agroindustrialização

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FACULDADE HORIZONTINA CURSO DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS DINARA LAÍS BORTOLUZZI AGROINDÚSTRIA FAMILIAR RURAL E DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO: UM ESTUDO NO MUNICÍPIO DE DOUTOR MAURÍCIO CARDOSO/RS Orientadora: Me. Jaqueline Primo Nogueira de Sá Coorientadora: Dra. Janete Stoffel Horizontina 2013

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  • FACULDADE HORIZONTINA

    CURSO DE CINCIAS ECONMICAS

    DINARA LAS BORTOLUZZI

    AGROINDSTRIA FAMILIAR RURAL E DESENVOLVIMENTO

    ECONMICO: UM ESTUDO NO MUNICPIO DE DOUTOR MAURCIO

    CARDOSO/RS

    Orientadora: Me. Jaqueline Primo Nogueira de S

    Coorientadora: Dra. Janete Stoffel

    Horizontina

    2013

  • DINARA LAS BORTOLUZZI

    AGROINDSTRIA FAMILIAR RURAL E DESENVOLVIMENTO ECONMICO: UM

    ESTUDO NO MUNICPIO DE DOUTOR MAURCIO CARDOSO/RS

    Trabalho Final de Curso apresentado como

    requisito para a obteno do ttulo de Bacharel

    em Cincias Econmicas, pelo Curso de Cincias

    Econmicas da Faculdade Horizontina.

    Orientadora: Me. Jaqueline Primo Nogueira de S

    Coorientadora: Dra. Janete Stoffel

    Horizontina

    2013

  • FACULDADE HORIZONTINA

    CURSO DE CINCIAS ECONMICAS

    A Comisso Examinadora, abaixo assinada, aprova a monografia:

    AGROINDSTRIA FAMILIAR RURAL E DESENVOLVIMENTO ECONMICO: UM

    ESTUDO NO MUNICPIO DE DOUTOR MAURCIO CARDOSO/RS

    Elaborada por:

    Dinara Las Bortoluzzi

    Como requisito para a obteno do grau de Bacharel em

    Cincias Econmicas

    Aprovado em: 06/12/2013 Pela Comisso Examinadora

    ________________________________________________________ Me. Jaqueline Primo Nogueira de S

    Presidente da Comisso Examinadora Orientadora

    _______________________________________________________ Me. Vonia Engel

    FAHOR Faculdade Horizontina

    ______________________________________________________ Especialista Tiago Neu Jardim

    FAHOR Faculdade Horizontina

    Horizontina

    2013

  • Dedico este trabalho ao meu marido Guilherme

    e a meus pais, Valmir e Leonice, que sempre

    estiveram ao meu lado, me apoiando e

    ajudando a superar os obstculos.

  • Agradeo a Deus pela vida e pela conquista de

    mais um passo em minha caminhada. Por Ele

    iluminar meu caminho, meus dias e por orientar

    meus pensamentos. Agradeo aos familiares e

    amigos pela compreenso, apoio e carinho.

  • Quem no luta pelo destino que quer, deve

    aceitar o futuro que vier. (Annimo)

  • RESUMO

    Esta pesquisa buscou analisar a contribuio das agroindstrias familiares rurais no municpio de Doutor Maurcio Cardoso, RS, promovendo o desenvolvimento local. A partir dos anos 1980, comearam a surgir grupos de agricultores familiares que passaram a procurar novas alternativas de produo. Dentre as alternativas, que os agricultores familiares encontraram para melhorar suas condies de vida, uma foi a agroindustrializao da produo agropecuria. As agroindstrias surgem para agregar valor ao produto, aumentando a renda recebida pelo produtor. Para atingir o objetivo proposto, realizou-se uma pesquisa com as agroindstrias familiares rurais existentes em Doutor Maurcio Cardoso, RS. Atravs da pesquisa realizada, pode-se inferir que o papel das agroindstrias familiares rurais de fundamental importncia para o municpio e regio onde esto instaladas, visto que as mesmas propiciam aos produtores rurais melhora na renda, no emprego e na qualidade de vida. Tambm, as agroindstrias familiares rurais de Doutor Maurcio Cardoso so relativamente recentes, pois suas iniciativas no ultrapassam 10 anos, sendo suas vendas registradas principalmente atravs do bloco de produtor rural e de cooperativa. Em relao renda dos produtores rurais, percebe-se o aumento aps a criao das agroindstrias. A melhora nas condies financeiras dos produtores, o aumento do PIB municipal e a arrecadao do municpio, so condies a serem analisadas pelos administradores municipais para incentivar a criao de agroindstrias no municpio e, tambm, a permanncia da populao jovem em Doutor Maurcio Cardoso, visto que ao se criar condies de emprego e renda no local, estes podem permanecer e empreender no municpio. Palavras-chave: Agroindstria familiar rural. Desenvolvimento econmico. ndice de Desenvolvimento Humano (IDH).

  • ABSTRACT

    This research aimed to analyze the role of rural family agribusiness in the city of Dr. Mauricio Cardoso, RS, promoting local development. Since 1980s, it started to emerge groups of farmers who began searching for new production alternatives. Among these alternatives it was agro-industrialization of agricultural production. Agribusinesses appear to add value to the product, increasing the income received by the producer. To reach the paper goal, it was carried out a survey with some of the rural family agribusinesses. It was possibly to infer that the role of rural family agribusiness is very important for the city and region where they are installed. They also provide better conditions to farmers improving their income, employment and quality of life. The rural family agribusinesses from Dr. Mauricio Cardoso are relatively recent, because their efforts do not exceed 10 years. Their sales are recorded mainly through block farmer and cooperative. The improvement in the financial conditions of the producers, the increase in the GNP of the city and the raised in collection of taxes need to be analyzed by district administrators to encourage the establishment of agro-industries in the county. Creating conditions of local employment and income could encourage the permanence of young population in Dr. Mauricio Cardoso and, at the same time, the entrepreneurship in the county side. Key-words: Rural Family Agribusiness. Economic development. Human Development Index.

  • LISTA DE FIGURAS

    Figura 1: Mapa dos municpios do COREDE Fronteira Noroeste ............................. 58

    Figura 2: Populao de Doutor Maurcio Cardoso em 2010 ..................................... 60

    Figura 3: Valor Adicionado Bruto de Doutor Maurcio Cardoso em 2010 .................. 62

    Figura 4: Evoluo do Valor Adicionado Bruto de Doutor Maurcio Cardoso de 2001

    a 2010 ....................................................................................................... 63

    Figura 5: IDHM municipal por dimenso ................................................................... 64

    Figura 6: Mapa de Doutor Maurcio Cardoso, RS e a localizao das agroindstrias

    .................................................................................................................. 66

    Figura 7: Tempo de existncia das agroindstrias familiares rurais de Doutor

    Maurcio Cardoso, RS ............................................................................... 67

    Figura 8: Nmero de famlias atuando diretamente nas agroindstrias .................... 68

    Figura 9: Idade do produtor/responsvel pela agroindstria ..................................... 68

    Figura 10: Escolaridade dos produtores e colaboradores das agroindstrias ........... 69

    Figura 11: Destino da produo das agroindstrias .................................................. 70

    Figura 12: Rendimento mdio mensal antes e depois da constituio da

    agroindstria ............................................................................................. 71

    Figura 13: Faixa etria e sexo da populao de Doutor Maurcio Cardoso, RS em

    2011 .......................................................................................................... 73

  • LISTA DE QUADROS

    Quadro 1 Especificidades dos processos produtivos ............................................. 48

    Quadro 2 Especificidades da produo .................................................................. 49

    Quadro 3 Estratgias de comercializao .............................................................. 50

    Quadro 4 - Normas para construo de agroindstrias ............................................. 53

  • SUMRIO

    INTRODUO ................................................................................................. 12

    1 AGROINDSTRIA FAMILIAR RURAL E DESENVOLVIMENTO

    ECONMICO ................................................................................................... 16

    1.1 DESENVOLVIMENTO E CRESCIMENTO ECONMICO ......................... 16

    1.1.1 Indicadores de desenvolvimento e crescimento econmico .......... 24

    1.1.2 O papel da indstria e da agricultura no desenvolvimento

    econmico ...................................................................................................... 31

    1.2 A AGRICULTURA E O SETOR AGROINDUSTRIAL ................................. 37

    1.2.1 Agroindstria familiar rural ................................................................. 42

    1.2.2 Especificaes do produto e da atividade agroindustrial ................ 47

    2 METODOLOGIA .......................................................................................... 55

    3 APRESENTAO E ANLISE DOS RESULTADOS ................................. 57

    3.1 CARACTERIZAO DE DOUTOR MAURCIO CARDOSO, RS ............... 57

    3.2 AGROINDSTRIAS FAMILIARES RURAIS DE DOUTOR MAURCIO

    CARDOSO, RS ................................................................................................ 65

    3.3 ANLISE DOS RESULTADOS .................................................................. 74

    CONSIDERAES FINAIS ............................................................................. 77

    REFERNCIAS ................................................................................................ 80

    APNDICE 1 .................................................................................................... 86

    APNDICE 2 .................................................................................................... 90

  • 12

    INTRODUO

    A agricultura dependente do que acontece na economia mundial como um

    todo. As principais transformaes ocorridas na agricultura mundial tiveram incio

    com a Revoluo Verde1, iniciada aps o fim da Segunda Guerra Mundial, e seguiu

    com as transformaes mais recentes, em curso a partir do incio dos anos de1990,

    marcada pela globalizao econmica e pela constituio de grandes empresas,

    agroindstrias e varejistas, que controlam o mercado mundial (NUNES, 2007).

    O processo de modernizao da agricultura, implementado nas dcadas de

    1960 e 1970, gerou novas formas de organizao da produo, onde promoveu o

    aumento na produo de gros (PERES et. al., 2009). Com base nos princpios da

    Revoluo Verde, ao longo das ltimas dcadas, na economia mundial, os sistemas

    produtivos agrcolas sofreram alteraes importantes. Seus reflexos estiveram

    presentes em vrios pases, medida que se alcanavam ganhos de produtividade

    via incorporao de novos fatores de produo, tais como o uso de sementes

    melhoradas, adubos qumicos, agrotxicos e maquinaria agrcola (TEDESCO, 1999).

    A partir dos anos de 1980, comearam a surgir grupos de agricultores

    familiares que passaram a procurar novas alternativas. Essas corresponderam ao

    desenvolvimento de estratgias de reproduo social, pautadas nas potencialidades

    endgenas e na realidade vivenciada pelo grupo familiar, diversificando a produo,

    atravs da implantao de pomares de frutferas, bovinocultura de leite, horticultura,

    entre outros (PERES et. al., 2009).

    Dentre as alternativas, que os agricultores familiares encontraram para

    melhorar suas condies de vida, uma foi a agroindustrializao da produo

    agropecuria. Peres et. al. (2009) diz que a industrializao dos produtos

    agropecurios uma alternativa para a sustentabilidade da agricultura familiar.

    A partir dos anos de 1990, acompanhou-se uma exploso do surgimento de

    agroindstrias que no nasceram mais com o objetivo de industrializar a produo

    excedente nem de ser uma das receitas da propriedade familiar rural, mas como a

    principal fonte de renda e estratgia da propriedade familiar rural (PERES et. al.,

    1 Revoluo Verde refere-se ao enorme aumento de rendimento de certos cereais nas dcadas de

    60 e 70, graas ao desenvolvimento de variedades modernas e variedades de alto rendimento (NORTH, 2006, p. 26).

  • 13

    2009). Assim, e tambm com a expanso da produo industrial, a agricultura

    deixou de ser um setor econmico distinto, passando a se integrar dinmica da

    produo industrial, no que ficou conhecido como agroindustrializao (TEDESCO,

    1999).

    A agroindustrializao se estabelece como um fomentador do

    desenvolvimento econmico brasileiro e gacho. A agroindstria familiar rural traz

    melhorias no meio rural, pois amplia a renda, gera empregos e ajuda na

    permanncia do homem no campo, principalmente os filhos dos agricultores, que

    antes viam dificuldades para permanecer no campo diante das poucas opes que

    lhes eram oferecidas. Assim, atravs das agroindstrias, o produtor pode processar

    e/ou transformar insumos produzidos em sua propriedade que antes eram

    comercializados in natura, ou seja, sem valor agregado.

    A agroindustrializao um setor da indstria de transformao. Isso se deve,

    pois a agroindstria engloba atividades industriais para beneficiar, processar e/ou

    transformar seus insumos in natura em produtos industrializados (BECKER, 1989).

    Reforando essa constatao, Prezotto apud Wesz Junior et. al. (2008) afirma que

    esse tipo de industrializao oferece possibilidades de descentralizao da

    produo, trazendo uma viso de desenvolvimento que d valor ao meio rural,

    proporcionando um melhor emprego do espao territorial, de busca da recuperao

    e preservao ambiental e de avanos no meio rural.

    Peres et. al. (2009) refora que este tipo de atividade tambm advm do

    carter empreendedor de muitos agricultores familiares que, na busca de

    alternativas para ampliao da renda familiar, encontram na verticalizao da

    produo uma brecha para escaparem das dificuldades encontradas, principalmente

    financeiras. A insuficincia de terra e a falta de mo de obra so outros obstculos

    comuns encontrados na realidade rural.

    Uma das atividades que engloba tanto a agricultura como a indstria a

    agroindstria familiar. Neste sentido e diante do tema exposto anteriormente, surge

    a seguinte questo: as agroindstrias familiares rurais existentes no municpio de

    Doutor Mauricio Cardoso, RS proporcionam desenvolvimento econmico local?

    O desenvolvimento rural depende do surgimento de iniciativas que favoream

    o aumento, a permanncia e a reaplicao da renda da agricultura no prprio

    municpio, estimulando o comrcio local. Portanto, optou-se como tema a

  • 14

    agroindstria familiar e sua influncia sobre o desenvolvimento econmico, um

    estudo atravs das agroindstrias familiares do municpio de Doutor Maurcio

    Cardoso/RS no perodo de 2001 a 2010.

    A razo de desenvolver um estudo sobre as agroindstrias familiares rurais

    est na importncia deste setor para o desenvolvimento econmico, pois as

    agroindstrias familiares produzem alimentos que movimentam a economia familiar

    do municpio e do Estado. Outro ponto importante, que este estudo permitir

    utilizar os conhecimentos de economia, adquiridos no Curso de Graduao em

    Cincias Econmicas, para analisar os efeitos que as agroindstrias proporcionam

    para o desenvolvimento.

    importante ressaltar que a contribuio do estudo vai alm, tornando-se

    uma importante ferramenta para uma melhor administrao do municpio de Doutor

    Maurcio Cardoso, RS - objeto do presente estudo - e elaborao de propostas de

    planejamento, visto que o mesmo investe nas agroindstrias familiares. Tambm,

    importante para estudantes universitrios de diferentes cursos, visto que h estudos

    nesta rea com diversos enfoques.

    Havendo melhorias na qualidade de vida da populao pode-se dizer que

    est ocorrendo desenvolvimento. Assim, o presente estudo tem como objetivo geral:

    analisar a contribuio das agroindstrias familiares rurais para o municpio de

    Doutor Maurcio Cardoso, RS, promovendo o desenvolvimento local. Para que o

    objetivo geral seja atingido, tm-se os seguintes objetivos especficos:

    a) averiguar questes referentes ao crescimento e desenvolvimento local;

    b) caracterizar o setor da agroindstria familiar rural com foco no municpio

    de Doutor Maurcio Cardoso;

    c) verificar indicadores de crescimento e desenvolvimento, como gerao de

    renda e de emprego, com a implantao das agroindstrias familiares

    rurais, focando o municpio em estudo no perodo de 2001 a 2010.

    O presente trabalho foi composto por quatro captulos para melhor

    desenvolver o assunto. No primeiro captulo foi feita uma contextualizao do tema,

    trazendo o problema de pesquisa, a justificativa da escolha do tema e os objetivos

    que nortearam o estudo.

    A seguir, no segundo captulo, descreve-se a metodologia usada para atingir

    os objetivos propostos. Ainda, nesse captulo, detalham-se os tipos de pesquisa, a

  • 15

    unidade de estudo, a forma de coleta e tratamento dos dados e as limitaes do

    mtodo.

    No terceiro captulo apresenta-se a reviso da literatura acerca do tema

    abordado. Foram tratadas questes sobre desenvolvimento e crescimento

    econmico e alguns indicadores, dentre eles o ndice de Desenvolvimento Humano

    (IDH). Tambm, foi feita uma anlise sobre o papel da indstria e da agricultura no

    desenvolvimento econmico. Outros aspectos abordados foram agricultura e o

    setor agroindustrial, especificaes do produto agroindustrial e a agroindstria

    familiar rural.

    No quarto captulo foi feita a apresentao e anlise dos resultados da

    pesquisa. Na ltima parte do trabalho, apresentam-se as consideraes finais e as

    perspectivas para um prximo trabalho, seguido das referncias utilizadas e dos

    apndices.

  • 16

    1 AGROINDSTRIA FAMILIAR RURAL E DESENVOLVIMENTO ECONMICO

    Para que o problema levantado seja respondido, torna-se necessrio,

    primeiramente, expor alguns pontos tericos sobre o tema em questo para, no

    prximo captulo, servirem de base anlise dos resultados. Portanto, a seguir

    sero apresentados conceitos, definies e alguns indicadores acerca de

    desenvolvimento e crescimento econmico. Logo aps, ser feito uma explanao

    sobre a agricultura e o setor agroindustrial, caracterizando a agroindstria familiar

    rural. Tambm ser explanado o papel da indstria e da agricultura no

    desenvolvimento econmico.

    1.1 DESENVOLVIMENTO E CRESCIMENTO ECONMICO

    O desenvolvimento um fenmeno de natureza social, marcado pelo debate

    quanto as suas formas de percepo e de aferimento. Isso se deve ao fato, de que o

    desenvolvimento s existe como tal na medida em que passa a ser percebido como

    uma situao que causa alteraes em determinada sociedade humana. Essas

    mudanas ocorrem devido a aes individuais e coletivas que podem produzir

    impactos em seus meios de vida (CONTERATO; FILLIPI, 2009).

    O termo desenvolvimento econmico surgiu a partir do sculo XX, porm,

    antes mesmo j se falava na ideia por traz do termo. O objetivo daqueles que se

    ocupavam com as finanas pblicas era aumentar o poder econmico e militar do

    soberano. Pouca era a preocupao com a melhora das condies da vida do povo

    (SOUZA, 2012).

    Os mercantilistas diziam que a riqueza de uma nao dependia do acmulo

    de metais preciosos. Para os pases que no possuam minas de metais preciosos

    em seu territrio, sugeriu-se uma balana de comrcio favorvel: receber mais

    metais com as exportaes do que emitir com as importaes. Isso significava

    estimular a indstria, pois seus produtos valiam mais do que os da agricultura e

    receberiam mais metais preciosos com a venda nos mercados estrangeiros.

    Preocupavam-se em expandir as exportaes que desafogavam os estoques de

    mercadorias e elevavam o nvel de renda e de emprego.

  • 17

    Como reaes ao mercantilismo surgiram s escolas fisiocrtica e clssica,

    que se preocuparam com os problemas do crescimento e da distribuio. Para os

    fisiocratas, o desenvolvimento era gerado na agricultura, por meio da terra. Para

    essa escola o aumento de investimentos na agricultura elevava a produtividade

    agrcola e impulsionava o crescimento do resto da economia. Deveria haver a

    conteno dos gastos em bens de luxo, pois seria indispensvel para no afetar a

    demanda de produtos agrcolas, seus preos e o nvel dos investimentos na

    agricultura. A eliminao das restries s exportaes seria necessria para

    aumentar o seu fluxo e manter em elevao os preos dos produtos agrcolas,

    estimulando o desenvolvimento (SOUZA, 2012).

    Para a viso clssica, Smith (2003) dizia que o elemento essencial da riqueza

    de uma nao era o trabalho produtivo. Defende o liberalismo econmico atravs da

    teoria da mo invisvel, a qual aceita uma interveno mnima do Estado na

    economia. O comrcio livre permite que cada pas se especialize naquilo que melhor

    sabe fazer (com menores custos e maior produtividade). O autor defendia que o

    Estado deveria apenas regulamentar a concorrncia e manter a educao, a sade

    e a segurana, e isto sim aumentaria a riqueza total das naes.

    A origem do estado nacional moderno, o Renascimento e as grandes

    descobertas martimas revolucionaram as relaes econmicas. A abordagem do

    desenvolvimento ficou mais enfatizada a partir das flutuaes econmicas do sculo

    XIX. Com a concentrao de renda e da riqueza em nvel mundial, agravada com o

    surgimento de alguns poucos pases industrializados, tornou-se mais evidente a

    desigualdade entre naes ricas e pobres (SOUZA, 2012).

    Fonseca (2006) afirma que a riqueza uma disponibilidade, ou estoque, de

    bens que atendem necessidades humanas, ou de determinadas coisas, como, por

    exemplo, ouro e prata, estes usados para conseguir o que fosse necessrio para os

    interesses do pas. Devido a essa riqueza, Souza (2012) diz que mesmo no interior

    dos pases industrializados, tornou-se mais evidente o desnvel do desenvolvimento

    entre regies e classes sociais.

    Aps a Segunda Guerra Mundial, a maioria dos territrios havia alcanado

    independncia poltica e, imediatamente, tomaram medidas para estimular o

    crescimento econmico. Porm, a dificuldade encontrada era conseguir com que os

  • 18

    governos e a sociedade vissem a pobreza como uma condio que requer esforos

    urgentes para ameniz-la (BALDWIN, 1979).

    A questo do desenvolvimento econmico tambm se tornou mais visvel no

    final dos anos de 1930, com a aplicao da Contabilidade Nacional, originada com a

    teoria keynesiana. Atravs dela, comeou-se a comparar a renda per capita dos

    pases e a classific-los como ricos ou pobres. Outros indicadores passaram a

    ser usados, fazendo com que os pases pobres fossem classificados como

    subdesenvolvidos (SOUZA, 2012).

    Isso vem ao encontro de Fonseca (2006), o qual ressalta que o

    desenvolvimento econmico um fenmeno histrico que foi marcado pelo aumento

    acentuado da riqueza nacional. um processo relativamente recente, pois coincide

    com o aparecimento do capitalismo e com o incio da Revoluo Industrial.

    Baldwin (1979) refora dizendo que desde 1945 o desenvolvimento

    econmico tem se tornado o maior problema poltico e social em mbito mundial.

    Segundo o autor, isso se deve s mudanas nas atitudes da sociedade, pois os

    fatos referentes pobreza tm estado sempre disponveis para quem desejar

    verificar.

    Souza (2012) diz que no existe uma definio universalmente aceita de

    desenvolvimento. Uma primeira corrente de economistas considera crescimento

    como sinnimo de desenvolvimento. J uma segunda corrente, diz que o

    crescimento condio indispensvel para o desenvolvimento, mas no condio

    suficiente.

    Para diversos autores, desenvolvimento apenas outro nome para o

    fenmeno crescimento econmico. Por esta viso, o crescimento econmico um

    processo contnuo de progresso cientfico e sua aplicao tcnica de produo,

    mediante acumulao de capital. Porm, possvel indagar esta proposio, pois o

    progresso da civilizao no foi verificado uniformemente em todas as regies

    habitadas do mundo, se concentrou em alguns poucos pases (BALDWIN, 1979).

    Singer (1977) conceitua crescimento econmico como um aumento contnuo,

    no tempo, do Produto Nacional Bruto e tambm no produto per capita, em termos

    reais. Feij (2007) distingue o crescimento econmico, dizendo que poder estar

    acima do crescimento da tecnologia apenas enquanto a economia estiver

  • 19

    convergindo para um caminho de crescimento equilibrado. Quando alcan-lo, o

    crescimento da tecnologia determinar todo o crescimento da economia.

    Para que ocorra o crescimento econmico, segundo Feij (2007), deve haver

    as condies necessrias para tal acontecimento, como o progresso tecnolgico e

    alta taxa de investimento em capital humano. Sendo assim, polticas econmicas

    esclarecidas conduziro ao crescimento econmico e, com ele, surgiro

    oportunidades para o desenvolvimento econmico.

    Souza (2012) profere que os economistas que associam crescimento com

    desenvolvimento, consideram que um pas subdesenvolvido porque cresce

    menos do que os desenvolvidos, embora apresente recursos ociosos, ou seja, no

    utiliza integralmente os fatores de produo de que dispe e, portanto, a economia

    expande-se abaixo de suas possibilidades. A segunda corrente mostra o

    crescimento econmico como uma variao quantitativa do produto, enquanto o

    desenvolvimento envolve mudanas qualitativas no modo de vida das pessoas,

    instituies e estruturas produtivas. Assim, o desenvolvimento se caracteriza pela

    transformao de uma economia atrasada em uma economia moderna, eficiente e

    em conjunto com uma melhora do padro de vida da populao.

    Para Fonseca (2006), o desenvolvimento econmico consiste em um

    processo de enriquecimento das naes e de seus habitantes, ou seja, h

    desenvolvimento com acumulao de recursos econmicos, sejam eles ativos

    individuais ou infraestrutura social. Tambm h desenvolvimento com um

    crescimento da produo nacional e das remuneraes obtidas pelos que participam

    da atividade econmica.

    Desenvolvimento econmico define-se pela existncia de crescimento

    econmico contnuo, em ritmo superior ao crescimento demogrfico, envolvendo

    mudanas de estruturas e melhoria de indicadores econmicos, sociais e

    ambientais. Compreende um fenmeno de longo prazo, implicando o fortalecimento

    da economia nacional, a ampliao da economia de mercado, a elevao geral da

    produtividade e do nvel de bem-estar da populao, com a preservao do meio

    ambiente (SOUZA, 2012).

    Delfim Neto (1999) interpreta desenvolvimento como um jogo cooperativo

    entre trs parceiros: os trabalhadores, os empresrios e o governo, onde preciso

    construir instituies que, sem prejudicar a eficincia, garantam aos trabalhadores

  • 20

    uma eficaz realidade participativa. Eles tm que se perceber parte integrante e

    respeitada do processo de crescimento.

    Por sua vez, Baldwin (1979) define o desenvolvimento econmico como um

    processo dinmico e sequencial. Mudanas em uma srie de variveis ocasionam

    alteraes em outras que, por sua vez, podem produzir acrscimos na renda per

    capita.

    De maneira geral, segundo Souza (2012), uma definio completa de

    desenvolvimento envolve alm de indicadores econmicos e sociais, a questo da

    preservao do meio ambiente. Com o passar do tempo, o crescimento econmico

    tende a esgotar os recursos produtivos escassos, como exemplo pode-se citar que o

    crescimento econmico acelerado pode provocar o desmatamento de florestas. A

    atividade agrcola tende a ocupar vastas reas de terras onde se encontravam

    florestas. A atividade produtiva pode poluir as fontes de gua e o ar, interferindo no

    clima e no regime de chuvas, etc.

    O autor ainda ressalta que, com o desenvolvimento, a economia adquire

    maior estabilidade e diversificao, o progresso tecnolgico e a formao de capital

    tornam-se progressivamente fatores endgenos, isto , gerados no interior do pas.

    O desenvolvimento econmico se caracteriza por mudanas de estruturas

    econmicas, sociais, polticas e institucionais, com melhoria da produtividade e da

    renda mdia da populao.

    Portanto, o desenvolvimento econmico no pode ser confundido com

    crescimento, pois a expanso nem sempre favorece a economia como um todo.

    Feij (2007) destaca que o desenvolvimento, alm de crescimento econmico,

    requer polticas pblicas e aes privadas que possam espalhar os benefcios do

    crescimento, alcanando um nmero maior de pessoas.

    Mesmo que a economia cresa, a taxas relativamente elevadas, o

    desemprego pode no estar reduzindo na rapidez necessria, tendo em vista a

    tendncia contempornea de robotizao e informatizao do processo produtivo. O

    crescimento econmico precisa superar o crescimento demogrfico para expandir o

    nvel de emprego e a arrecadao pblica, a fim de permitir ao Governo realizar

    gastos sociais e atender as pessoas mais carentes. Assim, h uma melhora nos

    indicadores sociais, incluindo melhores nveis de educao e conscincia ambiental

    (SOUZA, 2012).

  • 21

    Vale notar a contribuio de Delfim Neto (1999), o qual destacou que para ser

    possvel o crescimento de longo prazo necessrio que o pas possua estabilidade

    macroeconmica. Isso implica nveis de inflao baixos e previsveis, poltica fiscal

    estvel e responsvel, taxa de juro real adequada, taxa de cmbio real de equilbrio

    e previsvel, balano em conta corrente em situao considerada sustentvel, com

    ampla cobertura comercial e taxas de crescimento prximas ao pleno emprego e um

    sistema financeiro bem regulado e slido.

    Em outro momento, Feij (2007) ressalta a importncia das polticas pblicas

    e aes privadas para expandir os benefcios do crescimento e gerar

    desenvolvimento econmico para um nmero maior de pessoas. O importante para

    o desenvolvimento do pas ter uma boa infraestrutura, qualidade em educao,

    sade, comunicao, saneamento, entre outros.

    Quando se discute desenvolvimento no se deve deixar de citar Schumpeter,

    que fala do desenvolvimento econmico atravs de inovao. Schumpeter (1985)

    chama as inovaes de novas combinaes. O produtor inicia a mudana

    econmica atravs de novas combinaes e os consumidores so educados por ele,

    se necessrio, ou seja, so ensinados a querer coisas novas ou que se

    diferenciam em um aspecto ou outro daquelas que tinham o costume de utilizar.

    Segundo o autor, produzir significa combinar materiais e foras. Produzir

    outras coisas, ou as mesmas coisas de maneira diferente, significa combinar

    diferentemente esses materiais e foras. Na medida em que as novas combinaes

    aparecerem descontinuamente, surge ento o fenmeno que caracteriza o

    desenvolvimento. Ressalta que so essas novas combinaes que geram o

    desenvolvimento.

    Schumpeter (1985) desenvolve esse conceito onde engloba cinco casos de

    novas combinaes - inovaes:

    a) introduo de um novo bem, um bem que os consumidores ainda no

    esto familiarizados ou uma nova caracterstica de um bem;

    b) introduo de um novo mtodo de produo, mtodo esse que ainda no

    tenha sido testado pela experincia no ramo da indstria de transformao,

    que de modo algum precisa ser baseado numa descoberta cientificamente

    nova, e pode consistir ainda em novo modo de manejar comercialmente

    uma mercadoria;

  • 22

    c) abertura de um novo mercado em que o ramo particular da indstria de

    transformao do pas no tenha ainda entrado, quer esse mercado tenha

    existido antes ou no;

    d) conquista de uma nova fonte de oferta de matrias-primas ou de bens

    semimanufaturados;

    e) estabelecimento de uma nova organizao de qualquer indstria.

    Souza (2012) fala que a teoria schumpeteriana enfatiza o lado da oferta e

    descuida-se da demanda. Porm, aspectos de demanda podem estar na origem das

    inovaes, estas resultam de aspectos econmicos e no apenas tcnicos, o seu

    aparecimento necessita de fatores explicativos e elas so tratadas exogenamente.

    Como a teoria schumpeteriana enfatiza o lado da oferta, deve-se analis-la no

    sentido de verificar o emprego dos fatores de produo atravs de novas

    combinaes, estimulando a economia. Schumpeter (1985) chama a ateno para a

    realizao de novas combinaes, que significa o emprego diferente da oferta de

    meios produtivos existentes no sistema econmico.

    Para Schumpeter (1985), o fenmeno fundamental do desenvolvimento

    econmico chamado de empreendimento. O empreendimento a realizao de

    novas combinaes, onde os empresrios so os indivduos cujo papel realizar

    essas novas combinaes. Os empresrios no so somente os homens de

    negcios autnomos em uma economia de trocas, mas todos que de fato

    preenchem a funo pela qual definido o conceito, mesmo que sejam empregados

    subordinados de uma corporao. Como a realizao de combinaes novas que

    constitui o empresrio, no necessrio que ele esteja permanentemente ligado a

    uma empresa individual. A funo do empresrio combinar os fatores produtivos,

    reuni-los e coloc-los em prtica.

    De acordo com Baldwin (1979), a teoria schumpeteriana apontou que a maior

    parte dos investimentos feita por homens de negcios. O empresrio motivado

    por vrios desejos, como, por exemplo, aumentar seu nvel de renda. O papel do

    empresrio colocar em prtica, em uso as inovaes, para empreender novas

    combinaes de fatores produtivos, ou seja, a essncia do empresariado colocar

    algo novo no mercado.

    Na agricultura, a criao de agroindstrias se caracteriza como um

    empreendimento, investimento realizado por empresrios rurais. Estes

  • 23

    vislumbram o novo negcio por meio da gerao de renda e emprego na atividade

    rural. As inovaes se realizam atravs da introduo de uma nova caracterstica em

    uma matria-prima, da criao de um novo mercado, da introduo de um novo

    processo para industrializar o insumo ou atravs do estabelecimento de uma nova

    indstria, a indstria de transformao.

    No se pode deixar de conceituar tambm o desenvolvimento local que, de

    acordo com Buarque (2008), nessa transio para um novo paradigma do

    desenvolvimento mundial est associado a um processo acelerado de globalizao

    com a intensa integrao econmica e a formao de blocos regionais. O autor

    conceitua desenvolvimento local como sendo um processo endgeno de mudana,

    que leva ao dinamismo econmico e melhoria da qualidade de vida da populao

    em pequenas unidades territoriais (BUARQUE, 2008, p. 25).

    Isso vem ao encontro de Barquero (2001), o qual conceitua esse processo de

    desenvolvimento como um processo de crescimento e de mudana estrutural no

    qual a organizao do sistema produtivo, a rede de relaes entre atores e

    atividades, a dinmica de aprendizagem e o sistema sociocultural so determinantes

    no processo de mudana (BARQUERO, 2001, p. 49).

    O autor ainda destaca que o desenvolvimento econmico local ocorre devido

    transferncia de recursos das atividades tradicionais para as modernas. Tambm

    ocorre atravs de inovaes, o que determina uma elevao do bem-estar da

    populao.

    O desenvolvimento econmico local no simplesmente o reflexo de um

    processo de desenvolvimento nacional em uma dada localidade. O que caracteriza o

    processo de desenvolvimento econmico local o protagonismo dos atores locais

    na formulao de estratgias, na tomada de decises econmicas e na sua

    implementao (PORTAL DO DESENVOLVIMENTO LOCAL, 2013).

    Quando a localidade capaz de utilizar o potencial de desenvolvimento e

    liderar o processo de mudana estrutural, segundo Barquero (2001), pode-se dizer

    que se trata de desenvolvimento local endgeno. Isso se deve, pois est baseado na

    ideia de que localidades e territrios dispem de recursos econmicos, humanos,

    institucionais e culturais que formam o potencial de desenvolvimento.

    O desenvolvimento local deve mobilizar e explorar as potencialidades locais e

    contribuir para aumentar as oportunidades sociais e a viabilidade e competitividade

  • 24

    da economia local. Tambm, deve garantir a conservao dos recursos naturais

    locais. O desenvolvimento local decorrncia de mltiplas aes convergentes e

    complementares, capazes de quebrar a dependncia e a inrcia do

    subdesenvolvimento e do retardamento em localidades perifricas e de gerar uma

    transformao social na regio (BUARQUE, 2008).

    O desenvolvimento local no um receiturio de medidas completas, nem

    padronizadas, para serem aplicadas em qualquer lugar. Entretanto uma estratgia

    de ao coerente com os princpios e os pressupostos ecolgicos e humanistas

    (MARTINS, 2002).

    Com base no exposto acima, pretende-se, a seguir, explanar sobre alguns

    indicadores de crescimento e desenvolvimento econmico. Os indicadores,

    avaliados de forma conjunta, servem como meios para uma anlise mais detalhada

    da realidade do estudo proposto, tendo em vista que o termo deriva da palavra

    ndex, que por sua vez, significa apontador, sinalizador, proveniente do Latim

    Indicare, que significa apontar (SIMES et. al. [s.d.]).

    1.1.1 Indicadores de desenvolvimento e crescimento econmico

    Os indicadores so a descrio, por meio de nmeros, de um determinado

    aspecto da realidade, ou nmeros que apresentam uma relao entre vrios

    aspectos. Os indicadores permitem acompanhar, por exemplo, mudanas da

    qualidade de vida de determinado local, num determinado perodo (KAYANO;

    CALDAS, 2002).

    Segundo os prprios autores, indicadores so um instrumento, ou seja, o

    indicador no um fim em si, mas um meio. O indicador um instrumento que

    sintetiza um conjunto de informaes em um nmero e, deste modo, permite medir

    determinados fenmenos entre si, ou ao longo de determinado tempo. Tambm,

    indicadores podem ser utilizados para verificao, observao, demonstrao e

    avaliao, ou seja, permite observar e mensurar determinados aspectos da

    realidade social: medem, observam e analisam a realidade de acordo com um

    determinado ponto de vista.

    Existem indicadores que, se analisados separadamente, apenas nos mostram

    o crescimento econmico da economia como, por exemplo, o Produto Interno Bruto

  • 25

    (PIB). Para analisar o desenvolvimento econmico devem-se analisar outros

    indicadores, como a escolaridade da populao e o nvel de sade, ou seja,

    indicadores que expressam a qualidade de vida da populao.

    De acordo com Passos e Nogami (2003), o grau de desenvolvimento de um

    pas notado pela anlise de alguns indicadores que se relacionam em termos de

    estrutura. Esses indicadores compreendem trs grandes grupos: sociais, vitais e

    econmicos. Nos indicadores sociais encontram-se a estrutura social, a mobilidade

    social, a representao no sistema poltico, a participao social e o sistema de

    concentrao da propriedade.

    Segundo os mesmos autores, no grupo dos indicadores vitais esto:

    a) esperana de vida ao nascer, que indica o nmero de anos que um recm

    nascido viveria, considerando-se os padres de mortalidade vigentes no

    perodo em que a criana nasceu;

    b) taxa de mortalidade infantil, que representa a quantidade de crianas que

    morrem antes de completarem um ano de idade em um grupo de mil

    nascidos vivos, em certo perodo de tempo;

    c) estrutura etria da populao, que representa a proporo da populao

    total na Populao Economicamente Ativa (PEA) do pas;

    d) taxa mdia anual de crescimento populacional, calculada pelo mtodo

    exponencial entre os extremos de determinado tempo.

    Nos indicadores econmicos, segundo Passos e Nogami (2003), encontram-

    se:

    a) estruturais, que relacionam os elementos que formam a base econmica

    da sociedade, entre eles a fora de trabalho, os recursos naturais, o

    capital, a estrutura de produo e a distribuio de renda;

    b) disponibilidade de bens e servios, que compreende conjunto de

    informaes que permitem o bem-estar da sociedade, como a renda per

    capita, bens bsicos de consumo, bens produtivos e insumos, servios

    bsicos e servios sociais.

    Nos anos de 1990, constatou-se na Amrica Latina o aparecimento de uma

    nova conscincia acerca do desenvolvimento. Entre 1950 e 1981, o PIB da regio foi

    multiplicado por cinco, em termos reais, e o crescimento da renda per capita

    acompanhou o crescimento demogrfico (2,7%), passando de US$420 para

  • 26

    US$960, a preos de 1970. Os indicadores sociais da regio melhoraram no

    perodo: a vida mdia passou de 50 para 65 anos; a taxa de mortalidade infantil

    reduziu-se de 130 por mil para 50 por mil; a educao primria universalizou-se; a

    taxa de natalidade reduziu-se de 4,5% para 3%. Assim, os indicadores sociais

    estavam melhorando, apesar do crescimento da dvida externa e da inflao. A

    melhoria desses indicadores depende tanto da educao e da conscientizao

    social dos governantes, como do aumento da renda per capita (HIRSCHMAN apud

    SOUZA, 2005).

    O crescimento da renda per capita fundamental para melhorar indicadores

    sociais. Porm, alm desse indicador, devem-se considerar indicadores que possam

    apresentar melhorias sociais, como alimentao, atendimento mdico e

    odontolgico, educao, segurana e qualidade do meio ambiente. Tambm,

    medidas destinadas a reduzir a pobreza podem ser indispensveis quando for

    grande o contingente de pessoas carentes (SOUZA, 2012). Ou seja, alm da renda

    per capita, do indicador de crescimento econmico, deve-se analisar os avanos

    sociais, sem deixar de ressaltar a importncia da distribuio de renda atravs de

    programas sociais para as populaes mais pobres, para que isso possa trazer

    melhores resultados nos indicadores de desenvolvimento.

    Tendo em vista que o desenvolvimento econmico definido pelo aumento

    contnuo dos nveis de vida, compreendendo maior consumo de produtos e de

    servios bsicos para o conjunto da populao, torna-se necessrio considerar

    vrios indicadores que possam refletir tanto melhorias sociais como econmicas

    (SOUZA, 2005).

    O autor ainda ressalta que, tradicionalmente, a renda per capita tem sido

    usada como o principal indicador de desenvolvimento. um indicador importante,

    mas, como mdia, camufla a distribuio de renda, no refletindo o nvel de bem-

    estar da populao de baixa renda, que pode ser bastante numerosa. Economias

    com renda muito concentrada possuem alta renda per capita e, ao mesmo tempo,

    um nmero reduzido de pessoas ricas, estando maioria da populao vivendo na

    misria.

    A renda per capita se altera no momento em que a fora de trabalho est

    desempregada ou empregada e recebendo salrio sobre sua produtividade. O

    mercado de trabalho tem grande impacto sobre a renda e a qualidade de vida da

  • 27

    populao. Segundo Parkin (2009), a populao analisada em dois grupos:

    Populao em Idade Ativa (PIA) e os indivduos que so muito jovens para trabalhar

    ou que vivem em instituies e so incapazes de trabalhar.

    A Populao em Idade Ativa (PIA), de acordo com Bacha e Lima (2006),

    subdividida em Populao Economicamente Ativa (PEA) e populao no

    economicamente ativa. Fazem parte da PEA as pessoas que esto aptas ao

    trabalho e desejam isso, independente se esto ou no trabalhando, incluindo,

    portanto, as pessoas que esto desempregadas e procuram emprego e as que

    esto trabalhando. As pessoas no economicamente ativas so pessoas aptas a

    trabalhar, porm no procuram emprego e no trabalham.

    Segundo Parkin (2009), a fora de trabalho de uma nao a soma das

    pessoas empregadas e das desempregadas. Para uma pessoa ser considerada

    empregada, esta deve possuir um emprego integral ou parcial. J para ser

    considerada desempregada, a pessoa deve estar disponvel para trabalhar e deve

    se encaixar em alguma destas categorias:

    a) sem trabalho, porm nas ltimas quatro semanas empenhou-se para

    encontrar emprego;

    b) aguardando ser chamado de volta ao emprego do qual foi dispensada;

    c) esperando iniciar em um novo emprego dentro de trinta dias.

    Assim, percebe-se que o conceito de desenvolvimento econmico amplia o

    conceito de crescimento econmico ao incluir na anlise, indicadores que

    contemplam a melhoria das condies de vida da populao, que no

    necessariamente crescem com a melhoria das condies econmicas. Dentre os

    fatores que expressam mudanas qualitativas destaca-se a pobreza, o desemprego,

    a desigualdade, a sade, a nutrio, a educao e a moradia (LOURENO;

    ROMERO, 2002).

    A preocupao crescente com a defesa dos direitos humanos e a

    conscientizao cada vez maior da importncia do indivduo dentro da situao

    econmica tornaram possvel o aparecimento de formas mais elaboradas para se

    medir o desenvolvimento (PASSOS; NOGAMI, 2003).

    Segundo o Programa das Naes Unidas para o Desenvolvimento (PNUD,

    2013a), o conceito de desenvolvimento humano nasceu definido como um processo

    de ampliao das escolhas da populao para que ela tenha habilidades e

  • 28

    oportunidades para ser aquilo que deseja ser. Diferentemente da perspectiva do

    crescimento econmico, que analisa o bem-estar de uma coletividade apenas pela

    renda que ela pode gerar, a abordagem de desenvolvimento humano procura

    contemplar as pessoas, suas oportunidades e aptides. Sendo assim, a renda um

    importante indicador, mas deve-se considerar como um dos meios do

    desenvolvimento, e no como seu fim. H uma mudana de perspectiva com o

    desenvolvimento humano, onde o foco transferido do crescimento econmico para

    o ser humano.

    O conceito de Desenvolvimento Humano tambm parte da hiptese de que

    para aferir o avano na qualidade de vida de uma populao, preciso ir alm do

    vis econmico e considerar outras caractersticas sociais, culturais e polticas que

    influenciam a qualidade da vida humana. Esse conceito base do ndice de

    Desenvolvimento Humano (IDH) (PNUD, 2013a). O principal indicador que pode

    mostrar o desenvolvimento de um local o IDH. Este indicador analisa trs aspectos

    relevantes para o bem-estar da populao, sendo eles a renda, a educao e a

    sade.

    O objetivo da criao do ndice de Desenvolvimento Humano foi o de

    apresentar um contraponto a outro indicador muito utilizado, o Produto Interno Bruto

    (PIB) per capita, que considera apenas a dimenso econmica do desenvolvimento.

    O IDH deve ser uma medida geral do desenvolvimento humano, portanto, ele no

    abrange todos os aspectos de desenvolvimento e no uma representao da

    felicidade das pessoas, nem indica o melhor lugar no mundo para se viver.

    Democracia, participao, equidade, sustentabilidade so outros dos muitos

    aspectos do desenvolvimento humano que no so contemplados no IDH (PNUD,

    2013a).

    Atualmente, segundo o PNUD (2013a), os trs pilares que constituem o IDH

    (sade, educao e renda) so mensurados da seguinte forma:

    a) uma vida longa e saudvel (sade) medida pela expectativa de vida;

    b) o acesso ao conhecimento (educao) medido por: mdia de anos de

    educao de adultos, que o nmero mdio de anos de educao

    recebidos durante a vida por pessoas a partir de 25 anos; e a expectativa

    de anos de escolaridade para crianas na idade de iniciar a vida escolar,

    que o nmero total de anos de escolaridade que uma criana na idade de

  • 29

    iniciar a vida escolar pode esperar receber, se os padres prevalecentes de

    taxas de matrculas especficas por idade permanecerem os mesmos

    durante a vida da criana;

    c) o padro de vida (renda) medido pela Renda Nacional Bruta (RNB) per

    capita expressa em poder de paridade de compra (PPP) constante, em

    dlar, tendo 2005 como ano de referncia.

    Para efeito de anlise comparada, o PNUD (2013a) estabeleceu quatro

    principais categorias para determinar o nvel de desenvolvimento de uma economia.

    Dentre o total de pases includos no clculo 187 pases em 2011 25% dos

    pases que obtiveram o maior ndice fazem parte da classificao de

    desenvolvimento humano muito elevado; sendo os 25% com menor ndice,

    classificados como de baixo desenvolvimento. Os demais so classificados com

    desenvolvimento elevado ou mdio.

    De acordo com o relatrio do PNUD (2013a), em 2010 o Brasil estava em 73

    lugar na classificao do IDH global com ndice de 0,699. Neste mesmo ano, a

    Noruega apresentou o 1 lugar, possuindo um IDH de 0,938, considerado um nvel

    muito elevado.

    J em 2011, o Brasil caiu para a 84 posio, com um IDH de 0,718. Essa

    reduo se deve evoluo do IDH de alguns pases como Gergia, Equador e

    Jamaica, que no ano de 2010 ocupavam a posio 74, 77 e 80, respectivamente,

    e, em 2011, evoluram para a 75, 83 e 79 posio.

    Em nvel dos estados, segundo o PNUD (2013b), o Estado do Rio Grande do

    Sul, em 2000, estava em 4 lugar no pas, com um IDH de 0,814, ficando atrs

    apenas do Distrito Federal, Santa Catarina e So Paulo com IDH de 0,844; 0,822 e

    0,820, respectivamente.

    No Brasil feita uma anlise do desenvolvimento humano entre os

    municpios. Esse ndice conhecido como ndice de Desenvolvimento Humano

    Municipal (IDHM). O IDH e o IDHM so ambos, ndices sintticos que compreendem

    indicadores das trs dimenses do desenvolvimento humano: longevidade,

    educao e renda. Porm, os indicadores escolhidos para esta composio so

    diferentes entre o IDH e o IDHM, assim como as fontes de dados (PNUD, 2013d).

    Os objetivos dos dois ndices so diferentes: o IDH serve para medir o

    desenvolvimento humano de pases em contexto global, ou seja, em relao a si

  • 30

    mesmos, porm inseridos em uma dinmica pontilhada por outros pases. J o IDHM

    serve para comparar municpios brasileiros entre si.

    As faixas existentes de Desenvolvimento Humano Municipal so:

    a) IDHM entre 0 0,499: Muito Baixo Desenvolvimento Humano;

    b) IDHM entre 0,500-0,599: Baixo Desenvolvimento Humano;

    c) IDHM entre 0,600 - 0,699: Mdio Desenvolvimento Humano;

    d) IDHM entre 0,700 - 0,799: Alto Desenvolvimento Humano;

    e) IDHM entre 0,800 e 1: Muito Alto Desenvolvimento Humano.

    As faixas de Desenvolvimento Humano Municipal no seguem as faixas do

    IDH Global. Elas foram adaptadas para contextualizar melhor a realidade brasileira.

    As faixas do IDH Global so divididas em Baixo, Mdio, Alto e Muito Alto

    Desenvolvimento Humano, e seus valores variam a cada ano, pois so calculadas a

    partir dos valores mais baixos e mais altos observados nos pases (PNUD, 2013c).

    Segundo o PNUD (2013b), o IDHM do Brasil saltou de 0,493 (Muito Baixo

    Desenvolvimento Humano) para 0,727 (Alto Desenvolvimento Humano) entre os

    anos de 1991 e 2010. O IDHM Longevidade (0,816) o que mais contribui para o

    nvel atual do IDHM do Brasil. Esta evoluo da dimenso Longevidade reflete o

    aumento de 9,2 anos (ou 14,2%) na expectativa de vida ao nascer entre 1991 e

    2010. Neste mesmo perodo, o IDHM Longevidade do pas acumulou alta de 23,2%.

    O IDHM Educao (0,637) o que tem a menor contribuio para o valor

    atual do IDHM do Brasil. Mas de 1991 a 2010, o indicador foi o que registrou o maior

    crescimento absoluto (0,358) e a maior elevao em termos relativos (129%) entre

    as trs dimenses do ndice. Saiu de 0,278 em 1991, para 0,637 em 2010, uma

    alterao que se deve, principalmente, pelo aumento de 156% no fluxo escolar da

    populao jovem no perodo (PNUD, 2013b).

    No IDHM Renda, o crescimento no perodo de 1991 a 2010 foi de 14,2%.

    Apesar do avano, apenas 11,1% dos municpios avaliados possuem um IDHM

    Renda superior ao IDHM Renda do Brasil.

    Visto isso, infere-se que o desenvolvimento de um local se deve a vrios

    fatores, os quais movem a economia e trazem qualidade de vida populao. O

    setor agroindustrial tem-se mostrado um ramo eficiente, pois gera renda, emprego e

    melhora as condies de vida da populao rural, promovendo o desenvolvimento

  • 31

    econmico. Por ser esse o objeto de estudo do presente trabalho, a seguir uma

    anlise mais detalhada sobre os setores, industrial e agrcola, ser realizada.

    1.1.2 O papel da indstria e da agricultura no desenvolvimento econmico

    No processo de desenvolvimento, dentro desse contexto, a atividade

    produtiva do setor agrcola se completar quando agregar valor produo atravs

    da implantao do processo da agroindustrializao, criando uma nova organizao

    social no campo, de parceria associativa entre os produtores e seus familiares,

    gerando empregos e renda, e proporcionando o desenvolvimento da comunidade

    interiorana (TEDESCO, 1999).

    A agricultura desempenha um papel fundamental no processo de

    desenvolvimento econmico de um pas, dinamizando a indstria, o comrcio e os

    servios, atravs de importantes efeitos de encadeamento no resto da economia. O

    crescimento urbano-industrial tambm induz o desenvolvimento agrcola, ao

    demandar mo de obra, matrias-primas e alimentos do setor agrcola (LUCENA,

    2000).

    Johnston e Mellor apud Souza (2012) e Accarini (1987) citam as cinco

    funes bsicas da agricultura sobre o resto da economia:

    a) liberao de mo de obra: liberar mo de obra para ser empregada na

    indstria e evitar a elevao dos salrios pagos, a fim de no deprimir a

    taxa de lucro e assegurar a acumulao contnua de capital.

    caracterstica da trajetria de desenvolvimento econmico a transferncia

    de trabalhadores para atividades onde possam ser empregados mais

    produtivamente, exigindo a utilizao de mo de obra que pode ser

    totalmente suprida pelo setor agrcola;

    b) fornecimento de alimentos e matrias-primas: fornecer alimentos e

    matrias-primas para o setor urbano-industrial medida que a demanda

    cresce com o desenvolvimento e a intensificao do processo de

    urbanizao. Assim, para cumprir adequadamente essa funo, essencial e

    exclusiva da agricultura, e manter os preos estveis, a produo e o

    consumo de produtos agrcolas devem evoluir no mesmo compasso para

    atender as diferentes finalidades;

  • 32

    c) gerao de divisas: gerar divisas estrangeiras por meio da exportao de

    produtos agrcolas, para financiar o desenvolvimento, adquirir importaes

    e amortizar a dvida externa. importante destacar que a simples produo

    de excedentes no condio suficiente para possibilitar a gerao de

    divisas. preciso ter acesso a mercados externos, contar com produtos de

    qualidade e oferecer preos competitivos. A diversificao das exportaes

    na linha de novos produtos e mercados pode contribuir para atenuar esse

    risco e propiciar maior estabilidade receita cambial;

    d) transferncia de poupana para o setor urbano: transferir poupanas para

    inverses na indstria e para a implantao de infraestrutura econmica e

    social. Durante as fases iniciais do processo de desenvolvimento, no

    incomum a receita para o financiamento de infraestruturas serem

    proveniente da agricultura;

    e) expanso do mercado interno: constituir mercados para bens industriais,

    complementando os mercados urbanos. O setor agrcola pode contribuir

    para a expanso do mercado interno de formas alternativas, como

    consumir bens e servios finais produzidos por setores urbano-industriais,

    empregar fertilizantes, defensivos, tratores e outros fatores de produo

    gerados por esses setores ou produzir alimentos e matrias-primas a

    preos baixos para atender demanda dos consumidores urbanos.

    Alm de demonstrar que a importncia relativa das funes do setor rural se

    altera ao longo do processo de desenvolvimento econmico, essas funes

    precisam ser cumpridas de modo apropriado. Para isso, necessrio gerar

    excedentes de produo em volumes adequados e a preos satisfatrios e, portanto,

    com padres de eficincia econmica e produtividade ajustada a tais necessidades

    (ACCARINI, 1987).

    O autor ainda observa que quando, por alguma razo especfica ou um

    conjunto delas, no possvel atender a essas exigncias, o setor rural pode

    constituir srio obstculo ao desenvolvimento econmico autossustentado.

    Tratando-se de uma atividade bsica, os reflexos de seu desempenho atingem a

    evoluo de outros setores e, portanto, o comportamento da economia como um

    todo. Sendo assim, o setor rural pode ser um obstculo ao desenvolvimento

    econmico, pois h um grande retardamento no processo de modernizao, ou seja,

  • 33

    h um atraso no crescimento da agricultura repercutindo sobre o desenvolvimento

    da economia.

    Alm do papel fundamental que a agricultura desempenha no

    desenvolvimento econmico, tambm o setor industrial tem sua importncia.

    Segundo Baldwin (1979), a maioria dos lderes polticos e econmicos dos pases

    em desenvolvimento v a industrializao como a chave para a resoluo de seus

    objetivos de crescimento econmico, como renda per capita maior e maiores

    oportunidades de emprego.

    A industrializao de uma regio necessria para promover o

    desenvolvimento e a expanso das atividades produtivas, aumentando sua

    participao no Produto Interno Bruto (PIB) e a qualidade de vida da populao local

    (BOTEGA et. al., 2006). O processo de industrializao de um pas e a taxa de seu

    crescimento econmico depende essencialmente da taxa de investimento ou de

    acumulao de capital. Os investimentos derivam de deliberaes de quatro agentes

    econmicos fundamentais: as empresas privadas nacionais, as corporaes

    multinacionais, as empresas estatais e o prprio Estado (BRUM, 1993).

    Segundo Becker (1989), a industrializao um dos fatores mais importantes

    de promoo do equilbrio das foras produtivas de um pas, possibilitando um

    estgio de vida satisfatrio em relao s necessidades bsicas. A industrializao

    agrega, recompe materiais, insumos e matrias-primas, articula de tal forma a

    economia, que promove a diviso social do trabalho e o impulso de toda a atividade

    econmica. Surge, ento, a conscientizao de que a industrializao constitui-se

    uma alavanca para o progresso socioeconmico, pois a mo de obra uma das

    condies para que haja aumento da produtividade em setores que agregam valor

    na matria-prima.

    O crescimento econmico da Amrica Latina depende do acrscimo da renda

    mdia per capita, que muito baixa na maioria dessas naes, e do aumento da

    populao. O aumento da renda mdia per capita s poder ser obtido de dois

    modos. Primeiro, por meio do aumento da produtividade, segundo, dada uma

    determinada produtividade, atravs do aumento da renda por operrio na produo

    primria, comparada renda dos pases industrializados que importam parte dessa

    produo. medida que vai aumentando a produtividade da indstria e melhorando

  • 34

    a renda real per capita, essa populao tende a se transferir espontaneamente para

    as atividades industriais (PREBISCH, 1962).

    No Brasil, a industrializao realizou-se desde os anos de 1930, atravs do

    modelo de substituio de importaes. Por volta dos anos de 1950, durante o Plano

    de Metas2, os investimentos concentraram-se preferencialmente em indstrias

    consideradas chaves, como automveis, qumica e construo naval, principalmente

    na regio Sudeste (SOUZA, 2005).

    Isso vem ao encontro de Delgado (2009), o qual ressalta que desde a Grande

    Depresso de 1930, e, principalmente, a partir do Plano de Metas do Governo

    Juscelino Kubitschek, na segunda metade dos anos de 1950, a economia brasileira

    foi dominada, at o final da dcada de 1970, pela ideia da industrializao forada

    como instrumento fundamental para a eliminao da diferena que a separava das

    economias capitalistas industrializadas. Essa ideia concretizou-se como o principal

    objetivo de poltica econmica da burocracia estatal e dos formuladores da poltica

    pblica.

    Os pases subdesenvolvidos no iro se desenvolver e gerar novas

    tecnologias produzindo somente produtos primrios. Assim, deve-se exportar maior

    quantidade de produtos manufaturados, incorporar tecnologias, diferenciando os

    produtos. As indstrias iro auferir maiores lucros e os empreendedores iro sentir-

    se estimulados a fazer novos investimentos. Esses investimentos podero ser feitos

    em infraestrutura, pesquisa e desenvolvimento, inovaes tecnolgicas, que como

    consequncia criar mais empregos. A populao ter um aumento na renda,

    gerando maior poder de compra, a demanda ser em maior quantidade. Logo, a

    oferta interna de produtos dever aumentar.

    O governo deve criar incentivos para que novas indstrias produzam,

    prevendo que esse aumento de demanda pode gerar inflao. Outros investimentos

    tambm devero ser feitos, tais como em educao e especializao de mo de

    obra.

    2 O Plano de Metas de Juscelino Kubitschek (1956-1961) visava superar os pontos de estrangulamento da economia brasileira. O Plano de Metas se concentrava em quatro reas principais: investimentos estatais em infraestrutura, incentivo ao aumento da produo de bens de capital, incentivo introduo dos setores de bens de consumo durveis e estmulo produo de alimentos (SOUZA, 2008).

  • 35

    medida que as atividades urbanas vo se tornando mais complexas e que

    as empresas vo exercendo efeitos multiplicadores sobre o setor do mercado

    interno, o setor urbano-industrial demanda mo de obra, matrias-primas e

    alimentos do setor agrcola. Observa-se, assim, que h uma forte ligao entre os

    dois setores, agrcola e industrial, que se intensifica medida que as estruturas

    regionais vo se diversificando, significando que a industrializao no se efetua de

    modo independente da agricultura (SOUZA, 2012).

    O autor ainda ressalta que a agroindustrializao surge como opo

    promissora na transformao de produtos agrcolas e na absoro de trabalhadores

    rurais. O aumento do emprego verifica-se tanto na agricultura como nas fases

    intermedirias de beneficiamento, transporte e industrializao dos produtos. A

    indstria pode beneficiar uma grande variedade de produtos agrcolas, aumentando

    as exportaes, pois estas, quando em estado in natura, muitas vezes ficam

    prejudicadas no caso de produtos perecveis.

    O desenvolvimento da agroindstria familiar tem importantes desdobramentos

    no territrio. Ocorrem mudanas no mbito interno da organizao da unidade

    familiar de produo, no contexto mais amplo da organizao da agricultura familiar,

    na diversificao econmica regional e no fortalecimento de sistemas

    agroecolgicos de produo, entre outros aspectos (MIOR, 2007).

    Prezotto apud Trentin e Wesz Junior (2005), diz que a agroindstria familiar

    vem sendo alocada como um importante instrumento propulsor de desenvolvimento

    sustentvel. A agroindstria familiar rural vista como uma das opes, capaz de

    impulsionar a gerao de novos empregos e de renda, especialmente para os

    agricultores familiares. Pode proporcionar, tambm, uma forma de incluso social e

    econmica destes agricultores, aprimorando a sua qualidade de vida.

    O autor ainda apresenta as vantagens da agroindstria familiar para a

    sociedade, sendo elas:

    a) gerao de renda atravs da agregao de valor aos produtos

    agropecurios; gerao de postos de trabalho descentralizados,

    especialmente no meio rural;

    b) produo de alimentos com diversidade e qualidade ampla, considerando

    principalmente os aspectos sanitrios, ecolgicos, nutricionais,

    organolpticos, culturais e sociais;

  • 36

    c) diminuio do custo de transporte de matria prima pela aproximao da

    indstria ao local de sua produo;

    d) destinao adequada dos dejetos e resduos da produo primria e da

    industrializao pela possibilidade de aproveitamento como insumo na

    produo agropecuria;

    e) estmulo ao desenvolvimento das economias locais e regionais pelo

    aumento do consumo de bens e de equipamentos e insumos produtivos;

    f) aumento da arrecadao de impostos pela dinamizao das economias

    local e regional.

    Segundo Becker (1989), a agroindstria faz parte do setor da indstria de

    transformao e se destaca por ser dinmica. A agroindustrializao considerada

    um setor motriz, pois:

    a) concentra em si mais capital que um agricultor individual ou comerciante de

    produtos rurais ou qualquer outra organizao em torno ao produtor rural;

    b) significa centro nico da deciso dentro do complexo rural, representados

    pelos agricultores em geral, empresrios rurais e outros;

    c) concentra a capacidade tcnica, como organizao, gerncia, produo,

    comercializao, informao sobre a produo agropecuria, sobre as

    condies do mercado, etc.;

    d) concentra a capacidade financeira, capaz de conseguir e aplicar

    rapidamente grandes recursos.

    De acordo com Tedesco (1999), a teoria de organizao industrial chama a

    ateno para o fato de que o funcionamento da agroindstria para o produtor familiar

    pode ser um caminho adequado ao desenvolvimento econmico. Lauschner apud

    Tedesco (1999) aponta que a agroindstria, quando bem estruturada em um sistema

    econmico, tende a integrar a produo e a controlar todo o agronegcio do seu

    produto.

    A agroindstria o agente principal que direciona e maximiza a eficincia do

    uso dos insumos e investimentos rurais, pois localiza adequadamente a produo;

    evita desperdcios e a perda de produtos; reduz os custos de armazenamento, de

    transporte e das margens de comercializao; valoriza melhor o produto que lhe

    serve de matria-prima e diversifica os subprodutos e mercados de destino; entre

  • 37

    outros. Assim, pode-se inferir que constitui um setor-motriz de desenvolvimento e um

    plano estratgico para o desenvolvimento local.

    1.2 A AGRICULTURA E O SETOR AGROINDUSTRIAL

    O homem no nasceu agricultor: quando surgiu, o Homo sapiens era caador-

    coletor. Quando comeou a praticar os plantios e a criao, no encontrou na

    natureza nenhuma espcie domesticada. Tambm, no dispunha de instrumentos

    adaptados ao trabalho agrcola, mas fabricou-os e tornou-os cada vez mais

    poderosos. As formas de agricultura estavam baseadas na explorao combinada

    de vrias espcies, segundo modalidades de organizao e de funcionamento muito

    diversas (MIGUEL, 2009).

    Ocorreram vrias transformaes nas bases tcnicas agrcolas, consorciado

    com a mecanizao, a quimificao e a especializao da cadeia produtiva do setor

    primrio. O objetivo era, em parte, o aumento da produtividade e da produo de

    alimentos (TRENTIN apud TRENTIN; WESZ JUNIOR, 2005).

    A produo do setor agrcola, no incio da dcada de 1960, tinha como base

    culturas de exportao, como o caf e a cana de acar, e culturas destinadas ao

    abastecimento interno, cultivadas normalmente com tcnicas intensivas em mo de

    obra. A partir de 1967, com os militares no poder, introduziu-se fortes mudanas na

    economia brasileira, as quais incluram o setor rural (GONZALEZ; COSTA, 1998).

    A agricultura brasileira teve caractersticas marcadas pelo perodo colonial,

    cujos reflexos se fazem presentes at a atualidade, onde se destaca ampla

    propriedade com explorao da monocultura (PRADO JNIOR, 2008). Depois da II

    Guerra Mundial, comearam grandes avanos na agricultura, e o processo, em

    escala global, passou a ser conhecido como Revoluo Verde.

    A agricultura apresentava-se como uma das principais atividades econmicas,

    com grande potencialidade para incorporar este avano tecnolgico. Atravs da

    Revoluo Verde, comeou-se a compreender que a agricultura desempenhava um

    papel importante na economia de um pas.

    Segundo Tedesco (1999), as mudanas na base tcnica da agricultura

    ocorridas ps-dcada de 1970, privilegiaram certas regies e produtos, dando

    margem ao aprofundamento das disparidades na agricultura brasileira. A partir

  • 38

    desse momento, a agricultura passou a ser fornecedora de matrias-primas e

    mercado consumidor de mquinas e insumos modernos. Dentro desse espao, a

    pequena produo que consegue resistir obrigada a organizar-se em novas bases

    tcnicas, muitas vezes especializando-se num cultivo ditado pelo mercado ou pela

    agroindstria.

    De acordo com Padilha et. al. (2005), at a metade do sculo XX, os

    agricultores familiares produziam para subsistncia, com policulturas. Tinham uma

    relao familiar com a natureza e produziam em pequenas roas. A produo

    excedente era comercializada, em alguns casos, nas casas de comrcio das

    comunidades locais ou nas trocas com os vizinhos. A vida ocorria nas comunidades

    onde havia escolas, igrejas e estabelecimentos comerciais para comprar roupas,

    remdios, ferramentas e alguns utenslios.

    As tcnicas agrcolas utilizadas eram as roadas, com instrumentos manuais

    e trao animal, chamado tambm de agricultura tradicional. A preparao do solo, o

    cultivo e a colheita eram frutos da experincia e passado de uma gerao para a

    outra. Utilizavam como energia a gua, o vento, o homem e o animal (PADILHA et.

    al., 2005).

    Na agricultura tradicional, as unidades produtivas so, em geral, pequenas e

    baseadas na famlia. O conhecimento existente e aplicado nesta atividade , em

    grande parte, resultado de experincia local acumulada ao longo de anos e passada

    entre geraes, pela observao e pela prtica. Deste modo, a agricultura se integra

    no mercado como supridora de produtos agrcolas para consumo, processamento

    industrial ou exportao e, tambm, como consumidora de insumos modernos e dos

    demais bens e servios de que necessita (ACCARINI, 1987).

    Zulian et. al. (2010) afirma que a agricultura familiar contribui

    significativamente para a produo de alimentos, a gerao de renda e o

    desenvolvimento de todas as regies do Brasil, tendo papel fundamental no

    agronegcio3 brasileiro. Tedesco (1999) diz que, em geral, o produtor que administra

    individualmente, com sua famlia, uma rea de terra reduzida e emprega nela a mo

    3 Agronegcio: o termo abrange a soma de todas as operaes de produo, movimentao,

    estocagem, transformao e comercializao de produtos e matrias primas oriundas do campo; procura abranger e mostrar por meio de uma viso sistmica, todas as atividades econmicas relacionadas com o meio agrcola e com as empresas agroalimentares (RODRIGUES; MARIETTO, 2010, p. 2).

  • 39

    de obra familiar, cuja produo est parcial ou integralmente orientada para o

    comrcio, chamado de agricultor familiar.

    De acordo com Tedesco (1999), a agricultura familiar assume grande

    importncia atualmente. O Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura

    Familiar (PRONAF) (2001) a define com base em quatro especificidades:

    a) rea superior a quatro mdulos fiscais, quantificados na legislao em

    vigor;

    b) predomnio da mo de obra da famlia nas atividades do estabelecimento

    ou empreendimento;

    c) renda familiar rural originria de atividades vinculadas ao estabelecimento

    ou empreendimento;

    d) residncia no prprio estabelecimento ou em local prximo.

    A Lei n. 4.504 (1964) tambm define o significado da propriedade familiar.

    Para os efeitos desta Lei, no Art. 4 define-se

    propriedade familiar, o imvel rural que, direta e pessoalmente explorado pelo agricultor e sua famlia, lhes absorva toda a fora de trabalho, garantindo-lhes a subsistncia e o progresso social e econmico, com rea mxima fixada para cada regio e tipo de explorao, e eventualmente trabalhado com a ajuda de terceiros.

    Conforme Tedesco (1999), agricultura familiar entendida como aquela em

    que a famlia, ao mesmo tempo em que proprietria dos meios de produo,

    assume o trabalho do estabelecimento produtivo. O fato de uma estrutura produtiva

    associar famlia-produo-trabalho tem consequncias fundamentais para a forma

    como ela age econmica e socialmente.

    Trentin e Wesz Jnior (2005) ressaltam a importncia da agricultura familiar

    no Brasil. Percebe-se que aes cooperativas colocam-se na conjuntura quase que

    elstica dos atores rurais sociais, tanto nas possibilidades de insero nos

    mercados, como na criao de uma esfera mtua onde a organizao se d atravs

    da criao do capital social.

    De acordo com o Ministrio de Desenvolvimento Agrrio (MDA) (2009), a

    agricultura familiar no Brasil, apesar de cultivar uma rea bem menor com lavouras e

    pastagens, a principal responsvel por fornecer alimentos populao. O Valor

    Bruto da Produo (VBP) por hectare ao ano da agricultura familiar 89% superior

    ao gerado pela agricultura no familiar. Em relao s pessoas ocupadas por rea

  • 40

    total, a agricultura familiar ocupa quinze pessoas enquanto a agricultura no familiar

    ocupa somente duas pessoas.

    No Brasil, o nmero de estabelecimentos agropecurios, em 2006, era de

    571.260, sendo que cerca de 94,3% destes eram estabelecimentos agropecurios

    com agricultura familiar. J no Rio Grande do Sul, neste mesmo ano, o total de

    estabelecimentos agropecurios era de 89.604, onde em torno de 93,9% estavam

    ocupados com a agricultura familiar (IBGE, 2013a).

    No momento em que se deu a passagem da condio de agricultor (modelo

    voltado para a autossuficincia da propriedade) para o sistema de interdependncia,

    o qual marca relaes entre o setor rural com o setor industrial e de servios, esse

    processo proporcionou grandes benefcios para a sociedade (ARAJO et. al, [s.d.]).

    Da relao existente entre o setor rural e o setor industrial, surge o agroindustrial, o

    qual engloba caractersticas de indstria, porm no meio rural com insumos e mo

    de obra oriundos da agricultura.

    A agroindustrializao insere-se nas discusses das mudanas mais atuais

    do sistema agroalimentar e da agregao de valor aos produtos agropecurios. As

    transformaes no agronegcio tm sido intensas nos ltimos anos, principalmente

    em temas que envolvem meio ambiente, incrementos tecnolgicos e a necessidade

    de maior agregao de valor aos produtos voltados aos mercados internos e

    externos. Na agricultura familiar, a agregao de valor tambm uma necessidade

    manifestada tanto pelos agricultores, por meio de seus empreendimentos, como

    pelos agentes de desenvolvimento e pelas prprias polticas pblicas (IPEA, 2013).

    De acordo com Becker (1989), a agroindustrializao um setor da indstria

    de transformao que mais independe dos sistemas econmicos, mas tambm

    interfere, direta e indiretamente, na vida socioeconmica. Accarini (1987), ao

    analisar a agricultura comercial, observa que esta visa obter excedentes para venda

    e para atender a demanda, contrata trabalhadores, emprega mtodos mais

    aprimorados de produo e comercializao.

    Tedesco (1999) vem ao encontro afirmando que ao se introduzir o processo

    de agroindustrializao em determinada regio, cria-se um acontecimento novo,

    novas oportunidades, novas necessidades e transforma-se uma regio importadora

    de matria-prima em exportadora de produtos agregados e proporcionadora de

    renda local.

  • 41

    Segundo IPEA (2013), as experincias de agregao de valor que se

    relacionam transformao agroindustrial no ambiente rural possuem um conjunto

    de caractersticas principais:

    a) visam adicionar valor s matrias-primas produzidas pelas prprias

    unidades de produo, sobretudo na agricultura familiar;

    b) produzem alimentos que podem ser definidos exclusivamente como

    transformados;

    c) so iniciativas que utilizam pequena e mdia escala quando ligadas

    agricultura familiar;

    d) os alimentos podem servir tanto para o autoconsumo familiar como para

    comercializar.

    Becker (1989), ao se referir sobre a agroindustrializao, explica que este

    setor importante, pois introduz transformaes na estrutura social e institucional,

    atravs de conhecimentos tcnicos e cientficos, que refletem tanto nos ambientes

    urbanos quanto rurais. Rastoin apud Becker (1989) destaca ainda a importncia de

    se industrializar a matria-prima originada da agricultura, devido aos seguintes

    fatores:

    a) superproduo gerada pela atividade com o aumento da produtividade e

    melhorias tcnicas;

    b) dificuldade de conservao dos produtos agrcolas;

    c) desperdcio gerados nas atividades agrcolas;

    d) necessidade de criao de maior lucro ao fazendeiro atravs da gerao

    de novas riquezas;

    e) necessidade de estabelecer uma fonte de conforto, de bem-estar e de

    progresso.

    Na agroindustrializao da produo na agricultura familiar comum se

    deparar com graus de mercantilizao elevados. Isso se deve a grande maioria dos

    mtodos de processamento de alimentos e a agregao de valor dado matria-

    prima, que requer a adio de algumas substncias qumicas, como enzima,

    nutrientes, sais especiais, microrganismos, etc., que no h como o agricultor

    familiar ver num processo prprio de fabricao, pois o mesmo no detm o

    conhecimento necessrio para tal fenmeno (PELEGRINI; GAZOLLA, 2008).

  • 42

    Atravs da agroindustrializao, os agricultores aumentaram seus

    conhecimentos e seu nvel de informao, devido ao contato com outros atores e

    instituies ao longo da cadeia produtiva e mercadolgica. A agroindstria

    processadora teve seu dinamismo evidenciado por volta de 1975, expandindo em

    cerca de 45% seu valor real da produo. Essa expanso foi fruto da nova

    articulao entre a agricultura/indstria (KAGEYAMA et. al. apud TEDESCO, 1999).

    Neste contexto, sobressaram-se as grandes agroindstrias integradoras,

    impondo uma nova dinmica ao processo produtivo e que, pelos novos padres

    tecnolgicos, exigiram um aumento na produo e nos ndices de produtividade.

    Este processo, apesar de consistir em uma estratgia de crescimento de algumas

    produes familiares, fez aumentar as diferenas socioeconmicas, excluindo

    aqueles agricultores que no atingissem os padres impostos, demonstrando,

    assim, seu carter seletivo (TRENTIN apud TRENTIN; WESZ JUNIOR, 2005).

    1.2.1 Agroindstria familiar rural

    A agroindstria familiar surge como uma maneira de coproduo entre os

    agricultores e a natureza, sendo estabelecida pelos agricultores familiares como

    uma estratgia de desenvolvimento rural alternativa, para conseguirem sair da

    quebrada agricultura a que se encontravam nos ltimos anos (PLOEG apud

    GAZOLLA; PELEGRINI, 2010). Ela um produto da ao concreta e prtica das

    prprias famlias no seu dia a dia, tentando encontrar solues para os seus

    problemas vivenciados (GAZOLLA; PELEGRINI, 2010).

    De acordo com Mior (2007), a constituio de agroindstrias rurais pode ser

    vista como um processo de reconfigurao de recursos (produto colonial),

    promovido pela agricultura familiar em conjunto com suas organizaes associativas

    e com o apoio do poder pblico. De um produto conservado para a subsistncia da

    famlia rural, para consumo na entressafra, o produto colonial processado passa a

    ser visto pelos agricultores como um produto comercial e, portanto, como fonte de

    renda da unidade de produo familiar.

    Gazolla e Pelegrini (2010) caracterizam brevemente este setor da agricultura

    familiar, onde se pode dizer que, do ponto de vista da sua existncia, a maior parte

    das agroindstrias existe a menos de dez anos, significando que as iniciativas so

  • 43

    relativamente atuais. Isso se deve, especialmente, a crise do padro agrcola de

    desenvolvimento, a procura de diversificao econmica e produtiva, e a programas

    do governo e polticas pblicas existentes na rea da agroindustrializao.

    Peres et. al. (2009), diz que o desenvolvimento da agroindstria familiar

    permite visualizar a viabilidade econmica do meio rural, refletindo na permanncia

    do homem no campo, principalmente dos filhos e filhas, que antes viam dificuldades

    diante das poucas opes que lhes eram oferecidas. Na agroindstria familiar so os

    membros do grupo domstico que realizam quase todas as tarefas, sejam elas de

    produo, de obteno da matria-prima, do processamento e da elaborao dos

    produtos, bem como o acesso aos mercados (GAZOLLA; PELEGRINI, 2010).

    Em outro estudo, Pelegrini e Gazolla (2009) usaram os principais elementos

    do conceito de agroindstria que, para ser entendida como familiar, deve

    compreender os seguintes aspectos:

    a) uma famlia individual, de um grupo de agricultores ou de um grupo de

    agricultores associados em rede ou cooperativas que tm, na sua maneira

    de vida, trabalho e gesto, o formato familiar de administrar o

    empreendimento;

    b) o empreendimento deve produzir a maioria da sua matria-prima na prpria

    propriedade rural. Esta matria-prima necessitar ser utilizada no

    processamento dos alimentos, podendo, s vezes, ser adquirida de outros

    agricultores prximos s suas propriedades, porm, no em percentuais

    elevados;

    c) a fora de trabalho utilizada no empreendimento deve ser, na sua maior

    parte, a prpria famlia, ou seja, as tarefas realizadas nas atividades de

    administrao, de comercializao e do trabalho dirio, devem ser

    realizadas por pessoas do grupo domstico em questo, podendo haver

    contratao de fora de trabalho externo s agroindstrias, desde que em

    nmero pequeno;

    d) a famlia rural aquela cujos laos de parentesco e sanguneos entre os

    seus membros so histricos, hereditrios.

    Mior (2007) destaca tambm outros aspectos que caracterizam a

    agroindstria familiar rural, tais como:

    a) a localizao no meio rural;

  • 44

    b) a utilizao de mquinas e equipamentos em escalas menores;

    c) a procedncia prpria da matria-prima em sua maior parte, ou de vizinhos;

    d) os processos artesanais prprios;

    e) a predominncia da mo de obra familiar.

    Qualquer produo dos estabelecimentos rurais considerada como um tipo de

    fabricao, transformao ou processamento, implica na existncia de uma

    agroindstria rural (IPEA, 2013). Mior (2007) ressalta que a agroindstria familiar

    rural pode vir a ser um empreendimento associativo, agrupando uma ou vrias

    famlias aparentadas ou no. Outra dimenso importante que a agroindstria

    familiar est crescentemente internalizando os aspectos legais, tanto do ponto de

    vista sanitrio como ambiental e fiscal, diante dos organismos de regulao pblica.

    A agroindstria familiar rural uma forma de organizao onde a famlia rural

    produz, processa e/ou transforma parte de sua produo agrcola e/ou pecuria,

    visando, especialmente, a produo de valor de troca que se realiza na

    comercializao (MIOR, 2007). De acordo com Arajo (2007), agroindstrias so as

    unidades empresariais onde acontecem as etapas de beneficiamento,

    processamento e transformao de produtos agropecurios in natura at a

    embalagem, prontos para comercializar.

    J para Prezotto apud Trentin e Wesz Jnior (2005), a agroindstria, quando

    familiar, pode ser definida como uma unidade de transformao e/ou beneficiamento

    de produtos agropecurios produzidos pelos agricultores familiares. Ela

    gerenciada pelos prprios agricultores e constituda de instalaes e equipamentos

    adequados escala de produo no industrial tradicional, ou seja, de grandes

    agroindstrias.

    A agroindstria familiar de propriedade de pequenos agricultores e

    distinguida pela verticalizao da produo. Os prprios proprietrios dos

    empreendimentos produzem e industrializam os insumos. J a posse e a gesto da

    agroindstria podem ocorrer particularmente ou em uma forma de organizao em

    grupos de famlias. Quando se pensa em desenvolvimento, a forma associativa

    aperfeioa o espao e o nmero de pessoas envolvidas, ou seja, envolve e garante

    a reproduo de mais atores sociais (TRENTIN; WESZ JUNIOR, 2005).

    A matria-prima que abastece essa agroindstria ser produzida na

    propriedade e, em alguns casos, adquirida dos associados. O baixo custo no

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    transporte de matrias-primas pode traduzir-se em vantagens de custos, gerando

    lucros, quando o preo praticado for inferior ao dos concorrentes no mercado,

    podendo, em decorrncia, concorrer igualmente com as grandes indstrias

    (TRENTIN; WESZ JUNIOR, 2005).

    Os autores ainda reforam que, quando distribudo em comrcios locais e

    regionais, o produto final possuir algumas vantagens. Alm de estar embutida a

    identidade do territrio, ter uma origem conhecida, ou seja, ocorrer uma

    valorizao regional. Portanto, necessria uma conscientizao da populao

    consumidora para, posteriormente, valorizar determinado territrio. Essa valorizao

    trar um reconhecimento territorial e, por conseguinte, um desenvolvimento rural.

    A forma artesanal, colonial ou at mesmo orgnica da agroindstria familiar

    rural deve ser includa como uma caracterstica do produto, pois se possui uma

    conscincia no que diz respeito forma produo. Isso j pode ser considerado

    como uma distino das pequenas agroindstrias familiares rurais sobre as grandes

    agroindstrias (TRENTIN; WESZ JUNIOR, 2005).

    Isso vem ao encontro de Mior (2007), o qual ressalta que a trajetria

    tecnolgica da agroindstria familiar rural, reside sobre sua capacidade de uso de

    um saber fazer incorporado na cultura regional. As caractersticas socialmente

    valorizadas pelo consumidor regional so as ligadas s dimenses de qualidade,

    diferenciada da produo da agroindstria convencional. Assim, os produtos da

    agroindstria familiar podem se beneficiar pela sua imagem de produo artesanal,

    colonial e/ou agroecolgica.

    Para Pelegrini e Gazolla (2008), estas iniciativas em torno da agregao de

    valor podem ser conceituadas como atividades de produo de matrias-primas

    agropecurias e alimentos com sua consequente transformao em derivados

    alimentares de diversos tipos, ocorrendo neste processo agregao de valor ao