da indústria de transformação e

o crescimento da produção nessa indústria.

Porém, a constatação teórica mais apropriada a este resultado é a descrição de

Vaciago (1975), pois este autor aceita também a relação positiva entre a produção industrial e

a produtividade do trabalho, mas que tal relação é menos intensa do que acreditava Kaldor,

prevalecendo mesmo assim, a segunda lei de Kaldor neste resultado.

Dessa forma, não se notou um grande dinamismo do mercado interno mato-

grossense, conforme descrito por Kaldor (1975), uma vez que seria este fator o principal

responsável pelo crescimento das indústrias ao longo do tempo, advindos através de

incorporações dos ganhos de produtividade, dos conhecimentos dos trabalhadores e existência

de economias de escala.

0

500

1000

1500

2000

01

/02

05

/02

09

/02

01

/03

05

/03

09

/03

01

/04

05

/04

09

/04

01

/05

05

/05

09

/05

01

/06

05

/06

09

/06

01

/07

05

/07

09

/07

01

/08

05

/08

09/0

8

Produtividade da indústria(kg) Estoque emprego

Linear (Produtividade da indústria(kg))

62

Outra característica da indústria local é a elevada oferta de mão-de-obra, que por sua

vez, não seria responsável pelo decréscimo do produto industrial, segundo Kaldor. O autor

também menciona esta situação dizendo, que uma possível restrição no crescimento seria

através de uma ausência de demanda por exportação, e não da escassez de oferta de trabalho.

Pois a indústria sempre teria condições de suprir uma deficiência de mão-de-obra quando

necessário.

No capítulo 4 foi visto que Kaldor considerava como componente mais importante as

exportações para explicar as diferenças nas taxas de crescimento entre as economias. Pois,

prevalecia a opinião de que o crescimento seria explicado pelo crescimento da demanda que é

exógeno para o setor industrial e não mais pelo crescimento da força de trabalho, acumulação

de capital e o progresso técnico, que são consideradas como variáveis endógenas ao sistema

econômico. Ou seja, contrastando com proposições neoclássicas que buscavam explicações

do crescimento por essas variáveis.

Com os resultados obtidos até este ponto já foi analisado o comportamento das

variáveis associadas ao setor da pecuária estadual, de forma a satisfazer um dos objetivos

específicos do estudo. Para atender aos demais objetivos específicos, os resultados do teste de

causalidade de Granger e da estimação da modelagem por termos auto-regressivos e de média

móvel são examinados.

5.2 TESTE DE CAUSALIDADE

Para a determinação do número de defasagens a ser utilizada, testou-se

empiricamente desde 1 até 10 defasagens. Como resultado é apresentado o teste cuja

probabilidade de rejeição da hipótese nula foi menor.

Tabela 4. Teste de causalidade de Granger para as variáveis estudadas.

Hipótese Nula: Obs. F-Statistic Prob.

O emprego (EM) não causa no sentido de Granger as exportações (EX) 82 1.38793 0.2557

As exportações (EX) não causam no sentido de Granger, o emprego

(EM)

3.42395 0.0376 Fonte: Resultados da estimação.

63

Foram consideradas 2 defasagens, devido esse resultado apresentar melhor

ajustamento de probabilidade do F estatístico. Foi constatada a presença de causalidade

unilateral no sentido de Granger. Com isso, rejeita-se a hipótese nula de que as exportações

não causam o emprego no sentido do Granger, para um intervalo de confiança de 96,24%.

Seguindo o mesmo raciocínio, aceita-se a hipótese nula de que o emprego não causa no

sentido de Granger as exportações, pois sua estatística F ficou dentro da área de aceitação, ou

seja, com nível de confiança pequeno 74,42% indicando uma relação de não causalidade.

Com a comprovação do sentido de Granger a causalidade de exportações →

emprego, afirma-se que a hipótese inicial do estudo, em que se supunha uma relação direta

entre a taxa de crescimento da demanda agregada e a taxa de emprego interna foi confirmada.

5.3 AVALIAÇÃODOS COMPONENTES DAS SÉRIES

Para a realização de um primeiro teste formal, chamado Função de Autocorrelação

(FAC). Tal como apontado por Gujarati (2005), se a função começa com valores altos e, a

seguir, estes vão decaindo gradativamente, existem fortes indícios de que a série seja não-

estacionária.

Com base nas Figuras 11 e 12, representando o cálculo das Funções de

Autocorrelação dos valores do estoque de emprego e das exportações da indústria frigorífica

de Mato Grosso, observam-se indícios de que estas séries sejam não-estacionárias, devido à

lenta queda nos valores de dita função. Tais valores começam próximos a um de seus valores

limites (+1 ou -1), sendo 0,937 para as exportações na Figura 11e 0,956 para o emprego na

Figura 12 e decrescendo lentamente até 0,119 e 0,124, respectivamente.

64

Figura 11. Função de Autocorrelação para os valores das exportações de carne bovina de

Mato Grosso.

Fonte: Resultados da estimação.

A FAC (1ª coluna) não decresce para zero à medida que k aumenta, o que confirma

estar-se perante um processo não estacionário. A FACP, ou seja, a função de autocorrelação

parcial, (2ª coluna) apresenta valores significativos para os dois primeiros lags, revertendo em

seguida os valores, evidenciando mais tarde alguns picos.

65

Figura 12. Função de Autocorrelação para os valores de emprego da indústria frigorífica de

Mato Grosso.

Fonte: Resultados da estimação.

A FAC (1ª coluna) não decresce para zero à medida que k aumenta, o que confirma

estar-se perante um processo não estacionário. A FACP (2ª coluna) apresenta valor

significativo para apenas o primeiro lag, revertendo em seguida os valores, sem ter picos

adiante.

Como instrumento básico de identificação do processo ARMA em causa, deverão ser

consideradas as FAC e FACP estimadas da série estacionarizada. A análise das FAC e FACP,

estimadas após diferenciações, devem indicar um processo ARMA (0,2) na estimativa de

FAC, em que as duas primeiras estimativa sejam significativas decaindo bruscamente para

zero a partir do segundo lag. E os valores iniciais da FACP são significativos e a decair de

uma forma exponencial.

66

Inicia-se a análise dos resultados deste trabalho, pelos gráficos das séries temporais

utilizadas na modelagem estatística e análise comportamental das mesmas. A Figura 13

apresenta o comportamento das séries descritas na fonte de dados.

Ressaltando que as unidades de medida de cada série foram: unidades para o estoque

de emprego, as exportações e o consumo interno de carne bovina em quilogramas e a

produtividade da indústria frigorífica foi quilogramas por trabalhador.

Figura 13. Exportações,estoque de emprego, consumo interno de carne bovina e

produtividade da indústria frigorífica, Mato Grosso de 2002 a 2008.

Fonte: MTE, MDIC e IBGE, 2008.

O comportamento das séries estoque de emprego e exportações é semelhante, com

contínua tendência de crescimento, mas apresentando depressões ao longo do caminho. E no

ano de 2008 encontram-se em ambas as séries decréscimos de seus valores, representado pela

67

diminuição dos valores exportados pelo estado de Mato Grosso e pelo fechamento de plantas

frigoríficas que resultaram em demissões de seus trabalhadores.

A série de dados do consumo interno de carne bovina em Mato Grosso apresentou

uma ascensão inicial até o início do ano de 2004 e que após esse período obteve um

comportamento estável, com uma linha de tendência mais estagnada, diferentemente do

comportamento das duas séries descritas no parágrafo anterior. Esta série apresenta um

comportamento mais oscilante, pois podem ser visualizados mais picos e vales, indicando

uma volatilidade no consumo.

A produtividade da indústria frigorífica de Mato Grosso apresentou grandes

oscilações durante o período estudado, com muitos picos e vales. Mas apesar da instabilidade

ocasionada pela volatilidade da oferta dos animais para o abate, a indústria mato-grossense

apresentaleve tendência de alta na produtividade para os próximos períodos.

5.4 ESTIMAÇÃO DO MODELO DE REGRESSÃO

O resultado do modelo é apresentado na Tabela 5, sendo sua escolha baseada nos

menores valores dos critérios de AKAIKE e SCHWARZ, já que é através destes critérios que é

possível verificar qual modelo possui menor soma de resíduos e, por conseguinte, maior

poder de explicação através de suas variáveis apresentadas. No modelo apresentado os

critérios AIC e SC foram, respectivamente, 1,75815 e 1,6424.

Tabela 5. Resultados da estimação do modelo ARMA para a variável dependente Log

(emprego).

Variável Coeficiente Erro-Padrão

LOG(Exportações) 0,181495* 0,028217

C 6,630355* 0,445216

MA(1) 0,972499* 0,094336

MA(2) 0,625791* 0,095030

R2 0,910

R

2 Ajustado 0,906

DW 1,2520

Fonte: Resultados da estimação.

68

(*) Todas as variáveis foram estatisticamente significativas a 1% de nível de

probabilidade, foram estimadas em logaritmo e o modelo satisfez a todas as pressuposições

clássicas de regressão.

Substituindo os coeficientes na equação temos:

( ) ( ) ( ) ( ) (10)

O modelo possuiu um bom ajustamento, pois aproximadamente 91% das variações

no nível de emprego na indústria transformadora de carne bovina estadual são explicadas pela

variável exportações e as médias móveis.

Uma observação importante é a de que o câmbio Real/Dólar não foi significativo na

modelagem apresentada aqui, divergindo de certa forma com vários estudos do comércio

internacional que apresentam a taxa de câmbio como variável importante para as vantagens

nas exportações. Uma informação interessante no sentido de que dos recursos existentes

exogenamente dados, a taxa de câmbio se mostra ausente nos resultados obtidos.

Apesar da taxa de câmbio não ter sida significativa no modelo estimado, a mesma

está presente em todas as relações de comércio entre países. A explicação para esta ocorrência

é a de que ocorreu uma compensação entre a taxa de câmbio e os preços das exportações, uma

vez que, a partir de 2003 iniciou-se uma apreciação cambial nacional ao longo dos períodos

analisados (IPEADATA, 2008). Isto é percebido ao transformar a série das exportações para

averiguar o preço de venda da carne, e nota-se que a partir de 2003, com o câmbio apreciado,

houve uma elevação do valor de venda para que ocorresse a compensação através do aumento

do valor dessas exportações. Assim os preços apresentam um crescimento ascendente,

enquanto a taxa de câmbio estiver em movimento decrescente.

A estimação do modelo resultou em um processo auto-regressivo nível zero, uma vez

que não ficou estabelecida nenhuma relação das exportações com seus termos defasados

passados. Já o processo de média móvel foi ajustado em duas defasagens. Portanto, a

representação do resultado do modelo é um ARMA(0,2).

Como observado na seção anterior, o teste de Granger apontou uma relação em que

as exportações de carne bovina geram emprego na indústria transformadora frigorífica. Essa

relação se confirmou pela estimação do processo ARMA(0,2), em que a variável dependente é

69

o emprego. As oscilações positivas nos produtos exportados afetam positivamente o nível de

emprego industrial.

A elasticidade parcial calculada no ponto médio foi 0,181 para as exportações, ou

seja, uma variação positiva de 10% na quantidade exportada de carne bovina acarreta em uma

elevação de 1,81% no nível de emprego.

Em relação às suas raízes unitárias, o modelo se apresentou também estável e

constante, já que todas elas se mantiveram dentro do círculo unitário, com valores de -49+62i

e -49-62i. Evitando a geração de um processo não inversível de médias móveis, como pode

ser observado na Figura14.

Figura 14. Distribuição das raízes unitárias do modelo estimado.

Fonte: Resultados da Estimação.

Finalizando a análise econométrica é importante que os resíduos do modelo estejam

em concordância com os pressupostos, para isso são testados os erros do modelo e a série de

resíduos gerada através do ARMA (0,2) encontrado.

O teste de Jarque-Bera analisa se os erros apresentam distribuição normal, pois só

assim os testes t e F serão respaldados na normalidade. Com isso, os parâmetros serão não-

tendenciosos. A hipótese nula do teste é a de que os erros estão sob uma distribuição normal.

70

Para serem considerados erros normais, o teste deve possuir probabilidade maior que

0,10. Assim, com o valor JB de 3,36353 e uma probabilidade de 30,67%, aceita-se a hipótese

nula de que os erros possuem distribuição normal.

Para verificar a estacionariedade do modelo gerado, faz-se necessário a geração da

série de resíduos do processo e sua posterior análise, iniciando com uma plotagem gráfica dos

resíduos da estimação, através da Figura 15.

Figura 15. Distribuição dos resíduos da estimação do modelo ARMA(0,2).

Fonte: Resultados da Estimação.

A distribuição dos resíduos do modelo estimado evidencia tratar-se de uma série com

distribuição ruído branco, ou seja, a série é estacionária através de um processo estocástico.

Nota-se através da Figura 15 que a média da série está sempre ao redor do valor zero.

Para certificar-se da estacionariedade dos resíduos, e, consequentemente, da validade

do processo econométrico que foi gerado anteriormente, aplica-se o teste Dickey-Fuller (DF)

e verifica-se sua estacionariedade em nível, como na Tabela 6.

71

Tabela 6. Teste Dickey-Fuller para série de resíduos do processo ARMA(0,2).

Estatística t Prob.

Teste estatístico Dickey-Fuller -7,317915 0.0000

Valores críticos de teste: 1% -3,511262

5% -2,896779

10% -2,585626

Fonte: Dados da Estimação.

O valor critico de DF para rejeição da hipótese nula de não estacionariedade da série

foi de -3,511262, e o valor calculado foi de -7,317915. Portanto, como o valor é menor que o

valor crítico ao nível de 1% de significância, rejeita-se a hipótese nula, e conclui-se que a

série de resíduos do modelo estimado é estacionária em nível.

Dessa forma, com a verificação de que os resíduos do modelo estimado são

estacionários em nível, conclui-se que a estimação é estável e significante, mesmo tendo sido

gerado por séries de dados originalmente não estacionárias.

Pois, bem, na seção 3 deste trabalho foi realizada uma caracterização da cadeia

produtiva da bovinocultura de Mato Grosso, e dentre os aspectos estudados, serão abordadas

as variáveis endógenas importantes ao modelo, já que são características singulares da

pecuária local.

A volatilidade presente na produção e exportação da carne bovina estadual pode ser

observada numa análise das séries de abate e exportações na Figura 13, que houve um

comportamento instável de produção durante o período estudado com uma queda no abate e

nas exportações nos meses de abril e maio de cada ano, mas lembrando que já apresentando

um comportamento menos sazonal que em anos anteriores devido à inserção da produção

advinda de confinamentos.

Quanto aos aspectos tecnológicos encontrados na cadeia da bovinocultura do estado

de Mato Grosso são diferenciados, dependendo em que ponto da cadeia se encontra. Na fase

de produção, nas propriedades rurais, é onde se encontra maior atraso tecnológico devido ao

modo como os produtores gerem suas atividades, com baixo controle de custos, tempo de

abate não otimizado, e falta de investimentos adequados em pastagens e maquinário. São os

72

aspectos mais importantes que demonstram a deficiência tecnológica encontrada dentro da

produção pecuária do estado.

Já no segmento de abate e processamento da carne, as tecnologias são relativamente

homogêneas e desenvolvidas em praticamente em todo país, principalmente àquela voltada às

exportações. Pois, o mercado consumidor externo é muito mais exigente com relação ao

produto que o mercado interno, de modo que as empresas exportadoras disponibilizam de

equipamentos tecnologicamente mais avançados e diversificados, voltados a atender

diferentes escalas. Essa vantagem tecnológica se apresenta também sob forma de sistemas

mais modernos e informatizados.

Os insumos para a criação bovina, como produtos veterinários, possuem tecnologias

associadas às embalagens, estocagem e conservação de produtos, assim como sua pesquisa e

desenvolvimento (P&D), apresentam resultados favoráveis à competitividade da cadeia.

Entretanto, a reciclagem de embalagens ainda é vista como um fator desfavorável, em face da

incipiente reciclagem realizada nestesegmento.

Já ao fornecimento de insumos para as indústrias frigoríficas é suprido com

eficiência, pois Mato Grosso apresenta o maior rebanho bovino do país. Havendo certa

superioridade da oferta de animais em relação à capacidade de abate, possibilitando inclusive

a escolha dos melhores animais para compra.

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho teve como objetivo analisar os efeitos das exportações de carne

bovina sobre o nível de emprego da indústria de transformação do estado de Mato Grosso.

Para essa finalidade utilizou-se teste de causalidade de Granger, estimação de modelo

econométrico auto-regressivo e de média móvel (ARMA) para estabelecer as relações entre as

variáveis, e finalmente análise das variáveis associadas ao modelo e também sobre as

variáveis endógenas.

Com os resultados foi possível confirmar a hipótese inicial do estudo de que o nível

de emprego no setor da bovinocultura de Mato Grosso foi sim determinado através das

exportações dos produtos cárneos provenientes dessa indústria.

O resultado foi obtido através do teste de causalidade de Granger que determinou que

háuma relação causal de exportações para o nível de emprego. Ratificando também o modelo

teórico de que as relações comerciais estão sob um estímulo da produção, sendo gerado por

uma demanda inicial (as exportações), conseqüentemente elevando o produto final e por fim

aumentando o nível de emprego.

O segundo objetivo específico foi satisfeito através da estimação do modelo

econométrico ARMA(0,2) para estabelecer as relações entre as variáveis. Foi significativa a

variável exportações com elasticidade parcial de 0,181, além do intercepto e duas médias

móveis.

Por fim, realizou-se uma análise das variáveis do modelo com outras associadas

(consumo interno e produtividade do trabalho na indústria) para que se verificasse a coerência

do estudo com o modelo proposto por Kaldor. Concluiu-se que o crescimento industrial está

sendo induzido pela demanda, e não com recursos exogenamente dados, a exemplo da taxa de

câmbio como citado anteriormente que tem um papel importante na análise econômica do

comércio internacional.

Foi constatado que com o aumento da produção, o nível de emprego elevou-se, assim

como a produtividade do trabalho, mas de forma incipiente. Ainda sim foi possível constatar a

74

aplicabilidade da segunda lei de Kaldor que postula uma positiva relação entre taxa de

crescimento da produtividade da indústria e o crescimento da produção nessa indústria.

Portanto, com os resultados apresentados verificou-se que o crescimento da produção

setorial é induzido pelo crescimento das exportações, como componente da demanda

agregada, além de verificar uma queda da produtividade da indústria frigorífica. O que nos

mostra que o setor industrial da pecuária no estado de Mato Grosso tem muitos aspectos a

serem melhorados, como por exemplo, obter maiores ganhos de escala na produção que se

traduziriam em maior produção e maior nível de investimento.

Logo, o comércio internacional, especialmente as exportações, pode ter efeitos

extremamente positivos sobre o emprego na economia, de modo que alteraria a perspectiva

dos salários e também da especialização dos empregados dessa indústria.

75

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