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ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO – UMA VISÃO GERAL

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O objetivo principal da obra Alfabetização e letramento é tratar da diferença do grafismo do desenho e da escrita, como foi o progresso evolutivo do grafismo para a escrita; a substituição progressiva de formas gráficas não identificadas por letras e a descoberta dos valores sonoros das letras. O livro aborda a conquista da base alfabética da escrita e a proposta pedagógica de Emília Ferreira, além de diferentes áreas como Matemática, Conhecimento de Mundo, Literatura Infantil e Língua Portuguesa.

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Page 1: Alfabetização e Letramento - Uma Visão Geral

ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO – UMA

VISÃO GERAL

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ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO – UMA

VISÃO GERAL

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5Apresentação

Apresentação Um conteúdo objetivo, conciso, didático e que atenda às expectativas de quem leva a vida em constante movimento: este parece ser o sonho de todo leitor que enxerga o estudo como fonte inesgotável de conhecimento.

Pensando na imensa necessidade de atender o desejo desse exigente leitor é que foi criado este produto voltado para os anseios de quem busca informação e conhecimento com o dinamismo dos dias atuais.

Com esses ideais em mente, nasceram os livros eletrônicos da Cengage Learning, com conteúdos de qualidade, dentro de uma roupagem criativa e arrojada.

Em cada título é possível encontrar a abordagem de temas de forma abrangente, associada a uma leitura agradável e organizada, visando facilitar o aprendizado e a memorização de cada disciplina.

A linguagem dialógica aproxima o estudante dos temas explorados, promovendo a interação com o assunto tratado.

Ao longo do conteúdo, o leitor terá acesso a recursos inovadores, como os tópicos “Atenção”, que o alertam sobre a importância do assunto abordado, e o “Para saber mais”, que apresenta dicas interessantíssimas de leitura complementar e curiosidades bem bacanas, para aprofundar a apreensão do assunto, além de re-cursos ilustrativos, que permitem a associação de cada ponto a ser estudado. Ao clicar nas palavras-chave em negrito, o leitor será levado ao Glossário, para ter acessoàdefiniçãodapalavra.Paravoltaraotexto,nopontoemqueparou,oleitordeve clicar na própria palavra-chave do Glossário, em negrito.

Esperamos que você encontre neste livro a materialização de um desejo: o alcance doconhecimentodemaneiraobjetiva,concisa,didáticaeeficaz.

Boa leitura!

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7Prefácio

PrefácioO início do processo de alfabetização de uma criança é determinante para que ela possa prosseguir no avanço da aprendizagem. A evolução desse processo somente ocorre quando os mecanismos, ferramentas e observações são fornecidas e feitas de modo adequado.

É o que este conteúdo visa apresentar para o leitor que necessita conhecer sobre a técnica da Alfabetização e Letramento. Nesse conteúdo, temas importantes serão debatidos e vistos sob o ângulo prático da sua aplicação.

Na primeira Unidade será tratada a importância do desenho na formação da escri-ta da criança, a construção das formas de representação e, entre outros assuntos, oprocessoevolutivodografismodaescrita.

A segunda Unidade vai apresentar temas como o processo de alfabetização, a os tipos de escrita (escrita pré-silábica com leitura global, silábico sem valor sonoro, silábico com valor sonoro, silábico alfabético e alfabético) e a importância da son-dagem no processo de alfabetização.

NaUnidade3,asubstituiçãoprogressivadeformasgráficasnãoidentificadasporletras, a importância do trabalho com o nome próprio e o processo de construção de novas palavras são alguns dos assuntos analisados.

Finalmente, na Unidade 4, temas como o movimento na educação infantil, a músi-ca na educação infantil, as artes visuais na educação infantil, a literatura infantil e como estimular o gosto pela leitura serão estudados.

Bons estudos.

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9Unidade 1 – Do desenho ao grafismo das letras

UNIDADE 1DO DESENHO AO GRAFISMO DAS LETRAS

Capítulo 1 A importância do desenho no desenvolvimento da criança, 10

Capítulo 2 As fases do desenho segundo Georges Henri Luquet, Jean Piaget e Lev Vygostky, 11

Capítulo 3 A ligação entre o desenho e a escrita, 17

Capítulo 4 Oprogressoevolutivodografismodaescrita,19

Glossário, 23

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10 Alfabetização e letramento II

1. A importância do desenho no desenvolvimento da criança

O pensamento da criança está ligado à sua capacidade representativa, ou seja, ele é capaz de substituir o que está ausente por imagens, desenhos ou até mesmo palavras. Quando a criança utiliza-se do jogo simbólico ou do desenho, automaticamente vai se inserindo no processo de ensino aprendizagem. Dessa forma, ela passa primeiro pelo plano de conceito mental, para depois represen-tá-lograficamente.Podemosentãodizerqueodesenhoéoantecessordaescri-ta, pois a criança vai dominando-a por meio de imagens, acrescentando então novos conhecimentos em sua aprendizagem.

As crianças utilizam o desenho para expor suas ideias, suas vontades ou fan-tasias,mesmoqueelenãorepresentedeformafieloqueveem.Emsuasrepro-duções, nos deixam a visão que tinham sobre determinada realidade, sendo essa representação individual, com sua própria particularidade e características. Assim, o desenho pode parece totalmente diferente da realidade aos nossos olhos.

Muitos professores precisam mudar sua concepção sobre o desenho e as repre-sentaçõesgráficasdascrianças,valorizando-oeentendendoqueelefazpartedoprocesso de aprendizagem. Na maioria das vezes, quando o professor propõe um tipo de atividade para as crianças, não leva em consideração sua expressão livre e espontânea, indicando, então, exercícios mecânicos e que em nada estimulam o pensamento.

Desde bem pequena, a criança já explora o meio à sua volta e percebe que tam-bém é capaz de realizar algumas atividades. Quando lhe é oferecido um papel e um lápis, ela, de seu jeito, exprime ali sua marca, ora com pequenas represen-tações, ora com desenhos repetitivos, como círculos, por exemplo. De acordo com sua interação com o meio, a criança percebe novos movimentos, mesmo que ainda sem compromisso com a representação real.

Este primeiro contato com o desenho aparentemente pode não apresentar coe-rência, pois as crianças pequenas desenham na tentativa de representar o que interpretam do mundo à sua volta. Nos primeiros anos de escolaridade, é particu-larmente importante explorar esse tipo de produção. Os professores, em sua neces-sidade de avaliação e entendimento, tentam, por muitas vezes, direcionar o traço dos pequenos. A criança rabisca inicialmente sem que seus traços tenham sentido, e,posteriormente,passaaatribuirumsignificadodeseumundoimaginário.

Para a criança, desenhar representa um momento prazeroso, agradável, no qual não se faz necessária a interferência direta do adulto. Ela pode fazer isso so-zinha porque, utilizando apenas sua imaginação e criatividade, constrói suas próprias regras.

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11Unidade 1 – Do desenho ao grafismo das letras

O desenho é considerado a primeira forma que a criança utiliza para se inter-ligar com tudo que a cerca depois da fala, pois é também uma forma de lin-guagem, que ela utiliza como a fala ou gestos. Por meio do desenho, a criança também pode se comunicar.

Na maioria das vezes, a criança sente-se satisfeita com seus desenhos, pois essa atividade não demanda muito tempo. Suas produções são muito rápidas. Seu repertório gráficoficacondicionadoaoseumeio,àssuasexperiênciaseéatravés desse repertório que suas produções acontecem.

ATENÇÃO! Todas as crianças desenham, independentemente de sua faixa etária. Os desenhos são expressos de formas diferentes, caracterizando, assim, as fases

do grafismo.

Osestudiososdografismoinfantilreconhecemqueexistemfasescomunsnoprocesso de apropriação do desenho como sistema de representação, isso desde o rabisco sem intencionalidadeatéarepresentaçãográfica.

2. As fases do desenho segundo Georges Henri Luquet, Jean Piaget e Lev Vygostky

Georges Henri Luquet se dedicou ao estudo do desenvolvimento da comunica-ção humana pelo uso da imagem, sendo um dos precursores do estudo do dese-nho infantil. Seus ensinamentos foram retomados por Jean Piaget.

Foiumdosprimeirosaestudarografismoinfantiledividiuasequênciadode-senho em quatro fases: realismo fortuito, realismo fracassado ou incapacidade sintética, realismo intelectual e realismo visual.

Realismo fortuitoEste primeiro estágio se inicia por volta dos 2 anos e subdivide-se em desenho involuntário e desenho vo-luntário. No desenho involuntário, a criança desenha linhas sem intenção, rabisca as linhas apenas por prazer, porque não tem consciência de que elas podem traçar objetos. No segundo estágio, as crianças desenham sem intenção, porém enxergam nos seus traçados semelhanças com objetos conhecidos e a interpretação de seus desenhos pode variar.

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12 Alfabetização e letramento II

Realismo fracassado ou incapacidade sintética

Surge geralmente entre 3 e 4 anos de idade, quando a criança desenha objetos sem ter relação entre eles, ou seja, os desenhos são independentes, pois podem exagerar ou omitir partes. Os elementos estão justapostos em vez de estarem coordenados num todo.

Realismo intelectual

Esta fase acontece dos 4 até aproximadamente 12 anos e caracteriza-se pelo fato de que a criança representa objetos através do seu conhecimento e consegue produzir as coisas que vê e também as que estão ausentes. Representa com cla-reza alguns objetos, desenhan-do o que está dentro do corpo, por exemplo. Utiliza também le-gendas, representa distâncias, profundidades ou posições, usando referências.

Realismo visual

Nesta última fase, que ocorre por vol-ta dos 12 anos, a criança já consegue desenhar um objeto por completo. É também o período em que começa a fazer uma crítica de seus desenhos e a reparar que os desenhos anterior-mente concebidos não estavam de acordo com os objetos reais.

Segundo Piaget, a capacidade de cria-ção e inovação supõe construções efe-tivas e não simplesmente representa-çõesfiéisda realidade.Essasetapasdodesenhosãoclassificadascomo:

a) Garatujas: as garatujas começam com traços desordenados no papel e, gra-dualmente, passam a representar formas que os adultos conseguem identi-ficar.Sãodefinidasemduascategorias:garatujasdesordenadasegaratujascontroladas.

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b) Garatujas desordenadas: a criança não se preocupa com qual das mãos se-gura o lápis, giz ou qualquer outro instrumento que utiliza para desenhar. Seus movimentos são amplos, descoordenados e parecem um simples exer-cício motor, sem a preocupação de preservar os traços que faz, que são co-bertos por rabiscos. Por várias vezes, podemos perceber também que, mesmo sendooferecidoumpapelmaior,esteparecenãosersuficienteparaseude-senho. A criança varia em suas diferentes formas, em seus movimentos mais característicos de trás para a frente e, muitas vezes, pode olhar para o outro lado enquanto desenha.

As crianças menores ainda não desenvolveram totalmente seu controle mus-cular e por isso utilizam os movimentos amplos de maneira repetitiva.

É importante que a criança tenha oportunidade de desenhar e, para isso, o adulto deve oferecer suportes para que a criança o faça, evitando, assim, que represente sua criatividade em outros lugares, como paredes ou móveis. Não devemos, nessa fase, pedir que as crianças desenhem um objeto real, mas que valorizem suas representações, pois assim elas entenderão que, de algumaforma,conseguiramsecomunicar.Nofinaldessafase,épossívelquesurjamosprimeirosindíciosdefigurashumanas,comocabeçaeolhos.Essafasefazpartedodesenvolvimentodacriançaerefletesuaprópriaevolução.

c) Garatujas controladas: a criança descobre que há ligação entre seus movi-mentos e os traços que faz no papel. Percebe então sua relação com os traços

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e dá mais atenção ao que está fazendo, demonstrando maior controle no tamanho das garatujas, nas formas que representam e na utilização dos espaços do papel. A criança pode variar mais nas cores utilizadas e explo-rar mais os movimentos longos e circulares, preocupando-se em fechar os círculosque faz.Podesurgiremseu imaginárioodesenhodafigurahu-mana, fase em que se inicia o jogo simbólico, atribuindo nomes e histórias aos seus desenhos. É na fase pré-operatória que aparece a descoberta da relação entre desenho, pensamento e linguagem. A criança começa então a estruturarmelhorafigurahumanacombraços,pernasetronco,apesardenão desenhar o pescoço, pois é a imagem interna que possui. Utiliza mais cores, porém seu desenho ainda não condiz com a realidade. Nessa fase, a criança varia também nos movimentos, que são tanto em linha reta como circulares. É pouco comum encontrarmos pontos repetitivos em seus dese-nhos e o tempo destinado a eles se amplia. Outro ponto relevante é que a criança passa a segurar o lápis, buscando imitar o modelo convencional. A garatuja é de extrema importância e devemos observar a atenção e concen-tração dispensada aos desenhos. As crianças também começam a desenhar o que está mais próxima a elas, como o pai, a mãe, a irmã ou o irmão. Com isso, cada garatuja passa a representar um universo e uma identidade pes-soal e por isso são tão representativas.

d) Pré-esquematismo: dentro da fase pré-operatória, que acontece a partir dos 3 anos de idade, aparece a descoberta da relação entre desenho, pen-samento e realidade. Quanto ao espaço, os desenhos não se relacionam entresi.Acriançajáatribuisignificadoaoquedesenha,fazendoriscosnahorizontal, vertical, espiral e círculos, apesar de não dominar o que faz. Com relação às cores, às vezes podem ser utilizadas em suas produções, masnãoháumarelaçãofortecomarealidade.Afigurahumanatorna-seuma procura de conceito, o que depende de seu conhecimento ativo, ini-ciando a mudança de símbolos. Aos 4 anos, a criança já é capaz de repre-sentar no papel o que ela sente, mesmo sendo incapaz de aceitar a opinião de outra pessoa. Até os 6 anos, a criança apresenta uma fase mais criativa ediversificadanasproduções,proporcionandoumainteraçãomaiorentredesenho, pensamento e linguagem.

e) Esquematismo: esta fase vai dos 7 aos 10 anos e faz parte das operações concretas. A partir dos 7 anos de idade, as operações mentais da criança ocorrem em resposta a objetos e situações reais. Dessa forma, ela compre-ende termos de relações como: maior, menor, direita, esquerda, curto, com-pridoetc.Játemumconceitodefinidoemrelaçãoàfigurahumana,porémaparecem alguns desvios como exagero, negligência, omissão ou mudança de símbolo. Há também a descoberta das relações quanto à cor.

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f) Realismo: também faz parte da fase das operações concretas, mas jánofinal.Emseusdesenhos,ascrianças também utilizam bas-tante as formas geométricas, com maior rigidez e formalismo. Des-cobre o plano e a superposição, abandonando as linhas de base. A representação das roupas é bem acentuada para diferenciar o sexo.

g) Pseudonaturalismo: esta fase acontece dos 10 anos em diante. Caracteri-za-sepelasoperaçõesabstratas.Émarcadapelofimdaartecomoativida-de espontânea e passa a ser uma investigação da própria personalidade da criança,buscandoprofundidadeeusoconscientedacor.Afigurahumanaapresenta características sexuais exageradas com articulações e proporções detalhadas. Há também maior conscientização no uso da cor, que pode ser objetiva ou subjetiva. A expressão aparece como: “eu represento e você vê” e estão presentes o exercício, o símbolo e a regra. A consciência visual (realis-mo) ou acentuação da expressão também fazem parte desse período.

Para Vygotsky, a escrita é um pro-cesso longo e complexo, e não sim-plesmente uma habilidade motora, que envolve a elaboração de um sis-tema de representação simbólico da realidade.

Poucos adultos conseguem perce-ber quanto o desenho pode revelar o grau de maturidade e o equilíbrio emocional e cognitivo da criança.

ATENÇÃO! Outro ponto importante na evolução do desenho é a relação com a fala no momento em que as crianças estão desenhando. Em um primeiro momento, a

criança, depois de sua representação gráfica, fala o que desenhou. Ao longo de seu desenvolvimento, ela passa a planejar sua ação, verbalizando o que vai fazer.

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Vygotskytambémclassificaodesenvolvimentodaexpressãocomográfico-plás-tica, que se divide em etapas:

I) Etapa simbólica: é a fase dos bo-necos com cabeça e pés, na qual as crianças procuram represen-tarafigurahumana.Essaetapa,segundo o estudioso, é descrita pelo momento em que as crian-ças desenham com o recurso da memória, sem a preocupação deretrataraimagemfieldoqueestá sendo representado, desta-candoapenasoqueéimportante.Emseusdesenhosdafigurahumana,ascrianças se limitam a desenhar duas ou três partes do corpo, como podemos observarnafiguraabaixo.

II) Etapa simbólico-formalista: é a fase na qual percebemos maior elaboração dos traços e formas dografismo infantil.Éoperío-do em que a criança começa a sentir necessidade de não se limitar à enumeração dos as-pectos concretos do objeto que representa, buscando estabele-cer maior relação entre o todo representadoesuaspartes.Nessafase,jásepercebeoiníciodeumafiguramais verossímil, e os desenhos são mais detalhados aos olhos de quem vê.

III) Etapa formalista veraz: é a fase em que os desenhos se tornam mais verossímeis, ou seja, as representações são mais fiéisao aspecto observável, e acaba então a etapa dos aspectos mais simbólicos. Nos desenhos desse período, as crianças enfatizam a realidade por meio da proporcio-nalidade e tamanho dos objetos, que podem mudar de forma.

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IV)Etapaformalistaplástica:identifica-seumanovaforma,umnovomododedesenhar, porque, como um desenvolvimento das habilidades motoras, o sujeito acaba se utilizando de técnicas projetivas e de convenções mais re-alistas.Ografismodeixadeserumaatividadecomfimemsimesmoetor-na-se um trabalho criador. No entanto, há uma diminuição do ritmo dos desenhos, que permanecem mais entre aqueles que realmente desenham porque sentem prazer nesse ato criador. A criança já não mais se satisfaz com produções simples, ou seja, ela busca adquirir novos hábitos represen-tacionais,diferentestécnicasgráficasealgunsconhecimentosartísticos.

O professor precisa entender o percurso criador das crianças e regular as interven-ções, de acordo com as reais possibilidades de aprendizagem. Cabe ao educador destinarmomentosemseuplanejamentoparaelaborarpropostassignificativasetomar decisões adequadas em relação ao que pretende ensinar. Vale lembrar que o planejamento é fator primordial e deve servir de subsídio em todos os momentos da rotina do professor. Desenhar é um processo e pode ser ensinado, desde que o docenteconsigaestimularoalunodemaneirasatisfatória.Porisso,reflexõessãonecessárias para que os professores possam ampliar sua metodologia quanto ao fazer pedagógico, porque, para intervir nas atividades das crianças, deve-se ter muito claro o objetivo. O professor deve valorizar e perceber que a criança tem intencionalidade e utiliza de procedimentos em suas representações.

Podemos oferecer desenhos diários, proporcionar aos alunos momentos de apre-ciação tanto de suas produções como de outros colegas e até mesmo de outros artistas e, assim, intervir no traçado das crianças, favorecendo a ampliação de seurepertóriográfico.Aspropostasdevemfornecerdesafiosparaosalunos,ouseja, estímulos em relação aos desenhos, às cores, ao uso de diferentes suportes e técnicas etc.

O professor deve interpretar e questionar as crianças sobre as linhas serrilha-das, pois elas fazem parte do início da escrita e, depois de serem estimuladas, podemapontarorealsignificado,comoopróprionomeouatémesmoaorigemdeoutrasletras.Depoisdaampliaçãodessesmovimentosgráficos,podemsur-gir os traçados das primeiras letras.

3. A ligação entre o desenho e a escritaÉ fato que a partir do momento em que o homem passou a simbolizar suas ideias, o uso da linguagem visual passou a ser primordial para expressar todo tipo de intenção, ideia e necessidade. A própria invenção da escrita surge do processamento de desenhos em símbolos que nomeiam o que nos cerca. Ao ob-servarmos o desenho, devemos levar em consideração que ele faz parte de uma das linguagens básicas da comunicação e da expressão humana.

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Podemos considerar que o desenho então é uma forma de conceito e que é a partir dele que se inicia uma nova forma de representação, o da escrita. Se o desenhar for bem explorado, não prejudicará o desenvolvimento da criança.

Primeiro, em seu processo de construção da escrita, as crianças não sabem ain-da diferenciá-la dos desenhos.

Quando as crianças encontram-se no período de alfabetização, procuram entender oqueaescritasignifica,comoossinaisseorganizameoqueelesrepresentam.

Na abordagem de Emília Ferreiro e Ana Teberosky, o processo de aquisição da escrita, concentra-se em três períodos: a distinção entre o modo de representa-ção da escrita, a construção das formas de representação e a fonetização.

Modos de representação da escrita

É notório que desde a pré-história o homem vem buscando sistemas de repre-sentação para exprimir suas ideias e pensamentos, bem como suas necessida-des,eissosedavaatravésderepresentaçõesgráficasnadaorganizadasesempadronização. Por isso surgiu a necessidade de combinação de símbolos para queacomunicaçãoficassemaisclaraeevidenteaosolhosdequemvia.

As crianças passam por esse processo a partir do momento em que começam a estabelecer distinções entre os elementos icônicos e os não icônicos. Os elemen-tos icônicos caracterizam-se pela utilização de desenhos para a representação da escrita, quando a criança ainda não consegue diferenciar o desenho da escri-ta em si e expressa seu pensamento apenas através de imagens. Já a represen-tação icônica caracteriza-se pela ampliação de representações utilizadas pelas crianças. Além dos desenhos, elas utilizam garatujas ou rabiscos, iniciando o processo de escrita. Apesar disso, ainda não reconhecem as letras e seu valor sonoro.Assim,ascriançaspercebemqueaescritanãoédefinidaapenascomodesenho, porque existem outros elementos para compô-la.

A construção das formas de representação

Neste período, a criança consegue diferenciar o desenho da escrita. Esta etapa caracteriza-se pelas condições formais da linguagem escrita. Para que a escrita tenha sentido, é necessário um número mínimo de caracteres, entre dois e qua-tro, explorando nela os eixos qualitativos, quantitativos e até mesmo o controle desuagrafia.

Fonetização

Neste período, a escrita começa a representar a fala e não mais os objetos. Aí começaotrabalhocomadiferenciaçãodossonsedosseussignificados.Nesse

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momento, a criança estabelece as relações entre grafemas e fonemas, ou seja, atribui à letra seu valor sonoro, utilizando-se da linguagem oral para represen-tareidentificarnaescritaossonsqueantesnãoconseguia.

Percebemos diante de tudo isso então, a importância do desenho no desenvolvi-mento cognitivo da criança e como sua evolução acompanha o desenvolvimento da escrita, ou seja, diante dos desenhos, dos riscos e rabiscos, vão surgindo as primeiras letras, e cabe ao professor estimulá-la para que seu aprendizado seja efetivoesignificativo.

É essencial que o professor entenda o caminho que a criança percorre e inter-firaparaqueoconhecimentosejaentendidoeampliado.Oensinoisoladodasletras e a progressão em uni-las para formar sílabas e posteriormente palavras, depende de uma programação e exige que o educador participe ativamente do processo de ensino e aprendizagem. Desse modo, ele conhecerá as ideias que as crianças fazem sobre a escrita e, assim, compreenderá como se dá a passa-gem de um nível para o outro, conseguindo intervir e favorecer a construção da aprendizagem de seus alunos.

4.OprogressoevolutivodografismodaescritaQuando as crianças conseguem apontar onde está o desenho e onde está a escrita, significa que aprenderam e demonstram segurança na diferenciaçãodeles. Isso é um grande avanço diante dessas duas representações. Neste mo-mento, também, a qualidade do traçado tem menos importância do que o que a criança conseguiu representar.

O educador deve compreender que o desenvolvimento cognitivo não se dá de forma linear, é um processo que vai e volta diante das propostas apresentadas. Essas oscilações entre avanços e retrocessos não quer dizer que a criança está regredindo. O educador deve ter a concepção de que isso faz parte do processo de alfabetização.

As etapas do aprendizado das crianças seguem seu crescimento. Ao elaborar o planejamento, o professor não pode deixar a cronologia de lado, porém sabemos quenãoépossíveldefiniroplanodeaulatotalmentecombasenasidadesdosalunos, pois devemos respeitar o fato de que as crianças são diferentes e pos-suem conhecimentos diversos. O aprendizado da criança acontece de acordo comseupróprioritmoeasinfluênciasqueseumeiotraz.

Algunsestudiososapresentamreflexõessobreoprocessodematuração, pro-cesso no qual acontecem mudanças. O crescimento é progressivo, tanto no aspecto físico, quanto psicológico e orgânico. Em qualquer estágio da vida do ser humano, podemos falar de maturidade, sem nos limitar à condição adulta.

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A maturidade está ligada à capacidade de o indivíduo em questão realizar ativida-des, levando em consideração suas condições. Quando falamos de desenvolvimento, devemos pensar na maturação e levar em conta que a aprendizagem é decorrente dela, ou seja, é importante que o organismo esteja maduro para que ela aconteça.

É essencial também acreditar que, se as condições tanto biológicas quanto de estimulação forem conservadas, todas as crianças, de acordo com seu nível de conhecimento, podem realizar qualquer ação.

Alguns cuidados, porém, devem ser tomados, como estipular certas aprendi-zagens para cada idade ou focar apenas no que a criança não consegue fazer, pois o vínculo aluno-professor pode ser quebrado e não recuperado, sendo ele umdosfatoresessenciaisparaaaprendizagem.Algunsprofessoresdevemficaratentos a suas expectativas. Diante das respostas das crianças, erradas ou não, os educadores devem oferecer propostas para que as crianças avancem de ma-neirasignificativaemseudesenvolvimento.

Assim, o professor não deve atribuir o fracasso do aluno à sua imaturidade, e sim à metodologia de ensino e ao planejamento do docente que devem ser anali-sadoserevistos.Oalunotemquesesentirconfiantenoprocesso,eoprofessordeve valorizar os alunos e acreditar nas conquistas deles.

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A criança evolui também em seu aspecto motor. O simples gesto de agarrar algo com a mão e segurá-lo, assim como o movimento de pinça ou de encai-xar peças de brinquedo, exigem um grande esforço por parte das crianças. De acordo com as etapas que vão passando, as crianças estabelecem relações in-ternas e externas, que não estão somente ligadas ao movimento, mas também à organização intelectual.

Devemos levar em consideração o desenvolvimento do pensamento e não acre-ditar que, para a criança avançar em seu aspecto motor, devemos aplicar uma série de atividades de coordenação motora. Quando aplicamos exercícios desse tipo, não facilitamos em nada o processo de aprendizagem dos alunos, pois eles nãoprecisamrefletiremnenhummomento,masapenasrepetirosmovimentosdirecionadospeloprofessor.Issonãosignificaqueocontrolemotornãoéneces-sário para a escrita, mas que devemos explorar outros meios para desenvolvê-lo.

As propostas de desenho que muitos de nós vivenciamos eram destinadas à pin-tura de desenhos já elaborados pelo professor, cuja missão era simplesmente “pintar bem bonito”, ou seja, “pintar apenas no espaço de dentro e fazer um belo contorno”. Por muitas vezes, nossos professores indicavam as cores que devería-mos utilizar. Portanto, o percurso criador era totalmente descartado.

Atividades de coordenação motora ou desenhos já prontos para serem pintados não passam de técnicas e muitos professores ainda mantêm essa concepção, acreditando que auxiliam no processo de ensino aprendizagem e que são neces-sários para o desenvolvimento motor pleno dos alunos.

Os desenhos livres devem ser valorizados e os professores devem incentivar os alunos a buscar semelhanças entre o que produzem com os objetos reais. Comisso,pode identificaraaçãodacriançaeapontarosignificadodoquedesenhou. Isto posto, não resta nenhuma dúvida de que a criança é capaz de traçar algumas letras, sem exercícios de coordenação motora, repetitivos e extremamente cansativos.

A criança coloca no papel a manifestação externa de seu pensamento, isto é, o que já tem elaborado. Quando solicitamos a ela que escreva o que desenhou, que coloque seu nome na folha ou, até um pequeno registro do que fez, possibi-litamos diretamente o contato com a escrita e, com isso, ela se sentirá estimula-da a “escrever” em suas produções. Evidentemente, essa estratégia não deve ser auxiliada pelo professor, que agirá apenas como mediador do processo.

Ao escrever, as crianças passam do simples traçado para uma linha mais con-tínua e depois a outras linhas para representar várias palavras. Porém, com o tempo, há certa instabilidade, pois a criança passa a não fazer mais as linhas contínuasemsuasescritasepodemosidentificaralgumastentativasderegistrargraficamentealgumasletras,particularmenteasletrasdeseupróprionome.

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73Referências

O objetivo principal da obra Alfabetização e letramento é tratar da diferençadografismododesenhoedaescrita,comofoioprogres-soevolutivodografismoparaaescrita;asubstituiçãoprogressi-vadeformasgráficasnãoidentificadasporletraseadescobertados valores sonoros das letras.

O livro aborda a conquista da base alfabética da escrita e a pro-posta pedagógica de Emília Ferreira, além de diferentes áreas como Matemática, Conhecimento de Mundo, Literatura Infantil e Língua Portuguesa.

ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO –

UMA VISÃO GERAL