ai flores, ai flores do verde pino levad’, amigo que...

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41 Cantigas de amigo Levad’, amigo que dormides as manhanas frias Levad’ 1 , amigo que dormides 2 as manhanas 3 frias; todalas 4 aves do mundo d’amor 5 diziam. Leda 6 mi and’ eu. Levad’, amigo que dormide-las frias manhanas; todalas aves do mundo d’amor cantavam. Leda m’ and’ eu. Todalas aves do mundo d’amor diziam: do meu amor e do voss’em ment’aviam 7 . Leda m’ and’ eu. Todalas aves do mundo d’amor cantavam: do meu amor e do voss’i enmentavam 8 . Leda m’ and’ eu. Do meu amor e do voss’em ment’aviam; vós lhi tolhestes 9 os ramos em que siiam 10 . Leda m’ and’ eu. Do meu amor e do voss’i enmentavam; vós lhi tolhestes os ramos em que pousavam. Leda m’ and’ eu. Vós lhi tolhestes os ramos em que siiam e lhis secastes as fontes em que beviam, Leda m’ and’ eu. Vós lhi tolhestes os ramos em que pousavam e lhis secastes as fontes u se banhavam. Leda m’ and’ eu. EDUCAÇÃO LITERÁRIA 1. Atente nas duas primeiras estrofes. Identifique o destinatário do sujeito lírico. 2. O sujeito de enunciação refere dois tempos distintos na relação amorosa. Partindo dos tempos verbais, identifique-os e descreva a situação vivenciada em cada um deles. 3. Interprete a metáfora associada à descrição da Natureza, referindo-se à sua evolu- ção ao longo da composição poética. 4. Justifique a utilização do imperativo nos versos iniciais dos dois primeiros dísticos. 5. Identifique a função sintática desempenhada por “amigo que dormides as manha- nas frias” (v. 1), e justifique a sua utilização. Leia a cantiga seguinte. 5 10 15 20 1 levantai-vos, erguei-vos do leito 2 dormis 3 manhãs 4 todas as 5 por amor 6 alegre, contente 7 em ment’aviam: tinham no pensamento 8 relembravam, aludiam a 9 tirastes 10 pousavam Nuno Fernandes Torneol, B 641/V 242. G BLOCO INFORMATIVO – pp. 319-321 PROFESSOR Áudio “Ai flores, ai flores do verde pino” Áudio “Levad’, amigo que dormides as manhanas frias” Educação Literária 14.2; 14.3; 14.4; 14.6; 14.7; 14.8; 14.9; 15.1; 16.1 Gramática 18.1. 1. O destinatário é o amigo. 2. O sujeito de enunciação refere-se a dois momentos vividos na relação amorosa: um primeiro, marcado pela utilização do pretérito imperfeito do indicativo, quando os apaixonados viveram um tempo de felicidade e harmonia; um segundo, associado à utilização do pretérito perfeito do indicativo, que marca uma quebra na situação anterior e aponta para um tempo de tristeza e de separação. 3. Na primeira parte da cantiga, as aves cantam o amor que une os apaixonados. Esta descrição de uma Natureza harmoniosa pode ser vista como uma metáfora do amor feliz e a própria presença das aves que cantam pode ser entendida como associada à primavera, também ela metaforicamente tempo dos amores felizes. Na segunda parte da composição, surge a referência aos ramos que o amigo partiu e às fontes que este secou, afastando as aves que cantavam. Este segundo momento, ao evoluir para uma Natureza mais triste, pode ser entendido como uma metáfora da separação e da tristeza que marca o fim do amor. 4. O imperativo é utilizado com valor de pedido pelo sujeito de enunciação, no sentido de solicitar ao amigo que parta. Este pedido justifica-se pelo facto de o amor ter acabado, sendo este o momento da separação. 5. Vocativo. Está ao serviço do caráter dialogal da cantiga e serve para invocar o amado, ou seja, responsabiliza o amigo pela situação vivida. 40 Poesia Trovadoresca Cantigas de amigo EDUCAÇÃO LITERÁRIA 1 pinheiro; 2 sabeis (subentende-se dizei-me antes de sabedes); 3 notícias; 4 e u é: e onde está?; 5 combinou; 6 são, saudável; 7 terminado 1. Indique o assunto desta cantiga, indentificando as vozes nela presentes. 1.1 Tendo em conta o assunto, proceda à divisão da cantiga em partes, justificando. 2. Explicite o papel desempenhado pela Natureza, referindo o recurso expressivo a ela associado. 3. Descreva o estado de espírito do sujeito de enunciação. 3.1 Identifique os recursos expressivos que estão ao serviço da transmissão desse es- tado de espírito. 4. Retire da cantiga um exemplo de paralelismo. 5. Faça a análise formal da cantiga, atendendo aos seguintes aspetos: · estrutura; · métrica; · esquema rimático. Leia expressivamente, após preparação prévia, a cantiga que se segue. − Ai flores, ai flores do verde pino 1 , se sabedes 2 novas 3 do meu amigo! Ai Deus, e u é 4 ? Ai flores, ai flores do verde ramo, se sabedes novas do meu amado! Ai Deus, e u é? Se sabedes novas do meu amigo, aquel que mentiu do que pôs 5 comigo! Ai Deus, e u é? Se sabedes novas do meu amado, aquel que mentiu do que mi á jurado! Ai Deus, e u é? [− Vós me preguntades polo voss’amigo, e eu bem vos digo que é san’ 6 vivo: Ai Deus, e u é?] Vós me preguntades polo voss’amado, e eu bem vos digo que é viv’e sano. Ai Deus, e u é? E eu bem vos digo que é san’e vivo e seera vosc’ant’o prazo saído 7 . Ai Deus, e u é? E eu bem vos digo que é viv’e sano e seera vosc’ant’o prazo passado. Ai Deus, e u é? Dom Dinis, B 568/V 171. 5 10 15 20 Ai flores, ai flores do verde pino PROFESSOR Apesar de o programa indicar a abordagem de 4 cantigas de amigo, apresentam-se 8 composições poéticas. Educação Literária 14.1; 14.2; 14.3; 14.4; 14.6; 14.7; 14.8; 14.9; 15.1; 16.1 1. O sujeito de enunciação dirige-se angustiadamente às “flores de verde pino”, perguntando pelo seu amigo, que tarda em comparecer ao encontro marcado. Estas respondem-lhe que o amigo está vivo e que, em breve, estará junto de si. 1.1 Esta cantiga divide-se em duas partes. Nas primeiras quatro coblas, o emissor é a amiga, que, preocupada, questiona as flores do verde pino sobre o seu amigo; as restantes coblas dizem respeito à segunda parte, onde consta a resposta dada pela Natureza, que a sossega, uma vez que o seu amigo está “viv’e sano” e em breve estará junto dela. 2. A Natureza, que surge personificada, assume o papel de confidente, não sendo meramente um cenário. 3. Além da desilusão, é evidente a angústia e o desespero da mulher perante a possibilidade de o amigo faltar ao combinado. 3.1 Para melhor traduzir o estado de espírito, são utilizadas a interjeição "ai", a repetição "ai flores", que sugere a aflição, e ainda a pergunta retórica "Ai Deus, e u é?", que tão bem evidencia o grau de incerteza e de preocupação da amiga quanto ao comparecimento do amigo. 4. Ao nível estrutural, surge, por exemplo, a repetição de "Ai flores, ai flores do verde pino” / “Ai flores, ai flores do verde ramo”; ao nível semântico, destaca- -se, nos segundos versos da 1. a e 2. a coblas, o recurso à sinonímia, pela substituição de "amigo" por "amado". 5. Cantiga paralelística, dialogada, constituída por 8 dísticos monórrimos, de decassílabos, na primeira parte, e hendecassílabos, na segunda, seguidos de refrão pentassílabo, segundo o esquema rimático: aa’R / bb’R / a’aR / b’bR / aa’R / bb’R / a’aR / b’bR.

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C a n t i g a s d e a m i g o

Levad’, amigo que dormides as manhanas frias

Levad’1, amigo que dormides2 as manhanas3 frias;todalas4 aves do mundo d’amor5 diziam. Leda6 mi and’ eu.

Levad’, amigo que dormide-las frias manhanas;todalas aves do mundo d’amor cantavam. Leda m’ and’ eu.

Todalas aves do mundo d’amor diziam:do meu amor e do voss’em ment’aviam7. Leda m’ and’ eu.

Todalas aves do mundo d’amor cantavam:do meu amor e do voss’i enmentavam8. Leda m’ and’ eu.

Do meu amor e do voss’em ment’aviam;vós lhi tolhestes9 os ramos em que siiam10. Leda m’ and’ eu.

Do meu amor e do voss’i enmentavam;vós lhi tolhestes os ramos em que pousavam. Leda m’ and’ eu.

Vós lhi tolhestes os ramos em que siiame lhis secastes as fontes em que beviam, Leda m’ and’ eu.

Vós lhi tolhestes os ramos em que pousavame lhis secastes as fontes u se banhavam. Leda m’ and’ eu.

E D U C A Ç Ã O L I T E R Á R I A

1. Atente nas duas primeiras estrofes. Identifique o destinatário do sujeito lírico.

2. O sujeito de enunciação refere dois tempos distintos na relação amorosa. Partindo dos tempos verbais, identifique-os e descreva a situação vivenciada em cada um deles.

3. Interprete a metáfora associada à descrição da Natureza, referindo-se à sua evolu-ção ao longo da composição poética.

4. Justifique a utilização do imperativo nos versos iniciais dos dois primeiros dísticos.

5. Identifique a função sintática desempenhada por “amigo que dormides as manha-nas frias” (v. 1), e justifique a sua utilização.

Leia a cantiga seguinte.

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1 levantai-vos, erguei-vos do leito2 dormis3 manhãs4 todas as5 por amor6 alegre, contente7 em ment’aviam: tinham no

pensamento8 relembravam, aludiam a 9 tirastes10 pousavam

Nuno Fernandes Torneol, B 641/V 242.

G

BLOCO INFORMATIVO – pp. 319-321

P R O F E S S O R

Áudio “Ai flores, ai flores do verde pino”

Áudio “Levad’, amigo que dormides as manhanas frias”

Educação Literária 14.2; 14.3; 14.4; 14.6; 14.7; 14.8; 14.9; 15.1; 16.1

Gramática 18.1.

1. O destinatário é o amigo. 2. O sujeito de enunciação refere-se a dois momentos vividos na relação amorosa: um primeiro, marcado pela utilização do pretérito imperfeito do indicativo, quando os apaixonados viveram um tempo de felicidade e harmonia; um segundo, associado à utilização do pretérito perfeito do indicativo, que marca uma quebra na situação anterior e aponta para um tempo de tristeza e de separação.3. Na primeira parte da cantiga, as aves cantam o amor que une os apaixonados. Esta descrição de uma Natureza harmoniosa pode ser vista como uma metáfora do amor feliz e a própria presença das aves que cantam pode ser entendida como associada à primavera, também ela metaforicamente tempo dos amores felizes. Na segunda parte da composição, surge a referência aos ramos que o amigo partiu e às fontes que este secou, afastando as aves que cantavam. Este segundo momento, ao evoluir para uma Natureza mais triste, pode ser entendido como uma metáfora da separação e da tristeza que marca o fim do amor.4. O imperativo é utilizado com valor de pedido pelo sujeito de enunciação, no sentido de solicitar ao amigo que parta. Este pedido justifica-se pelo facto de o amor ter acabado, sendo este o momento da separação.5. Vocativo. Está ao serviço do caráter dialogal da cantiga e serve para invocar o amado, ou seja, responsabiliza o amigo pela situação vivida.

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P o e s i a T r o v a d o r e s c a

C a n t i g a s d e a m i g o

E D U C A Ç Ã O L I T E R Á R I A

1 pinheiro; 2 sabeis (subentende-se dizei-me antes de sabedes); 3 notícias; 4 e u é: e onde está?; 5 combinou; 6 são, saudável; 7 terminado

1. Indique o assunto desta cantiga, indentificando as vozes nela presentes.

1.1 Tendo em conta o assunto, proceda à divisão da cantiga em partes, justificando.

2. Explicite o papel desempenhado pela Natureza, referindo o recurso expressivo a ela associado.

3. Descreva o estado de espírito do sujeito de enunciação.

3.1 Identifique os recursos expressivos que estão ao serviço da transmissão desse es-tado de espírito.

4. Retire da cantiga um exemplo de paralelismo.

5. Faça a análise formal da cantiga, atendendo aos seguintes aspetos:

· estrutura; · métrica; · esquema rimático.

Leia expressivamente, após preparação prévia, a cantiga que se segue.

− Ai flores, ai flores do verde pino1,se sabedes2 novas3 do meu amigo! Ai Deus, e u é4?

Ai flores, ai flores do verde ramo,se sabedes novas do meu amado! Ai Deus, e u é?

Se sabedes novas do meu amigo,aquel que mentiu do que pôs5 comigo! Ai Deus, e u é?

Se sabedes novas do meu amado, aquel que mentiu do que mi á jurado! Ai Deus, e u é?

[− Vós me preguntades polo voss’amigo,e eu bem vos digo que é san’6 vivo: Ai Deus, e u é?]

Vós me preguntades polo voss’amado,e eu bem vos digo que é viv’ e sano. Ai Deus, e u é?

E eu bem vos digo que é san’e vivoe seera vosc’ant’o prazo saído7. Ai Deus, e u é?

E eu bem vos digo que é viv’e sanoe seera vosc’ant’o prazo passado. Ai Deus, e u é?

Dom Dinis, B 568/V 171.

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Ai flores, ai flores do verde pino

P R O F E S S O R

Apesar de o programa indicar a abordagem de 4 cantigas de amigo, apresentam-se 8 composições poéticas.

Educação Literária 14.1; 14.2; 14.3; 14.4; 14.6; 14.7; 14.8; 14.9; 15.1; 16.1

1. O sujeito de enunciação dirige-se angustiadamente às “flores de verde pino”, perguntando pelo seu amigo, que tarda em comparecer ao encontro marcado. Estas respondem-lhe que o amigo está vivo e que, em breve, estará junto de si.1.1 Esta cantiga divide-se em duas partes. Nas primeiras quatro coblas, o emissor é a amiga, que, preocupada, questiona as flores do verde pino sobre o seu amigo; as restantes coblas dizem respeito à segunda parte, onde consta a resposta dada pela Natureza, que a sossega, uma vez que o seu amigo está “viv’e sano” e em breve estará junto dela.2. A Natureza, que surge personificada, assume o papel de confidente, não sendo meramente um cenário.3. Além da desilusão, é evidente a angústia e o desespero da mulher perante a possibilidade de o amigo faltar ao combinado.3.1 Para melhor traduzir o estado de espírito, são utilizadas a interjeição "ai", a repetição "ai flores", que sugere a aflição, e ainda a pergunta retórica "Ai Deus, e u é?", que tão bem evidencia o grau de incerteza e de preocupação da amiga quanto ao comparecimento do amigo.4. Ao nível estrutural, surge, por exemplo, a repetição de "Ai flores, ai flores do verde pino” / “Ai flores, ai flores do verde ramo”; ao nível semântico, destaca- -se, nos segundos versos da 1.a e 2.a coblas, o recurso à sinonímia, pela substituição de "amigo" por "amado".5. Cantiga paralelística, dialogada, constituída por 8 dísticos monórrimos, de decassílabos, na primeira parte, e hendecassílabos, na segunda, seguidos de refrão pentassílabo, segundo o esquema rimático: aa’R / bb’R / a’aR / b’bR / aa’R / bb’R / a’aR / b’bR.

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R i m a s

A r e p r e s e n t a ç ã o d a a m a d a

E X P R E S S Ã O O R A L

A representação da mulher tem sido um tópico constante nas manifestações artísticas.

Visione uma reportagem sobre a obra de Pinar Yolaçan, uma artista turca, que tem tratado em fotografia o tema da mulher, encarada com naturalidade e realismo.

Apresente uma apreciação crítica da reportagem dedicada à obra de Pinar Yolaçan, referindo:

• o tema central da reportagem;

• a informação significativa;

• a relação entre os dados biográficos da autora e as suas opções artísticas;

• a adequação da seleção de imagens como forma de ilustrar a perspetiva de Pinar Yolaçan;

• os modelos de mulher explorados pela fotógrafa e as intenções subjacentes ao seu trabalho.

A apresentação crítica deverá ter uma duração de 2 a 4 minutos.

BLOCO INFORMATIVO – p. 331 MANUAL – p. 88

As Mulheres (2014), Pinar Yolaçan.

P R O F E S S O R

6. A beleza de Leonor é descrita a partir da conjugação de elementos petrarquista, como as mãos de prata ou os cabelos de ouro, e a descrição dos elementos físicos associados ao seu vestuário, que aponta a origem campesina da mulher, e ainda a comparação com elementos da Natureza (“mais branca que a neve pura”).7.1 Trata-se de um vilancete, composto por um mote de três versos e duas voltas de sete versos cada. 7.2 O poema está construído em redondilha maior (“Des/cal/ça /vai/pa/ra a/ fon/ [te]”. O esquema rimático é emparelhado no mote (abb) e emparelhado e interpolado nas voltas (cddccee fggffee).

Oralidade 5.1; 5.3; 6.1; 6.2; 6.3

Vídeo As Mulheres de Pinar Yolaçan

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L u í s d e C a m õ e s

E D U C A Ç Ã O L I T E R Á R I A

Descalça vai para a fonte

a este mote:

Descalça vai para a fonteLeanor pela verdura;Vai fermosa e não segura.

voltas

Leva na cabeça o pote,o testo nas mãos de prata,cinta de fina escarlata1,saínho2 de chamalote3,traz a vasquinha de cote4,mais branca que a neve pura;vai fermosa, e não segura.

Descobre a touca a garganta,cabelos d’ouro o trançado,fita de cor d’encarnado,tão linda que o mundo espanta;chove nela graça tantaque dá graça à fermosura;vai fermosa, e não segura.

Luís de Camões, Rimas. Texto estabelecido e prefaciado por Álvaro J. da Costa Pimpão, Coimbra, Almedina, 2005 [1994], pp. 55 e 56.

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A r e p r e s e n t a ç ã o d a a m a d a

1 cor vermelha viva, tecido que tem essa cor

2 veste sem mangas de formato redondo e sem abas

3 tecido de lã ou pelo, geralmente com seda

4 casaco curto e muito justo ao corpo de uso diário

1. Refira os elementos mobilizados para a caracterização da figura feminina, referin-

do, ainda, a condição social da Leonor.

2. Atente no cromatismo presente no poema.

Refira as cores selecionadas, associando-as a traços caracterizadores da mulher.

3. Refira três recursos colocados ao serviço da caracterização de Leonor, referindo a sua expressividade no poema.

4. Interprete o significado da expressão “chove nela graça tanta / que dá graça à fer-mosura”. (vv. 12 e 13)

5. Apresente uma proposta de interpretação para o verso “vai fermosa, e não segura”.

6. Comprove que o retrato de Leonor resulta da conjugação de elementos petrarquis-tas com elementos campesinos.

7. Este poema integra as redondilhas camonianas.

7.1 Identifique o subgénero a que pertence.

7.2 Classifique o tipo de redondilha bem como o esquema rimático presentes no poema.

P R O F E S S O R

Educação Literária 14.2; 14.3; 14.4; 14.8; 14.9; 16.2

1. Para caracterizar a mulher, são referidos elementos físicos (mão, tez, cabelo, pés), peças de vestuário (cinta, saínho, vasquinha, touca, fita) e a atividade que ela desenvolve (ir buscar água à fonte). Trata-se de uma mulher do mundo rural, pertencente ao povo, o que se conclui pela atividade que executa (ir buscar água à fonte) e pelo vestuário.2. São referidas as seguintes cores: branco (associado à sua pureza), a cor de prata e de ouro (associadas à sua preciosidade) e o vermelho (que remete para um traço de sensualidade da mulher). 3. Por exemplo, metáfora (“mãos de prata” (v. 2) ou “cabelos d’ouro”, v. 9), que aponta para a cor dos elementos físicos (brancura ou louro) e para a preciosidade / raridade destes traços; a comparação (“mais branca que a neve pura”, v. 6), que permite realçar a brancura da tez da mulher, superior à brancura natural da neve; a hipérbole (“tão linda que o mundo espanta”, v. 11), que destaca a beleza rara e quase inumana da mulher.4. O sujeito lírico destaca, por meio de uma metáfora (“chove nela graça tanta”, v. 12), a perfeição e a beleza da mulher, concluindo que esta acrescenta beleza à própria formosura, ultrapassando o próprio modelo de beleza. 5. A mulher exibe a sua beleza, mas esta formosura traz-lhe insegurança, uma vez que ela está mais exposta ao amor.

Portugues10.indb 178 16/03/15 22:33

Fa r s a d e I n ê s P e r e i ra

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Observe atentamente a pintura de Giorgione, pintor renascentista italiano.

A tempestade, c. 1508, Giorgione (c. 1478-1510), Gallerie dell'Accademia, Veneza.

1. Elabore um texto de apreciação crítica, com 120 a 150 palavras, baseando-se na imagem e nos tópicos abaixo elencados:

a. Estrutura tripartida do texto:

• Introdução: descrição sucinta do objeto.

• Desenvolvimento: opinião pessoal sobre a obra (comentário crítico, valorativo ou depreciativo, recorrendo a dois argumentos, devidamente exemplificados).

• Conclusão: fecho do texto e reforço da posição pessoal.

b. Redação clara e objetiva, respeitando os mecanismos de coesão e coerência textual.

c. Utilização de vocabulário adequado e diversificado. BLOCO INFORMATIVO – p. 331

MANUAL – p. 88 CADERNO DO ALUNO – p. 49

E S C R I T A

P R O F E S S O R

Escrita 11.1; 10.2; 12.1; 12.2; 12.3; 12.4

Resposta de caráter pessoal.

Portugues10.indb 137 16/03/15 22:33

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G i l V i c e n t e

O cinema, tal como o teatro, é uma arte que cria formas de representação e de (des)cons-trução da realidade. Proceda à leitura do seguinte artigo de apreciação crítica sobre

uma adaptação da obra homónima de José Saramago.

“Não é nenhuma obra-prima, mas pode entretê-lo durante uma hora e meia”. A frase é tirada de O Homem Duplicado, o próprio livro de José Saramago, e é dirigida

à sua personagem, o soturno professor de História Tertuliano Máximo Afonso, por um colega de trabalho. Seria de enorme crueldade revertê-la contra a adaptação ao cinema do romance, feita pelo canadiano Denis Villeneuve. Uma injustiça, não por faltar à verda-de, mas por ser maliciosamente incompleta. As obras-primas rareiam por natureza, e um filme pode ser muito bom sem alcançar tal patamar, e proporcionarmo-nos uma hora e meia bem passada não é defeito. A questão é que o filme, efetivamente, vai além disso. Se não é a melhor adaptação de sempre de um livro do Nobel português, é pelo menos a mais fascinante.

Convenhamos que, na verdade, as adaptações não foram assim tantas. […]Este O Homem Duplicado, que não é uma obra-prima, mas uma hora e meia bem passa-

da no cinema, tem a vantagem, logo à partida, de fazer uma distinção clara entre o objeto--filme e o objeto-livro. Baseia-se, inspira-se em, numa fase preliminar, mas logo se afasta, entendendo bem a distinção entre os formatos e a sua existência autónoma. Não está lá a escrita de Saramago nem tinha que estar. Não se julgue que Denis Villeneuve transformou O Homem Duplicado (que tem um título mais pobre em inglês, Enemy) num thriller, no fa-tídico destino de um homem que anda à caça de si próprio ou do “outro que era eu”, como diria Ruben A. Faz algo diferente, sem intuitos megalómanos ou de block-buster. Deixa de lado grande parte do poder reflexivo do romance e adquire uma outra dimensão, que torna o plano filosófico, existencial, mais palpável e deixa mesmo a porta escancarada para a in-terpretação psicótica, alucinogénia. Cria, ou adensa, os traços psicológicos do consciente e subconsciente, na busca de um outro, que na verdade é o mesmo, não se encontrando necessariamente no exterior, mas em si próprio. […]

JL, Jornal de Letras, Artes e Ideias, n.o 1140, de 11 a 24 de junho de 2014, p. 25.

1. Identifique o objeto comentado e apreciado.

2. Destaque do texto três frases reveladoras da opinião do autor sobre o filme.

3. Indique dois argumentos que sustentam a posição do autor deste artigo.

4. Complete a seguinte afirmação, no seu caderno, selecionando o vocábulo adequado.

L E I T U R A

5

10

15

20

O Homem Duplicado, de Denis VilleneuveO outro que era eu que era ele

Por Manuel Halpern

• pormenorizada

• valorativa

• imparcial

• conjetura

• sucinta

• exemplos

• argumentos

Num texto de apreciação crítica faz-se uma exposição a.__________ de um filme, disco, peça de teatro... Procede-se à apresentação b. __________ do objeto ou produto bem como dos c. __________ que validam a posição do autor.

P R O F E S S O R

Leitura 7.1; 7.6; 8.1; 8.2

1. O artigo faz uma apreciação crítica do filme O Homem Duplicado, baseado na obra homónima de José Saramago.2. (1) “A questão é que o filme, efetivamente, vai além disso. Se não é a melhor adaptação de sempre de um livro do Nobel português, é pelo menos a mais fascinante”; (2) “não é uma obra-prima, mas uma hora e meia bem passada no cinema”; (3) “[…] mas logo se afasta, entendendo bem a distinção entre os formatos e a sua existência autónoma.”3. Um dos argumentos prende-se com o facto de o filme não misturar a linguagem verbal com a cinematográfica e não tentar seguir a par e passo a obra. Por outro lado, esquece o caráter reflexivo do livro, substituindo-o por um adensamento quer do consciente quer do subconsciente e a sua implicação na busca da identidade. 4. a. valorativa. b. sucinta. c. argumentos.

Portugues10.indb 136 16/03/15 22:33