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Alfabetização e Letramento: Uma Reflexão... Barbosa & Brito Revista Diálogos set. / out. 2018 N.° 20 29 ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO: UMA REFLEXÃO SOBRE A IMPORTÂNCIA DESSE PROCESSO NAS SÉRIES INICIAIS Raile Cabral Barbosa 1 Cristina Leite de Brito 2 d.o.i. 10.13115/2236-1499v2n20p29 RESUMO A alfabetização e o letramento são processos indissociáveis e complementares para a construção do aprendizado das primeiras letras das crianças. A forma como esses processos são compreendidos podem trazer implicações para a formação educacional do estudante em toda sua vida estudantil e social. Assim sendo, esse trabalho volta-se a reflexão desses dois processos enquanto fatores essenciais para os eventos de letramento social do cidadão que, enquanto pessoa está inserido em um mundo com exigências específicas dos usos da leitura e escrita. Para obter o endossamento das reflexões, as leituras se baseiam em escritores como CAGLIARI (2009), RUSSO (2012), Morais (2012), Castanheira, Maciel e Martins (2009), entre outros. A primeira parte desse trabalho discute sobre o que representa as determinações do PNAIC Programa Nacional de Alfabetização na Idade Certa -, como resposta das normativas do MEC - Ministério da Educação e Cultura -. A segunda, discute e reflete acerca do processo de alfabetizar e letrar. E por fim, a terceira pensa sobre quais atitudes que o professor pode procurar desenvolver para ser o melhor profissional na construção do 1 Especialista em Ensino de Língua Portuguesa pela UCAM Pró Saber e estudante egressa da Universidade de Pernambuco Campus Garanhuns. 2 Mestre em Educação pela UFPE, Especialista em Informática na Educação pela UFPE. Graduada em Ciência da Computação (Bel) e em Filosofia (Bel e Licenciatura). Atualmente, Professora Assistente da Universidade de Pernambuco - UPE Campus Garanhuns. Coordenadora do Projeto MEC / LIFE - Laboratório Interdisciplinar de Formação de Educadores.

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Alfabetização e Letramento: Uma Reflexão... – Barbosa & Brito

Revista Diálogos – set. / out. – 2018 – N.° 20 29

ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO: UMA REFLEXÃO

SOBRE A IMPORTÂNCIA DESSE PROCESSO NAS SÉRIES

INICIAIS

Raile Cabral Barbosa1

Cristina Leite de Brito2

d.o.i. 10.13115/2236-1499v2n20p29

RESUMO

A alfabetização e o letramento são processos indissociáveis e

complementares para a construção do aprendizado das primeiras letras

das crianças. A forma como esses processos são compreendidos podem

trazer implicações para a formação educacional do estudante em toda

sua vida estudantil e social. Assim sendo, esse trabalho volta-se a

reflexão desses dois processos enquanto fatores essenciais para os

eventos de letramento social do cidadão que, enquanto pessoa está

inserido em um mundo com exigências específicas dos usos da leitura e

escrita. Para obter o endossamento das reflexões, as leituras se baseiam

em escritores como CAGLIARI (2009), RUSSO (2012), Morais (2012),

Castanheira, Maciel e Martins (2009), entre outros. A primeira parte

desse trabalho discute sobre o que representa as determinações do

PNAIC – Programa Nacional de Alfabetização na Idade Certa -, como

resposta das normativas do MEC - Ministério da Educação e Cultura -.

A segunda, discute e reflete acerca do processo de alfabetizar e letrar. E

por fim, a terceira pensa sobre quais atitudes que o professor pode

procurar desenvolver para ser o melhor profissional na construção do

1 Especialista em Ensino de Língua Portuguesa pela UCAM – Pró Saber e estudante

egressa da Universidade de Pernambuco – Campus Garanhuns. 2 Mestre em Educação pela UFPE, Especialista em Informática na Educação pela

UFPE. Graduada em Ciência da Computação (Bel) e em Filosofia (Bel e

Licenciatura). Atualmente, Professora Assistente da Universidade de Pernambuco -

UPE Campus Garanhuns. Coordenadora do Projeto MEC / LIFE - Laboratório

Interdisciplinar de Formação de Educadores.

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aprendizado durante esse processo. Com isso, consegue-se enxergar o

quanto o pensar acerca dos processos alfabetizadores precisam

continuar em discussão para que possa-se avançar cada vez mais no

melhor caminho para o letramento pleno do indivíduo.

Palavras-chave: Alfabetização. Letramento. Importância.

ABSTRACT

Literacy and literacy are inseparable and complementary processes for

the construction of learning the first letters of children. The way these

processes are understood can have implications for the student's

educational background throughout their student and social lives. Thus,

this work will return to the reflection of these two processes as essential

factors for the social literacy events of the citizen who, as a person is

inserted in a world with specific requirements of the uses of reading and

writing. To obtain endorsement of the reflections, the readings are

based on writers such as CAGLIARI (2009), RUSSO (2012), Morais

(2012), Castanheira, Maciel and Martins (2009), among others. The

first part of this paper discusses what constitutes the determinations of

the PNAIC - National Literacy Program in the Right Age, in response

to the regulations of the Ministry of Education and Culture (MEC). The

second, discusses and reflects on the process of literacy and literacy.

And finally, the third thinks about what attitudes the teacher can seek to

develop to be the best professional in the construction of learning

during this process. With this, one can see how much the thinking about

the literacy processes need to continue in discussion so that one can

advance more and more in the best way for the full literacy of the

individual.

Keywords: Literacy. Literature. Importance.

INTRODUÇÃO

O processo de alfabetização e letramento da criança que se

insere na escolarização correspondente do 1° ao 3° ano do ensino

fundamental é muito importante, uma vez que esse período compreende

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o início de uma apreensão da realidade e do conhecimento que são

imprescindíveis para a vida toda. Diante disso, sabe-se que várias são as

dificuldades e as realidades estudantis que devem ser superadas pelo

professor e aluno a fim de que a aprendizagem aconteça de uma

maneira significativa. Entendendo a necessidade de uma compreensão

clara e profunda desses processos – de alfabetizar e letrar -, objetiva-se

por meio desse trabalho um entendimento analítico, obtido por meio de

estudos feitos através da leitura das mais diversas pesquisas

selecionadas e apresentadas ao longo da escrita e referenciadas ao final

do trabalho.

Há muito tempo que o processo de alfabetização vem sendo

estudado pelos mais diversos pesquisadores. O MEC – Ministério da

Educação e Cultura -, através dos documentos normativos, tem se

empenhado bastante para reunir os mais conceituados, com a finalidade

única de tornar a alfabetização uma realidade de todos. Com isso, temos

a nossa disposição o PNAIC - Programa Nacional de Alfabetização na

Idade Certa -, que tem como objetivo alfabetizar em Língua Portuguesa

e Matemática, até o 3º ano do Ensino Fundamental, todas as crianças

das escolas municipais e estaduais, urbanas e rurais. Com isso, essa

pesquisa abrangerá a compreensão das determinações desse programa –

PNAIC –. A primeira sessão dessa pesquisa abrange esse quesito.

O mundo de hoje compreende uma sociedade que faz uso de

diversos recursos integrados, midiáticos e tecnológicos de um mundo

que está interligado pelo advento da internet. A partir disso, entende-se

que as necessidades de alfabetização já são outras, uma vez que nossas

crianças estão circunscritas em uma sociedade que faz uso de diferentes

textos que têm finalidades específicas e que exigem determinadas

posturas do cidadão. Diante disso, não podemos discutir acerca da

alfabetização apenas, pois já percebe-se o quanto ela está

intrinsicamente ligada ao processo de letramento. São duas situações

indissociáveis e indissolúveis. Dessa forma, essa pesquisa analisará a

maneira como acontece em sala de aula o processo de alfabetização e

letramento, e a segunda sessão dessa pesquisa compreende essa questão.

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Entende-se que o professor precisa a todo o tempo propor

atividades capazes de potencializar os objetivos traçados pelo

planejamento de suas aulas. Dito isto, a terceira sessão desse trabalho

reflete as várias maneiras que o professor pode ou deve posicionar-se

diante da dificuldade de alfabetizar plenamente suas crianças. Dito isto,

a sessão terceira, através de documentos oficiais do MEC compreende a

percepção de valores e princípios científicos e atitudinais sugeridos para

o professor a fim de que ele tenha sucesso em sua luta árdua pela

alfabetização plena.

Ao final, esse trabalho traz a conclusão de uma pesquisa que

está em constante mudança, uma vez que tem consciência do quanto o

processo de alfabetização e letramento deve ser estudado e aprimorado.

O modelo de pesquisa qualitativo e analítico dos documentos oficiais e

demais pesquisas estudadas foi o mais apropriado para as leituras feitas

e endossadas pelas reflexões apresentadas ao longo desse trabalho.

Espera-se portanto, que essa pesquisa possa contribuir

significativamente com os demais estudantes e pesquisadores

interessados por essa área e demais áreas afins.

1. Entendendo o PNAIC

Nessa seção buscar-se-á analisar e entender quais são as

normativas do PNAIC – Programa de Alfabetização na Idade Certa -,

entendido como um compromisso formal e solidário estabelecido pelos

governos Federal, do Distrito Federal, dos Estados e dos Municípios,

desde 2012. A escrita dessa seção voltar-se aos quatro eixos de atuação

do programa a serem descritos posteriormente. Com isso temos os

postulados descritos a seguir.

O PNAIC surge como resposta à obrigatoriedade da meta cinco do

Plano Nacional da Educação (PNE), que traça como objetivo a

alfabetização de todas as crianças, no máximo, até o final do 3º

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(terceiro) ano do ensino fundamental3. Historicamente os planos

nacionais da educação vem sendo elaborados de forma centralizada

pelos governos - Federal, Estaduais e Municipais - brasileiros e surge

como resposta a exigência do Art. 214 da Constituição Federal de 1988

que determina a sua elaboração de acordo os princípios fundamentais da

educação brasileira: A lei estabelecerá o plano nacional de educação, de

duração decenal, com o objetivo de articular o sistema

nacional de educação em regime de colaboração e definir

diretrizes, objetivos, metas e estratégias de

implementação para assegurar a manutenção e

desenvolvimento do ensino em seus diversos níveis,

etapas e modalidades por meio de ações integradas dos

poderes públicos das diferentes esferas federativas que

conduzam a: (EC no 59/2009) I – erradicação do

analfabetismo;II – universalização do atendimento

escolar; III – melhoria da qualidade do ensino; IV –

formação para o trabalho; V – promoção humanística,

científica e tecnológica do País; VI – estabelecimento de

meta de aplicação de recursos públicos em educação

como proporção do produto interno bruto. (BRASIL,

1988, p. 125).

A partir de então são firmados diversos acordos entre união,

estados e municípios a fim de firmar e fortalecer as ações do Pnaic.

Também foram divulgadas cartilhas e portarias que orientam os

professores sob os aspectos de acompanhamento e avaliação da

aprendizagem, distribuição e ofertas de bolsas para pesquisas e

encontros de formação destes professores para melhor atender a

demanda de alfabetização brasileira.

As exigências desse artigo da Constituição Federal deixa claro

que o plano nacional de educação tem duração de dez anos, e através

dele algumas estratégias devem ser traçadas para atender o que foi

estipulado pelas metas estabelecidas. Estrategicamente, temos então o

Pnaic que está em vigor desde 2012 trazendo grandes avanços para o

3 Vide BRASIL, 2017. Disponível em <http://pacto.mec.gov.br/index.php.> Acesso

em 10 de janeiro de 2018.

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processo de alfabetização e enfrentando, por outro lado, alguns

impasses à educação.

O Pnaic tem quatro eixos de atuação compreendidos através da

avaliação em larga escala; da gestão, mobilização e controle social; do

material didático e da formação continuada de professores, sendo esse

último o principal deles. É fundamental, para o governo federal, o

aperfeiçoamento dos conhecimentos didáticos e práticos do professor a

fim de que as crianças tenho contato com as melhores práticas

alfabetizadoras.

1.1 Avaliação em larga escala

Quando se pensa na forma com qual deve-se avaliar os discentes,

surgem dúvidas de quais maneiras seriam mais adequadas para atingir

os objetivos pretendidos. Para resolver os vários impasses que

envolvem a avaliação educacional temos desde 1990 o aparecimento

das avaliações externas, que embora muitas vezes criticadas por alguns

dos pesquisadores e professores, tenha ganhado cada vez mais espaço,

passando também a ser vista como um instrumento capaz de monitorar

a aprendizagem em larga escala. gradualmente, resultados de desempenho de alunos em

testes de larga escala vêm sendo incorporados como

indicador relevante de sucesso (ou não) de políticas

educacionais e de práticas escolares, o que tende a induzir

administradores a colocarem em suas agendas o

compromisso com a melhoria do rendimento escolar dos

alunos, além de fluxo escolar, tradicionalmente

considerado como referência de qualidade. (MARTINS;

SOUSA, 2012, p. 23).

Essas avaliações externas e nacionais têm também como propósito a

definição de uma matriz de avaliação, na qual são especificados os

objetos de avaliação, e o emprego de provas padronizadas, como

condição para que sejam possíveis, quando cabíveis, comparações

baseadas em resultados mais objetivos. O SAEB - Sistema de

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Avaliação da Educação Básica -, é constituído então por a reunião de

todas as avaliações de caráter nacional.

Na edição de 2013 a Avaliação Nacional de Alfabetização (ANA),

prevista no Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa – PNAIC,

passou a compor o SAEB a partir da divulgação da portaria nº 482, de 7

de junho de 2013. Com isso, as ações do PNAIC são nacionalmente

avaliadas, como também a aprendizagem das crianças que participam

do programa, uma vez que essas avaliações são necessárias para o

acompanhamento das ações realizadas e o planejamento de tantas outras

que podem feitas a fim de que o PNAIC melhore cada vez mais.

1.2 Material Didático

O material didático é um dos principais aliados do professor no que

se refere ao ensino e aprendizagem das crianças em processo de

alfabetização. Em algumas situações, como por exemplo na rede

pública de ensino, o livro ou os cadernos de formação são os únicos

instrumentos metodológicos que estão a disposição do professor.

O Pnaic trabalha com a distribuição de materiais específicos para

ajudar na formação e nas práticas diárias da sala de aula do professor.

Esses materiais são divididos entre as turmas da educação infantil,

turmas do 1° ao 3° ano do ensino fundamental, como também com o

Programa Novo Mais Educação4 do Governo Federal. No que refere-se

aos materiais do programa novo mais educação temos a ideia de que: o material destinado à formação dos articuladores e

mediadores de aprendizagem do programa Novo Mais

Educação tem como principal objetivo apoiá-los na

organização e encaminhamento de intervenções com

4 O Programa Novo Mais Educação, criado pela Portaria MEC nº 1.144/2016 e regido

pela Resolução FNDE nº 5/2016, é uma estratégia do Ministério da Educação que tem

como objetivo melhorar a aprendizagem em língua portuguesa e matemática no ensino

fundamental, por meio da ampliação da jornada escolar de crianças e adolescentes.

Disponível em < http://portal.mec.gov.br/programa-mais-educacao/apresentacao>.

Acesso em 10 de janeiro de 2018.

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os alunos do 5º ao 9º ano do ensino fundamental

participantes do Programa Novo Mais Educação, na carga

horária complementar (BRASIL, 2017, p. 19, destaque

adicionado).

Além disso, O PNAIC disponibiliza através de portal próprio em

formato digital, para dar suporte ao processo de formação do PNAIC,

como também apresenta algumas especificidades para a educação

infantil onde “é importante, entretanto, salientar a viabilidade de

percursos formativos diversificados e diferenciados que possam atender

às necessidades e demandas das redes de educação infantil” (BRASIL,

2017, 18).

1.3 Formação

A formação adequada dos professores que atuam nas redes de

ensino públicas e privadas sempre foi uma preocupação constante de

todos aqueles que são responsáveis por coordenar as ações de

planejamento da prática docente. O PNAIC preocupa-se de uma

maneira bastante proeminente com a formação específica e continuada

do professor. Conforme os dados apresentados pelo Sistema

Informatizado de Monitoramento do PNAIC (SisPacto) acerca da

formação de professores foram: em 2013, foram capacitados, em Linguagem, 313.599

professores alfabetizadores em curso com carga horária de

120 horas; em 2014, foram 311.916 profissionais e a

ênfase da formação foi em Matemática, em curso com

carga horária de 160 horas; em 2015, foram capacitados

302.057 professores em temáticas como Gestão Escolar,

Currículo, a Criança do Ciclo de Alfabetização e

Interdisciplinaridade; e, em 2016, foram 248.919

alfabetizadores e 38.598 coordenadores pedagógicos

atendidos em cursos com carga horária mínima de 100

horas e com ênfase em leitura, escrita e letramento

matemático (BRASIL, 2017, p. 3-4).

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A partir da análise dos dados anteriormente apresentados

entende-se que em termos de abrangência o programa vem atendendo

satisfatoriamente um dos seus eixos de atuação, referente a formação

continuada do professor. A formação do PNAIC é presencial e com

carga horária mínima de 120 horas para professores que atuam com

turma do 1° ao 3° ano do ensino fundamental, como também aqueles

que trabalham com turmas multisseriadas das redes públicas dos

municípios e estados que aderiram ao pacto. O curso para os

professores alfabetizadores é ministrado pelos chamados orientadores

de estudos.

Entende-se que a formação de professores é um quesito que

deve ser observado a fim de que se preencha as lacunas existentes no

processo de ensino e aprendizagem que está em constante mudança. A

questão da formação de professores surgiu no século XIX quando, em

resposta às transformações ocorridas na sociedade após a Revolução

Francesa, foi colocada em pauta a questão da instrução popular. Com a

universalização do ensino e atualmente com a obrigatoriedade e

gratuidade estabelecida com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação

Nacional (1996) a instrução do cidadão é um fator de muita importância

para a educação. Ainda sobre a formação de professores temos a ideia

de que: os professores estão, na sua esmagadora maioria,

agudamente conscientes da inadequação da formação

profissional recebida; eles se sentem jogados na água sem

que ninguém esteja preocupado em ensiná-los a nadar. De

um lado, eles julgam quase sempre suficiente a

preparação disciplinar obtida, mas se sentem

desguarnecidos na linha de frente do conhecimento dos

problemas educativos, dos processos de aprendizagem na

idade evolutiva, das metodologias didáticas gerais

(programação curricular, avaliação etc.) e das

metodologias didáticas específicas da matéria ensinada”

(CAVALLI, a cura di, 1992, p. 243).

Os orientadores também são professores da rede, selecionados

preferencialmente entre os tutores do programa Pró-letramento que é a

base metodológica do programa de formação do PNAIC. Mas antes de

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lecionar no PNAIC esses orientadores de estudo recebem uma formação

específica de 200 horas. A principal mudança do PNAIC no que dz

respeito ao eixo de formação está no fortalecimento da capacidade

instrucional local que acontece através da capacitação de determinados

professores de uma localidade de ensino para instrução dos demais

docentes.

O PNAIC acredita que não basta alfabetizar, mas para além

disso aponta que a alfabetização deve acontecer na idade certa, isto é,

até os oito anos de idade, pois é até essa idade que ocorre o

desenvolvimento intelectual da criança. O comprometimento do

processo de alfabetização da criança nessa idade pode enfraquecer os

resultados de todos os outros anos de estudo, o que preocupa todos

aqueles profissionais que estão envolvidos com a educação.

A formação A formação PNAIC, em 2017, atende a três grupos

diferenciados compreendidos como os professores e coordenadores

pedagógicos do 1º ao 3º ano do ensino fundamental que permanecem

como foco no processo de formação; professores da pré-escola e

coordenadores pedagógicos da Educação Infantil; e articuladores e

mediadores de aprendizagem das escolas que fazem parte do Programa

Novo Mais Educação.

É interessante perceber que o Programa Novo Mais Educação

criado pela Portaria Interministerial nº 17/2007 também recebe as

formações advindas do Pnaic. Entendendo que a função do Novo Mais

Educação é dar início ao tempo integral de aula dos estudantes e ainda

reforçar competências especificas de Língua Portuguesa e Matemática

notamos o quanto essas formações são importantes e o quanto os dois

programas _- Pnaic e Novo Mais Educação – estão interligados. A

partir disso, temos a seguinte representação de como acontece a

formação dos professores envolvidos com o PNAIC.

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Fonte: Organograma da Formação, (BRASIL, 2017, p. 17).

1.4 Gestão, mobilização e controle social

O PNAIC tem formas específicas de gerir suas ações em

conformidade com as ideias valores e princípios do programa. O

principal objetivo da gestão é “ fortalecer a autonomia dos entes

envolvidos, de modo a facilitar processos flexíveis de formação e de

valorizar as especificidades, necessidades e responsabilidades legais dos

sistemas de ensino” (BRASIL, 2017, p. 12).

O regime de colaboração previsto pela Constituição Federal de 1988

e pelo Programa Nacional de Educação – PNE -, ratifica-se através do

papel do Comitê Gestor Estadual para a Alfabetização formado pelo

coordenador estadual; coordenador da undime; coordenador de

gestão, indicado pelo coordenador estadual e pelo coordenador da

undime; e pelo coordenador de formação, também indicado pelo

coordenador estadual e pelo coordenador da undime. Esse comitê

fortalece a autonomia dos entes envolvidos, como também amplia o

diálogo entre os mesmos. O comitê poderá acionar outras instituições

socais a fim de incorporar um diálogo mais significativo para a

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realização das ações dos programas. Ainda segundo o Documento

Orientador – PNAIC em Ação 2017: a articulação institucional é fundamental para que o

programa alcance seus objetivos e metas. Portanto, a

efetivação do Comitê Gestor para a Alfabetização e o

Letramento deve ser uma prioridade de todas as

instituições participantes, para que esse possa ser um

espaço de diálogo e trabalho coletivo, de criação de redes

de compartilhamento de boas práticas, de formulação de

estratégias e mecanismos de acompanhamento e

intervenção que contribuam para o alcance de melhores

resultados educacionais (BRASIL, 2017, p. 13).

Assim, temos um “espaço de diálogo e trabalho coletivo, de

criação de redes de compartilhamento de boas práticas, de formulação

de estratégias e mecanismos de acompanhamento e intervenção”

(BRASIL, 2017, p. 13). O diálogo com as diferentes instâncias sociais

melhora os resultados educacionais desse programa que mobiliza, gere

e controla as ações realizadas para que os objetivos sejam atendidos.

Segundo Luck (1996, p. 37): o entendimento do conceito de gestão já pressupõe, em si,

a ideia de participação, isto é, do trabalho associado de

pessoas analisando situações, decidindo sobre seu

encaminhamento e agindo sobre elas em conjunto. Isso

porque o êxito de uma organização depende da ação

construtiva conjunta de seus componentes, pelo trabalho

associado, mediante reciprocidade que cria um todo

orientado por uma vontade coletiva.

Entende-se a escola como um construto que precisa da

participação e do envolvimento de todos aqueles que fazem parte da

escola. Nesse sentido, a escola não pode ser entendida como um

conjunto de práticas que acontecem isoladamente no interior da escola,

mas como um projeto que compreende toda a colaboração da

comunidade escolar.

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2. Pensando sobre as práticas de alfabetização

Nessa seção discutiremos acerca de como acontece o processo

de alfabetização da criança circunscrita no processo de aprendizagem

correspondente do 1° ao 3° ano do ensino fundamental, diferenciando o

processo do alfabetizar e letrar como duas vias indissociáveis. Assim,

teremos as discussões apresentadas logo a seguir.

As práticas do mundo letrado o qual as crianças encontram-se

inseridas exigem cada vez mais delas enquanto cidadãos em processo

de formação. No entanto, é preciso perceber e salientar o quanto o ato

de aprender a ler e escrever pode ser traumático para as crianças que

veem o mundo com olhos diferentes daqueles que uma visão adulta

possui.

Para Cagliari (2009, p. 82): a escrita é algo com o que nós, adultos, estamos tão

envolvidos que nem nos damos conta de como vive

alguém que não lê e nem escreve, de como a criança

encara essas ativudades, de como de fato funciona esse

mundo caótico e complexo, que nos parece familiar e de

uso fácil. O ensino de português tem sido fortemente

dirigido para a escrita, chegando mesmo a se preocupar

mais com a aparência da escrita do que com o que ela

realmente representa.

Não é tão simples começar a reconhecer sinais gráficos e a pensar

que cada sinal representa a grafia de um som da linguagem da qual o ser

humano utiliza-se para comunicar-se e interagir uns com os outros. Em

se tratando da Língua Portuguesa, por exemplo, deve-se reconhecer que

as crianças, com exceção daquelas que apresentam algum problema

neurofisiológico, já chegam as escolas se comunicando perfeitamente

bem, pois trazem consigo a língua materna que aprendeu no seio

familiar com os pais em primeira instância e depois com as outras

instituições socais como igreja, comunidade ou outros grupos que a

criança possa vir a fazer parte.

Dessa maneira, a escola começa a trabalhar a língua materna da

criança de uma forma bastante específica, apresentando-lhe o mundo da

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norma que padrão que determina qual a linguagem correta que o

estudante deve aprender para enquanto cidadão fazer uso nas diferentes

esferas sociais. Começam-se a ensinar as letras, agrupadas em um

alfabeto apresentado incessantemente as crianças, como um recurso de

fixação e memorazição nas aulas.

Depois do reconhecimento das letras começa-se aos poucos o

planejamento de atividades que possam fazer com que os estudantes

consigam juntar essas letras e formar palavras. Ao conseguir identificar

essas palavras, alguns textos são selecionados, muitas vezes de forma

arbitrária, para incentivar o desenvolvimento de atividades que

proporcionem a junção várias palavras em um único texto.

Nesse processo de reconhecimento e junção, há várias

circunstâncias em que o estudante é levado, de maneira forçada a

reconhecer sinais gráficos dos quais ele nunca havia precisado antes, já

que se expressava de forma bastante suficiente com as pessoas de seu

convívio sempre que era necessário pedir alguma coisa, fazer uma

ressalva, ou ainda apelar para uma linguagem corporal/visual

compreendida pelo mundo dos gestos e dêiticos. É então a partir de

todas as discussões geradas em torno dos conflitos e da necessidade de

práticas de alfabetização mais revitalizadoras que os pesquisadores

começam a pesquisar e (re)pensar sobre o ato de alfabetizar. Para

Magda Soares (2004, p. 96): um olhar histórico sobre a alfabetização escolar no Brasil

revela uma trajetória de sucessivas mudanças conceituais

e, consequentemente, metodológicas. Atualmente, parece

que de novo estamos enfrentando um desses momentos de

mudança – é o que prenuncia o questionamento a que vêm

sendo submetidos os quadros conceituais e as práticas

deles decorrentes que prevaleceram na área da

alfabetização nas últimas três décadas: pesquisas que têm

identificado problemas nos processos e resultados da

alfabetização de crianças no contexto escolar,

insatisfações e inseguranças entre alfabetizadores,

perplexidade do poder público e da população diante da

persistência do fracasso da escola em alfabetizar,

evidenciada por avaliações nacionais e estaduais, vêm

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provocando críticas e motivando propostas de reexame

das teorias e práticas atuais de alfabetização. Um

momento como este é, sem dúvida, desafiador, porque

estimula a revisão dos caminhos já trilhados e a busca de

novos caminhos, mas é também ameaçador, porque pode

conduzir a uma rejeição simplista dos caminhos trilhados

e a propostas de solução que representem desvios para

indesejáveis descaminhos.

Logo, surgem as necessidades de descobrir o conceito e a

caracterização mais próxima possível do que fosse a alfabetização.

Surgem várias definições por estudiosas como Emília Ferreiro, Ana

Teberosky entre outros que se inclinaram aos estudos dessa área da

educação. Cada teoria traz consigo concepções divergentes e

complementares que se aproximam ou se afastam comforme a

percepção de cada estudioso acerca do que seria de fato o ato de

alfabetizar.

Para o fascículo do Pro Letramento, 2008, p.12; Entende-se alfabetização como o processo específico e

indispensável de apropriação do sistema de escrita, a

conquista dos princípios alfabético e ortográfico que

possibilita ao aluno ler e escrever com autonomia.

Entende-se letramento como o processo de inserção e

participação na cultura escrita. Trata-se de um processo

que tem início quando a criança começa a conviver com

as diferentes manifestações da escrita na sociedade

(placas, rótulos, embalagens comerciais, revistas, etc.) e

se prolonga por toda a vida, com a crescente possibilidade

de participação nas práticas sociais que envolvem a língua

escrita (leitura e redação de contratos, de livros

científicos, de obras literárias, por exemplo). Esta

proposta considera que alfabetização e letramento são

processos diferentes, cada um com suas especificidades,

mas complementares e inseparáveis, ambos

indispensáveis.

Passado o momento de definição do que representa o termo

alfabetização passa-se a entender que a alfabetização compreende

segundo Emília Ferreiro e Ana Teberosky (1994) diferentes níveis de

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evolução da escrita. Esses níveis compreendem o nível pré-silábico;

pnde incialmente a criança diferencia o desenho da escrita mas não dá

significado nenhum a isso, o nível silábico onde a criança começa a

perceber que a escrita associa-se às representações sonoras; o nível

silábico alfabético que apresenta-se como uma transição entre o nível

silábico e o nível alfabético em que a criança faz associações e descobre

que o esquema de uma letra para cada sílaba não funciona e, assim,

procura acrescentar letras à escrita da fase anterior; e o nível alfabético

que representa a fase final do processo de alfabetização de um

indivíduo. Nesse nível, pode-se considerar que a criança venceu as

barreiras do sistema de representação da linguagem escrita.

A metodologia utilizada pelo professor para trabalhar esses níveis

de evolução de escrita, e a sensibilidade com a qual os reconhece marca

as crianças por toda uma vida estudantil, como também pode trazer

sentimentos de segurança ou insegurança que nesse último caso pode

levar um tempo para que sejam definitivamente superados.

2.1 ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO

O mundo tecnológico do século XXI exige muito das novas práticas

letradas que emergem diante desse contexto. Se antes falava-se em

aprendizado e conhecimento como resposta às necessidades escolares

impostas aos estudantes, agora começa-se a perceber as necessidades

sociais do conhecimento adquirido. A escritora e pesquisadora Magda

Soares, em muitos de seus trabalhos, vai apontar o letramento como

sendo o uso social da leitura e escrita. Logo, entende-se que não basta

saber descodificar o código, mas também compreender esse código

inserido num contexto específico de comunicação.

A sociedade apresenta também vários textos com objetivos e

pretensões comunicativas bem particulares e que exigem ações distintas

dos leitores e possíveis interlocutores desse texto. Assim, um outdoor,

uma propaganda, um folder, uma placa de sinalização, ou até mesmo o

semáforo do trânsito trazem mensagens que precisam ser captadas e

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bem decodificadas para que as respostas com relação ao texto sejam

adequadas. Dessa maneira pode-se entender que: letramento é palavra e conceito recentes, introduzidos na

linguagem da educação e das ciências linguísticas há

pouco mais de duas décadas. Seu surgimento pode ser

interpretado como decorrência da necessidade de

configurar e nomear comportamentos e práticas sociais na

área da leitura e da escrita que ultrapassem o domínio do

sistema alfabético e ortográfico, nível de aprendizagem da

língua escrita perseguido, tradicionalmente, pelo processo

de alfabetização (SOARES, 2004, p. 96).

O letramento então passa a ser entendido como uma ferramenta

indispensável para o convívio social, uma vez que as atividades diárias

e cotidianas exigem atitudes práticas frente ao uso da leitura e escrita

como bem é colocado pelas pesquisas da estudiosa Magda Soares,

anteriormente apontada e apresentada.

Talvez Paulo Freire (1989) tenha razão quando afirma que

existem várias maneiras de se ler o mundo através da leitura das

palavras. É nesse sentido, que uma pessoa letrada caminha, uma vez

que possui uma percepção mais fina e ao mesmo tempo consolidada da

abrangência da leitura das letras que constrói o mundo. Logo, entende-

se que a alfabetização e o letramento diferem qualitativamente, mas

ressalta-se a importância de enxergar o quanto esses dois processos

estão indissociavelmente imbricados. Como aponta Cagliari (2009, p.

131):

Ler é uma atividade extremamente complexa e envolve

problemas não só semânticos, culturais, ideológicos,

filosóficos, mas até fonéticos. Podemos ler sequências de

números de maneiras diferentes, dependendo daquilo a

que eles se referem. Alguns alunos têm dificuldades na

matemática porque não sabem ler os números

corretamente. Os números não são feitos só de

algarismos. A combinação dos algarismos expressa por si,

no todo, realidades, matemáticas que têm propriedades

específicas. Por exemplo, nos números fracionários (dois

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quintos), o denominador é lido com numerais ordinais,

mas a ordem característica típica desse numerais na

linguagem comum não tem nada a ver com a relação

fracionária. Não basta ensinar só as relações matemáticas:

é preciso ensinar também o português que a matemática

usa. Tudo o que se ensina na escola está diretamente

ligado à leitura e depende dela para se manter e se

desenvolver.

Portanto, a leitura não é apenas uma atividade isolada e fora das

práticas sociais do aluno. Para além disso, a leitura é um instrumento

indispensável para o aprendizado de outras disciplinas, bem como para

a compreensão do mundo que exige outras propriedades e habilidades

de nossos estudantes, mas antes requer um bom conhecimento das letras

vernáculas, o que abrange o ato de saber ler e escrever.

3. O PROFESSOR COMO AGENTE DA ALFABETIZAÇÃO E

DO LETRAMENTO

Nesta seção, a prática docente estará em evidência como uma

forma de planejar e perceber quais as melhores metodologias para o

sucesso das práticas de alfabetização e letramento social. Logo, teremos

reflexões em torno disso.

O professor sabe que muitas são as expectativas que circundam seu

trabalho, seja por parte da escola, da família ou do próprio estudante.

Dar atenção a cada um dos estudantes em processo de formação e

aprendizado é uma das atitudes que podem ser acolhidas pelo professor

na condução de suas aulas. Cada aula tem um compromisso, e desde

que chegam os alunos sabem que as expectativas devem ser trabalhadas

a fim de que as metas traçadas sejam alcançadas e para que o

aprendizado do dia seja bastante significativo.

Partir da realidade estudantil do aluno, sabendo da existência da

premissa de que ninguém é um ser vazio e sem conhecimento ajuda a

considerar os saberes já existentes na vida dos alunos e ajudar a

construir tantos outros necessários à sua formação. Em se tratando da

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escrita sabe-se que a criança aprende a ler e escrever através do contato

com essas duas práticas, e que ela começa de fato a ser uma pessoa que

lê e escreve quando começa a reconhecer a relação existente entre os

sons da fala e os sinais gráficos.

Fazer leitura em sala de aula, exemplicar o quanto os textos

permeiam as vidas dos estudantes trazem um encantamento duradouros

que tornam o aprendizado um construto solidificamente construído.

Compreender os processos pelos quais os professores aprendem, os

conhecimentos que são necessários à prática docente, as formas pelas

quais os docentes articulam diferentes saberes no exercício da docência,

têm se constituído um campo fértil nas pesquisas (PENA, 2011, p. 98).

A formação inicial e continuada do professor sempre foi um

quesito de destaque no cenário da educação brasileira. O pensar docente

vai além das pesquisas desenvolvidas e realizadas mas complementa-se

e apresenta-se com efeito através das diferentes práticas educativas que

devem ser vistas como o laboratório das atividades do professor.

METODOLOGIAS E DISCUSSÕES

Esse trabalho surge como resposta às leituras feitas e

referenciadas ao final do trabalho, como também da curiosidade

científica do pensar acerca das práticas de alfabetização e letramento.

Temos leituras base representadas através de CAGLIARI (2009),

RUSSO (2012), Morais (2012), Castanheira, Maciel e Martins (2009),

entre outros. A partir disso, e por meio de um olhar analítico endossa-se

as discussões elencadas pelas leituras dos livros, artigos e documentos

com as reflexões acrescentadas ao longo desse trabalho. Assim,

consideramos o Documento Orientador do PNAIC (2017), como o

marco inicial de análise, e todas as outras leituras como fonte

inesgotável do saber para a produção escrita do trabalho e como a

representação do pensar e do saber.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

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O Documento Orientador do PNAIC, bem como suas ações

orientadas e planejadas pelo MEC, nos faz refletir sobre a importância

do ato de alfabetizar e letrar. Os quatro eixos do trabalho do PNAIC

mostram o quanto é indispensável uma avaliação em larga escala que

avalie a eficácia do programa, a gestão e o envolvimento da

comunidade como resposta de uma gestão democrática que envolva a

participação de todos, e a formação do professor e o material didático

que são indispensáveis ao aprendizado contínuo e eficaz dos alunos.

A alfabetização e o letramento são práticas importantes e

indispensáveis à vivência social, logo não há como ignorá-las.

Outrossim, sabe-se que os estudos voltados para a compreensão dos

diferentes processos envolvidos na ação do saber ler e escrever sempre

esteve em pauta durante todo o tempo. Com isso, ressaltamos a

importância de um olhar docente apurado acerca de como acontece

essas práticas de alfababetização e letramento dos seus alunos em sala

de aula, lembrando do quanto o processo de construção, desconstrução

e reconstrução é importante para o desenvolvimento de suas atividades.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As necessidades do aprendizado escolar no que se refere ao

processo de leitura e escrita há muito tempo deixa de ser apenas uma

necessidade escolar e passa a ser uma exigência social. Não é fácil para

a carreira docente passar anos na escola com o ensino de Língua

Portuguesa, e ainda assim encontrar estudantes com grandes

dificuldades para ler e escrever. Mais difícil ainda é realidade desses

mesmos estudantes que passam a ver o português aprendido na escola

como um outro mundo que nunca será apreendido por eles.

Os documentos normativos estão disponíveis aos professores

para que a escola possa direcionar o planejamento conforme as

diretrizes nacionais que por sua vez consideram exatamente quais

competências os estudantes devem desenvolver durante sua vida

escolar. Com base nesses documentos e ainda segundo a realidade de

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cada escola, professores e gestores determinam quais caminhos devem

ser trilhados a fim de que os objetivos sejam alcançados.

Nesse sentido, tanto os documentos normativos, a exemplo dos

oferecidos pelo programa Pnaic, como a atuação dos professores

tornam-se ferramentas de grande valia para o “trato”, ou melhor, para o

cuidado com a aprendizagem daqueles que estão em fases iniciais de

uma vida socialmente letrada em que as exigências da escrita e leitura

estão a todo tempo cobrando mais desses indivíduos.

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