alho caracteristicas-processamento-e-beneficios-a-saude
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CARLOS PENA
Técnico Agrícola
UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA
ALHO: CARACTERÍSTICAS, PROCESSAMENTO E BENEFÍCIOS À SAÚDE.
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AGRADECIMENTOS
AOS COLEGAS GENEROSOS QUE TANTO ME AJUDAM NESTA JORNADA
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“A vida é para quem topa qualquer parada. Não para quempára em qualquer topada.”
Bob Marley
Resumo
Alho: características, processamento e benefícios à saúde.
O alho (Allium sativum) é uma hortaliça pertencente à família Liliacea, que apresentasabor e odor marcantes e característicos, sendo muito utilizado como condimento etambém como fitoterápico. O cultivo dessa hortaliça depende da temperatura e dofotoperíodo, pois exige frio e dias longos. Pode-se classificar as cultivares emprecoces; de ciclo mediano e tardias (nobres), sendo que as últimas proporcionammaior lucro, devido a qualidade dos bulbilhos ser comparável com a do alhoargentino. A produção de alho esteve em melhores condições no início de 2000,tendo uma queda em 2004, estabilizando-se assim, até 2008. Os alhicultores do sulestão encontrando dificuldades para o cultivo dessa hortaliça devido à mudançaclimática e à grande competitividade com o alho importado, vindo da Argentina e daChina. Por isso é muito importante que haja um maior incentivo ao consumo do alhonacional. Para obter esse efeito as pessoas devem ser melhor informadas sobretodas propriedades do alho, sendo este o objetivo deste trabalho. Essa hortaliçaapresenta pouca quantidade de lipídeos e calorias, e grande quantidade decarboidratos, fibras e micronutrientes, como o selênio. Os compostos de aroma sãoinodoros na célula intacta, sendo liberados apenas após a trituração ouamassamento, quando a enzima alinase entra em contato com a aliina, formando aalicina, o principal componente do alho. A pasta de alho sofre perdas devido aoescurecimento enzimático, sobre os compostos fenólicos. Por isso é de extremaimportância a adição de ácido cítrico, para evitar a oxidação e de sorbato depotássio, para inibir o crescimento microbiológico. Além do uso como condimento, oalho é considerado, potencialmente, um alimento funcional, pois possui compostossulfurados e não-sulfurados com variadas funções benéficas para o organismo.Sabe-se que o alho pode atuar como prebiótico, devido à presença de inulina efrutooligossacarídeos e como anticarcinogênico, antibiótico e redutor a ocorrência dedoenças cardíacas. O principal componente responsável por esses benefícios é aalicina, que tem como principais efeitos ser antioxidante e antibiótico. Ainda não háconsenso quanto a quantidade de alho a ser consumida, mas é recomendado aingestão de 600-900mg de alho por dia, o que equivale a um dente, sendoimportante ressaltar que o uso excessivo dessa hortaliça pode causar efeitos
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colaterais. Portanto, para que essa cultura volte a ter os lucros perdidos para asimportações, é necessário o desenvolvimento de novas tecnologias para o cultivo,assim como um maior consumo. A industrialização do alho é importante, pois facilitaseu manuseio e consequentemente, sua utilização. Mais estudos devem ser feitoscom relação aos efeitos benéficos, para que possa ser determinada a quantidadecerta capaz de trazer os efeitos desejados.
Palavras-chave: Alho. Alicina. Pasta de alho.
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Lista de Figuras
Figura 1– Planta do alho com folhas pontiagudas e achatadas................................12
Figura 2 – Flor rosada do alho...................................................................................12
Figura 3 – Bulbo e bulbilhos de alho..........................................................................13
Figura 4 – Produção de alho no Brasil.......................................................................16
Figura 5 – Abastecimento de alho no Brasil: Médias anuais/mensais do alho nacionale importado................................................................................................................ 17
Figura 6 – Molécula da alicina....................................................................................21
Figura 7 – Reação enzimática do odor do alho..........................................................21
Figura 8 – Etapas envolvidas no processamento da pasta de alho...........................23
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Lista de Tabelas
Tabela 1 – Composição química do alho in natura....................................................19
Tabela 2 – Compostos sulfúricos e suas atividade biológicas...................................28
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Sumário
Resumo................................................................................................................... 05Lista de Figuras...................................................................................................... 06Lista de Tabelas..................................................................................................... 071. Introdução........................................................................................................... 092. Caracterização.................................................................................................... 112.1 Características históricas.................................................................................. 112.2 Características botânicas................................................................................. 122.3 Cultivares.......................................................................................................... 132.3.1 Cultivares precoces....................................................................................... 132.3.2 Cultivares de ciclo mediano........................................................................... 142.3.3 Cultivares tardias (nobres)............................................................................. 143. Produção e consumo.......................................................................................... 153.1 Produção.......................................................................................................... 153.2 Consumo.......................................................................................................... 184. Composição química.......................................................................................... 194.1 Alho in natura.................................................................................................... 194.2 Compostos aromáticos..................................................................................... 204.2.1 Odor............................................................................................................... 204.2.2 Alicina............................................................................................................ 205. Processamento................................................................................................... 225.1 Pasta de alho.................................................................................................... 225.1.1 Processamento da pasta de alho.................................................................. 225.1.2 Escurecimento enzimático............................................................................. 245.1.3 Conservadores químicos............................................................................... 255.1.3.1 Ácido cítrico na pasta de alho..................................................................... 255.1.4 Uso de conservantes segundo a legislação.................................................. 265.2 influência do teor de sólidos totais para o processamento do alho.................. 266. Alho – hortaliça fitoterápica................................................................................ 286.1 Radicais livres e ação dos antioxidantes.......................................................... 286.2 Compostos sulfurados e suas funções............................................................. 296.3 Compostos não sulfurados............................................................................... 306.3.1 Selênio........................................................................................................... 306.3.2 Ácidos fenólicos............................................................................................. 306.4 Principais benefícios do alho............................................................................ 316.4.1 Ação prebiótica.............................................................................................. 316.4.2 Efeito antibiótico............................................................................................ 316.4.3 Redução de doenças cardiovasculares......................................................... 326.4.4 Efeito anticarcinogênico................................................................................. 336.5 Recomendação................................................................................................. 336.6 Efeitos colaterais.............................................................................................. 347. Conclusão........................................................................................................... 35Referências............................................................................................................. 36
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1. Introdução
O alho (Allium sativum) é uma hortaliça muito consumida mundialmente, isso se
deve ao seu uso como condimento e também como planta medicinal. Essa hortícula
aromática é famosa por seu sabor e odor característicos. Poucas plantas são tão
completas, têm tantas propriedades saudáveis e estão ao alcance de todos, como o
alho.
No Brasil a produção de alho vem sofrendo um declínio considerável devido às
importações do alho argentino e chinês. Esse fator é muito preocupante, pois a área
plantada está diminuindo cada vez mais, refletindo numa redução de lucros e num
aumento de desemprego. A cultura do alho tem grande impacto social, gerando
quatro empregos diretos por hectare plantado e outros quatro indiretos na cadeia
produtiva (DUSI, 2008).
Um dos maiores problemas sofridos pelos alhicultores se deve ao clima adverso,
pois o alho é uma planta que exige frio para florescer. Para que essa cultura possa
superar a crise pela qual vem passando, os produtores estão tentando melhorar a
qualidade da produção do alho e pesquisas estão sendo feitas para a viabilização de
novas tecnologias com intenção de aprimorar a cultura alheira para, assim, diminuir
a necessidade de importação. Essas iniciativas podem estimular tanto a produção
como o consumo interno e ainda a exportação (DUSI, 2008).
Outra forma eficiente para minimizar a crise da cultura alheira, é estimular o
aumento do consumo do alho nacional. Para obter esse efeito deve haver um
conhecimento mais aprimorado por parte dos consumidores a respeito das
características dessa hortaliça. Isso aumenta o interesse pelo alho, pois a maioria
das pessoas que o consome não conhece todas as propriedades que essa hortaliça
possui e o fato de conhecer mais sobre o alho facilita a produção de novos produtos
que o contenham, para aumentar e facilitar ainda mais seu consumo.
Essa hortaliça possui baixo teor de gordura e calorias e grande quantidade de
carboidratos, fibras e micronutrientes. O alho contém sabor e odor marcantes devido
à presença de compostos sulfurados, os quais são inodoros no alho intacto e só
liberam o aroma após o alho ser cortado ou amassado, sendo a alicina, o principal
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componente responsável pelo odor. Para a indústria, a pasta de alho mostra-se um
produto de fácil processamento, que necessita de conservantes químicos, pois sua
maior problemática é o escurecimento enzimático. Para evitar que isso ocorra utiliza-
se ácido cítrico devido à sua propriedade antioxidante e também sorbato de potássio
para evitar o escurecimento.
O fato de possuir substâncias bioativas, chamadas de fitoquímicos, proporciona
ao alho a propriedade de ser um alimento funcional. A maioria dessas substâncias
atua como antioxidante prevenindo a ação dos radicais livres. Os fitoquímicos
podem ser compostos sulfurados e não sulfurados que possuem várias funções
benéficas para o organismo.
Vários estudos foram feitos tentando mostrar que o alho pode diminuir o risco da
ocorrência de doenças que estão se tornando muito comuns entre as pessoas, como
problemas no trato digestivo, doenças cardiovasculares, câncer, dentre outras. A
quantidade de alho que deve ser consumida para proporcionar esses benefícios
ainda não foi determinada. O importante é que o alho deve ser consumido cru, pois
perde seus benefícios ao sofrer processamento térmico devido ao fato de seus
compostos serem muito voláteis.
O objetivo deste trabalho é fornecer um conhecimento abrangente sobre as
características gerais do alho, as quais são pouco conhecidas por aqueles que o
consomem no dia-a-dia. A intenção é mostrar o quanto essa hortaliça é interessante
e assim, poder contribuir para o aumento da valorização do alho nacional.
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2. Caracterização
2.1 Características históricas
As origens do alho remontam aproximadamente 6.000 anos. Na verdade, há
imprecisão e controvérsias sobre sua origem, que pode ter sido a Europa
mediterrânea ou o continente asiático. Considera-se que tenha surgido no deserto
da Sibéria, sendo levado para o Egito por tribos asiáticas nômades, seguido para o
extremo oriente através do comércio com a Índia e então chegado à Europa
(ANAPA, 2009).
Em todas as culturas o alho era um alimento quase tão importante quanto o sal.
O que ditou a diferença de importância foi a rejeição pelas classes mais altas, em
razão do seu odor. Mesmo com o preconceito das classes dominantes, a
importância e a representatividade do alho na história da humanidade são
indiscutíveis (ANAPA, 2009).
No antigo Egito, 7 kg de alho eram suficientes para comprar um escravo, e até
meados do século XVIII, os siberianos pagavam os seus impostos em alho. Foi
largamente utilizado na conservação de carnes e até mesmo de cadáveres. Os
egípcios usavam-no como parte do processo de mumificação dos mortos (ANAPA,
2009).
A nenhuma outra planta na história do mundo foi atribuído tamanho poder. Já
foram publicados mais de dois mil artigos em revistas científicas referentes às
qualidades medicinais do alho. Acredita-se que o alho teria chegado ao Brasil junto
com as caravelas de Cabral. Após cinco séculos, sendo cultivado em pequenas
quantidades para ser usado como tempero e ingrediente de remédios caseiros, o
alho, enfim, se tornou uma cultura capaz de gerar riquezas (ANAPA, 2009).
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2.2 Características botânicas
O alho (Allium sativum) pertence à família Liliaceae, que é a mesma da cebola e
da cebolinha. Trata-se de uma planta herbácea que pode atingir até 60 cm de altura,
apresentando folhas longas, pontiagudas e achatadas (Fig. 1). Possui flores
pequenas em cachos, de coloração rosada ou branca , as quais são mostradas na
Fig. 2 (FILGUEIRA, 2003).
Figura 1 – Planta do alho com folhas pontiagudas e achatadas.
Fonte: ALHO, 2009.
Figura 2 – Flor rosada do alho.
Fonte: LAZZAROTO, 2008.
A parte utilizável da planta é um bulbo, mais conhecida como “cabeça”, composta
por bulbilhos, os quais são constituídos por uma estrutura rica em amido e
substâncias aromáticas, de valor condimentar e nutricional (Fig. 3). Cada bulbilho é
capaz de originar uma nova planta após a brotação. Há túnicas envolvendo o bulbo
e uma película cobrindo os bulbilhos (FILGUEIRA, 2003).
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Figura 3 – Bulbo e bulbilhos de alho.
Fonte: COSTA, 2009.
2.3 Cultivares
O alho é uma planta bienal, que exige frio para florescer, mas comporta-se como
uma cultura anual, apresentando a etapa vegetativa de seu ciclo. Origina-se de
regiões asiáticas de clima extremamente frio, por isso é capaz de suportar baixas
temperaturas, inclusive geadas. A planta exige pouco frio no início da cultura, muito
no meio do ciclo e dias longos no final. Portanto, temperatura e fotoperíodo são
fatores de clima extremamente importantes à cultura do alho, influindo na fase
vegetativa, no bom desenvolvimento e na produtividade (FILGUEIRA, 2003).
O comprimento do dia, ou fotoperíodo, determina em que região e em que época
cada variedade deve ser plantada. Devido a exigências climáticas, a planta
desenvolve-se apenas durante o outono-inverno. No alho, tais fatores têm papel
visivelmente mais destacado (FILGUEIRA, 2003).
As cultivares de alho atualmente plantadas no Brasil podem ser classificadas em
três grupos (cultivares precoces, cultivares de ciclo mediano e cultivares tardias),
utilizando-se como requisito a duração do ciclo e as exigências fotoperiódica e de
temperatura (FILGUEIRA, 2003).
2.3.1 Cultivares precoces
Apresentam ciclo de plantio do bulbilho, até a maturação do bulbo, de quatro
meses, ou pouco mais longo. São as cultivares menos exigentes em fotoperíodo e
em frio, adaptando-se ao cultivo em regiões brasileiras de latitudes diferenciadas. Os
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bulbos dessas cultivares, contêm grande número de bulbilhos; coloração externa
branca ou arroxeada; menor conservação pós-colheita e valor comercial reduzido.
São exemplos as cultivares Branco Mineiro e Cateto Roxo (FILGUEIRA, 2003).
2.3.2 Cultivares de ciclo mediano
Possuem ciclo igual ou superior a cinco meses. São cultivares um pouco mais
exigentes em fotoperíodo e em frio, apresentando adaptação regional mais restrita.
Os bulbos apresentam menor número de bulbilhos, os quais são mais graúdos, com
coloração externa arroxeada. Possui melhor conservação pós-colheita, alcançando
melhor valor comercial. Como exemplos, têm-se as cultivares Lavínia e Amarante
(FILGUEIRA, 2003).
2.3.3 Cultivares tardias (nobres)
O ciclo é substancialmente mais longo, sendo de seis meses ou mais. São as
cultivares mais exigentes em fotoperíodo (mínimo de 13 horas) e em frio, produzindo
bulbos no extremo sul. Podem ser plantadas somente no centro-sul, aplicando-se a
vernalização, que altera as exigências agroclimáticas e reduz o ciclo (FILGUEIRA,
2003).
A vernalização é uma tecnologia que consiste em submeter o bulbo inteiro dessa
cultivar, ou a semente, à uma temperatura de 3-5oC, durante 40-55 dias, onde esses
bulbos irão adquirir a habilidade de serem cultivados em regiões mais quentes. Após
sofrer esse processo, podem ficar à temperatura ambiente por aproximadamente
seis dias, pois a partir desse período começa ocorrer a desvernalização
(FILGUEIRA, 2003).
Os bulbos são constituídos por bulbilhos graúdos e em pequeno número;
coloração externa esbranquiçada; alta capacidade de conservação e obtenção da
maior cotação comercial, devido a qualidade comparável a do alho argentino. São
bons exemplos as cultivares nobres: Chonan, Roxo-Pérola-de-Caçador e Quitéria
(FILGUEIRA, 2003).
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3. Produção e consumo
3.1 Produção
No Brasil, a produção de alhos nobres, começou no final da década de 70,
através do Sr. Takashi Chonan. A seleção da variedade de alho nobre roxo, que leva
o seu nome, foi realizada no município de Curitibanos, hoje Frei Rogério em Santa
Catarina (LUCINI, 2008).
A produção brasileira de alhos era localizada principalmente nos estados de
Minas Gerais e Goiás, durante as décadas de 60 e 70, onde se cultivavam alhos
comuns, brancos, de baixo valor comercial. O crescimento da produção de alhos
nobres, roxos, no Brasil aumentou significativamente na década de 80. O Brasil
cultivou alho na faixa dos 18 mil hectares no final dos anos 80 e no início dos anos
90 (Fig. 4), apresentando uma redução muito grande na produção no fim dessa
mesma década (LUCINI, 2008).
De acordo com a ANAPA (Associação Nacional dos Produtores de Alho), as
áreas de plantio voltaram a crescer no início de 2000 e recuaram novamente em
2004, estabilizando-se até 2008 (Fig. 4), quando houve uma nova redução. A área
de plantio no Brasil em 2008, foi a menor dos últimos 20 anos (LUCINI, 2008).
Atualmente, a participação do alho nacional no abastecimento está ao redor dos
30%, tendo uma área total de plantio de 9,6 mil hectares, sendo 8 mil com alho
nobre roxo (LUCINI, 2008).
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Figura 4 – Produção de alho no Brasil. Fonte: ANAPA, 2009.
Por definição, alho nobre é aquele que apresenta menos de 20 bulbilhos por
cabeça, sendo roxo por possuir os dentes dos bulbos dessa cor. Os alhos
importados da Argentina, China e Espanha apresentam essas características. De
acordo com a norma 242 de 17 de setembro de 1992, lei no 8.460, do Ministério da
Agricultura, Pecuária e do Abastecimento (MAPA), os alhos considerados comuns
possuem mais de 20 bulbilhos por bulbo, sendo destinados aos mercados regionais,
comercializados em réstia e a granel em sacos (LUCINI, 2008).
A Fig. 5 mostra a participação do alho nacional no abastecimento do país, com
médias mensais durante os anos de 1997 a 2008. Pode-se perceber a diminuição,
ao longo dos anos, da oferta do alho nacional no mercado (LUCINI, 2008).
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Figura 5 – Abastecimento de alho no Brasil: Médias anuais/mensais do
alho nacional e importado.
Fonte: ANAPA, 2009.
No início do governo Collor, teve-se a adoção do livre comércio, do Mercosul, a
partir da safra de 1990/91 aumentando significativamente as importações de alho,
inicialmente da Argentina e depois da China (LUCINI, 2008).
No período de 1994 a 2004, para tentar competir com os alhos importados, os
produtores do Cerrado do Brasil, adaptaram uma tecnologia e aumentaram suas
produtividades de 10 a 12 mil quilos por hectare para 15 a 18 toneladas. Hoje o
Brasil já produz 20 toneladas de alho nobre roxo por hectare plantado (LUCINI,
2008).
Os alhicultores do sul, passaram de 3 mil quilos por hectare para 12 mil quilos no
final dos anos 90. A partir de então não estão conseguindo aumentar a produção, e
por isso têm diminuído suas áreas de plantio todo ano, por estarem perdendo a
competitividade. Isso se deve ao clima adverso, e principalmente à concorrência
com o alho argentino que é mais competitivo atualmente (LUCINI, 2008).
O alho é uma cultura geradora de empregos de alta capacidade econômica, pois
para cada hectare plantado criam-se quatro empregos. Durante muitos anos a
cultura do alho foi a principal atividade agrícola de inverno/primavera de Santa
Catarina, assim como da Serra Gaúcha, mas infelizmente, hoje, isso já não ocorre
mais (LUCINI, 2008).
Com a abertura do mercado, o volume das importações aumentou
estrondosamente, diminuindo muito a produção nacional. Atualmente 60% dos
alhicultores do sul não cultivam mais essa hortaliça. A cadeia do alho necessita de
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medidas para melhorar a produtividade, e com isso aumentar a competitividade com
os alhos importados, como: controle de qualidade, controle fitossanitário entre outras
(LUCINI, 2008).
3.2 Consumo
A quantidade de hortaliças consumidas pela população brasileira está,
atualmente, muito abaixo do mínimo recomendado pela OMS - Organização Mundial
da Saúde (MELO, 2008). Em relação às outras hortaliças, o consumo de alho é
significativamente grande, devido principalmente ao seu uso como condimento.
No Brasil consome-se 20 milhões de caixas de alho in natura por ano e 1 milhão
de caixas do industrializado, chegando aproximadamente a 1,10 quilos por habitante
ao ano (LUCINI, 2008). Há uma grande variedade de produtos de alho disponível no
mercado, os quais são destinados à culinária, como o alho em pó, desidratado, frito,
pasta e molho.
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4. Composição química
4.1 Alho in natura
A composição química do alho varia consideravelmente devido à variedade de
cultivares, assim como, à época de plantio, condições climáticas entre outros
fatores. A tab. 1 mostra a composição química do alho in natura.
Tabela 1 – Composição química do alho in natura
Porção de 100 gramasCalorias 134 Kcal Glicídios 29,30 gProteínas 5,30 gLipídeos 0,20 gFibras 1,66 g
Vitamina B1 0,20 mgVitamina B6 3,33 mgVitamina C 31,1 mgÁcido Fólico 3,10 mg
Sódio 69,9 mgCálcio 38,0 mg
Fósforo 134,0 mgFerro 1,04 mg
Potássio 607,6 mgEnxofre 450,0 mg Cobre 0,17 mgZinco 8,83 mg
Selênio 24,9 mgIodo 9,0 mcg
Fonte: FRANCO, 2001; QUINTAES, 2001.
O alho apresenta baixa quantidade de gordura e calorias, relativamente pouca
proteína, mas contém bastante carboidratos e fibras e fornece níveis significativos
de micronutrientes, como é o caso dos altos teores de zinco e selênio, os quais são
metais antioxidantes (QUINTAES, 2001; MARCHIORI, 2009).
4.2 Compostos aromáticos
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O alho contém derivados de enxofre, os quais são responsáveis por seu aroma e
sabor, e na célula íntegra, não danificada, são totalmente inodoros. Somente quando
ocorre a ruptura das paredes celulares e a enzima alinase tem acesso ao seu
substrato, é que o aroma se torna evidente (COENDERS, 1996; SOUZA, 2002;
COULTATE, 2004; MENDONÇA, 2008 apud COULTATE, 1984).
No alho há presença de vários sulfetos e dissulfetos, assim como ácido sulfídrico
em quantidades consideráveis, provenientes da decomposição química e
enzimática, dos derivados da alicina (MENDONÇA, 2008 apud COULTATE, 1984).
4.2.1 Odor
Durante o processamento grande parte do odor do alho é perdido, devido ao fato
dos compostos serem muito voláteis. Por isso torna-se necessário, a utilização de
matéria-prima muito odorífera, para que após as perdas, o odor residual do produto
processado esteja ainda em grau suficiente para conferir um aroma característico de
alho, o que é muito importante para a aceitabilidade do produto por parte do
consumidor (FREITAS, 2005).
4.2.2 Alicina
A aliina é um aminoácido sulfurado, que sofre conversão enzimática em alicina,
pela ação da enzima alinase. A alicina (Fig. 6) é um líquido de coloração amarela
que só aparece, quando o alho é esmagado ou cortado, sendo um dos compostos
mais importantes, responsável pelo odor característico do alho (LAMARÃO, 2007).
Figura 6 – Molécula da alicina.
Fonte: Alho, 2009.
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Assim como outras substâncias sulfurosas, a alicina se decompõe
espontaneamente, formando numerosos compostos que contêm enxofre, como por
exemplo, ajoene, garlicina e trisulfureto de alilo, dentre outros (CAMPOS, 2004). Na
Fig. 7 está representado um exemplo de reação do odor, que ocorre no alho, devido
à ação enzimática.
COOH COOH CH2 CH2 CH2
CH NH2 C = O CH CH CH
CH2 Enzima CH3 + CH2 CH2 + CH2
S O + S S SO2
CH2 2 NH2 S O S O S
CH CH2 CH2 CH2
CH2 CH CH CH
CH3 CH CH2
Figura 7 – Reação enzimática do odor do alho.
Fonte: FREITAS, 2005.
5. Processamento
Devido ao ritmo acelerado que vivemos atualmente, a busca por produtos
prontos para consumo, aumenta com o passar do tempo, pois facilitam o seu
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Sulfóxido dealilcisteína
Tiosulfinato dealila
Dissulfitode alila(volátil)
Tiosulfonatode alila
manuseio. Por isso, as indústrias aprimoram-se para produzir produtos de qualidade,
que atendam a necessidade do consumidor.
Dentre os produtos de alho, a pasta é um dos mais consumidos, sendo assim,
será descrito a seguir, o processamento deste produto.
5.1 Pasta de alho
A transformação do alho em pasta pronta para consumo, estável à temperatura
ambiente, facilita a utilização dessa hortaliça, pois a manipulação do alho in natura
causa desconforto devido ao odor causado pelos compostos organossulfurados
(BERBARI, 2003).
5.1.1 Processamento da pasta de alho
O fluxograma apresentado na Fig. 8 mostra as etapas envolvidas no
processamento da pasta de alho.
Matéria-prima (dentes de alho in natura)
Tratamento de imersão
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Obtenção da pasta – “cutter”
Adição de ácido cítrico e sorbato de potássio
Acondicionamento
Desaeração parcial
Armazenamento à temperatura ambiente
Figura 8 – Etapas envolvidas no processamento da pasta de alho.
Fonte: BERBARI, 2003.
O processamento da pasta de alho inicia com o tratamento de imersão dos
bulbilhos em água a 80oC por 3 minutos para facilitar o descascamento, com auxílio
de facas. A etapa seguinte se baseia na trituração dos dentes em equipamento do
tipo “cutter”, onde se adiciona uma parte de sal para duas de alho, operando com
velocidade baixa para a bacia e para as lâminas, por aproximadamente 50 minutos,
formando a pasta (BERBARI, 2003).
Geralmente adiciona-se ácido cítrico (2,1%) para evitar o escurecimento e o
sorbato de potássio (0,1%) para controlar o desenvolvimento microbiológico. A pasta
pode ser acondicionada em potes plásticos de polietileno de alta densidade e/ou em
vidros. Após o acondicionamento as embalagens passam por uma desaeração
parcial em câmara de vácuo, a qual irá remover todo oxigênio presente (BERBARI,
2003).
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A etapa final do processamento da pasta consiste no fechamento das
embalagens plásticas por encaixe de tampas de PVC com o pote ou então, das
embalagens de vidro, com tampas metálicas de rosca, as quais serão encaminhadas
para armazenamento à temperatura ambiente (BERBARI, 2003).
5.1.2 Escurecimento enzimático
A pasta de alho perde sua qualidade, principalmente por causa do
escurecimento. Este ocorre devido à ação da enzima polifenoloxidase sobre os
compostos fenólicos, que são oxidados a ortoquinonas, as quais se polimerizam
facilmente formando as melaninas, que são compostos escuros (BERBARI, 2003;
QUEIROZ et al., 2006). A Fig. 9 mostra uma exemplo de como a polifenoloxidase
atua sobre os compostos fenólicos.
OHOH
OO
EnzimaO2 H2O++ 12
Figura 9 – Reação da enzima polifenoloxidase sobre um ácido fenólico.
Fonte: ENZIMÁTICAS, 2009.
Essas reações de escurecimento que ocorrem durante o armazenamento são
aceleradas pela presença de fatores, como luz e oxigênio, o que está diretamente
relacionado com o tipo de embalagem utilizada. Enquanto que o vidro é
impermeável à passagem de gases e vapores, o polietileno de alta densidade não
apresenta alta barreira, mas apresenta maior resistência à passagem de luz que o
vidro, que é transparente e apresenta maior custo (BARBERI, 2003).
Isso deixa claro que não só o tempo de armazenamento, mas também as
condições de acondicionamento podem interferir diretamente na qualidade da pasta
de alho.
5.1.3 Conservadores químicos
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A utilização de conservadores químicos está relacionada com o pH do meio, pois
a forma não-dissociada da molécula é que confere sua característica antimicrobiana,
ou seja, à medida que se adiciona conservante o pH diminui, enquanto a acidez
aumenta, desfavorecendo o desenvolvimento microbiológico, podendo assim,
manter a qualidade do produto (BARBERI, 2003).
Os valores de pka, da maioria dos conservadores químicos estão na faixa de pH
entre 3,0 e 5,0, portanto, a concentração da forma não-dissociada aumenta com o
aumento da acidez do alimento. Por isso, há a necessidade da acidificação dos
produtos que serão submetidos à conservação química (BARBERI, 2003).
Na pasta de alho, costuma-se utilizar ácido cítrico e sorbato de potássio
5.1.3.1 Ácido cítrico na pasta de alho
O ácido cítrico é um dos acidulantes mais utilizados nas indústrias de alimentos,
tendo como características principais, a alta solubilidade e a ação sequestrante de
íons metálicos, que previne reações de oxidação de cor e aroma, as quais são
indesejáveis (BARBERI, 2003; QUEIROZ et al., 2006).
No processamento da pasta, para que o valor de pH seja atingido de forma
correta, há a necessidade da determinação da curva de acidificação para cada lote
de alho a ser processado, pois o comportamento de uma hortaliça quando
submetida à acidificação, é influenciado por fatores como variedade, época de
colheita, condições de cultivo e armazenamento pós-colheita. O pH do alho in natura
fica ao redor de 6,0 (BARBERI, 2003).
Dependendo da cultivar e dos outros fatores citados, a acidificação com ácido
cítrico até pH 4,0 é eficiente para controlar o escurecimento da pasta de alho
durante armazenamento de três meses sob temperatura ambiente. Sendo que, esse
pH e a adição de sorbato de potássio, juntamente com a ação antimicrobiana dos
compostos naturalmente presentes no alho, como alicina e garlicina, controlam o
desenvolvimento microbiológico (BARBERI, 2003).
5.1.4 Uso de conservantes segundo a legislação
A Resolução RDC no. 34, de 09 de março de 2001 da Anvisa, que aprova o uso
de aditivos alimentares, define que seja adicionada a quantidade de ácido cítrico,
24
necessária para manter a qualidade do produto. No caso da pasta de alho,
recomenda-se que seja adicionado até que seja atingido pH = 4,0, sendo este o
limite máximo, o que equivale de 0,3 a 4,0% de ácido cítrico. Para o sorbato de
potássio, a quantidade máxima permitida fica entre 0,05 a 0,2% (GRANADO, 2007).
5.2 Influência do teor de sólidos totais para o processamento do alho
Em comparação com outras hortaliças (cebola, cenoura, pimentão), o valor de
sólidos totais presente no alho é bastante acentuado, apresentando as melhores
condições para desidratação, pois obtém-se uma maior quantidade de alho
desidratado, por peso de matéria-prima utilizada (RESENDE, 2003).
O rendimento industrial do alho depende, em grande parte, do conteúdo de
sólidos totais presentes na matéria-prima. Assim, cultivares com elevado nível de
sólidos totais proporcionam um maior rendimento industrial, reduzindo os custos de
produção, pois menor quantidade de água deverá ser removida do produto
(RESENDE, 2003).
A determinação do teor de sólidos solúveis é muito importante, pois nesta fração
encontram-se os açúcares, responsáveis, em parte, pelo sabor característico do
alho. O odor do alho após seu processamento é essencial para o produto
industrializado, pois é uma das características mais acentuadas da hortaliça, sendo
dependente do teor de sólidos solúveis encontrados nos bulbos colhidos
(RESENDE, 2003).
No caso do alho em pó, os valores de sólidos solúveis presentes na matéria-
prima são importantes para sua solubilidade, o que indica a grande influência sobre
a qualidade dos produtos, assim como nos custos de processamento. Por isso é
importante determinar as cultivares que apresentam as melhores condições para
processamento, a fim de favorecer a indústria e atender as necessidades do
consumidor (RESENDE, 2003).
25
6. Alho – hortaliça fitoterápica
O alho é considerado um alimento potencialmente funcional, pois contém em sua
composição substâncias biologicamente ativas, que lhe conferem cor, sabor, odor e
ainda atuam na proteção contra a ocorrência de disfunções metabólicas e
26
fisiológicas. Essas substâncias chamadas de fitoquímicos são compostos sulfúricos
e não sulfúricos, os quais, a grande maioria, atuam como antioxidantes protegendo
as células e órgãos da ação destrutiva dos radicais livres (ANJO, 2004; FRANCO,
2006; QUEIROZ, 2006).
Os efeitos benéficos à saúde promovidos pelo alho, são investigados há séculos
e através de várias pesquisas e análises químicas, chegou-se a conclusão de que o
alho apresenta vários compostos que têm possível atuação de funcionalidade. Já
foram reconhecidos mais de trinta compostos com ação benéfica. Os benefícios do
alho são numerosos, sendo os de maior destaque, a atividade bactericida, a
prevenção de câncer, a redução de colesterol e a ação anti-hipertensiva
(LAMARÃO, 2007).
6.1 Radicais livres e ação dos antioxidantes
Os radicais livres (RLs) são compostos formados por moléculas oxigenadas
tóxicas responsáveis por processos de oxidação que atuam em vários processos
como obstrução de artérias, transformação das células em células cancerosas,
problemas nas articulações e mau funcionamento do sistema nervoso, além de
estarem associados ao envelhecimento (CARVALHO et al., 2006; LEITE, 2003).
Os RLs são produzidos por diversos fatores, como por exemplo, consumo de
cigarro, exposição a raios X, poluentes do ar, luz solar, oxidação de lipídios,
exercícios físicos excessivos e por aditivos alimentares. O processo de formação
dos radicais livres é ativado de forma frequente através das funções normais do
nosso organismo, por isso não pode ser completamente evitado (FERREIRA, 1997;
LEITE, 2003).
A atividade destrutiva dos radicais livres se deve, principalmente, ao fato, desses
compostos possuírem um ou mais elétrons não emparelhados, o que os torna
instáveis e muito reativos (CARVALHO et al., 2006; FERREIRA, 1997, LEITE, 2003).
Os antioxidantes são compostos que atuam atrasando ou inibindo o início ou a
propagação das reações em cadeia que levam ao dano celular, ou seja, reagem
com os radicais livres nas etapas iniciais da oxidação, formando produtos
intermediários estáveis (ARAÚJO, 2009; CARVALHO et al., 2006).
6.2 Compostos sulfurados e suas funções
27
Como já foi dito anteriormente, o alho apresenta muitos compostos com ação
terapêutica, os quais são, na grande maioria, derivados de enxofre, presentes em
quantidades três vezes maiores do que em outros vegetais também ricos nestes
compostos, como a cebola e o brócolis (MARCHIORI, 2009). É importante ressaltar
que as substâncias bioativas presentes no alho não são todas antioxidantes
(CARVALHO et al., 2006).
A tab. 2 mostra alguns compostos sulfúricos presentes no alho e suas
respectivas funções no organismo.
Tabela 2 – Compostos sulfúricos e suas atividade biológicas
Composto sulfurado Atividade biológicaAliina Hipotensor, hipoglicemiante e antioxidante.
Ajoeno Prevenção de coágulos, antiinflamatório,
vasodilatador, hipotensor, antibiótico e
antioxidante.Alicina e tiosulfinatos Antioxidante, antibiótico, antifúngico e
antiviral.S-alil-cisteína e compostos glutâmicos Hipocolesterolemiante, antioxidante e
quimioprotetor frente ao câncer.Sulfeto dialil Hipocolesterolemiante
Fonte: MARCHIORI, 2009.
6.3 Compostos não sulfurados
Assim como os derivados de enxofre proporcionam muitos efeitos benéficos no
organismo, o alho também contém compostos não sulfurados, como por exemplo, o
selênio e os ácidos fenólicos, os quais oferecem muitas funções importantes para o
funcionamento metabólico.
6.3.1 Selênio
O selênio é um mineral-traço essencial, ou seja, o organismo necessita dele em
quantidades mínimas, tornando-se tóxico em altas doses. No alho, esse mineral está
28
presente em quantidade suficiente para promover proteção contra doenças crônicas
associadas ao envelhecimento, como a aterosclerose, assim como câncer. O selênio
atua como antioxidante protegendo as células dos radicais livres (CARVALHO et al.,
2006).
6.3.2 Ácidos fenólicos
Os ácidos fenólicos são algumas das substâncias que constituem o grupo dos
compostos fenólicos. Caracterizam-se por terem um anel benzênico, um grupamento
carboxílico e um ou mais grupamentos de hidroxila e/ou metoxila na molécula.
Essas substâncias, presentes no alho, conferem propriedades antioxidantes para o
organismo, atuando na prevenção de câncer, doenças cardiovasculares e ainda são
antivirais e antibacterianos (ANJO, 2004; CARVALHO et al., 2006; SANTOS, 2001).
Esses antioxidantes fenólicos funcionam como sequestradores de radicais e
algumas vezes como quelantes de metais, agindo tanto na etapa de iniciação como
na propagação do processo oxidativo. Os produtos intermediários, formados pela
ação destes antioxidantes, são relativamente estáveis devido à ressonância do anel
aromático apresentado por estas substâncias (SOARES, 2002).
6.4 Principais benefícios do alho
6.4.1 Ação prebiótica
Os prebióticos são carboidratos complexos, considerados fibras, resistentes à
ação de enzimas salivares e intestinais. Quando atingem o cólon, produzem efeitos
benéficos à microflora colônica. O alho pode ter ação prebiótica porque contém
inulina e frutooligossacarídeos (FOS), os quais são fisiologicamente semelhantes às
fibras, porém não aumentam a viscosidade da solução, não alteram a mistura dos
componentes alimentares no intestino delgado e não se ligam aos sais biliares
(ANJO, 2004; CARVALHO et al., 2006; HAULY, 2002; PIMENTEL, 2005).
29
Somente a inulina e os FOS são conhecidos por apresentarem efeito
bifidogênico, isto é, estimulam o crescimento intestinal das bifidobactérias do cólon
que agem suprimindo a atividade putrefativa de outras bactérias como Escherichia
coli e Streptococcus fecalis, entre outras (ANJO, 2004; CARVALHO et al., 2006).
A ação desses oligossacarídeos proporciona efeitos como: alteração do trânsito
intestinal, reduzindo metabólitos tóxicos; prevenção da diarréia, por alterar a
microflora colônica; diminuição do risco de câncer; diminuição do colesterol e
triglicerídeos (ANJO, 2004; CARVALHO et al., 2006). No entanto, as concentrações
presentes no alho são baixas, exigindo consumo extremamente elevado para a
obtenção dos efeitos fisiológicos desejados (PIMENTEL, 2005).
6.4.2 Efeito antibiótico
Desde 1858 a atividade antibacteriana do alho vem sendo estudada e confirmada
por diversos autores. Em laboratório mediante diluição em série, o extrato fresco de
alho mostrou ser capaz de inibir o crescimento de 14 espécies de bactérias, como o
Stafilococcus aureus, Klebsiella peneumoniae e Escherichia coli, que são bactérias
potencialmente maléficas à saúde. O mais impressionante é que a inibição ainda
ocorreu, quando se utilizou o extrato de alho diluído 128 vezes (QUINTAES, 2001;
WILDMAN, 2001).
O alho ainda tem se mostrado eficiente contra o Helicobacter pylory, a maior
causa de câncer gástrico e também úlceras gástricas e duodenais. Foi observado,
que 2g por litro de extrato fresco de alho inibe completamente o crescimento do H.
pylory, o que indica que este efeito bactericida pode contribuir para prevenir a
formação do câncer gástrico (CARRIJO et al, 2005; QUINTAES, 2001; WILDMAN,
2001).
Em grande parte, este efeito é atribuído aos principais antibióticos naturais
presentes no alho, a alicina e a garlicina, sendo ambos de ação predominantemente
bacteriostática, atuando tanto contra bactérias gram positivas quanto contra gram
negativas (CARRIJO et al, 2005; CORNELI, 2004; WILDMAN, 2001).
6.4.3 Redução de doenças cardiovasculares
30
De duas décadas pra cá, a literatura mundial tem relatado os efeitos do alho in
natura ou diferentes preparações, visando seus efeitos na prevenção do risco de
ocorrência das doenças cardiovasculares. Tais estudos comprovaram que o alho é
capaz de reduzir a concentração sérica de LDL (lipoproteína de baixa densidade,
chamada de colesterol ruim), triglicerídeos, pressão arterial, além de aumentar a
atividade fibrinolítica (cicatrização) e inibir a agregação plaquetária (CARVALHAR,
2008; LAMARÃO, 2007; MARCHIORI, 2009; QUINTAES, 2001).
O alho in natura já foi submetido a várias pesquisas no Brasil, que buscaram
comprovar sua eficiência pelo uso terapêutico. Uma das pesquisas mais recentes foi
realizada na Universidade de Brasília (UnB), a qual teve como objetivo, comprovar a
eficiência do alho na prevenção de infarto do miocárdio e na prevenção de
colesterol. Essa foi a primeira pesquisa realizada in vivo com alho no Brasil e provou
que a atividade antioxidante do alho é bastante significativa sobre as doenças
cardiovasculares (RODOVALHO, 2008).
Um estudo canadense efetuado com homens, com idade entre 32 e 68 anos,
com altas concentrações séricas de LDL, mostrou que o consumo de 7,2 g de
extrato de alho por dia, durante meio ano, é capaz de reduzir em 7,0% o colesterol
sérico total e em 4,6% a LDL (QUINTAES, 2001).
Estudos efetuados com humanos e até mesmo animais, têm evidenciado que a
utilização de alho pode reduzir o colesterol e os triglicerídeos plasmáticos e assim
diminuir as doenças cardiovasculares. Demonstrando ainda, que o consumo de alho,
pode aumentar a concentração do HDL colesterol, que é uma lipoproteína de alta
densidade (LAMARÃO, 2007; MARCHIORI, 2009; QUINTAES, 2001).
Apesar do conhecimento de que o alho possui propriedades capazes de reduzir a
concentração plasmática de lipídeos, ainda não foi realizada uma investigação
eficiente com relação aos mecanismos de ação envolvidos neste processo
(LAMARÃO, 2007). A ação antioxidante da aliina, alicina e ajoeno, justificam o efeito
do alho sobre as LDL, pois inibem a peroxidação lipídica através da inibição da
enzima xantina-oxidase e de eicosanóides (MARCHIORI, 2009).
6.4.4 Efeito anticarcinogênico
Estudos epidemiológicos têm mostrado que populações com o hábito de
consumo de grandes quantidades de alho, apresentam baixa incidência de câncer,
31
principalmente da região gástrica. Isso se deve principalmente à presença dos
compostos sulfurados (REINA, 2001 apud BLOCK, 1990).
Um grande estudo realizado na China comprovou a redução dos casos de câncer
de estômago, depois do aumento da ingestão dessa hortaliça, obtendo-se uma
redução de 50% no risco de câncer de cólon. Sendo que a alicina apresentou efeito
protetor contra diferentes tipos de células tumorais (FRANCO, 2006).
Acredita-se que os efeitos protetores do alho ocorrem por três caminhos: inibição
do metabolismo de células tumorais; inibição da iniciação e/ou promoção da
carcinogênese e modulação da resposta imunológica (QUINTAES, 2001). O efeito
do alho como anticarcinogênico, foi descoberto recentemente e ainda está sendo
estudado (REINA, 2001 apud WARGOVICH, 1996).
6.5 Recomendação
Apesar do uso frequente do alho em várias preparações culinárias, sua
importância como alimento funcional é reduzida, pelo fato de seu uso ocorrer
principalmente como condimento em pequenas quantidades (MARCHIORI, 2009).
A forma de utilização do alho é fundamental para que haja quantidade de
fitoquímicos suficiente para sua ação terapêutica. A maioria dos compostos
sulfúricos contidos no alho é volátil, o que justifica a necessidade de consumir o alho
cru ou imediatamente após o preparo, sem ação do calor ou de qualquer outro tipo
de tratamento térmico, evitando assim, a diminuição da concentração dos
fitoquímicos sulfurados (MARCHIORI, 2009; RODOVALHO, 2008).
Existem diversas preparações de alho para uso benéfico, mas de acordo com
vários estudos, a única forma que mostrou efeitos consideráveis, foi o extrato de
alho envelhecido, por não perder as substâncias voláteis, as quais são importantes
para obtenção de resultados positivos. Esse extrato é composto por bulbos de alho
que fermentam em solução de álcool diluído por até dois anos (CARVALHAR, 2008).
No Brasil, a única preparação comercialmente encontrada é a cápsula de óleo de
alho, que contém 750mg de óleo. Esta cápsula vem sofrendo várias pesquisas a fim
de avaliar seu efeito como alimento funcional (CARVALHAR, 2008).
Ainda não há consenso quanto à recomendação de alho que deve ser
consumida, porém a American Dietetic Association indica o consumo de 600-900mg
32
de alho por dia, o que equivale a um dente de alho cru (LAMARÃO, 2007;
MARCHIORI, 2009).
6.6 Efeitos colaterais
O consumo de alho em quantidades excessivas pode causar mau hálito e ainda
vários efeitos colaterais, como por exemplo, irritações gástricas, náuseas e asma
alérgica. Em grandes quantidades, os componentes do alho podem interagir com
medicamentos, causando a inibição destes (MARCHIORI, 2009).
No caso de pessoas nos períodos pré e pós-cirúrgicos sugere-se a suspensão do
uso de alho, devido ao efeito anti-plaquetário. Indivíduos hipoglicêmicos devem
controlar o consumo do alho, por causa da ação hipotensiva dessa hortaliça. Doses
muito elevadas podem produzir dores de cabeça, diarréia e tonturas (MARCHIORI,
2009).
Conclusão
O alho é uma pequena hortaliça que apresenta grandes propriedades.
Infelizmente, poucas pessoas conhecem sobre suas qualidades, o que faz uma
enorme diferença em relação ao consumo. Por causa disso, deve haver uma maior
divulgação sobre esse alimento para que a cultura alheira nacional volte a ter os
lucros perdidos para as importações.
33
A tecnologia empregada para o processamento do alho, permite que seus
produtos apresentem vantagens como a segurança microbiológica e a permanência
das características sensoriais, facilitando o manuseio e consequentemente o
consumo.
Sem dúvida, o alho apresenta muitos compostos capazes de prevenir o risco da
ocorrência de doenças que são cada vez mais comuns entre os indivíduos, mas é
necessário, ainda, um maior estudo para definir a quantidade e a forma ideal para o
consumo do alho. O ideal é que o alho faça parte de uma dieta equilibrada e
saudável, para que possa desenvolver todo seu potencial.
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