agricultura orgÂnica

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1. AGRICULTURA ORGÂNICA 3.1 Introdução Histórica A obra do pesquisador inglês Sir. Albert Howard foi, sem dúvidas, o principal ponto de partida para que a agricultura orgânica fosse uma das mais difundidas alternativas de produção atual. “Seu sistema partia basicamente do reconhecimento de que o fator essencial para a eliminação das doenças em plantas e animais era a fertilidade do solo.” Entre 1925 e 1930, Howard dirigiu, em Indore, Índia, um instituto de pesquisas de plantas, onde realizou diversos estudos sobre compostagem e adubação orgânica. 3.1.1 O processo Indore Em 1905, Howard iniciou seus trabalhos na estação experimental de Pusa, Índia, e observou que os camponeses hindus não faziam uso de fertilizantes químicos, mas reciclavam os materiais orgânicos por diferentes métodos, também percebera que os animais usados para tração não apresentavam doenças, diferentemente dos animais da estação experimental, onde eram empregados diversos métodos de controle sanitário. Intrigado tais fatos, decidiu montar um experimento de trinta hectares, sob orientação dos camponeses hindus e, em 1919, declarou que já sabia como cultivar as lavouras sem a utilização de insumos químicos.

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Page 1: AGRICULTURA ORGÂNICA

1. AGRICULTURA ORGÂNICA

3.1 Introdução HistóricaA obra do pesquisador inglês Sir. Albert Howard foi, sem dúvidas, o principal ponto de

partida para que a agricultura orgânica fosse uma das mais difundidas alternativas de

produção atual. “Seu sistema partia basicamente do reconhecimento de que o fator

essencial para a eliminação das doenças em plantas e animais era a fertilidade do

solo.”

Entre 1925 e 1930, Howard dirigiu, em Indore, Índia, um instituto de pesquisas de

plantas, onde realizou diversos estudos sobre compostagem e adubação orgânica.

3.1.1 O processo IndoreEm 1905, Howard iniciou seus trabalhos na estação experimental de Pusa, Índia, e

observou que os camponeses hindus não faziam uso de fertilizantes químicos, mas

reciclavam os materiais orgânicos por diferentes métodos, também percebera que os

animais usados para tração não apresentavam doenças, diferentemente dos animais

da estação experimental, onde eram empregados diversos métodos de controle

sanitário. Intrigado tais fatos, decidiu montar um experimento de trinta hectares, sob

orientação dos camponeses hindus e, em 1919, declarou que já sabia como cultivar as

lavouras sem a utilização de insumos químicos.

Entre 1924 e 1931, desenvolveu o processo “Indore” de compostagem, no qual os

próprios resíduos da fazenda eram transformados em húmus, que, aplicado ao solo em

época conveniente, restaurava sua fertilidade por um processo biológico natural.

Em suas obras, Howard defendia que o solo deve ser tratado como um organismo vivo

e não deve ser entendido apenas como por conjunto de substâncias, pois nele ocorre

uma série de processos vivos e dinâmicos essenciais à saúde das plantas. O principio

básico de seu sistema era que o fator essencial para a eliminação das doenças em

plantas e animais é a fertilidade do solo.

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A recepção do trabalho de Howard junto aos ingleses foi péssima, já que suas

propostas eram totalmente contrárias à visão “quimista” que predominava o meio

agronômico na época. Sua obra só foi aceita por um pequeno grupo de dissidentes do

padrão predominante, dentre os quais se pode destacar o norte-americano Jerome

Irving Rodale, que passou a popularizar suas ideias nos Estados Unidos.

3.1.2 AmbientalismoEm 1940, J. I. Rodale motivado pelos ideais de que alimentos produzidos

organicamente são preferíveis para a saúde humana, adquiriu uma fazenda no estado

da Pensilvânia, EUA e passou a praticar os ensinamentos de Howard. Em 1948,

publicou o livro The Organic Front e mais tarde, lançou a revista Organic Gardening

and Farm (OG&F), que foi um fracasso nas vendas, mas apesar dos prejuízos continuou

a ser publicada.

Anos após, com o surgimento da “terceira onda preservacionista-conservacionista” do

século XX, na década de 60, foi lançado o atual “ambientalismo” a partir da grande

publicidade obtida por manifestações em defesa de reservas florestais norte-

americanas. A partir de então, novas questões entraram na pauta das entidades

conservacionistas, dentre elas o perigo de pesticidas para a flora e a fauna, e os

consumidores passaram a preocupar-se com a qualidade nutritiva dos alimentos.

Com isto, as vendas da OG&F foram alavancadas, e em 197 foram vendidos 700.000

exemplares. Parte dos ganhos da publicação passou a ser investido em pesquisas e

experimentos na fazenda orgânica dos Rodale que, se tornou um dos principais

centros de referência e de divulgação da técnica.

3.1.3 CritériosA fim de regulamentar a rotulagem de alimentos orgânicos, três estados norte-

americanos (Oregan, Maine e Califórnia) definiram claramente os critérios para a

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agricultura orgânica. De acordo com a Lei de Alimentos Orgânicos da Califórnia (The

Califórnia Organic Foods Act), de 1979, esses alimentos devem atender os seguintes

requisitos:

- Serem produzidos, colhidos, distribuídos, armazenadas, processados e embalados

sem aplicação de fertilizantes, pesticidas ou reguladores de crescimento

sinteticamente compostos;

- No caso de culturas perenes, nenhum fertilizante, pesticida ou regulador de

crescimento sinteticamente composto deverá ser aplicado na área onde o produto for

cultivado num período de 12 meses antes do aparecimento dos botões florais e

durante todo o seu período de crescimento e colheita;

- No caso de culturas anuais e bianuais, nenhum fertilizante, pesticida ou regulador de

crescimento sinteticamente composto deverá ser aplicado na área onde o produto for

cultivado num período de 12 meses antes da semeadura ou transplante e durante

todo o período de seu crescimento e colheita.

Com o crescimento da consciência de preservação ecológica e a busca por alimentação

cada vez mais saudável, houve expansão da clientela dos produtos orgânicos e em

1984, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) reconheceu sua

importância formulando a seguinte definição:

“A agricultura orgânica é um sistema de produção que evita ou exclui amplamente o

uso de fertilizantes, pesticidas, reguladores de crescimento e aditivos para a

alimentação animal compostos sinteticamente. Tanto quanto possível, os sistemas de

agricultura orgânica baseiam-se na rotação de culturas, estercos animais, leguminosos,

adubação verde, lixo orgânico vindo de fora da fazenda, cultivo mecânico, minerais

naturais e aspectos de controle biológico de pragas para manter a estrutura e

produtividade do solo, fornecer nutrientes para as plantas e controlar insetos, ervas

daninhas e outras pregas”.

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3.2 Principios Básicos Da Agricultura Orgânica Analogamente à rochagem, a agricultura orgânica ou agricultura biológica trata-se de

um sistema que reduz, em grande parte, o uso de fertilizantes industriais e exclui o

recurso aos agrotóxicos e a produtos reguladores de crescimento.

No entanto, a produção orgânica vai além da não utilização de agrotóxicos. Em linhas

gerais, a agricultura orgânica pode ser definida como um sistema de produção que

procura chegar o mais próximo da natureza, cultivado em um ambiente que considere

sustentabilidade social, ambiental e econômica e valorize a cultura das comunidades

rurais. Por isso, exclui o uso de agrotóxicos, fertilizantes solúveis, adubos químicos,

hormônios, drogas veterinárias, antibióticos, transgênicos e qualquer tipo de aditivo

químico em qualquer fase da produção e/ou industrialização.

Estes sistemas devem ser economicamente produtivos, com eficiência na utilização de

recursos naturais, respeito ao trabalho, além do mínimo uso de insumos externos ao

sistema. Os alimentos produzidos precisam ser livres de resíduos tóxicos, mesmo após

qualquer processamento. Para tanto, apoia-se em quatro fundamentos básicos:

i. Respeito à natureza: reconhecimento da dependência de recursos naturais não renováveis;

ii. A diversificação de culturas: leva ao desenvolvimento de inimigos naturais, sendo item chave para a obtenção de sustentabilidade. Por exemplo, o mato (ervas daninhas) faz parte do sistema e pode ser usado como cobertura de solo e abrigo de insetos;

iii. O solo é um organismo vivo: o manejo do solo propicia oferta constante de matéria orgânica (adubos verdes, cobertura morta e composto orgânico), resultando em fertilidade do solo;

iv. Independência dos sistemas de produção: ao substituir insumos tecnológicos e agroindustriais pelo controle visando medidas preventivas e produtos naturais.

3.2.1 Processo de plantio dos produtos orgânicosOs produtores de orgânicos utilizam o rodízio de culturas e diversificação de espécies

entre e dentro dos canteiros. Nas lavouras são aplicados cordões de contorno com

plantas diversas, que ajudam a proteger a plantação de pragas e doenças, servem

como quebra-vento e também protegem o solo contra erosão.

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Praticam o plantio direto, caracterizado pelo cultivo em cima do resíduo da cultura

anterior, sem que o trator limpe o solo. Outras técnicas como a adubação verde,

compostagem, uso de esterco animal, também contribuem para o enriquecimento do

solo, fornecendo o equilíbrio necessário para a geração de alimentos saudáveis. O solo

é enriquecido com adubo orgânico que promove o desenvolvimento da vida neste

solo, como minhocas, bactérias e fungos benéficos(controle biologico de pragas e

doenças), que contribuem para o equilíbrio do sistema. No ANEXO 1 são listados de

forma geral os principais procedimentos para uma produção em agricultura orgânica.

Figura 1: Uso de cordões de contorno da Agricultura Orgânica

3.3 Mercado de Produtos Orgânicos

3.3.1 Mercado MundialCom o passar dos anos é notado uma preocupação cada vez maior com a qualidade

nutritiva dos alimentos, e os produtos orgânicos assumiram um importante papel na

mídia internacional, sobretudo por serem antagônicos aos alimentos geneticamente

modificados, com isto é notório o aumento na procura e de tais alimentos, a tabela 9

mostra que houve um aumento de mais de 300% na produção de alimentos orgânicos

em escala mundial, em menos de 10 anos. Apesar disto, produtos de origem orgânica

ainda representam uma parte muito pequena do mercado de alimentos.

Page 6: AGRICULTURA ORGÂNICA

Hoje em dia, 138 países produzem e consomem orgânicos. Entre os grandes

fornecedores destacam-se a União Europeia, Espanha e Dinamarca, e entre os maiores

compradores pode-se citar os Estados Unidos, Alemanha, Japão e Reino Unido.

Tabela 1: Evolução das áreas (ha) agrícolas orgânicas no mundo, 1999 à 2008. Fonte: Willer(2010)

3.3.2 O Mercado BrasileiroO Brasil vem se consolidando como um grande produtor e exportador de alimentos

orgânicos, com mais de 15 mil propriedades certificadas e em processo de transição,

destas 75% pertencem a agricultores familiares.

Diversas ações do governo brasileiro visam o apoio à produção orgânica, que é

oferecido, de modo geral, em linhas de financiamento especiais para o setor e

incentivo a projetos de transição de lavouras tradicionais para a produção orgânica.

O produto de origem orgânica, então, pode ter seu custo de produção um pouco

maior, acrescido de responsabilidades cidadãs, por se preocupar com a preservação do

meio ambiente e manter o compromisso com a qualidade de vida de seus

empregados. A oferta em relação à procura por produtos mais saudáveis, também

eleva o preço no mercado. Mas, tanto em supermercados como nas feiras livres é

possível adquirir produtos orgânicos com preços compatíveis. A escolha por produtos

Page 7: AGRICULTURA ORGÂNICA

orgânicos estimula o crescimento desta prática, aumenta a oferta e diminui seu preço

ao consumidor.

Os principais alimentos orgânicos produzidos no Brasil são representados pela, soja

que ganha com 31% seguida de hortaliças (27%) e café (25%). A maior área plantada é

com frutas (26%), depois cana (23%) e palmito (18%). (Fonte: Ministério da

Agricultura)

Figura 1: Produtos Orgânicos mais representativos de cada unidade da federação (DIVULGAÇÃO/MINISTÉRIO DA AGRICULTURA)

3.3.3 LegislaçãoDevido à importância que a produção de alimentos orgânicos vem ganhando no

mercado de alimentos exige-se regulamentação que possa assegurar ao consumidor a

garantia de que está adquirindo realmente um “produto orgânico”.

Para tanto, legislação para produtos alimentícios, que dispõe sobre a agricultura

orgânica, é a Lei nº 10.831/2003 e o Decreto nº 6.326/2007.

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O ministério tem, atualmente, oito certificadoras credenciadas no Ministério da

Agricultura, Pecuária e Abastecimento: Instituto de Tecnologia do Paraná (TECPAR),

IBD Certificações, Ecocert Brasil Certificadora, Instituto Nacional de Tecnologia (INT),

Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA), Insituto Chão Vivo de Avaliação da

Conformidade, Agricontrol (OIA) e IMO Control do Brasil. A fiscalização das

propriedades produtoras de orgânicos é feita por essas empresas, que assumem a

responsabilidade pelo uso do selo brasileiro. Cabe ao Ministério da Agricultura

fiscalizar o trabalho dessas certificadoras. (Fonte: Ministério da Agricultura)