agroindustrialização
TRANSCRIPT
-
FACULDADE HORIZONTINA
CURSO DE CINCIAS ECONMICAS
DINARA LAS BORTOLUZZI
AGROINDSTRIA FAMILIAR RURAL E DESENVOLVIMENTO
ECONMICO: UM ESTUDO NO MUNICPIO DE DOUTOR MAURCIO
CARDOSO/RS
Orientadora: Me. Jaqueline Primo Nogueira de S
Coorientadora: Dra. Janete Stoffel
Horizontina
2013
-
DINARA LAS BORTOLUZZI
AGROINDSTRIA FAMILIAR RURAL E DESENVOLVIMENTO ECONMICO: UM
ESTUDO NO MUNICPIO DE DOUTOR MAURCIO CARDOSO/RS
Trabalho Final de Curso apresentado como
requisito para a obteno do ttulo de Bacharel
em Cincias Econmicas, pelo Curso de Cincias
Econmicas da Faculdade Horizontina.
Orientadora: Me. Jaqueline Primo Nogueira de S
Coorientadora: Dra. Janete Stoffel
Horizontina
2013
-
FACULDADE HORIZONTINA
CURSO DE CINCIAS ECONMICAS
A Comisso Examinadora, abaixo assinada, aprova a monografia:
AGROINDSTRIA FAMILIAR RURAL E DESENVOLVIMENTO ECONMICO: UM
ESTUDO NO MUNICPIO DE DOUTOR MAURCIO CARDOSO/RS
Elaborada por:
Dinara Las Bortoluzzi
Como requisito para a obteno do grau de Bacharel em
Cincias Econmicas
Aprovado em: 06/12/2013 Pela Comisso Examinadora
________________________________________________________ Me. Jaqueline Primo Nogueira de S
Presidente da Comisso Examinadora Orientadora
_______________________________________________________ Me. Vonia Engel
FAHOR Faculdade Horizontina
______________________________________________________ Especialista Tiago Neu Jardim
FAHOR Faculdade Horizontina
Horizontina
2013
-
Dedico este trabalho ao meu marido Guilherme
e a meus pais, Valmir e Leonice, que sempre
estiveram ao meu lado, me apoiando e
ajudando a superar os obstculos.
-
Agradeo a Deus pela vida e pela conquista de
mais um passo em minha caminhada. Por Ele
iluminar meu caminho, meus dias e por orientar
meus pensamentos. Agradeo aos familiares e
amigos pela compreenso, apoio e carinho.
-
Quem no luta pelo destino que quer, deve
aceitar o futuro que vier. (Annimo)
-
RESUMO
Esta pesquisa buscou analisar a contribuio das agroindstrias familiares rurais no municpio de Doutor Maurcio Cardoso, RS, promovendo o desenvolvimento local. A partir dos anos 1980, comearam a surgir grupos de agricultores familiares que passaram a procurar novas alternativas de produo. Dentre as alternativas, que os agricultores familiares encontraram para melhorar suas condies de vida, uma foi a agroindustrializao da produo agropecuria. As agroindstrias surgem para agregar valor ao produto, aumentando a renda recebida pelo produtor. Para atingir o objetivo proposto, realizou-se uma pesquisa com as agroindstrias familiares rurais existentes em Doutor Maurcio Cardoso, RS. Atravs da pesquisa realizada, pode-se inferir que o papel das agroindstrias familiares rurais de fundamental importncia para o municpio e regio onde esto instaladas, visto que as mesmas propiciam aos produtores rurais melhora na renda, no emprego e na qualidade de vida. Tambm, as agroindstrias familiares rurais de Doutor Maurcio Cardoso so relativamente recentes, pois suas iniciativas no ultrapassam 10 anos, sendo suas vendas registradas principalmente atravs do bloco de produtor rural e de cooperativa. Em relao renda dos produtores rurais, percebe-se o aumento aps a criao das agroindstrias. A melhora nas condies financeiras dos produtores, o aumento do PIB municipal e a arrecadao do municpio, so condies a serem analisadas pelos administradores municipais para incentivar a criao de agroindstrias no municpio e, tambm, a permanncia da populao jovem em Doutor Maurcio Cardoso, visto que ao se criar condies de emprego e renda no local, estes podem permanecer e empreender no municpio. Palavras-chave: Agroindstria familiar rural. Desenvolvimento econmico. ndice de Desenvolvimento Humano (IDH).
-
ABSTRACT
This research aimed to analyze the role of rural family agribusiness in the city of Dr. Mauricio Cardoso, RS, promoting local development. Since 1980s, it started to emerge groups of farmers who began searching for new production alternatives. Among these alternatives it was agro-industrialization of agricultural production. Agribusinesses appear to add value to the product, increasing the income received by the producer. To reach the paper goal, it was carried out a survey with some of the rural family agribusinesses. It was possibly to infer that the role of rural family agribusiness is very important for the city and region where they are installed. They also provide better conditions to farmers improving their income, employment and quality of life. The rural family agribusinesses from Dr. Mauricio Cardoso are relatively recent, because their efforts do not exceed 10 years. Their sales are recorded mainly through block farmer and cooperative. The improvement in the financial conditions of the producers, the increase in the GNP of the city and the raised in collection of taxes need to be analyzed by district administrators to encourage the establishment of agro-industries in the county. Creating conditions of local employment and income could encourage the permanence of young population in Dr. Mauricio Cardoso and, at the same time, the entrepreneurship in the county side. Key-words: Rural Family Agribusiness. Economic development. Human Development Index.
-
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Mapa dos municpios do COREDE Fronteira Noroeste ............................. 58
Figura 2: Populao de Doutor Maurcio Cardoso em 2010 ..................................... 60
Figura 3: Valor Adicionado Bruto de Doutor Maurcio Cardoso em 2010 .................. 62
Figura 4: Evoluo do Valor Adicionado Bruto de Doutor Maurcio Cardoso de 2001
a 2010 ....................................................................................................... 63
Figura 5: IDHM municipal por dimenso ................................................................... 64
Figura 6: Mapa de Doutor Maurcio Cardoso, RS e a localizao das agroindstrias
.................................................................................................................. 66
Figura 7: Tempo de existncia das agroindstrias familiares rurais de Doutor
Maurcio Cardoso, RS ............................................................................... 67
Figura 8: Nmero de famlias atuando diretamente nas agroindstrias .................... 68
Figura 9: Idade do produtor/responsvel pela agroindstria ..................................... 68
Figura 10: Escolaridade dos produtores e colaboradores das agroindstrias ........... 69
Figura 11: Destino da produo das agroindstrias .................................................. 70
Figura 12: Rendimento mdio mensal antes e depois da constituio da
agroindstria ............................................................................................. 71
Figura 13: Faixa etria e sexo da populao de Doutor Maurcio Cardoso, RS em
2011 .......................................................................................................... 73
-
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 Especificidades dos processos produtivos ............................................. 48
Quadro 2 Especificidades da produo .................................................................. 49
Quadro 3 Estratgias de comercializao .............................................................. 50
Quadro 4 - Normas para construo de agroindstrias ............................................. 53
-
SUMRIO
INTRODUO ................................................................................................. 12
1 AGROINDSTRIA FAMILIAR RURAL E DESENVOLVIMENTO
ECONMICO ................................................................................................... 16
1.1 DESENVOLVIMENTO E CRESCIMENTO ECONMICO ......................... 16
1.1.1 Indicadores de desenvolvimento e crescimento econmico .......... 24
1.1.2 O papel da indstria e da agricultura no desenvolvimento
econmico ...................................................................................................... 31
1.2 A AGRICULTURA E O SETOR AGROINDUSTRIAL ................................. 37
1.2.1 Agroindstria familiar rural ................................................................. 42
1.2.2 Especificaes do produto e da atividade agroindustrial ................ 47
2 METODOLOGIA .......................................................................................... 55
3 APRESENTAO E ANLISE DOS RESULTADOS ................................. 57
3.1 CARACTERIZAO DE DOUTOR MAURCIO CARDOSO, RS ............... 57
3.2 AGROINDSTRIAS FAMILIARES RURAIS DE DOUTOR MAURCIO
CARDOSO, RS ................................................................................................ 65
3.3 ANLISE DOS RESULTADOS .................................................................. 74
CONSIDERAES FINAIS ............................................................................. 77
REFERNCIAS ................................................................................................ 80
APNDICE 1 .................................................................................................... 86
APNDICE 2 .................................................................................................... 90
-
12
INTRODUO
A agricultura dependente do que acontece na economia mundial como um
todo. As principais transformaes ocorridas na agricultura mundial tiveram incio
com a Revoluo Verde1, iniciada aps o fim da Segunda Guerra Mundial, e seguiu
com as transformaes mais recentes, em curso a partir do incio dos anos de1990,
marcada pela globalizao econmica e pela constituio de grandes empresas,
agroindstrias e varejistas, que controlam o mercado mundial (NUNES, 2007).
O processo de modernizao da agricultura, implementado nas dcadas de
1960 e 1970, gerou novas formas de organizao da produo, onde promoveu o
aumento na produo de gros (PERES et. al., 2009). Com base nos princpios da
Revoluo Verde, ao longo das ltimas dcadas, na economia mundial, os sistemas
produtivos agrcolas sofreram alteraes importantes. Seus reflexos estiveram
presentes em vrios pases, medida que se alcanavam ganhos de produtividade
via incorporao de novos fatores de produo, tais como o uso de sementes
melhoradas, adubos qumicos, agrotxicos e maquinaria agrcola (TEDESCO, 1999).
A partir dos anos de 1980, comearam a surgir grupos de agricultores
familiares que passaram a procurar novas alternativas. Essas corresponderam ao
desenvolvimento de estratgias de reproduo social, pautadas nas potencialidades
endgenas e na realidade vivenciada pelo grupo familiar, diversificando a produo,
atravs da implantao de pomares de frutferas, bovinocultura de leite, horticultura,
entre outros (PERES et. al., 2009).
Dentre as alternativas, que os agricultores familiares encontraram para
melhorar suas condies de vida, uma foi a agroindustrializao da produo
agropecuria. Peres et. al. (2009) diz que a industrializao dos produtos
agropecurios uma alternativa para a sustentabilidade da agricultura familiar.
A partir dos anos de 1990, acompanhou-se uma exploso do surgimento de
agroindstrias que no nasceram mais com o objetivo de industrializar a produo
excedente nem de ser uma das receitas da propriedade familiar rural, mas como a
principal fonte de renda e estratgia da propriedade familiar rural (PERES et. al.,
1 Revoluo Verde refere-se ao enorme aumento de rendimento de certos cereais nas dcadas de
60 e 70, graas ao desenvolvimento de variedades modernas e variedades de alto rendimento (NORTH, 2006, p. 26).
-
13
2009). Assim, e tambm com a expanso da produo industrial, a agricultura
deixou de ser um setor econmico distinto, passando a se integrar dinmica da
produo industrial, no que ficou conhecido como agroindustrializao (TEDESCO,
1999).
A agroindustrializao se estabelece como um fomentador do
desenvolvimento econmico brasileiro e gacho. A agroindstria familiar rural traz
melhorias no meio rural, pois amplia a renda, gera empregos e ajuda na
permanncia do homem no campo, principalmente os filhos dos agricultores, que
antes viam dificuldades para permanecer no campo diante das poucas opes que
lhes eram oferecidas. Assim, atravs das agroindstrias, o produtor pode processar
e/ou transformar insumos produzidos em sua propriedade que antes eram
comercializados in natura, ou seja, sem valor agregado.
A agroindustrializao um setor da indstria de transformao. Isso se deve,
pois a agroindstria engloba atividades industriais para beneficiar, processar e/ou
transformar seus insumos in natura em produtos industrializados (BECKER, 1989).
Reforando essa constatao, Prezotto apud Wesz Junior et. al. (2008) afirma que
esse tipo de industrializao oferece possibilidades de descentralizao da
produo, trazendo uma viso de desenvolvimento que d valor ao meio rural,
proporcionando um melhor emprego do espao territorial, de busca da recuperao
e preservao ambiental e de avanos no meio rural.
Peres et. al. (2009) refora que este tipo de atividade tambm advm do
carter empreendedor de muitos agricultores familiares que, na busca de
alternativas para ampliao da renda familiar, encontram na verticalizao da
produo uma brecha para escaparem das dificuldades encontradas, principalmente
financeiras. A insuficincia de terra e a falta de mo de obra so outros obstculos
comuns encontrados na realidade rural.
Uma das atividades que engloba tanto a agricultura como a indstria a
agroindstria familiar. Neste sentido e diante do tema exposto anteriormente, surge
a seguinte questo: as agroindstrias familiares rurais existentes no municpio de
Doutor Mauricio Cardoso, RS proporcionam desenvolvimento econmico local?
O desenvolvimento rural depende do surgimento de iniciativas que favoream
o aumento, a permanncia e a reaplicao da renda da agricultura no prprio
municpio, estimulando o comrcio local. Portanto, optou-se como tema a
-
14
agroindstria familiar e sua influncia sobre o desenvolvimento econmico, um
estudo atravs das agroindstrias familiares do municpio de Doutor Maurcio
Cardoso/RS no perodo de 2001 a 2010.
A razo de desenvolver um estudo sobre as agroindstrias familiares rurais
est na importncia deste setor para o desenvolvimento econmico, pois as
agroindstrias familiares produzem alimentos que movimentam a economia familiar
do municpio e do Estado. Outro ponto importante, que este estudo permitir
utilizar os conhecimentos de economia, adquiridos no Curso de Graduao em
Cincias Econmicas, para analisar os efeitos que as agroindstrias proporcionam
para o desenvolvimento.
importante ressaltar que a contribuio do estudo vai alm, tornando-se
uma importante ferramenta para uma melhor administrao do municpio de Doutor
Maurcio Cardoso, RS - objeto do presente estudo - e elaborao de propostas de
planejamento, visto que o mesmo investe nas agroindstrias familiares. Tambm,
importante para estudantes universitrios de diferentes cursos, visto que h estudos
nesta rea com diversos enfoques.
Havendo melhorias na qualidade de vida da populao pode-se dizer que
est ocorrendo desenvolvimento. Assim, o presente estudo tem como objetivo geral:
analisar a contribuio das agroindstrias familiares rurais para o municpio de
Doutor Maurcio Cardoso, RS, promovendo o desenvolvimento local. Para que o
objetivo geral seja atingido, tm-se os seguintes objetivos especficos:
a) averiguar questes referentes ao crescimento e desenvolvimento local;
b) caracterizar o setor da agroindstria familiar rural com foco no municpio
de Doutor Maurcio Cardoso;
c) verificar indicadores de crescimento e desenvolvimento, como gerao de
renda e de emprego, com a implantao das agroindstrias familiares
rurais, focando o municpio em estudo no perodo de 2001 a 2010.
O presente trabalho foi composto por quatro captulos para melhor
desenvolver o assunto. No primeiro captulo foi feita uma contextualizao do tema,
trazendo o problema de pesquisa, a justificativa da escolha do tema e os objetivos
que nortearam o estudo.
A seguir, no segundo captulo, descreve-se a metodologia usada para atingir
os objetivos propostos. Ainda, nesse captulo, detalham-se os tipos de pesquisa, a
-
15
unidade de estudo, a forma de coleta e tratamento dos dados e as limitaes do
mtodo.
No terceiro captulo apresenta-se a reviso da literatura acerca do tema
abordado. Foram tratadas questes sobre desenvolvimento e crescimento
econmico e alguns indicadores, dentre eles o ndice de Desenvolvimento Humano
(IDH). Tambm, foi feita uma anlise sobre o papel da indstria e da agricultura no
desenvolvimento econmico. Outros aspectos abordados foram agricultura e o
setor agroindustrial, especificaes do produto agroindustrial e a agroindstria
familiar rural.
No quarto captulo foi feita a apresentao e anlise dos resultados da
pesquisa. Na ltima parte do trabalho, apresentam-se as consideraes finais e as
perspectivas para um prximo trabalho, seguido das referncias utilizadas e dos
apndices.
-
16
1 AGROINDSTRIA FAMILIAR RURAL E DESENVOLVIMENTO ECONMICO
Para que o problema levantado seja respondido, torna-se necessrio,
primeiramente, expor alguns pontos tericos sobre o tema em questo para, no
prximo captulo, servirem de base anlise dos resultados. Portanto, a seguir
sero apresentados conceitos, definies e alguns indicadores acerca de
desenvolvimento e crescimento econmico. Logo aps, ser feito uma explanao
sobre a agricultura e o setor agroindustrial, caracterizando a agroindstria familiar
rural. Tambm ser explanado o papel da indstria e da agricultura no
desenvolvimento econmico.
1.1 DESENVOLVIMENTO E CRESCIMENTO ECONMICO
O desenvolvimento um fenmeno de natureza social, marcado pelo debate
quanto as suas formas de percepo e de aferimento. Isso se deve ao fato, de que o
desenvolvimento s existe como tal na medida em que passa a ser percebido como
uma situao que causa alteraes em determinada sociedade humana. Essas
mudanas ocorrem devido a aes individuais e coletivas que podem produzir
impactos em seus meios de vida (CONTERATO; FILLIPI, 2009).
O termo desenvolvimento econmico surgiu a partir do sculo XX, porm,
antes mesmo j se falava na ideia por traz do termo. O objetivo daqueles que se
ocupavam com as finanas pblicas era aumentar o poder econmico e militar do
soberano. Pouca era a preocupao com a melhora das condies da vida do povo
(SOUZA, 2012).
Os mercantilistas diziam que a riqueza de uma nao dependia do acmulo
de metais preciosos. Para os pases que no possuam minas de metais preciosos
em seu territrio, sugeriu-se uma balana de comrcio favorvel: receber mais
metais com as exportaes do que emitir com as importaes. Isso significava
estimular a indstria, pois seus produtos valiam mais do que os da agricultura e
receberiam mais metais preciosos com a venda nos mercados estrangeiros.
Preocupavam-se em expandir as exportaes que desafogavam os estoques de
mercadorias e elevavam o nvel de renda e de emprego.
-
17
Como reaes ao mercantilismo surgiram s escolas fisiocrtica e clssica,
que se preocuparam com os problemas do crescimento e da distribuio. Para os
fisiocratas, o desenvolvimento era gerado na agricultura, por meio da terra. Para
essa escola o aumento de investimentos na agricultura elevava a produtividade
agrcola e impulsionava o crescimento do resto da economia. Deveria haver a
conteno dos gastos em bens de luxo, pois seria indispensvel para no afetar a
demanda de produtos agrcolas, seus preos e o nvel dos investimentos na
agricultura. A eliminao das restries s exportaes seria necessria para
aumentar o seu fluxo e manter em elevao os preos dos produtos agrcolas,
estimulando o desenvolvimento (SOUZA, 2012).
Para a viso clssica, Smith (2003) dizia que o elemento essencial da riqueza
de uma nao era o trabalho produtivo. Defende o liberalismo econmico atravs da
teoria da mo invisvel, a qual aceita uma interveno mnima do Estado na
economia. O comrcio livre permite que cada pas se especialize naquilo que melhor
sabe fazer (com menores custos e maior produtividade). O autor defendia que o
Estado deveria apenas regulamentar a concorrncia e manter a educao, a sade
e a segurana, e isto sim aumentaria a riqueza total das naes.
A origem do estado nacional moderno, o Renascimento e as grandes
descobertas martimas revolucionaram as relaes econmicas. A abordagem do
desenvolvimento ficou mais enfatizada a partir das flutuaes econmicas do sculo
XIX. Com a concentrao de renda e da riqueza em nvel mundial, agravada com o
surgimento de alguns poucos pases industrializados, tornou-se mais evidente a
desigualdade entre naes ricas e pobres (SOUZA, 2012).
Fonseca (2006) afirma que a riqueza uma disponibilidade, ou estoque, de
bens que atendem necessidades humanas, ou de determinadas coisas, como, por
exemplo, ouro e prata, estes usados para conseguir o que fosse necessrio para os
interesses do pas. Devido a essa riqueza, Souza (2012) diz que mesmo no interior
dos pases industrializados, tornou-se mais evidente o desnvel do desenvolvimento
entre regies e classes sociais.
Aps a Segunda Guerra Mundial, a maioria dos territrios havia alcanado
independncia poltica e, imediatamente, tomaram medidas para estimular o
crescimento econmico. Porm, a dificuldade encontrada era conseguir com que os
-
18
governos e a sociedade vissem a pobreza como uma condio que requer esforos
urgentes para ameniz-la (BALDWIN, 1979).
A questo do desenvolvimento econmico tambm se tornou mais visvel no
final dos anos de 1930, com a aplicao da Contabilidade Nacional, originada com a
teoria keynesiana. Atravs dela, comeou-se a comparar a renda per capita dos
pases e a classific-los como ricos ou pobres. Outros indicadores passaram a
ser usados, fazendo com que os pases pobres fossem classificados como
subdesenvolvidos (SOUZA, 2012).
Isso vem ao encontro de Fonseca (2006), o qual ressalta que o
desenvolvimento econmico um fenmeno histrico que foi marcado pelo aumento
acentuado da riqueza nacional. um processo relativamente recente, pois coincide
com o aparecimento do capitalismo e com o incio da Revoluo Industrial.
Baldwin (1979) refora dizendo que desde 1945 o desenvolvimento
econmico tem se tornado o maior problema poltico e social em mbito mundial.
Segundo o autor, isso se deve s mudanas nas atitudes da sociedade, pois os
fatos referentes pobreza tm estado sempre disponveis para quem desejar
verificar.
Souza (2012) diz que no existe uma definio universalmente aceita de
desenvolvimento. Uma primeira corrente de economistas considera crescimento
como sinnimo de desenvolvimento. J uma segunda corrente, diz que o
crescimento condio indispensvel para o desenvolvimento, mas no condio
suficiente.
Para diversos autores, desenvolvimento apenas outro nome para o
fenmeno crescimento econmico. Por esta viso, o crescimento econmico um
processo contnuo de progresso cientfico e sua aplicao tcnica de produo,
mediante acumulao de capital. Porm, possvel indagar esta proposio, pois o
progresso da civilizao no foi verificado uniformemente em todas as regies
habitadas do mundo, se concentrou em alguns poucos pases (BALDWIN, 1979).
Singer (1977) conceitua crescimento econmico como um aumento contnuo,
no tempo, do Produto Nacional Bruto e tambm no produto per capita, em termos
reais. Feij (2007) distingue o crescimento econmico, dizendo que poder estar
acima do crescimento da tecnologia apenas enquanto a economia estiver
-
19
convergindo para um caminho de crescimento equilibrado. Quando alcan-lo, o
crescimento da tecnologia determinar todo o crescimento da economia.
Para que ocorra o crescimento econmico, segundo Feij (2007), deve haver
as condies necessrias para tal acontecimento, como o progresso tecnolgico e
alta taxa de investimento em capital humano. Sendo assim, polticas econmicas
esclarecidas conduziro ao crescimento econmico e, com ele, surgiro
oportunidades para o desenvolvimento econmico.
Souza (2012) profere que os economistas que associam crescimento com
desenvolvimento, consideram que um pas subdesenvolvido porque cresce
menos do que os desenvolvidos, embora apresente recursos ociosos, ou seja, no
utiliza integralmente os fatores de produo de que dispe e, portanto, a economia
expande-se abaixo de suas possibilidades. A segunda corrente mostra o
crescimento econmico como uma variao quantitativa do produto, enquanto o
desenvolvimento envolve mudanas qualitativas no modo de vida das pessoas,
instituies e estruturas produtivas. Assim, o desenvolvimento se caracteriza pela
transformao de uma economia atrasada em uma economia moderna, eficiente e
em conjunto com uma melhora do padro de vida da populao.
Para Fonseca (2006), o desenvolvimento econmico consiste em um
processo de enriquecimento das naes e de seus habitantes, ou seja, h
desenvolvimento com acumulao de recursos econmicos, sejam eles ativos
individuais ou infraestrutura social. Tambm h desenvolvimento com um
crescimento da produo nacional e das remuneraes obtidas pelos que participam
da atividade econmica.
Desenvolvimento econmico define-se pela existncia de crescimento
econmico contnuo, em ritmo superior ao crescimento demogrfico, envolvendo
mudanas de estruturas e melhoria de indicadores econmicos, sociais e
ambientais. Compreende um fenmeno de longo prazo, implicando o fortalecimento
da economia nacional, a ampliao da economia de mercado, a elevao geral da
produtividade e do nvel de bem-estar da populao, com a preservao do meio
ambiente (SOUZA, 2012).
Delfim Neto (1999) interpreta desenvolvimento como um jogo cooperativo
entre trs parceiros: os trabalhadores, os empresrios e o governo, onde preciso
construir instituies que, sem prejudicar a eficincia, garantam aos trabalhadores
-
20
uma eficaz realidade participativa. Eles tm que se perceber parte integrante e
respeitada do processo de crescimento.
Por sua vez, Baldwin (1979) define o desenvolvimento econmico como um
processo dinmico e sequencial. Mudanas em uma srie de variveis ocasionam
alteraes em outras que, por sua vez, podem produzir acrscimos na renda per
capita.
De maneira geral, segundo Souza (2012), uma definio completa de
desenvolvimento envolve alm de indicadores econmicos e sociais, a questo da
preservao do meio ambiente. Com o passar do tempo, o crescimento econmico
tende a esgotar os recursos produtivos escassos, como exemplo pode-se citar que o
crescimento econmico acelerado pode provocar o desmatamento de florestas. A
atividade agrcola tende a ocupar vastas reas de terras onde se encontravam
florestas. A atividade produtiva pode poluir as fontes de gua e o ar, interferindo no
clima e no regime de chuvas, etc.
O autor ainda ressalta que, com o desenvolvimento, a economia adquire
maior estabilidade e diversificao, o progresso tecnolgico e a formao de capital
tornam-se progressivamente fatores endgenos, isto , gerados no interior do pas.
O desenvolvimento econmico se caracteriza por mudanas de estruturas
econmicas, sociais, polticas e institucionais, com melhoria da produtividade e da
renda mdia da populao.
Portanto, o desenvolvimento econmico no pode ser confundido com
crescimento, pois a expanso nem sempre favorece a economia como um todo.
Feij (2007) destaca que o desenvolvimento, alm de crescimento econmico,
requer polticas pblicas e aes privadas que possam espalhar os benefcios do
crescimento, alcanando um nmero maior de pessoas.
Mesmo que a economia cresa, a taxas relativamente elevadas, o
desemprego pode no estar reduzindo na rapidez necessria, tendo em vista a
tendncia contempornea de robotizao e informatizao do processo produtivo. O
crescimento econmico precisa superar o crescimento demogrfico para expandir o
nvel de emprego e a arrecadao pblica, a fim de permitir ao Governo realizar
gastos sociais e atender as pessoas mais carentes. Assim, h uma melhora nos
indicadores sociais, incluindo melhores nveis de educao e conscincia ambiental
(SOUZA, 2012).
-
21
Vale notar a contribuio de Delfim Neto (1999), o qual destacou que para ser
possvel o crescimento de longo prazo necessrio que o pas possua estabilidade
macroeconmica. Isso implica nveis de inflao baixos e previsveis, poltica fiscal
estvel e responsvel, taxa de juro real adequada, taxa de cmbio real de equilbrio
e previsvel, balano em conta corrente em situao considerada sustentvel, com
ampla cobertura comercial e taxas de crescimento prximas ao pleno emprego e um
sistema financeiro bem regulado e slido.
Em outro momento, Feij (2007) ressalta a importncia das polticas pblicas
e aes privadas para expandir os benefcios do crescimento e gerar
desenvolvimento econmico para um nmero maior de pessoas. O importante para
o desenvolvimento do pas ter uma boa infraestrutura, qualidade em educao,
sade, comunicao, saneamento, entre outros.
Quando se discute desenvolvimento no se deve deixar de citar Schumpeter,
que fala do desenvolvimento econmico atravs de inovao. Schumpeter (1985)
chama as inovaes de novas combinaes. O produtor inicia a mudana
econmica atravs de novas combinaes e os consumidores so educados por ele,
se necessrio, ou seja, so ensinados a querer coisas novas ou que se
diferenciam em um aspecto ou outro daquelas que tinham o costume de utilizar.
Segundo o autor, produzir significa combinar materiais e foras. Produzir
outras coisas, ou as mesmas coisas de maneira diferente, significa combinar
diferentemente esses materiais e foras. Na medida em que as novas combinaes
aparecerem descontinuamente, surge ento o fenmeno que caracteriza o
desenvolvimento. Ressalta que so essas novas combinaes que geram o
desenvolvimento.
Schumpeter (1985) desenvolve esse conceito onde engloba cinco casos de
novas combinaes - inovaes:
a) introduo de um novo bem, um bem que os consumidores ainda no
esto familiarizados ou uma nova caracterstica de um bem;
b) introduo de um novo mtodo de produo, mtodo esse que ainda no
tenha sido testado pela experincia no ramo da indstria de transformao,
que de modo algum precisa ser baseado numa descoberta cientificamente
nova, e pode consistir ainda em novo modo de manejar comercialmente
uma mercadoria;
-
22
c) abertura de um novo mercado em que o ramo particular da indstria de
transformao do pas no tenha ainda entrado, quer esse mercado tenha
existido antes ou no;
d) conquista de uma nova fonte de oferta de matrias-primas ou de bens
semimanufaturados;
e) estabelecimento de uma nova organizao de qualquer indstria.
Souza (2012) fala que a teoria schumpeteriana enfatiza o lado da oferta e
descuida-se da demanda. Porm, aspectos de demanda podem estar na origem das
inovaes, estas resultam de aspectos econmicos e no apenas tcnicos, o seu
aparecimento necessita de fatores explicativos e elas so tratadas exogenamente.
Como a teoria schumpeteriana enfatiza o lado da oferta, deve-se analis-la no
sentido de verificar o emprego dos fatores de produo atravs de novas
combinaes, estimulando a economia. Schumpeter (1985) chama a ateno para a
realizao de novas combinaes, que significa o emprego diferente da oferta de
meios produtivos existentes no sistema econmico.
Para Schumpeter (1985), o fenmeno fundamental do desenvolvimento
econmico chamado de empreendimento. O empreendimento a realizao de
novas combinaes, onde os empresrios so os indivduos cujo papel realizar
essas novas combinaes. Os empresrios no so somente os homens de
negcios autnomos em uma economia de trocas, mas todos que de fato
preenchem a funo pela qual definido o conceito, mesmo que sejam empregados
subordinados de uma corporao. Como a realizao de combinaes novas que
constitui o empresrio, no necessrio que ele esteja permanentemente ligado a
uma empresa individual. A funo do empresrio combinar os fatores produtivos,
reuni-los e coloc-los em prtica.
De acordo com Baldwin (1979), a teoria schumpeteriana apontou que a maior
parte dos investimentos feita por homens de negcios. O empresrio motivado
por vrios desejos, como, por exemplo, aumentar seu nvel de renda. O papel do
empresrio colocar em prtica, em uso as inovaes, para empreender novas
combinaes de fatores produtivos, ou seja, a essncia do empresariado colocar
algo novo no mercado.
Na agricultura, a criao de agroindstrias se caracteriza como um
empreendimento, investimento realizado por empresrios rurais. Estes
-
23
vislumbram o novo negcio por meio da gerao de renda e emprego na atividade
rural. As inovaes se realizam atravs da introduo de uma nova caracterstica em
uma matria-prima, da criao de um novo mercado, da introduo de um novo
processo para industrializar o insumo ou atravs do estabelecimento de uma nova
indstria, a indstria de transformao.
No se pode deixar de conceituar tambm o desenvolvimento local que, de
acordo com Buarque (2008), nessa transio para um novo paradigma do
desenvolvimento mundial est associado a um processo acelerado de globalizao
com a intensa integrao econmica e a formao de blocos regionais. O autor
conceitua desenvolvimento local como sendo um processo endgeno de mudana,
que leva ao dinamismo econmico e melhoria da qualidade de vida da populao
em pequenas unidades territoriais (BUARQUE, 2008, p. 25).
Isso vem ao encontro de Barquero (2001), o qual conceitua esse processo de
desenvolvimento como um processo de crescimento e de mudana estrutural no
qual a organizao do sistema produtivo, a rede de relaes entre atores e
atividades, a dinmica de aprendizagem e o sistema sociocultural so determinantes
no processo de mudana (BARQUERO, 2001, p. 49).
O autor ainda destaca que o desenvolvimento econmico local ocorre devido
transferncia de recursos das atividades tradicionais para as modernas. Tambm
ocorre atravs de inovaes, o que determina uma elevao do bem-estar da
populao.
O desenvolvimento econmico local no simplesmente o reflexo de um
processo de desenvolvimento nacional em uma dada localidade. O que caracteriza o
processo de desenvolvimento econmico local o protagonismo dos atores locais
na formulao de estratgias, na tomada de decises econmicas e na sua
implementao (PORTAL DO DESENVOLVIMENTO LOCAL, 2013).
Quando a localidade capaz de utilizar o potencial de desenvolvimento e
liderar o processo de mudana estrutural, segundo Barquero (2001), pode-se dizer
que se trata de desenvolvimento local endgeno. Isso se deve, pois est baseado na
ideia de que localidades e territrios dispem de recursos econmicos, humanos,
institucionais e culturais que formam o potencial de desenvolvimento.
O desenvolvimento local deve mobilizar e explorar as potencialidades locais e
contribuir para aumentar as oportunidades sociais e a viabilidade e competitividade
-
24
da economia local. Tambm, deve garantir a conservao dos recursos naturais
locais. O desenvolvimento local decorrncia de mltiplas aes convergentes e
complementares, capazes de quebrar a dependncia e a inrcia do
subdesenvolvimento e do retardamento em localidades perifricas e de gerar uma
transformao social na regio (BUARQUE, 2008).
O desenvolvimento local no um receiturio de medidas completas, nem
padronizadas, para serem aplicadas em qualquer lugar. Entretanto uma estratgia
de ao coerente com os princpios e os pressupostos ecolgicos e humanistas
(MARTINS, 2002).
Com base no exposto acima, pretende-se, a seguir, explanar sobre alguns
indicadores de crescimento e desenvolvimento econmico. Os indicadores,
avaliados de forma conjunta, servem como meios para uma anlise mais detalhada
da realidade do estudo proposto, tendo em vista que o termo deriva da palavra
ndex, que por sua vez, significa apontador, sinalizador, proveniente do Latim
Indicare, que significa apontar (SIMES et. al. [s.d.]).
1.1.1 Indicadores de desenvolvimento e crescimento econmico
Os indicadores so a descrio, por meio de nmeros, de um determinado
aspecto da realidade, ou nmeros que apresentam uma relao entre vrios
aspectos. Os indicadores permitem acompanhar, por exemplo, mudanas da
qualidade de vida de determinado local, num determinado perodo (KAYANO;
CALDAS, 2002).
Segundo os prprios autores, indicadores so um instrumento, ou seja, o
indicador no um fim em si, mas um meio. O indicador um instrumento que
sintetiza um conjunto de informaes em um nmero e, deste modo, permite medir
determinados fenmenos entre si, ou ao longo de determinado tempo. Tambm,
indicadores podem ser utilizados para verificao, observao, demonstrao e
avaliao, ou seja, permite observar e mensurar determinados aspectos da
realidade social: medem, observam e analisam a realidade de acordo com um
determinado ponto de vista.
Existem indicadores que, se analisados separadamente, apenas nos mostram
o crescimento econmico da economia como, por exemplo, o Produto Interno Bruto
-
25
(PIB). Para analisar o desenvolvimento econmico devem-se analisar outros
indicadores, como a escolaridade da populao e o nvel de sade, ou seja,
indicadores que expressam a qualidade de vida da populao.
De acordo com Passos e Nogami (2003), o grau de desenvolvimento de um
pas notado pela anlise de alguns indicadores que se relacionam em termos de
estrutura. Esses indicadores compreendem trs grandes grupos: sociais, vitais e
econmicos. Nos indicadores sociais encontram-se a estrutura social, a mobilidade
social, a representao no sistema poltico, a participao social e o sistema de
concentrao da propriedade.
Segundo os mesmos autores, no grupo dos indicadores vitais esto:
a) esperana de vida ao nascer, que indica o nmero de anos que um recm
nascido viveria, considerando-se os padres de mortalidade vigentes no
perodo em que a criana nasceu;
b) taxa de mortalidade infantil, que representa a quantidade de crianas que
morrem antes de completarem um ano de idade em um grupo de mil
nascidos vivos, em certo perodo de tempo;
c) estrutura etria da populao, que representa a proporo da populao
total na Populao Economicamente Ativa (PEA) do pas;
d) taxa mdia anual de crescimento populacional, calculada pelo mtodo
exponencial entre os extremos de determinado tempo.
Nos indicadores econmicos, segundo Passos e Nogami (2003), encontram-
se:
a) estruturais, que relacionam os elementos que formam a base econmica
da sociedade, entre eles a fora de trabalho, os recursos naturais, o
capital, a estrutura de produo e a distribuio de renda;
b) disponibilidade de bens e servios, que compreende conjunto de
informaes que permitem o bem-estar da sociedade, como a renda per
capita, bens bsicos de consumo, bens produtivos e insumos, servios
bsicos e servios sociais.
Nos anos de 1990, constatou-se na Amrica Latina o aparecimento de uma
nova conscincia acerca do desenvolvimento. Entre 1950 e 1981, o PIB da regio foi
multiplicado por cinco, em termos reais, e o crescimento da renda per capita
acompanhou o crescimento demogrfico (2,7%), passando de US$420 para
-
26
US$960, a preos de 1970. Os indicadores sociais da regio melhoraram no
perodo: a vida mdia passou de 50 para 65 anos; a taxa de mortalidade infantil
reduziu-se de 130 por mil para 50 por mil; a educao primria universalizou-se; a
taxa de natalidade reduziu-se de 4,5% para 3%. Assim, os indicadores sociais
estavam melhorando, apesar do crescimento da dvida externa e da inflao. A
melhoria desses indicadores depende tanto da educao e da conscientizao
social dos governantes, como do aumento da renda per capita (HIRSCHMAN apud
SOUZA, 2005).
O crescimento da renda per capita fundamental para melhorar indicadores
sociais. Porm, alm desse indicador, devem-se considerar indicadores que possam
apresentar melhorias sociais, como alimentao, atendimento mdico e
odontolgico, educao, segurana e qualidade do meio ambiente. Tambm,
medidas destinadas a reduzir a pobreza podem ser indispensveis quando for
grande o contingente de pessoas carentes (SOUZA, 2012). Ou seja, alm da renda
per capita, do indicador de crescimento econmico, deve-se analisar os avanos
sociais, sem deixar de ressaltar a importncia da distribuio de renda atravs de
programas sociais para as populaes mais pobres, para que isso possa trazer
melhores resultados nos indicadores de desenvolvimento.
Tendo em vista que o desenvolvimento econmico definido pelo aumento
contnuo dos nveis de vida, compreendendo maior consumo de produtos e de
servios bsicos para o conjunto da populao, torna-se necessrio considerar
vrios indicadores que possam refletir tanto melhorias sociais como econmicas
(SOUZA, 2005).
O autor ainda ressalta que, tradicionalmente, a renda per capita tem sido
usada como o principal indicador de desenvolvimento. um indicador importante,
mas, como mdia, camufla a distribuio de renda, no refletindo o nvel de bem-
estar da populao de baixa renda, que pode ser bastante numerosa. Economias
com renda muito concentrada possuem alta renda per capita e, ao mesmo tempo,
um nmero reduzido de pessoas ricas, estando maioria da populao vivendo na
misria.
A renda per capita se altera no momento em que a fora de trabalho est
desempregada ou empregada e recebendo salrio sobre sua produtividade. O
mercado de trabalho tem grande impacto sobre a renda e a qualidade de vida da
-
27
populao. Segundo Parkin (2009), a populao analisada em dois grupos:
Populao em Idade Ativa (PIA) e os indivduos que so muito jovens para trabalhar
ou que vivem em instituies e so incapazes de trabalhar.
A Populao em Idade Ativa (PIA), de acordo com Bacha e Lima (2006),
subdividida em Populao Economicamente Ativa (PEA) e populao no
economicamente ativa. Fazem parte da PEA as pessoas que esto aptas ao
trabalho e desejam isso, independente se esto ou no trabalhando, incluindo,
portanto, as pessoas que esto desempregadas e procuram emprego e as que
esto trabalhando. As pessoas no economicamente ativas so pessoas aptas a
trabalhar, porm no procuram emprego e no trabalham.
Segundo Parkin (2009), a fora de trabalho de uma nao a soma das
pessoas empregadas e das desempregadas. Para uma pessoa ser considerada
empregada, esta deve possuir um emprego integral ou parcial. J para ser
considerada desempregada, a pessoa deve estar disponvel para trabalhar e deve
se encaixar em alguma destas categorias:
a) sem trabalho, porm nas ltimas quatro semanas empenhou-se para
encontrar emprego;
b) aguardando ser chamado de volta ao emprego do qual foi dispensada;
c) esperando iniciar em um novo emprego dentro de trinta dias.
Assim, percebe-se que o conceito de desenvolvimento econmico amplia o
conceito de crescimento econmico ao incluir na anlise, indicadores que
contemplam a melhoria das condies de vida da populao, que no
necessariamente crescem com a melhoria das condies econmicas. Dentre os
fatores que expressam mudanas qualitativas destaca-se a pobreza, o desemprego,
a desigualdade, a sade, a nutrio, a educao e a moradia (LOURENO;
ROMERO, 2002).
A preocupao crescente com a defesa dos direitos humanos e a
conscientizao cada vez maior da importncia do indivduo dentro da situao
econmica tornaram possvel o aparecimento de formas mais elaboradas para se
medir o desenvolvimento (PASSOS; NOGAMI, 2003).
Segundo o Programa das Naes Unidas para o Desenvolvimento (PNUD,
2013a), o conceito de desenvolvimento humano nasceu definido como um processo
de ampliao das escolhas da populao para que ela tenha habilidades e
-
28
oportunidades para ser aquilo que deseja ser. Diferentemente da perspectiva do
crescimento econmico, que analisa o bem-estar de uma coletividade apenas pela
renda que ela pode gerar, a abordagem de desenvolvimento humano procura
contemplar as pessoas, suas oportunidades e aptides. Sendo assim, a renda um
importante indicador, mas deve-se considerar como um dos meios do
desenvolvimento, e no como seu fim. H uma mudana de perspectiva com o
desenvolvimento humano, onde o foco transferido do crescimento econmico para
o ser humano.
O conceito de Desenvolvimento Humano tambm parte da hiptese de que
para aferir o avano na qualidade de vida de uma populao, preciso ir alm do
vis econmico e considerar outras caractersticas sociais, culturais e polticas que
influenciam a qualidade da vida humana. Esse conceito base do ndice de
Desenvolvimento Humano (IDH) (PNUD, 2013a). O principal indicador que pode
mostrar o desenvolvimento de um local o IDH. Este indicador analisa trs aspectos
relevantes para o bem-estar da populao, sendo eles a renda, a educao e a
sade.
O objetivo da criao do ndice de Desenvolvimento Humano foi o de
apresentar um contraponto a outro indicador muito utilizado, o Produto Interno Bruto
(PIB) per capita, que considera apenas a dimenso econmica do desenvolvimento.
O IDH deve ser uma medida geral do desenvolvimento humano, portanto, ele no
abrange todos os aspectos de desenvolvimento e no uma representao da
felicidade das pessoas, nem indica o melhor lugar no mundo para se viver.
Democracia, participao, equidade, sustentabilidade so outros dos muitos
aspectos do desenvolvimento humano que no so contemplados no IDH (PNUD,
2013a).
Atualmente, segundo o PNUD (2013a), os trs pilares que constituem o IDH
(sade, educao e renda) so mensurados da seguinte forma:
a) uma vida longa e saudvel (sade) medida pela expectativa de vida;
b) o acesso ao conhecimento (educao) medido por: mdia de anos de
educao de adultos, que o nmero mdio de anos de educao
recebidos durante a vida por pessoas a partir de 25 anos; e a expectativa
de anos de escolaridade para crianas na idade de iniciar a vida escolar,
que o nmero total de anos de escolaridade que uma criana na idade de
-
29
iniciar a vida escolar pode esperar receber, se os padres prevalecentes de
taxas de matrculas especficas por idade permanecerem os mesmos
durante a vida da criana;
c) o padro de vida (renda) medido pela Renda Nacional Bruta (RNB) per
capita expressa em poder de paridade de compra (PPP) constante, em
dlar, tendo 2005 como ano de referncia.
Para efeito de anlise comparada, o PNUD (2013a) estabeleceu quatro
principais categorias para determinar o nvel de desenvolvimento de uma economia.
Dentre o total de pases includos no clculo 187 pases em 2011 25% dos
pases que obtiveram o maior ndice fazem parte da classificao de
desenvolvimento humano muito elevado; sendo os 25% com menor ndice,
classificados como de baixo desenvolvimento. Os demais so classificados com
desenvolvimento elevado ou mdio.
De acordo com o relatrio do PNUD (2013a), em 2010 o Brasil estava em 73
lugar na classificao do IDH global com ndice de 0,699. Neste mesmo ano, a
Noruega apresentou o 1 lugar, possuindo um IDH de 0,938, considerado um nvel
muito elevado.
J em 2011, o Brasil caiu para a 84 posio, com um IDH de 0,718. Essa
reduo se deve evoluo do IDH de alguns pases como Gergia, Equador e
Jamaica, que no ano de 2010 ocupavam a posio 74, 77 e 80, respectivamente,
e, em 2011, evoluram para a 75, 83 e 79 posio.
Em nvel dos estados, segundo o PNUD (2013b), o Estado do Rio Grande do
Sul, em 2000, estava em 4 lugar no pas, com um IDH de 0,814, ficando atrs
apenas do Distrito Federal, Santa Catarina e So Paulo com IDH de 0,844; 0,822 e
0,820, respectivamente.
No Brasil feita uma anlise do desenvolvimento humano entre os
municpios. Esse ndice conhecido como ndice de Desenvolvimento Humano
Municipal (IDHM). O IDH e o IDHM so ambos, ndices sintticos que compreendem
indicadores das trs dimenses do desenvolvimento humano: longevidade,
educao e renda. Porm, os indicadores escolhidos para esta composio so
diferentes entre o IDH e o IDHM, assim como as fontes de dados (PNUD, 2013d).
Os objetivos dos dois ndices so diferentes: o IDH serve para medir o
desenvolvimento humano de pases em contexto global, ou seja, em relao a si
-
30
mesmos, porm inseridos em uma dinmica pontilhada por outros pases. J o IDHM
serve para comparar municpios brasileiros entre si.
As faixas existentes de Desenvolvimento Humano Municipal so:
a) IDHM entre 0 0,499: Muito Baixo Desenvolvimento Humano;
b) IDHM entre 0,500-0,599: Baixo Desenvolvimento Humano;
c) IDHM entre 0,600 - 0,699: Mdio Desenvolvimento Humano;
d) IDHM entre 0,700 - 0,799: Alto Desenvolvimento Humano;
e) IDHM entre 0,800 e 1: Muito Alto Desenvolvimento Humano.
As faixas de Desenvolvimento Humano Municipal no seguem as faixas do
IDH Global. Elas foram adaptadas para contextualizar melhor a realidade brasileira.
As faixas do IDH Global so divididas em Baixo, Mdio, Alto e Muito Alto
Desenvolvimento Humano, e seus valores variam a cada ano, pois so calculadas a
partir dos valores mais baixos e mais altos observados nos pases (PNUD, 2013c).
Segundo o PNUD (2013b), o IDHM do Brasil saltou de 0,493 (Muito Baixo
Desenvolvimento Humano) para 0,727 (Alto Desenvolvimento Humano) entre os
anos de 1991 e 2010. O IDHM Longevidade (0,816) o que mais contribui para o
nvel atual do IDHM do Brasil. Esta evoluo da dimenso Longevidade reflete o
aumento de 9,2 anos (ou 14,2%) na expectativa de vida ao nascer entre 1991 e
2010. Neste mesmo perodo, o IDHM Longevidade do pas acumulou alta de 23,2%.
O IDHM Educao (0,637) o que tem a menor contribuio para o valor
atual do IDHM do Brasil. Mas de 1991 a 2010, o indicador foi o que registrou o maior
crescimento absoluto (0,358) e a maior elevao em termos relativos (129%) entre
as trs dimenses do ndice. Saiu de 0,278 em 1991, para 0,637 em 2010, uma
alterao que se deve, principalmente, pelo aumento de 156% no fluxo escolar da
populao jovem no perodo (PNUD, 2013b).
No IDHM Renda, o crescimento no perodo de 1991 a 2010 foi de 14,2%.
Apesar do avano, apenas 11,1% dos municpios avaliados possuem um IDHM
Renda superior ao IDHM Renda do Brasil.
Visto isso, infere-se que o desenvolvimento de um local se deve a vrios
fatores, os quais movem a economia e trazem qualidade de vida populao. O
setor agroindustrial tem-se mostrado um ramo eficiente, pois gera renda, emprego e
melhora as condies de vida da populao rural, promovendo o desenvolvimento
-
31
econmico. Por ser esse o objeto de estudo do presente trabalho, a seguir uma
anlise mais detalhada sobre os setores, industrial e agrcola, ser realizada.
1.1.2 O papel da indstria e da agricultura no desenvolvimento econmico
No processo de desenvolvimento, dentro desse contexto, a atividade
produtiva do setor agrcola se completar quando agregar valor produo atravs
da implantao do processo da agroindustrializao, criando uma nova organizao
social no campo, de parceria associativa entre os produtores e seus familiares,
gerando empregos e renda, e proporcionando o desenvolvimento da comunidade
interiorana (TEDESCO, 1999).
A agricultura desempenha um papel fundamental no processo de
desenvolvimento econmico de um pas, dinamizando a indstria, o comrcio e os
servios, atravs de importantes efeitos de encadeamento no resto da economia. O
crescimento urbano-industrial tambm induz o desenvolvimento agrcola, ao
demandar mo de obra, matrias-primas e alimentos do setor agrcola (LUCENA,
2000).
Johnston e Mellor apud Souza (2012) e Accarini (1987) citam as cinco
funes bsicas da agricultura sobre o resto da economia:
a) liberao de mo de obra: liberar mo de obra para ser empregada na
indstria e evitar a elevao dos salrios pagos, a fim de no deprimir a
taxa de lucro e assegurar a acumulao contnua de capital.
caracterstica da trajetria de desenvolvimento econmico a transferncia
de trabalhadores para atividades onde possam ser empregados mais
produtivamente, exigindo a utilizao de mo de obra que pode ser
totalmente suprida pelo setor agrcola;
b) fornecimento de alimentos e matrias-primas: fornecer alimentos e
matrias-primas para o setor urbano-industrial medida que a demanda
cresce com o desenvolvimento e a intensificao do processo de
urbanizao. Assim, para cumprir adequadamente essa funo, essencial e
exclusiva da agricultura, e manter os preos estveis, a produo e o
consumo de produtos agrcolas devem evoluir no mesmo compasso para
atender as diferentes finalidades;
-
32
c) gerao de divisas: gerar divisas estrangeiras por meio da exportao de
produtos agrcolas, para financiar o desenvolvimento, adquirir importaes
e amortizar a dvida externa. importante destacar que a simples produo
de excedentes no condio suficiente para possibilitar a gerao de
divisas. preciso ter acesso a mercados externos, contar com produtos de
qualidade e oferecer preos competitivos. A diversificao das exportaes
na linha de novos produtos e mercados pode contribuir para atenuar esse
risco e propiciar maior estabilidade receita cambial;
d) transferncia de poupana para o setor urbano: transferir poupanas para
inverses na indstria e para a implantao de infraestrutura econmica e
social. Durante as fases iniciais do processo de desenvolvimento, no
incomum a receita para o financiamento de infraestruturas serem
proveniente da agricultura;
e) expanso do mercado interno: constituir mercados para bens industriais,
complementando os mercados urbanos. O setor agrcola pode contribuir
para a expanso do mercado interno de formas alternativas, como
consumir bens e servios finais produzidos por setores urbano-industriais,
empregar fertilizantes, defensivos, tratores e outros fatores de produo
gerados por esses setores ou produzir alimentos e matrias-primas a
preos baixos para atender demanda dos consumidores urbanos.
Alm de demonstrar que a importncia relativa das funes do setor rural se
altera ao longo do processo de desenvolvimento econmico, essas funes
precisam ser cumpridas de modo apropriado. Para isso, necessrio gerar
excedentes de produo em volumes adequados e a preos satisfatrios e, portanto,
com padres de eficincia econmica e produtividade ajustada a tais necessidades
(ACCARINI, 1987).
O autor ainda observa que quando, por alguma razo especfica ou um
conjunto delas, no possvel atender a essas exigncias, o setor rural pode
constituir srio obstculo ao desenvolvimento econmico autossustentado.
Tratando-se de uma atividade bsica, os reflexos de seu desempenho atingem a
evoluo de outros setores e, portanto, o comportamento da economia como um
todo. Sendo assim, o setor rural pode ser um obstculo ao desenvolvimento
econmico, pois h um grande retardamento no processo de modernizao, ou seja,
-
33
h um atraso no crescimento da agricultura repercutindo sobre o desenvolvimento
da economia.
Alm do papel fundamental que a agricultura desempenha no
desenvolvimento econmico, tambm o setor industrial tem sua importncia.
Segundo Baldwin (1979), a maioria dos lderes polticos e econmicos dos pases
em desenvolvimento v a industrializao como a chave para a resoluo de seus
objetivos de crescimento econmico, como renda per capita maior e maiores
oportunidades de emprego.
A industrializao de uma regio necessria para promover o
desenvolvimento e a expanso das atividades produtivas, aumentando sua
participao no Produto Interno Bruto (PIB) e a qualidade de vida da populao local
(BOTEGA et. al., 2006). O processo de industrializao de um pas e a taxa de seu
crescimento econmico depende essencialmente da taxa de investimento ou de
acumulao de capital. Os investimentos derivam de deliberaes de quatro agentes
econmicos fundamentais: as empresas privadas nacionais, as corporaes
multinacionais, as empresas estatais e o prprio Estado (BRUM, 1993).
Segundo Becker (1989), a industrializao um dos fatores mais importantes
de promoo do equilbrio das foras produtivas de um pas, possibilitando um
estgio de vida satisfatrio em relao s necessidades bsicas. A industrializao
agrega, recompe materiais, insumos e matrias-primas, articula de tal forma a
economia, que promove a diviso social do trabalho e o impulso de toda a atividade
econmica. Surge, ento, a conscientizao de que a industrializao constitui-se
uma alavanca para o progresso socioeconmico, pois a mo de obra uma das
condies para que haja aumento da produtividade em setores que agregam valor
na matria-prima.
O crescimento econmico da Amrica Latina depende do acrscimo da renda
mdia per capita, que muito baixa na maioria dessas naes, e do aumento da
populao. O aumento da renda mdia per capita s poder ser obtido de dois
modos. Primeiro, por meio do aumento da produtividade, segundo, dada uma
determinada produtividade, atravs do aumento da renda por operrio na produo
primria, comparada renda dos pases industrializados que importam parte dessa
produo. medida que vai aumentando a produtividade da indstria e melhorando
-
34
a renda real per capita, essa populao tende a se transferir espontaneamente para
as atividades industriais (PREBISCH, 1962).
No Brasil, a industrializao realizou-se desde os anos de 1930, atravs do
modelo de substituio de importaes. Por volta dos anos de 1950, durante o Plano
de Metas2, os investimentos concentraram-se preferencialmente em indstrias
consideradas chaves, como automveis, qumica e construo naval, principalmente
na regio Sudeste (SOUZA, 2005).
Isso vem ao encontro de Delgado (2009), o qual ressalta que desde a Grande
Depresso de 1930, e, principalmente, a partir do Plano de Metas do Governo
Juscelino Kubitschek, na segunda metade dos anos de 1950, a economia brasileira
foi dominada, at o final da dcada de 1970, pela ideia da industrializao forada
como instrumento fundamental para a eliminao da diferena que a separava das
economias capitalistas industrializadas. Essa ideia concretizou-se como o principal
objetivo de poltica econmica da burocracia estatal e dos formuladores da poltica
pblica.
Os pases subdesenvolvidos no iro se desenvolver e gerar novas
tecnologias produzindo somente produtos primrios. Assim, deve-se exportar maior
quantidade de produtos manufaturados, incorporar tecnologias, diferenciando os
produtos. As indstrias iro auferir maiores lucros e os empreendedores iro sentir-
se estimulados a fazer novos investimentos. Esses investimentos podero ser feitos
em infraestrutura, pesquisa e desenvolvimento, inovaes tecnolgicas, que como
consequncia criar mais empregos. A populao ter um aumento na renda,
gerando maior poder de compra, a demanda ser em maior quantidade. Logo, a
oferta interna de produtos dever aumentar.
O governo deve criar incentivos para que novas indstrias produzam,
prevendo que esse aumento de demanda pode gerar inflao. Outros investimentos
tambm devero ser feitos, tais como em educao e especializao de mo de
obra.
2 O Plano de Metas de Juscelino Kubitschek (1956-1961) visava superar os pontos de estrangulamento da economia brasileira. O Plano de Metas se concentrava em quatro reas principais: investimentos estatais em infraestrutura, incentivo ao aumento da produo de bens de capital, incentivo introduo dos setores de bens de consumo durveis e estmulo produo de alimentos (SOUZA, 2008).
-
35
medida que as atividades urbanas vo se tornando mais complexas e que
as empresas vo exercendo efeitos multiplicadores sobre o setor do mercado
interno, o setor urbano-industrial demanda mo de obra, matrias-primas e
alimentos do setor agrcola. Observa-se, assim, que h uma forte ligao entre os
dois setores, agrcola e industrial, que se intensifica medida que as estruturas
regionais vo se diversificando, significando que a industrializao no se efetua de
modo independente da agricultura (SOUZA, 2012).
O autor ainda ressalta que a agroindustrializao surge como opo
promissora na transformao de produtos agrcolas e na absoro de trabalhadores
rurais. O aumento do emprego verifica-se tanto na agricultura como nas fases
intermedirias de beneficiamento, transporte e industrializao dos produtos. A
indstria pode beneficiar uma grande variedade de produtos agrcolas, aumentando
as exportaes, pois estas, quando em estado in natura, muitas vezes ficam
prejudicadas no caso de produtos perecveis.
O desenvolvimento da agroindstria familiar tem importantes desdobramentos
no territrio. Ocorrem mudanas no mbito interno da organizao da unidade
familiar de produo, no contexto mais amplo da organizao da agricultura familiar,
na diversificao econmica regional e no fortalecimento de sistemas
agroecolgicos de produo, entre outros aspectos (MIOR, 2007).
Prezotto apud Trentin e Wesz Junior (2005), diz que a agroindstria familiar
vem sendo alocada como um importante instrumento propulsor de desenvolvimento
sustentvel. A agroindstria familiar rural vista como uma das opes, capaz de
impulsionar a gerao de novos empregos e de renda, especialmente para os
agricultores familiares. Pode proporcionar, tambm, uma forma de incluso social e
econmica destes agricultores, aprimorando a sua qualidade de vida.
O autor ainda apresenta as vantagens da agroindstria familiar para a
sociedade, sendo elas:
a) gerao de renda atravs da agregao de valor aos produtos
agropecurios; gerao de postos de trabalho descentralizados,
especialmente no meio rural;
b) produo de alimentos com diversidade e qualidade ampla, considerando
principalmente os aspectos sanitrios, ecolgicos, nutricionais,
organolpticos, culturais e sociais;
-
36
c) diminuio do custo de transporte de matria prima pela aproximao da
indstria ao local de sua produo;
d) destinao adequada dos dejetos e resduos da produo primria e da
industrializao pela possibilidade de aproveitamento como insumo na
produo agropecuria;
e) estmulo ao desenvolvimento das economias locais e regionais pelo
aumento do consumo de bens e de equipamentos e insumos produtivos;
f) aumento da arrecadao de impostos pela dinamizao das economias
local e regional.
Segundo Becker (1989), a agroindstria faz parte do setor da indstria de
transformao e se destaca por ser dinmica. A agroindustrializao considerada
um setor motriz, pois:
a) concentra em si mais capital que um agricultor individual ou comerciante de
produtos rurais ou qualquer outra organizao em torno ao produtor rural;
b) significa centro nico da deciso dentro do complexo rural, representados
pelos agricultores em geral, empresrios rurais e outros;
c) concentra a capacidade tcnica, como organizao, gerncia, produo,
comercializao, informao sobre a produo agropecuria, sobre as
condies do mercado, etc.;
d) concentra a capacidade financeira, capaz de conseguir e aplicar
rapidamente grandes recursos.
De acordo com Tedesco (1999), a teoria de organizao industrial chama a
ateno para o fato de que o funcionamento da agroindstria para o produtor familiar
pode ser um caminho adequado ao desenvolvimento econmico. Lauschner apud
Tedesco (1999) aponta que a agroindstria, quando bem estruturada em um sistema
econmico, tende a integrar a produo e a controlar todo o agronegcio do seu
produto.
A agroindstria o agente principal que direciona e maximiza a eficincia do
uso dos insumos e investimentos rurais, pois localiza adequadamente a produo;
evita desperdcios e a perda de produtos; reduz os custos de armazenamento, de
transporte e das margens de comercializao; valoriza melhor o produto que lhe
serve de matria-prima e diversifica os subprodutos e mercados de destino; entre
-
37
outros. Assim, pode-se inferir que constitui um setor-motriz de desenvolvimento e um
plano estratgico para o desenvolvimento local.
1.2 A AGRICULTURA E O SETOR AGROINDUSTRIAL
O homem no nasceu agricultor: quando surgiu, o Homo sapiens era caador-
coletor. Quando comeou a praticar os plantios e a criao, no encontrou na
natureza nenhuma espcie domesticada. Tambm, no dispunha de instrumentos
adaptados ao trabalho agrcola, mas fabricou-os e tornou-os cada vez mais
poderosos. As formas de agricultura estavam baseadas na explorao combinada
de vrias espcies, segundo modalidades de organizao e de funcionamento muito
diversas (MIGUEL, 2009).
Ocorreram vrias transformaes nas bases tcnicas agrcolas, consorciado
com a mecanizao, a quimificao e a especializao da cadeia produtiva do setor
primrio. O objetivo era, em parte, o aumento da produtividade e da produo de
alimentos (TRENTIN apud TRENTIN; WESZ JUNIOR, 2005).
A produo do setor agrcola, no incio da dcada de 1960, tinha como base
culturas de exportao, como o caf e a cana de acar, e culturas destinadas ao
abastecimento interno, cultivadas normalmente com tcnicas intensivas em mo de
obra. A partir de 1967, com os militares no poder, introduziu-se fortes mudanas na
economia brasileira, as quais incluram o setor rural (GONZALEZ; COSTA, 1998).
A agricultura brasileira teve caractersticas marcadas pelo perodo colonial,
cujos reflexos se fazem presentes at a atualidade, onde se destaca ampla
propriedade com explorao da monocultura (PRADO JNIOR, 2008). Depois da II
Guerra Mundial, comearam grandes avanos na agricultura, e o processo, em
escala global, passou a ser conhecido como Revoluo Verde.
A agricultura apresentava-se como uma das principais atividades econmicas,
com grande potencialidade para incorporar este avano tecnolgico. Atravs da
Revoluo Verde, comeou-se a compreender que a agricultura desempenhava um
papel importante na economia de um pas.
Segundo Tedesco (1999), as mudanas na base tcnica da agricultura
ocorridas ps-dcada de 1970, privilegiaram certas regies e produtos, dando
margem ao aprofundamento das disparidades na agricultura brasileira. A partir
-
38
desse momento, a agricultura passou a ser fornecedora de matrias-primas e
mercado consumidor de mquinas e insumos modernos. Dentro desse espao, a
pequena produo que consegue resistir obrigada a organizar-se em novas bases
tcnicas, muitas vezes especializando-se num cultivo ditado pelo mercado ou pela
agroindstria.
De acordo com Padilha et. al. (2005), at a metade do sculo XX, os
agricultores familiares produziam para subsistncia, com policulturas. Tinham uma
relao familiar com a natureza e produziam em pequenas roas. A produo
excedente era comercializada, em alguns casos, nas casas de comrcio das
comunidades locais ou nas trocas com os vizinhos. A vida ocorria nas comunidades
onde havia escolas, igrejas e estabelecimentos comerciais para comprar roupas,
remdios, ferramentas e alguns utenslios.
As tcnicas agrcolas utilizadas eram as roadas, com instrumentos manuais
e trao animal, chamado tambm de agricultura tradicional. A preparao do solo, o
cultivo e a colheita eram frutos da experincia e passado de uma gerao para a
outra. Utilizavam como energia a gua, o vento, o homem e o animal (PADILHA et.
al., 2005).
Na agricultura tradicional, as unidades produtivas so, em geral, pequenas e
baseadas na famlia. O conhecimento existente e aplicado nesta atividade , em
grande parte, resultado de experincia local acumulada ao longo de anos e passada
entre geraes, pela observao e pela prtica. Deste modo, a agricultura se integra
no mercado como supridora de produtos agrcolas para consumo, processamento
industrial ou exportao e, tambm, como consumidora de insumos modernos e dos
demais bens e servios de que necessita (ACCARINI, 1987).
Zulian et. al. (2010) afirma que a agricultura familiar contribui
significativamente para a produo de alimentos, a gerao de renda e o
desenvolvimento de todas as regies do Brasil, tendo papel fundamental no
agronegcio3 brasileiro. Tedesco (1999) diz que, em geral, o produtor que administra
individualmente, com sua famlia, uma rea de terra reduzida e emprega nela a mo
3 Agronegcio: o termo abrange a soma de todas as operaes de produo, movimentao,
estocagem, transformao e comercializao de produtos e matrias primas oriundas do campo; procura abranger e mostrar por meio de uma viso sistmica, todas as atividades econmicas relacionadas com o meio agrcola e com as empresas agroalimentares (RODRIGUES; MARIETTO, 2010, p. 2).
-
39
de obra familiar, cuja produo est parcial ou integralmente orientada para o
comrcio, chamado de agricultor familiar.
De acordo com Tedesco (1999), a agricultura familiar assume grande
importncia atualmente. O Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura
Familiar (PRONAF) (2001) a define com base em quatro especificidades:
a) rea superior a quatro mdulos fiscais, quantificados na legislao em
vigor;
b) predomnio da mo de obra da famlia nas atividades do estabelecimento
ou empreendimento;
c) renda familiar rural originria de atividades vinculadas ao estabelecimento
ou empreendimento;
d) residncia no prprio estabelecimento ou em local prximo.
A Lei n. 4.504 (1964) tambm define o significado da propriedade familiar.
Para os efeitos desta Lei, no Art. 4 define-se
propriedade familiar, o imvel rural que, direta e pessoalmente explorado pelo agricultor e sua famlia, lhes absorva toda a fora de trabalho, garantindo-lhes a subsistncia e o progresso social e econmico, com rea mxima fixada para cada regio e tipo de explorao, e eventualmente trabalhado com a ajuda de terceiros.
Conforme Tedesco (1999), agricultura familiar entendida como aquela em
que a famlia, ao mesmo tempo em que proprietria dos meios de produo,
assume o trabalho do estabelecimento produtivo. O fato de uma estrutura produtiva
associar famlia-produo-trabalho tem consequncias fundamentais para a forma
como ela age econmica e socialmente.
Trentin e Wesz Jnior (2005) ressaltam a importncia da agricultura familiar
no Brasil. Percebe-se que aes cooperativas colocam-se na conjuntura quase que
elstica dos atores rurais sociais, tanto nas possibilidades de insero nos
mercados, como na criao de uma esfera mtua onde a organizao se d atravs
da criao do capital social.
De acordo com o Ministrio de Desenvolvimento Agrrio (MDA) (2009), a
agricultura familiar no Brasil, apesar de cultivar uma rea bem menor com lavouras e
pastagens, a principal responsvel por fornecer alimentos populao. O Valor
Bruto da Produo (VBP) por hectare ao ano da agricultura familiar 89% superior
ao gerado pela agricultura no familiar. Em relao s pessoas ocupadas por rea
-
40
total, a agricultura familiar ocupa quinze pessoas enquanto a agricultura no familiar
ocupa somente duas pessoas.
No Brasil, o nmero de estabelecimentos agropecurios, em 2006, era de
571.260, sendo que cerca de 94,3% destes eram estabelecimentos agropecurios
com agricultura familiar. J no Rio Grande do Sul, neste mesmo ano, o total de
estabelecimentos agropecurios era de 89.604, onde em torno de 93,9% estavam
ocupados com a agricultura familiar (IBGE, 2013a).
No momento em que se deu a passagem da condio de agricultor (modelo
voltado para a autossuficincia da propriedade) para o sistema de interdependncia,
o qual marca relaes entre o setor rural com o setor industrial e de servios, esse
processo proporcionou grandes benefcios para a sociedade (ARAJO et. al, [s.d.]).
Da relao existente entre o setor rural e o setor industrial, surge o agroindustrial, o
qual engloba caractersticas de indstria, porm no meio rural com insumos e mo
de obra oriundos da agricultura.
A agroindustrializao insere-se nas discusses das mudanas mais atuais
do sistema agroalimentar e da agregao de valor aos produtos agropecurios. As
transformaes no agronegcio tm sido intensas nos ltimos anos, principalmente
em temas que envolvem meio ambiente, incrementos tecnolgicos e a necessidade
de maior agregao de valor aos produtos voltados aos mercados internos e
externos. Na agricultura familiar, a agregao de valor tambm uma necessidade
manifestada tanto pelos agricultores, por meio de seus empreendimentos, como
pelos agentes de desenvolvimento e pelas prprias polticas pblicas (IPEA, 2013).
De acordo com Becker (1989), a agroindustrializao um setor da indstria
de transformao que mais independe dos sistemas econmicos, mas tambm
interfere, direta e indiretamente, na vida socioeconmica. Accarini (1987), ao
analisar a agricultura comercial, observa que esta visa obter excedentes para venda
e para atender a demanda, contrata trabalhadores, emprega mtodos mais
aprimorados de produo e comercializao.
Tedesco (1999) vem ao encontro afirmando que ao se introduzir o processo
de agroindustrializao em determinada regio, cria-se um acontecimento novo,
novas oportunidades, novas necessidades e transforma-se uma regio importadora
de matria-prima em exportadora de produtos agregados e proporcionadora de
renda local.
-
41
Segundo IPEA (2013), as experincias de agregao de valor que se
relacionam transformao agroindustrial no ambiente rural possuem um conjunto
de caractersticas principais:
a) visam adicionar valor s matrias-primas produzidas pelas prprias
unidades de produo, sobretudo na agricultura familiar;
b) produzem alimentos que podem ser definidos exclusivamente como
transformados;
c) so iniciativas que utilizam pequena e mdia escala quando ligadas
agricultura familiar;
d) os alimentos podem servir tanto para o autoconsumo familiar como para
comercializar.
Becker (1989), ao se referir sobre a agroindustrializao, explica que este
setor importante, pois introduz transformaes na estrutura social e institucional,
atravs de conhecimentos tcnicos e cientficos, que refletem tanto nos ambientes
urbanos quanto rurais. Rastoin apud Becker (1989) destaca ainda a importncia de
se industrializar a matria-prima originada da agricultura, devido aos seguintes
fatores:
a) superproduo gerada pela atividade com o aumento da produtividade e
melhorias tcnicas;
b) dificuldade de conservao dos produtos agrcolas;
c) desperdcio gerados nas atividades agrcolas;
d) necessidade de criao de maior lucro ao fazendeiro atravs da gerao
de novas riquezas;
e) necessidade de estabelecer uma fonte de conforto, de bem-estar e de
progresso.
Na agroindustrializao da produo na agricultura familiar comum se
deparar com graus de mercantilizao elevados. Isso se deve a grande maioria dos
mtodos de processamento de alimentos e a agregao de valor dado matria-
prima, que requer a adio de algumas substncias qumicas, como enzima,
nutrientes, sais especiais, microrganismos, etc., que no h como o agricultor
familiar ver num processo prprio de fabricao, pois o mesmo no detm o
conhecimento necessrio para tal fenmeno (PELEGRINI; GAZOLLA, 2008).
-
42
Atravs da agroindustrializao, os agricultores aumentaram seus
conhecimentos e seu nvel de informao, devido ao contato com outros atores e
instituies ao longo da cadeia produtiva e mercadolgica. A agroindstria
processadora teve seu dinamismo evidenciado por volta de 1975, expandindo em
cerca de 45% seu valor real da produo. Essa expanso foi fruto da nova
articulao entre a agricultura/indstria (KAGEYAMA et. al. apud TEDESCO, 1999).
Neste contexto, sobressaram-se as grandes agroindstrias integradoras,
impondo uma nova dinmica ao processo produtivo e que, pelos novos padres
tecnolgicos, exigiram um aumento na produo e nos ndices de produtividade.
Este processo, apesar de consistir em uma estratgia de crescimento de algumas
produes familiares, fez aumentar as diferenas socioeconmicas, excluindo
aqueles agricultores que no atingissem os padres impostos, demonstrando,
assim, seu carter seletivo (TRENTIN apud TRENTIN; WESZ JUNIOR, 2005).
1.2.1 Agroindstria familiar rural
A agroindstria familiar surge como uma maneira de coproduo entre os
agricultores e a natureza, sendo estabelecida pelos agricultores familiares como
uma estratgia de desenvolvimento rural alternativa, para conseguirem sair da
quebrada agricultura a que se encontravam nos ltimos anos (PLOEG apud
GAZOLLA; PELEGRINI, 2010). Ela um produto da ao concreta e prtica das
prprias famlias no seu dia a dia, tentando encontrar solues para os seus
problemas vivenciados (GAZOLLA; PELEGRINI, 2010).
De acordo com Mior (2007), a constituio de agroindstrias rurais pode ser
vista como um processo de reconfigurao de recursos (produto colonial),
promovido pela agricultura familiar em conjunto com suas organizaes associativas
e com o apoio do poder pblico. De um produto conservado para a subsistncia da
famlia rural, para consumo na entressafra, o produto colonial processado passa a
ser visto pelos agricultores como um produto comercial e, portanto, como fonte de
renda da unidade de produo familiar.
Gazolla e Pelegrini (2010) caracterizam brevemente este setor da agricultura
familiar, onde se pode dizer que, do ponto de vista da sua existncia, a maior parte
das agroindstrias existe a menos de dez anos, significando que as iniciativas so
-
43
relativamente atuais. Isso se deve, especialmente, a crise do padro agrcola de
desenvolvimento, a procura de diversificao econmica e produtiva, e a programas
do governo e polticas pblicas existentes na rea da agroindustrializao.
Peres et. al. (2009), diz que o desenvolvimento da agroindstria familiar
permite visualizar a viabilidade econmica do meio rural, refletindo na permanncia
do homem no campo, principalmente dos filhos e filhas, que antes viam dificuldades
diante das poucas opes que lhes eram oferecidas. Na agroindstria familiar so os
membros do grupo domstico que realizam quase todas as tarefas, sejam elas de
produo, de obteno da matria-prima, do processamento e da elaborao dos
produtos, bem como o acesso aos mercados (GAZOLLA; PELEGRINI, 2010).
Em outro estudo, Pelegrini e Gazolla (2009) usaram os principais elementos
do conceito de agroindstria que, para ser entendida como familiar, deve
compreender os seguintes aspectos:
a) uma famlia individual, de um grupo de agricultores ou de um grupo de
agricultores associados em rede ou cooperativas que tm, na sua maneira
de vida, trabalho e gesto, o formato familiar de administrar o
empreendimento;
b) o empreendimento deve produzir a maioria da sua matria-prima na prpria
propriedade rural. Esta matria-prima necessitar ser utilizada no
processamento dos alimentos, podendo, s vezes, ser adquirida de outros
agricultores prximos s suas propriedades, porm, no em percentuais
elevados;
c) a fora de trabalho utilizada no empreendimento deve ser, na sua maior
parte, a prpria famlia, ou seja, as tarefas realizadas nas atividades de
administrao, de comercializao e do trabalho dirio, devem ser
realizadas por pessoas do grupo domstico em questo, podendo haver
contratao de fora de trabalho externo s agroindstrias, desde que em
nmero pequeno;
d) a famlia rural aquela cujos laos de parentesco e sanguneos entre os
seus membros so histricos, hereditrios.
Mior (2007) destaca tambm outros aspectos que caracterizam a
agroindstria familiar rural, tais como:
a) a localizao no meio rural;
-
44
b) a utilizao de mquinas e equipamentos em escalas menores;
c) a procedncia prpria da matria-prima em sua maior parte, ou de vizinhos;
d) os processos artesanais prprios;
e) a predominncia da mo de obra familiar.
Qualquer produo dos estabelecimentos rurais considerada como um tipo de
fabricao, transformao ou processamento, implica na existncia de uma
agroindstria rural (IPEA, 2013). Mior (2007) ressalta que a agroindstria familiar
rural pode vir a ser um empreendimento associativo, agrupando uma ou vrias
famlias aparentadas ou no. Outra dimenso importante que a agroindstria
familiar est crescentemente internalizando os aspectos legais, tanto do ponto de
vista sanitrio como ambiental e fiscal, diante dos organismos de regulao pblica.
A agroindstria familiar rural uma forma de organizao onde a famlia rural
produz, processa e/ou transforma parte de sua produo agrcola e/ou pecuria,
visando, especialmente, a produo de valor de troca que se realiza na
comercializao (MIOR, 2007). De acordo com Arajo (2007), agroindstrias so as
unidades empresariais onde acontecem as etapas de beneficiamento,
processamento e transformao de produtos agropecurios in natura at a
embalagem, prontos para comercializar.
J para Prezotto apud Trentin e Wesz Jnior (2005), a agroindstria, quando
familiar, pode ser definida como uma unidade de transformao e/ou beneficiamento
de produtos agropecurios produzidos pelos agricultores familiares. Ela
gerenciada pelos prprios agricultores e constituda de instalaes e equipamentos
adequados escala de produo no industrial tradicional, ou seja, de grandes
agroindstrias.
A agroindstria familiar de propriedade de pequenos agricultores e
distinguida pela verticalizao da produo. Os prprios proprietrios dos
empreendimentos produzem e industrializam os insumos. J a posse e a gesto da
agroindstria podem ocorrer particularmente ou em uma forma de organizao em
grupos de famlias. Quando se pensa em desenvolvimento, a forma associativa
aperfeioa o espao e o nmero de pessoas envolvidas, ou seja, envolve e garante
a reproduo de mais atores sociais (TRENTIN; WESZ JUNIOR, 2005).
A matria-prima que abastece essa agroindstria ser produzida na
propriedade e, em alguns casos, adquirida dos associados. O baixo custo no
-
45
transporte de matrias-primas pode traduzir-se em vantagens de custos, gerando
lucros, quando o preo praticado for inferior ao dos concorrentes no mercado,
podendo, em decorrncia, concorrer igualmente com as grandes indstrias
(TRENTIN; WESZ JUNIOR, 2005).
Os autores ainda reforam que, quando distribudo em comrcios locais e
regionais, o produto final possuir algumas vantagens. Alm de estar embutida a
identidade do territrio, ter uma origem conhecida, ou seja, ocorrer uma
valorizao regional. Portanto, necessria uma conscientizao da populao
consumidora para, posteriormente, valorizar determinado territrio. Essa valorizao
trar um reconhecimento territorial e, por conseguinte, um desenvolvimento rural.
A forma artesanal, colonial ou at mesmo orgnica da agroindstria familiar
rural deve ser includa como uma caracterstica do produto, pois se possui uma
conscincia no que diz respeito forma produo. Isso j pode ser considerado
como uma distino das pequenas agroindstrias familiares rurais sobre as grandes
agroindstrias (TRENTIN; WESZ JUNIOR, 2005).
Isso vem ao encontro de Mior (2007), o qual ressalta que a trajetria
tecnolgica da agroindstria familiar rural, reside sobre sua capacidade de uso de
um saber fazer incorporado na cultura regional. As caractersticas socialmente
valorizadas pelo consumidor regional so as ligadas s dimenses de qualidade,
diferenciada da produo da agroindstria convencional. Assim, os produtos da
agroindstria familiar podem se beneficiar pela sua imagem de produo artesanal,
colonial e/ou agroecolgica.
Para Pelegrini e Gazolla (2008), estas iniciativas em torno da agregao de
valor podem ser conceituadas como atividades de produo de matrias-primas
agropecurias e alimentos com sua consequente transformao em derivados
alimentares de diversos tipos, ocorrendo neste processo agregao de valor ao