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SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL ALFREDO BUZAID Discursos proferidos no STF, a 18 de março de 1992, em homenagem póstuma BRASILIA 1993

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SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

ALFREDO BUZAID

Discursos proferidos no STF, a 18 de março de 1992,

em homenagem póstuma

BRASILIA 1993

SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

ALFREDO BUZAID

Discursos proferidos no STF, a 18 de março de 1992,

em homenagem póstuma

BRASILIA 1993

Palavras do Senhor Ministro OCT AVIO GALLOTTI, Presidente em exercício

Declaro aberta esta sessão solene, cuja primeira parte é destinada à homenagem póstuma que o Supremo Tribunal presta ao saudoso Minis­tro Alfredo Buzaid, falecido em 10 de julho do ano próximo passado.

Para falar em nome da Corte, concedo a palavra ao eminente Minis­tro Moreira Alves.

Palavras do Senhor Ministro MOREIRA ALVES

Senhor Presidente, Senhores Ministros, autoridades presentes, mi­nhas Senhoras, meus Senhores.

Dias antes de atingir a compulsória — ela ocorreria a 20 de julho de 1984 —, dirigiu Alfredo Buzaid ao Presidente da Corte, Cordeiro Guer­ra, carta em que, despedindo-se dos colegas, fazia, em estilo terso, este retrospecto de sua vida:

«Ao longo de meio século exerci a advocacia e durante pouco menos de quarenta anos o magistério superior na Faculdade de Direito de São Paulo. Como advogado militante, postulei perante juizes e tribunais, in­terpus recursos e contra-arrazoei-os, fiz sustentações orais na defesa dos direitos de meus constituintes. Como professor, ministrei aulas, escrevi li­vros de direito e mantive sempre o melhor relacionamento com o corpo docente e discente.

«Depois de dedicar uma existência ao culto e à cultura do direito, assumi uma cadeira nesta Corte. Foi esta, sem dúvida, a maior experiên­cia pessoal que ganhei no cultivo da ciência jurídica. Uma coisa é o estu­do do direito interpretado pelo jurista, que se recolhe em seu gabinete e formula hipótese, conjecturas e doutrinas; outra e bem diversa é a aplica­ção do direito vivo sobre que se questiona num caso concreto. A diversi­ficação dos temas, as singularidades das espécies e as controvérsias sobre doutrina e opiniões das autoridades apuram a sensibilidade do magistra­do, que deve estar sempre em contato com a vida, a fim de prestar reta­mente a sua atividade jurisdicional.

«No exercício de minha missão de juiz na Corte, onde muito apren­di, procurei sincera e devotamente cumprir todos os encargos, quer na Turma, quer no Plenário, quer no Conselho Nacional da Magistratura».

Na sessão que se realizou em sua homenagem por motivo da aposen­tadoria, coube-me falar por meus pares, indicado, por certo, pela estreita amizade que a ele me unia.

Agora, cabe-me, novamente, homenageá-lo, com a tristeza maior de saber que deixamos de tê-lo não apenas na bancada que ocupava neste Tribunal. É a sina dos que, por ingressarem em idade não avançada,

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aqui permanecem por largo tempo, e, por isso, ao desaparecerem antigos colegas, são chamados a prestar, com saudade, o testemunho da presen­ça, ontem, dos ausentes de hoje.

Esta Casa tanto mais se engrandece quanto maior é o prestígio pes­soal de seus membros, graças aos predicados de honradez, de saber, de independência e de isenção. E tanto mais ela cumpre sua missão de órgão máximo do Poder Judiciário quanto menos uniforme é a formação pro­fissional dos juristas que a integram, condição necessária para que seus julgamentos traduzam o resultado, em face de vivências anteriores diver­sas, da análise multifária das questões que se lhe apresentam.

Em contrapartida, seus Ministros se enriquecem interiormente pelo que ela lhes propicia de desafio diante da infinita multiplicidade de pro­blemas que lhes apresenta à solução; pelo que ela lhes proporciona de vi­são global das inquietudes e dos anseios nacionais que defluem dos litígios que lhe afluem; pelo que ela, enfim, lhes fornece como campo de inesgotável aperfeiçoamento de conhecimento que resulta, sem dúvida, da complexidade de como se processa a formação das decisões coletivas.

Disso tinha plena consciência Alfredo Buzaid, e, por isso, ele, que, ao longo de quase meio século de integral dedicação ao direito como pro­fessor, advogado e parecerista insignes, se tornara um dos mais notáveis jurisconsultes brasileiros, não hesitou em declarar — com a sinceridade dos que, pelo que são, dispensam aparentar o que não são — que a sua passagem por esta Corte, embora, breve, lhe havia proporcionado a maior experiência pessoal que ganhara no cultivo do direito. Casos con­cretos já os tivera aos milhares como objeto de pareceres e de defesas ju­diciais. Quotidiano e contínuo lhe era o trato com a teoria jurídica, in­dispensável ao professor e ao escritor cônscios de sua responsabilidade. Nem assim, porém, esta Casa deixou de ser para ele o que, em verdade, é para todos os que a integram — um extraordinário manancial de expe­riência.

Nascido em Jaboticabal, no Estado de São Paulo, em 20 de julho de 1914, Alfredo Buzaid, depois de ali concluir seus estudos secundários, in­gressou, em 1931, na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, onde veio a bacharelar-se. Sua advocacia iniciou-a na cidade natal, mas, em fins de 1938, transferiu-se para São Paulo, onde começou a revelar sua inclinação para o estudo do direito processual civil. Com a vinda de LIEBMAN por causa da guerra, a Universidade de São Paulo o acolheu como professor, e Buzaid foi um dos mais assíduos freqüentadores de seu curso de extensão universitária na Faculdade de Direito. Não tardou em tornar-se amigo do mestre italiano, cuja influência nele se fez mar­cante. Em 1946, torna-se livre docente na Faculdade de Direito da Uni­versidade de São Paulo, com a tese Do Agravo de Petição no Sistema do Código de Processo Civil. Antes, em 1943, já havia publicado seu pri­meiro livro: Da Ação Declaratória no Direito Brasileiro. De 1947 a 1951, vêm à luz três outros trabalhos: Da Apelação Ex Officio, Paula Batista

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(Atualidades de um Velho Processualista) e A Escola de Direito de Beirute. Em 1953, conquista a cátedra de direito judiciário civil na Facul­dade Paulista de Direito da Pontifícia Universidade Católica de São Pau­lo. A tese então apresentada foi a monografia Do Concurso de Credores no Processo de Execução. Em 1957, publica o livro Da Ação Direta de Declaração de Inconstitucionalidade no Direito Brasileiro. Um ano de­pois, torna-se professor catedrático de direito judiciário civil na Faculda­de de Direito da Universidade de São Paulo, tendo apresentado como te­se a monografia Da Ação Renovatória de Contrato de Locação de Pré­dio Destinado a fins Comerciais ou Industriais. Em 1960, funda a Revista de Direito Processual Civil. Já então era um dos mais destacados processualistas do País, o que levou o Governo a encarregá-lo, no início Üa década de 60, da elaboração do Anteprojeto de Código de Processo Civil, que ele veio a apresentar, com substanciosa exposição de motivos, em 1964, e que deu origem ao atual Código de Processo Civil, promulga­do nove anos depois. Em 1967, foi nomeado Coordenador da Revisão dos Códigos pelo então Ministro da Justiça. Em maio de 1969, sendo di­retor da Faculdade de Direito desde 1966, torna-se ele Vice-Reitor da Universidade de São Paulo. Dos fins de 1969 até o início de 1974, duran­te todo o período da presidência do General Mediei, foi Ministro da Jus­tiça. Em 1973, é eleito membro da Academia Paulista de Letras. Ao re­tornar, em 1974, à vida privada, volta às atividades de professor, advo­gado e parecerista, exercendo-as intensamente. Durante esses anos e até 1982, publica obras científicas e literárias: Estudos de Direito (volume primeiro), José Bonifácio, a visão do estadista, Conferências, Grandes processualistas, Ensaios literários e históricos, Camões e o renascimento.

Ao ser nomeado Ministro desta Corte, em 22 de março de 1982, era Alfredo Buzaid, incontestavelmente, um dos maiores juristas brasileiros. Seu renome extravasara as fronteiras do País, membro que era da Asso­ciação Italiana de Processo Civil, do Instituto Ibero-Luso-Filipino e Americano de Processo Civil, e do Conselho Editorial da Revista de De-recho Procesal Civil, editada em Madrid.

Trazia para esta Corte a experiência do professor, do advogado, do jurista. Não lhe faltava sequer vivência política, Ministro da Justiça que fora durante mais de quatro anos, período difícil pelo violento embate de ideologias, e que lhe gerou profundas incompreensões e injustiças, acarretando-lhe dissabores que muito o amarguraram intimamente, ape­sar da aparência impassível que tinha, herdada de sua origem oriental.

A maioria de seus livros eram obras clássicas de nossa literatura jurídica.

De há muito, poucos mereceriam, como ele, o acesso a esta Corte. A ela chegava, porém, com pouco menos de sessenta e oito anos. Sua nomeação decorrera exclusivamente do reconhecimento de seu valor, e representava, assim, a homenagem que se lhe fazia, como consagração de toda uma vida dedicada ao estudo e à aplicação do direito. O grande ad-

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vogado e parecerista não necessitava, obviamente, da caridade de um em­prego, com aposentadoria próxima.

A vaga que ocupou foi a de Cunha Peixoto, que atingira o limite de idade.

Nos dois anos e alguns meses que permaneceu nesta Corte, desenvol­veu intensa atividade, sendo relator de mais de oitocentos acórdãos, afo­ra o sem-número de decisões singulares que proferiu. Quem se detiver no exame dos seus arestos estampados na Revista Trimestral de Jurisprudên­cia, e que representam o que melhor aqui produziu por terem sido sele­cionados por ele mesmo, verificará o cuidado com que examinava as questões em julgamento, a limpidez e o cartesianismo de seu pensamen­to, a exatidão técnica de suas formulações jurídicas, a profundidade de sua cultura sem a ostentação da erudição fácil e desnecessária, o perfeito conhecimento da jurisprudência do Tribunal só possível a quem tinha an­tigo trato com ela. Em estilo ático, e com a síntese e a objetividade que o caracterizavam, versou, com mão de mestre, todos os problemas de direi­to público e de direito privado que afluíam a esta Corte nos terrenos le­gal e constitucional, antes do advento da atual Constituição.

Não posso furtar-me ao prazer de destacar alguns de seus votos que espelham essas qualidades.

Ao julgar os embargos de declaração no Recurso Extraordinário 94.530 (RTJ 103/759 e segs.), encontra-se esta límpida e sintética explica­ção da razão pela qual o artigo 469 do Código de Processo Civil precei-tua que não fazem coisa julgada os motivos, ainda que importantes para determinar o alcance da parte dispositiva da sentença: «Não há dúvida que as razões de decidir, que constituem alvo da inteligência do Juiz, preparam em operações lógicas a conclusão a que vai chegar no ato de declarar a vontade da lei, mas, como pondera Chiovenda, o Juiz, en­quanto razoa, não representa o Estado; representa-o enquanto lhe afirma a vontade (Chiovenda, Instituições, I, n? 115)». Para refutar a alegação de que a súmula 282 desta Corte, relativa ao prequestionamento, era in­constitucional, produziu Buzaid no agravo regimental nos embargos de divergência 96.802 (RTJ 109/299 e segs.), magnífico estudo sobre a ori­gem dessa exigência no direito norte-americano, sua acolhida no nosso direito constitucional, a razão de ser da solução dada pela Súmula 356, e, finalmente, a existência do mesmo requisito no Código de Processo Civil da República Federal da Alemanha nos recursos dirigidos à Corte de revisão. Ainda no terreno do processo civil, destacam-se os votos que proferiu no Recurso Extraordinário 96.696 (RTJ 104/826 e segs.) e na Reclamação 147 (RTJ 109/459 e segs.). No primeiro, aprofunda, com larga citação doutrinária (inclusive dos praxistas portugueses), a questão da nulidade do processo, e conseqüentemente da inexistência da sentença nela proferida, por falta de citação, e conclui, no caso concreto: Para quem não foi réu na ação de usucapião, è lícito propor ação reivindicató-ria, se preenche as condições de admissibilidade desta. ... O uso desta

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ação é o meio legítimo para fazer valer o direito dos autores. Não se lhes pode impor a propositura de ação rescisória, porque contra eles não há sentença nem coisa julgada». No segundo, examina a natureza jurídica da argüição de relevância da questão federal, que, por não ser ato de prestação jurisdicional, não dá margem a que se use da reclamação con­tra acórdão local que se pretende haja desrespeitado decisão desta Corte, que rejeitara, no mesmo processo, argüição dessa espécie. Nesse voto, observa Buzaid: «Quando o juiz decide acerca do JUS litigatoris, pode ofender o direito subjetivo do indivíduo, que é sacrificado por um erro de direito; mas quando o juiz decide questão que, por sua relevância, re­percute sobre toda a sociedade, o que entra em linha de conta é o que os romanos chamavam de ius constitutionis (D. 49, 8, 1, 2), gerando perigo mais grave na ordem jurídica, porque o erro de direito em que incide tem, como observa Carnelutti, nocividade específica: ë um erro contagio­so».

No terreno do direito civil ou no a ele adjacente — e, note-se, Bu­zaid, em tempos distantes, lecionou essa matéria na Faculdade de Direito da Pontifícia Universidade Católica —, deixou ele, também, votos lumi­nosos. Dois significativos exemplos bastam. Em pedido de vista no Re­curso Extraordinário 99.041 (RTJ 107/833 e segs.) — em que se sustenta­va a legitimidade da penhora do interveniente — garante sem prévia cita­ção para pagar em 24 horas, porque seria ele responsável sem ser devedor, examinou Alfredo Buzaid, longa e aprofundadamente, a evolu­ção da teoria que distingue o débito da responsabilidade (Schuld und Haftung) formulada por Brinz, e concluiu por adotar a posição sustenta­da por Carnelutti, que trouxe a responsabilidade (Haftung) para o plano processual: «A responsabilidade consiste em não poder subtrair-se a ela (à sanção), quando surge a ameaça e esta atua. Portanto, a responsabili­dade é um estado estranho à vontade do obrigado; a obrigação é uma condição de sua vontade. Sofre-se a responsabilidade; a obrigação cumpre-se. A responsabilidade exclui a liberdade; a obrigação a supõe. A responsabilidade pela execução, do mesmo modo que a responsabilidade penal e diferentemente da responsabilidade pela indenização, resolve-se na sujeição a um poder. Não se cumpre a execução; submete-se a ela». Já no Recurso Extraordinário 98.430 (RTJ 108/1.221 e segs.), estuda Bu­zaid a razão da exigência de prova feita pelo artigo 1.277 do Código Ci­vil («O depositário não responde pelos casos fortuitos, nem de força maior; mas, para que lhe valha a escusa, terá de prová-lo»), e, depois de recordar o ensinamento de Saleilles de que o caso fortuito começa onde termina a culpa, conclui, na esteira da exposição de Fuzier Herman, que, segundo o direito comum, o depositário tem o ônus de provar o caso fortuito que ele invoca, porque ele suporta uma presunção de culpa».

Ao aposentar-se, em 20 de julho de 1984, de tal forma se entrosara neste Tribunal como se dele participasse havia longos anos, que estou certo de que traduziram o estado d'alma do que ia e o dos que ficavam

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estas palavras com que encerrei o discurso que, pouco depois, proferi em sua homenagem:

«Não tenho dúvida de que, ao afastar-se desta Corte por força do texto constitucional inexorável, sentiu dentro de si a verdade cruel do que dissera, muitos anos antes, sobre a jubilação:

«Só por caprichosa ironia de uma antífrase é que esta palavra pode significar, a longo tempo, alegria e tristeza, recompensa e castigo, espe­rança e decepção. Em uma síntese: jubilação sem júbilo».

«Sem júbilo para ele, e sem júbilo para nós que perdemos o encanto de sua convivência».

Afastado da judicatura e da cátedra pela aposentadoria compulsória, seu temperamento de trabalhador infatigável o faria retornar às outras atividades que intensamente exercera antes do ingresso neste Tribunal: a advocacia, os pareceres, os livros. Quem durante toda a vida se acostu­mara a iniciar o trabalho antes de levantar-se o sol não era homem de conformar-se com o otium cum dignitate.

Nos quase sete anos que vão da aposentadoria à data de seu faleci­mento, exercitou intensamente a advocacia contenciosa e consultiva, não descurando da produção científica. Em 1986, publicou a segunda edição revista e aumentada de seu primeiro livro — A Ação Declaratória no Di­reito Brasileiro. Embora haja mantido a estrutura original da obra, fez-lhe alentadas inserções, além de atualizá-la e retificá-la em diversos pon­tos. Dois anos mais tarde, em 1988, lançou a terceira edição revista da Ação Renovatória. Em 1989, além de Rui Barbosa Processualista Civil e Outros Estudos, veio à luz o primeiro volume do livro Do Mandado de Segurança, dedicado ao estudo desse instrumento quando utilizado indi­vidualmente. Não sei se chegou a escrever o segundo volume, em que de­veria tratar do mandado de segurança coletivo. O que é certo, porém, é que, infelizmente não pôde Alfredo Buzaid compor a obra que todos de­le esperavam e que era seu desejo realizá-la: o Tratado de Processo Civil em face do Código de cujo projeto fora o autor. Lembro-me de que, an­tes de aposentar-se, me disse ele, indagado da razão por que não havia escrito obra dessa natureza, que ainda não se sentia à vontade para redigi-la, pois, de início, logo após a promulgação do Código, fora mis­ter dar tempo ao tempo para aprofundar o estudo da nova legislação, e, depois, afastado da leitura das mais recentes publicações sobre o direito processual em virtude da massa de trabalho nesta Corte, necessitaria, após aposentar-se, de examiná-las, para só então dedicar-se à sua compo­sição. Edificante exemplo de probidade científica.

A 10 de julho de 1991, dias antes de completar setenta e sete anos de vida, falecia Buzaid, em sua residência em São Paulo.

Meus Senhores: Ao fazer o elogio de Estevão de Almeida na Academia Paulista de

Letras, relembrou Alfredo Buzaid uma passagem na vida de D'Israeli em

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que o futuro estadista inglês, diante da proposta de trabalhar num escri­tório de advocacia, teria feito estas considerações: «O Tribunal! Que horror! Textos de lei e gracejos de mau gosto até os quarenta anos e, no fim, se tudo corresse bem a gota e o título de baronete. Demais disso, para triunfar-se nessa profissão cumpria ser um grande jurisconsulte, e, para tornar-se um grande jurisconsulte, dever-se-ia renunciar a ser um grande homem».

Rebatendo-as, fez ele a apologia do jurisconsulte, em páginas lapi-dares, das quais destaco este trecho:

«Qual teria sido o destino da humanidade sem os Gaios, os Ulpinia-nos, os Papinianos e os Cíceros, que modelaram o direito na antigüidade clássica em substância e forma tão perfeitas que, atravessando os séculos, são tesouros do mais importante legado da civilização romana? Que teria sido da Média Idade sem os Acúrsios, os Búlgaros, os Durantes e os ou­tros que reviveram, depois do ano mil, o direito do povo-rei, obscurecido pela invasão dos bárbaros? Que teria havido em época posterior sem Bártolo, Baldo, Cujácio, Donelo e Strickio, que compendiaram, a bem da humanidade, toda a ciência jurídica, transmitindo, em tratados siste­máticos, jóias de cultura humana? Quanto deve o mundo à obra monu­mental de Jhering, Savigny, Planiol, Verdross, Carnelutti e outros gê­nios, que traçaram os rumos do pensamento jurídico universal?

«Ser jurisconsulte é, portanto, ser um grande homem, ainda que não participando diretamente dos negócios da República, dos graves pro­blemas da administração, dos altos cargos da representação popular».

Não apenas por ter sido jurisconsulte — e dos maiores —, mas tam­bém por tê-lo sido, foi Buzaid um grande homem, cuja estatura intelec­tual e moral o coloca entre os mais notáveis vultos que honraram esta Casa e que, como João Mendes Júnior e Pedro Lessa, vieram das vene-randas Arcadas do Largo de São Francisco.

Palavras do Senhor Ministro OCT AVIO GALLOTTI, Presidente em exercício

Concedo a palavra ao ilustre Vice-Procurador-Geral da República, Dr. Moacir Antônio Machado da Silva, para falar em nome do Ministé­rio Público Federal.

Palavras do Doutor MOACIR ANTÔNIO MACHADO DA SILVA,

Procurador-Geral da República, em exercício

Excelentíssimo Senhor Ministro Octavio Gallotti, DD. Vice-Presidente deste Colendo Supremo Tribunal Federal; Excelentíssimos Se­nhores Ministros em atividade e aposentados da Corte; Excelentíssimo Senhor Ministro Torreão Brás, Presidente do Superior Tribunal de Justi­ça; Excelentíssimos Senhores Ministros dos Tribunais Superiores e do Tribunal de Contas da União; Excelentíssimo Senhor Desembargador Valtênio Mendes Cardoso, Presidente do Tribunal de Justiça do Distrito Federal; Excelentíssimo Senhor Doutor Esdras Dantas de Sousa, Presi­dente da Ordem dos Advogados do Brasil, Seção do Distrito Federal; Ex­celentíssimos Senhores Magistrados de Primeiro e Segundo graus; Exce­lentíssimos Senhores Subprocuradores-Gerais da República e Membros do Ministério Público Federal; Senhores Advogados; Ilustres autoridades presentes; Senhoras e Senhores; Digníssimos familiares do Ministro Al­fredo Buzaid.

Em dez de julho de 1991, aos setenta e sete anos de idade, faleceu em São Paulo o Ministro Alfredo Buzaid, que ocupou uma das cadeiras deste Colendo Tribunal durante pouco mais de dois anos, até o imple­mento do termo da aposentadoria compulsória.

Em tão curto período, que é também de adaptação ao estilo da Cor­te, deixou sua Excelência a marca inconfundível de sua vasta cultura e inteligência, através de lições memoráveis, especialmente no campo do Direito Processual Civil, ao qual devotara a maior parte de sua vida.

Essa atuação, melhor e mais autorizadamente a destacou o Ministro Moreira Alves, no discurso proferido na homenagem que lhe tributou o Supremo Tribunal Federal, por ocasião de sua aposentadoria:

«Reatou relações mais estreitas com o Direito Penal, de que estava afastado desde sua advocacia na Jaboticabal longínqua. E, como é de seu feitio, municiou-se do melhor da literatura nacional e estrangeira nes­se campo do Direito. O resultado está espelhado nos cuidadosos votos que proferiu nos habeas corpus que relatou. O Processo Civil, porém, continuou a ser o objeto de sua predileção. Quem reunir os votos que, nesse terreno, produziu, terá uma antologia de lições esplêndidas, no fundo e na forma».

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A trajetória, a obra, extensa e extraordinária, e o estilo de Alfredo Buzaid revelam o espírito vocacionado para os estudos jurídicos em per­feita harmonia com o homem disciplinado, obstinadamente devotado ao domínio do saber, ao mesmo tempo impulsionado pela inabalável vonta­de de participação. Eliézer Rosa reputou-o «uma instalação científica de pesquisador completo, aturado, paciente» (Dicionário de Processo Civil, p. 15) e Cândido Motta Filho, em discurso proferido em sua posse na Academia Paulista de Letras, acentua que Buzaid era dotado de «uma vontade sem recuos de conquistar o mundo pela inteligência e pelo traba­lho», entrelaçando-o com o bom gosto literário.

Possuía, ainda, sólidos conhecimentos de História, Filosofia, Socio­logia e Política.

Esses atributos, que o levariam a atingir posições culminantes em to­das as atividades a que se dedicou, já se manifestavam nos tempos acadê­micos, pela seriedade imprimida aos estudos e pela inclinação ao jornalis­mo, tendo escrito para o «Combate» e a «Gazeta Mercantil».

Formado em 1936, começou a advocacia em Jaboticabal, cidade em que nasceu, mas, pouco tempo depois, voltava a São Paulo, onde, em 1939, aos vinte e cinco anos de idade, escreveu o artigo «Despacho Sa-neador», estudo retomado mais tarde e publicado no primeiro e segundo números da Revista de Direito Processual Civil, em 1960.

Durante a Segunda Guerra Mundial, ao lado de Luiz Eulálio Bueno Vidigal, Benvindo Aires, Bruno Affonso de André e José Frederico Mar­ques, aos quais se juntou mais tarde Moacyr Amaral Santos, compôs um grupo de estudiosos, sob a orientação de Enrico Tullio Liebman, que exerceu poderosa influência na renovação e no aprimoramento do Direito Processual Civil no Brasil.

Estavam aí lançadas as bases da chamada Escola Processual de São Paulo, que, observa Frederico Marques, não surgiu ex improviso, antes encontrou ambiente propício para florescer, mercê de uma tradição nos estudos do Direito Processual, desde Ramalho, sucedido por João Mon­teiro, depois João Mendes Júnior e, na fase imediatamente anterior à vinda de Liebman, Aureliano de Gusmão e Gabriel de Rezende Filho (O Direito Processual em São Paulo, 1977, p. 1 a 65).

A decisiva contribuição de Liebman incorpora-se definitivamente à História do Direito Processual Civil Brasileiro como destaca o Prof. Al­fredo Buzaid, de forma lapidar (A Influência de Liebman no Direito Processual Civil Brasileiro, Revista de Processo na 21, jul/set. 1982, p. 12):

«Antes dele houve grandes processualistas, mas não houve escola; depois dele houve escola no seio da qual floresceram grandes processua­listas. Ele foi um divisor que, pondo remate a certo estilo de atividade profissional, inaugurou entre nós o método científico, que os seus discípulos abraçaram apaixonadamente».

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É desse período o primeiro livro de Buzaid, «Da Ação Declaratória no Direito Brasileiro», publicado em 1943, reputado clássico. Nessa obra, sobressai a orientação metodológica da abordagem precisa do tema também à luz dos dados históricos e do Direito comparado, que constitui uma constante nos diversos estudos do autor.

Essa característica não escapou à observação de Fernando Whitaker da Cunha:

«Como costuma fazer em todos os seus trabalhos, Buzaid, antes de analisar, sob todos os ângulos, o instituto que escolheu para dissertar, mergulha, profundamente, no jogo histórico e no Direito comparado, para municiar-se de elementos necessários para suas reflexões».

Em 1945, conquistou a docência na Faculdade de Direito da Univer­sidade de São Paulo com a tese «Do Agravo de Petição».

Seguem-se duas outras obras, também clássicas, a primeira, de 1954, «Do concurso de credores no Processo de Execução», oferecida como te­se para concorrer à cátedra de Direito Judiciário Civil da Faculdade de Direito da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, e a última, «Da Ação Renovatória de contrato de locação de prédio destinado a fins comerciais ou industriais», apresentada no concurso de catedrâtico da mesma disciplina na Universidade de São Paulo, em 1958.

Conquistou o Prof. Alfredo Buzaid as duas cátedras de forma bri­lhantíssima. Refere o Ministro Moreira Alves que, na primeira, «a média final que obtém é incomum — 9,9 —, enquanto, na segunda, «consagra-o a circunstância de todos os examinadores, em todas as provas, lhe ha­verem conferido distinção».

A respeito desse último concurso, registra, por igual, Cândido Motta Filho:

«Assisti do doutorai da Faculdade de Direito o vosso concurso para a cadeira de Direito Judiciário Civil que conquistastes com notas máxi­mas, graças à vossa ampla cultura e à vossa capacidade expositiva, que entusiasmara a banca examinadora».

Ainda em 1958, publica a monografia «Da Ação Direta de Inconsti-tucionalidade no Direito Brasileiro», e, em 1960, funda, ao lado de ou­tros renomados processualistas, a Revista de Direito Processual Civil, idealizada, já em 1946, por Liebman, que — esclarece Buzaid — «chegou a escrever, de próprio punho, a folha de capa», cujo fac-símile integra o número inicial da Revista.

Escreveu ainda Alfredo Buzaid dezenas de artigos sobre temas diver­sos. São de grande interesse — assinala Whitaker — «suas produções Ca­milo, o católico, José Bonifácio, A visão do estadista, considerado por Pedro Calmon 'primoroso trabalho de reconstituição e justiça', e Dom Pedro II, no qual expressa o juízo arguto de que 'a função moderna do poder moderador é manter a tradição dos princípios democráticos, evi­tando sua deterioração'».

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Nota Frederico Marques que, bem antes da indicação para elaborar o anteprojeto do Código de Processo Civil, o Prof. Alfredo Buzaid ad­quirira renome internacional, acrescentando que esse Código contempla as modernas doutrinas do Direito Processual, honrando a cultura jurídi­ca do País (O Direito Processual em São Paulo, 1977, p. 78/79).

Nomeado Ministro da Justiça no final de 1969, só retoma as ativida­des de magistério e da advocacia em 1974. Sobre essa nova fase, relata o Ministro Moreira Alves:

«De 1974 a 1982, foi intensa sua atividade profissional. Raras as causas intrincadas no foro paulista que não contaram com parecer seu. Por vezes, freqüentou a tribuna deste Tribunal, demonstrando, sempre, magistrais qualidades de expositor. No fundo, o professor nato».

Por último, ascendeu ao cargo de Ministro do Supremo Tribunal Fe­deral, que significava, para ele, a consagração de sua vida, o ápice da carreira do jurista.

Na carta de despedida à Presidência deste Supremo Tribunal, ao en­sejo de sua aposentadoria, deixou Sua Excelência consignado que o as­sento na Corte fora a maior experiência pessoal que ganhara no cultivo da ciência jurídica.

Isso tudo ainda não exaure o excepcional currículo de Alfredo Bu­zaid, que, dentre outras inumeráveis atividades, foi também membro da Academia Brasileira de Letras Jurídicas, da Academia Nacional de Direi­to, da Academia Paulista de Letras, Diretor da Faculdade de Direito e Vice-Reitor da Universidade de São Paulo.

Deixou o Ministro Alfredo Buzaid sábias lições nas obras que pro­duziu ou nos votos que pronunciou neste Colendo Tribunal. Mesmo as idéias ainda não suficientemente avaliadas pelo pensamento jurídico na­cional estão tão vivas e eruditamente expostas que certamente encerram ensinamentos valiosos para as novas gerações. Ou, como disse o próprio Buzaid, discorrendo sobre José Bonifácio de Andrade e Silva (Arquivos do Ministério da Justiça n? 121, março de 1972, p. 4/5):

«O fadário dos grandes homens não está em fazer vingar a sua men­sagem, antes em anunciá-la e pregá-la aos povos; porque, como semea­dores de idéias, falam mais para o futuro do que para o presente.»

A extensa obra de Alfredo Buzaid, legada aos seus contemporâneos e à posteridade, manterá viva sua memória em todos quantos se ocupem ou venham a ocupar-se do Direito.

Viverá também nas saudades de seus familiares e daqueles que tive­ram o privilégio de sua amável convivência.

Em trecho também evocado por Rui, cantou Berardinelli a imortali­dade dos que permanecem na memória ou nas saudades de outros:

«Não morre quem nos outros vive, não morre quem nos vivos vive». Muito obrigado.

Palavras do Senhor Ministro OCT AVIO GALLOTTI, Presidente em exercício

Para falar em nome da Ordem dos Advogados do Brasil, concedo a palavra ao ilustre advogado Dr. Carlos Eduardo Caputo Bastos.

Palavras do Doutor CARLOS EDUARDO CAPUTO,

Representante do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil

Excelentíssimo Senhor Vice-Presidente, Ministro Octavio Gallotti; Excelentíssimos Senhores Ministros desta Egrégia Corte; Excelentíssimo Senhor Vice-Procurador-Geral da República; Excelentíssimos Senhores Ministros aposentados; Excelentíssimas Autoridades presentes ou repre­sentadas; Meus caros colegas Advogados; Estimados servidores desta Ca­sa; Minhas Senhoras e meus Senhores; Excelentíssima família do Ministro Alfredo Buzaid.

Por indicação do eminente Presidente do Conselho Federal da Or­dem dos Advogados do Brasil, Dr. Marcelo Lavenère Machado, partici­po dessa sessão póstuma em homenagem ao saudoso Ministro Alfredo Buzaid.

Antes de aceitar minha indicação devo confessar, de público, que re­sisti, por algumas horas, a aceitação do encargo. Esclareço, entretanto, que a minha resistência não se dirigia ao estimado homenageado e, muito menos, a esta Egrégia Corte. Ao contrário, para representar os Advoga­dos, nesta sessão, entendo que há de ser um colega de maior tradição nas letras jurídicas e de maior representatividade no seio da classe.

Não afirmo, Srs. Ministros, uma modéstia vulgar, ou um estímulo ao elogio insincero; não, efetivamente, não. Ao declinar esse esclareci­mento, faço-o imbuído da maior sinceridade e da maior admiração que nutria pelo Professor Buzaid.

Acostumado a freqüentar esta Egrégia Corte desde os idos de 1973, quando cursava a Faculdade de Direito da Universidade de Brasília, tive, e continuo tendo, a preciosa oportunidade de ver e ouvir passar por esta Tribuna, e pela Tribuna das Turmas, Advogados dignos do nosso pro­fundo respeito e de nossa incontida satisfação.

Com a devida licença dos eminentes Colegas que militam nesta Ca­sa, eu quero manifestar que, numa oportunidade, tenho gravado vivo na memória, momento de arte no sublime exercício da advocacia. Refiro-me à sustentação oral proferida pelo Advogado Buzaid, no caso Disco versus Pão de Açúcar.

Esse caso, que o eminente Ministro Moreira Alves deve recordar, confrontava, de um lado o Prof. Buzaid e, de outro, o não menos sau­doso Ministro Victor Nunes Leal.

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A sala de sessão da Eg. 2? Turma estava repleta e, para se aquilatar a qualidade dos trabalhos produzidos nos autos, lembro-lhe que o relató­rio e as sustentações orais tomaram toda a primeira parte da sessão.

Foi uma tarde inesquecível, onde eu me embeveci com a segurança, com a firmeza, com a clareza e com a naturalidade que os oradores ex­ternaram na Tribuna. Questionei-me: será que um dia serei merecedor de receber a graça de ostentar o talento com que se houveram, permitam-me, esses saudosos Colegas no nobre exercício da advocacia?

Passou-se o tempo, e eu, novamente, tive a oportunidade de me aproximar do Prof. Buzaid, já Ministro desta Casa, por ocasião do curso de pós-graduação em Direito Constitucional, oferecido pela Universidade de Brasília.

Naquela época, em 1983, tinha, ao meu lado, a presença constante do amigo Ruy Carlos de Barros Monteiro, que, mais do que eu, tivera a oportunidade de assessorar o nosso estimado homenageado.

Para obtermos o grau almejado, esforçamo-nos para não compro­meter a expectativa do Prof. Buzaid que, desde a primeira aula, havia contado uma passagem de sua vida de estudante. Disse ele, que enquanto aluno do Prof. Liebman, elaborou um trabalho de 300 laudas, aproxima­damente.

Passado algum tempo da entrega do trabalho, o Prof. Buzaid reve­lou que ansiava uma resposta do mestre que, entretanto, sempre dissimu­lava o assunto.

Não suportando mais a ansiedade da espera, o Prof. Buzaid dirigiu-se à residência do Prof. Liebman e o indagou, diretamente, sobre a im­pressão de seu trabalho. A resposta foi fulminante: o trabalho, enquanto obra de compilação da doutrina estava muito bom e completo; enquanto contribuição à ciência jurídica, mais precisamente à processual, o traba­lho deixava a desejar.

O Prof. Buzaid contou-nos que foi tomado de uma profunda decep­ção consigo mesmo, mas compreendeu, que aquela fosse, talvez, a maior lição que recebera do mestre italiano.

Pois bem, Srs. Ministros. Era diante dessa advertência, que nós tínhamos o desafio de escrever

sobre o tema «Controle de Constitucionalidade», em qualquer de suas perspectivas.

A primeira dificuldade foi identificar o aspecto do controle a ser fo­calizado. Optei pelo exame do Controle de Constitucionalidade do Poder Normativo da Justiça do Trabalho.

Lembro-me, ainda, que tivemos o auxílio dos amigos comuns, Ro­naldo Polletti e Raul Armando Mendes, para obtermos uma prorrogação do prazo de entrega dos trabalhos, dada a impossibilidade de conclusão na data aprazada.

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A menção obtida, embora não esconda a vaidade da distinção, não foi o mais importante; certamente, e sem nenhuma dúvida, o mais im­portante foi conhecer o Prof. Buzaid e ouvir um pouco das suas lições, mestre indiscutível da ciência jurídica nacional.

É lugar comum, mas os Advogados brasileiros não poderiam deixar de fazer o registro, que bastaria a menção à sua obra, especialmente, da Ação Direta de Declaração de Inconstitucionalidade no Direito Brasilei­ro, do Mandado de Segurança, e o Código de Processo Civil de 1973, para que o nosso homenageado inscrevesse o seu nome na galeria dos lu­minares da ciência jurídica nacional.

Com o Ministro Buzaid, eu não tive a mesma convivência que tive com o Professor. Revendo os arquivos, localizei, apenas, que S. Exa. foi relator da Revisão Criminal n? 4.584, em que funcionei como Curador.

Guardo, entretanto, que designado pelo não menos eminente Minis­tro Cunha Peixoto, tive a grata satisfação de ver provida a referida revi­são, em acórdão de lavra do nosso eminente homenageado.

Para finalizar, Srs. Ministros, sei que presença de um Advogado nesta Tribuna, pode ainda hoje, merecer alguma restrição. Quero, entre­tanto, registrar, formal e oficialmente, a minha convicção de que a Or­dem dos Advogados do Brasil não pode se furtar da sua representação institucional.

Nós temos que manifestar grandeza de espírito, grandeza na luta, grandeza na vitória e na derrota, grandeza no perdão e na penitência. Não me cabe julgar os motivos que levaram meus Colegas, integrantes do Conselho Federal, a não se fazer representar na sessão em homena­gem à aposentadoria do então Ministro Alfredo Buzaid.

Não me cabe, ainda, revolver fatos de um passado próximo que só atraem a tensão dos espíritos, a discórdia e a polêmica. Cabe, a mim, em nome da instituição representativa dos Advogados, compreender o moti­vo da sessão e procurar exercer, com dignidade e altivez, o mandato que me foi confiado.

Lamento, se dei um tom muito pessoal à minha manifestação, mas, creiam, procurei ser o mais espontâneo e o mais fiel à minha simplicida­de.

Louvo a iniciativa dessa Egrégia Casa de convidar os Advogados, através de seu órgão máximo de representação, para aqui se fazer repre­sentar em todas as cerimônias.

Entre as instituições que devem ser permanentes, não pode haver restrição. Esses, eventualmente, devem se limitar a nós, homens, que so­mos passageiros.

Por isso que, pedindo licença ao eminente Ministro Moreira Alves, concluo com as palavras de S. Exa., que o tempo, que extingue as pai­xões e que pesa os fatos e as circunstâncias sem a parcialidade do envol­vimento, que lhe faça justiça.

Muito obrigado pela atenção.

Palavras do Senhor Ministro OCT AVIO GALLOTTI, Presidente em exercício

Os brilhantes discursos proferidos ficarão registrados na ata da nos­sa sessão de hoje, traduzindo a homenagem do Supremo Tribunal Fede­ral à memória do grande jurista e magistrado que foi o Ministro Alfredo Buzaid.

Registro e agradeço a presença dos Excelentíssimos Senhores Minis­tros aposentados deste Tribunal, entre os quais devo incluir o eminente Ministro Leitão de Abreu, que, em comovido telefonema, justificou sua ausência na homenagem ora prestada. Registro a presença do Senhor De­sembargador Valtênio Mendes Cardoso, Presidente do Tribunal de Justi­ça do Distrito Federal; do Senhor Deputado Ricardo Isar; do Senhor Presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, Seção do Distrito Fede­ral, Dr. Esdras Dantas de Sousa; do Dr. Rui de Barros Monteiro, repre­sentando o Consultor-Geral da República; do Sr. Ministro Romildo Bue-no de Souza, do Superior Tribunal de Justiça; do Sr. Ministro José Ca-lixto, do Tribunal Superior do Trabalho; do Sr. Ministro Lincoln Maga­lhães da Rocha, representando o Tribunal de Contas da União; do Pro­fessor Carlos Fernando Mathias, Diretor da Faculdade de Direito da Universidade de Brasília; do Dr. Raul Armando Mendes, Advogado em São Paulo; do Professor Celso Neves, da Universidade de São Paulo. Agradeço especialmente aos Srs. Magistrados, Membros do Ministério Público, Advogados, Jornalistas, convidados especiais, servidores da Ca­sa, inclusive aposentados e muito especialmente da Exma. Sra. D. Judith Alexandre Buzaid; dos Drs. Álvaro Alexandre Buzaid e Aluísio Buzaid, de todas as autoridades, Sras. e Srs. presentes.

Suspendo a sessão por dez minutos, para que a família do homena­geado receba os nossos cumprimentos.

ESTA OBRA FOI COMPOSTA E IMPRESSA PELA

IMPRENSA NACIONAL, . SIG, QUADRA 6, LOTE 800, / ^ T t

70604-900, BRASÍLIA, DF, EM 1993, COM UMA TIRAGEM

DE 200 EXEMPLARES

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