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AIR imi-j::t.\ <<mi o __.vanui_.lhu seja pkegado. S. Maiic. 1D:10, E&Anuiin TENDE CONFIANÇA: EU VENCI O MUNI'). S. João *G:- ANNO IX. Escripotrio da Redacção, u-avesssa da Cajroiia ji. 11. RIO DE JANEIRO, 4 DE JANEIRO DE 1873. N. 1 Aviso. Aos nossos assignantes que sc acliam cm debito, pc- dinws que mandem satisfazer o vencido até an fim do anno passado, e renovar as suas assignáuras desta anno' afim de continuar a remessa da folha sem interrupção. SUiUlHARIO. Pgs. Guerra á BiUia As indulgências.'.'2 Varieda le@'....'.t Um milagre de S. Pedro (com estampa)5 A Esperança5 Não sejais sábios aos vossos ollios7 Noticiário: Contrabanlo singular.— Ordiuis Religiosas na Al- tamanha. Fallecimento. Casamento. In lioe. —Novo Mathusalém.—Emprego do phenol contra as bexigas7 IMPRENSA EVANGÉLICA. Guerra á Biblia. 0 interesse e zelo que temos pela Palavra Di- vina, e o desejo de vermos que ella seja respeitada e obedecida pelos homens, nos movem a levantar um brado, no primeiro numero da Imprensa Evan- gelica, d'este anuo, contra o menoscabo e; desprezo com que ella é tratada por aquelles que se têm pelos únicos guardas e depositários das verdades divinas. Magoa-nos o coração de vermos a pouca consi- deração , e o nenhum respeito que se presta aquelle Livro santo cuja leitura foi tão recommendada por Jesus Christo e seus Apóstolos ; cuja excellencia e utilidade são tão exaltadas pelos santos padres, e cujas paginas deviam ser diariamente abertas por todos os christaos sinceros afim de se instruírem nas verdades do Reino do Céo., As Palestras Familiares do Monsenhor de Segur transcriptas nos números 51 e 52 do Apóstolo do mez de Dezembro, são um specimen claro do desprezo e abandono com que se trata a Biblia Sagrada. Alli elle assevera que a Biblia protestante não é mais que um manto hypocrita em que se embara- çam ao mesmo tempo a incredulidade e revolução! Que a Biblia é a causa da divisão entre os protestantes etc. IJ notável ver a com que o Monsenhor de Segur aqui argumenta; elle falia de uma Biblia protestante, como se a Biblia catholica fosse diffe- rente, e não encerrasse palavra por palavra, as mesmas verdades. Mas o seu intento está claro; elle quer por meio d'esta palavra protestante, enco- brir o ataque directo que faz á palavra de Deus. Mas o que é mais para admirar é ver o pouco respeito qne o Monsenhor tem á verdade ao ponto de attribuir aos protestantes doutrinas errôneas que elles não admittem nem seguem, somente.para po- der combate-los. Se os disparates que o Monsenhor de Segur sustenta em seu livro intitulado Palestras Familia- res —, fossem sua opinião particular, não nos daria- mos ao trabalho de lhe responder ; porque a Igreja Romana não tem culpa das asneiras e tolices que qualquer homem possa avançar, ainda que elle seja monsenhor ou bispo. Mas como a aversão que o Sr. de Segur alli releva, e a doutrina que elle procura ensinar contra a Biblia Sagrada são justa- mente os sentimentos da Igreja Romana desde o tempo que ella se apartou da verdade do Evangelho, nao podemos deixar passar desapercebida à guerra dis- farçada que este Monsenhor faz á Palavra Divina. O Clero romano não pôde deixar de guerrear a Biblia e arranca-ía das mãos do povo, porque tal dever lhe é imposto pela cúria romana. 0 papa em Roma grita que as sociedades bi- blicas são umas pestes, e o clero de todo o orbe ca- tholico, que tem de obedecer cegamente ás ordens do seu chefe infallivel grita também: Pestes. A.Igreja de Roma sabendo que nao era possi- vel harmonizar a sua doutrina com a da Biblia nem mesmo forjando tradições fantásticas, decretou o ae- guinte:_ B' « Por quanto se determina ahi, e manifesta pela « experiência, que se a Biblia Sagrada for permittida « promiscoamente, em razão do arrojo dos hemens « mais damno que utilidade resiãlará; observe-se neste 15 S.L.R. J?

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AIRimi-j::t.\ <<mi o __.vanui_.lhu seja pkegado.

S. Maiic. 1D:10,

E&AnuiinTENDE CONFIANÇA: EU VENCI O MUNI').

S. João *G:-

ANNO IX.

Escripotrio da Redacção, u-avesssa da Cajroiia ji. 11.

RIO DE JANEIRO, 4 DE JANEIRO DE 1873. N. 1

Aviso.Aos nossos assignantes que sc acliam cm debito, pc-dinws que mandem satisfazer o vencido até an fim do anno

passado, e renovar as suas assignáuras desta anno' afimde continuar a remessa da folha sem interrupção.

SUiUlHARIO.Pgs.

Guerra á BiUiaAs indulgências .'.' 2Varieda le '....'. tUm milagre de S. Pedro (com estampa) 5A Esperança 5Não sejais sábios aos vossos ollios 7Noticiário: Contrabanlo singular.— Ordiuis Religiosas na Al-

tamanha. — Fallecimento. — Casamento. — In lioe. —NovoMathusalém.—Emprego do phenol contra as bexigas 7

IMPRENSA EVANGÉLICA.Guerra á Biblia.

0 interesse e zelo que temos pela Palavra Di-vina, e o desejo de vermos que ella seja respeitadae obedecida pelos homens, nos movem a levantarum brado, no primeiro numero da Imprensa Evan-gelica, d'este anuo, contra o menoscabo e; desprezocom que ella é tratada por aquelles que se têmpelos únicos guardas e depositários das verdadesdivinas.

Magoa-nos o coração de vermos a pouca consi-deração , e o nenhum respeito que se presta aquelleLivro santo cuja leitura foi tão recommendada porJesus Christo e seus Apóstolos ; cuja excellencia eutilidade são tão exaltadas pelos santos padres, ecujas paginas deviam ser diariamente abertas portodos os christaos sinceros afim de se instruíremnas verdades do Reino do Céo. ,

As Palestras Familiares do Monsenhor de Segurtranscriptas nos números 51 e 52 do Apóstolo do mez deDezembro, são um specimen claro do desprezo eabandono com que se trata a Biblia Sagrada.

Alli elle assevera que a Biblia protestante nãoé mais que um manto hypocrita em que se embara-çam ao mesmo tempo a incredulidade e revolução! Que aBiblia é a causa da divisão entre os protestantes etc.

IJ notável ver a má fé com que o Monsenhor de

Segur aqui argumenta; elle falia de uma Bibliaprotestante, como se a Biblia catholica fosse diffe-rente, e não encerrasse palavra por palavra, asmesmas verdades. Mas o seu intento está claro;elle quer por meio d'esta palavra protestante, enco-brir o ataque directo que faz á palavra de Deus.

Mas o que é mais para admirar é ver o poucorespeito qne o Monsenhor tem á verdade ao pontode attribuir aos protestantes doutrinas errôneas queelles não admittem nem seguem, somente.para po-der combate-los.

Se os disparates que o Monsenhor de Segursustenta em seu livro intitulado — Palestras Familia-res —, fossem só sua opinião particular, não nos daria-mos ao trabalho de lhe responder ; porque a IgrejaRomana não tem culpa das asneiras e tolices quequalquer homem possa avançar, ainda que elle sejamonsenhor ou bispo. Mas como a aversão que oSr. de Segur alli releva, e a doutrina que elleprocura ensinar contra a Biblia Sagrada são justa-mente os sentimentos da Igreja Romana desde o tempoque ella se apartou da verdade do Evangelho, naopodemos deixar passar desapercebida à guerra dis-farçada que este Monsenhor faz á Palavra Divina.

O Clero romano não pôde deixar de guerrear aBiblia e arranca-ía das mãos do povo, porque taldever lhe é imposto pela cúria romana.

0 papa em Roma grita que as sociedades bi-blicas são umas pestes, e o clero de todo o orbe ca-tholico, que tem de obedecer cegamente ás ordensdo seu chefe infallivel grita também: Pestes.

A.Igreja de Roma sabendo que nao era possi-vel harmonizar a sua doutrina com a da Biblia nemmesmo forjando tradições fantásticas, decretou o ae-guinte: _ '

« Por quanto se determina ahi, e manifesta pela« experiência, que se a Biblia Sagrada for permittida« promiscoamente, em razão do arrojo dos hemens« mais damno que utilidade resiãlará; observe-se neste

15 S.L.R. J?

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IMPRENSA. EVANGÉLICA.

« particular a decisão do bispo ou inquisidor, que« com o conselho do parodio ou confessor, a leitu-« ra da Biblia na lingua vulgar, traduzida por au-« tores catholicos, se conceda as pessoas que a euten-« derem, que não hajam de receber prejuízo por tal« leitura, mas antes, crescimento da lé e piedade :« a qual licença hão de ter por escrito. Mas aquel-« le que, sem essa licença se atrever a ler ou re-« ter a Biblia, não pôde receber absolvição de seus« peccados, sem que primeiro entregue a Biblia ao« ordinário! i

« Os livreiros também, que venderem Biblias na« lingua vulgar, ás pessoas que não tem aquella« licença, e que de qualquer modo lhas supprirem,ic devem perder o preço dos livros, o qual será« apropriado pelos bispos aos usos de caridade ; e noic mais estarão sujeitos a outras penas, ao juizo do« bispo segundo a natureza da oíFensa.

« O clero regular não pôde le-la ou compra-la« senão com licença dos seus prelados ! ! Itegulcvti Indicis S. S. Sgnndi Trideulinu' Jiiscu edita, De lib,« prohib Ucg. 4.

Custa a crer que a Igreja romana assevere quea leitura da Palavra Divina mais dainno que utili-dade resulta. Não se pôde imaginar maior insulto,lançado na face de Deus! Se a leitura da Bibliaque contem a doutrina de Jesus Christo e seusapóstolos, causa mais damno que utilidade, o quefará os sermões d'esses pregadores que sobem aopúlpito só para ostentarem a sua eloqüência, oupara advogarem causas particulares'? O que fará ossermões d'esses barbadinhos que nem sabem a lin-gua ern que pregam as suas doutrinai jesuiticas?

Ah! era necessário que a igreja se desviassemuito da verdade para avançar tal proposição.

Mas o que causa nojo e lepugnacia é ver alinguagem desabrida e insolente que os frades e oclero superior, pouco antes da reforma, usavampara redicularizar as Escrituras Sagradaá.

Os frades diziam a boca cheia que todas as he-resias provinham das linguas grega e hebraica por-que n'ellas fora escripta a Biblia. « O Novo Testa-mento » diziam elles, « é um livro de serpentes eespinhos. O hebraico meus caros irmãos, é certo quetodos aquelles -que o aprendem, tornam-se judéosno mesmo instante. »

Heresbach, amigo de Erasmo, escriptor respei-tavel refere o seguinte: Thomaz Linacer, sábio ecelebre ecclesiastico, nunca tinha lido o Novo Testa-mento. Em seus últimos momentos elle mandoubuscar um exemplar, mas ao lêr as primeiras pala-vras immediatamente o arrojou para longe de si,praguejando. As palavras que elle lera eram estas:« ilías eu vos digo que não jureis de maneira alguma, »

-e elle era um grande jurador. Depois.de atirar o

livro disse: Uu isto não é o Evangelho ou eniflonós não somos christaos.

O cardeal Bembus, encontrando um dia. o res-peitavel tíadoleto oecupado em uma traducção daepístola aos Romanos, disse-lhe: « Deixa essascriançadas: taes inepcias não são próprias de umhomem serio.

Hoje o clero não se atreve a usar de uma lin-guagem tão insolente, mas lança mão de um novoexpediente ainda melhor que é dizer que as Bibliasque os protestantes espalham são falsas. Ura nin-guem espalha Biblias entre o povo senão os protes-tantes e desacreditadas estas não ha mais medo de pe-rigo. Mas se as Biblias que os- protestantes espalhamsão falsas onde estão as verdadeira que a Igrejamanda distribuir.no meio do povo? Vendem-se e es-palham-se tantos bentinhos, tanta verônica, tantoslivrinhos de orações, tantas bulas, lamas indulgen-cias, tantos registros, c porque não se vendem tam-bem Biblias por preços módicos para que estejamao alcance de iodos V Os jesuitas que nu.-> vèin expotar-dos de Itália e de França vêm sempre carregados derozarios de Jerusalém, e de escapularios das dores edo carmo: trazem também grande sortimento dcmedalhas de todos os santos e santas da a) rte do cn.que tudo' vendem por bom preço : E porque é quenão trazem também o Evangelho de Jesus Christ"na lingua portugueza para que todas possam ler adoutrina que o Redemptor do mundo ensinou a seusdiscípulos ?

Ah ! elles são jesuitas, e sabem que na dissemi-nação das verdades evangélicas está a sua ruina esua morte, e por isso procuram todos os meios de asdestruir para se salvarem a si.

Não pôde haver pois reconciliação e harmonia en-tre a Palavra Divina e os jesuitas e ultramontanoselles vivem em manifesta contradicção e por isso aguerra contra a Biblia continuará.

Mas um dos dous contendedores terá da cahirmorto na luta porque as forças são muitos desiguaes.

E quem será o vencido ?A Biblia ?Não, porque ella é a palavra de Deus que não

pôde morrer, e ella tein já atravessado muitos se-culos e resistido a muitas guerras sem soffrer o me-nor detrimento.

Ficarão vencidos os inimigos delia ?Sim, porque elles são os missionários do erro, e

a luz da verdade os matará.

As indulgências.- Uma grande, agitação reinou entre o povo da

Allemanha durante os annos 1517 e 1518. A igreja'tinha aberto uin vasto mercado sobre a terra. Ao

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IMPRENSA EVANGÉLICA.

vêr a multidão de compradores, e ao ouvir os gri-tos e chocarrices dos vendedores, dir-se-hia que erauma feira: porém feira aberta pelos frades. A mer-cadoria que apregoavam, e que offereciam com aba-timento, era diziam elles, a salvação das almas.

Os mercadores percorriam aquelle paiz em bel-Ias carruag-ens, acompanhados de três lacaios, os-tentando grandeza e fazendo grandes gastos. Dir-se-hia que era algum cardeal viajando com sua

inquisidor, hcerelicce provilalis inquisitor, e com tudonao havia cessado, desde o anno de 1302. de excercero officio de vendedor de indulgências. A habilidadeque havia adquirido como subordinado o fez embreve ser nomeado commissario em chefe. Tinhade salário oitenta florius por mez; todas as suasdespezas eram pagas: e forneciam-lhe uma carrua-gem e três cavallos; porém fácil men te. se compre-hende que suas ganâncias accessorias excediam

comitiva e seus olficiaes, e não um vendedor vul-. muito ao seu salário.gar ou um frade mendicante. Quando o séquito seaproximava a uma cidade, um deputado se apre-sentava ao magistrado e lhe dizia : cc A. graça deDeus e a do santo padre estão diante, dc vossas portas. »Immediatamente

'tudo se punha em movimento. Oclero, os frades, as freiras, o conselho, os mestresde escola, os estudantes, as corporações de artistascom seus estandartes, homens e mulheres, moços ovelhos iam ao encontro dos vendedores, lendo nasmãos tochas accesas e caminhando ao som da mu-sica e de todos os sinos, « de maneira, » diz um Insto-riador, .c que não teriam podido receber mais es-plendidamente o mesmo Daus. » Peitas as primeirassaudações, todo o cortejo se dirigia para a igreja.A bulla da graça do pontífice ia na frente sobreuma almofada de veludo em um brocado. O chefedos vendedores de indulgências logo depois, levandonas mãos uma grande cruz vermelha de madeira.Toda a procissão caminhava do mesmo modo, nomeio dos cânticos, das orações e do vapor dos per-fumes. O som dos órgãos e uma musica estrepi-tosa recebiam no templo o frade vendedor e aquel-les que o acumpanhavani. A cruz que havia sidolevada era collocada diante d» altar: suspendiamnella a.s armas do papa, e'durante todo o tempoella abi permanecia, o corpo ecclesiastico do lugar,os penetenciarios e os subcommissarios vinham cadadia, depois das vésperas ou antes do angclus, ren-der-lhe homenagem, trazendo nas ihaos umas ben-galinhas brancas. Este grande acontecimento cau-sava uma profunda .sensação nas tranquillas cida-des germânicas.

Um personagem attrahia sobre tudo a attençãodos espectadores destas vendas. Era o que levavaa grande cruz vermelha, e que estava encarregadodo principal papel. Revestido do habito dos d°mi-nicanos, se apresentava com arrogância. Sua vozera retumbante, e parecia ainda vigorosa, postoque tives3e já os seus sessenta e três aúnos. Estehomem, filho de um ourives de Leipzig por nomeDiez, chamava-se João Tezel. Havia estudado emsua cidade natal, foi feito bacharel em 1487, e en-trou, dois annos depois, na ordem dos dominicanos.Reunia em si muitos títulos: bacharel em theolo-

Em 1507 ganhou em dous dias, em Freiberg,dous mil florins.

Se tinha oífleio de charlatão tinha lambem seusvicios.

Convencido, em I.ispruck, de adultério e de con--dueta depravada, esteve quasi a expiar seus crimescom a morte. O Imperador Maximiliano havia man-dado que o mettessem em um sacco e o lauçassemno rio. U eleitor Frederico de Saxonia interpôz suainflueilcia e lhe obteve o perdão. Porém a licaoque acabava de receber não lhe cleu mais pudor.

Trazia comsigo dous de seus filhos. Miltitz, le-gado do papa, cita este facto em uma de suas car-tas. Teria sido difficil encontrar em todos os con-ventos da Allemanha um homem mais próprio queaquelle para o commercio de que o haviam encar-regado. A' theologia de um frade, e á astucia deum inquisidor, reunia o mais consumado descara.mento; e o que lhe facilitava sobre tudo o de-sempenho de seu cargo, era a arte de inventar es-sas historias phantasticas com as quês captivava oespirito do povo. Todos os meios eram lícitos paraelle, conitanto que enchessem a sua caixa. Empo-lando a voz, e fazendo uso da eloqüência dos char-latães offerecia as suas indulgências a quantos ap-pareciam, e sabia, melhor do que nenhum negoci-ante de feira, fazer valer a. sua mercadoria.

Quando Tezel subia ao púlpito , mostrando 'a

cruz , na qual estavam suspensas as armas do papaprincipiava a exaltar, com um tom firme, o valordas indulgências á multidão que a cerimonia haviaattrahido ao santo lugar. O povo, o escutava , epasmado abria os olhos ao ouvir as admiráveis vir--tudes que elle annunciava. Diz um historiador Je-suita, fallando dos religiosos dominicanos associadoscom Tezel : « Alguns daquelles pregadores não seesqueceram , como de ordinário, de exagerar o as-sumpto de que tratavam, e de encarecer de talmaneira o preço das indulgências, que deram mo-tivo ao povo para crer que estavam seguros de suasalvação e do resgate das almas do purgatório nomesmo instante em que davam o dinheiro. » Setaes eram os discípulos , bem se pôde considerar oque seria o mestre. Escutemos uma das embrulha-

gia, prior dos dominicanos, commissario apostólico I das que elle pronunciou depois da elevação da cruz:

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« As indulgências , » disse Tezel, « são a dádivamais preciosa e mais sublime de Deus.

« Esta cruz (mostrando a cruz vermelha) temtanta efflcacia como a mesma cruz de Jesus Christo.

« Vinde, ouvintes, e eu vos darei cartas mu-nidas de sellos, pelas quaes mesmo os- peccados quetiverdes vontado de commetter no futuro vos serãotodos perdoados !!

cc Eu nao trocaria por certo os meus privile-gios pelos que tem S. Pedro no céo ; porque eutenho salvado mais almas com as minhas indul-gencias do que o apóstolo com os seus discursos!

« Nao ha peccado tão enorme, que a indul-

gencia não possa perdoar ; e mesmo se alguém, (oque é impossível sem duvida), houvesse violado a

pureza da Santíssima Virgem Maria , mãi de Deus.'

que pague, que pague bem somente , e isso lheserá perdoado ! !!

« Considerai portanto que por cada peccadomortal vos é necessário , depois da confissão e dacontricção fazer penitencia durante sete annos, quermesta vida , quer no purgatório: ora, quantos pec-cados mortaes não sao commettidos em um dia,

quantos numa semana, quantos em um mez, quantosn'um anno, quantos em toda vida!... Ah! essespeccados são quasi infinitos , e fazem soífrer umtormento infinito nas labaredas do purgatório ! Eagora, por meio d'estas cartas de indulgências , vós

podeis por uma vez na vossa vida, em todos oscasos , salvo quatro que são reservados á sé após-tolica, e depois na agonia da morte, obter uma

plena remissão de todas as vossas afflicções e detodos o.s vossos peccados !... »

{Continuo.)

IMPRENSA EVANGÉLICA.

Approximando-se do frade perguntou-lhe se elle tinhaa faculdade de perdoar os peccados que se tencio-navam commetter.

<c Infallivelmente, respondeu Tezel, « hei recebi-do do papa plenos poderes para isso. »

. Pois bem » continuou o cavalheiro, cc eu que-ria exercer uma pequena vingança sobre um dosmeus inimigos, sem prejudicar-lhe a vida. Dou-vos dezescudos se quizerdes entregar-me uma bulla de in-dulgencia que me justifique plenamente. Tezel pôzalgumas difficuldades; mas emfim concordaram nonegocio, mediante trinta escudos. Pouco depois sahiuo frade Tezel, de Leipzig.

O fidalgo acompanhado de seus criados, o espe-rou no caminho em um bosque entre .luterbock eTreblin; cahiu sobre elle, deu-lhe algumas caceta-das e lhe arrancou a preciosa caixa de indulgências.Tezel apregoou a violência, e levou sua queixa pe-rante os t.ribunaes.

Mas o fidalgo apresentou a bulla, firmada pelomesmo Tezel, que o isentava com anticipação detoda a pena.

O duque Jorg-e a quem esta acção irritou muitoa principio, mandou a vista daquella bulla que oaceusado fosse absolvido.

Variedade.F.. FEITO PRATICO DAS INDULGÊNCIAS.

Urn mineiro de Sclmeeburg encontrando um ven-dedor de indulgências, disse-lhe: « üever-se-ha crèro

que tendes, dito repetidas vezes acerca do poder daindulgência e da autoridade do papa; e acreditar

que, lançando-se um tostão na caixa, se pôde res-

gatar uma alma do purgatório?»O vendedor de indulgências assegurou-lhe que

sim. cc Ah ! continuou' o mineiro, que homem taocruel nao deve ser o papa; que deixa assim, porum miserável tostão, uma pobre alma arder tantotempo nas chamas ! Se elle nao tem dinheiro, queo tome emprestado algumas centenas de mil escudose que resgate de uma vez todas essas almas. Nósainda que pobres lhe pagaremos de boa vontade ocapital e os juros. »

Um . fidalgo saxonio, que tinha ouvido Tezel

pregar em Leipzig, ficou indignado de suas mentiras.

Os vendedores de indulgências liaviam-se esta-belecido em Haguenau em 1517. A mulher de umsapateiro, usando da faculdade que lhe concedia ainstruccão do commissario geral , havia compradocontra a vontade de seu marido, uma letra de in-dulgencia , pela qual pag-ou um florim em ouro.Morreu pouco depois. O marido, não tendo manda-do dizer missas pelo repouso da alma de sua mu-lher , foi aceusado pelo vigário de desprezar a religião , e o juiz de Haguenau o intimou a comparecerem sua presença. O sapateiro met teu no bolso aindulgência de sua mulher e apresentou-se na au-diencia.

u — Vossa mulher é morta ? perguntou-lhe ojuiz.

<c — Sim, respondeu o sapateiro.(( — E vós o que fizeste por ella ?« — Comprei uma sepultura para o seu corpo

e encommendei a sua alma a Deus. »« — Porém mandaste dizer uma missa para a

salvação de sua alma ?« — Tal nao fiz eu de modo nenhum ; era inu-

til ; pois cila entrou no céo no mesmo instante em

que morreu.« —" Como sabeis d'isso ?« — Tenho aqui a prova. » E ao dizer estas

palavras , tirou a indulgência do bolso ; e o juiz em

presença do vigário, leu n'ella entre outras pala-

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IMPRENSA EVANGÉLICA. 5vras, que a mulher que a tinha recebido não iriapara o purgatório quando morresse , ihps entrariadirectamente no céo.

« Se o Sr. vigário pretende que é ainda neces-saria uma missa « accresceutou o sapateiro , minhamulher foi enganada pelo nosso santíssimo padre opapa ; e se ella não o foi , então é o Sr. vigárioquem me engana. »

Não havia nada a responder ; e o aceusado foiabsolvido.

D'esta maneira o bom senso do povo fazia jus-tica a estas piedosas velhacarias.

Um dia em que Luthero se achava com Stran-pitz, vieram dizer-lhe que havia em Wurzen ummercador de indulgências chamado Tezel que faziagrande estrondo.

Citaram-lhe mesmo algumas de suas extrava-gantes palavras.

Luthero indignou-se e exclamou : « Se Deus opermittir, eu farei um buraco no seu pandeiro.

Um milagre «Ie Si. Pedro.Nenhuma religião pôde apresentar tanta evi-

dencia de sua divindade como a religião christãO seu nascimento foi cheio de prodígios e maravilhas: e cada um de seus propagadores, emborapobre e ignorante tinha o poder dn fazer milagres

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Jesus Christo admirou o muudo com suas obrasmaravilhosas; a morte, os elementos, os demôniose toda a natureza lhe obedeciam. A fama de seus

prodígios se espalhou por toda a parte de sorteque muitos se esforçavam para tocar-lhe ao menosna orla. de seu vestido na certeza de serem cura-dos de suas enfermidades.

O Salvador revestiu -os seus discípulos dosmesmos poderes para que ninguém podesse regeitaras suas palavras. Aos doze apóstolos elle disse:Curai os enfermos, resuscitai os mortos, alimpai osleprosos, expelli os demônios, e dai de graça oque de graça recebestes. Depois da ascenção doSenhor, os apóstolos exerciam por toda a parte estepoder. Eis um milagre operado por S. Pedro que anossa gravura representa.

S. Pedro e S. João iam ao templo para o exer-cicio de suas devoções á hora de Nòa, e entre a mui-tidão de pobres que se achava ahi para receberalguma esmola, estava um que era. aleijado desdeo ventre materno. Sem esperança de recuperar operdido, o assentavam á porta do templo chamadaEspeciosa para receber esmolas dos que por alliiam. Os seus olhos viram a Pedro e Joac que en-travam e como estes o olhassem elle estendeu a suamão esperando receber alguma cousa.

Mas o que podia elle receber de homens cujosbens já tinham abandonado por causa de Christo?

•« Prata nem ouro não tenho disse S. Pedro,mas o que tenho isso te dou : em nome de JesusChristo Nazareno levanta-te e anda. »

E tomando-o pela mão direita, o levantou, eno mesmo ponto foram consolidadas as bases dosseus pés, e as suas plantas.

O enfermo dando um salto se poz em pé, e entroucom piles no templo, andando e louvando a Deus.

A Esperança:

É difficil descrever devidamente esta insepara-vel companheira do infortúnio.

Aqueiles que durante o curso da vida só se tembalanceado no berço de rosas e flores, aquelles quesó tem tido prosperidade e fortuna em seus nego-cios, sem que nunca a roda do infortúnio os tenhavisitado, pouco ou nada podem dizer acerca da es.perança. Porém aquelles que só pela desgraça epela dòr são rodeados, aquelles que só pelo tra-balho e desgosto são acompanhados, podem maisclaramente revelar quanto ella é doce, affavel echeia de consolação. Camo a missão especial daesperança é tornar resignados os desditosos, ostristes e os cansados ; e animar os que trabalham,os que estudam e os que militam, promettendo-lhessempre bom resultado de seus esforços : pouco ellatem que fazer com aquelles a quem a venturanunca abandona, e a quem dia após dia, os fezsorrir no meio dos maiores encantos da vida.

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IMPRENSA EVANGÉLICA.

O homem que vê diariamente cumpridos todosos seus desejos e que tem a seu dispor tudo aquilloque lhe possa appetecer. não pôde apreciar tanto aconsoladora esperança como aquelle que trabalhadias, mezes e annos lutando com immensas diífl-culdades para obter aquillo que deseja sem muitasvezes pode-lo conseguir.

Os feitos mais notáveis dos homens mais ceie-bres do mundo nunca teriam sido realisados se nãofosse á esperança.

A esperança anima os homens a vencer comresolução os maiores trabalhos e dificuldades quepossam apparecer diante d'elles e se ella faltasse ellesnao dariam mais um só passo diante de uma barreiradificultosa. Ninguém senão ella pôde desempenharperfeitamente o seu lugar. O homem cahindo inva-lido no leito da dôr , a esperança vai logo fazer-lhecompanhia para anima-lo a esperar com mais resig-nação seu restabelecimento; e não o deixa senãodepois de recuperar o perdido.

É a esperança que o induz a passar por umadura e rigorosa dieta. E ella e só ella que pôdeinduzir o enfermo a deixar de comer aquillo que oappetite lhe pede e obriga-lo a tomar tão amargose repugnantes medicamentos. Se ella o abandonasse,quem preencheria seu lugar ? quem estaria de diae de noite ao pé de seu leito dizendo-lhe continua-mente que seu restabelecimento não tarda? quem oiuauziria a cumprir fielmente o regimen impostopela medicina para o bem de sua saúde ?

Ninguém! Se por accaso a esperança o aban-donasse. nem mais um medicamento levaria a seuslábios, cada dia lhe pareceria um século de tormen-tos, e seu desespero augmentaria tanto que nadalhe daria allivio senão aquillo, que desse fim aseus dias tristes.

Foi a esperança que moveu esses grandes in-ventores a sugeitarem-se aos mais árduos estudos,e ás mais difficeis provas, afim de obterem as boasdescobertas que tão úteis têm sido á humanidade.Póde-se dizer sem medo de errar que a esperançaé a locomotiva que conduz os homens ao progresso,e ao conhecimento de todas as sciencias. Se nãofosse a esperança Christovão Colombo nunca seaventuraria a sahir de Andaluzia para descobrir ogrande continente dAmerica; lá se deixaria ficarem Gênova, e talvez que até hoje o Novo Mundofosse ignorado! Se nao fosse 'a esperança o ricoproprietário nunca mandaria construir seu magni-fico palácio, nem ptantar seu bello jardim, contemtando-se antes em morar n'uma humilde choupana.Sem esperança o litterato nunca se sugeitaria aoima vida de continuo estudo e meditação, e secontentaria em viver ignorante. Finalmente sem es-perança o mundo inteiro viveria entregue á mais

completa indolência e a terra seria habitada só porselvagens. Se a esperança é quem nos consola eanima, se a ella é que devemos o não vivermosem uni estado inepto c ocioso: Quão preciosa nãoé a mesma esperança? Em que estado aiiarchiconão ficaria o mundo se a esperança fosse suspensada face da terra? a marcha do progresso e da ci-vilisaç.ão pararia logo para retroceder: e cm poucosdias o inundo perderia tudo aquillo que á seis milannos tem adquirido. O pobre que hoje alegreiríentetrabalha o dia inteiro debaixo de um sol abrazadorpara sustentar sua familia amanhã se deixaria ficarem casa entregue ao ócio, e com firme resuluçãode nunca mais voltar ao serviço.

O estudante que incansavelmente estuda noitee dia, amanhã deixaria de abrir os livros e conten-tar se-hia com o seu pouco saber. Que estado ãedecadência não seria este ! Os homens iriam poucoa pouco abandonando as cidades, e desaparecendoda sociedade para irem fazer companhia ás feras,ou alojar-se em algum lugar da terra onde a na-tureza lhes ministrasse o sustento sem trabalho.

Porém a esperança é sempre uma fiel compa-nheira, ou seja na adversidade ou na prosperidade,ella nunca nos abandona.

Aquelle mesmo que está condemnado a vivertoda a vida em uma masmorra, ella não desampara.

O ar, a luz podem ser impedidos de alli pene-trar mas não a esperança. Ella irresistivelmentedescerá com elle a esse lugar escuro para lhe servirde companhia, enxugar suas lagrimas animar seucoração e dizer-lhe de vez em quando, que algumdia elle obterá liberdade. Lm menino cego de nas-cencia cahindo no chão por artifico malefício de ou-tros meninos, que com elle brincavam quando selevantou disse:

u Quando eu tiver vista vós não me engauareismais. »

Oompassiva é a esperança, pois nem aquellescujos males são irremediáveis ella deixa de animar.Perrcorrendo o mundo inteiro em procura de umhomem plenamente satisfeito seria difícil encontra-lo. fim todos se veria um raio de esperança brilharsobre seus corações, apontando-lhes um gráo maiselevado, e elles todos solícitos querendo alcança-lo.

E se por acaso algum fosse encontrando semesperança, infeliz seria seu estado, pois já o viverlhe seria mais molesto que o morrer.

A esperança muitas vezes nos illude e nos faz

passar por muitos trabalhos e desgostos que nadanos aproveitam, neste mesmo caso, porém ella nos éútil; pois se nós perdêssemos a esperança de obteralguma cousa que desejamos ardentemente, nós des-faleceríamos ao nosso coração se encheria de tristeza.

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IMPRENSA EVANGÉLICA

.\tto scjnis sábios aos % ossos olhos.

Rom. 12: Ifi.

A presumpção é muitas vezes uma barreira in-transituvel que priva o homem de chegar ao lim a queaspira, e atíingiro alvo que tem em vista. Ella é umacompanheira inseparável do orgulho. Logo que ohomem-tem e.ste pernicioso vicio, presume muito desi e de suas prendas, julgando-se capaz de grandescousas e, apto para- tudo, sem muitas vezes nadacomprehender d'aquillo que tanto presume saber,e nada possuir (Laquillo que tanto se vangloria terA presumpção acarreta sobre o homem muitos inalese infortúnios que não lhes podem de todo serem des-conhecidos.

Fallaudo em matéria de sciencia e educação, apresumpção é um dos maiores estorvos e embaraçosque impedem o adiantamento na sciencia e o de-senvolvimento da educação, n homem presuinpçosopensa nada ignorar julga saber mais do que osoutros, e aiuda que a necessidade o estimule a pro-curar aprender aquillo-que lhe é útil e proveitoso emesmo indispensável, comtudo. somente para nãose. baixar ás explicações de outra pessoa mais bementendida na matéria, nem declarar-se ignorante einferior em conhecimentos a outrera,* elle não sesubmetto a ninguém, antes procura, aru-umentar comtoda a sorte de paralogismos afim de sustentar-sena posição em que tão arbitrariamente se collocou;vindo assim a conservar-se numa crassa ignorânciaou em medíocres e imperfeitos conhecimentos, jul-gando-se sábio a seus próprios olhos.

Ao primeiro golpe de vista descobre-se sensível-mente a ruina qne causa a presumpção e o amorpróprio. U homem cheio destes terríveis defeitos estáquasi inteiramente privado de progredir no minis-terio que tem a seu cargo e mesmo de de.sempe-nha-lo perfeitamente.

Quando S. Paulo admoestou o.s christãos em Romaque não fossem sábios a seus olhos, não tinha emvista dizer-lhes que esquecessem aquillo que tinhamaprendido, nem que deixassem de fazer uso de seusconhecimentos, e nem mesmo deixassem de mostrarsua sabedoria e illustraeão, em palavras, e em obrastodas as vezes que isso fosse necessário; porém tinhana mente induzi-los, a não prezumirem saber aquilloque não sabiam, nem vangloriarem-se de ter aquilloque não possuíam, e nem arrogarem-se de ser aquilloque verdadeiramente não eraiji. No iutroito de todasas carreiras da vida, aquella em que o homem estámais sujeito a ser pr-isurapçoso é o da carreira daslettras. Se o noviço escolar nao estivesse em diáriocontacto com seus mestres, e condiscipulos já maisadiantados, se nao estivesse constantemente medindomentalmente a grande distancia que tem de atra-

vessar para chegar á illustração daquelles com quemse vê em continuas relações, se nao tivesse emfimoutras fortes circumstancias que lhe mostrassem sen-sivelmeiite sua ignorância e incapacidade, seria regrageral que quando um moço principia seus estudosprincipia tambem a ser presumpçoso e a ter orgu-lho de sen saber.

Certo litterato quo completou o curso de philoso-phia em uma das universidades mais celebres daEuropa, dizia no seu primeiro anno d'estudo, quesabia tudo, no segundo anno que sabia alguma cou-sa no terceiro que não sabia nada.

A presumpção nunca concorre para o bem, emtodas condições da vida ella faz sempre mal. Navida social o homem que presume ter autoridade edomínio sobre seus semelhantes logo é odiado portodos, u próprio mecânico que presume saber suaarte com perfeição e se ostenta orgulhoso por isso,é tambem muito desapreciado e desagradável; e as-sim percorrendo gradualmente as classes da vidaserá fácil descobrir que a presumpção é nociva a to-das ellas.

Em matéria de religião a presumpção é incom-pativel com a humildade christã. O homem orgu-lhoso não pôde ter aquelles sentimentos nobres, nemas bellas qualidades, que destinguem os verdadeiroschristãos dos mais homens. O presumpçoso não pôdeexercer a mais bella das virtudes, a cc Caridade, »pois não pôde haver união entre a virtude e o vi-cio, e quem não tem caridade nao pôde verdadeira-mente ser christão porque o Christianismo é cari-dade.

\oticiario.

Contrabando singular.—Ao Diário de Pe-lotas escrevem de SanfAnna do Livramento :

cc E' tanto por aqui o contrabando, que chegamagora até a realizar-se casamentos por meio d'elle.

cc Ba um padre na Rivera que casa por umaonça , ao passo que os de SantAnna levam muitomais dinheiro.

cc Assim é que os noivos apromptam-se na villade SantAnna, são alli residentes e vão celebrar oacto do matrimônio na Rivera !

cc Veja até aonde chega isto !cc Não pense que só existe o coutrabando paracom as fazendas, e outros gêneros; não ha tam-

bem agora com os casamentos , e d'aqui a pouconão sei o que deixará de ser contrabandeado porestes lugares.cc É curioso isto que* lhe conto, e V., meu

amigo , deve publicar essas linhas. »Ordens religiosas na Allemanha.—Lê-se

uo Correio do Brazil de 28 de Dezembro :cc Se com effeito a idéa de Bismark é acabar

com os bons dos frades, a tarefa é mais difficil doque acabar com os communistas.

Segundo uma estatística publicada por um fa-moso canouista, o professor Schulte, consta que11a Prússia existem 97 ordens e congregações de

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homens (13 espécies differeutes) , eoiuprehendeiido1,069 indivíduos.

Notam-se entre ellas 11 collegios do jesuítascom 169 padres , e 5 conventos de redemptoristascom 69.

Na Baviera ha 71 mosteiros com 1,045 frades ,e em Hesse Darmstadt 4 com 29.

As ordens religiosas de mulheres possuem uaPrússia 626 estabelecimentos, em que se contém5,586 freiras, 1,800 mais do que existiam de 1858a 1865. As da Baviera têm 188 contentos , nos quaesvivem 2,533 pessoas.

As ordens de dominicanos , franciscanos , jesui-tas , redemptoristas , lazaristas , agostinhos e car-melitas obedecem a um superior italiano; têm su-periores fraucezes os trapistas (conventos em Colo-nia com 24 religiosos) e os padres de la Sulle (7conventos em Colônia e Tre ves com 34). A mesmacircumstancia se nota a respeito, dos conventos defreiras, como sejam as irmãs de S. Borromeu . asde Nossa Senhora, as do Bom Pastor . as da Pro-videncia, da Adoração Perpetua, e as filhas doSagrado Coração de Jesus.

Já se vê que ha muito aiuda para ceifar afimde que a colheita, produza bons resultados que seespera.

Talvez a Itália com suas novas medidas com-siga com mais brevidade o mesmo fim na própriacapital do orbe catholico. »

Fallecimento. — No dia 25 de Dezembro ,após uma violenta enfermidade , falleceu a Sra.D. Gervaria Nonesia Pires dos Santos Neves, espo-sa do Sr. Antônio José dos Sautos Neves. Não po-demos registrar este acontecimento sem nos sentir-mos magoados pela perca d'esta nossa irmã noSenhor.

A Sra. D. Gervasia havia professado já ha annosa sua fé em Jesus Christo . e sempre mostrou grandeinteresse pela doutrina d*aquelle Mestre Divino quelhe havia dado paz á sua alma.

Debaixo das torturas de uma doença consumi-dora , ella nem um gemido deu para exprimir suadôr, supportou toda a sua enfermidade com a maiorresignação , fazendo assim brilhar a sua fé no meiode tantos padecimentos.

Ella era a organista da Igreja Presbyteriana .e por muito tempo foi professora do Externato damesma Igreja.

Deus queira abençoar o seu esposo e suas filhaspara poderem resignarem-se a tão grande golpe.

Casamento, — No dia 22 de Dezembro , oRev. Sr. Dr. A. L. Blackford, pastor da Igreja Pres-.bytenana d'sta Corte, celebrou a cerimonia docasamento do Sr. Francisco da Cunha Leal com aSra. D. Maria Seabra.

Foram testemunhas do acto os Srs. Carlos JoãoChrysostomo da Silva Santos e José Francisco Corrêa.

t '"^ice. — Distribuímos com o presente numero,o índice da Imprensa Evangélica do anuo passado.

a Movo Mathusalém.— Sob o titulo — Macrubio,le-se no Jornal do Commercio do Rio:

«Um dos inspectores de quarteirão de Cabo Frio,membro da commissão recenseadora, nos communi-cou o seguinte caso de longevidade , que nos pa-rece verdadeiramente extraordinário.

_ « Vive no lugt.r denominado Restinga , d'estacidade, um homem muito pobre, chamado JoséMarins Coutinho, que nasceu em Saquarema aos20 de Maio de 1694, e que conta, por conseguinte'178 annos de idade !

Esse homemculdade.s mentaes , .¦ .-pernas.

Parece-ni'.' qu** dihouve ninguém q u.- a;Xo seu bom lemp inambuco . lu

iza ainda de todas as suas fa-iffre apenas de -aukilnkilose nas

ile Mi' li ;- ilein nunca¦•se u*ii*i ia! f. novidade !outiulio .-o..lati.i em Per-i-i-:i do. li ''i!anil<-/-.'.s . e-

ainda hoje relata com muita clareza os factos no-taveis dos reinados de 1). João V. , D. José e D.Maria I, de alguns dos quaes foi testemunha oceu-lar.

Sua descendência não conta menos de 294 pes-soas, sendo: 4*2 filhos, 123 netos, S6 bisnetos, 23tataranetos e 20 filhos destes.

José Marins Coutinho coutrahiu 6 matrimônios :

Emprego do phenol contra as bexigas.— Da PetUc Pressc, de Paris, de 8 de Abril do cor-rente anno , extrahimos o seguinte :

cc Julgamos prestar um verdadeiro serviço aosleitores apresentando-lhes o extracto seguinte, deuma carta que o Sr. Dr. Theophilo Desmartis diri-giil ao Pniple Français :

« Nossa experiência tem-nos provado que o Phc-noi Sodico Boboeuf applicado interna e externamenteé um poderoso antídoto da varíola, que considera-mos como o resultado de um miasma animado quese manifesta por meio das pústulas . as quaes con-tém muitos animalculos parasitas.cc O phenol exerce a sua acção destruindo essesparasitas contidos nos botões purulentos e assimevita o desenvolvimento da erysipela , sendo queesta já é constituída por um fermento mycetologico. »

<c Temos empregado o phuiol Bobneuf em po-mada 'com fio grammas de phenol para 30 gram-mas de banha) na varíola , e debaivo da sua in-fluencia antypiogenica a.s pústulas seccam rápida-mente sem deixar marcas Empregado internamenteem xarope, na dose de 12 a 15 grammas e mais,para meia garrafa de xarope simples ou de capilla-rea , de althéa ou de gomma. e administrado áscolheres de 3 ou de 4 em 4 horas , vem a ser umpoderoso modificado!- da varíola. »

A IMPRENSA EVANGÉLICAFOLHA RELIGIOSA

At»Miiíiiutiint-. .... 4$000 por anno.Publica-se nos primeiro e terceiro sabbados do cada

mez. — Assigna-se na Corte no escriptorio da Rcdacçao,u. II Travessa da barreira:— no escriptorio da typogra.phia Pe.scvcram.-a, rua <Iu Hospicio n. 01; ou por eartaíi ri-dacçâo, dirigida A caixa n. 254 do correi:* geral:—Para, na livraria dos Srs. Carlos Seidl A: Comp. ruaFormosa:— Lorena, em casa do Sr. Manoel José Car-neiro, Largo Imperial:— Sorocaba, cm casa do Sr. JoséAntônio de Souza Bertholdo, Pateo de S. Bento:—Caiupi-nas, no escriptorio da Gazeta de Campinas:—Brotas, cmcasa do llev. Sr. J. F. Dagama : — S. Paulo, em easa doSr. A. L. (iarraux., rua da Imperatriz ns. 38 c 40«—Bliia, em casa do Rev. F. J. C. Sclinelder, Ladeira dosAfflictos n. 21II: — Petropolis. em casa do Sr. CândidaJoaquim dc .Mesquita. íi rua da Princesa n.-4: —Em Iguape,em easa do Sr. .loaquim J sc dc Oliveira: —Campos, emcasa do Sr. JosC Beal: — Rio Grande do Sul, em casa daSr • Frederico 4 arlos da Cunha : — S. João lio Ilio Claro,cm casa di> Sr. üíatliias Tíixeira da Silva Pi ato, largo deRiachuelo.

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