agricultura familiar na amazônia das Águas

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AGRICULTURA FAMILIAR NA AMAZÔNIA DAS ÁGUAS Sandra do Nascimento Noda (Organizadora)

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A Amazônia Centro-Ocidental mantém, ainda, sua vegetação natural quase totalmente preservada, graças às formas de produção praticadas pelos agricultores tradicionais familiares. Essas apresentam níveis de sustentabilidade socioambiental e de sufi- ciência alimentar evidenciados pela capacidade de manter grande parte da exuberante biodiversidade e a integralidade dos ecossistemas. A visão dos agricultores tradicionais é a mesma daquela revelada nos estudos científicos de Harald Sioli sobre o diversificado e complexo universo das várzeas amazônicas, onde o pulso das águas explica o ritmo e harmonia da produção e reprodução biológica.

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Page 1: Agricultura Familiar na Amazônia das Águas

AGRICULTURA FAMILIAR

NA AMAZÔNIA DAS ÁGUAS

AGRICULTURA FAMILIAR NA AM

AZÔNIA DAS ÁGUAS

Realização:

Programa Temático

Apoio financeiro:

NERUANúcleo de Estudos Rurais

e Urbanos Amazônico

Sandra do Nascimento Noda(Organizadora)

Assim, na sua concepção global, o macro

projeto deve gerar conhecimentos técnico-

científicos que possam contribuir para a me -

lhoria nas formas de organização social das

comunidades de modo a propiciar, por meio do

uso e conservação dos recursos naturais, a

melhoria nos níveis de qualidade de vida das

populações humanas.

O compartilhamento intercomunitário de

recursos genéticos vegetais também é uma

prática corrente entre os agricultores

tradicionais amazônicos, o que contribui para a

segurança alimentar das comu nidades e

constitui um importante papel na conservação,

na dispersão e no resgate de espécies vegetais

cultivadas.

É extremamente importante que os projetos de

desenvolvimento junto aos agricultores na

Amazônia estabeleçam como premissa de

trabalho a necessida de de elevar os níveis de

organização social das famílias e das

comunidades para que, a partir daí, as

conquistas gra duais do bem estar social,

coletivizadas e perma nentes, sejam proces -

sadas em função da sustentabilidade dos

sistemas produtivos, do aumento da auto-

suficiên cia no atendimento das necessidades

alimentares, do acesso aos requisitos bá sicos

em educação, saúde, energia, lazer, universali -

zados e disponibi lizados pelo Estado e da

autonomia dos comunitários nas suas decisões

políticas sobre o futu ro social, econômico e

ambiental. São, a partir dessas referências, que

os autores dos capítulos que compõe este livro

discutem a Agricultura Familiar na Amazônia

das Águas.

No Brasil, com pequenas variações,

no espaço e tempo, o processo de

especialização no monocultivo de espécies

industriais como a cana-de-açúcar, soja,

algodão e café, tem conduzido, direta ou

indiretamente, os pequenos produtores rurais a

níveis crescentes de empobre cimento e perda

de suas terras. A pos sibilidade da manutenção

das unidades produtivas rurais familiares

implica na necessidade da existência de um

sistema de preservação dos recursos naturais.

As degradações dos recursos hídricos, como

poluição, erosão e assoreamento de cursos

d'água, pesca predatória, construções de

barragens e desflorestamentos são eventos que

quebram cadeias alimentares e cortam ciclos

reprodutivos, destruindo as fon tes permanentes

de recursos naturais, secu larmente utilizadas

pelos populações ama zônicas.

Entretanto, há necessidade de se criar

alternativas econômicas capazes de gerar

renda monetária aos agricultores permitindo

viabilizar o acesso aos produtos e serviços

adquiridos no mercado, pois, algumas

necessidades básicas são atendidas, muitas

vezes precariamente, por meio da aquisição de

produtos somente disponíveis fora das

unidades de produção.

São os casos dos alimentos indus tria lizados,

combustíveis, roupas, remédios e dos serviços

inexistentes nas comunidades rurais como

atendimento médico, educação, energia e

transporte.

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AGRICULTURA FAMILIARNA AMAZÔNIA DAS ÁGUAS

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AGRICULTURA FAMILIARNA AMAZÔNIA DAS ÁGUAS

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Page 6: Agricultura Familiar na Amazônia das Águas

Copyright © 2007 Sandra do Nascimento Noda

COORDENAÇÃO EDITORIAL

Sandra do Nascimento NodaHiroshi NodaAyrton Luiz Urizzi MartinsDanilo Fernandes

FOTOS

Arquivo NERUA

CAPA / PROJETO GRÁFICO

KintawDesign

REVISÃO

Cláudia Adriane Souza

FICHA CATALOGRÁFICA

Guilhermina de Melo Terra – CRB-396-11

A278

Agricultura Familiar na Amazônia das Águas / Sandra doNascimento Noda, organizadora – Manaus: Editora da UniversidadeFederal do Amazonas, 2007.

208 p.

ISBN 978-85-7401-298-8

1. Agricultura – Amazônia. I Noda, Sandra do Nascimento.

CDU 631(8113).

Tiragem: 1.000 exemplares

NERUA – Núcleo de Estudos Rurais e Urbanos AmazônicoE-mail: [email protected]: http://nerua.inpa.gov.br(92) 3643-1859

Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – INPACoordenação de Pesquisas em Ciências Agronômicas – CPCAAv. Efigênio Sales, 2239, Aleixo, CEP: 69060-020Caixa Postal: 478Fone: (92) 3643-1859

Manaus-Amazonas-Brasil

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Page 7: Agricultura Familiar na Amazônia das Águas

SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .7

CAPÍTULO 1UMA EXPERIÊNCIA METODOLÓGICA PARA O ESTUDO DA AGRICULTURA FAMILIAR NA VÁRZEA DO SOLIMÕES-AMAZONAS

INTRODUÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .11ESTRATÉGIA OPERACIONAL DO DIAGNÓSTICO DE CAMPO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .13IMPLEMENTAÇÃO DOS ESTUDOS IN LOCO: MÉTODO UTILIZADO NOS LEVANTAMENTOS PARA O DIAGNÓSTICO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .20COMPOSIÇÃO DO BANCO DE DADOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .21LITERATURA CITADA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .22

CAPÍTULO 2CONTEXTO SOCIOECONÔMICO DA AGRICULTURA FAMILIAR NAS VÁRZEAS DA AMAZÔNIA

INTRODUÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .23O CONTEXTO E INSERÇÃO ECONÔMICA DA AGRICULTURA E PECUÁRIA REGIONAL . . . . .24CADEIAS PRODUTIVAS EM AGRICULTURA E PECUÁRIA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .28OCUPAÇÃO E ORGANIZAÇÃO ESPACIAL DA PRODUÇÃO REGIONAL . . . . . . . . . . . . . . . . .30COMPONENTES DO SISTEMA DE PRODUÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .31ROÇA OU CULTIVOS DE ROÇA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .32PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DOS COMPONENTES EM PECUÁRIA . . . . . . . . . . . . . . . . .39O PRINCIPAL DO SISTEMA ECONÔMICO E DA SUSTENTABILIDADE REGIONAL . . . . . . . . .43O SISTEMA DE COMERCIALIZAÇÃO DE PRODUTOS DA AGRICULTURA, EXTRATIVISMO E PECUÁRIA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .55OS TIPOS DE AGENTES DE COMERCIALIZAÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .56COMPOSIÇÃO FAMILIAR DAS UNIDADES DE PRODUÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .61CONSIDERAÇÕES FINAIS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .64LITERATURA CITADA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .66

CAPÍTULO 3CARACTERÍSTICAS QUÍMICAS DOS SOLOS DE VÁRZEA EM DIVERSOS SISTEMAS DE USO DA TERRA AO LONGO DA CALHA DOS RIOS SOLIMÕES-AMAZONAS

INTRODUÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .67CARACTERÍSTICAS QUÍMICAS DO SOLO NA REGIÃO DO ALTO RIO SOLIMÕES . . . . . . . . . .69CARACTERÍSTICAS QUÍMICAS DO SOLO NA REGIÃO DO MÉDIO RIO SOLIMÕES . . . . . . . .71CARACTERÍSTICAS QUÍMICAS DO SOLO NA REGIÃO DO BAIXO RIO SOLIMÕES . . . . . . . . .73CARACTERÍSTICAS QUÍMICAS DO SOLO NA REGIÃO DO MÉDIO RIO AMAZONAS . . . . . . .75CARACTERÍSTICAS QUÍMICAS DO SOLO NA REGIÃO DO BAIXO RIO AMAZONAS . . . . . . . .78CARACTERÍSTICAS QUÍMICAS DO SOLO NA REGIÃO DO ESTUÁRIO . . . . . . . . . . . . . . . . . .81TEORES MÉDIOS DE NITROGÊNIOS E MATÉRIA ORGÂNICA DO SOLO . . . . . . . . . . . . . . . .82EFEITO DO USO DA TERRA SOBRE A FERTILIDADE DO SOLO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .84CONCLUSÕES . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .86LITERATURA CITADA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .87

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Page 8: Agricultura Familiar na Amazônia das Águas

CAPÍTULO 4AGRICULTURA E EXTRATIVISMO VEGETAL NAS VÁRZEAS DA AMAZÔNIA

INTRODUÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .91CARACTERIZAÇÃO FITOTÉCNICA DAS UNIDADES DE PRODUÇÃO AGROPECUÁRIA DA VÁRZEA DO RIO SOLIMÕES-AMAZONAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .93INFLUÊNCIA DO PULSO DAS ÁGUAS NA CONSTRUÇÃO DAS PAISAGENSAGRÍCOLAS E NA DIVERSIDADE GENÉTICA VEGETAL . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .109MANEJO DOS RECURSOS DISPONÍVEIS E COEFICIENTES FITOTÉCNICOS. . . . . . . . . . . . .124INDICADORES DA SUSTENTABILIDADE SOCIAL, ECONÔMICA E AMBIENTAL DAS UNIDADES DE PRODUÇÃO FAMILIAR . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .127CONCLUSÕES E PROPOSIÇÕES . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .132LITERATURA CITADA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .134

CAPÍTULO 5CARACTERIZAÇÃO DOS ASPECTOS FITOSSANITÁRIOS NOS DIFERENTES SISTEMAS DE USO DAVÁRZEA AO LONGO DA CALHA DOS RIOS SOLIMÕES-AMAZONAS

INTRODUÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .147CONCLUSÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .154LITERATURA CITADA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .164

CAPÍTULO 6PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DOS SISTEMAS DE PRODUÇÃO AGRÍCOLA DAS COMUNIDADES RIBEIRINHAS E DO ABASTECIMENTO DO MUNICÍPIO DE PAUINI

INTRODUÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .167A INFRA-ESTRUTURA DAS COMUNIDADES . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .171RELAÇÕES SOCIAIS DE TRABALHO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .172O MANEJO DO ECOSSISTEMA PARA A PRODUÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .175NAS PRAIAS E ENCOSTAS DA RESTINGA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .175TERRA-ALTA OU TERRUÃ . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .177RESTINGA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .177CANTEIRO SUSPENSO OU JIRAU . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .178CRIAÇÃO ANIMAL . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .178RECURSOS FLORESTAIS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .181RECURSOS PESQUEIROS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .182O MERCADO DE PRODUTOS AGRÍCOLAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .183LITERATURA CITADA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .185

CAPÍTULO 7QUALIFICAÇÃO PROFISSIONAL DE TRABALHADORES RURAIS E URBANOS PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTADO DE PAUINI

INTRODUÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .191HORTICULTURA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .192MANEJO E CULTIVO DE PLANTAS MEDICINAIS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .194SISTEMAS AGROFLORESTAIS TRADICIONAIS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .195MANEJO ECOLÓGICO DE PRAGAS E DOENÇAS DE PLANTAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .196UTILIZAÇÃO DA MADEIRA REGIONAL PARA MOVELARIA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .197PISCICULTURA FAMILIAR . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .199TÉCNICAS DE CONSERVAÇÃO E PROCESSAMENTO DO PESCADO EM UNIDADES FAMILIARES . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .200CRIAÇÃO DE ABELHAS SEM FERRÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .203LITERATURA CITADA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .207

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Page 9: Agricultura Familiar na Amazônia das Águas

APRESENTAÇÃO

A Amazônia Centro-Ocidental mantém, ainda, sua vegetação natural quase total-

mente preservada, graças às formas de produção praticadas pelos agricultores tradicio-

nais familiares. Essas apresentam níveis de sustentabilidade socioambiental e de sufi-

ciência alimentar evidenciados pela capacidade de manter grande parte da exuberante

biodiversidade e a integralidade dos ecossistemas. A visão dos agricultores tradicionais

é a mesma daquela revelada nos estudos científicos de Harald Sioli sobre o diversifica-

do e complexo universo das várzeas amazônicas, onde o pulso das águas explica o ritmo

e harmonia da produção e reprodução biológica.

O agricultor tradicional é polivalente e os recursos acessados no processo produ-

tivo são os disponíveis nos ambientes explorados e a cronologia da produção agrícola e

de reprodução ambiental são os ciclos naturais. A jornada de trabalho da família é dis-

tribuída em atividades agrícolas, de manufatura e extrativismo (caça, pesca, coleta de

produtos vegetais na floresta e capoeira), geralmente, praticado nas áreas de uso coleti-

vo. Além dos recursos naturais existentes, a força de trabalho é o único fator de produ-

ção, necessitando, portanto, uma administração criteriosa da sua utilização.

Os níveis de auto-suficiência na produção de alimentos são propiciados pela

produção diversificada. O compartilhamento intercomunitário de recursos genéticos

vegetais também é uma prática corrente entre os agricultores tradicionais amazônicos,

o que contribui para a segurança alimentar das comunidades e constitui um importan-

te papel na conservação, na dispersão e no resgate de espécies vegetais cultivadas. O

estímulo à agricultura especializada pode provocar transtornos na organização social

da produção e colocar em risco, ou mesmo inviabilizar a segurança alimentar das famí-

lias. Dois exemplos podem ser citados, um ocorrido nas várzeas dos rios Amazonas e

Solimões, onde os produtores familiares, estimulados pelo governo, passaram a cana-

lizar as atividades agrícolas na produção de juta e malva e o outro, da população indí-

gena Sateré-Mawé que, incentivada por organizações não- governamentais, passaram a

produzir guaraná para exportação em detrimento da produção de alimentos para auto-

consumo. Em ambos os casos, as intervenções, conduziram as comunidades para a

agricultura especializada provocando crises de abastecimento de alimentos.

Agricultura Familiar na Amazônia das Águas 7

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Page 10: Agricultura Familiar na Amazônia das Águas

No Brasil, com pequenas variações, no espaço e tempo, o processo de especia-

lização no monocultivo de espécies industriais como a cana-de-açúcar, soja, algodão e

café, tem conduzido, direta ou indiretamente, os pequenos produtores rurais a níveis

crescentes de empobrecimento e perda de suas terras. A possibilidade da manutenção

das unidades produtivas rurais familiares implica na necessidade da existência de um

sistema de preservação dos recursos naturais. As degradações dos recursos hídricos,

como poluição, erosão e assoreamento de cursos d’água, pesca predatória, construções

de barragens e desflorestamentos são eventos que quebram cadeias alimentares e cor-

tam ciclos reprodutivos, destruindo as fontes permanentes de recursos naturais, secu-

larmente utilizadas pelas populações amazônicas.

Muitas vezes as intervenções promovidas pela extensão rural de órgãos oficiais,

organizações não governamentais e outras causam mudanças danosas nas formas de

organização social da produção nas comunidades, resultando em fortes pressões sobre

os recursos naturais essenciais, inviabilizando a sustentabilidade do sistema produtivo.

José de Souza Martins (2000) avalia o pesado débito da sociologia rural a serviço da

difusão de inovações, cuja prioridade era a própria inovação... legando aos filhos que

chegam à idade adulta os efeitos de uma demolição cultural que nem sempre foi subs-

tituída por valores sociais includentes, emancipadores e libertadores... legando aos

filhos o débito social do desenraizamento e da migração para as cidades ou para as

vilas pobres próximas das grandes fazendas de onde saíram, deslocados que foram

para cenários de poucas oportunidades e de nenhuma qualidade de vida”.

Entretanto, há necessidade de se criar alternativas econômicas capazes de gerar

renda monetária aos agricultores permitindo viabilizar o acesso aos produtos e servi-

ços adquiridos no mercado, pois, algumas necessidades básicas são atendidas, muitas

vezes precariamente, por meio da aquisição de produtos somente disponíveis fora das

unidades de produção. São os casos dos alimentos industrializados, combustíveis, rou-

pas, remédios e dos serviços inexistentes nas comunidades rurais como atendimento

médico, educação, energia e transporte.

É extremamente importante que os projetos de desenvolvimento junto aos agri-

cultores na Amazônia estabeleçam como premissa de trabalho a necessidade de elevar

os níveis de organização social das famílias e das comunidades para que, a partir daí,

as conquistas graduais do bem-estar social, coletivizadas e permanentes, sejam proces-

sadas em função da sustentabilidade dos sistemas produtivos, do aumento da auto-sufi-

ciência no atendimento das necessidades alimentares, do acesso aos requisitos básicos

em educação, saúde, energia, lazer, universalizados e disponibilizados pelo Estado e da

autonomia dos comunitários nas suas decisões políticas sobre o futuro social, econô-

mico e ambiental.

Agricultura Familiar na Amazônia das Águas8

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Page 11: Agricultura Familiar na Amazônia das Águas

A partir de 1995, o NERUA – Núcleo de Estudos Rurais e Urbanos Amazônico

– vem conduzindo, no Estado do Amazonas, um macroprojeto piloto de desenvolvimen-

to sustentável, do qual o projeto Tecnologias para o Desenvolvimento e Sustentabilidade

do Município de Pauini, implementado com o apoio financeiro da FAPEAM – Fundação

de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas, por meio do Programa Temático, é um

dos componentes.

Na sua concepção global, o macroprojeto objetiva gerar conhecimentos técnico-

científicos que possam contribuir para a melhoria nas formas de organização social da

Agricultura Familiar em relação ao manejo, utilização alimentar e econômica dos recur-

sos naturais de modo a garantir a segurança alimentar nas sociedades rurais e proporcio-

nar instrumentos tecnológicos e de gestão que possam contribuir para a formulação de

políticas públicas compatíveis com o desenvolvimento sustentável regional. O projeto

conta com a participação de pesquisadores do INPA e de outras instituições de pesqui-

sa e ensino como a Universidade Federal do Amazonas, Universidade Luterana do

Brasil/Centro Universitário Luterano de Manaus, Universidade de São Paulo/Instituto

de Eletrotécnica e Energia e EMBRAPA Amazônia Ocidental, além de agricultores

familiares das comunidades rurais. O intuito é o de propiciar, por meio do uso e conser-

vação dos recursos naturais, a melhoria nos níveis do bem-estar social das populações

humanas.

São a partir dessas referências que os autores dos capítulos que compõem este

livro discutem a Agricultura Familiar na Amazônia das Águas. A temática abordada, por

ser revestida de importância e oportunidade para o avanço do conhecimento técnico-

científico e, muito além para a importante tarefa de evidenciar os saberes tradicionais

como pauta da reflexão sobre o desenvolvimento regional, no livro, foi dividida em duas

partes. Ambas congregam o esforço compartilhado de pesquisadores, bolsistas e parcei-

ros das áreas do conhecimento das Ciências Agrárias e Ambientais, em construir um

conhecimento permeado pelo diálogo interdisciplinar para a compreeensão e explicação

do complexo espaço da Amazônia das Águas e a Agricultura Familiar.

Na primeira parte os estudos apresentam uma visão analítica da dinâmica agrá-

ria e ambiental na calha do rio Solimões-Amazonas, em que as mais importantes con-

tribuições do conhecimento científico em Ciências Agrárias têm orientado a discussão

e apreensão da complexa configuração da realidade produtiva na Amazônia das Águas.

O Capítulo 1 apresenta a estratégia metodológica utilizada para a pesquisa de

campo multidisciplinar, organizada com o intuito de apreeender parcelas da complexi-

dade da realidade da Agricultura Familiar regional. No Capítulo 2, se procede a uma

incursão na dinâmica socioeconômica que conforma os sistemas produtivos no ecossis-

tema de várzeas, quanto à compreensão das relações existentes para fornecer subsídios

Agricultura Familiar na Amazônia das Águas 9

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Page 12: Agricultura Familiar na Amazônia das Águas

à política pública de desenvolvimento econômico e social mais eficiente, justo e equâ-

nime, em que o uso dos recursos naturais seja sustentável. O Capítulo 3 apresenta uma

descrição das principais características químicas dos solos de várzea e os possíveis efei-

tos da unidade de paisagem e dos diferentes tipos de uso da terra sobre o estoque de

nutrientes nestes solos. A perpectiva foi a de fornecer conhecimentos sobre o impacto

dos sistemas de uso da terra sobre a qualidade do solo. No Capítulo 4, se caracterizam

as unidades de produção familiar por meio de indicadores fitotécnicos e pelas formas de

organização espacial de uso e manejo dos recursos mobilizados no processo produtivo

em Agricultura e Extrativismo Vegetal. Nos estudos sobre a Agricultura Familiar na

Amazônia das Águas muito pouco tem sido estudado o papel e a influência dos proble-

mas fitossanitários nos sistemas de uso e manejo da terra para a produção agrícola.

Assim, no Capítulo 5, é apresentada uma caracterização dos principais problemas fitos-

sanitários em cultivos de várzea e as metodologias de manejo empregadas pelos agricul-

tores, com a intenção de minimizar as lacunas por ventura existentes.

Na segunda parte, os Capítulos 6 e 7 apresentam as ações práticas de uma estra-

tégia para o desenvolvimento e sustentabilidade regional e local, por meio da imple-

mentação de tecnologias adequadas no Município de Pauini, no Estado do Amazonas.

O intuito dos trabalhos era a atuação junto aos agricultores familiares para a otimiza-

ção da produção em consonância com a conservação dos recursos e, respeitando e valo-

rizando os diversos saberes tradicionais. A forma de conhecimento e prática social

ocorreu pela pesquisa institucional disponibilizada por meios de comunicação e difu-

são para o assessoramento técnico-científico na Agricultura Familiar municipal.

Assim, a proposta do NERUA exposta neste livro pretendeu estabelecer uma

plataforma científica e técnica interdisciplinar para contribuir na formulação de pro-

postas de desenvolvimento e sustentabilidade, principalmente em áreas onde os ecos-

sistemas naturais representam ambientes propícios para a implantação de políticas de

conservação e uso econômico dos recursos naturais, baseadas no incremento dos níveis

de bem estar social e qualidade de vida das populações humanas.

Hiroshi Noda

Agricultura Familiar na Amazônia das Águas10

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Page 13: Agricultura Familiar na Amazônia das Águas

CAPÍTULO 1

UMA EXPERIÊNCIA METODOLÓGICA PARA O ESTUDO DA AGRICULTURA FAMILIAR NA

VÁRZEA DO SOLIMÕES-AMAZONAS

Sandra do Nascimento Noda1 e 4

Ayrton Luiz Urizzi Martins2 e 4

Hiroshi Noda3 e 4

Maria Silvesnízia da Silva Paiva4

Lúcia Helena Pinheiro Martins4

INTRODUÇÃO

A discussão aqui escrita, na forma de apresentação de uma estratégiametodológica, foi orientada pela intenção de apreender os conceitos utilizadosno estudo das representações sociais associadas aos aspectos produtivos,socioeconômicos e técnicos em agricultura, extrativismo vegetal e pecuária nasvárzeas da calha do Solimões-Amazonas. Tal processo, imbuído de carátertécnico-científico, funciona como quadro explicativo das ações sociaisexpressas em diferentes momentos de execução do estudo pelos membros dogrupo de trabalho, como pressupostos teórico-metodológicos gerais eespecíficos sobre os meios para atuação junto aos agricultores familiares.

Inicialmente, como os escritos sobre a produção nas várzeas apontampara o fato da não delimitação possível, em termos epistemológicos, sobre oespaço de referência e, principalmente, sobre quais organizações sociais que aívivem, empreendeu-se uma breve discussão sobre alguns textos metodológicospossíveis de serem utilizados na construção do suporte explicativo, dasatividades realizadas por atores sociais. Atores que vivificam uma realidadediferenciada e pouco detalhada nos seus preceitos de maneira a fornecer uma

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1. Universidade Federal do Amazonas – Faculdade de Ciências Agrárias (UFAM/FCA).

2. Universidade Luterana do Brasil – Centro Universitário Luterano de Manaus (ULBRA/CEULM).

3. Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA).

4. Núcleo de Estudos Rurais e Urbanos Amazônico (NERUA).

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base de sustentação para as descrições e análises. A perspectiva foi a deidentificar a existência de categorias sociais diferenciadas, com característicase perspectivas de desdobramentos de suas práticas culturais contrastantes.

A abordagem teórica escolhida foi a sistêmica pela percepção daexistência de interdependências entre os componentes bióticos e abióticos queparticipam dos ecossistemas, tendo como base conceitual a apresentada porMorin (1998), onde em seu conteúdo fundamental estão os conceitos desistema, interações e organização do sistema. Este princípio forneceu, ao longodo trabalho, o instrumental lógico para compreensão dos processos detransformação, regeneração e auto-regulação dos sistemas ambientais onderecai a responsabilidade sobre os atores sociais.

A metodologia teve como estratégia adotada o reconhecimento das áreasde várzeas estudadas, compreendidas pela calha do rio Solimões-Amazonasnos Estado do Amazonas e Pará, como de predominância de atividades emAgricultura, Extrativismo Vegetal e Pecuária, utilizadora dos recursos por meiode um processo cognitivo em acordo com a experiência histórico-cultural dosindivíduos e as influências externas de caráter social, político e econômico.

As estratégias de ação do estudo foram desenvolvidas em localidadesrepresentativas dos diferentes tipos de várzeas. A metodologia de trabalhovariou de acordo com os objetivos e metas propostas, sendo que o carátertemático integrado e interdisciplinar permeou todas as estratégias selecionadaspara a ação de diagnosticar. Os pressupostos principais foram de que há poucosregistros na literatura científica retratando de maneira qualitativa e precisacomo os atores sociais “ribeirinhos” contemporâneos são afetados pelosambientes de várzeas, com o pulso das cheias e quais, em conseqüência, são assuas estratégias adaptativas e as escolhas tecnológicas adotadas.

Faz parte do conhecimento técnico-científico regional que os fatoresnaturais são críticos na determinação da disponibilidade e abundância derecursos e nas escolhas sobre a alocação do tempo produtivo. E, que fatoressociais são igualmente importantes afetando, em muitas situações, o acesso aosrecursos ou a disponibilidade de força de trabalho e de capital necessários paraa exploração agropecuária. Assim é que, dependendo de suas estruturas deoportunidades econômicas (terra, capital, informação e mão-de-obra), famíliasde uma mesma localidade podem estar mais ou menos suscetíveis aos rigoresimpostos pela flutuação dos recursos naturais.

A ocorrência de determinada atividade produtiva, comcomprometimento de mão-de-obra e de áreas de solo pode se dar em

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detrimento de outras atividades a serem executadas na mesma época/local.Qualquer processo de intensificação ou especialização econômica, como porexemplo, a produção comercial agrícola e a pesca comercial, podem engendrarconflitos na alocação de tempo para atividades que necessitem de ajustes(JOCHIM, 1971).

A demanda de trabalho nas atividades agrícolas tradicionais, por outrolado, não se distribui uniformemente durante o ano, o que permite que existatempo disponível para outras atividades, como a pequena criação animal, apesca e a caça para consumo alimentar. Além disso, mulheres e crianças podemtrabalhar ativamente em todas as atividades de condução da lavoura,permitindo um melhor aproveitamento de mão-de-obra, e possibilitando ageração de um excedente de produção, sem o comprometimento de outrasatividades. O conjunto destes princípios permitiu formular a estratégiametodológica para atendimento do objetivo em pauta.

ESTRATÉGIA OPERACIONAL DO DIAGNÓSTICO DE CAMPO

A execução do diagnóstico de campo ocorreu através de levantamentosmultitemáticos e temáticos, organizados sob abordagem sistêmica e estratégiainterdisciplinar de atuação em casos, pela utilização do método estudo de caso(GIL, 1991; GREENWOOD, 1973; YIN, 2001) e suas técnicas na perspectivade pesquisa qualitativa diante da realidade complexa e emergente dasatividades de Agricultura, Extrativismo e Pecuária nas várzeas do Solimões-Amazonas.

Os levantamentos temáticos (Agricultura e Extrativismo, Pecuária,Socioeconomia, Fitossanidade e Solos) e a descrição dos processos produtivose seus respectivos pontos de estrangulamento ocorreram mediante duas táticaspara aprofundamento dos conhecimentos. A primeira, denominada pelo grupode pesquisa de horizontalização multitemática e a segunda, verticalizaçãotemática. Ambas trabalharam com a visão dos atores sociais em situação devivência e relato da experiência política e social do “aqui” e “agora”, nasatividades produtivas nas várzeas.

A tática de horizontalização multitemática ocorreu com a aplicação datécnica de questionário-formulário característica da pesquisa qualitativa. Autilização desta técnica permitiu a homogeneização da linguagem da equipe de

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trabalho interdisciplinar, pois são diversas e múltiplas as visões estabelecidaspelo transitar em diferentes especialidades do conhecimento científico.

O uso do questionário-formulário pela equipe interdisciplinar buscousuperar o problema de meras respostas a meras perguntas, que podem estarfacilmente desfocadas em sentido hermenêutico. Este instrumento não deixa denecessitar de categorizar o material, ou seja, formalizar, mas por ter conteúdomais dinâmico, subjetivo, dialético na mão, pode-se formalizar com maiorflexibilidade e perceber a trama não linear do fenômeno. Nesse caso, comodescrito por Demo (2000), o interesse pela representatividade estatisticamentegarantida perde seu lugar, porque se quer perceber a intensidade e não aextensão do fenômeno. Assim, trabalhou-se com pequenos grupos sociais queapesar de jamais serem representativos das sociedades inteiras, podem sim ser“exemplos” bem contextualizados mais aproximados da intensidade dofenômeno, onde traços mais comuns são captados permitindo procedimentosde controle intersubjetivo para termos outros ângulos da análise e, sobretudo dacrítica.

A estrutura do questionário-formulário tomou em conta algumascondições no processo de transformação dos depoimentos em informação eargumento. Respeito manifesto por atitudes de prestar atenção,reconhecimento de conhecimento, de consideração à experiência foram o tompermanente nos momentos de contato para os diagnósticos. Vale ressaltar, ofato dessa modalidade técnica de pesquisa de campo com o instrumental doquestionário-formulário não permitir generalizar extensivamente, masintensivamente, por trabalhar com análise do discurso.

A seleção das unidades de amostragem para a horizontalização foiexecutada a partir da caracterização dos nucleamentos populacionais-comunidades e das propriedades individuais nas áreas geográficascompreendidas pelos municípios. Para tal, foram levantadas hipóteses detrabalho com consulta prévia realizada nas sedes dos municípios a váriasinstituições e organizações sobre localização e logística necessária para aorientação da seleção amostral (Figura 1). Instituições como Secretaria deProdução, IBAMA, BASA, Prelazia, CPT, Sindicato dos Trabalhadores Ruraise Organizações Não-Governamentais foram visitadas.

A partir da freqüência de menções às localidades onde ocorriamconcentrações de atores sociais em atividades produtivas nas áreas de várzea,foi possível traçar as relevâncias. Tal atitude foi tomada conforme os preceitosda hermenêutica, onde o mais intenso é mais significativo do que o mais

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extenso, sendo o diferente (as diferenças manifestas no linguajar sobre algumfenômeno vivificado) e não as repetições (as regularidades manifestas paracada unidade de pensamento) o eco da intensidade.

Importante mencionar a análise do pesquisador na desconstrução dasfalas, elemento essencial para o entender de seus meandros. Essecomportamento veio a requerer a formação de grupo de trabalho experiente,nas temáticas escolhidas, para abordagem dos fenômenos ocorridos naprodução nas áreas de várzea.

O questionário-formulário elaborado pelo grupo de trabalhointerdisciplinar teve como conteúdo anotações e registro dos ambientesacessados pelos agricultores e/ou criadores, atividades realizadas nas áreas deacesso ou posse, dentre outras. O levantamento em unidades rurais a partirdeste instrumento permitiu observar nos discursos: (a) componente do sistemade produção; (b) unidade de paisagem; (c) tamanho da área; (d) tempo deocupação; (e) tempo de uso; (f) tipo de sistema, cultivo, manejo e/ou extração;(g) espécies cultivadas/extraídas; (h) preparo e manejo do solo; (i) insumosutilizados; (j) sanidade vegetal e animal; (l) características do solo; (m)dificuldades/problemas nos sistemas de produção e (n) finalidade de uso edestinação da produção.

FIGURA 1. Localização cartográfica das unidades de produção para visitas de coleta de dados na Calha do RioSolimões-Amazonas. Brasil, 2003/4.

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Na prática, as coletas de dados na horizontalização multitemática foramrealizadas através de visitas efetivadas por dois pesquisadores do grupo detrabalho para cada localidade visitada (Figura 2). Para cada região foramescolhidas unidades amostrais nos municípios que foram visitados obedecendoa seguinte forma:

a. Cada uma das equipes (no mínimo seis por viagem) fez olevantamento de duas unidades amostrais por dia durante dois diasconsecutivos;

b. A cada dia, no retorno das visitas, as equipes faziam suasanotações no Relatório Diário de Campo (Figura 3 A); e

c. A seguir os resultados anotados eram discutidos e avaliados emreuniões por toda equipe, sendo anotadas as avaliações esugestões em relatórios-atas de campo (Figura 3 B). Nas reuniões,utilizando-se de técnica de seleção das principais características(do manejo produtivo das unidades de paisagem, da organizaçãosocial, etc.), foi selecionada entre as unidades amostradas nahorizontalização, uma que contemplasse o maior número decaracteres com os quais seria possível qualificar e quantificar umaunidade de produção agropecuária representativa dentro doconjunto das unidades amostradas (a verticalização).

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FIGURA 3. Atividades realizadas na embarcação antes e após as atividades de campo: (A) organização e registro dedados de campo; e (B) reunião de discussão de dados da horizontalização para efetivação da verticalizaçãoCalha do Rio Solimões-Amazonas. Brasil, 2003/4.

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Na horizontalização multitemática foram realizados 249 estudos de casoem unidades produtivas representativas das estratégias produtivas,organizativas e econômicas. Já na verticalização temática foram realizados 191estudos de caso distribuídos pelas equipes de agricultura e extrativismo,socioeconomia, fitossanidade, solos e pecuária, conforme os dados dispostosna Tabela 1, totalizando 440 estudos de caso.

TABELA 1. Número de estudos de caso da verticalização temática ao longo da calha do Solimões-Amazonas. Estadosdo Amazonas e Pará, 2003/4.

As unidades amostrais foram nomeadas com o termo identificador de“região” num senso de localização geográfica para ocorrer a sistematização dosdados. Assim, as unidades amostrais foram localizadas e agrupadas como:

• Região do Alto Solimões, abrangendo os municípios de BenjaminConstant; Tabatinga, São Paulo de Olivença e Atalaia do Norte;

• Região do Médio Solimões, abrangendo os municípios de Alvarães,Maraã, Tefé e Coari;

• Região do Baixo Solimões, abrangendo os municípios de Manacapuru; Careiro da Várzea e Iranduba;

• Região do Médio Rio Amazonas, abrangendo os municípios deItacoatiara e Silves;

• Região do Baixo Rio Amazonas, abrangendo os municípios deParintins, Óbidos; Oriximiná e Santarém; e

• Região do Estuário do Rio Amazonas, abrangendo o município deGurupá.

EQUIPES ESTUDOS DE CASO

SOCIOECONOMIA 25

AGRICULTURA E EXTRATIVISMO 26

PECUÁRIA (CRIAÇÃO ANIMAL) 29

FITOSSANIDADE 32

SOLOS (PEDOLOGIA) 79

TOTAL 191

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IMPLEMENTAÇÃO DOS ESTUDOS IN LOCO: MÉTODO UTILIZADONOS LEVANTAMENTOS PARA O DIAGNÓSTICO

A operacionalização do trabalho de campo traz consigo a necessidade deque as estratégias adotadas sejam cerceadas por método, nos levantamentos inloco de dados empíricos. A escolha recaiu no método Estudo de Caso, cujoquadro de referência teórica é articulado dentro de uma problemática, onde ainformação circunstanciada é interpretada e adaptada às diferentesmodalidades do conhecimento. Gil (1991) afirma que o estudo de caso écaracterizado pelo estudo profundo, exaustivo, de um ou de poucos objetos, demaneira a permitir conhecimento amplo detalhado do caso.

A partir da análise do discurso e técnicas agronômicas, trabalhou-se noscasos as diversas fontes de evidência dos fenômenos (YIN, 2001), paracaracterizar-se a ocupação do espaço social e de produção, enquantomecanismo sociocultural de adaptação humana aos habitats que compõem osistema de várzea para avançar no sentido de construir uma descrição maiscriteriosa dos sistemas sociais das agriculturas das várzeas.

A observação direta e crítica e o envolvimento analítico para ainterpretação ocorreu numa influência fenomenológica. A busca foi a deinterpretar os fundamentos do conhecimento na vida cotidiana. Conhecimentoconforme apontam Berger e Luckmann (1997) “...que dirige a conduta da vidadiária...”. A vida diária que se apresenta como uma realidade interpretada pelosentrevistados e subjetivamente dotada de sentido na medida em que forma ummundo coerente.

No desenrolar das entrevistas, a vida cotidiana vivificada através dotrabalho foi o fio condutor da estratégia metodológica. Para tal fez-se umadistinção epistemológica nos sistemas cognitivos dos sujeitos – o que éobservado e o que observa, ou seja, as visões de mundo emic e etic.Interpretações emic refletem categorias cognitivas e lingüísticas dos povosnativos. As interpretações etic são aquelas desenvolvidas pelo pesquisador parafins de análises (POSEY, 1996).

Nos discursos, os componentes do sistema de produção foramapresentados como categorias de análise possíveis de serem agrupadas comosistema classificatório. O mesmo apresenta-se a partir de seus componentescaracterísticos relacionados com as práticas e técnicas de manejo dos solos nosatos de cultivar espécies da flora para a vivência característica de agricultor(a).

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Nas visitas, os informantes abordados por vezes eram os chefes defamília, outras membros adultos e jovens das famílias. Apesar das anotações noquestionário-formulário utilizado pelo grupo de trabalho ter como identificadoruma pessoa, este procedimento somente tem validade para a leitura e inserçãoda unidade produtiva no banco de dados. A complementação das informaçõesocorreu através de diversos e diferentes informantes, cujos discursos foramanotados nos diários de campo e nos relatórios diários de campo. Estes dadosforam utilizados como suporte nas análises e composição e estruturação dasfichas de identificação da unidade amostral organizadas para disponibilização,acompanhamento e futuras incursões comparativas em trabalhos sobre asvárzeas.

Na verticalização temática foram utilizados procedimentosmetodológicos específicos para cada área temática que serão descritos noscapítulos seqüentes.

COMPOSIÇÃO DO BANCO DE DADOS

O banco de dados foi composto pela tabulação dos dados constantes nosquestionários-relatórios utilizados para a Horizontalização Multitemática e aVerticalização Temática. A partir dos questionários-relatórios as informaçõesforam digitalizadas no programa Access compondo um Banco de dadosalfanumérico. A composição foi compatível com as unidades trabalhadas noformato de subtemas relativos aos propostos nos levantamentos e diagnóstico.Posteriormente foram organizadas planilhas (Fichas) com dados alfanuméricosde fácil leitura para socialização dos conteúdos, de maneira a se terinstrumental para avaliação das práticas e usos das várzeas para Agricultura,Extrativismo e Pecuária.

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LITERATURA CITADA

BERGER, P.I.L.I.; LUCKMANN, T. A Construção Social daRealidade: Tratado de Sociologia do Conhecimento. Trad. Floriano deS. Fernandes. Petrópolis, RJ: Vozes, 1997. 248p (Antropologia, 5).

DEMO, P. Metodologia do Conhecimento Científico. São Paulo, SP:Atlas, 2000. 216p.

GIL, A. C. Métodos e Técnicas de Pesquisa Social. São Paulo, SP: Atlas,1991. 207p. il.

GREENWOOD, E. Metodologia de la Investigacion Social. BuenosAires: Paidós, 1973. 126p.

JOCHIM, M. A. Strategies for Survival: Cultural Behavior in anEcological Context. New York: Academic Press, 1971. 233p.

POSEY, D. A. Os povos tradiconais e a conservação da biodiversidade.In: PAVAN, C. (Org.). Uma estratégia latino-americana para aAmazônia. São Paulo: UNESCO, 1996. v. I. 348p.

YIN, R. K. Estudo de caso: planejamento e métodos. 2.ª ed. PortoAlegre: Bookman, 2001. 336p.

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CAPÍTULO 2

CONTEXTO SOCIOECONÔMICODA AGRICULTURA FAMILIAR NAS

VÁRZEAS DA AMAZÔNIA

Sandra do Nascimento Noda1 e 4

Ayrton Luiz Urizzi Martins 2 e 4

Hiroshi Noda3 e 4

Fidel Matos Castelo Branco 4

Marco Antonio Freitas de Mendonça1 e 4

Maria Silvesnízia Paiva Mendonça4

Elione Angelin Benjó4

Rosana Antunes Palheta4

Antonia Ivanilce Castro da Silva4

Jucélia Oliveira Vidal4

INTRODUÇÃO

Através de visitas às unidades amostrais foram efetivadas observaçõesdiretas que compuseram o levantamento socioeconômico. Estas observaçõesvariaram com atividades formais e informais de coleta de dados, representandouma importante fonte de evidência no estudo dos casos.

Nos levantamentos, as técnicas informais corresponderam a reuniões desensibilização sobre as atividades do levantamento. Nestas eram explicados osobjetivos do projeto e os procedimentos adotados nos levantamentos. Nasreuniões eram convidados os membros das famílias moradoras nos locais, eocorreram anotações dos principais fatos históricos, econômicos, sociais,políticos e culturais. Após isso eram feitas caminhadas nos lugares produtivospara observação visual da unidade amostral e os significados dados para cada

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1. Universidade Federal do Amazonas – Faculdade de Ciências Agrárias (UFAM/FCA).

2. Universidade Luterana do Brasil – Centro Universitário Luterano de Manaus (ULBRA/CEULM).

3. Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA).

4. Núcleo de Estudos Rurais e Urbanos Amazônico (NERUA).

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lugar. Na continuidade da visita, buscava-se um lugar de melhor disposição,escolhido pelo informante, para dar termo à aplicação das técnicas formaisrepresentadas por: a) questionário-formulário socioeconômico constituído deperguntas abertas, fechadas e de reforço; b) entrevistas semi-estruturadas porroteiro prévio para obter-se informações referentes aos processosrepresentativos, o imaginário social e cultural e as explicações dosentrevistados; c) croquis das unidades de paisagem através de procedimentoparticipativo dialógico do (s) informante (s); e d) diário de campo (anotação deinformações adicionais).

O CONTEXTO E INSERÇÃO ECONÔMICA DAAGRICULTURA E PECUÁRIA REGIONAL

A economia apresentada na calha do Solimões-Amazonas está orientadabasicamente para as atividades de Agricultura e Extrativismo, com o uso e omanejo dos recursos naturais. Poucas são as inversões de recursos financeirosdados serem baixos os níveis de geração de emprego e renda monetária nasunidades produtivas, o que em conseqüência promove baixa circulação demoeda.

A racionalidade do sistema produtivo está assentada em geral sobre trêssubsistemas básicos apresentados na representação (Figura 1) e descritos como:

Subsistema de auto-suficiência e sustentabilidade familiar – A unidadede produção é constituída por uma intrincada e articulada rede de atividadesprodutivas assentadas, basicamente, na força de trabalho familiar efreqüentemente, no acesso às quantidades suplementares deste fator deprodução, através das relações de solidariedade estabelecidas dentro dosgrupos sociais (relações de ajuda mútua). A unidade de produção relaciona-secom o ambiente externo através das atividades executadas pelo mercado defatores pela compra de bens, máquinas, implementos e insumos e ao mercadode produtos pelo abastecimento de produtos agrícolas e extrativos.Recentemente, e de maneira crescente, está ligando-se ao sistema estatalmediante a transferência de recursos do governo federal pelos programas demunicipalização e universalização dos serviços e o sistema de crédito oficial.

Subsistema de produção agrícola e extrativa comercial – As principaisatividades deste subsistema localizam-se nas atividades extrativas de fruteirascomo o açaí (frutos, vinho e palmito), pupunha (frutos e palmito), agrícolas de

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fruteiras como banana, cupuaçu, cacau, melancia, goiaba, tucumã, manga,mamão, etc.; essências madeireiras e pescado. A quantificação do valormonetário gerado por essas atividades é problemática pela falta de registro econtrole dos procedimentos comerciais. A quantificação da proporção dosrecursos que permanecem ou são reinvestidos na região foi dificultada pelaindisponibilização regular de informações de exportação e venda comerciallocal ou regional. Um exemplo significativo é a falta de fiscalização sobre aarrecadação do imposto que incide sobre a circulação de mercadoriasregionais.

Subsistema estatal – Este subsistema compreende os fluxos econômicosgerados pelos investimentos e transferências dos governos federal e estadualatravés dos programas oficiais de fomento à produção e a canalização derecursos financeiros da cooperação internacional pelos fundos obtidos pordiversas organizações governamentais e não-governamentais, instituições depesquisa, ensino, extensão, etc.

FIGURA 1. Sistema Econômico na Agricultura e Extrativismo Regional.

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Diferentemente das ocorrências nas atividades em Agricultura eExtrativismo, na Pecuária são realizadas inversões de recursos financeiros e osníveis de geração de emprego assalariado e renda monetária nas unidadesprodutivas são mais elevados e ocorre maior volume de circulação de moeda,estando o sistema produtivo assentado em quatro subsistemas básicos:

Subsistema de diversificação para complementação à sustentabilidadefamiliar – Baseada na força de trabalho familiar, a unidade de produção éagrícola com o componente criação animal sendo considerado comocomplementar para obtenção de renda em casos de emergência (doenças nafamília, enchentes severas, perdas na produção, etc.). A criação de gado nestesubsistema normalmente é de gado bovino e tem a função de funcionar comouma espécie de poupança. O tamanho médio dos rebanhos é, geralmente, emtorno de 20 cabeças, confirmando o caráter familiar da atividade. A unidade deprodução relaciona-se com o ambiente externo através das atividadesexecutadas pelo mercado com a compra de produtos pecuários. Recentemente,e de maneira crescente, está ligando-se ao sistema estatal mediante a atuaçãodo sistema de crédito oficial.

Subsistema de produção empresarial familiar – Muitas são as unidadesprodutivas de gado bovino e bubalino nas várzeas cujo planejamento eadministração das atividades são executados por empreendedor familiar. Sãofamílias tradicionais proprietárias de terras que têm características dededicação às atividades por herança. As principais atividades deste subsistemalocalizam-se nas atividades das subcadeias produtivas locais de gado de corte(cria/recria/engorda) e de leite e derivados.

Subsistema empresarial de pecuária de corte e leite – As unidadesprodutivas estruturaram-se a partir de atores sociais advindos dos setoressecundário e terciário que aplicam recursos próprios em pecuária, comprandoterras, implantando pastagens e introduzindo gado. Uma parte dessesinvestidores vem do setor primário após passarem por processos de produçãobem sucedidos no comércio ou na política local. É o caso também, dosinvestidores em pecuária oriundos das cadeias agropecuárias com períodos depassagem nas áreas urbanas como donos de casas comércio, lojas de produtosagropecuários, compradores e transportadores de gado, técnicos do setoragropecuário governamental. A fazenda de gado neste subsistema podefuncionar como uma atividade secundária uma forma de investimento paraprofissionais liberais, políticos, industriais, etc. Com o desejo de serem

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fazendeiros captam financiamentos públicos e investem conjuntamente comrecursos financeiros próprios.

Subsistema estatal – Este subsistema compreende os fluxos econômicosgerados pelos investimentos e transferências dos governos federal e estadual,através dos programas oficiais de fomento à criação animal e a serviços decontrole sanitário, principalmente para o rebanho bovino e bubalino no Estadodo Amazonas. São os incentivos fiscais e as políticas de crédito mencionadascomo os principais elementos motivadores para os pecuaristas. A canalizaçãode recursos financeiros da cooperação internacional pelos fundos obtidos pordiversas organizações governamentais e não-governamentais, instituições depesquisa, ensino e extensão rural revertem-se em grande parte em estudostécnicos-científicos.

FIGURA 2. Sistema Econômico na Pecuária Regional.

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CADEIAS PRODUTIVAS EM AGRICULTURA E PECUÁRIA

As cadeias produtivas em Agricultura e Extrativismo e Pecuária nas várzeasdo Solimões-Amazonas estabelecem padrões sociais e econômicos de uso e manejodos solos onde a função social da propriedade e a necessidade de conservaçãoambiental estão em permanente disfunção. Se de um lado ocorre a necessidade doabastecimento dos mercados de produtos e fatores impondo padrões na quantidade,regularidade e qualidade na oferta de produtos, de outro estão os sensos deconservação da diversidade social (várias culturas com preceitos técnicosprodutivos) e biológica (diversas espécies da flora e fauna), necessários depermanecerem para contrapor-se a extinção e por-se a favor da manutenção epreservação dos ambientes de várzea na calha do Solimões-Amazonas.

Outra questão relevante que vem promovendo disfunção é o constanteprocesso de concentração fundiária recorrente da produção em pecuária e o acessoàs áreas florestadas ou produtivas nas atividades em agricultura e extrativismo. Narealidade atual a coerência vivificada de situação de abundância e de acesso irrestritoaos recursos não está mais ocorrendo. A situação vem sendo agravadaexponencialmente com o processo de concentração fundiária e apropriação ilegalpor pecuaristas, fazendeiros e empresas madeireiras, que buscam produzir em áreasonde ainda existe cobertura florestal.

Com o aumento e diversificação das redes de funções das cadeias produtivasessas áreas adquirem outras características de valoração econômica, promovendomodificações estruturais nos setores de produção organizados com a inclusão dasáreas de várzeas, cuja apropriação privada é de difícil consolidação com a atuallegislação fundiária brasileira.

As redes de funções das cadeias produtivas na agricultura e extrativismo e napecuária distribuem-se em diversos níveis de atuação econômica e com uma sériede inter-relações mantidas entre vários atores sociais. Estes, ao atuarem, dãoformação às paisagens e processos específicos de conservação ambiental, e aooperarem, possibilitam a geração de emprego e renda.

A operacionalização das redes de funções ocorre desde o nível local reunindoagricultores familiares, passando pelos pequenos aglomerados urbanos e sedes dosmunicípios do interior (Atalaia do Norte, Benjamin Constant e São Paulo deOlivença, Maraã; Careiro da Várzea, Iranduba, Silves, Oriximiná e Gurupá)interligadas às cidades economicamente mais importantes (Tabatinga, Tefé, Coari,Manacapuru, Itacoatiara, Parintins, Óbidos e Santarém), até as capitais dos Estado,(Manaus e Belém).

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O funcionamento da rede abrange diversas categorias de produtores ecomerciantes atuando em diferenciados produtos com elevado grau deespecialização, manifesto de diferentes formas nos locais de circulação dosprodutos, principalmente nos mercados dos pequenos centros urbanos e dasgrandes cidades. Exemplo significativo é a produção de artesanato commatéria-prima oriunda da agricultura e do extrativismo incentivada por açõesgovernamentais e organizações não-governamentais. Artefatos produzidos nosmunicípios onde a indústria do turismo ecológico e folclórico participa naformação de redes de funções de cadeias produtivas específicas têmrepresentado importante significado na geração de emprego e renda,envolvendo atores sociais representantes da indústria doméstica e decooperativas e associações populares, co-participantes muitas vezes dodenominado mercado justo nacional e internacional.

Outros exemplos são as frutas tropicais (oriundas em grande parte dossítios das várzeas e do extrativismo), essências florestais, produtos olerícolas,carne e leite. Estes geram e movimentam recursos em torno de subprodutosimportantes relacionados às indústrias de transformação de produtos de origemnas áreas produtivas das várzeas. O mercado de couro em Tefé, Coari,Itacoatiara, Parintins e Santarém se encontra em plena ascensão e em processode regulamentação para ocorrer arrecadação de impostos e retornos financeirospara os produtores nos municípios. Em Itacoatiara, este mercado vempromovendo modificações no processo de beneficiamento, com vistas aatender as exigências externas por produtos com padrões de primeiraqualidade.

Em Iranduba, Itacoatiara, Parintins e Santarém é crescente o mercado deleite com oferta de laticínios especializados (iogurte, queijo, manteiga, etc.) esubprodutos, como vísceras, vendidas separadamente nos mercados e feirasmunicipais, e sebo que vem sendo utilizado, associado às frutas e essênciasflorestais, para a fabricação de cosméticos com o incentivo de organizações eprogramas sociais governamentais ou não.

Não há dúvida de que as hortícolas e a carne representam o principaldesses produtos. No caso das hortícolas, representadas pelas fruteiras eolerícolas, a venda incentivada pela demanda de abastecimento urbanoconcentrado nas sedes dos municípios vem promovendo a consolidação deproduções nas várzeas oriundas tanto da pequena agricultura como da empresafamiliar, ambas representantes da Agricultura Familiar (LAMARCHE, 1997)nas várzeas do Solimões-Amazonas.

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OCUPAÇÃO E ORGANIZAÇÃO ESPACIAL DA PRODUÇÃO REGIONAL

A intervenção nas áreas de várzeas foi, num primeiro momento, marcadapelo extrativismo (NODA, 1985), passando em seguida por um progressivoprocesso de transformação, incorporando a natureza ao cotidiano do homemcomo meio de subsistência e produção, ou seja, alimentos, fibras como a juta(Corchorus capsularis) e a malva (Pavonia malacophyla), móveis cerâmicas eferramentas.

Os processos correspondentes ao primeiro momento são considerados denatureza primitiva e/ou primeira natureza, conforme conceituado por Marx(1980) apud Noda (1985), transformada em segunda natureza. Assim,entendida como sendo a representação resultante da distribuição e/ouorganização espacial em acordo com a lógica humana de cultivar através demodos, formas ou sistemas, construir moradias, estruturar caminhos e meios decomunicação sobre superfícies naturais.

A organização espacial é assim o resultado, no presente, do processosocial de produção de grupos de atores sociais, mas, tem velado dentro de siuma condição para o futuro, pois refletirá as características de quem a criou,isto é, a reprodução dos próprios grupos. A organização espacial reflete aindaa natureza da produção e do consumo de bens materiais, como também ocontrole exercido sobre as relações que emergiram das relações sociais ligadasà produção. A história verbalizada pelos atores sociais ao longo da calha doSolimões-Amazonas tem a dimensão espacial que emerge do cotidiano daspessoas, sendo tal dimensão o “locus” onde estão desenvolvendo-se osprocessos sociais de afirmação e reafirmação de valores, gostos e objetivos. Éum espaço que condiciona cotidianamente os diversos e atuais papéisdesempenhados e as diferentes paisagens, construídas no exercício elocalização das atividades e fenômenos humanos (TUAN, 1980). Espaço estecontraditório, onde ocorre a destruição das formas espaciais existentes, acriação das resistências e a reconstrução de formas e conteúdos espaciaisdotados de dimensões e significados diferentes pela aquisição da experiência.

O espaço é produzido, reproduzido, recriado, configurando-se nãoapenas sociedade, localidade ou “comunidade, mas também e, principalmente,como possibilidade” de ser o lugar de construção e reconstrução da vida emsituação rural (NODA, 1997). Tal situação expressa um sistema de espaçosrelacionais e temporalidades, onde coexistem diferentes e múltiplos

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subsistemas produtivos que contextualizam as interações que forjam asdiferentes paisagens.

Desta maneira, pode-se verificar a existência de uma intencionalidade naorganização dos recursos nos sistemas de produção na agricultura, extrativismoe pecuária que proporcionam mudanças nos espaços da paisagem e,conseqüentemente, na qualidade de vida das pessoas. Isso se dá pela estreitarelação existente entre sociodiversidade e biodiversidade, onde as formas deorganização dos grupos de atores sociais normalmente são originárias nocontato, percepção e aquisição de hábitos pela experiência cotidiana de vidaem determinado ambiente natural e, podem ser geradas como resposta àscaracterísticas ecológicas e ambientais existentes (NEVES, 1992).

O conceito apresentado por Tuan (1980) em sentido amplo, como“...sendo os laços afetivos dos seres humanos com o meio ambiente material...”permite observar-se o fato das formas de organização social, além de poderemser geradas como resposta às características ambientais as mesmas, podemprovocar mudanças na biodiversidade original de uma paisagem. Corresponde,portanto, a um sistema espacial de ocorrência da biodiversidade, formas deorganizações sociais (sociedades) com características diversas permitindoobservar a sociodiversidade correspondente. Desta maneira os espaçossocietários estudados representam não somente a historicidade na construçãoantrópica das paisagens através da utilização de técnicas de produção, mastambém as características das diversas organizações societárias resultantesdesta historicidade, isto é, os sistemas de produção nas várzeas.

COMPONENTES DO SISTEMA DE PRODUÇÃO

Nos discursos dos atores sociais entrevistados ao longo da calha doSolimões-Amazonas, os componentes do sistema de produção foramapresentados como “categorias de análise” possíveis de serem agrupadas numsistema classificatório. O mesmo apresenta-se a partir de seus componentesmais característicos e relacionados com as práticas e técnicas de manejo dossolos, nos atos de cultivar espécies da flora na vivência de agricultor(a).

O sistema de produção tem como base, práticas agroflorestais deprodução caracterizadas pelo manejo das terras numa integração, simultânea eseqüencial, entre árvores e/ou animais e/ou cultivos agrícolas. Os fatores deprodução combinados com a utilização de técnicas convencionais e

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tradicionais, influenciam no funcionamento do sistema produtivo. Assim, osistema agroflorestal de produção em agricultura, extrativismo e pecuáriaapresenta-se através dos seus componentes principais:

ROÇA OU CULTIVOS DE ROÇA

Geralmente, no sistema agroflorestal de produção o principal fornecedorde alimentos energéticos para a sustentação diária dos agricultores são osprodutos oriundos das roças ou cultivos de roça. São as paisagens onde parcelassão cultivadas anualmente, em regime de monocultura, rotação ou consórcio.Vários são os arranjos paisagísticos encontrados, onde a produção de diversasespécies pode ser verificada, ocorrendo diversidade de variedades intra e inter-espécies, manifestando diversidade biológica.

As principais plantas cultivadas são as cultivares venenosos, denominadas“mandioca”, e as não-venenosos, “macaxeira”, ambas variedades de Manihotesculenta Crantz e a banana (Musa sp.) (Figura 3). Estas corroboram para avenda e fornecimento de alimentos. A farinha de mandioca é o principal produtoagrícola comercializado e em grande parte, o produto que alimenta e permite amanutenção econômica nos períodos de cheia dos rios.

FIGURA 3. Componente “Roça” típico em área de várzea, apresentando a mandioca como cultura principal. CalhaAmazonas-Solimões/AM, 2003/04.

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Outras espécies são cultivadas de forma consorciada com a mandioca eoutras espécies ou como cultivos solteiros como jerimum (Curcubita maximaDuch. Ex. Lam.), maxixe (Cucumis anguria L.), melancia (Citrullus lanatus(Thunb.) Matsumura & Nakai), cará (Dioscorea trifoliata Kunth), batata-doce(Ipomoea batatas L.), milho (Zea mays L.), ariá (Calatea allouia (Aubl.)Lindl.), abacaxi (Ananas comosus (L.) Merr.) e cana-de-açúcar (Saccharumofficinarum L.). Os cultivos ocorrem em pequenas áreas à semelhança decultivos em mistura sem obedecer as técnicas de alinhamento e espaçamentoagronômico entre espécies e variedades, o que vem a caracterizar o plantiotradicional em miscelânea.

Cultivos

Nos espaços sociais produtivos, denominados regionalmente cultivos,podemos encontrar espécies cultivadas em consórcios ou como cultivossolteiros. Estes últimos ocorrem em espaços obedecendo às técnicas dealinhamento e espaçamento agronômico entre espécies e variedades, o que vema caracterizar o plantio numa racionalidade de organização das espécies, demaneira a utilizar melhor os espaços numa combinação espacial e temporal emacordo com o ecossistema de várzea, o ciclo produtivo e a arquitetura de cadacultivo. Podem ser observados os seguintes cultivos:

• Cultivos Solteiros – Podem ocorrer nas áreas de várzeas baixasou praias ou cultivadas em tabuleiros ou balcões suspensos,grande parte dos cultivos solteiros concentram-se nas espéciesfolhosas de olerícolas, pimentas e temperos. Ocorrem nasproximidades dos centros urbanos e das cidades como oferta deprodutos para o abastecimento do mercado hortifrutigranjeiro.

• Cultivos em Consórcio – As áreas normalmente apresentamcultivos de hortaliças (onde cada cultivo ocupa espaçodeterminado e definido).

• Cultivos em Canteiros Suspensos – Como estratégia dediversificação e ampliação da capacidade produtiva do sistema deprodução. Destaca-se a produção de hortaliças em tabuleiros,verificada em comunidades dos municípios de Parintins eOriximiná, onde são cultivadas espécies para abastecer o mercadolocal como couve (Brassica oleraceae sp.), alface (Lactuca sativasp.), pimentão (Capsicum annuum), tomate (Lycopersicum

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esculentum), coentro (Coriandrum sativum), chicória (Erygiumfoetidum), cebolinha (Allium fisculosum), pimentas diversas(Capsicum sp.), maxixe (Cucumis anguria) entre outras. Talestratégia visa reproduzir as condições ideais de produção,alternativa aos efeitos da sazonalidade das áreas de várzea, e“criar” novos espaços para produção e elevar o “valor de uso” daterra, sendo verificada em cerca de 50% das famíliasentrevistadas. Geralmente próximo às casas, caracteriza-se porcanteiros suspensos construídos de madeira, preenchido com soloda várzea e esterco de gado disponíveis no local (Figura 5).Alguns tabuleiros já vêm recebendo tratamento especial comsistema de irrigação e cobertura com plástico para controlarexcesso de água no período das chuvas. Também se constitui, numcomponente onde a mão de obra feminina é de extremaimportância.

FIGURA 4. Componente “Cultivo Solteiro” em área de várzea. Calha Solimões/AM, 2003/04.

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FIGURA 5. Cultivo em “Canteiros Suspensos” em área de várzea. Calha Solimões/AM, 2003/04.

Componente Pousio

As terras deixadas em “descanso” para recuperação após alguns anos deprodução são reconhecidas como sendo as de Pousio. Esta prática denominadaregionalmente de “descanso da terra” obedece ao senso de conservação dosrecursos naturais (vegetal e animal) para uso agrícola posterior, sendo, bastantedifundida nas áreas de várzea. A técnica de Pousio se dá para formação decapoeiras e caracteriza-se pela ocorrência de heterogeneidade, estratificação eorganização das comunidades florísticas para a manutenção da vida. Tem comofunção principal, a de reposição dos nutrientes e reconstrução da paisagemflorística nos locais utilizados para os plantios e/ou de roça.

São reconhecidas duas vertentes para a técnica do Pousio nas várzeasregionais, conforme descrito por Noda et al. (1995). A primeira é do pousiotradicional, praticado pelo conhecimento dos níveis de produtividade dosplantios e/ou plantios de roça. A Segunda é a do pousio melhorado, com oplantio de fruteiras regionais com espaçamentos amorfos e distantes para aevitalização de arbustivas, gramíneas, etc. (Fichas de Identificação dasUnidades Amostrais da Verticalização).

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Sítio ou Quintal

A apresentação deste componente normalmente encontra-se associada àsmoradias e, em muitos casos, fornece um volume de produção que é excedenteda total para o mercado (NODA e NODA, 1994). Normalmente, estãoorganizados espacialmente cultivos de espécies arbóreas, arbustivas eherbáceas de valoração utilitária (NODA, 2000) em:

• Alimentar: valor atribuído pela disponibilidade das espécies comofonte de alimentos para os animais e os seres humanos.

• Medicinal: valor atribuído às espécies em relação àdisponibilidade em obter-se extratos utilizados na medicinapopular regional;

• Madeira: valor atribuído às espécies em relação ao uso emconstruções de moradias, dos equipamentos comunitários, decasas de farinha e cercados para os animais;

• Ornamental: valor agregado às espécies pela satisfação dasensibilidade estética, da contemplação e do senso de beleza;

• Outros: onde estão incluídas as categorias artesanato; veneno; ecalafeto.

Extrativismo Vegetal

As atividades são realizadas obedecendo ao senso de utilização evaloração utilitárias com processos de conservação baseados naeconomicidade. As atividades extrativas são realizadas na floresta que constituium elemento permanente da paisagem. Os produtos extraídos são alimentos,condimentos, remédios, aromáticos, gomas e fibras. O uso das áreas florestadasse dá de maneira a compor o esquema de produção em sistema agroflorestal. Oextrativismo vegetal é uma atividade historicamente executada tanto poragricultores familiares como por latifundiários tradicionais e empresasfamiliares. Grande parte dos produtos extraídos participa de cadeias produtivasespecíficas como as da madeira de lei, castanha, açaí e óleos essenciais cujasfunções são reguladas pelo avanço das relações comerciais de exportação.

O extrativismo de madeira tem a dupla função de ser para acomercialização e obtenção de recursos monetários (manutenção das famílias,compra de equipamentos e produtos industrializados) e para construção

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(moradia, canoa, escola, igreja, “casas de farinha” – fornos para torrefação defarinha de mandioca).

O extrativismo nas várzeas está vinculado a um sistema decomercialização, através de financiamento de atravessadores, montado porexportadores. Vários produtores são financiados pelo exportador, antes doperíodo da safra principalmente, a da castanha-do-Brasil, cuja safra dá-se noperíodo de abril a junho. O açaí, cujo período de safra coincide com o dacastanha, tem um amplo consumo, pelas próprias famílias dos produtores, sendoa outra parte comercializada através dos atravessadores, intermediários, etc.

Extrativismo Animal

Dois importantes subcomponentes nas várzeas representam oextrativismo animal, cujas práticas estão muito presentes no dia-a-dia deagricultores e extratores; a caça e a pesca.

A carne de caça é o alimento protéico, depois do peixe, mais importantepara a população nas várzeas e atualmente nas áreas urbanas pelo hábitoalimentar oriundo dessas localidades, dado o processo de circulariedadecultural pela migração espacial e setorial e pelo comércio regional, apesar dailegalidade do consumo urbano das espécies de caça.

Nas maiores cidades, o comércio de animais oriundos da caça éexecutado ilicitamente, mas é do conhecimento público a oferta irregular,porém, constante de produtos oriundos da caça, principalmente os quelônioscomo iguaria do hábito alimentar característico da cultura amazônica. Muitassão as cerimônias ilustres e importantes realizadas por famílias tradicionais,políticos, profissionais liberais e membros da sociedade local, onde espécies dequelônios são oferecidas numa variedade de pratos que chega até quatro formasde apresentação (sarapatel, assado, guisado e a farofa).

A caça é praticada nas áreas de floresta não somente da propriedade,mas, também, em áreas adjacentes. É explorada tanto nos ambientes de terra-firme como nas várzeas, sendo que quase a totalidade dos animais caçados sãopara autoconsumo, havendo, esporadicamente, comercialização do excedente.Há, porém, a prática crescente de incentivar a caça por comerciantes,tradicionais compradores desses animais, nas sedes dos municípios. Outropúblico consumidor e fornecedor de animais oriundos da caça são os atoressociais envolvidos nas atividades de turismo (restaurantes e hotéis) e nocomércio de carnes exóticas.

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Os animais com maior participação na atividade são o tatu (Dasypus sp.), opato-do-mato (Cairina Moschata) e a paca (Agouti paca). Outras espécies deanimais silvestres como capivara (Hidrochaeris capivara), cutia (Dasyproctaaguti) e jacaré (Melanosuchus niger) foram mencionados com menores valores deocorrência e localidades, porém, manifestando valores significativos sobre aparticipação da caça na alimentação dos agricultores.

Importante observar a necessidade de medidas severas e sérias quanto aoextrativismo animal. Não bastam somente medidas repressivas e fiscalizatóriasquando se tem como componente na cadeia produtiva atores da indústria doturismo e o hábito alimentar, o assunto merece propostas mais sérias,principalmente como estratégias de compensação pelo incentivo à criação deanimais silvestres e conservação das matas, em grande escala, organizados pelospoderes municipais. A pesca é realizada no conjunto da bacia hidrográfica, dando-se preferência, dependendo do período do ano, ao rio principal, igarapés ou lagos.O extrativismo, na sua versão animal, tem na pesca a sua principal manifestaçãosocial e cultural.

A pesca é uma prática que vem sendo desenvolvida nas várzeas dos Estadosdo Amazonas e Pará por séculos, pelos moradores de diferentes etnias e osmestiços que vêm ocupando predominantemente as margens dos cursos-d’água,sempre observando os hábitos tradicionais da pesca, aprimorando os utensílios eadequando-os às suas necessidades de maior produção por tempo disponível àatividade.

Atualmente, vem ocorrendo fricção entre grupos de pessoas pertencentes àssociedades locais, principalmente quando o acesso aos recursos pesqueiros écoletivo e se tem uma situação de abundância de pescado, porém, quando osrecursos estão escassos, por motivo de perda ou transformações de habitats, ocorremobilização política e social. As desconexões são, principalmente, na pesca depeixes de grande porte e elevado valor econômico e no conseqüente aumento depessoas dedicando-se a essa modalidade de extrativismo. Nas sociedades locaisobservadas, essas práticas impuseram a necessidade de mecanismos de defesa,muitos dos quais em acordo com os limites reconhecidos como privados eessenciais à reprodução cultural, mas também à sobrevivência e reproduçãobiológica.

As espécies mais freqüentemente mencionadas nas entrevistas foram:pirarucu (Arapaima gigas), matrinchã (Brycon sp.), tucunaré (Cichla sp.),tambaqui (Colosssoma macropomum), traíra (Hoplias malabaricus), aracu(Leporinus fasciatus), pacu (Mylossoma sp), aruanã e sulamba (Osteoglossum

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bicirhosum), pescada (Plagioscion sp.), curimatã (Prochilodus nigricans), surubim(Pseudoplatystoma fasciatum), jaraqui (Semaprochilodus sp.), piranha(Serrasalmus eigenmanni) e sardinha (Triportheus sp.).

Nas sociedades locais a pesca artesanal de pequena escala é uma dasprincipais atividades econômicas dos agricultores familiares, podendo seracompanhada e complementada pela atividade agrícola na obtenção de rendamonetária.

Na calha do Solimões-Amazonas, em todo o seu comprimento, foramencontrados pescadores comerciais e/ou donos de embarcação responsáveis, naatualidade, por grande parte dos conflitos com os pescadores artesanais pelo acessoaos ambientes lóticos de pesca na confluência de igarapés com o canal principal dorio. São os atores sociais representantes da função comercial na cadeia produtiva dapesca que contratam serviços e trabalhadores e disputam o direito de colocar seusequipamentos de pesca (malhadeiras) nas proximidades das desembocaduras dosigarapés para capturar os cardumes que migram dos lagos para o rio. Outroimportante representante da função comercial são os donos de peixarias,supermercados e comerciantes urbanos de feiras ou mercados municipais. São osdenominados proprietários das “Peixarias” que atuam como armadores de pesca eque também são responsáveis pela exportação do pescado para outras regiões do país.

A comercialização de grande parte do pescado desembarcado nas sedes dosmunicípios é negociada por grupos de pequenos empresários familiares do setor,principalmente aqueles que possuem a concessão de “pedras” nos mercados efeiras municipais. Existem comerciantes compradores da produção de pescadoresindividuais rurais e urbanos com quem mantêm uma relação de clientela.

PRINCIPAIS CARACTERÍSTICASDOS COMPONENTES EM PECUÁRIA

A contextualização da atual situação da Pecuária e de seu uso e manejodos solos foi realizada a partir do enfoque produtivo onde os componentes maiscaracterísticos permitem ter-se uma visão horizontalizada de seucomportamento nas várzeas regionais. Os componentes principais podem serdivididos em dois grandes grupos:

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Animais de Pequeno Porte

Na atualidade produtiva das várzeas, a pecuária de animais de pequenoporte tem dupla significância. Muitas são as atividades participantes das redesprodutivas e comerciais ligadas à cadeia produtiva de aves, ovos e carne decaprinos e ovinos para o abastecimento de centros urbanos e as atividadescriatórias nos sítios dos agricultores familiares, que lançam mão dessaatividade como complementação alimentar e de renda eventual.

As formas de produção normalmente utilizam animais de pequeno porte(aves, suínos e caprinos) quando empresariais familiares, através de processostécnicos de confinamento. Os animais são alimentados com ração balanceada,exigindo instalações especializadas com construções específicas e, passandopelos processos de manutenção assemelhados aos de criação bovina nosperíodos das cheias dos rios.

Em conformidade aos preceitos técnicos, essas criações localizam-semais próximas aos centros urbanos para minimizar a influência dos fatoresestruturais como o isolamento dos produtores dos mercados consumidores, asdificuldades de transporte e de conservação dos produtos, a falta de energia,dificuldade de acesso aos insumos, dentre outras.

As aves são criadas em granjas com equipamentos (gaiolas, comedouros,incubadoras, etc.) diferenciados por ser no regime intensivo a criação, pois sedestina ao comércio de frango regional, muitas vezes mais valorizadomonetariamente, bem como ao fornecimento de ovos nas cidades de pequeno,médio e grande porte. Praticamente quase todas as sedes dos municípiosestudados possuem produção de ovos, sendo pouco o abastecimento advindode importação de outras localidades.

As formas de produção, quando alocadas nas agriculturas familiares,diferenciam-se no manejo dos animais. Geralmente, os mesmos sãoalimentados com restos de alimentos das refeições familiares, ração, milho,frutas caídas no chão e processamento de produtos (crueira, da farinha demandioca). A criação destes animais é considerada como alternativa alimentarna época da cheia onde o peixe fica mais escasso.

As aves são criadas soltas (produção extensiva tradicional) paraconsumo porque há dificuldades na obtenção de ração e/ou outros alimentos.Nos períodos de cheia dos rios, esses animais, às vezes são levados para terra-firme, podendo ainda ser vendidos ou presos em maromba. Geralmente, as

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instalações são o puleiro (pode até ser o galho de uma árvore) ou o galinheiro,que servem para os animais passarem a noite.

Os animais de pequeno porte costumam ser um componente importantedo sistema de produção familiar. Além da função alimentar, os mesmos podemfuncionar como uma espécie de ativo facilmente mobilizável para satisfazernecessidades imediatas, principalmente nas situações de dificuldade, através davenda ou de outra relação de troca simples.

A criação de aves caracteriza-se por ser doméstica e é realizada nas áreasde sítios, terreiros e/ou quintais dos agricultores familiares. Nestas áreas ocorrenormalmente a presença de galinhas e patos. Não consta nas informações sobrea comercialização dos animais de pequeno porte que haja contribuição para aformação de renda monetária.

Animais de Grande Porte

Nos estabelecimentos empresariais familiares e fazendas, a produção deanimais de grande porte caracteriza-se pela criação de bovinos e bubalinos parafornecimento e participação nas cadeias produtivas de corte e leite. As formas,de produção apresentam-se como sendo a atividade da pecuária a principal,sendo reduzida a área agrícola e a atividade extrativa pela conversão designificativas parcelas de terras em pastagens. A principal alimentação dosanimais é o capim, que pode ser plantado ou natural. As áreas de capimplantadas são pequenas, sendo a maior parte natural.

Nessas formas de produção o leite é vendido ou transformado nos própriosestabelecimentos, tomando-se um cuidado maior com a qualidade e a sanidadedo rebanho. A unidade familiar administra as atividades e parte da venda dosgarrotes é aplicada no processo produtivo e na contratação de mão de obraassalariada. Neste caso, as fazendas especializadas na criação de bovinos ebubalinos concentram a maior parte dos rebanhos regionais de várzeas,principalmente nos municípios do Careiro da Várzea, Itacoatiara, Parintins,Oriximiná e Santarém. Quando ocorrem outras atividades estas estão afetas àcriação de animais de pequeno porte e desempenham funções acessórias ecomplementares à produção bovina e bubalina. É o caso da suinocultura,aproveitando o soro do leite, a ovinocultura e caprinocultura, que se utilizam dasmesmas pastagens que o gado, e a produção de milho para alimentação animal.

As fazendas de gado são estabelecimentos heterogêneos no que se refereao caráter da atividade da pecuária e ao grau de tecnologia adotado.

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Normalmente, são moradores nas sedes dos municípios e integram-se a outrasatividades da cadeia produtiva da pecuária e em outros setores da economia.As áreas dos agricultores familiares com pasto plantado caracterizam-se pornão haver preparo da área, sendo o capim plantado ou replantado onde ocorreuenchente com cobertura total do terreno. Normalmente, o capim utilizado é o“brizante” (Brachearia brizanta) introduzido, porém, adaptado à região.

A criação de gado caracteriza-se por ser uma atividade que aproveita oscampos naturais no período em que as terras não se encontram alagadas com atransferência dos animais para área de terra-firme no período de subida das águas.Os agricultores familiares possuem plantel constituído basicamente de gado bovino,mais adequado ao sistema agroflorestal, tendo em vista que o gado bubalino provocaprofundas alterações no sistema natural e de produção. O número médio de animaispor família é bastante reduzido, daí a atividade assumir, na visão dos produtores, umcaráter de “poupança”, principalmente por apresentar alta liquidez. Nas situações deemergência, a família consegue colocar com facilidade o produto no mercado,gerando a renda monetária necessária para a situação.

A manifestação quase que unânime das famílias entrevistadas quanto aosprejuízos que os agricultores familiares vêm tendo com os “estragos” resultantes dapresença de grandes criadores de búfalos nas proximidades é um fato marcante ede grande preocupação. A queda da produção pesqueira e a perda de produção nasroças e sítios, por ação desses animais, foram outros problemas apontados.Entretanto, algumas localidades têm conseguido, por meio de organizaçõesapoiadas por instituições governamentais e não-governamentais, reduzir oproblema.

Geralmente, os agricultores familiares cercam uma área do terreno ondefica a casa e o sítio. Em espaço de terreno contíguo existe uma área comumem que o gado de todos os comunitários pasta junto. O sal é utilizado nacomplementação alimentar do animal, sendo a raça predominante a mestiça,onde não ocorre controle sobre a reprodução dos animais. Não existe umreprodutor por proprietário ou programação de época de cobertura das vacas.

O gado bovino é criado para o consumo e como fonte de renda onde osenso predominante é o de funcionar como “poupança”. Os animais sãocriados soltos, ocorrendo por vezes a instalação de curral, sendo seus resíduos(esterco) utilizados no cultivo de hortaliças. Na época da cheia, na grandemaioria, são levados para áreas alugadas em terrenos de terra-firme. Podeocorrer sociedade na criação do gado bovino, onde somente o lucro é divididoentre os sócios e se houver perdas, estas recaem sobre o criador. Por isso, os

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criadores fazem o possível para reproduzir o gado. O dístico de agricultorfamiliar representa de maneira os tratos e o manejo extensivo do gado bovino,sem controle técnico ou preocupação técnica com o pasto e a reprodução doplantel.

O PRINCIPAL DO SISTEMA ECONÔMICO E DA SUSTENTABILIDADE REGIONAL

Os dados disponíveis de produção agropecuária de várzea sobre a calhado Solimões-Amazonas são bastante escassos. Quando existentes nãoconsideram as diferenças em nível de microrregião o que pode comprometerqualquer iniciativa de proposição de políticas públicas adequadas. Daí o motivoque levou à aplicação de estratégias que pudessem estabelecer, a partir debanco de dados de campo, uma estratificação dos sistemas de produçãopresentes no espaço em questão.

A diversidade de produtos originados da produção agropecuária emáreas de várzea é um importante fator que garante a sustentabilidade dossistemas de produção nestes espaços. As incertezas resultantes das condiçõesde mercado (preço e demanda) bem como das variações sofridas na produçãoem função das condições ambientais (enchente, seca, problemasfitossanitários...) levam à manutenção desta diversidade, favorecendo aadaptabilidade do sistema a estas perturbações. Daí o porquê, da tendência porprodutos que garantam, inicialmente, a auto-suficiência da família.

Os dados referentes à importância qualitativa que cada componente dosistema de produção assume, quanto aos aspectos de auto-suficiência esustentabilidade familiar (consumo e troca) e de produção agrícola e extrativacomercial (venda) nas Microrregiões estabelecidas para análise, reforçam estatendência. A freqüência relativa da manifestação oral dos informantesentrevistados (Figuras 6, 7, 8, 9, 10 e 11) indica certo padrão para boa parte dacalha do Solimões-Amazonas, tendo os componentes roça, cultivo e pescacomo principais na produção para consumo e troca, com exceção para amicrorregião 6, onde o ecossistema com influência diária da maré, dificulta oacesso a áreas adequadas ao cultivo de grande parte das espécies cultivadas.Neste caso específico, apenas a pesca é comum aos demais, ressaltando-setambém o componente sítio. Já os demais componentes assumem grau deimportância diferenciado em cada microrregião.

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FIGURA 6. Importância qualitativa do componente do sistema de produção na área de várzea da microrregião 1 (Benjamin Constant;Tabatinga, São Paulo de Olivença e Atalaia do Norte), 2003/04.

A importância que cada componente representa na geração de rendamonetária também parece acompanhar a análise anterior. Entretanto, algunscomponentes destacam-se por apresentarem maior freqüência para a finalidade"venda", como é o caso da criação de animais de grande porte (bovino ebubalino), cultivo de hortaliças em tabuleiros, extração vegetal madeirável enão-madeirável e pesca. O primeiro ocorre em praticamente todas asmicrorregiões, assumindo papel de poupança no caso de pequenos criadores,em função da alta liquidez. Já o extrativismo vegetal e pesca, estão associadosà disponibilidade do recurso e a existência de uma rede de comercializaçãoestruturada. Já a produção de hortaliças em tabuleiros corresponde a umaestratégia adaptativa voltada a atender uma demanda específica.

De um modo geral, pode-se observar a tendência de retorno ao sistemadiversificado daqueles produtores que, principalmente por estímulo dogoverno, se especializaram em determinadas atividades produtivas, comdestaque ao extrativismo vegetal e animal. A especialização levou, na maioriadas vezes, a uma redução do estoque do recurso e a uma redução do nível deauto-sustentabilidade do produtor.

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FIGURA 7. Importância qualitativa do componente do sistema de produção na área de várzea da microrregião 2 (Alvarães, Maraã,

Tefé e Coari), 2003/04.

FIGURA 8. Importância qualitativa do componente do sistema de produção na área de várzea da microrregião 3 (Manacapuru, Careiroda Várzea e Iranduba), 2003/04.

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Figura 9. Importância qualitativa do componente do sistema de produção na área de várzea da microrregião 4 (Itacoatiara e Silves),2003/04.

FIGURA 10. Importância qualitativa do componente do sistema de produção na área de várzea da microrregião 5 (Parintins, Óbidos,Oriximiná e Santarém), 2003/04.

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Figura 11. Importância qualitativa do componente do sistema de produção na área de várzea da microrregião 6 (Gurupá), 2003/04.

A organização social e espacial da produção nos sistemas de produçãona várzea sofre a influência de diversos fatores. O estudo identificou 28variáveis que interferem nesses sistemas, registrados em forma de freqüênciarelativa de manifestações dos informantes ao longo da calha, com destaquepara: o acesso à terra; assistência técnica; conflito social; efeito das enchentes;baixo estoque de recursos naturais; disponibilidade de insumos; ação dointermediário; efeito da seca; disponibilidade de mão-de-obra; mercado para oproduto; problemas de sanidade animal e vegetal; preço do produto;financiamento da produção; condições do solo.

A análise de componentes principais e a análise de agrupamento foramutilizadas como instrumentos de definição de zonas homogêneas a partir decritérios socioeconômicos, de sorte a definir problemáticas específicas de cadamicrorregião, o que possibilita subsidiar políticas públicas nos níveis regionale municipal, considerando as limitações e potencialidades de cadamicrorregião.

Por meio da análise de componentes principais foram extraídos osfatores que refletissem as interferências, principalmente externas, que maisafetam o sistema de produção na área de estudo. A análise foi realizadainicialmente por microrregião onde foram efetivamente empregadas apenas as

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variáveis que apresentaram autovalores superiores a 0,7, conforme critérioadotado por Jolliffe (1986).

A análise de agrupamento discriminou para a microrregião 1 – Alto RioSolimões – a formação de três grupos (Figura 12). O primeiro, formado peloscomponentes (1) criação de animais de grande porte, (9) sítio, (3) cultivo e (10)hortaliças no sítio, sofre grande influência da variável "preço". Na região doAlto Solimões é constante a influência do preço de produtos procedentes doPeru e Colômbia.

Outra característica local que afeta o preço de produtos do sítio,principalmente frutos (cupuaçu, abiu, sapota, mapati...) é a grande oferta destesprodutos "in natura" para uma demanda bastante reduzida e a falta decondições para o beneficiamento local dos produtos. Apesar das alternativas demercado, Benjamin Constant, Tabatinga e Letícia, a sazonalidade característicade produtos como melancia, milho e macaxeira, acarreta uma oferta superior àdemanda local, forçando uma queda no preço do produto. Com a deficiência dosistema regional de transporte e escoamento da produção, o preço elevado dofrete e o nível de organização mais elevado das redes de comercializaçãoquando comparado ao dos produtores rurais da região, grande parte destaprodução nem chega ao mercado, gerando elevada taxa de perda para oprodutor. A variável ambiental "enchente" também constitui-se um dificultadorpara a produção local. Em função desta caracterísitica, algumas variedades deespécies vegetais foram localmente desenvolvidas para melhor adaptarem-seaos regimes das águas.

O grupo 2, formado pelos componentes resultantes das atividadesextrativistas (2) caça, (4) exploração de madeira, (7) pesca e (5) extraçãovegetal, tem na variável redução e distanciamento do estoque de recursosnaturais como principais influências. A forte pressão sobre os recursos naturaisé resultante, em grande parte, pela fragilidade da fronteira com outros doispaíses. A exportação clandestina de peixes para a Colômbia e a atuação, noBrasil, de agentes de madeireiras localizadas em território Peruano, vêmprovocando a continuidade da sobreexploração desses recursos. Outra espécievegetal bastante procurada por atravessadores é o camu-camu, produtoexclusivamente de origem extrativista.

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FIGURA 12. Análise de Cluster dos componentes do sistema de produção na Microrregião 1, tendo por base as variáveis queinterferem no processo de produção, expressas em freqüência relativa. (Método de Ligações Completas e DistânciaEuclediana).

As diferenças existentes nas legislações ambientais dos três paísesfronteiriços vêm desencadeando descontentamento da população residente emterritório Brasileiro, que sentem-se desfavorecidos, o que muitas vezes resultaem descomprimento à lei e envolvimento em redes de exploração e comércioilegal de produtos extrativistas. Em função da proximidade das sedes dosmunicípios e da concentração da população ribeirinha, a fauna vem sedistanciando cada vez mais, prejudicando a caça de subsistência nascomunidades. Algumas iniciativas puderam ser verificadas na microrregiãocomo tentativas de reverter o atual quadro. Como exemplo, vale destacar acriação de animais silvestres e a revitalização de áreas de mata e capoeirapróximas às comunidades com espécies atrativas da caça.

O grupo 3, formado pelos componentes (6) criação de animais depequeno porte e (8) roça, apresenta como principal variável de interferência osaspectos de sanidade (animal e vegetal), que por sua vez, também estáfortemente relacionada com o período das chuvas intensas e subida das águas.Apesar do preço ter um peso expressivo para o componente roça, o mesmo nãoocorre para o outro componente, tendo em vista que o mesmo se destina maispara consumo da família.

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Na microrregião 2 – Médio Rio Solimões – foi possível verificar aformação de dois grupos (Figura 13). O primeiro, composto por um grandenúmero de componentes, (2) caça, (10) cultivo de hortaliças no sítio, (4)exploração de madeira, (5) extração vegetal, (3) cultivo e (11) cultivo emtabuleiros. É altamente influenciado pela variável distância, que para caça eextração vegetal e de madeira, relaciona-se com a disponibilidade do recurso,já para os demais representa a dificuldade de acesso à água no período de seca.

Como na microrregião anterior, no grupo 2 composto pelos componentes(7) pesca e (9) sítio, o nível de organização das redes de comercialização locaistambém desfavorecem os produtores quando do momento de comercialização daprodução. A desvantagem nas negociações e a falta de alternativas de mercado,refletem no preço final do produto, chegando a atingir níveis onde nem mesmo otrabalho é devidamente remunerado. O transporte da produção tambémrepresenta um fator limitante comum a estes componentes, e contribuem para asituação de desvantagem mencionada anteriormente. Apesar de não constituiremum grupo pelo nível de similaridade adotado, os componentes (8) roça e (6)criação de animais de pequeno porte, foram os que totalizaram as maioresfreqüências relativas de dificuldades, com destaque para o efeito das enchentes,predadores, indisponibilidade de insumos e recursos financeiros e preço.

FIGURA 13. Análise de Cluster dos componentes do sistema de produção na Microrregião 2, tendo por base as variáveis queinterferem no processo de produção, expressas em frequência relativa. (Método de Ligações Completas e Distância

Euclediana).

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Na microrregião 3 – Baixo Rio Solimões – pode-se observar a formaçãode dois grupos, ficando isolados os componentes (7) pesca, (3) cultivo e (8)roça (Figura 14). O grupo 1, formado pelos componentes (1) criação deanimais de grande porte e (9) sítio, apresentaram como variáveis que maisinfluenciaram o efeito das enchentes e o conflito social. A subida das águaslimita a área disponível tanto para criação de gado como para cultivo deespécies perenes (no sítio). O conflito social é resultante da competição porespaço, já que o gado causa danos às espécies cultivadas nas áreas de sítios ede roça. Quando este dano ocorre em áreas vizinhas geram-se conflitos que sãofreqüentes na microrregião.

O grupo 2, formado pelos componentes (2) caça, (4) extração demadeira, (5) extração vegetal, (6) criação de animais de pequeno porte e (10)hortaliças do sítio, caracteriza-se por componentes de menor expressão emtermos de produção tanto para consumo como para venda na microrregião.Dois subgrupos podem ser verificados ainda, um determinado pela distânciacada vez maior do recurso (caça e extração), e o outro pela limitação de área efalta de assistência técnica (criação de animais de pequeno porte e produção dehortaliças nos sítios).

FIGURA 14. Análise de Cluster dos componentes do sistema de produção na Microrregião 3, tendo por base as variáveis queinterferem no processo de produção, expressas em freqüência relativa. (Método de Ligações Completas e DistânciaEuclediana).

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Os componentes (3) cultivo e (8) roça, que não se agruparam aos demais,representam as principais atividades de geração de renda na microrregião,abastecendo a sede de importantes centros urbanos do Estado (Manaus,Manacapuru e Iranduba). Em função da importância que assumem,apresentaram as maiores totalizações para a freqüência relativa das variáveisidentificadas.

Para a microrregião 4 – Médio Rio Amazonas – o grupo 1, formadopelos componentes (2) criação de animais de grande porte, (3) caça, (5)extração de madeira e (8) pesca, sofrem influência com maior intensidade dasvariáveis conflito social e transporte, principalmente em relação à criação deanimais de grande porte e pesca (Figura 15). Já o grupo formado por (4) cultivoe (10) sítio apresenta como limitações comuns a necessidade de recursosfinanceiros, preço do produto e mercado, além de aspectos de sanidade vegetal.Ressalta-se que as justificativas para estas variáveis são, em grande parte, asmesmas apresentadas nas microrregiões anteriores.

FIGURA 15. Análise de Cluster dos componentes do sistema de produção na Microrregião 4, tendo por base as variáveis queinterferem no processo de produção, expressas em freqüência relativa. (Método de Ligações Completas e DistânciaEuclediana).

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No caso da microrregião 5 – Médio Rio Amazonas – os componentes(10) sítio e (11) cultivo de hortaliças em sítios, agrupados em 2, sofrem forteinfluência das variáveis relacionadas ao ambiente (enchente, seca, invasoras,pragas e doenças) que exigem mais do manejo (Figura 16). Entretanto fatorescomo mão-de-obra, preço, mercado, transporte, necessidade de insumos eacesso à terra também são determinantes no agrupamento. Já o grupo 1,formado por (2) criação de animais de grande porte, (6) caça, (3) extração demadeira, (5) extração vegetal e (12) cultivo em tabuleiros, apresenta a distânciacomo variável comum, seja no sentido de acesso ao recurso ou à água parairrigação. O transporte é responsável pela maior similaridade entre oscomponentes criação de animais de grande porte e caça, já a redução doestoque de recursos é responsável pela similaridade entre extração de madeirae extração vegetal.

.FIGURA 16. Análise de Cluster dos componentes do sistema de produção na Microrregião 5, tendo por base as variáveis que

interferem no processo de produção, expressas em freqüência relativa. (Método de Ligações Completas e DistânciaEuclediana).

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Na microrrerião do Estuário (Figura 17), o Grupo 1 está formado peloscomponentes (1) caça, (2) cultivo, (9) cultivo de hortaliças em sítios, (3) exploraçãode madeira e (4) extração vegetal, e tem as variáveis distância do mercado, custo dotransporte, preço do produto e mercado como dificuldades comuns. A alternativa demercado é bastante limitada pela distância dos centros consumidores, se restringindoa poucos compradores que determinam o preço do produto, principalmente daquelesde maior expressão local, como o palmito e fruto de açaí e a madeira.

Já o Grupo 2, formado por (7) roça e (8) sítio, apresenta as variáveismão-de-obra e recurso financeiro como principais fatores limitantes, além dasplantas invasoras que tornam o processo ainda mais exigente de mão-de-obra.Grupo 3, formado pelos componentes (5) criação de animais de pequeno portee (6) pesca se assemelham pela necessidade de insumos e, conseqüentemente,mais recursos financeiros. O camarão é o principal produto da atividadepesqueira. Várias famílias dependem da atividade para gerar renda monetária.Entretanto, o produto utilizado como isca na captura do camarão (farinha debabaçu) é importado do Maranhão representando o principal custo daatividade. A limitação de terras adequadas para o cultivo de algumas espéciespara alimentação de animais de pequeno porte também força esta necessidadede maior investimento para o desenvolvimento da atividade. O manejo dessesanimais também é dificultado pelas características ambientais da região.

FIGURA 17. Análise de Cluster dos componentes do sistema de produção na Microrregião 6, tendo por base as variáveis queinterferem no processo de produção, expressas em freqüência relativa. (Método de Ligações Completas e DistânciaEuclediana).

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A variável ambiente (inundação diária das terras) representa um fatorlimitante para as atividades (2) cultivo, (5) criação de animais de pequenoporte, (7) roça, (8) sítio e (9) cultivo de hortaliças nos sítios, exigindo dosprodutores maiores gastos com alimentação básica. Já a dificuldade detransporte e o preço do frete, forçam o produtor a comercializar a produção nopróprio local, tornando-o ainda mais dependente dos agentes decomercialização local.

O SISTEMA DE COMERCIALIZAÇÃO DE PRODUTOS DAAGRICULTURA, EXTRATIVISMO E PECUÁRIA

O sistema de comercialização se estabelece a partir de relações decontato com os centros urbanos e as grandes cidades localizadas próximo dasáreas das várzeas na calha do Solimões-Amazonas. O mercado local estáorganizado através de relações estabelecidas para reter e selecionar o excedenteproduzido nas sociedades locais.

Na circulação dos produtos de origem agroflorestal, através das relaçõesentre compradores-comerciantes e produtores-vendedores, ocorre o processode comercialização nos espaços de feira, beira dos rios, mercados municipais ecomércios diversos. Os primeiros vendem produtos como farinha, frutas,hortaliças, etc., de forma a terem dinheiro para comprar mercadorias nãoproduzidas nas sociedades locais, mas necessárias ao consumo das famílias.

Os produtores levam suas mercadorias no mercado urbano e aí compramos produtos para complementar suas necessidades criadas a partir das relaçõesde contato comercial. Os principais atores sociais que participam do processode comercialização, que podem ser denominados genericamente deintermediários, encontram-se em diferentes locais, sendo os principais asbeiras dos rios nas moradias dos produtores, os portos, as feiras e mercados eem constante movimento em suas embarcações fluviais. Uma característicainteressante no volume de negócios oriundos da comercialização dos produtossão os locais de concentração de venda.

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TABELA 2. Principais locais de venda dos produtos nas microrregiões estudadas.Estados do Amazonas e Pará. Brasil. 2003/4.

Na Tabela 1, os dados mostram os locais de venda, conforme asinformações obtidas, concentrados nas sedes dos municípios com a média de67,4 % e nas proximidades das áreas de produção e moradia dos agricultorescom a média de 28,7%. Esse fato deve-se, em grande parte, pela presença dosintermediários (marreteiros, atravessadores e marchantes) com característicasde atuação profissional próximo aos seus fregueses.

OS TIPOS DE AGENTES DE COMERCIALIZAÇÃO

A tipologia aproximada dos agentes de comercialização compradoresnas cidades e/ou que têm contatos com os agricultores, a partir das entrevistas,aponta como os principais para os produtos oriundos da Agricultura, doExtrativismo e da Pecuária, por ordem de importância de ocorrência nascitações, os intermediários (42,6%) e os marreteiros (23,3%) ( Figura 18) éimportante observar que percentuais assemelhados para consumidor direto epatrão, este último remanescente da época dos plantios de fibras e produtos doextrativismo como madeira. Juntando-se os dados de consumidor e associaçãoinfere-se que o nível de organização social para a comercialização ainda ébaixo.

Local de VendasN= 25

REGIÕES (%)

Alto RioSolimões

Médio RioSolimões

Baixo RioSolimões

Médio RioAmazonas

Baixo RioAmazonas

EstuárioTotal Geral

Áreas de Produção 2,3 11,0 41,4 5,3 23,9 91,7 28,7

Áreas de Produção e Sede

3,0 0,0 0,0 12,0 4,6 8,3 3,9

Sede Mercado ou Beira 94,7 89,0 58,6 82,7 71,5 0,0 67,4

Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0

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FIGURA 18. Participação relativa dos principais tipos de compradores mencionados nas áreas pesquisadas nos Estados do Amazonas e do Pará. Brasil, 2003/4.

O papel de importância dado ao intermediário é por, normalmente, ser odono do meio de transporte usado para movimentar os produtos a seremcomercializados numa relação com práticas diferentes, dependendo do volumede recursos financeiros que possui e do grau de confiança dos produtores,adquirido após vários anos de atuação local. Nas sociedades locais trabalhadasexiste um intenso tráfego de embarcações cuja função social é a de intermediaro processo de comercialização através de viagens.

A malha de tipos de compradores (comerciantes intermediários) é umcomponente forte para a não percepção, por parte dos agricultores, sobre oprocesso de apropriação dos seus excedentes gerados na produção. Assim,como também, a não identificação da participação do capital industrial naregião pesquisada. O capital comercial, enquanto promotor da circulação dasmercadorias no esquema definido pela apropriação dos excedentes, é oresponsável pela posição resultante da sua articulação com o capital industrialem seu movimento de acumulação e concentração.

Órgãos governamentais de comercialização que atuam no mercado deprodutos para compra e armazenamento têm pouca relevância na intervençãodo processo de comercialização nas áreas pesquisadas, a não ser, órgãosligados à assistência técnica que se encontram em fase de rearticulação nosmunicípios do Estado do Amazonas.

A aproximação entre as áreas de produção e os centros urbanos é umfator de grande importância, mesmo nas áreas de várzeas, onde há

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disponibilidade de meios fluviais de escoamento da produção. A questão é queos produtores de localidades mais distantes e com menores alternativas nascondições de acesso aos centros comerciais, têm maiores gastos com o itemtransporte para a comercialização, constituindo-se um fator de limitação.

Os principais produtos que participam das redes de comercializaçãopodem ser observados nas tabelas 3 e 4. Na tabela 3, os principais percentuaisestão para as hortaliças (32,6%) e as frutas (29,5%). Observa-se na tabela 4,que as espécies cultivadas mais mencionadas foram: banana (Musa sp.), couve(Brassica Oleracea var. acephala), cacau (Theobroma cacao), limão (Citrussp.) e melancia (Citrullus vulgaris), com freqüências superiores a 10%.

TABELA 3. Participação relativa dos principais produtos comercializados mencionados nas localidades pelosagricultores. Estado do Amazonas e Estado do Pará. Brasil, 2003/4.

Produtos

Região (%)

Alto RioSolimões

Médio RioSolimões

Baixo RioSolimões

Médio RioAmazonas

Baixo RioAmazonas

EstuárioTotalGlobal

Artesanato 0,0 0,0 0,0 0,0 2,4 0,0 0,8

Carne 0,0 0,0 0,0 0,0 14,3 8,3 5,4

Coleta e extração 0,0 5,0 0,0 0,0 0,0 16,7 2,3

Extração 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 8,3 0,8

Farinha 16,7 10,0 3,4 0,0 0,0 0,0 3,1

Fibra 0,0 5,0 0,0 0,0 4,8 0,0 2,3

Fruta 33,3 30,0 55,2 25,0 9,5 41,7 29,5

Galinha 0,0 0,0 0,0 0,0 4,8 0,0 1,6

Grãos 16,7 5,0 10,3 10,0 4,8 0,0 7,0

Hortaliça 0,0 35,0 20,7 50,0 45,2 0,0 32,6

Macaxeira 0,0 0,0 3,4 5,0 0,0 0,0 1,6

Medicinal 0,0 0,0 3,4 5,0 2,4 0,0 2,3

Ovos 0,0 0,0 0,0 5,0 0,0 0,0 0,8

Pescado 33,3 10,0 3,4 0,0 9,5 16,7 8,5

Queijo 0,0 0,0 0,0 0,0 2,4 8,3 1,6

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TABELA 4. Participação relativa das principais espécies comercializadas mencionadas nas localidades pelosagricultores. Estados do Amazonas e Pará. Brasil, 2003/4.

Os produtos que compõem o item coleta e extração são o açaí-do-Amazonas (Euterpe precatoria), açaí-do-Pará (Euterpe oleraceae), madeiradas espécies ucuúba (Virola subifera), ucuúba-preta (Virola michelii),mulateiro (Peltogyne paniculata) e cedro (Cedrela huberi), e palmito de açaí(Euterpe sp.) e pupunha (Bactris gasipaes).

A atuação dos agentes de intermediação é favorecida pela produtividadedo trabalho, alienada na comercialização dos produtos. Ou seja, há a produçãode excedentes pelo sobretrabalho familiar em ambiente favorável (várzeasférteis e próximas dos centros comerciais) e frugalidade na maneira de viverpor parte dos agricultores familiares, que proporciona a partilha dos excedentespor diferentes agentes do capital comercial.

Os consumidores são atores sociais importantes no processo decomercialização dos produtos. Quando possível, em períodos de escassez decertos produtos, os produtores conseguem vender seus produtos diretamentepara os consumidores urbanos nas áreas próximas aos mercados e feiras. Avenda efetivada diretamente é mais vantajosa aos produtores, porém, maisdifícil de ocorrer durante todo o ano, pois o tempo necessário de permanência

ESPÉCIE CULTIVADA (%) ESPÉCIE CULTIVADA (%)

Abacate 2,6 Abóbora 2,4Açaí 2,6 Alface 4,8Banana 18,4 Alfavaca 2,4Cacau 10,5 Berinjela 2,4Caju 2,6 Cariru 2,4Coco 5,3 Cebolinha 4,8Cupuaçu 5,3 Cheiro-verde 7,1Goiaba 5,3 Chicória 2,4Jenipapo 2,6 Chuchu 2,4Limão 10,5 Coentro 2,4Mamão 5,3 Couve 11,9Manga 7,9 Feijão-de-corda 7,1Maracujá 7,9 Jambu 4,8Marimari 2,6 Jerimum 9,5Melancia 10,5 Maxixe 9,5Quiabo 7,1 Pepino 2,4Repolho 4,8 Pimenta 2,4Pimenta-de-cheiro 4,8 Pimenta-queimosa 2,4

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no local de comercialização, provoca custos adicionais com despesas de estadiae alimentação.

Algumas Prefeituras Municipais intervêm e influenciam nacomercialização dos produtos, ao participarem da organização dacomercialização nos mercados e feiras de produtores. A explicação dada, alémdos mecanismos de organização social, foi a de que o abastecimento local épraticamente realizado, em termos de produtos alimentares perecíveis, pelosprodutores regionais impossibilitados de adquirirem equipamentos paraconservação dos alimentos.

Quanto aos tipos de compradores particulares, deve-se destacar ocomerciante local como o comprador mais importante, seguido doscomerciantes do mercado, supermercado, barco de linha, dono de flutuante edono de açougue. Os intermediários denominados localmente de“Atravessadores” têm, na atualidade, menor participação no volume dosprodutos agroflorestais comercializados. Estes intermediários deslocam-se àguisa de intermediar a comercialização de produtos agrícolas ou de extraçãoflorestal com seus “fregueses“. Os atravessadores especializaram-se nacomercialização de produtos com sazonalidade de produção. Este agente nãoaplica seu capital, financiando, com dinheiro, os agricultores. Quando muito,adotam um esquema de crediário que os favorece.

A extração dos excedentes através do contato mais direto com pequenoscomerciantes e com os “atravessadores” tem relativa facilidade de acesso aosprodutores, seja através de embarcações e/ou caminhões (Iranduba, Itacoatiara,Manacapuru e Santarém).

A comercialização de pescado, em alguns locais, é incentivada pelaproximidade aos grandes centros urbanos, estimulando o surgimento deatravessadores que vêm até às comunidades em busca da produção. Em algunscasos, dependendo da disponibilidade de transporte, o próprio ribeirinho leva ofruto de sua pescaria para os mercados e frigoríficos.

A relação mantida com os comunitários se dá quando estes comembarcação própria vêem com o intuito de executarem a venda de seusprodutos nas feiras. A alocação dos comunitários nas áreas de feiras é, nos diasde hoje, bastante restrita e a sua permanência, apesar de ser financeiramentevantajosa para os mesmos, é diminuta.

Ligado principalmente à cadeia produtiva de gado de corte, o marchantetem como característica principal a de ser responsável pela compra dos animaisde grande porte (gado bovino e bubalino). Muitas vezes, os marchantes são

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também, produtores, ou seja, grandes pecuaristas locais por vezes associadosem cooperativa e donos dos frigoríficos que comercializam carne nessaslocalidades ou importam o produto de outros Estados. Existe uma rede deimportadores e comerciantes de carne, tanto no Estado do Amazonas como noPará, associados a comerciantes de outras localidades e outros Estadosbrasileiros.

COMPOSIÇÃO FAMILIAR DAS UNIDADES DE PRODUÇÃO

Nas unidades de produção amostradas nas regiões da Calha do RioSolimões-Amazonas, o trabalho, a produção, o consumo, a educação, a saúde,etc. estão organizados através de relações e redes de parentesco. A famíliacaracterizada pelo grupo doméstico compreende várias gerações e mesmoparentes colaterais com os respectivos cônjuges e filhos. Grande parte dasunidades de produção tem na estrutura de famílias extensas a sua constituiçãobásica. Os parentes na estrutura das famílias nucleares são caracterizados peloscônjuges e os seus dependentes que compartilham uma moradia e, áreas deprodução e trabalho é que constituem as unidades de produção e consumo.

As famílias nucleares, enquanto unidades de produção e consumo, só seconstituem assim quando possuem as benfeitorias básicas. Em conformidadecom a cultura regional, cada família nuclear só se constitui como tal quandopossui:

Uma moradia (casa) para todos os seus membros;Áreas para produção de fruteiras, plantios anuais e criação de animais de

pequeno porte ao redor da moradia, denominados de terreiros, sítios e/ouquintais onde estão estruturadas as construções das casas de farinha, os locaisde abrigo dos animais e jiraus de plantios suspensos; e

Áreas para produção em roças ou roçados, plantios e criação de animais. A unidade, com seus componentes, toma todas as decisões importantes

sobre o que, onde e de que maneira produzir e o destino da produção. Já o quecaracterizaria uma Comunidade é uma associação de unidades de produçãofamiliar, estreitamente vinculadas e interdependentes entre si que atuamconjuntamente como uma unidade econômica básica.

A família nuclear ou extensa organiza o trabalho familiar nas regiõespesquisadas sob dois “tipos” de trabalho: o trabalho utilizado na Agricultura,Extrativismo vegetal e na Pecuária e o trabalho doméstico. A família enquanto

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unidade de consumo é que determina a quantidade e a forma – se caseira ounão – do trabalho necessário à manutenção familiar. Desta maneira, as criançase os jovens do sexo masculino participam das atividades de plantio, tratosculturais e colheita, nos processos de trabalho que utilizam técnicastradicionais ou não. Com o chefe da família fica a responsabilidade dacomercialização dos produtos e a socialização sobre os processos de trabalhonão caseiro. O trabalho doméstico fica a cargo da mulher (esposa), após ostrabalhos na Agricultura ou de uma filha mais velha, que prepara a alimentaçãofamiliar e, como tarefa, cuida dos irmãos mais novos.

Nas regiões amostradas, normalmente as unidades familiares deprodução reconhecem as atividades como trabalho, enquanto o trabalhofeminino, doméstico ou não, assim como o dos filhos é considerado “ajuda”,mesmo nas situações onde os trabalhos femininos e das crianças se dão atravésde tarefas equivalentes ou iguais a dos homens.

Como as relações com a cidade mantidas através da comercialização deprodutos e mercadorias são extremamente desiguais, ocorre que a quantidadede trabalho empregado ultrapasse as necessidades de consumo familiar,havendo a intensificação da produção através da utilização do trabalho dascrianças e dos jovens. Nesse processo é que está se dando o contato com acidade e a produção de forças de trabalhos para o mercado. Ou seja, o sensosocial mantido no processo de trabalho socializa as crianças e os jovens muitoalém de sua cultura étnica, pois são levados para uma prática agroflorestal cujalógica recebe a interferência externa dos mecanismos de reprodução do capital.

A questão da reprodução familiar implica na incorporação das criançase dos jovens no processo produtivo. Esses comportamentos dão outraperspectiva ao número de filhos que compõem as famílias. Isto aconteceprincipalmente por implicarem nas condições de aumento ou não no empregode forças de trabalho necessárias para a produção agrícola, especialmente porocasião do plantio e na colheita e para as tarefas do extrativismo vegetal eanimal, onde ocorre a dupla jornada do trabalho das mulheres, das crianças edos jovens.

Na figura 19 podem ser observados os dados agrupados mostrando paraas regiões diferenças significativas no processo migratório de membros dasfamílias que moram fora da unidade produtiva. Importante observar para oMédio Solimões a inexistência de menção para filhos morando fora, muito peloaumento nas demandas por produtos após a implantação do pólo de atuação do

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gasoduto pela PETROBRAS S.A. O fato vem permitindo o ativamentoeconômico na região.

FIGURA 19. Número de residentes no local e fora e a relação de sexo dos membros das famílias nas regiões amostradas na calha doRio Solimões-Amazonas. Brasil, 2003/4.

Estes dados sugerem processos migratórios uma vez que do total donúmero de pessoas o número de homens residentes é menor do que demulheres residentes. Entretanto, inferências mais consistentes dependem dedados sobre saúde, emprego e distribuição populacional e, para orientações depolíticas públicas de organização e distribuição do trabalho e emprego naslocalidades amostradas deve-se levar em conta os percentuais de participaçãopor sexo e idade na composição da mão de obra familiar por atividade eespecialidade de trabalho executado na agricultura. Assim é porque as tarefassão divididas pelo sexo e idade nas atividades nos sistemas de manejo emagricultura, extrativismo vegetal e pecuária.

No processo de expansão das relações capitalistas na agricultura ocorreuma demanda por mercadorias oriundas da economia urbana, dentre as quaisos insumos “modernos”, a energia elétrica, os bens de consumoindustrializados e os serviços. Isso implica no aprofundamento da divisãosocial do trabalho no campo e na cidade, aumentando a procura da força detrabalho em função do aumento da demanda pelos produtos urbanos. Osprocessos de mobilidade assim decorrem da expansão das relações capitalistas

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de produção e podem ocorrer quando o objetivo é o de aumentar-se aprodutividade do trabalho, cujo resultado pode ser a expropriação dostrabalhadores rurais proprietários ou não da terra. Normalmente, os aumentosde produtividade se dão pela conjugação da utilização intensiva do trabalhofamiliar com o uso capitalista da terra, dada a sua localização próxima aosmercados e com bons índices de fertilidade natural e pelo uso de fertilizantesquímicos, máquinas e equipamentos industriais, matrizes genéticasmelhoradas, etc.

As diferenças e variedades dos componentes naturais da divisão socialdo trabalho é que vão possibilitar a produção de trabalho excedente e suaapropriação capitalista, ocorrendo assim, modificações nos processos detrabalho e em conseqüência no sistema de produção. Essa realidade passa arequerer a necessidade de controle sobre a força de trabalho, para torná-lamóvel no tempo e no espaço em resposta à lógica imposta pelo capital aotrabalhador.

A história dos processos de desenvolvimento das diferentes regiões, noque diz respeito a oferta de oportunidades sociais e econômicas, mostra que osmesmos promoveram mobilizações espaciais.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os atores sociais formadores da Agricultura Familiar ao atuaremprodutivamente dão formação às paisagens e processos específicos deconservação ambiental, e ao operarem, possibilitam a geração de emprego erenda. As redes de funções das cadeias produtivas na agricultura e extrativismoe na pecuária distribuem-se em diversos níveis de atuação econômica e comuma série de inter-relações mantidas entre vários atores sociais. Aoperacionalização destas redes de funções pode promover processos deconservação dos recursos naturais, em conformidade ao contexto deocorrência, desde o nível local reunindo agricultores familiares, passando pelospequenos aglomerados urbanos e sedes dos municípios do interior (Atalaia doNorte, Benjamin Constant e São Paulo de Olivença, Maraã, Careiro da Várzea,Iranduba, Silves, Oriximiná e Gurupá) interligadas às cidades economicamentemais importantes (Tabatinga, Tefé, Coari, Manacapuru, Itacoatiara, Parintins,Óbidos e Santarém) até as capitais dos Estados (Manaus e Belém).

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Em nível local e regional os processos de conservação dos recursos pelosagricultores e suas famílias são os característicos do sistema de produçãotradicional, que tem como base práticas agroflorestais de produçãocaracterizadas pelo manejo das terras numa integração, simultânea eseqüencial, entre árvores e/ou animais e/ou cultivos agrícolas. Os fatores deprodução combinados com a utilização de técnicas, influenciam nofuncionamento do sistema produtivo.

A análise efetivada permite inferir o fato de que uma estratégia para odesenvolvimento regional e local implica na criação e implementação detecnologias adequadas que induzam a otimização da produção em consonânciacom a conservação dos recursos, respeitando e valorizando os diversos saberestradicionais. Duas formas de conhecimento e prática social deverão formar umsistema integrado de ação sociopolítica e pesquisa tecnológica. A primeira, ados incrementos tecnológicos advindos do conhecimento cultural repassadopor meio das gerações nos processos de adaptabilidade, organização econservação dos ecossistemas regionais. A segunda, pela prática institucionalde pesquisa interdisciplinar disponibilizada por meios de comunicação edifusão técnico-científica, para contribuir na formulação de propostas dedesenvolvimento e sustentabilidade, principalmente, em áreas onde osecossistemas naturais representam ambientes propícios para a implantação depolíticas de conservação e uso econômico dos recursos naturais, baseadas noincremento dos níveis de bem- estar social e na melhoria do processo produtivoe de vida das sociedades no contexto amazônico.

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LITERATURA CITADA

JOLLIFFE, I.T. Principal Component Analysis. New York: Springer-Verlag. 1986. 271p.

LAMARCHE, H. A agricultura familiar. Volumes 1 e 2. São Paulo:UNICAMP. 1997. 336p. il.

NEVES, W. Sociodiversidade e Biodiversidade: Dois Lados de UmaMesma Equação. São Paulo: USP. 1992. 27p.

NODA, S. N. As relações de trabalho na produção amazonense de jutae malva. 1985. 135f. Dissertação (Mestrado em Agronomia) – EscolaSuperior de Agricultura Luiz de Queiroz, Universidade de São Paulo.Piracicaba, 1985.

NODA, S. N.; PEREIRA, H. S.; CASTELO BRANCO, F. M; NODA,H. Trabalho nos Sistemas de Produção Familiares na Várzea do Estadodo Amazonas. In: NODA, H.; SOUZA, L. A. G.; FONSECA, O. J. M.Duas Décadas de Contribuições do INPA à Pesquisa Agronômica noTrópico Úmido. Manaus: MCT/INPA. 1997. p. 241-280.

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TUAN, Y. Topofilia: Um Estudo da Percepção, Atitudes e Valores doMeio Ambiente. São Paulo: DIFEL. 1980. 288p.il.

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CAPÍTULO 3

CARACTERÍSTICAS QUÍMICAS DOS SOLOSDE VÁRZEA EM DIVERSOS SISTEMAS DE USODA TERRA AO LONGO DA CALHA DOS RIOS

SOLIMÕES-AMAZONAS

Sônia Sena Alfaia1

Acácia Lima Neves2

Gilberto de Assis Ribeiro1

Juan Daniel Villacis Fajardo3

Katell Uguen4

Marta Iria da Costa Ayres3

INTRODUÇÃO

A várzea do complexo Solimões-Amazonas corresponde aaproximadamente 1,5 a 2% do território da Amazônia brasileira. Embora esta árearepresente uma fração pequena da área total dos ecossistemas amazônicos, aqualidade e a quantidade dos sedimentos quaternários, depositadosperiodicamente por ocasião da subida e descida das águas, confere aos solos devárzea um alto potencial para a produção agrícola (FALESI, 1967; RODRIGUESe OLIVEIRA, 1996; FURCH, 1997; CRAVO et al., 2002), ainda que o processode reposição de nutrientes pela inundação e a garantia de sustentabilidade deagrossistemas não esteja bem estudado (OLIVEIRA et al., 2000).

Levantamentos geológicos e pedológicos pioneiros, desenvolvidos emáreas de várzeas amazônicas pelo Projeto RADAM ainda durante os anos 60 e70, são as referências principais para a caracterização e a classificação dossolos de várzea, representados principalmente por Gleissolos e Neossolos

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1. Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA).

2. Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA).

3. Bolsista de DTI/MCT/PCI, (INPA).

4. Bolsista FDB/LBA, (INPA).

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Flúvicos (Projeto RADAMBRASIL, 1975, 1976a, 1976b, 1977a, 1977b,1978a, 1978b).

Os fluxos unimodal (Região do Alto Solimões até a Região do BaixoAmazonas) e polimodal (Região do Estuário) das águas causam grandesvariações nas propriedades físico-químicas do solo, na dinâmica de sua biota ena ciclagem de nutrientes (JUNK et al., 1989; TEIXEIRA e CARDOSO, 1991;FURCH, 2000; ADIS e JUNK, 2002). A magnitude dessas variações édeterminada pela freqüência e a extensão do período de inundação, pelovolume de sedimentos depositados, pela cota do terreno e pelo uso do soloenquanto este fica descoberto.

Na Ilha do Careiro-AM, Alfaia e Falcão (1993) observaram maioresconcentrações de nutrientes em solos de áreas menos elevadas (várzea baixa)que em solos de áreas mais elevadas (várzea alta), o que pode ser explicadopela freqüente deposição periódica de sedimentos na várzea baixa, uma vezque novas deposições em várzea alta só ocorrem quando a inundação é grande.Em geral, a várzea alta pode estar sujeita, ou não, a 1,0-2,5 m de alagaçãodurante um período de 2 a 4 meses, enquanto a várzea baixa pode ser cobertapor até 5,0 m de água, durante um período de 4 a 6 meses (AYRES, 1993).

Na Amazônia, a maioria dos estudos sobre o impacto da agricultura naqualidade do solo foram feitos principalmente para as áreas de terra-firme.Atualmente, pouco se conhece a respeito do impacto dos sistemas de uso daterra sobre a qualidade do solo em áreas de várzea. Neste trabalho descrevem-se as principais características químicas dos solos de várzea do rio Solimões-Amazonas e os possíveis efeitos da unidade de paisagem e dos diferentes tiposde uso da terra sobre o estoque de nutrientes nestes solos.

A amostragem do solo foi efetuada em diferentes sistemas de uso daterra em área de várzea ao longo da calha dos rios Solimões-Amazonas. Nasdiversas comunidades de várzea visitadas, foi, inicialmente, aplicado oquestionário para produtores escolhidos ao acaso. Com base nas respostas aquestões como tempo de uso da área, tipo de sistema de uso da terra (roça,capoeira, chavascal, mata, etc.) e unidades de paisagem (várzea alta, várzeabaixa, campo, igapó, etc.) presentes na propriedade, além da diversidade decultivos, foram selecionadas as propriedades onde seriam realizadas as coletasde solo para as análises químicas. Um total de 65 diferentes sistemas de uso daterra foi amostrado em seis regiões ao longo da calha dos rios Solimões-Amazonas: Alto Rio Solimões (8), Médio Rio Solimões (9), Baixo RioSolimões (8) Médio Rio Amazonas (11), Baixo Rio Amazonas (25) e Estuário (4).

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Em cada sistema de uso da terra foi demarcada uma área deaproximadamente 45 m x 30 m que foi subdividida em três parcelas. Caso aárea selecionada apresentasse dimensões menores, a área total do sistema deuso foi dividida em três parcelas iguais. As parcelas assim definidascorrespondem às repetições. Em cada parcela foram coletadas seis sub-amostras de solo para as profundidades de 0-10 e 10-20 cm, as quais forammisturadas para formar uma única amostra representativa (amostra composta).Para a profundidade de 20-40 cm, por apresentar mais uniformidade, foramcoletadas apenas três subamostras por parcela para formar uma amostracomposta.

O pH, P, K, Ca, Mg e Al foram determinados de acordo com os métodosdescritos pela EMBRAPA (1997). O pH do solo foi determinado em H2O naproporção solo: solução de 1:2,5. Os cátions Ca2+, Mg2+ e Al3+ foram extraídoscom KCl 1N e o P e o K+ foram extraídos com duplo ácido (H2SO4 0,0125 M+ HCl 0,05 M). Os cátions (Ca2+ Mg2+ e K+) foram determinados por umespectrofotômetro de absorção atômica. O P foi determinado porespectrofotometria utilizando o molibdato de amônio. O C orgânico foideterminado pelo auto-analizador de Carbono, Hidrogênio e Nitrogênio demarca Carlo Erba.

Para interpretação dos resultados, foram consideradas separadamente asdeterminações químicas para os diferentes usos da terra dentro de cadacomunidade amostrada, bem como para as profundidades de 0-10, 10-20 e 20-40 cm. Adotou-se o delineamento inteiramente casualisado, com trêsrepetições e a significação dos dados foi determinada pela análise de variânciae teste de Tukey a 5% de probabilidade.

CARACTERÍSTICAS QUÍMICAS DO SOLO NA REGIÃODO ALTO RIO SOLIMÕES

Nesta região, mais de 95% das amostras de solo apresentaram valores depH considerados médios (Cochrane et al, 1985), variando de 5,1 a 6,9 (Tabela1). A várzea alta apresentou em média pH maior que a várzea baixa. Aocontrário dos solos de terra-firme, nesses solos, os valores de pH aumentamcom a profundidade do solo. Com relação às concentrações de Ca e Mgtrocáveis, os valores observados situam-se bem acima do nível considerado

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alto, variando respectivamente de 9,4 a 17,7 e 2,3 a 4,9 cmolckg-1. Não foiobservado um efeito muito claro da unidade de paisagem nem do sistema deuso da terra sobre os teores de Ca e Mg trocáveis.

O Al trocável apresentou uma concentração bastante baixa nos solosamostrados, variando de 0,00 a 0,42 cmolckg-1 (Tabela 2). Não houve efeito daunidade de paisagem na concentração desse elemento no solo e embora nãosignificativo, os sistemas de floresta e capoeira apresentaram os maioresvalores de Al no solo. Os teores de K trocável situaram entre valoresconsiderados médios a alto, variando de 0,17 a 0,75 cmolckg-1, enquanto que osvalores de P foram extremamente elevados (70 a 197 mgkg-1). Não foramobservadas diferenças significativas entre os solos de várzea alta e de várzeabaixa, assim como não foi observado um efeito muito claro do uso da terra naconcentração de P e K.

TABELA 1. Valores médios do pH em água e dos teores de Ca, Mg (cmolckg-1) na região do Alto Solimões.

Médias na mesma coluna, para uma mesma comunidade, seguidas de letras desiguais diferem significativamente entre si (P<0,05; Testede Tukey). 1 – Capoeira de 5 anos, 2 – Cultivo de Milho x Banana de 4 meses, 3 – Roça de Mandioca x Banana de 4 meses, 4 – Sítiode ± 50 anos, 5 – Roça de 1 mês, após a derruba sem queima de uma capoeira de 20 anos, 6 – Roça de Mandioca x Milho de 2 meses,7 – Roça de Mandioca x Banana de 4 meses.

UnidadedePaisagem

Sistemasde uso daterra

pH em H2O Ca Mg

0-10(cm)

10-20(cm)

20-40(cm)

0-10(cm)

10-20(cm)

20-40(cm)

0-10(cm)

10-20(cm)

20-40(cm)

Teresina IV (Tabatinga-AM)

V. Baixa Capoeira1 5,2 c 5,9 6,0 16,9 a 15,9 15,0 a 3,8 b 3,8 ab 4,1 a

V. Baixa Cultivo2 6,2 a 6,2 6,3 17,7 a 15,4 13,9 a 3,9 b 3,2 b 3,2 ab

V. Baixa Roça3 5,7 b 5,9 6,1 14,4 b 10,9 9,5 b 2,9 c 2,5 c 2,3 b

V. Alta Sítio4 6,2 a 6,2 6,2 15,9 ab 14,2 14,2 a 4,9 a 4,1 a 4,1 a

Sapotal (Tabatinga-AM)

V. Baixa Floresta 5,4 b 5,3 b 5,7 b 15,1 a 14,2 a 15,2 4,5 a 4,3 4,6

V. Baixa Roça5 5,1 b 5,2 b 6,3 ab 11,8 b 12,8 ab 12,9 3,8 b 3,8 4,4

V. Baixa Roça6 5,5 b 6,1 a 6,2 ab 14,8 a 14,3 a 16,3 3,8 b 3,8 4,6

V. Alta Roça7 6,3 a 6,7 a 6,9 a 9,4 c 11,5 b 15,3 3,3 b 3,6 3,1

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TABELA 2. Teores de Al, K, (cmolckg-1) e P (mg kg-1) na região do Alto Solimões.

Médias na mesma coluna, para uma mesma comunidade, seguidas de letras desiguais diferem significativamente entre si (P<0,05;Teste de Tukey). 1 – Capoeira de 5 anos, 2 – Cultivo de Milho x Banana de 4 meses, 3 – Roça de Mandioca x Banana de 4 meses, 4 –Sítio de ± 50 anos, 5 – Roça de 1 mês, após a derruba sem queima de uma capoeira de 20 anos, 6 – Roça de Mandioca x Milho de 2meses, 7 – Roça de Mandioca x Banana de 4 meses.

CARACTERÍSTICAS QUÍMICAS DO SOLO NA REGIÃO DO MÉDIO RIO SOLIMÕES

Nesta região, os valores de pH do solo situaram-se entre teoresconsiderados de baixo a médio, variando de 4,4 a 6,5. De maneira geral, ossolos de várzea baixa apresentaram menor pH que os de várzea alta (Tabela 3).Assim como observado nos solos do Alto Solimões, florestas e capoeiras,mesmo quando situadas em várzea alta, também apresentaram valores de pHsignificativamente menores que outros componentes do sistema. Todas asamostras analisadas apresentaram teores de Ca e Mg trocáveis situados acimado nível considerado alto, variando respectivamente de 5,7 a 17,5 e 1,9 a 10,9cmolckg-(1). Somente em uma das comunidades amostradas foi observado efeitodo uso da terra sobre o teor de Ca, em solo de várzea alta sob floresta, queapresentou valores inferiores aos demais sistemas amostrados (Tabela 3). Comrelação ao Mg, de maneira geral, não foi observado um efeito significativo daunidade de paisagem nem do manejo da terra sobre os teores desse elemento.

Unidade dePaisagem

Sistemas deuso da terra

Al K P

0-10(cm)

10-20(cm)

20-40(cm)

0-10(cm)

10-20(cm)

20-40(cm)

0-10(cm)

10-20(cm)

20-40(cm)

Teresina IV (Tabatinga-AM)

V. Baixa Capoeira1 0,38 a 0,29 a 0,20 0,30 b 0,26 ab 0,28 a 74 b 70 c 82 b

V. Baixa Cultivo2 0,05 b 0,05 b 0,03 0,75 a 0,30 ab 0,26 a 112 ab 108 b 127 a

V. Baixa Roça3 0,14 b 0,08 b 0,13 0,25 b 0,21 b 0,17 b 97 ab 127 a 144 a

V. Alta Sítio4 0,03 b 0,07 b 0,04 0,57 ab 0,34 a 0,29 a 129 a 123 ab 118 a

Sapotal (Tabatinga-AM)

V. Baixa Floresta 0,26 0,09 0,09 0,38 0,38 0,36 112 b 106 b 123 c

V. Baixa Roça5 0,09 0,16 0,01 0,43 0,35 0,32 105 b 111 b 144 bc

V. Baixa Roça6 0,06 0,04 0,19 0,58 0,35 0,32 127 b 166 a 169 ab

V. Alta Roça7 0,03 0,00 0,09 0,35 0,29 0,24 197 a 184 a 190 a

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TABELA 3. Valores médios do pH em água e dos teores de Ca e Mg (cmolCkg-1) na região do Médio Solimões.

Médias na mesma coluna, para uma mesma comunidade, seguidas de letras desiguais diferem significativamenteentre si (P<0,05; Teste de Tukey). 1 – Capoeira de 8 anos, 2 – Cultivo de Milho de 4 meses, 3 – Roça Macaxeira xMandioca de 4 meses, 4 – Cultivo de olerícolas (horta) de 2 meses, 5 – Roça de Macaxeira de 3 meses, 6 – Roça deMacaxeira de 5 meses.

O Al trocável no solo dessa região apresentou valores que variaram debaixo, em área de roça (0,01 cmolckg-1) a elevado em área de floresta (2,15cmolckg-1). A elevada concentração desse elemento dá-se principalmente nacamada superficial, decrescendo acentuadamente nas camadas inferiores(Tabela 4). Não foram observadas diferenças significativas entre os solos devárzea alta e de várzea baixa. As concentrações nas áreas de florestas foramsignificativamente mais elevadas do que as áreas cultivadas.

Os teores de K nessa região situaram entre valores considerados baixosa alto, variando de 0,11 a 0,56 cmolckg-1. Não foi observado um efeitosignificativo da unidade de paisagem nem do manejo da terra sobre os teoresde K no solo. Os teores de P variaram de baixos a elevados (2 a 251 mgkg-1).Também não foram observadas diferenças significativas entre os solos devárzea alta e de várzea baixa. Os menores valores foram obtidos em área defloresta, no município de Coari, e os maiores valores em área de sítio, nomunicípio de Tefé (Tabela 4).

UnidadedePaisagem

Sistemasde uso daterra

pH em H2O Ca Mg

0-10cm

10-20cm

20-40cm

0-10cm

10-20cm

20-40cm

0-10cm

10-20cm

20-40cm

Paraná de Tefé (Tefé-AM)

V. Baixa Capoeira1 4,4 b 4,7 b 5,2 b 17,5 11,8 12,5 3,2 2,6 3,4

V. Baixa Cultivo2 4,6 b 5,1 ab 5,8 a 12,9 11,9 13,1 2,6 2,7 3,5

V. Alta Roça3 4,9 a 5,7 a 6,0 a 11,8 10,5 12,4 2,4 2,6 3,2

Boa Vista (Tefé-AM)

V. Baixa Floresta 4,8 c 5,9 6,2 9,5 13,1 13,8 6,6 a 10,3 10,9 a

V. Baixa Cultivo4 5,6 b 5,6 6,0 10,2 12,2 12,4 3,1 b 3,8 4,3 b

V. Alta Sítio 6,0 a 6,2 6,2 10,4 9,7 10,2 3,2 b 3,1 2,9 b

São Francisco (Coari)

V. Baixa Roça5 5,7 b 5,8 ab 6,1 9,5 b 9,2 a 6,2 ab 1,9 b 1,9 2,2 b

V. Alta Floresta 4,9 c 5,6 b 5,9 5,7 c 5,9 b 5,9 b 2,9 a 4,5 5,5 a

V. Alta Roça6 6,2 a 6,4 a 6,5 10,9 a 8,2 ab 7,4 a 3,0 a 2,3 2,3 b

Agricultura Familiar na Amazônia das Águas72

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Page 75: Agricultura Familiar na Amazônia das Águas

TABELA 4. Teores de Al, K, (cmolckg-1) e P (mg kg-1) em duas comunidades nos Município de Tefé e Coari, na regiãodo Médio Solimões-AM.

Médias na mesma coluna, para uma mesma comunidade, seguidas de letras desiguais diferem significativamenteentre si (P<0,05; Teste de Tukey). 1 – Capoeira de 8 anos, 2 – Cultivo de Milho de 4 meses, 3 – Roça Macaxeira xMandioca de 4 meses, 4 – Cultivo de olerícolas (horta) de 2 meses, 5 – Roça de Macaxeira de 3 meses, 6 – Roça deMacaxeira de 5 meses.

CARACTERÍSTICAS QUÍMICAS DO SOLO NA REGIÃO DO BAIXO RIO SOLIMÕES

Na Região do Baixo Rio Solimões, os valores de pH do solo situaram-se entre teores considerados baixos a médio, variando de 4,6 a 6,2 (Tabela 5).A várzea alta apresentou um valor de pH significativamente mais elevado quea várzea baixa e os menores valores foram obtidos nos componentes floresta ecapoeira. Todas as amostras de solo apresentaram teores de Ca e Mg trocáveissituados acima do nível considerado alto, variando respectivamente de 6,2 a24,7 e 2,1 a 6,4 cmolckg-1. Não foi observado um efeito da unidade de paisagemnem do sistema de uso sobre os teores de Ca e Mg trocáveis no solo.

UnidadedePaisagem

Sistemasde uso daterra

Al K P

010(cm)

10-20(cm)

20-40(cm)

0-10(cm)

10-20(cm)

20-40(cm)

0-10(cm)

10-20(cm)

20-40(cm)

Comunidade do Paraná de Tefé

V. Baixa Capoeira1 0,85 0,63 0,65 0,35 b 0,34 0,32 58 b 81 c 88

V. Baixa Cultivo2 0,93 0,98 0,97 0,56 a 0,42 0,37 64 ab 102 b 150

V. Alta Roça3 1,13 1,00 0,93 0,42 ab 0,32 0,32 84 a 133 a 142

Comunidade de Boa Vista (Tefé)

V. Baixa Floresta 1,30 a 0,18 0,10 0,26 0,19 b 0,18 105 c 93 b 112 b

V. Baixa Cultivo4 0,05 b 0,13 0,07 0,50 0,32 a 0,22 142 b 103 b 113 b

V. Alta Sítio 0,06 b 0,07 0,06 0,33 0,19 b 0,17 251 a 245 a 245 a

São Francisco (Coari)

V. Baixa Roça5 0,09 b 0,07 0,01 0,21 0,15 0,12 187 b 164 b 154 b

V. Alta Floresta 2,15 a 1,96 0,94 0,18 0,11 0,09 6 c 3 c 2 c

V. Alta Roça6 0,01 b 0,01 0,01 0,27 0,12 0,15 245 a 229 a 209 a

Agricultura Familiar na Amazônia das Águas 73

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Page 76: Agricultura Familiar na Amazônia das Águas

TABELA 5. Valores médios do pH em água e dos teores de Ca e Mg (cmolckg-1) em duas comunidades nosMunicípios de Manacapuru e Careiro da Várzea, na região do Baixo Solimões-AM.

Médias na mesma coluna, para uma mesma comunidade, seguidas de letras desiguais diferem significativamente entre si (P<0,05;Teste de Tukey). 1 – Roça de macaxeira de 2 meses implantada após a derruba e queima de uma capoeira de 8 anos, 2 – Capoeira de15 anos, 3 – Roça de Macaxeira e Milho de 3 meses, 4 – Capoeira de 30 Anos, 5 – Cultivo de Milho de 3 meses, 6 – Cultivo deMalva de 2 meses, 7 – Sítio de ± 50 anos.

TABELA 6. Teores de Al, K, (cmolckg-1) e P (mgkg-1) na região de Baixo Solimões-AM.

Médias na mesma coluna, para uma mesma comunidade, seguidas de letras desiguais diferem significativamenteentre si (P<0,05; Teste de Tukey). 1 – Roça de macaxeira de 2 meses implantada após a derruba e queima de umacapoeira de 8 anos, 2 – Capoeira de 15 anos, 3 – Roça de Macaxeira e Milho de 3 meses, 4 – Capoeira de 30 Anos,5 – Cultivo de Milho de 3 meses, 6 – Cultivo de Malva de 2 meses, 7 – Sítio de ± 50 anos.

Unidade dePaisagem

Sistemasde uso daterra

Al K P

0-10cm

10-20cm

20-40cm

0-10cm

10-20cm

20-40cm

0-10cm

10-20cm

20-40cm

Comunidade do Espírito Santo (Manacapuru-AM)

V. Baixa Roçado1 0,25 b 0,08 b 0,08 b 0,65 0,50 0,53 72 b 143 a 153 a

V. Alta Floresta 2,99 a 2,51 a 2,66 a 0,58 0,54 0,53 31 c 9 c 9 d

V. Alta Capoeira2 1,84 a 1,60 a 2,14 a 0,66 0,69 0,71 49 c 49 b 57 c

V. Alta Roça3 0,05 b 0,05 b 0,05 b 0,50 0,46 0,41 124 a 127 a111 b

Comunidade de São Lazaro (Careiro da Várzea-AM)

V. Baixa Capoeira4 2,24 a 2,43 a - 0,82 0,72 - 11 c 7 d -

V. Baixa Cultivo5 0,88 c 0,18 c - 0,88 0,79 - 52 b 41 c -

V. Baixa Cultivo6 1,64 b 1,30 b 0,61 0,74 0,64 0,64 58 b 62 b 75

V. Alta Sítio7 0,00 d 0,06 b 0,06 0,67 0,58 0,54 112 a 138 a 146

UnidadedePaisagem

Sistemasde uso daterra

pH em H2O Ca Mg0-

10cm10-

20cm20-

40cm0-

10cm10-

20cm20-

40cm0-

10cm10-

20cm20-

40cm

Comunidade do Espírito Santo (Manacapuru-AM)

V. Baixa Roçado1 5,0 b 5,7 a 6,2 a 10,7 6,2 c 7,1 b 3,1 ab 2,1 2,1

V. Alta Floresta 4,8 b 5,0 b 4,9 b 12,4 13,6 b 12,7 ab 5,0 ab 6,5 5,6

V. Alta Capoeira2 4,7 b 4,8 b 4,9 b 13,5 11,7 b 14,1 ab 5,6 a 4,9 5,4

V. Alta Roça3 5,8 a 5,9 a 5,9 a 10,9 24,7 a 15,5 a 2,9 b 4,2 4,5

Comunidade de São Lazaro (Careiro da Várzea-AM)

V. Baixa Capoeira4 4,7 c 4,9 c - 12,3 a 11,2 ab - 5,22 a 5,33 -

V. Baixa Cultivo5 5,0 b 5,5 b - 10,1 ab 12,9 a - 4,45 ab 5,44 -

V. Baixa Cultivo6 4,6 c 5,2 c 5,1 9,8 ab 9,7 ab 11,3 3,08 b 4,49 3,95

V. Alta Sítio7 6,0 a 6,1 a 6,0 8,6 b 6,8 b 7,2 3,93 ab 3,82 3,49

Agricultura Familiar na Amazônia das Águas74

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Page 77: Agricultura Familiar na Amazônia das Águas

O teor de Al trocável variou de baixo a elevado (0,00 a 2,99 cmolckg-1).Não foi observado um efeito da unidade de paisagem sobre os valores de Al nosolo. As áreas com floresta, capoeira e cultivo de malva apresentaram asmaiores concentrações desse elemento (Tabela 6). Todos os teores de K nessaregião situaram-se acima dos valores considerados altos, variando de 0,41 a0,88 cmolckg-1. Não foi observado um efeito significativo da unidade depaisagem, bem como do manejo da terra sobre os teores de K no solo. Os teoresde P variaram de médio a elevados (7 a 153 mg kg-1), os menores valores foramobtidos em área de floresta e de capoeira.

CARACTERÍSTICAS QUÍMICAS DO SOLO NA REGIÃO DO MÉDIO RIO AMAZONAS

Nesta região, o pH do solo variou de baixo a médio (4,6 a 7,2). Os solosde várzea baixa apresentaram menor pH que os de várzea alta. Os menoresvalores de pH foram obtidos em área de capoeiras. Todos os sistemasamostrados apresentaram teores de Ca e Mg trocáveis acima do nívelconsiderado alto, com o Ca variando de 6,8 a 12,2 e o Mg de 1,4 a 5,9 cmolckg-1.

Os valores de Al trocável variaram de baixo a elevado (0,0 a 4,1cmolckg-1). As maiores concentrações ocorreram em solo de capoeira (Tabela8). Os teores de K variaram de médio a elevado (0,15 a 1,24 cmolckg-1). Nãofoi observado um efeito significativo da unidade de paisagem sobre aconcentração de K. Observou-se ainda uma tendência deste elemento dediminuir com a profundidade. Os teores de P variaram de baixos a elevados (2a 158 mg kg-1). Os menores valores foram obtidos em áreas de pastagens.

Agricultura Familiar na Amazônia das Águas 75

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Page 78: Agricultura Familiar na Amazônia das Águas

TABELA 7. Valores médios do pH em água e dos teores de Ca e Mg (cmolckg-1) na região do Médio Rio Amazonas.

Médias na mesma coluna, para uma mesma comunidade, seguidas de letras desiguais diferem significativamenteentre si (P<0,05; Teste de Tukey). 1 – Capoeira de 15 anos, 2 – Sítio de ± 50 anos, 3 – Cultivo de Milho de 3meses, 4 – Roça de Mandioca de 3 meses, 5 – Roça de Mandioca x Milho de 3 meses, 6 – Pastagem de Braquiáriade 7 anos, 7– Capoeira de 8 anos, 8 – Roça com 1 mês implantada após derruba e queima da Capoeira de 8 anos, 9 – Cultivo de Feijão-de-praia de 3 meses, 10 – Cultivo de Milho x Melancia de 3 meses, 11 – Sítio de ± 50 anos.

Unidade dePaisagem

Sistemas deuso da terra

pH em H2O Ca Mg

0-10cm

10-20cm

20-40cm

0-10cm

10-20cm

20-40cm

0-10cm

10-2cm

20-40cm

Comunidade de Nossa Senhora de Nazaré (Itacoatiara-AM)

V. Baixa

Capoeira1 4,6 c 5,0 d 5,4 b 7,8 bcd 9,8 ab 10,8 a 2,4 a 3,8 a 4,4 a V. Alta

Sítio2 5,8 b 6,0 a 6,0 a 7,3 d 6,9 c 6,8 c 1,9 a 1,8 b 1,7 b V. Alta

Cultivo3 7,2 a 5,8 ab 5,8 a 10,5 a 7,3 c 8,1 bc 3,0 b 1,9 b 2,0 bc V. Alta

Roça4 6,9 a 5,6 bc 5,8 a 10,0 ab 7,5 bc 8,6 abc 3,2 b 2, b 2,6 bc V. Alta

Roça5 6,7 a 5,5 c 5,7 a 9,7 ab 8,9 abc 9,9 ab 3,3 b 2,3 bc 2,6 c V. Alta

Pastagem6 5,7 b 5,8 abc 6,0 a 7,5 cd 9,9 a 8,1 bc 2,3 a 2,9 c 2,6 bcComunidade de

Santa Maria (Silves-AM)

V. Baixa Capoeira7 4,9 c 5,6 a 5,9 8,6 10,8 a 12,2 2,9 a 3,9 a 4,4 a

V. Baixa Roça8 5,3 bc 5,5 a 5,8 9,7 8,8 b 9,4 2,8 a 2,4 bc 2,6 b

V. Baixa Cultivo9 6,2 a 6,0 b 6,1 7,6 9,7 ab 9,5 1,4 c 1,8 c 1,7 b

V. Baixa Cultivo10 5,0 c 5,6 b 6,1 9,7 10,3 ab 9,9 2,5 ab 2,7 b 2,7 b

V. Alta Sítio11 5,8 ab 6,1 b 6,2 9,5 9,4 ab 8,9 2,1 b 2,1 c 2,2 b

Agricultura Familiar na Amazônia das Águas76

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Page 79: Agricultura Familiar na Amazônia das Águas

TABELA 8. Teores de Al, K, (cmolckg-1) e P (mgkg-1) na região do Médio Rio Amazonas.

Médias na mesma coluna, para uma mesma comunidade, seguidas de letras desiguais diferem significativamenteentre si (P<0,05; Teste de Tukey). 1 – Capoeira de 15 anos, 2 – Sítio de ± 50 anos, 3 – Cultivo de Milho de 3meses, 4 – Roça de Mandioca de 3 meses, 5 – Roça de Mandioca x Milho de 3 meses, 6 – Pastagem de Braquiáriade 7 anos, 7 –– Capoeira de 8 anos, 8 – Roça com 1 mês de implantada após derruba e queima da Capoeira de 8anos, 9 – Cultivo de Feijão-de-praia de 3 meses, 10 – Cultivo de Milho x Melancia de 3 meses, 11 – Sítio de ± 50anos.

Unidade dePaisagem

Sistemas deuso da terra

Al K P

0-10cm

10-20cm

20-40cm

0-10cm

10-20cm

20-40cm

0-10cm

10-20cm

20-40cm

Comunidade de Nossa Senhora de Nazaré (Itacoatiara-AM)

V. Baixa Capoeira1 4,13 a 1,77 a 0,67 a 0,25 c 0,25cd 0,22 35 c 30 a 26 c

V. Alta Sítio2 0,05 b 0,16 b 0,05 b 0,25 c 0,17 d 0,15 115 ab 97 b 113 a

V. Alta Cultivo3 0,02 b 0,09 b 0,12 b 0,96 b 0,55 a 0,29 149 ab 107 b 97 ab

V. Alta Roça4 0,02 b 0,18 b 0,11 b 1,24 a0,40abc

0,27 150 ab 98 b 80 b

V. Alta Roça5 0,00 b 0,20 b 0,18 b 1,23 a 0,35 c 0,28 158 a 90 b 83 ab

V. Alta Pastagem6 0,08 b 0,09 b 0,05 b 0,32 c 0,25 cd 0,26 109 b 86 b 106 ab

Comunidade de Santa Maria (Silves-AM)

V. Baixa Capoeira7 2,59 a 0,42 b 0,21 ab0,27bc

0,24 a 0,27 a 34 d 47 c 49 d

V. Baixa Roça8 0,43 b 0,35 b 0,27 a 0,56 a 0,25 a 0,25 a 81 c 83 b 92 bc

V. Baixa Cultivo9 0,05 b 0,05 c 0,05 b 0,20 c 0,25 a 0,26 a 143 a 120 a 118 a

V. Baixa Cultivo10 0,22 b 1,54 a 0,24 ab 0,41 ab 0,23 a0,23ab

68 c 69 bc 9 c

V. Alta Sítio11 0,06 b 0,14 bc 0,08 ab 0,22 c 0,16 b 0,18 b 111 b 108 a 117 ab

Agricultura Familiar na Amazônia das Águas 77

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Page 80: Agricultura Familiar na Amazônia das Águas

CARACTERÍSTICAS QUÍMICAS DO SOLO NA REGIÃO DO BAIXO RIO AMAZONAS

Os dados de pH do solo obtidos na região do Baixo Rio Amazonas(Tabela 9) situaram-se entre valores considerados baixos a médio (4,3 a 7,1) ede maneira geral a várzea alta apresentou um pH mais elevado que a várzeabaixa. Os menores valores foram obtidos nos solos de floresta e capoeiras.

Todas as amostras de solo analisadas apresentaram teores de Ca trocávelsituado acima do nível considerado alto, variando de 4,6 a 11,8 cmolckg-1. Emgeral, os solos de várzea baixa apresentaram maiores valores de Ca que os devárzea alta. Com relação aos teores de Mg trocável, os valores observadossituaram-se também acima do nível considerado alto (1,7 a 8,5 cmolckg-1). Aocontrário do Ca, não se observou um efeito da unidade da paisagem sobre osteores de nutriente no solo. Os maiores valores de Mg foram obtidos em solosde floresta e capoeiras.

Nesta região, o Al trocável variou de baixo (0,0 cmolckg-1) aextremamente elevado (7,6 cmolckg-1). Não se observou efeito da unidade dapaisagem sobre a concentração do Al e em alguns sistemas amostradosobservou-se um aumento na concentração desse elemento com aprofundidade. Assim como para as outras regiões amostradas, as áreas defloresta e capoeiras foram as que apresentaram as maiores concentraçõesdesse elemento (Tabela 10).

Os teores de K variaram de baixo a alto (0,1 a 1,5 cmolc kg-1), e não seobservou efeito da unidade da paisagem sobre os teores desse nutriente (Tabela10). Os sistemas de florestas e capoeiras foram os que apresentaram asmenores concentrações de K no solo. Os teores de P variaram de médio aelevados (4 a 113 mg kg-1). Não se observa um efeito significativo da unidadeda paisagem sobre os teores de P no solo. Assim como para o K, asconcentrações de P nas áreas de floresta e capoeiras foram significativamentemenores que as observadas em outros sistemas de uso da terra.

Agricultura Familiar na Amazônia das Águas78

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Page 81: Agricultura Familiar na Amazônia das Águas

TABELA 9. Valores médios do pH em água e dos teores de Ca e Mg (cmolckg-1) na região do Baixo Rio Amazonas.

Médias na mesma coluna, para uma mesma comunidade, seguidas de letras desiguais diferem significativamente entresi (P<0,05; Teste de Tukey). 1 – Capoeira de 50 anos, 2 – Plantio de Cacau com 20 anos, 3 – Murinzal de 20 anos, 4 – Pastagem de Capim-Colônia de 20 anos, 5 – Capoeira de 15 anos, 6 – Cultivo de Juta de 2 meses, 7 – Cultivo deMalva de 3 meses, 8 – Capoeira de ± 55 anos, 9 – Cultivo de Milho de 4 meses, 10 – Cultivo de Milho de 4 mesesmecanizado, 11 – Cultivo de Tomate de 4 meses, 12 – Capoeira de ± 76 anos, 13 – Pastagem de Capim Terra-e-Águade 7 anos, 12 – Cultivo de Milho de 3 meses após pousio com murim, 13 – Cultivo de Milho de 3 meses após pousiocom canarana, 14 – Murinzal de 3 anos, 15 – Pastagem de 20 anos, 16 – Roça de mandioca de 8 meses, 17 – Cultivode Milho de 3 meses após pousio com murim, 18 – Seringal de ± 70 anos, 19 – Cultivo de Milho de 3 meses apóspousio com murim, 20 – Pastagem de 7 anos, 21 – Cultivo de Milho de 2 meses, 22 – Roça de Mandioca de 4 meses,23 – Murinzal de 10 anos.

Unidade dePaisagem

Sistemas deuso da terra

pH em H2O Ca Mg

0-10(cm)

10-20(cm)

20-40(cm)

0-10(cm)

10-20(cm)

20-40(cm)

0-10(cm)

10-20(cm)

20-40(cm)

São Sebastião do Boto (Parintins)V. Baixa Capoeira1 4,6 b 5,0 c 5,4 b 5,0 c 6,2 b 5,9 b 2,6 a 3,4 a 3,7 aV. Alta Cacoal2 5,6 a 5,9 a 6,4 a 5,8 b 6,1 b 7,3 ab 2,1 b 2,1 b 2,5 bV. Alta Murinzal3 5,4 a 5,6 ab 6,3 a 6,9 a 8,3 a 9,6 a 2,4 ab 2,5 b 3,0 abV. Alta Pastagem4 5,3 a 5,5 b 6,3 a 4,6 c 5,8 b 5,5 b 1,9 b 2,5 b 3,1 ab

São Sebastião do Saracura (Parintins)V. Baixa Floresta 4,4 b 4,6 b 4,9 b 8,4 7,6 6,5 4,1 a 4,5 a 3,9 aV. Baixa Capoeira5 4,7 a 4,9 b 5,4 a 8,9 8,6 7,9 2,9 b 3,2 b 3,3 abV. Baixa Cultivo6 4,9 a 5,4 a 5,6 a 7,2 6,7 8,5 1,9 c 1,7 c 1,9 bV. Baixa Cultivo7 4,9 a 5,3 a 5,8 a 7,7 8,4 9,9 2,7 bc 2,9 b 3,3 ab

Nossa Senhora da Conceição (Oriximiná)V. Alta Floresta 4,8 bc 5,2 a 7,1 a 5,4 b 5,1 ab 6,9 ab 2,9 ab 4,3 a 8,5 aV. Alta Capoeira8 4,4 c 4,6 b 4,9 b 7,1 ab 5,9 ab 5,5 b 3,0 a 3,6 ab 4,4 bV. Alta Cultivo9 4,8 bc 4,8 b 4,9 b 8,8 a 8,1 a 7,0 ab 3,0 a 3,0 abc 2,8 bV. Alta Cultivo10 5,6 a 5,5 a 5,4 b 7,5 ab 7,7 a 8,0 a 2,5 ab 2,5 bc 2,6 bV. Alta Cultivo11 4,4 c 4,3 c 4,5 b 7,9 ab 7,3 ab 7,9 a 2,1 b 2,0 c 2,5 b

Piracão-Era de Cima (Santarém)V. Baixa Cultivo12 5,7 5,5 5,7 7,6 b 8,5 ab 8,3 2,3 b 2,2 2,2

V. Baixa Cultivo13 5,3 5,1 5,7 9,8 ab 8,7 ab 11,7 2,6 ab 2,2 2,8V. Baixa Murinzal14 5,3 5,8 6,0 8,3 ab 8,1 b 9,2 2,7 ab 2,2 2,7V. Baixa Pastagem15 5,0 5,7 6,8 11,3 a 11,7 a 11,8 2,6 ab 2,4 2,0

V. Alta Roça16 5,9 5,7 5,9 9,6 ab 8, b 8,8 3,0 a 2,2 2,6Ilha de São Miguel (Santarém)

V. Baixa Cultivo17 4,8 b 5,3 b 5,6 b 9,8 10,3 11,4 a 3,1 ab 3,4 3,7V. Alta Seringal18 5,5 ab 5,5 b 5,8 ab 7,3 8,4 8,2 b 2,1 b 2,9 3,0

V. Alta Cultivo19 5,2 ab 5,7 ab 6,0 a 9,3 6,3 11,1 a 3,1 ab 2,8 3,3V. Alta Pastagem20 6,0 a 6,5 a 6,6 ab 9,8 8,7 10,0 a 3,3 a 2,6 3,0

Arapemã (Santarém)V. Baixa Cultivo21 5,4 b 5,6 b 5,7 b 8,2 b 8,6 10,8 2,5 b 2,5 2,9V. Baixa Roça22 5,6 ab 5,6 b 6,0 ab 10,8 a 10,2 8,6 2,9 a 2,7 2,3V. Baixa Murinzal23 6,2 a 6,6 a 6,6 b 11,1 a 11,3 9,8 3,0 a 2,7 2,3

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TABELA 10. Teores médios de Al, K (cmolckg-1) e P (cmolckg-1) na região do Baixo Rio Amazonas.

Médias na mesma coluna, para uma mesma comunidade, seguidas de letras desiguais diferem significativamente entre si (P<0,05; Testede Tukey). 1 – Capoeira de 50 anos, 2 – Plantio de Cacau com 20 anos, 3 – Murinzal de 20 anos, 4 – Pastagem de Capim-Colônia de 20anos, 5 – Capoeira de 15 anos, 6 – Cultivo de Juta de 2 meses, 7 – Cultivo de Malva de 3 meses, 8 – Capoeira de ± 55 anos, 9 – Cultivode Milho de 4 meses, 10 – Cultivo de Milho de 4 meses mecanizado, 11 – Cultivo de Tomate de 4 meses, 12 – Capoeira de ± 76 anos,13 – Pastagem de Capim Terra-e-Água de 7 anos, 12 – Cultivo de Milho de 3 meses após pousio com murim, 13Cultivo de Milho de 3meses após pousio com canarana, 14 – Murinzal de 3 anos, 15 – Pastagem de 20 anos, 16 – Roça de mandioca de 8 meses, 17 – Cultivode Milho de 3 meses após pousio com murim, 18 – Seringal de ± 70 anos, 19 – Cultivo de Milho de 3 meses após pousio com murim, 20 – Pastagem de 7 anos, 21 - Cultivo de Milho de 2 meses, 22 – Roça de Mandioca de 4 meses, 23 - Murinzal de 10 anos.

UnidadedePaisagem

Sistemas deuso da terra

Al K P

0-10cm

10-20cm

20-40cm

0-10cm

10-20cm

20-40cm

0-10cm

10-20cm

20-40cm

São Sebastião do Boto (Parintins)

V. Baixa Capoeira1 3,44 a 2,62 a 2,81 a 0,22 ab 0,15 b 0,14 ab 46 c 24 c 8 c

V. Alta Cacoal2 0,09 c 0,07 b 0,04 b 0,24 ab 0,17 b 0,12 b 99 a 89 a 100 a

V. Alta Murinzal3 0,34 bc 0,28 b 0,06 b 0,34 a 0,13 b 0,18 a 69 b 81 ab 87 abV. Alta Pastagem4 0,52 b 0,25 b 0,04 b 0,13 b 0,24 a 0,18 a 89 ab 79 b 73 b

São Sebastião do Saracura (Parintins)V. Baixa Floresta 5,16 a 6,87 a 7,56 a 0,14 b 0,32 0,22 10 c 8 c 4 c

V. Baixa Capoeira5 3,75 b 3,83 b 3,15 b 0,31 b 0,29 0,20 13 c 10 c 9 c

V. Baixa Cultivo6 0,64 c 0,30 c 0,09 c 0,62 a 0,45 0,32 102 a 112 a 112 a

V. Baixa Cultivo7 1,35 c 0,39 c 0,15 c 0,31 b 0,23 0,23 68 b 74 b 64 bNossa Senhora da Conceição (Oriximiná)

V. Alta Floresta 3,87 a 2,37 b 0,11 c 0,24 d 0,17 d 0,13 c 19 c 7 d 4 c

V. Alta Capoeira8 4,03 a 4,48 a 4,82 a 0,28 cd 0,33 b 0,24 bc 23 c 16 c 10 bc

V. Alta Cultivo9 0,67 bc 1,18 bc 1,23 c 1,47 a 1,30 a 1,04 a 35 b 28 b 26 b

V. Alta Cultivo10 0,05 c 0,14 c 0,14 c 0,48 bc 0,35bc 0,30 b 96 a 104 a 103 a

V. Alta Cultivo11 2,22 b 2,56 b 2,80 b 0,54 b 0,32 a 0,26 b 42 b 32 b 25 b

Piracão-Era de Cima (Santarém)

V. Baixa Cultivo12 0,14 0,23 ab 0,23 0,49 b 0,18 b 0,39 105 103 103

V. Baixa Cultivo13 0,43 0,58 a 0,14 0,69 ab 0,50 ab 0,33 87 92 96

V. Baixa Murinzal14 0,45 0,17 ab 0,16 0,84 a 0,32 ab 0,50 76 110 104

V. Baixa Pastagem15 0,46 0,02 b 0,02 0,54 b 0,44 ab 0,55 95 138 93

V. Alta Roça16 0,06 0,13 b 0,05 0,65 ab 0,53 a 0,54 100 95 91Ilha de São Miguel (Santarém)

V. Baixa Cultivo17 0,13 b 0,05 0,00 0,71 0,37 0,53 91 b 96 95 a

V. Alta Seringal18 0,66 a 0,51 0,21 0,42 0,32 0,26 31 c 61 32 b

V. Alta Cultivo19 0,10 b 0,10 0,03 0,69 0,51 0,39 88 b 99 91 aV. Alta Pastagem20 0,00 b 0,00 0,00 0,68 0,46 0,32 113 a 112 106 a

Arapemã (Santarém)V. Baixa Cultivo21 0,06 0,22 0,06 0,38 b 0,42 0,24 88 b 87 b 112

V. Baixa Roça22 0,13 0,10 0,08 0,30 b 0,22 0,37 104 a 113 a 95V. Baixa Murinzal23 0,05 0,02 0,00 0,64 a 0,29 0,23 91 b 112 a 106

Agricultura Familiar na Amazônia das Águas80

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Page 83: Agricultura Familiar na Amazônia das Águas

CARACTERÍSTICAS QUÍMICAS DO SOLO NA REGIÃO DO ESTUÁRIO

Na região do Estuário, os valores de pH do solo situaram-se entre teoresconsiderados médios, variando de 5,5 a 5,9 (Tabela 11). Não se observouinfluência da unidade da paisagem nem do sistema de uso da terra sobre o pHdo solo. Todas as amostras de solo analisadas apresentaram teores de Catrocável situado acima do nível considerado alto, variando de 9,24 a 14,33cmolckg-1. Também não se observou efeito da unidade da paisagem sobre osteores de Ca no solo. Os valores mais elevados foram obtidos em área defloresta. Os teores de Mg trocável observados situaram-se acima do nívelconsiderado alto (2,7 a 3,4 cmolc kg-1) e não se observou efeito da unidade dapaisagem sobre os teores trocável no solo. Os maiores valores de Mg foramobtidos em área de floresta.

TABELA 11. Valores médios do pH em água e dos teores de Ca e Mg (cmolckg-1) na região do Estuário.

1 – Plantio de Cacau de 60 anos, 2 – Cultivo de Milho de 2 meses após derruba e queima de capoeira de ± 40 anos, 3 – Plantio deAçaí de 5 anos.

O Al trocável apresentou valores que se situaram no nível considerado baixo (0,03a 0,43 cmolckg-1). Não se observou o efeito da unidade de paisagem nem do componentedo sistema sobre a concentração desse elemento no solo (Tabela 12). Os teores de K nessaregião variaram de médio a alto (0,19 a 0,35 cmolckg-1). Também não se observou o efeitoda unidade de paisagem, na camada superficial do solo, as maiores concentrações foramobtidas em áreas de floresta. Os teores de P variaram de baixo a elevados (0,6 a 72 mgkg-1). Os valores de P nos solos com açaí e cacau foram significativamentemenores que os encontrados nos de outros componentes. Os resultados mostraram que o

Unidade dePaisagem

Sistemas deuso da terra

pH em H2O Ca Mg

0-10cm10-20cm

20-40cm

0-10cm10-20cm

20-40cm

0-10cm

10-20cm

20-40cm

Santa Maria (Gurupá-PA)

V. Baixa Floresta 5,8 5,8 5,9 a 14,33 a 13,02 a 12,42 3,21 a 3,12 3,42

V. Baixa Cacoal1 5,6 5,6 5,5 b 11,97 b 10,54 b 10,52 2,90 ab 2,99 3,10

V.Baixa Cultivo2 6,0 5,7 5,6 ab 9,81 b 9,24 b 9,84 2,66 b 2,77 3,37

V. Alta Açaizal3 5,7 5,7 5,8 ab 11,80 b 10,76 b 9,41 2,77 ab 2,90 2,90

Agricultura Familiar na Amazônia das Águas 81

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Page 84: Agricultura Familiar na Amazônia das Águas

desmatamento e queima de uma capoeira de ± 40 anos de idade para implantação de umcultivo de milho aumentou significativamente o teor desse nutriente no solo.

TABELA 12. Teores médios de Al, K (cmolckg-1) e P (cmolckg-1) na região do Estuário.

1 – Plantio de Cacau de 60 anos, 2 – Cultivo de Milho de 2 meses após derruba e queima de capoeira de ± 40 anos, 3 – Plantio deAçaí de 5 anos

TEORES MÉDIOS DE NITROGÊNIOS E MATÉRIA ORGÂNICA DO SOLO

Na Tabela 13 são apresentados os resultados dos teores médios de nitrogênio(N) e matéria orgânica do solo (MOS) em 28 sistema de uso da terra de 7comunidades ao longo da calha dos rios Solimões-Amazonas. Somente na regiãodo Alto Solimões e na camada superficial os valores foram médios. No Médio eBaixo Solimões, e também no Estuário, os valores de N e de MOS foram em geralmédios e baixos e nas demais regiões amostradas os valores foram baixos (ToméJr., 1997). Não se observou um efeito muito claro da unidade de paisagem, noentanto, em quase todas as regiões, as concentrações de N e MOS foramsignificativamente maiores nas áreas de florestas e capoeiras. Nos diversos sistemasde uso da terra amostrados observou-se que os valores de N e da MOS forambastante baixos nas áreas cultivadas, porém, significativamente mais elevados nasáreas de florestas e capoeiras (Tabela 13).

Unidade dePaisagem

Sistemas deuso da terra

Al K P

0-10(cm)

10-20(cm)

20-40(cm)

0-10(cm)

10-20(cm)

20-40(cm)

0-10(cm)

10-20(cm)

20-40(cm)

Santa Maria (Gurupá-PA)

V. Baixa Floresta 0,06 0,10 0,14 0,35 a 0,24 0,26 ab 7 b 43 b 30 b

V. Baixa Cacoal1 0,13 0,43 0,43 0,19 c 0,20 0,30 a 5 bc 2 c 3 c

V. Baixa Cultivo2 0,03 0,22 0,32 0,31 ab 0,23 0,24 ab 18 a 72 a 59 a

V. Alta Açaizal3 0,13 0,26 0,42 0,25 bc 0,22 0,19 b 1 c 26 b 3 c

Agricultura Familiar na Amazônia das Águas82

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Page 85: Agricultura Familiar na Amazônia das Águas

TABELA 13. Valores médios dos teores (%) de N e MOS em sete comunidades ao longo da calha dos rios So limões-Amazonas.

Médias na mesma coluna, para uma mesma comunidade, seguidas de letras desiguais diferem significativamente entre si (P<0,05; Testede Tukey). 1 – Capoeira de 5 anos, 2 – Cultivo de Milho x Banana de 4 meses, 3 – Roça de Mandioca x Banana de 4 meses, 4 – Sítiode ± 50 anos, 5 – Capoeira de 8 anos, 6 – Cultivo de Milho de 4 meses, 7 – Roça Macaxeira x Mandioca de 4 meses, 8 – Roça demacaxeira de 2 meses implantada após a derruba e queima de uma capoeira de 8 anos,9 – Capoeira de 15 anos, 10 – Roça de Macaxeirae Milho de 3 meses, 11 – Capoeira de 8 anos, 12 – Roçado com milho de 1 mês implantado após derruba e queima de uma capoeirade 08 anos, 13 – Cultivo de Feijão-de-praia de 3 meses, 14 – Cultivo de Milho x Melancia de 3 meses, 15 – Sítio de ± 50 anos, 16 – Capoeira de 15 anos, 17 – Cultivo de Juta de 2 meses, 18 – Cultivo de Malva de 3 meses, 19 – Cultivo de Milho de 3 meses apóspousio com murim, 20 – Cultivo de Milho de 3 meses após pousio com canarana, 21 – Murinzal de 3 anos, 22 – Pastagem de 20 anos,23 – Roça de mandioca de 8 meses, 23 – Plantio de Cacau de 60 anos, 24 – Cultivo de Milho de 2 meses após derruba e queima decapoeira de ± 40 anos, 25 – Plantio de Açaí de 5 anos.

Unidade dePaisagem

Sistemas deuso da terra

N (%) MOS

0-10cm 10-20cm 20-40cm 0-10cm 10-20cm 20-40cm

Teresina IV (Tabatinga-AM - Alto Solimões)

V. Baixa Capoeira1 0,17 0,09 0,08 3,03 1,31 1,19

V. Baixa Cultivo2 0,16 0,10 0,09 3,04 1,71 1,40

V. Baixa Roça3 0,16 0,09 0,05 2,67 1,26 0,82

V. Alta Sítio4 0,16 0,08 0,09 3,34 1,64 1,40

Paraná de Tefé (Tefé-AM)

V. Baixa Capoeira5 0,21 a 0,09 0,07 4,56 a 1,36 a 0,96

V. Baixa Cultivo6 0,16 b 0,08 0,07 2,90 b 1,12 ab 1,08

V. Alta Roça7 0,12 b 0,07 0,06 1,94 c 0,81 b 0,87

Espírito Santo (Manacapuru-AM - Médio Solimões)

V. Baixa Roça8 0,10 b 0,02 c 0,02 b 1,50 b 0,23 c 0,14

V. Alta Floresta 0,20 a 0,13 a 0,13 a 2,81 a 1,41 a 1,58

V. Alta Capoeira9 0,16 a 0,09 b 0,09 a 2,67 a 0,99 ab 1,25

V. Alta Roça10 0,05 c 0,05 c 0,07 ab 0,68 c 0,59 bc 0,95

Comunidade de Santa Maria (Silves-AM - Baixo Solimões)

V. Baixa Capoeira11 0,14 a 0,07 a 0,07 a 2,37 a 0,98 0,99 ab

V. Baixa Roça12 0,13 a 0,08 a 0,06 ab 2,16 a 1,17 0,82 bc

V. Baixa Cultivo13 0,04 c 0,05 b 0,05 ab 0,67 b 1,05 1,07 a

V. Baixa Cultivo14 0,08 b 0,05 b 0,04 bc 1,96 a 1,03 0,77 bc

V. Alta Sítio15 0,07 bc 0,05 b 0,02 c 1,90 a 1,22 0,64 c

São Sebastião do Saracura (Parintins-AM - Baixo Amazonas)

V. Baixa Floresta 0,12 a 0,08 a 0,06 a 2,22 a 0,95 0,64

V. Baixa Capoeira16 0,13 a 0,08 a 0,05 ab 2,31 a 1,11 0,62

V. Baixa Cultivo17 0,08 b 0,05 bc 0,05 ab 1,38 b 0,78 0,63

V. Baixa Cultivo18 0,04 c 0,04 c 0,04 c 0,93 b 0,60 0,52

Piracão-Era de Cima (Santarém-PA - Baixo Amazonas)

V. Baixa Cultivo19 0,06 b 0,06 0,06 0,95 0,86 0,89

V. Baixa Cultivo20 0,07 b 0,07 0,06 1,36 1,11 1,12

V. Baixa Murinzal21 0,09 ab 0,05 0,06 1,65 0,85 1,11

V. Baixa Pastagem22 0,13 a 0,08 0,05 2,26 1,36 0,76

V. Alta Roça23 0,08 b 0,06 0,05 1,46 0,93 0,80

Santa Maria (Gurupá-PA - Estuário)

V. Baixa Floresta 0,18 a 0,14 0,10 3,62 a 2,42 1,55

V. Baixa Cacoal23 0,18 a 0,12 0,08 3,06 ab 1,73 1,06

V. Baixa Cultivo24 0,12 b 0,12 0,10 2,30 b 1,99 1,74

V. Alta Açaizal25 0,16 ab 0,12 0,08 2,75 ab 1,97 1,20

Agricultura Familiar na Amazônia das Águas 83

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EFEITO DO USO DA TERRA SOBRE A FERTILIDADE DO SOLO

Nas seis regiões amostradas, os valores de pH variaram de baixo a médio. Avárzea alta apresentou um valor de pH mais elevado que a várzea baixa. De maneirageral, os valores de pH foram maiores nas áreas cultivadas do que nas florestas ecapoeiras, sugerindo que o principal fator para elevação do pH nestes sistemas de usoda terra é devido ao processo de queima da vegetação através da ação das cinzas.

Os resultados mostraram que os teores de Ca e Mg ao longo da calha do rioSolimões-Amazonas situaram-se acima do nível considerado alto e que essesnutrientes não são limitantes em solos de várzea, confirmando o observado naliteratura (FURCH, 1997; OLIVEIRA et al, 2000; CRAVO et al, 2002). Os dadosdemonstraram que, dentro de uma mesma localidade, a variação da concentraçãodesse nutriente nos diferentes sistemas de uso da terra foi pequena e insiginificantedada a alta disponibilidade desses nutrientes nos ecossistemas de várzea. Em média,as maiores concentrações de Ca foram obtidas na região do Alto Solimões e asmenores na região do Baixo Amazonas. Com relação ao Mg, as maioresconcentrações foram encontradas na região do Baixo e Alto Solimões, enquanto queas menores, na região do Baixo Amazonas.

Nas seis regiões estudadas, as concentrações de Al na maioria das amostrasanalisadas foram muito baixas nas áreas cultivadas e significativamente elevadas nasáreas de florestas e capoeira. Os resultados observados mostram que nos outrossistemas de uso da terra, a derruba-queima da vegetação diminui a concentração de Alno solo, conforme tem sido observado em solos de outros locais da Amazônia(Sanchez et al., 1983; Smyth & Bastos, 1984). Na região do médio rio Amazonas, nomunicípio de Silves (Tabela 8), observou-se uma acentuada redução do teor de Al nosolo após a derruba e queima de uma capoeira de 8 anos para implantação de umaroça.

Apesar da maioria das amostras analisadas apresentarem concentração elevada,em alguns casos, o K situou-se abaixo do nível considerado crítico, mostrando queesse nutriente em algumas áreas de várzea pode-se tornar limitante. De maneira geral,as áreas de sítios, capoeiras e florestas apresentaram as menores concentrações de Knos solos.

O P na maioria das amostras analisadas situou-se muito acima do nívelconsiderado alto, mostrando a alta disponibilidade desse nutriente nas áreas de várzea.Foi observado que, geralmente, os teores de P foram maiores nas roças esignificativamente menores nas áreas de florestas e capoeira. A região do Estuárioapresentou a menor concentração de P, principalmente os sistemas de cacoal e açaizal,

Agricultura Familiar na Amazônia das Águas84

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apresentando teores abaixo do nível crítico (COCHRANE et al, 1985), enquanto queas maiores concentrações foram obtidas nas regiões do Alto e Médio Solimões.

Nas áreas onde foram determinados os teores de N, a maioria das amostras desolo apresentou valores muito baixos, confirmando que este elemento é um dosprincipais fatores limitantes para a produção primária na várzea, tanto na fase terrestrecomo na fase aquática (JUNK e PIEDADE, 1997; KERN e DARWICH, 1997;CRAVO et al., 2002). Estudos realizados em solos de várzea alta do Rio Solimõesmostraram evidências de deficiências de N quando se cultiva por anos consecutivos,sem que ocorra inundação da área (JUNK e PIEDADE, 1997; KERN e DARWICH,1997; CRAVO et al., 2002).

Os agricultores de várzea também utilizam formas de manejo tradicionais deuso da terra, praticadas por outras populações da Amazônia, substituindo florestas ecapoeiras de diversas idades por cultivos de ciclo curto, como no caso de mandiocae milho, que são abandonados após 2 a 4 anos para a recomposição da fertilidade dosolo através da prática do pousio. Considerando que nos solos de várzea o N é oprincipal nutriente limitante da produção e que os agricultores não fazem uso defertilizantes químicos, a matéria orgânica do solo é, portanto, a principal fonte naturalde N para as plantas. Nos diversos sistemas de uso da terra amostrados observou-seque os valores de N e da MOS foram bastante baixos nas áreas cultivadas, porém,significativamente mais elevados nas áreas de florestas e capoeiras (Tabela 15).

Na região do Baixo Amazonas, foi observada em diversas unidades deprodução familiar a prática do pousio com o uso das gramíneas murim (Paspalumfasciculatum) e a canarana (Echinocloa polystachya) para a recuperação dafertilidade do solo. Os resultados mostraram que esse tipo de manejo promoveu umpequeno incremento do teor da matéria orgânica do solo (Tabela 13). Além daciclagem de nitrogênio através de gramíneas, o solo de várzea pode ter adição denitrogênio pela fixação de N atmosférico nas leguminosas que ocorrem naturalmentenas várzeas da Amazônia (Salati et al.,1983). Em todas as unidades de produçãofamiliar amostradas foi observado que os agricultores não fazem uso dasleguminosas, e não têm o conhecimento do benefício dessas espécies comofornecedoras de nitrogênio para as plantas. Nesse sentido, é importante fazer umlevantamento da ocorrência nessas áreas de espécies de leguminosas com potencialfixador de nitrogênio para serem utilizadas como componentes dos sistemas deprodução em área de várzea. Kreibich et al (2003) observaram que o fluxo de Nmineral no solo a 0-20 cm foi maior próximo de espécies leguminosas que não-leguminosas, indicando uma alta disponibilidade de N e a importância dasleguminosas na fixação desse nutriente também em áreas de várzea.

Agricultura Familiar na Amazônia das Águas 85

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Page 88: Agricultura Familiar na Amazônia das Águas

CONCLUSÕES

• Todos os sistemas de uso da terra amostrados apresentaram teores deCa e Mg situados acima do nível considerado alto, confirmando a altadisponibilidade desses nutrientes nos ecossistemas de várzea.

• Embora as florestas e capoeiras mantenham níveis elevados defertilidade, neste ambiente também pode ser verificado acidez elevadae valores tóxicos de Al trocável, ao contrário da maioria dos outrossistemas de cultivo que apresentaram baixas concentrações desseelemento.

• O P na maioria das amostras analisadas, situou-se muito acima donível considerado alto, mostrando a alta disponibilidade dessenutriente nas áreas de várzea.

• Apesar da maioria dos solos analisados apresentarem concentraçãoelevada, em alguns casos, o K situou-se abaixo do nível consideradocrítico, mostrando que esse nutriente em algumas áreas de várzeapode-se tornar limitante.

• Na maior parte dos sistemas de uso da terra estudados, os níveis de Ce N no solo foram baixos, confirmando que o N é um dos principaisnutrientes limitantes para a produção agrícola em área de várzea naAmazônia.

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CAPÍTULO 4

AGRICULTURA E EXTRATIVISMOVEGETAL NAS VÁRZEAS DA AMAZÔNIA

Hiroshi Noda1 e 2

Francisco Manoares Machado1 e 2

Danilo Fernandes da Silva Filho1 e 2

Lúcia Helena Pinheiro Martins2

Elisabete Brocki3 e 2

Marco Antonio de Freitas Mendonça4 e 2

Jucélia de Oliveira Vida2

Ayrton Luiz Urizzi Martins5 e 2

Maria Silvesnízia Paiva Mendonça2

Antonia Ivanilce Castro da Silva2

INTRODUÇÃO

Este estudo sobre os fatores que interferem na produção agrícola e noextrativismo foi realizado utilizando-se dois tipos de informações: i. dados de“horizontalização multitemática”, e os dados de “verticalização temática”,realizada em vinte e seis unidades de produção, consideradas como unidadesamostrais regionais no conjunto das amostras inter-regionais.

As unidades de produção agropecuária da várzea do rio Amazonas-Solimões foram caracterizadas por meio de indicadores fitotécnicos e pelasformas como os agricultores usam e manejam os recursos mobilizados noprocesso produtivo. A abordagem de verticalização temática levou em conta ointervalo entre as localidades para uma distribuição uniforme das amostras aolongo da calha Solimões - Amazonas, em pelo menos duas unidades deprodução em cada uma das regiões e municípios: duas no Alto Solimões(município de Tabatinga e Benjamin Constant); quatro no Médio Solimões

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1. Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA).

2. Núcleo de Estudos Rurais e Urbanos Amazônico (NERUA).

3. Universidade Estadual do Amazonas (UEA).

4. Universidade Federal do Amazonas – Faculdade de Ciências Agrárias (UFAM/FCA).

5. Universidade Luterana do Brasil – Centro Universitário Luterano de Manaus (ULBRA/CEULM).

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(municípios de Tefé e Coari); três no Baixo Solimões (municípios deManacapuru, Iranduba e Careiro da Várzea); três no Médio Amazonas(municípios de Itacoatiara e Silves); quatro no Baixo Amazonas (município deParintins); três no Baixo Amazonas (municípios de Oriximiná e Óbidos); cincono Baixo Amazonas (município de Santarém); e três no Estuário (município deGurupá).

A coleta de dados foi realizada a partir da aplicação de questionáriosespecíficos, entrevistas abertas e fechadas semi-estruturadas, elaboração dediário de campo e croqui da área, levantamento planaltimétrico da unidaderural, coleta botânica e levantamento florístico dos componentes sítio,terreiro e extrativismo vegetal.

Os aspectos levantados para caracterização da unidade rural deprodução estão relacionados com: a) identidade do agricultor, dados dafamília e da propriedade; b) histórico da área; c) dados da produção(componente roça ou cultivos); d) componente sítio (espécies, usos,quantidade, plantada/tolerada); e) componente extrativismo vegetal,intensidade da atividade (época do ano, espécie, tempo de deslocamento enúmero de pessoas envolvidas). Complementando aplicação dosquestionários-formulários foram elaborados relatórios diários de campo. Oobservador elaborou um relatório sobre os aspectos relevantes que não eramcontemplados no instrumento de coleta de dados ou aspectos que, apesar deserem quesitos do mesmo, não possibilitavam destaque necessário devido àscondições específicas da amostra.

Para melhor visualização dos componentes do sistema de produçãoforam elaborados croquis das áreas por meio de mapas esquemáticosrepresentativos e levantamentos planaltimétricos, onde se procurou alocarespacialmente os elementos das paisagens e os ambientes acessados eutilizados pelos produtores. Aquelas espécies vegetais não possíveis deidentificação no campo foram coletadas seguindo os procedimentos padrõesde Fidalgo e Bononi (1984) e Di Stasi (1996). As amostras foram descritas,prensadas, acondicionadas em sacos plásticos em álcool e secas em estufascom cerca de 40°C no Laboratório de Genética e Melhoramento de Plantasda CPCA/INPA, sendo posteriormente identificadas e incorporadas noHerbário do INPA. Os espaços dos sítios foram esquadrejados em áreas de10x10 m para identificação e alocação das espécies cultivadas e mantidas.

As atividades comumente denominadas como sendo de extrativismovegetal foram trabalhadas a partir de descrições feitas sobre os ambientes

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acessados e produtos obtidos na atividade; as espécies vegetais extraídas esuas formas de manejo; as formas de processamento e comercialização deprodutos de origem extrativista e a importância econômica, atual e potencial,dos produtos e subprodutos oriundos do extrativismo vegetal.

CARACTERIZAÇÃO FITOTÉCNICA DAS UNIDADES DE PRODUÇÃOAGROPECUÁRIA DA VÁRZEA DO RIO SOLIMÕES-AMAZONAS

A unidade de produção familiar na várzea do rio Solimões-Amazonas éum sistema complexo que envolve a aplicação de diferentes atividades detrabalho nos recursos naturais disponíveis e é, basicamente, constituído pordiferentes paisagens do ambiente explorado: áreas de restinga com vegetaçãoagrícola permanente (sítios), áreas de restinga, baixadas e praias comvegetação agrícola temporária (roças e plantios de espécies de ciclo anual),capoeiras (áreas de pousio) com preponderância de espécies lenhosas ougramíneas, chavascais caracterizando a presença de áreas baixas com solos maldrenados, florestas, lagos, rios e igarapés. A floresta e os ambientes aquáticosfazem parte dos ambientes explorados pelo produtor de várzea, pois são oslocais onde são executadas as atividades de extrativismo vegetal e a pescaartesanal. Esses resultados coincidem com aqueles obtidos por Noda et al.(2001) nas áreas de várzeas de agricultores familiares da calha do Solimões-Amazonas, no Estado do Amazonas e por WinklerPrins (2003) na Ilha deItuqui, Santarém (PA), que concluíram existir uma mistura de controle privadoe comunal em áreas de pequenos produtores.

Nos sistemas de produção adotados pelos agricultores familiares davárzea da calha Solimões-Amazonas, a entrada de insumos externos, comofatores de produção, é extremamente limitada. Os produtos gerados, demaneira geral, são resultantes da somatória do trabalho, predominantementefamiliar e uso e manejo dos recursos naturais disponíveis ao produtor. Essesresultados coincidem com aqueles já relatados por Noda e Noda (2003) e quepodem ser apresentados esquematicamente (Figura 1).

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Figura 1. Fatores envolvidos no processo produtivo na agricultura da várzea do rio Amazonas-Solimões. (Adaptado de Noda & Noda, 2003).

Os produtos gerados pela unidade de produção têm três destinos: auto-consumo, dentro da unidade de produção; o compartilhamento dentro do gruposocial com qual se relaciona (comunidade); e, em terceiro, o mercado onde ovalor de uso do produto adquire o respectivo valor de troca mercantil tornandopossível, desta forma, sua transformação em moeda. A parte não consumidapela unidade de consumo é compartilhada por outros membros da comunidade,através de uma rede cultural, social e econômica (IBGE, 2004). São as relaçõeseconômicas não-monetarizadas estabelecidas, no âmbito das relações sociais,pela prática da ajuda mútua entre membros do mesmo grupo social(comunidade) e, no âmbito da economia, por meio das relações dereciprocidade envolvendo doações e recebimentos de produtos. As relaçõessociais de ajuda mútua envolvem mecanismos de doação e recebimento detrabalho como mutirão, troca de dia, roças e hortas comunitárias. Essaspráticas, culturalmente mantidas pelos membros da comunidade, contribuemsignificativamente para a estabilidade e permanência das comunidades rurais.O produto excedente não consumido é colocado no circuito do mercado formalgerando renda monetária, o que permite a aquisição de bens não produzidospela unidade de produção (NODA e NODA, 2003).

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A Tabela 1, construída a partir do levantamento realizado em 249amostras de unidades de produção, ao longo da várzea do rio Solimões-Amazonas, apresenta os componentes agrícolas dos sistemas de produção davárzea e descreve as Unidades de Paisagens (ambiente onde a prática agrícolaocorre); os Componentes do Sistema de Produção (espaço onde ocorre aatividade associada à técnica de produção); Área de Cultivo (dimensão da áreacultivada); Espécies Cultivadas (espécie agrícola) e Finalidade (destinaçãodada ao produto). Levando em conta a nomenclatura utilizada pela maioria dosagricultores adotou-se a denominação Roça a lavoura onde o constituinteprincipal fosse a mandioca ou macaxeira (Manihot esculenta Crantz); Cultivospara as lavouras em consórcio ou monocultivos onde não aparecem a mandiocaou macaxeira; e Hortaliças para os cultivos envolvendo as espécies olerícolase medicinais.

Roça ou Cultivos – neste componente, os agricultores utilizam o solopara cultivar espécies anuais durante alguns ciclos e a mandioca é a espéciecom maior presença devido sua importância até para a sustentabilidadebiológica e social da unidade de produção. Os cultivos de espécies alimentaressão realizados na forma de consórcios ou monocultivos, mas com prevalênciados primeiros, tendo em vista necessidade de diversificar a produção uma vezque a destinação desses produtos é, basicamente, para o consumo dentro daunidade de produção. Os produtos alimentares colocados no mercado sãohortaliças, quando há possibilidade de rápido acesso aos centros consumidoreslocalizados nas sedes municipais, frutos como, por exemplo, banana, goiaba,manga, alimentos processados para alimentação humana cuja conservaçãopermite maior espaço de tempo de comercialização (exemplo, farinha demandioca), alimentos para animais (milho) e produtos para fins industriais(fibras de malva e juta). As espécies cultivadas são as anuais, variando quantoao período necessário para completar o ciclo desde o plantio até a colheita.Excepcionalmente, quando o local de cultivo ocupa áreas mais elevadaspodem-se encontrar espécies perenes consorciadas com as anuais.

O plantio dessas espécies obedece a uma seqüência na qual as espéciesmais tardias são plantadas logo após a descida das águas, ocupando as cotasmais elevadas e as mais precoces ficando para o final do período de plantio,ocupando as áreas de cotas menos elevadas. A mandioca ou macaxeira sãocultivadas separadamente ou em consórcio, a denominação mais utilizada éroça. As roças ocupam as áreas de cotas mais elevadas das unidades deprodução que recebem diferentes designações: restinga, lombada, vazante ou

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praia. A amplitude de variação das áreas ocupadas por esse componente, emtoda a calha Solimões-Amazonas situa-se entre 0,02 ha, em Maraã no MédioSolimões até 2,57 em Silves, no Médio Amazonas. As espécies que compõemos consórcios são hortaliças, frutíferas, principalmente banana, milho, espéciesmedicinais e até espécies arbóreas como abacate, açaí e graviola. A produçãoé destinada ao consumo pela unidade de consumo (componentes da família edemais pessoas da família não envolvidas na produção) e, também, para venda.

Sítio, Terreiro ou Quintal – esse componente ocupa a parte maiselevada do terreno e, geralmente, localiza-se próximo à moradia do produtor.Neste estudo foram encontradas 287 espécies cultivadas no componente sítio(Apêndice 1). Nessa área estão, também, localizadas a maioria das construçõesda propriedade, a casa de farinha, os currais, chiqueiros e galinheiros. Avegetação principal é constituída por espécies perenes frutíferas. Sãocultivadas, também, hortaliças, espécies medicinais e eventualmente, essênciasflorestais. Nesse local são criados os animais domésticos de pequeno porte,sendo o conjunto intensivamente manejado pela mão–de-obra familiar,especialmente mão-de-obra feminina e infantil.

A participação do trabalho masculino restringe-se a eventuais capinas.Segundo constataram Lima e Saragoussi (2000), esse é o local por onde sãoavaliadas e introduzidas as espécies novas e em muitos casos, é o componenteque fornece o maior volume da produção excedente total colocada no mercado.A área média ocupada por esse componente, ao longo da calha do rio Solimões– Amazonas variou entre 0,10 ha em Uricurituba, no Médio Amazonas até 5,80em Itacoatiara, também, no Médio Amazonas. O número de espécies cultivadase ou protegidas dentro desse componente é bastante elevado: 83 no AltoSolimões; 37 no Médio Solimões; 65 no Baixo Solimões; 103 no MédioAmazonas; 223 no Médio/Baixo Amazonas; e 92 na região do Estuário.

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o), c

acau

, caj

u, c

asta

nha-

de-m

acac

o,co

entro

, cub

iu, f

eijã

o, fr

uta-

pão,

ingá

, jen

ipap

o, je

rimum

, mac

axei

ra (c

aniç

o, p

ão, p

oré,

vitó

ria),

mam

ão, m

andi

oca

(pag

oão,

per

uana

), m

anga

, mar

acuj

á, m

axixe

, mel

anci

a, m

ilho,

pepi

no, p

imen

ta, p

imen

tão,

tom

ate

sítio

lom

bada

,re

stin

ga,

vaza

nte

0,73

xx

abac

ate,

aba

caxi,

abi

u, a

çaí,

acer

ola,

ani

nga,

ara

çá b

oi, a

zeito

na (r

oxa)

, bac

aba,

ban

ana

(cai

pira

, per

uana

, pra

ta),

burit

i, ca

cau,

caj

u, c

ana-

de-a

çúca

r, ca

stan

ha, c

asta

nha

de g

alin

ha,

cedr

o, c

oco,

cub

iu, c

uia,

cup

uaçu

, cur

ua, f

ruta

-pão

, goi

aba,

gra

viol

a, in

gá (a

çu, c

ipó,

do

met

ro),

jam

bo, j

enip

apo,

jerim

um, l

aran

ja, l

imão

, mam

ão, m

andi

oca,

man

ga, m

arac

ujá,

max

ixe, m

ucur

acaá

, pep

ino,

piã

o (b

ranc

o, ro

xo),

pim

enta

, pim

entã

o, p

upun

ha, s

erin

ga, t

omat

e(li

so, r

egio

nal),

uru

cum

sítio

-hor

taliç

as

lom

bada

,re

stin

ga,

vaza

nte

-x

xam

or-cr

escid

o, b

oldo

, car

iru, c

ebol

inha,

cecíl

ia, c

hicór

ia, c

ibale

na, c

idre

ira, c

oent

ro, c

ravo

, cra

vo-d

e-de

funt

o, c

róto

n, c

ubiu,

cum

aruz

inho,

elixi

r-par

egór

ico, h

ortel

ã, m

alva s

anta

do ,

dent

e, m

alvar

isco,

max

ijulio

, palm

a, pa

poul

a, pi

men

ta (d

e che

iro),

pim

então

, ros

a, va

ssou

rinha

2

A l v a

r ã e s

culti

vova

zant

e0,

02x

xal

face

, car

iru, c

ebol

inha

, cou

ve, m

ilho,

pep

ino,

tom

ate

roça

vaz

ante

-x

xba

nana

(com

prid

a, p

acov

a), m

acax

eira

(pão

), m

andi

oca

(cal

ai, s

iaçá

, val

devi

na)

sítio

rest

inga

-x

xaç

aí, b

anan

a, c

aju,

coc

o, fr

uta-

pão,

lara

nja,

lim

ão

Coar

i

culti

vobe

iradã

o, p

raia

,re

stin

ga,

vaza

nte

2,49

xx

alfac

e, ba

nana

(pac

ova,

prata

), ba

rba d

e bod

e, ba

tata-

doce

, ber

injela

, cac

au, c

ariru

, ceb

olinh

a, ce

dro,

chicó

ria, c

oent

ro, c

ouve

, feij

ão (b

ranq

uinho

, coq

uinho

, de m

etro,

man

teigu

inha,

verm

elinh

o), h

ortel

ã,jer

imum

(de l

eite)

, malv

a, m

anga

ratai

a, m

ari,

max

ixe, m

elanc

ia (ja

pone

sa),

melã

o, m

ilho

(da e

mate

r),m

ungu

mba

, pep

ino, p

imen

ta (d

e che

iro),

pim

então

, quia

bo, r

epol

ho, s

ering

a, tac

acaz

eiro,

tom

ate (m

ão-

de-o

nça,

paul

ista,

regio

nal),

uru

curi

pous

ioca

poei

ra-

roça

lom

bada

,re

stin

ga,

vaza

nte

0,75

xx

abac

axi,

anan

ás, b

anan

a (ca

ipira

, com

prid

a, cu

rta, i

najá,

maç

ã, m

issou

ri, p

acov

a, pr

ata),

cana

-de-

açúc

ar,

cará

, car

iru, c

ebol

inha,

chicó

ria, c

ubiu,

feijã

o de

pra

ia, je

rimum

, jut

a, m

acax

eira (

açaí,

baié

, cala

i,m

antei

ga, p

ão, p

erua

na),

malv

a, m

andi

oca (

4 m

eses

, am

areli

nha,

ange

lina,

cam

arão

, cas

ca-ro

xa, p

acu,

tucu

mã)

, max

ixe, m

elanc

ia, m

elão,

milh

o (4

mes

es),

pepi

no, p

imen

ta (a

rdos

a, de

che

iro),

tom

ate

sítio

lom

bada

,re

stin

ga,

vaza

nte

1,96

abac

ate, a

baca

xi, ab

iu, aç

aí, ac

erola,

araç

á, ata

, bac

aba,

bana

na (p

rata)

, bata

ta-do

ce, b

enjam

im, b

iribá,

buriti

,ca

cau,

caju,

cana

-de-

açúc

ar, ca

pim sa

nto, c

astan

ha (d

e mac

aco,

do p

ará),

caxin

guba

, chic

ória,

coc

o,co

rama,

cuia,

cupu

açu,

fruta-

pão,

goiab

a, gr

aviol

a, ing

á, jam

bo, j

enipa

po, ju

cuba

, lara

nja, l

ima,

limão

,m

acax

eira,

mam

ão, m

andio

ca, m

anga

, mara

cujá,

mari

, mari

rana,

mas

truz,

paric

arana

, pião

(rox

o), p

itang

a,pu

punh

a, qu

iabo,

serin

ga, t

ange

rina,

tapere

bá, u

rucu

m

Agricultura Familiar na Amazônia das Águas98

04_agricultura.qxp:Layout 1 26.03.08 21:41 Page 98

Page 101: Agricultura Familiar na Amazônia das Águas

Mic

ror-

regi

ãoM

unic

ípio

Com

pone

ntes

do

Sist

ema

Unid

ades

de

Pais

agem

Área

m

édia

(ha)

Fina

lidad

eCo

nsum

o

Vend

aEs

péci

es (*

)

2

sítio

-hor

taliça

s lo

mba

da, r

estin

ga,

vaza

nte

0,45

amor-

cresc

ido,

arru

da, b

rinco

de m

oça,

caca

u, c

apim

-san

to, c

ará (

roxo

), ca

riru,

ceb

olinh

a, ch

icória

,cid

reira

, coe

ntro

, cor

ama,

couv

e, cu

ia, fe

ijão,

goi

aba,

horte

lã, m

anga

ratai

a, m

arian

a, m

astru

z, m

axixe

,m

elanc

ia, m

ucur

acaá

, pim

enta

(de c

heiro

), pi

men

tão, t

omate

(mão

-de-

onça

)

Mara

ã

culti

vore

sting

a, va

zant

e0,

33x

xaç

aí (d

o pa

rá),

cedr

o, m

elanc

ia, m

ilho

(dur

o)ro

çava

zant

e0,

83ba

nana

(com

prid

a), c

ariru

, mac

axeir

a, m

andi

oca (

olho

-roxo

, vald

evina

), m

ilho

sítio

resti

nga,

vaza

nte

0,35

xab

iu, aç

aí, ar

açá,

baca

ba, b

anan

a, bu

riti,

caca

u, c

aju, c

oco,

cuia

, fru

ta-pã

o, g

oiab

a, gr

avio

la, in

gá, j

aca,

jambo

, jen

ipap

o, li

mão

, mam

ão, m

anga

, pup

unha

, pur

uí, ta

pere

bá, u

rucu

msít

io-h

ortal

iças

resti

nga

-

Tefé

culti

volo

mba

da, r

estin

ga,

vaza

nte

0,47

xx

alfac

e, ce

bolin

ha, c

hicór

ia, c

oent

ro, c

ouve

, jer

imum

, mar

acuj

á, m

axixe

, mela

ncia

(chin

esa,

japon

esa)

,m

elão,

milh

o (d

e ass

ar),

pepi

no, p

imen

ta (a

rdos

a, co

mpr

ida,

mur

upi,

redo

nda,

de c

heiro

), pi

men

tão,

tom

ate

roça

lom

bada

, res

tinga

,va

zant

e1,

4x

xalf

ace,

bana

na (b

aié, b

anan

inha,

caip

ira, c

apim

, chif

re d

e boi

, gua

riba,

inajá,

maç

ã, pa

cova

, pac

ovinh

a,pr

ata),

mac

axeir

a (aç

aí, m

anteg

ona,

pago

inha,

pão,

tam

baqu

i), m

andi

oca (

baixo

tinha

, gre

lo-ro

xo, o

lho-

roxo

, tam

baqu

i, to

rtang

a, va

ldev

ina),

max

ixe, m

elanc

ia, m

elão,

milh

o, p

imen

ta, to

mate

sítio

resti

nga,

vaza

nte

1,88

xx

abac

ate, a

biu,

açaí,

araç

á (bo

i), az

eiton

a, ba

caba

, ban

ana (

com

prid

a), b

odó,

bur

iti, c

acau

, caju

, coc

o,co

mig

o-nin

guém

-pod

e, cu

ia, c

upua

çu, f

ruta-

pão,

goi

aba,

grav

iola,

ingá

(açu

), jac

a, jam

bo, j

enip

apo,

jucá

, lar

anja,

lim

a, lim

ão, m

acac

aúba

, man

ga, m

arira

na, p

upun

ha, p

uruí,

sam

aúm

a, se

ringa

, suc

uri d

epl

anta,

tape

rebá

, uru

buca

á, ur

ucum

sítio

-hor

taliça

sres

tinga

, vaz

ante

-x

xca

riru,

ceb

olinh

a, ch

icória

, coe

ntro

, jer

imum

, max

ixe, p

imen

ta (d

e che

iro),

pim

então

, quia

bo, r

epol

ho,

tom

ate

3

Carei

ro d

aVá

rzea

culti

vopr

aia, r

estin

ga,

vaza

nte

0,85

xx

batat

a-do

ce, c

ana (

fita)

, ceb

olinh

a, ch

icória

, coe

ntro

,couv

e, jer

imum

(de l

eite)

, malv

a, m

arac

ujá,

mas

truz,

max

ixe, m

elanc

ia, m

elão,

milh

o, p

epino

, pim

então

, quia

bo, r

epol

ho

roça

beira

dão,

vaza

nte

0,35

xx

bana

na (c

ompr

ida,

maç

ã, m

açar

oca)

, bata

ta, fe

ijão

(bar

rigud

inho)

, jer

imum

, mac

axeir

a (m

antei

guinh

a,pa

cu),

man

dioc

a (ol

ho-ro

xo, p

iraru

cu, p

oré)

, mela

ncia,

milh

o

sítio

resti

nga,

vaza

nte

0,75

xx

açaí,

acero

la, b

anan

a (m

açã,

paco

va, p

rata)

, cac

au, c

aju, c

ana-

de-a

çúca

r, co

co, c

uia, g

oiab

a, gr

avio

la,ing

á (aç

u, d

e mac

aco)

, jen

ipap

o, je

rimum

, lar

anja,

man

ga, m

ungu

ba

sítio

-hor

taliça

sva

zant

e-

xar

ruda

, bol

do, c

ebol

inha,

chicó

ria, h

ortel

ã, m

alvar

isco,

pim

enta

(ard

ida,

de c

heiro

)

Irand

uba

culti

vore

sting

a, va

zant

e0,

76fei

jão (d

e metr

o), g

oiab

a, jer

imum

(cab

oclo

, de l

eite)

, malv

a (do

idam

), m

amão

(hav

aí), m

arac

ujá,

mela

ncia

(hol

ande

sa, j

apon

esa)

, milh

o, p

epino

(iga

rapé

, jói

a, ve

rdão

), pi

men

ta (d

e che

iro),

tom

ate(s

ão se

basti

ão)

roça

resti

nga,

vaza

nte

0,58

xx

bana

na (m

issun

ga),

feijão

, jer

imum

, mac

axeir

a, m

andi

oca (

4 m

eses

, olh

o-ro

xo, o

lhud

a, pa

um),

max

ixe, m

elanc

ia (p

aulis

ta), m

ilho

(anã

o)

Agricultura Familiar na Amazônia das Águas 99

04_agricultura.qxp:Layout 1 26.03.08 21:41 Page 99

Page 102: Agricultura Familiar na Amazônia das Águas

Mic

ror-

regi

ãoM

unic

ípio

Com

pone

ntes

do

Sist

ema

Unid

ades

de

Pais

agem

Área

m

édia

(ha)

Fina

lidad

eCo

nsum

o

Vend

aEs

péci

es (*

)

3

sítio

vaza

nte

0,49

açaí

(am

), ba

nana

(enc

harc

ada)

, caju

, car

ambo

la, c

oco,

cup

uaçu

, goi

aba,

jambo

, jer

imum

, lim

ão(c

aiano

), m

anar

ana,

man

ga, p

imen

ta (d

e che

iro),

pito

mba

sítio

-hor

taliça

sva

zant

e-

xce

bolin

ha, c

ominh

o, c

ouve

, jer

imum

Man

acap

uru

culti

vopr

aia, r

estin

ga,

vaza

nte

1,67

bana

na, b

atata,

ceb

olinh

a, co

uve,

feijão

(bra

nco)

, jer

imum

, malv

a, m

amão

, mar

acuj

á, m

elanc

ia, m

ilho,

pasta

gem

, pim

enta,

pim

então

pous

io0,

5

roça

resti

nga,

vaza

nte

0,79

bana

na, c

aupi

, jer

imum

(cab

oclo

), m

acax

eira,

malv

a, m

amão

, man

dioc

a (ol

ho-ro

xo, o

rana

,zu

lhud

inha)

, mar

acuj

á, m

elanc

ia, m

ilho

sítio

resti

nga,

vaza

nte

0,5

abac

ate, a

çaí (

am, j

ussa

ra, p

a), b

acab

a, ba

nana

, bur

iti, c

acau

, caju

, can

a-de

-açú

car,

coco

, cuia

,cu

puaç

u, fr

uta-

pão,

goi

aba,

grav

iola,

ingá

(açu

), jam

bo, j

enip

apo,

lara

nja,

lima,

limão

, mam

ão,

man

ga, s

ering

a, ur

ucum

sítio

-hor

taliça

sre

sting

a, va

zant

eale

crim

, alfi

nete,

arru

da, b

oa-n

oite,

bre

do, c

anar

inho,

cap

im sa

nto,

ceb

olinh

a, ch

icória

, coe

ntro

,co

ram

a, cr

avo-

de-d

efunt

o, je

rimum

, man

gara

taia,

mas

truz,

perp

értu

a, pi

men

ta (d

e che

iro, d

e mes

a),

riso

do p

adre

4

Itaco

atiara

culti

vobe

iradã

o, re

sting

a,va

zant

e1,

24x

xalf

ace,

caca

u, c

ebol

inha,

coen

tro, c

ouve

, feij

ão (d

e cor

da),

jerim

um, m

acax

eira,

malv

a, m

andi

oca,

mar

acuj

á, m

axixe

, mela

ncia

(hol

ande

sa),

milh

o, se

ringa

pous

io-

roça

praia

, res

tinga

,va

zant

e1,

03ab

acate

, aça

í, ba

nana

, bata

ta, c

acau

, feij

ão (d

e cor

da),

goiab

a, gr

avio

la, je

rimum

, mac

axeir

a (6

mes

es,

pão)

, mam

ão, m

andi

oca (

4 m

eses

, 6 m

eses

, bra

nca,

curu

á, ju

aca,

verm

elha)

, mela

ncia,

milh

o, p

epino

,pi

men

tão, t

omate

sítio

re

sting

a, va

zant

e5,

8

abac

ate, a

çaí (

verd

e), a

cero

la, al

godã

o (ro

xo),

azeit

ona,

babo

sa, b

acab

a, ba

curi,

ban

ana,

caca

u, c

aju,

cana

-de-

açúc

ar, c

atoré

, cax

ingub

a, co

co, c

uia, c

upua

çu, f

eijão

, fru

ta-pã

o, g

oiab

a, gr

avio

la, in

gá (a

çu),

jambo

, jen

ipap

o, je

rimum

, lar

anja,

lim

ão, m

acax

eira,

mam

ão, m

anga

, mar

acuj

á, m

astru

z, m

elanc

ia,pi

men

ta (m

alagu

eta),

pupu

nha,

puru

í, qu

iabo,

sara

tudo

, ser

inga,

tange

rina,

taper

ebá

sítio

-hor

taliça

sre

sting

a, va

zant

e-

acer

ola,

alfac

e, alf

avac

a, am

or-cre

scid

o, c

apim

(cid

rão)

, cap

im sa

nto,

ceb

olinh

a, ch

icória

, cip

ó-alh

o,cit

rus,

coen

tro, c

ouve

, cum

inho,

goi

aba,

horte

lã (g

rand

e), j

erim

um, m

anga

ratai

a, m

astru

z, m

axixe

,m

ucur

acaá

, pião

(bra

nco,

roxo

), pi

men

ta (a

rdos

a, m

alagu

eta, m

urup

i, ol

ho-d

e-pe

ixe, d

e che

iro),

pim

então

, quia

bo, s

amad

aru,

sara

tudo

, taio

ba, t

omate

, tre

vo (r

oxo)

Silve

s

culti

voba

ixio,

beir

adão

,m

assa

pê, v

azan

te2,

57x

xaç

aí, c

acau

, feij

ão (d

e pra

ia), j

erim

um (d

e leit

e), m

axixe

, mela

ncia,

milh

o (d

ente-

de-c

avalo

), to

mate

pous

io10

Agricultura Familiar na Amazônia das Águas100

04_agricultura.qxp:Layout 1 26.03.08 21:41 Page 100

Page 103: Agricultura Familiar na Amazônia das Águas

Mic

ror-

regi

ãoM

unic

ípio

Com

pone

ntes

do

Sist

ema

Unid

ades

de

Pais

agem

Área

m

édia

(ha)

Fina

lidad

eCo

nsum

o

Vend

aEs

péci

es (*

)

4

roça

resti

nga,

vaza

nte

0,8

xx

alfav

aca,

anan

ás, b

anan

a (br

anca

, pac

ova,

prata

), ca

cau,

caju

, cap

im sa

nto,

car

á, fei

jão, h

ortel

ã, ing

á,jer

imum

, mac

axeir

a, m

amão

, man

dioc

a, m

arac

ujá,

max

ixe, m

elanc

ia, m

elão,

milh

o, p

imen

ta (d

ech

eiro)

, tom

ate

sítio

m

assa

pê, r

estin

ga5,

38x

x

abac

ate, a

baca

xi, aç

aí, al

favac

a, ba

nana

(bra

nca)

, bur

iti, c

acau

, café

, caju

, cap

im sa

nto,

car

ambo

la,ca

stanh

a (de

mac

aco)

, coc

o, c

uia, c

upua

çu, c

utiti

ribá,

fruta-

pão,

goi

aba,

grav

iola,

ingá

, jac

a, jam

bo,

jenip

apo,

lara

nja,

lima,

limão

, mam

ão, m

anga

, mar

acuj

á, pa

lma o

rnam

ental

, pião

(rox

o), p

imen

ta(m

alagu

eta),

quiab

o (d

e metr

o), t

abac

o, ta

nger

ina, t

apere

bá, t

omate

, tuc

umã

sítio

-hor

taliça

sre

sting

a, va

zant

e-

xalf

ace,

alfav

aca,

catin

ga-d

e-m

ulata

, ceb

olinh

a, ch

icória

, cid

reira

, com

inho,

cou

ve, c

rajir

u, m

axixe

,pe

pino

, pim

então

, quia

bo, t

omate

Uruc

uritu

basít

io re

sting

a0,

1

sítio

-hor

taliça

sre

sting

a-

5

Óbid

os

culti

vopr

aia, v

azan

te0,

93x

xalf

ace,

arro

z, ba

nana

, cac

au, c

ebol

inha,

couv

e, fei

jão (l

eite,

man

teiga

), jer

imum

, mam

ão, m

axixe

,m

elanc

ia (ja

pone

sa),

milh

o (q

uare

ntinh

a), p

epino

, pim

enta

(de t

empe

ro),

quiab

o, to

mate

roça

vaza

nte

0,26

bana

na, c

ouve

, jer

imum

, mac

axeir

a, m

amão

, man

dioc

a, m

axixe

, mela

ncia,

milh

o, q

uiabo

sítio

resti

nga,

vaza

nte

0,05

acero

la, al

favac

a, alg

odão

, ata,

ban

ana,

band

eira-

do-d

ivino

-esp

írito

-san

to, b

erinj

ela, c

acau

, cap

imsa

nto,

car

iru, c

astan

ha (s

apuc

aia),

cebo

linha

, chic

ória,

coc

o, c

omig

o-nin

guém

-pod

e, co

uve,

cuia

(man

sa),

goiab

a, gr

avio

la, ja

ca, j

ambo

, lar

anja,

lim

ão, m

acax

eira,

mam

ão, m

anga

, man

gara

taia,

mar

acuj

á, m

astru

z, pa

u m

ulato

, pim

enta

(mala

gueta

, de c

heiro

), pi

men

tão, q

uiabo

, sam

amba

ia

sítio

-hor

taliça

sva

zant

e-

xba

ndeir

a de s

ão fr

ancis

co, b

oldo

, ceb

olinh

a, ch

icória

, erva

cid

reira

, fav

inha s

eca,

louc

ura,

pião

(roxo

), pi

men

ta (d

e che

iro),

tajá,

tom

ate

tabul

eiro

-x

xce

bolin

ha, c

ouve

Orixi

miná

culti

vopr

aia, r

estin

ga,

vaza

nte

0,97

xx

abób

ora,

batat

a, ch

uchu

, feij

ão (c

ampe

ã, de

metr

o, le

ite, m

antei

guinh

a, pi

ngo

de o

uro)

, jer

imum

,ju

ta (b

ranc

a), m

elanc

ia (b

ranc

a, pi

ntad

a, ra

jada)

, milh

o ("t

oda m

anhã

" em

brap

a, de

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de-c

avalo

,du

as es

piga

s, fei

ra d

a cid

ade)

, pim

então

, rep

olho

, tom

ate

roça

1,5

xba

nana

sítio

resti

nga,

vaza

nte

0,8

xx

abiu,

abob

rinha

, ace

rola,

algo

dão,

arru

da, a

ruaz

eiro,

ata,

azeit

ona,

bacu

ri, b

anan

a (br

anca

, gra

nde,

prata

), be

njam

im, c

acau

, caim

bé, c

aju, c

ajura

na, c

ana-

de-a

çúca

r, ca

pim

sant

o, c

astan

ha (d

o pa

,sa

puca

ia, d

e mac

aco)

, cas

tanho

la, c

ataua

ri, c

idrei

ra, c

oco,

cuia

, estu

raqu

e, fei

jão (f

eijão

zinho

), fru

ta-pã

o, g

oiab

a, ho

rtelã,

ingá

, jac

a, jam

bo, j

ambu

, jau

arí,

jenip

apo,

lara

nja,

limão

, mag

uari,

mam

ão,

man

dioc

a, m

anga

, mar

acuj

á, m

arajá

, mar

i, m

arim

ari,

mas

truz,

melã

o (m

axixe

), m

urrã

o, m

utinh

a,pa

poul

a, pa

ricá,

pião

(bra

nco,

roxo

), pi

tom

ba, p

ixone

ra, q

uiabo

(de m

etro)

, ros

a, ro

seng

a, sa

cuí,

serin

ga, s

ocor

ó, ta

já, ta

pere

bá, t

arum

ã, ur

uaze

iro, u

rucu

m, u

rucu

ri

Agricultura Familiar na Amazônia das Águas 101

04_agricultura.qxp:Layout 1 26.03.08 21:41 Page 101

Page 104: Agricultura Familiar na Amazônia das Águas

M i c

ro r-

regi

ãoM

unic

ípio

Com

pone

ntes

do

Sis

tem

aUn

idad

es d

e Pa

isag

emÁr

ea

méd

ia (h

a)Fi

nalid

ade

Cons

umo

Vend

aEs

péci

es (*

)

5

sítio

-hor

taliç

asre

stin

ga,

vaza

nte

0,53

xalf

ace,

alfav

aca,

alho,

amor-

cresc

ido, a

nado

r, arru

da, b

abos

a, ca

pim sa

nto, c

ating

a-de-

mulat

a, ce

bolin

ha, c

hicóri

a, cid

reira,

coen

tro, c

orami

na,

couv

e, cró

ton, d

edo d

e adã

o, eli

xir pa

rigóri

co, e

mend

a oss

o, es

turaq

ue, h

ortel

ã (gra

nde,

horte

lãzinh

o), ja

mbú,

jerim

um, m

anga

rataia

, mas

truz,

maxix

e, me

lancia

, muc

ura-ac

á, piã

o (bra

nco,

roxo)

, pim

enta

(ardid

a, de

cheir

o), p

imen

tão, q

uiabo

, toma

te (sa

nta cl

ara),

boldo

tabu

leiro

rest

inga

, va

zant

e0,

25x

xab

óbora

, alfa

ce, a

lho, b

erinje

la, ce

bolin

ha, c

hicóri

a, co

entro

, cou

ve, ja

mbú,

jerim

um, m

axixe

, pep

ino, p

imen

ta (d

e che

iro, p

imen

tinha

), pim

então

,sa

lsa, to

mate

Parin

tins

culti

voab

a, p

raia

,re

stin

ga,

vaza

nte

0,91

alfav

aca,

bana

na (b

aixota

, cas

ada,

de 2

cach

os, p

acov

i, prat

a, sa

po),

batat

a-doc

e, ce

bolin

ha, c

hicóri

a, fei

jão (d

e prai

a, do

idam

, qua

rentão

),jer

imum

(cab

oclo,

de le

ite),

juta (

branc

a), m

acax

eira (

casc

a-rox

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alva,

mamã

o, ma

ndioc

a (fle

cha,

joão g

rande

, taira

), ma

racujá

(bran

co),

mastr

uz, m

axixe

, mela

ncia

(gran

de, h

oland

esa),

milh

o (de

nte-g

raúdo

, pira

ntã),

pimen

ta (m

urupi,

de ch

eiro)

, pim

então

, rep

olho,

tomate

roça

rest

inga

, va

zant

e0,

48x

xba

nana

(baix

ota, b

ranca

, cas

ada,

ceare

nse,

de 2

cach

os, g

rande

, inajá

, nati

va, p

acov

a, pa

covi,

prata

, roxa

, sap

o), fe

ijão,

jerim

um (d

e leit

e),ma

caxe

ira (a

marel

a,bran

ca, c

asca

-roxa

, coa

ri, ma

nteiga

, men

ina),

mand

ioca (

auaç

ú, fle

cha,

joão g

rande

, taira

), ma

xixe,

melan

cia, m

ilho,

pepin

o

sítio

rest

inga

, va

zant

e0,

76

abac

ate, a

biu, a

çaí, a

cerol

a, alg

odão

, araç

á (bo

i), az

eiton

a (rox

a), ba

caba

, ban

ana,

buriti

, cac

au, c

aju, c

amu-

camu

, can

a-de-

açúc

ar, ca

stanh

a (de

galin

ha, s

apuc

aia, d

e mac

aco)

, cax

ingub

a, co

co, c

uia, c

upua

çu, fe

ijão,

fruta-

pão,

goiab

a, go

iabara

na, g

raviol

a, ing

á (cu

ia, sa

po, x

ixica

), jac

a,jam

bo, je

nipap

o, jer

imum

, laran

ja, lim

ão, m

acax

eira,

mamã

o, ma

nga,

marac

ujá, m

ari, m

arima

ri, ma

rimari

-de-

cach

orro,

marin

ema,

mariz

inho,

mung

uba,

pião (

branc

o), p

imen

ta, pu

ruí, s

ering

a, tam

arind

o, tap

erebá

, urua

, uruc

um

sítio

-hor

taliç

asre

stin

ga,

vaza

nte

-x

alfav

aca,

algod

ão, á

rvore

de na

tal, b

oldo c

ompri

do, c

ana (

da ín

dia),

capim

santo

, cara

pari,

cebo

linha

, chic

ória,

cidrei

ra, co

entro

, com

igo-

ningu

ém-p

ode,

corre

nte m

enino

jesu

s, co

uve,

crajiru

, cris

ta de

galo,

cuia

mans

a, fei

jão (d

e metr

o), h

ortelã

(gran

de, h

ortela

nzinh

o), je

rimum

,lav

adeir

a, ma

ngara

taia,

mastr

uz, o

nze h

oras,

pião (

batuq

ue, ro

xo),

pimen

ta (d

e che

iro),

pimen

tão, s

ena,

terez

inha,

tomate

, trev

o (rox

o), u

rubuc

aá,

vai-e

-vem,

vind

ica

tabu

leiro

rest

inga

0,05

acero

la, aj

irum,

alfav

aca,

arrud

a, ba

nana

, cap

im sa

nto, c

ating

a-de-

mulat

a, ce

bolin

ha, c

hicóri

a, co

entro

, com

inho,

couv

e, fei

jão (d

e cord

a), ho

rtelã

(horte

lãzinh

o), ja

mbú,

jerim

um, m

amão

, mara

cujá,

max

ixe, m

ucura

caá,

pimen

ta (d

e che

iro),

pimen

tão, to

mate,

uruc

um

Sant

arém

culti

vo

prai

a,

rest

inga

,va

zant

e0,

62x

xab

óbora

, alfa

vaca

, ceb

olinh

a, co

uve,

feijão

(de l

eite,

grão p

eque

no, m

antei

guinh

a, ve

rmelh

o, vin

agre,

de pr

aia),

grama

de vá

rzea,

jerim

um (d

elei

te), ju

ta, m

axixe

, mela

ncia

(japo

nesa

), me

lão, m

ilho (

40 di

as, 4

5 dias

, baié

, baix

inho,

quare

nta, q

uaren

tinha

), pim

enta

(amare

la), q

uiabo

,rep

olho,

serin

ga, to

mate

roça

prai

a,

rest

inga

,va

zant

e0,

51x

x

abób

ora, a

cerol

a, ba

nana

(baix

inha,

baixo

ta, br

anca

, cas

ada,

casc

a verd

e, de

gene

rada,

grand

e, ina

já, pa

cova

, pac

ovi, p

eruan

a, pir

auá,

prata,

roxa

,sa

po),

breu,

cana

-de-

açúc

ar, co

co, c

uia, fe

ijão,

goiab

a, ing

á gran

de, je

rimum

, laran

ja, lim

ão, m

acax

eira (

água

noss

a, am

arela,

amare

linha

, bran

ca,

mante

iga, p

ão, v

ermelh

a, xa

vica),

man

dioca

(cari

, 7 m

eses

, ama

relinh

a, bo

dó, b

oi bra

nco,

boizi

nho,

branc

a, bra

nquin

ha, c

ordeir

a, do

rotéia

,do

urada

, flor-

de-b

oi, go

rdura,

guia

verde

, mac

ambir

a, mi

longu

es, p

eixe-

boi, r

edon

da, ro

xinha

, tamb

aqui,

verm

elinh

a), m

anga

(cipó

), ma

xixe,

melan

cia, m

ilho,

pimen

ta, ta

pereb

á, tom

ate

Agricultura Familiar na Amazônia das Águas102

04_agricultura.qxp:Layout 1 26.03.08 21:41 Page 102

Page 105: Agricultura Familiar na Amazônia das Águas

(*) V

arie

dade

ou

clon

es1

– Al

to S

olim

ões,

2 –

Méd

io S

olim

ões,

3 –

Bai

xo S

olim

ões/

Alto

Am

azon

as, 4

– M

édio

Am

azon

as, 5

– M

édio

/Bai

xo A

maz

onas

e 6

– E

stuá

rio

Mic

ror-

regi

ãoM

unic

ípio

Com

pone

ntes

do

Sist

ema

Unid

ades

de

Pais

agem

Área

m

édia

(ha)

Fina

lidad

eCo

nsum

o

Vend

aEs

péci

es (*

)

5

Sant

arém

sítio

restin

ga,

vaza

nte

1,41

xx

abac

ate, a

çaí,

acero

la, al

godã

o, am

or-cr

escid

o, an

anás

, anin

ga, a

raçá

, ara

ticum

, arru

da, a

ta, az

eiton

a,ba

caba

, bac

uri,

bana

na (b

aixinh

a, br

anca

, cas

ca ve

rde,

gran

de, g

ross

a), c

acau

, cac

auí,

café,

caju

, can

a-de

-aç

úcar,

car

ambo

la, c

astan

ha (s

apuc

aia),

catau

ari ,

cidre

ira, c

ipó,

coc

o, c

rajir

u, c

uia, c

umar

u, c

upua

çu,

curu

mim

, cut

itirib

á, es

pírit

o sa

nto,

estu

raqu

e, fo

lha g

rossa

, fru

ta-de

-con

de, f

ruta-

pão,

goi

aba (

verd

e,ve

rmelh

a), g

ravio

la, in

gá, j

aca,

jambo

, jen

ipap

o, ju

cá, l

aran

ja, li

ma,

limão

, mac

axeir

a, m

agua

ri, m

amão

,m

andi

oca,

man

ga (c

ipó,

maç

ã, m

anga

rá, r

osa)

, mar

acuj

á, m

ari (

gord

o), m

arim

ari,

mas

truz,

mun

guba

rana

,m

urici

, mur

ua, p

au b

rasil

, pião

(bra

nco,

roxo

), pi

men

ta (d

o rei

no),

pito

mba

, pup

unha

, rom

ã, ro

sa, s

apot

i,se

ringa

, soc

oró,

taba

co, t

ajá, t

amar

indo,

tang

erina

, tap

erebá

, tar

umã,

uruc

um

sítio

-hor

taliça

sres

tinga

, vaz

ante

0,37

x

abób

ora,

alecr

im (d

o ca

mpo

, do

norte

), alf

ace,

alfav

aca,

algod

ão ro

xo, a

mor

cres

cido,

ara

çá, a

rruda

, bajé

,bo

ldo,

can

a man

sa, c

apim

sant

o, c

ará,

cará

roxo

, cati

nga-

de-m

ulata

, ceb

olinh

a, ch

icória

, cid

reira

, coe

ntro

,co

ram

a, c

oram

ina, c

ouve

, cuia

, diab

inho,

elix

ir pa

regór

ico, e

spina

fre,

folh

a gro

ssa,

horte

lã, h

ortel

ã gra

nde,

jambú

, jap

ana,

jerim

um, m

anga

ratai

a, m

arac

ujá,

mar

upaz

inho,

mas

truz,

mela

ncia,

melh

oral,

muc

urac

aá,

mut

uquin

ha, o

uriço

, paç

oquin

ha, p

au-d

e-an

gola,

pep

ino, p

iaçoq

uinha

, pião

bra

nco,

pião

roxo

, pim

enta

(ard

ósa,

mala

gueta

, de-

cheir

o), p

imen

tão, p

inhão

, rep

olho

, sab

ugue

iro, s

angu

e cris

to, s

aratu

do, s

ucur

iju,

tom

ate, v

ick, v

inagr

eira,

vindi

cá, v

olta

pra m

im

tabul

eiro

-x

couv

e

6Gu

rupá

culti

volo

mba

da, r

estin

ga,

vaza

nte

1,33

açaí,

arro

z, ar

roz a

gulin

ha, b

anan

a, ca

cau,

can

a-de

-açú

car,

feijão

, lim

ão, m

elanc

ia, m

ilho

roça

restin

ga, v

azan

te0,

8x

xab

óbor

a, aç

aí, an

anás

, ária

, arro

z, ba

nana

(pra

ta), b

atata

doce

, can

a-de

-açú

car,

cará

, feij

ão, g

oiab

a, lim

ão,

mac

axeir

a, m

amão

, man

dioc

a, m

axixe

, mela

ncia,

milh

o, p

au m

ulato

, pim

enta,

sam

aúm

a

sítio

vaza

nte

1,82

xx

abac

ate, a

baca

xi, ab

iu, aç

aí, an

diro

ba, a

raçá

, aze

itona

, bac

uri,

bana

na, b

atata

doce

, biri

bá, c

acau

, caju

,ca

mut

inha,

cana

-de-

açúc

ar, c

aram

bola,

cas

tanha

, cib

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Agricultura Familiar na Amazônia das Águas 103

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Page 106: Agricultura Familiar na Amazônia das Águas

Os resultados obtidos neste estudo são compatíveis com aquelesregistrados por Lima e Saragoussi (2000) que encontraram, na AmazôniaCentral, sítios ocupando em média 0,36 hectare e com a predominância deárvores frutíferas. No Baixo Solimões, Bahri (1993) encontrou sítios comouma conversão de antigas plantações de seringueiras e cacaueiros. Estudos comsítios da várzea amazônica, realizados por outros autores como Guillaumet etal. (1990), Lima (1994), Anderson et al. (1999) e Lima & Saragoussi (2000),encontraram, em média, 125 espécies entre plantas arbóreas, arbustos eherbáceas, bastante próximo da média encontrada nesta pesquisa (100espécies, com amplitude variando entre 37 espécies no Médio Solimões até223 espécies no Baixo Amazonas).

O sítio além da sua importância como fornecedor estável de produtosalimentares à unidade de consumo familiar exerce um papel ecológicorelevante. De acordo com Guillaumet et al. (1993), a alta diversidade vegetalinter e intraespecífica, com disposição em vários estratos, parecem contribuirpara a diminuição da propagação de doenças e pragas. Os sítios exercem,também, um papel importante na conservação e amplificação da biodiversidadeagrícola. Segundo Lima (1994) e Lima e Saragoussi (2000), novas cultivares enovas espécies são introduzidas e testadas, e as de uso corrente pela família sãomantidas, como um recurso para a restauração das roças e outros tipos deplantios, inclusive com estratégias próprias para fazer frente às enchentes.

Essas áreas funcionam como refúgio (bancos de germoplasma “in situ“ou áreas onde ocorre a preservação de recursos genéticos) de plantas de origemindígena como o ariá (Callathea allouia), cubiu (Solanum sessiliflorum),taioba (Xanthosoma spp.), cará-do-ar (Dioscorea alata), cará (Dioscoreatrifoliata) e plantas medicinais, sendo essa diversidade mantida através de trocade sementes, mudas e, mais raramente, estacas, com vizinhos, parentes eamigos, e através da compra ou busca das mesmas nas comunidades urbanas,próximas ou longínquas (LIMA, 1994 e LIMA e SARAGOUSSI, 2000;NODA, 2002, NODA et al., 2002; NODA et al. 2003; WINKLERPRINS,2003; NODA e NODA, 2004).

Os sítios constituem, também, um espaço privilegiado de socialização dogrupo familiar, abrigando não só momentos de lazer, como também os jogos e ainiciação às atividades agrícolas das crianças. Atividades como fabricação econserto de apetrechos de pesca e instrumentos agrícolas, preparação de hortaliçaspara a comercialização e atividades de pós-colheita ocorrem nesse local.

Agricultura Familiar na Amazônia das Águas104

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Page 107: Agricultura Familiar na Amazônia das Águas

Capoeira ou área de pousio – o pousio da terra é uma técnicatradicional de manejo do solo praticada de maneira generalizada pelosagricultores da várzea. São terras que permanecem em repouso durante certoperíodo e voltam a ser reutilizadas para o cultivo de espécies anuais.Eventualmente, essa capoeira pode ser enriquecida com plantio de espéciesfrutíferas perenes, em áreas com cotas mais elevadas. Esse componente ocorrepraticamente em todas as unidades de produção da várzea da calha do rioAmazonas-Solimões. A partir de tais resultados concluiu-se que a forma deprodução em roças com posterior descanso para encapoeirar, é uma técnica demanejo do solo, em escala familiar, que permite, em termos de recursospedológicos, uma reconstrução do ambiente natural.

Segundo Silva (1991); Pereira (1992;1994) e Noda et al. (2002), afunção das áreas de pousio é a reprodução das qualidades físicas, químicas ebiológicas dos solos, que após algum período de uso agrícola são deixadas emdescanso (pousio). Após um período, mínimo de oito meses a dois anos, éobtida uma área de cultivo com a fertilidade renovada e com taxas deocorrência de pragas, doenças e plantas invasoras reduzidas. No estudorealizado por Noda (2000) foi observado que nas capoeiras de seis anos,correspondentes às áreas de antigas roças, apresentavam teores de C e Npróximos aos da mata, o que permitiu a autora presumir a reconstituição dosrecursos pedológicos aos níveis daqueles encontrados na mata natural.

Essas constatações explicam a importância e a eficiência da técnica depousio, principalmente, nas áreas de cota mais elevadas onde os processos dedeposição de nutrientes pelas inundações são menos intensos. Entretanto, opousio é uma técnica que vem caindo em desuso devido ao avanço da pecuáriana várzea. Noda et al. (1995), encontraram freqüência da adoção do pousioentre 30% a 68%, com o tempo de descanso variando entre as microrregiões,dependendo do tamanho da área apropriada, da vegetação remanescente e dautilização para pecuária. Nas microrregiões do Baixo Solimões, AltoAmazonas e Médio Amazonas observaram que o tamanho da área apropriadanão constituía fator determinante na decisão de se adotar a técnica de pousio,mas encontraram uma forte correlação entre a expansão da bovinocultura e adiminuição da freqüência de uso desta técnica pelos agricultores familiares.Segundos aqueles autores, com o incremento da pecuária e das áreas utilizadasna atividade, havia ocorrido uma diminuição nas áreas disponíveis para oscultivos nas roças, provocando a necessidade de reutilização das mesmas emum menor espaço de tempo. Nas regiões onde a pecuária é uma atividade

Agricultura Familiar na Amazônia das Águas 105

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Page 108: Agricultura Familiar na Amazônia das Águas

econômica muito importante a situação tende-se a agravar. WinklerPrins(2003) menciona que na região do Baixo Amazonas, na Ilha de Ituqui, nomunicípio de Santarém, o pousio é pouco praticado.

Extrativismo vegetal – a extração de produtos vegetais é uma atividaderealizada na floresta ou na capoeira. Os produtos extraídos são alimentos,condimentos, remédios, aromáticos, gomas e fibras e são obtidos em 144espécies (Apêndice 2). As atividades relacionadas ao extrativismo animal sãoconstituídas, principalmente, pela pesca artesanal que é realizada no conjuntoda bacia hidrográfica, dando-se preferência, dependendo do período do ano, aorio principal, igarapés ou lagos. O peixe é o mais importante e fundamentalfonte de proteína das populações ribeirinhas. Daí a importância das iniciativasno sentido da manutenção e preservação de lagos, por agricultores familiares,em algumas localidades como apontam os trabalhos de McGrath et al. (1991 e1993) e Noda et al. (2000a e 2000b).

Em relação à caça de animais silvestres, os sítios e arredores, parecemser os locais preferidos para a captura dos animais, mesmo que não sejam áreasde cobertura vegetal natural, já que estes localizam-se nas restingas mais altas,local importante para o refúgio dos animais na época da enchente. SegundoNoda et al. (2001), na região do Médio Amazonas, o principal ambiente decaça é o lago de várzea, pois os numerosos lagos daquela região formamextensos espelhos d’água, que dominam completamente a paisagem durante aenchente, sendo, talvez por isso, as espécies aquáticas o tipo de caça maisfreqüente.

Criação de animais de pequeno porte – normalmente, os animais depequeno porte (aves, suínos, caprinos e ovinos) são criados extensivamente nasáreas dos sítios e, geralmente, alimentados com restos derivados doprocessamento de produtos, por exemplo, raspa de mandioca ou milhoproduzido na unidade de produção. McGrath (1991) e Hiraoka (1992)destacam que, tradicionalmente, a estratégia de subsistência do homem davárzea envolveu a criação de pequenos animais, a pesca, a agricultura, apecuária e o extrativismo florestal, sendo que a importância relativa de cadauma dessas atividades, ao longo do tempo, refletiu os ajustes feitos pelosribeirinhos em relação às oportunidades da economia regional.

Via de regra, os animais que permanecem até a época da cheia sãomantidos naquele período em marombas (instalações construídas em áreaselevadas para manutenção de animais de criação) ou são levados para terra-firme na hipótese dos produtores locomoverem-se para aquele ambiente.

Agricultura Familiar na Amazônia das Águas106

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Page 109: Agricultura Familiar na Amazônia das Águas

Os procedimentos e as técnicas de produção adotados pelos agricultoresda várzea do rio Solimões-Amazonas evidenciam uma enorme contribuiçãocultural da agricultura tradicional. Na Figura 2, tomando-se como base omodelo proposto por Noda e Noda (1994), é apresentado, esquematicamente,o fluxo de produtos e serviços envolvidos entre os componentes do sistema deprodução. Observa-se que o sistema produtivo pode ser aglutinado dentro deum núcleo que poderia ser designado como sendo um sistema agroflorestal“tradicional”, composto pelos seguintes componentes: i. Roças e Cultivos(cultivo de espécies anuais em monocultivo ou consórcios); ii. Sítio (cultivo deespécies perenes, hortaliças e medicinais); iii. Capoeira (pousio simples oumelhorado); iv. Extrativismo vegetal e animal (extração de alimentos,condimentos, remédios, aromáticos, gomas e fibras, caça e pesca); v. Criação(animais de pequeno e grande porte).

O núcleo produtivo interage com o ambiente externo (mercado defatores) através da aquisição de insumos para o processo produtivo,principalmente ferramentas, equipamentos e insumos e, também, de algunsalimentos consumidos ou bens necessários à manutenção da família, mas nãoproduzidos dentro da unidade de produção. A interação da unidade deprodução com a comunidade, no que se refere ao processo produtivo, aconteceatravés das relações sociais de ajuda mútua (troca de trabalho), troca deinsumos, principalmente, propágulos (sementes e mudas) e pela prática daeconomia da reciprocidade (troca de produtos, principalmente, alimentos). Ainteração com o mercado externo ocorre quando os produtos gerados pelaunidade de produção, após a transformação dos mesmos em mercadorias e oestabelecimento dos respectivos valores de troca, são convertidos em moeda(NODA e NODA, 2003).

Agricultura Familiar na Amazônia das Águas 107

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Page 110: Agricultura Familiar na Amazônia das Águas

FIGURA 2. Fluxo de produtos e serviços entre os componentes produtivos no sistema de produção na várzea doSolimões-Amazonas. (Adaptado de NODA & NODA, 2002).

Direção do Fluxo Produtos e Serviços Envolvidos

1 —> 3 Ferramentas, máquinas e insumos

3 —> 4 Alimentos, combustível, madeira, remédio

3 —> 5Alimentos “in natura” e processados, madeira e outros produtosda floresta

3 —> 2 Alimentos, sementes, mudas

2 —> 3 Sementes, mudas e força de trabalho

1 —> 4 Alimentos, combustível, vestimentas, remédio

Agricultura Familiar na Amazônia das Águas108

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Page 111: Agricultura Familiar na Amazônia das Águas

INFLUÊNCIA DO PULSO DAS ÁGUAS NA CONSTRUÇÃO DASPAISAGENS AGRÍCOLAS E NA DIVERSIDADE GENÉTICA VEGETAL

Na Tabela 2 é apresentada a posição topográfica dos componentes dossistemas de produção agrícola nas unidades levantadas no sentido da calha doSolimões-Amazonas, trecho entre os municípios de Tabatinga, no AltoSolimões do Estado do Amazonas e Gurupá, no Estuário do rio Amazonas, noEstado do Pará. A partir de dados do Nível Médio Histórico do rio Solimões-Amazonas nos municípios de Coari, Manaus, Parintins, no Estado doAmazonas e Santarém, no Estado do Pará, registrados pelo DepartamentoNacional de Águas (Barthem & Fabré, 2004) foram estimadas as cotas da lâminad’água nos respectivos municípios nos doze meses do ano. A partir desses dadosconstruiu-se um gráfico com as linhas de cotas médias anuais históricas quecorrespondem, neste estudo, às regiões abrangidas pelos respectivos municípios.Os pontos obtidos nos levantamentos de campo, nas respectivas datas deobservação, foram graficamente alocados na linha correspondente às marcas dosníveis médios históricos do município. A partir desses pontos, foramestabelecidas as projeções das datas de início e final do período de inundação eo período disponível para uso do solo em atividades agropecuárias (Tabela 3).

Uma unidade de produção localizada em Coari (Amostra 6) é um bomexemplo de como o manejo das plantas é condicionado pelo ciclo das águas e pelaadaptação genética de cada espécie vegetal aos ambientes onde é cultivada (Figuras3, 4 e 5). Pode-se observar que entre as espécies anuais não adaptadas a ambientesúmidos, as que ocupam áreas mais baixas são as de ciclo curto como o milho, tomatee hortaliças de folhas. Já as de ciclo mais longo, como a mandioca, ocupam áreasmais elevadas. Os sítios e as áreas de plantio de espécies frutíferas lenhosas nãoadaptadas a ambientes úmidos ocupam a áreas mais elevadas, preferencialmente, asnão inundáveis. Nessa mesma localidade, o sítio está situado em área não inundável,levando-se em conta as médias históricas do pulso das águas. É interessante observarque o período de inundação, de 83 dias, da área da horta corresponde à diferença de0,83 metro entre a cota mais baixa da horta (6,08 metros), no trecho H – G, e cotamais alta da área do sítio (7,72 metros), no trecho E – F (Figura 3).

Agricultura Familiar na Amazônia das Águas 109

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Page 112: Agricultura Familiar na Amazônia das Águas

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Agricultura Familiar na Amazônia das Águas110

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Page 113: Agricultura Familiar na Amazônia das Águas

FIGURA 4. Leito parcialmente seco no paraná da Ilha do Ariá no período da vazante (dezembro de 2003), Coari/AM.

FIGURA 5. Área de cultivo de hortaliças (alface, cebolinha e tomate) localizada entre as cotas 6,08-7,20 metros.Coari/AM.

Agricultura Familiar na Amazônia das Águas 111

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Page 114: Agricultura Familiar na Amazônia das Águas

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Agricultura Familiar na Amazônia das Águas112

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, bac

aba,

bac

abão

, ban

ana,

bur

iti, c

acau

, caj

á, c

asta

nha

de m

acac

o,cu

ieira

, gen

ipap

o, g

oiab

a, g

ravi

ola,

ingá

, jam

bo, l

aran

ja, l

ima,

lim

ão,

man

ga, t

apeb

a, u

rucu

m

Várz

ea6,

69 -

6,7

0Va

zant

eC

ultiv

om

ilho,

jerim

um

Bai

xada

5,56

- 6

,69

Bei

radã

oPa

sto

capi

m (

terr

a e

água

, mur

im)

5

13Ig

arap

é do

Bot

o/Pa

rintin

s03

.02.

2004

Rest

inga

Alta

3,40

(A)

- 3

,79

(B)

Rest

inga

Síti

oab

acat

e, a

cero

la, a

ta, c

aju,

cui

eira

, gen

ipap

o, g

ravi

ola,

goi

aba,

jam

bo,

lara

nja,

tang

erin

a, m

amão

, tam

arin

do, u

ruá,

uru

cum

Rest

inga

Alta

3,40

-

3,79

Rest

inga

Past

o

Rest

inga

Alta

3,40

- 3

,79

Rest

inga

Hor

tato

mat

e, re

polh

o

14Pa

raná

de

Parin

tins/

Parin

tins

07.0

2.20

04

Rest

inga

Alta

3,69

(A)

- 3

,80

(B)

Rest

inga

Síti

o

abiu

, aça

í, ac

erol

a, a

puí,

araç

á-bo

i, ba

caba

, ban

ana,

bur

iti, c

acau

, cac

auí,

cafe

rana

, caj

á, c

asta

nha

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acac

o, c

oco,

cui

eira

, cup

uaçu

, fru

ta-p

ão,

geni

papo

, gra

viol

a, g

oiab

a, in

gá, j

ambo

, lim

ão, l

imor

ana,

man

guei

ra, m

ari,

mar

imar

i, m

uric

i, m

utam

ba, s

erin

ga, t

aper

eba,

tape

ba

Rest

inga

Bai

xa1,

44 (

C)

-2,3

6 (D

)Re

stin

gaRo

ça/H

orta

mac

axei

ra, j

erim

um, m

axix

e

Aba

0,00

(E)

- 1

,44

(F)

Aba

Cul

tivo

milh

o

15C

osta

do

Sar

acur

a/Pa

rintin

s05

.02.

2004

Teso

3,44

(G

) -

3,50

(H

)Va

zant

eRo

çam

acax

eira

Teso

3,44

(I)

- 3

,50

(J)

Rest

inga

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eiro

arat

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, aze

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, ban

ana,

gen

ipap

o, g

oiab

a, in

gá, l

imão

, mam

ão, m

ari,

uruc

um

Teso

/Bai

xo1,

93 (

K) -

2,8

6 (L

)Re

stin

gaCu

ltivo

/Pas

tom

alva

/pas

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m

16Vi

la R

ober

ta/Ó

bido

s15

.02.

2004

Várz

ea B

aixa

2,55

- 2

,95

Rest

inga

Terr

eiro

acer

ola,

ban

ana,

cas

tanh

a sa

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ia, c

oco,

cui

eira

, gen

ipap

o, in

gá, l

aran

ja,

mam

ão, m

ari,

tucu

17Pa

raná

do

Cac

hoer

i/Orix

imin

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.02.

2004

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a Pl

ana

3,09

- 3

,37

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inga

Síti

oba

curi,

ban

ana,

cac

au, c

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, cas

tanh

a de

mac

aco,

cas

tanh

a sa

puca

ia,

cuie

ira, g

enip

apo,

goi

aba,

jam

bo, l

imão

, mam

ão, m

angu

eira

, mar

i,m

arim

ari,

serin

guei

ra, t

aper

ebá,

uru

cum

Terr

a Pl

ana

2,36

- 2

,37

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inga

Cul

tivo

jerim

um, b

anan

a

Prai

a0,

00 -

3,2

4Pr

aia

Cul

tivo

feijã

o

18Ba

ixo

Trom

beta

s/Or

ixim

iná

13.0

2.20

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rra-

Firm

eTe

rra-

Firm

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ítio

abac

ate,

goi

aba,

gen

ipap

o, la

ranj

a, m

amão

, man

guei

ra, t

ange

rina,

um

ari,

bana

na

Várz

ea B

aixa

1,08

- 1

,30

Vaza

nte

Plan

tiom

ilho,

mal

anci

a, fe

ijão

Agricultura Familiar na Amazônia das Águas 113

04_agricultura.qxp:Layout 1 26.03.08 21:41 Page 113

Page 116: Agricultura Familiar na Amazônia das Águas

Mic

ror-

regi

ãoA

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tra

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tical

izaç

ão)

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l/M

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oD

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ão

Loca

l

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de d

e C

ota

em r

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ão à

lâm

ina

d'ág

ua (

m)

Uni

dade

de

Pais

agem

Com

pone

nte

Espé

cies

Cul

tivad

as

5

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go G

rand

eC

urua

í/S

anta

rém

18.0

2.20

04Te

rra-

Firm

eTe

rra-

Firm

eS

ítio

acer

ola,

ata

, aze

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, ban

ana,

bur

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acau

, caj

u, c

uiei

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umar

u,cu

puaç

u, fr

uta-

pão,

gra

viol

a, g

oiab

a, in

gá, j

ambo

, lar

anja

, lim

a,lim

ão, m

anga

, mar

i, m

uric

i, pa

jurá

, pito

mba

, pup

unha

, tuc

umã,

uruc

um

20Bo

ca d

e C

ima

doAr

itape

ra/S

anta

rém

21.0

2.20

04

Várz

ea B

aixa

2,32

(A

) -

2,40

(B

)Va

zant

eS

ítio

acer

ola,

ban

ana,

caj

u, c

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nha-

sapu

caia

, cat

oari,

cui

eira

, fru

ta-d

o-co

nde,

gen

ipap

o, g

ravi

ola,

goi

aba,

ingá

, mam

ão, m

anga

, sap

oti,

uich

i, ur

ucum

Várz

ea B

aixa

1,45

(C

) -

1,60

(D

)Va

zant

eC

ultiv

om

ilho

Várz

ea B

aixa

1,25

(E)

- 1

,54

(F)

Vaza

nte

Cul

tivo

man

dioc

a

21C

osta

do

Arita

pera

/San

taré

m24

.02.

2004

Rest

inga

0,88

(G

) -

1,34

(H

)Re

stin

gaS

ítio

acer

ola,

ara

çá, b

anan

a, c

acau

, caj

u, c

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nha-

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acac

o, c

oco,

cuie

ira, c

urum

anze

iro, f

ruta

do

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e, g

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ola,

goi

aba,

ingá

,m

amão

, man

ga, m

ari,

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nha,

ser

inga

, tuc

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uic

hi, u

rucu

m

Prai

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00 (

I) -

1,3

4 (J

)Pr

aia

Roça

man

dioc

a, ju

ta

22Re

gião

do

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anta

rém

27.0

2.20

04Re

stin

ga1,

26 (

K) -

1,4

0 (L

)Re

stin

gaS

ítio

açaí

, ace

rola

, ban

ana,

coc

o, c

uiei

ra, f

ruta

-pão

, gra

viol

a, g

oiab

a,in

gá, m

amão

, man

ga

Rest

inga

1,26

(M

) -

1,40

(N

)Re

stin

gaRo

çam

andi

oca,

milh

o, fe

ijão,

mel

anci

a, je

rimum

6

23R

ioC

ojub

a/G

urup

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.03.

2004

(11:

55 h

oras

)

Teso

0,98

1,0

3S

ítio

açaí

, ace

rola

, ban

ana,

cac

au, c

oco,

gen

ipap

o, g

ravi

ola,

goi

aba,

ingá

,ja

mbo

, lar

anja

, man

ga

Teso

0,98

- 1

,03

Cul

tivo

milh

o, a

rroz

, max

ixe,

mel

anci

a, je

rimum

, fei

jão

24Fo

rtal

eza/

Gur

upá

04.0

3.20

04(0

9:00

hora

s)

Rest

inga

/Bai

xio

1,98

-2,

17S

ítio

abac

ate,

aça

í, ba

caba

, biri

bá, c

acau

, caj

u, c

oco,

cui

eira

, gra

viol

a,go

iaba

, ing

á, li

mão

, man

ga, s

erin

ga.

Lom

bada

Alta

1,99

- 2

,00

Roça

milh

o, m

acax

eira

, ária

25Ilh

a S

anta

Bár

bara

/Gur

upá

06.0

3.20

04(1

0:30

hora

s)

Várz

ea B

aixa

0,00

- 0

,14

Cul

tivo

arro

z, m

ilho,

can

a-de

-açú

car,

açaí

Várz

ea B

aixa

0,00

- 0

,14

Síti

oab

acat

e, a

çaí,

bana

na, c

aju,

cui

eira

, fru

ta-d

o-co

nde,

goi

aba-

araç

á,in

gá, l

imão

, man

ga

Agricultura Familiar na Amazônia das Águas114

04_agricultura.qxp:Layout 1 26.03.08 21:41 Page 114

Page 117: Agricultura Familiar na Amazônia das Águas

Loca

l(*

)

Lâm

ina

d'ág

ua e

m re

laçã

o ao

nív

el d

o so

lo (

cm)

Prev

isão

de

iníc

io e

fina

l de

inun

daçã

oPr

evis

ão d

e pe

ríodo

não

inun

dado

Com

pone

nte

Espé

cies

cul

tivad

asOb

serv

ado

Ao n

ível

do

solo

Máx

imo

Data

Cota

Da

taCo

taDa

taCo

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icio

Fina

lNo

s Po

ntos

Área

Tot

al

BENJ

AMIN

CON

STAN

T E

TABA

TING

A

1A

25/1

1/03

-622

Não

Prev

ista

Não

Prev

ista

01/0

5/04

-97

Não

Prev

ista

Não

Prev

ista

Ano

Todo

Ano

Todo

(365

dia

s)Cr

iaçã

oSu

íno

1B

25/1

1/03

-624

Não

Prev

ista

Não

Prev

ista

01/0

5/04

-99

Não

Prev

ista

Não

Prev

ista

Ano

Todo

1C

25/1

1/03

-608

Não

Prev

ista

Não

Prev

ista

01/0

5/04

-82

Não

Prev

ista

Não

Prev

ista

Ano

Todo

Ano

Todo

(365

dia

s)Sí

tioab

acate

, aça

í, ba

nana

, cac

au, c

uieira

, goi

aba,

ingá,

jambo

, lar

anja,

lim

ão, t

ange

rina,

man

ga,

pupu

nha,

tapere

bá, u

rucu

m.

1D

25/1

1/03

-624

Não

Prev

ista

Não

Prev

ista

01/0

5/04

-99

Não

Prev

ista

Não

Prev

ista

Ano

Todo

1E

25/1

1/03

-541

Não

Prev

ista

Não

Prev

ista

01/0

5/04

-15

Não

Prev

ista

Não

Prev

ista

Ano

Todo

Ano

Todo

(365

dia

s)Ro

çam

andi

oca,

milh

o1

F25

/11/

03-6

22Nã

o Pr

evis

taNã

o Pr

evis

ta01

/05/

04-9

7Nã

o Pr

evis

taNã

o Pr

evis

taAn

o To

do

2A

28/1

1/03

-398

19/0

3/04

Zero

01/0

5/04

118

19/0

3/04

10/0

6/04

11/0

6/04

at

é 18

/03/

0511

/06/

04

até

18/0

3/05

(28

0 di

as)

Bana

nal

bana

na p

erua

na

2B

28/1

1/03

-425

27/0

3/04

Zero

01/0

5/04

9227

/03/

0405

/06/

0406

/06/

04 a

té26

/03/

05

2C

28/1

1/03

-417

22/0

3/04

Zero

01/0

5/04

102

22/0

3/04

08/0

6/04

09/0

6/04

até

21/0

3/05

09/0

6/04

até

21/

03/0

5(2

85 d

ias)

Sítio

abac

ate,

abi

u, a

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na, c

oco,

cup

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,ge

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po, g

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jam

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ja,

mac

axei

ra, m

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ro01

/05/

0492

27/0

3/04

05/0

6/04

06/0

6/04

até

26/0

3/05

2E

28/1

1/03

-398

19/0

3/04

Zero

01/0

5/04

118

19/0

3/04

10/0

6/04

11/0

6/04

até

18/0

3/05

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6/04

até

18/

03/0

5(2

80 d

ias)

Roça

man

dioc

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2F

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1/03

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3/05

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duçã

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rícol

a. V

árze

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o Ri

o So

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as.

Agricultura Familiar na Amazônia das Águas 115

04_agricultura.qxp:Layout 1 26.03.08 21:41 Page 115

Page 118: Agricultura Familiar na Amazônia das Águas

Loca

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Lâm

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Com

pone

nte

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ível

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Máx

imo

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8/04

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8/04

até

28/0

3/05

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até

28/

03/0

5(2

29 d

ias)

Roça

milh

o, m

andi

oca,

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2/03

-745

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Prev

ista

Não

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-93

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Ano

todo

Ano

todo

(36

5 di

as)

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açaí,

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bac

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bana

na, c

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, caju

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,lar

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lim

a, lim

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B05

/12/

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o Pr

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o Pr

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taNã

o Pr

evis

ta-1

14Nã

o Pr

evis

taNã

o Pr

evis

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o to

do

4C

06/1

2/03

-682

Não

Prev

ista

Não

Prev

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-38

Não

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ista

Não

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ista

Ano

todo

Ano

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(36

5 di

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taco

uve,

coe

ntro

, mel

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/12/

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03Nã

o Pr

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o Pr

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o Pr

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2Nã

o Pr

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o to

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4E

08/1

2/03

-363

17/0

3/04

Zero

01/0

7/04

278

17/0

3/04

09/0

8/04

10/0

8/04

até

16/0

3/05

10/0

8/04

até

16/

03/0

5(2

18 d

ias)

Culti

vom

ilho

e m

elan

cia

4F

09/1

2/03

-427

28/0

3/04

Zero

01/0

7/04

226

28/0

3/04

05/0

8/04

06/0

8/04

até

27/0

3/05

COAR

I

5A

08/1

2/03

-900

Não

Prev

ista

Não

Prev

ista

30/0

6/04

-170

Não

Prev

ista

Não

Prev

ista

Ano

Todo

Ano

Todo

(365

dias

)Si

tioba

nana

, cac

au, g

oiab

a e

jam

bo5

B08

/12/

03-1

016

Não

Prev

ista

Não

Prev

ista

30/0

6/04

-195

Não

Prev

ista

Não

Prev

ista

Ano

Todo

5C

08/1

2/03

-639

18/0

5/04

Zero

30/0

6/04

105

18/0

5/04

07/0

8/04

08/0

8/04

até

17/0

5/05

08/0

8/04

até

17/

05/0

5(2

83 d

ias)

Plan

tiom

axixe

, tom

ate,

mal

va, m

ilho

e ce

bolin

ha5

D08

/12/

03-9

34Nã

o Pr

evist

aNã

o Pr

evist

a30

/06/

04-2

10Nã

o Pr

evist

aNã

o Pr

evist

aAn

o To

do

6E

09/1

2/03

-738

Não

Prev

ista

Não

Prev

ista

30/0

6/04

-20

Não

Prev

ista

Não

Prev

ista

Ano

Todo

Ano

Todo

(365

dias

)Si

tioaç

aí, a

cero

la, b

acab

a, b

anan

a, c

acau

, coc

o,je

nipa

po, g

oiab

a, g

ravio

la, l

aran

ja, l

imão

,m

anga

e p

upun

ha6

F09

/12/

03-7

72Nã

o Pr

evist

aNã

o Pr

evist

a30

/06/

04-5

5Nã

o Pr

evist

aNã

o Pr

evist

aAn

o To

do

6G

09/1

2/03

-608

17/0

5/04

Zero

30/0

6/04

110

17/0

5/04

07/0

8/04

08/0

8/04

até

16/0

5/05

08/0

8/04

até

16/

05/0

5(2

82 d

ias)

Horta

repo

lho,

qui

abo,

mel

ão, j

erim

um, t

omat

e,m

andi

oca

e m

acax

eira

6H

09/1

2/03

-720

29/0

6/04

Zero

30/0

6/04

1029

/06/

0401

/07/

0402

/07/

04 a

té28

/06/

05

Agricultura Familiar na Amazônia das Águas116

04_agricultura.qxp:Layout 1 26.03.08 21:41 Page 116

Page 119: Agricultura Familiar na Amazônia das Águas

Loca

l(*

)

Lâm

ina

d'ág

ua e

m re

laçã

o ao

nív

el d

o so

lo (

cm)

Prev

isão

de

iníc

io e

fina

l de

inun

daçã

oPr

evis

ão d

e pe

ríodo

não

inun

dado

Com

pone

nte

Espé

cies

cul

tivad

asOb

serv

ado

Ao n

ível

do

solo

Máx

imo

Data

Cota

Da

taCo

taDa

taCo

taIn

icio

Fina

lNo

s Po

ntos

Área

Tot

al

IRAN

DUBA

8A

16/1

0/03

-470

30/0

4/04

Zero

30/0

6/04

290

30/0

4/04

31/0

8/04

01/0

9/04

até

29/0

4/05

01/0

9/04

até

29/

04/0

5(2

41 d

ias)

Plan

tiom

alva

, mel

anci

a, m

andi

oca

e je

rimum

8B

16/1

0/03

-736

09/0

6/04

Zero

30/0

6/04

3009

/06/

0403

/08/

0404

/08/

04 a

té10

/06/

05

8C

18/1

0/03

-210

19/0

2/04

Zero

30/0

6/04

548

19/0

2/04

26/0

9/04

27/0

9/04

até

18/0

2/05

27/0

9/04

até

18/

02/0

5(1

45 d

ias)

Plan

tioto

mat

e e

milh

o8

D18

/10/

03-4

5122

/09/

04Ze

ro30

/06/

0431

022

/04/

0403

/09/

0404

/09/

04 a

té21

/04/

05

CARE

IRO

DA V

ÁRZE

A

9E

18/1

0/03

-885

Não

Prev

ista

Não

Prev

ista

30/0

6/04

-90

Não

Prev

ista

Não

Prev

ista

Ano

Todo

Ano

Todo

(365

dias

)Pl

antio

mac

axei

ra e

ban

ana

9F

18/1

0/03

-924

Não

Prev

ista

Não

Prev

ista

30/0

6/04

-135

Não

Prev

ista

Não

Prev

ista

Ano

Todo

9G

18/1

0/03

-877

Não

Prev

ista

Não

Prev

ista

30/0

6/04

-80

Não

Prev

ista

Não

Prev

ista

Ano

Todo

Ano

Todo

(365

dias

)Si

tio

açaí,

ace

rola

, ban

ana,

cac

au, c

aju,

coc

o,cu

puaç

u, g

ravio

la, g

oiab

a, in

gá, l

aran

ja,

limor

ana,

mam

ão e

man

ga9

H18

/10/

03-9

24Nã

o Pr

evist

aNã

o Pr

evist

a30

/06/

04-1

35Nã

o Pr

evist

aNã

o Pr

evist

aAn

o To

do

Agricultura Familiar na Amazônia das Águas 117

04_agricultura.qxp:Layout 1 26.03.08 21:41 Page 117

Page 120: Agricultura Familiar na Amazônia das Águas

PARI

NTIN

S

13A

03/0

2/04

-340

10/0

5/04

Zero

30/0

6/04

3010

/05/

0409

/08/

0410

/08/

04 a

té09

/05/

0510

/08/

04 a

té 0

9/05

/05

(275

dias

)Si

tioab

acat

e, a

cero

la, a

ta, c

aju,

cui

eira

, jen

ipap

o,gr

avio

la, g

oiab

a, ja

mbo

, lar

anja

, tan

gerin

a,m

amão

, tam

arin

do, u

rua

e ur

ucum

13B

03/0

2/04

-379

Não

Prev

ista

Não

Prev

ista

30/0

6/04

-15

Não

Prev

ista

Não

Prev

ista

Ano

Todo

14A

07/0

2/04

-369

Não

Prev

ista

Não

Prev

ista

30/0

6/04

-5nã

o Pr

evist

aNã

o Pr

evist

aAn

o To

do

Ano

Todo

Sitio

abiu

, aça

í, ac

erol

a, a

pui,

araç

á bo

i, ba

caba

,ba

nana

, bur

iti, c

acau

, cac

auí,

cafe

rana

, caj

á,ca

stanh

a-de

-mac

aco,

coc

o, c

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ra,

cupu

açu,

frut

a pã

o, je

nipa

po, g

ravio

la,

goiab

a, in

gá, j

ambo

, lim

ão, l

imor

ana,

man

guei

ra, m

ari,

mar

i-mar

i, m

uric

i,m

utam

ba, s

erin

guei

ra e

tape

rebá

14B

07/0

2/04

-380

Não

Prev

ista

Não

Prev

ista

30/0

6/04

-15

Não

Prev

ista

Não

Prev

ista

Ano

Todo

14C

07/0

2/04

-144

18/0

3/04

Zero

30/0

6/04

220

18/0

3/04

12/0

9/04

13/0

9/04

até

17/0

3/05

13/0

9/04

até

17/

03/0

5(1

86 d

ias)

Plan

tio /

Horta

mac

axei

ra, j

erim

um e

max

ixe

14D

07/0

2/04

-236

31/0

3/04

Zero

30/0

6/04

135

31/0

3/04

31/0

8/04

01/0

9/04

até

30/0

3/05

14E

07/0

2/04

Zero

07/0

2/04

Zero

30/0

6/04

360

07/0

2/04

02/1

0/04

03/1

0/04

até

06/0

2/05

03/1

0/04

até

06/

02/0

5(1

27 d

ias)

Plan

tiom

ilho

14F

07/0

2/04

-144

16/0

3/04

Zero

30/0

6/04

220

16/0

3/04

10/0

9/04

11/0

9/04

até

15/0

3/05

15G

05/0

2/04

-344

21/0

5/04

Zero

30/0

6/04

2021

/05/

0419

/07/

0420

/07/

04 a

té20

/05/

0520

/07/

04 a

té 2

0/05

/05

(305

dias

)Pl

antio

mac

axei

ra

15H

05/0

2/04

-350

27/0

5/04

Zero

30/0

6/04

1527

/05/

0417

/07/

0418

/07/

04 a

té26

/05/

05

15I

05/0

2/04

-344

21/0

5/04

Zero

30/0

6/04

1521

/05/

0419

/07/

0420

/07/

04 a

té20

/05/

0520

/07/

04 a

té 2

0/05

/05

(305

dias

)Si

tioar

atic

um, a

zeito

na, b

anan

a, je

nipa

po, g

oiab

a,in

gá, l

imão

, mam

ão, m

ari e

uru

cum

15J

05/0

2/04

-350

27/0

5/04

Zero

30/0

6/04

1527

/05/

0419

/07/

0420

/07/

04 a

té26

/05/

05

15K

05/0

2/04

-193

21/0

3/04

Zero

30/0

6/04

365

21/0

3/04

05/0

9/04

06/0

9/04

até

20/0

3/05

06/0

9/04

até

20/

03/0

5(1

96 d

ias)

Plan

tio/P

asto

mal

va e

pas

tage

m

15L

05/0

2/04

-286

12/0

4/04

Zero

30/0

6/04

100

12/0

4/02

20/0

8/04

21/0

8/04

até

11/0

4/05

Loca

l(*

)

Lâm

ina

d'ág

ua e

m re

laçã

o ao

nív

el d

o so

lo (

cm)

Prev

isão

de

iníc

io e

fina

l de

inun

daçã

oPr

evis

ão d

e pe

ríodo

não

inun

dado

Com

pone

nte

Espé

cies

cul

tivad

asOb

serv

ado

Ao n

ível

do

solo

Máx

imo

Data

Cota

Da

taCo

taDa

taCo

taIn

icio

Fina

lNo

s Po

ntos

Área

Tot

al

Agricultura Familiar na Amazônia das Águas118

04_agricultura.qxp:Layout 1 26.03.08 21:41 Page 118

Page 121: Agricultura Familiar na Amazônia das Águas

Loca

l (*)

Lâm

ina

d'ág

ua e

m re

laçã

o ao

nív

el d

o so

lo (

cm)

Prev

isão

de

iníc

io e

fina

l de

inun

daçã

oPr

evis

ão d

e pe

ríodo

não

inun

dado

Com

pone

nte

Espé

cies

cul

tivad

asOb

serv

ado

Ao n

ível

do

solo

Máx

imo

Data

Cota

Da

ta

Cota

Data

Cota

Inic

ioFi

nal

Nos

Pont

osÁr

ea T

otal

SANT

ARÉM

20A

21/0

2/04

-232

07/0

5/04

Zero

31/0

5/04

4007

/05/

0409

/07/

0410

/07/

04 a

té06

/05/

0510

/07/

04 a

té 0

6/05

/05

(301

dias

)Si

tio

acer

ola,

ban

ana,

caj

u, c

asta

nha

sapu

caia,

catu

ari,

cuie

ira, f

ruta

do

cond

e, je

nipa

po,

grav

iola

, goi

aba,

ingá

, mam

ão, m

anga

, sap

oti,

uich

i e u

rucu

m20

B21

/02/

04-2

4008

/05/

04Ze

ro31

/05/

0430

08/0

5/04

07/0

7/04

08/0

7/04

até

07/0

5/05

20C

21/0

2/04

-145

05/0

4/04

Zero

31/0

5/04

130

05/0

4/04

12/0

8/04

13/0

8/04

até

04/0

4/05

13/0

8/04

até

04/

04/0

5(2

35 d

ias)

Plan

tiom

ilho

20D

21/0

2/04

-160

14/0

4/04

Zero

31/0

5/04

9514

/04/

0406

/08/

0407

/08/

04 a

té13

/04/

05

20E

21/0

2/04

-125

31/0

3/04

Zero

31/0

5/04

150

31/0

3/04

15/0

8/04

16/0

8/04

até

30/0

3/05

16/0

8/04

até

30/

04/0

5(2

58 d

ias)

Plan

tiom

andi

oca

20F

21/0

2/04

-154

08/0

4/04

Zero

31/0

5/04

120

06/0

4/04

11/0

8/04

12/0

8/04

até

07/0

4/05

21G

24/0

2/04

-88

22/0

3/04

Zero

31/0

5/04

120

23/0

3/04

20/0

8/04

21/0

8/04

até

21/0

3/05

21/0

8/04

até

21/

03/0

5(2

13 d

ias)

Sitio

acer

ola,

ara

çá, b

anan

a, c

acau

, caj

u, c

asta

nha-

de-m

acac

o, c

oco,

cui

eira

, cur

uman

zeiro

, fru

ta-

do-c

onde

, gra

viola

, goi

aba,

ingá

, mam

ão,

man

ga, m

ari,

pupu

nha,

ser

ingu

eira

, tuc

umã,

uich

i e u

rucu

m21

H24

/02/

04-1

3407

/04/

04Ze

ro31

/05/

0413

007

/04/

0411

/08/

0412

/08/

04 a

té06

/04/

05

21I

24/0

2/04

Zero

24/0

2/04

Zero

31/0

5/04

250

24/0

2/04

16/0

9/04

17/0

9/04

até

23/0

2/05

17/0

9/04

até

23/

02/0

5(1

60 d

ias)

Plan

tiom

andi

oca

e ju

ta21

J24

/02/

04-1

3407

/04/

04Ze

ro31

/05/

0413

007

/04/

0411

/08/

0412

/08/

04 a

té06

/04/

05

23K

27/0

2/04

-126

07/0

4/04

Zero

31/0

5/04

130

07/0

4/04

12/0

8/04

13/0

8/04

até

06/0

4/05

13/0

8/04

até

06/

04/0

5(2

37 d

ias)

Sitio

açaí,

ace

rola

, ban

ana,

coc

o, c

uiei

ra, f

ruta

-pão

,gr

avio

la, g

oiab

a, in

gá, m

amão

e m

anga

23L

27/0

2/04

-140

13/0

4/04

Zero

31/0

5/04

110

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Dos oito sítios amostrados nessa pesquisa quatro estão em áreasinundáveis somente na ocorrência de enchentes acima dos níveis da médiahistórica e estão localizadas na região de Coari, Manaus e Parintins. Um sítiode Parintins apresentou o maior número de espécies frutíferas arbóreas (32espécies) e a segunda em área ocupada pelo sítio (1,75 hectares), situada emuma faixa de terreno (50x350 metros) de cota mais elevada (entre 3,69 e 3,80metros, na data da observação). Todos os sítios permanecem com as áreaslivres da inundação, no mínimo, por 213 dias, mesmo estando localizados emáreas sujeitas a inundações nos anos em que os níveis da enchente situam-se namédia histórica. Entretanto, as enchentes acima das médias históricas é umfator que limita o cultivo de espécies perenes menos adaptadas aos ambientesúmidos.

Na figura 6, onde são apresentadas as espécies frutíferas cultivadas efreqüência de ocorrência na unidade de produção da localidade de SãoFrancisco Padre Lima, município de Coari, algumas espécies muito valorizadascomo a laranja e o coco são cultivadas no sítio, mas com baixa frequência.Unidades de produção localizadas em áreas sujeitas às inundações apresentamsignificativa participação de espécies frutíferas arbóreas geneticamenteadaptadas aos ambientes de solos encharcados. Por exemplo, em uma unidadede produção da Costa do Aritapera, no município de Santarém, cujo sítiolocaliza-se em uma área sujeita à inundação durante 152 dias (Tabela 3), das21 espécies encontradas 14 são adaptadas aos ambientes úmidos, segundo FAO(1986) e Purseglove (1982). Espécies mais sensíveis aos ambientes de solosencharcados (do gênero Citrus, de maneira geral, cupuaçu, pupunha, abacate),de acordo com FAO (1986) e Purseglove (1982), raramente são encontradasnos sítios sujeitos às inundações, pois o desenvolvimento é extremamenteprejudicado.

Pela Tabela 1 é possível comparar dois sítios, um localizado em área devárzea do Igarapé de Parintins (Amostra 14), no município de Parintins e ooutro localizado em área de terra-firme, no Lago Grande de Curuaí (Amostra19), no município de Santarém. A unidade de várzea apresenta 32 espéciesfrutíferas arbóreas, enquanto a de terra-firme apresenta 27 espécies. A maiordiversidade genética no sítio de várzea deveu-se à presença de espécies poucotolerantes aos ambientes úmidos (bacaba, coco, cupuaçu, fruta-pão, jambo,limão), ao passo que o sítio de terra-firme não apresenta espécies de várzeacomo o açaí, castanha-de-macaco, jenipapo e taperebá.

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Pela comparação entre as unidades de produção localizadas na mesmaregião, mas com diferenças no tocante à altitude em relação à lâmina d’águapode-se inferir que a agrodiversidade é maior nas áreas menos sujeitas àsinundações. Por exemplo, no Baixo Solimões, a unidade de produçãolocalizada no município de Iranduba, ocupando áreas agricultáveis entre 145 a241 dias por ano e a outra localizada no município de Careiro da Várzea, comáreas não inundáveis nos anos em que os níveis médios históricos sãoobservados, verifica-se que, enquanto no primeiro somente é possível seremcultivadas espécies anuais com ciclo, no máximo, de 8 meses, na segunda sãocultivadas espécies frutíferas arbóreas pouco tolerantes aos solos encharcadoscomo cupuaçu, laranja e mamão.

Nas áreas de roças e de cultivo de espécies de ciclo curto, os resultadosmostram que, como já apontaram autores como Guillaumet et al. (1990 e1993), os plantios são efetuados de acordo como a descida das águas iniciando-se com as de ciclo mais longo, como a mandioca e macaxeira, a seguir asespécies de ciclo mais reduzido produtoras de grãos e as hortaliças (feijão,milho, melancia, jerimum) e deixando para o final do período de semeaduraaquelas de ciclo mais curto e que necessitam de água no processo debeneficiamento (juta, malva). As praias, nos locais onde ocorrem, muitas vezessão aproveitadas para o plantio de batata-doce e feijões.

Os trabalhos de Pinto (1982) e Noda (1985) apontam que desde aSegunda Guerra Mundial, a estratégia de manejo dos recursos pelo homem davárzea tem se desenvolvido em relação à produção da juta, com a pesca e apecuária de pequena escala funcionando como importantes atividadescomplementares. Cada uma dessas atividades concentra-se em um habitatparticular, permitindo assim que os “varzeiros” explorem simultaneamentediferentes zonas ecológicas da paisagem da várzea. Os autores relatam que osespaços denominados restingas foram os locais favoráveis à ocupação humanae à produção de juta, os lagos de várzeas sempre serviram como principaisáreas de pesca, e as pastagens naturais usadas para a pecuária no período deáguas baixas.

Na região do estuário, no município de Gurupá, a diferença de cota daságuas entre o pico da enchente e a seca máxima é de 2 metros, levando-se emcontas os níveis médios históricos. Os resultados sugerem que o efeito do pulsodas águas naquela região, aparentemente, não é relevante como nas demaisregiões estudadas. Tomando como indicadores a presença de espécies frutíferasarbóreas observamos que todas as unidades de produção amostradas no

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município de Gurupá, apresentam espécies pouco tolerantes aos solosencharcados (gênero Citrus) tanto em um sítio localizado em área com cotaentre 1,98-2,17 metros, na data de observação, como naquelas de cota menores.Uma característica marcante dos sítios daquele município é alta freqüência doaçaí (Euterpe oleracea Mart.) e, ao contrário do que ocorreu nas demaisregiões levantadas, a freqüência relativamente baixa da mandioca nas roças.

Levando-se em conta as limitações impostas pela localizaçãotopográfica (altitude) dos sítios, podemos observar que algumas espécies sãocaracterísticas de determinadas regiões. Por exemplo, o mapati (Pouroumacecropiaefolia Mart.) aparece somente no extremo oeste (Alto Solimões),enquanto espécies como castanha-de-macaco (Couroupita guianensis Aubl.) ecastanha sapucaia (Lecythis pisonis Camb.), começam aparecer a partir deSilves indo na direção leste até Santarém, no Baixo Amazonas. Como jáfrisaram Lima (1994) e Lima & Saragoussi (2000), os sítios são os locais ondenovas cultivares e novas espécies são introduzidas e testadas e as de usocorrente pela família são mantidas, como um recurso para a restauração dasroças e outros tipos de plantios, inclusive com estratégias próprias para fazerfrente às enchentes. Desse modo, nos casos em que não ocorram limitaçõesquanto à adaptação ambiental de espécies, seria interessante incentivar umprocesso de compartilhamento de recursos genéticos entre as regiões paraelevar os níveis de biodiversidade dos sistemas agrícolas.

Segundo Begossi (2001), a apropriação dos espaços anfíbios das áreasde várzea, pelos agricultores familiares é apresentada como representaçãosocial dos mecanismos de adaptação às características peculiares desseambiente. A autora aponta para a questão do nível das águas ser normalmente,um importante aspecto da vida dos caboclos, pois sua subsistência, baseada naagricultura de pequena escala e na pesca, está adaptada e realiza-se sob o ritmodos pulsos das águas. Por outro lado, Denevan (2001) apresenta o homem queocupa a várzea como um indivíduo que desenvolveu estratégias adaptativaspeculiares, principalmente, nos aspectos de utilização dos recursos naturaisaquáticos e terrestres. O habitante da várzea faz uso do solo para atividadesagrícolas, pecuárias e extrativistas numa racionalidade de ocupação do espaçoem acordo com o ecossistema. Com o fenômeno das enchentes dos rios, asatividades produtivas obedecem a uma lógica temporal, aliada a racionalidadeespacial apontada, no que diz respeito aos efeitos de suporte a fertilização dossolos e aos ciclos produtivos dos vegetais (Noda et al., 2001).

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MANEJO DOS RECURSOS DISPONÍVEIS E COEFICIENTES FITOTÉCNICOS

Em toda a calha Solimões-Amazonas, o cultivo da mandioca emacaxeira é realizada sob a forma de consórcio com hortaliças, feijão, milho,banana e outras fruteiras ou em monocultivo e a produção destinada aoconsumo e venda. O cultivo de mandioca é comum a todas as regiões naAmazônia (Peroni, 1998). As cultivares contendo altos teores de ácidocianídrico (venenosas) são denominadas mandioca e as com baixos teores (nãovenenosas) macaxeira, ambas da espécie Manihot esculenta. A mandioca é umcomponente básico do sistema de produção agrícola na Amazônia devido suadupla finalidade: subsistência e comercialização. A farinha de mandioca é,praticamente, o único produto agrícola que não é comercializado in natura.Assim como os povos autóctones da Amazônia, o pequeno produtor transformaquase toda a sua produção de mandioca em farinha utilizando-se de processosinteiramente artesanais.

A mandioca é plantada quando as águas baixam e a colheita é realizadano sexto mês. Quando ocorrem cheias grandes ou antecipadas, pode haverperda de parte da produção. A amplitude de variação do rendimento ficouentre 1,25 a 2,70 toneladas/ha e o maior rendimento em farinha foi estimadopara o Médio Solimões com 3,60 a 4,00 t/ha. A produtividade em raízes,estimada na região do Médio Amazonas foi de 10 t/ha. A maior variabilidadegenética da espécie na várzea foi encontrada no Baixo Amazonas com 19variedades de mandioca e 8 de macaxeira. Em área de terra-firme adjacente àvárzea, em Santarém, no Baixo Amazonas, foram encontradas 13 variedadesde mandioca e 2 de macaxeira. Em três unidades de produção, em Oriximiná eÓbidos, a mandioca e ou macaxeira não foram cultivadas no ano agrícola2003/2004. Os agricultores visitados naquelas localidades informaram queparte do atendimento às suas necessidades em farinha de mandioca é supridapor parentes que fazem o cultivo na terra-firme.

Gurupá, no Estuário, foi onde a diversidade genética em termos devariedades (clones) de Manihot esculenta Crantz se mostrou mais pobre, comapenas uma variedade mansa (macaxeira).

O milho é produzido em monocultivo e o rendimento estimado em grãosvariou de 640 kg/ha (Alto Solimões) até 2 t/ha (Médio Solimões). Para aprodução em espiga verde, o rendimento estimado foi de 2.000 a 4.800unidades/ha em consórcio e 15.000 unidades/ha em monocultivo e são

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cultivadas 3 variedades. A produção é destinada ao consumo e venda. Quandoé plantado, também, em consórcio com arroz, jerimum, melancia, melão,tomate ou mandioca.

Em Parintins, no Baixo Amazonas, foram encontradas em duas unidadesde produção a maior diversidade genética em banana (16 espécies ouvariedades) cultivadas em monocultivo e consórcio. De maneira geral, adiversidade é grande e os rendimentos estimados em cachos variaram de 60unidades/mês/ha em consórcio e 400 a 1000 unidades/mês/ha em monocultivopor unidade de produção.

O feijão caupi foi encontrado sendo plantado em uma unidade deprodução e sua colheita destinada para a venda e o rendimento foi estimado entre1 a 2 t/ha. O feijão de metro é cultivado em consórcio para consumo e venda e orendimento estimado é de 10 maços/semana, na região do Médio Amazonas.

Em duas unidades de produção foi detectado o cultivo de espéciesindustriais para extração de fibras. O cultivo da malva é uma espécie industrialque está voltando à várzea do Estado do Amazonas sendo detectada nosmunicípio de Tefé, Iranduba e Parintins. Em Tefé, o rendimento da malva éestimado em 1 t/ha de fibra. Em Santarém foi encontrado um cultivo de juta,em uma área de 1 hectare e o rendimento esperado foi de 2 t/ha.

Geralmente, as unidades de produção de todas as regiões possuem sítiosonde são cultivadas espécies arbóreas frutíferas, hortaliças e medicinais. Duasunidades, em Tefé e Iranduba, não possuíam sítios por estarem localizadas emáreas baixas e, portanto, sujeitas às inundações todos os anos. No Paraná doSerpa, em Itacoatiara, foi encontrado o maior sítio de toda a área levantadaneste estudo (19.600 m2), onde as presenças de seringueira e cacaupredominam, evidenciando ser uma antiga área de produção dessas duasespécies. No município de Santarém, a banana sempre é uma das principaisocorrências. Provavelmente, algumas espécies são enfatizadas em função dasua comercialização. Em Tapará, no município de Santarém, localiza-se omenor sítio com 957 m2 e com 19 espécies frutíferas arbóreas. Animais depequeno porte (galinhas, patos, paturi, ganso e porco) são criados na área dosítio e destinados ao consumo e venda. Em Parintins, foi constatada, também,a criação de abelha sem ferrão (16 colméias).

A olericultura é uma prática generalizada, sendo a produção destinada aoconsumo e venda. As espécies olerícolas mais cultivadas são o tomate,pimentão, couve, mastruz, cebolinha, coentro, alfavaca, pimenta, pepino,maxixe, feijão de metro, jerimum, repolho, melão, chicória e jambu. Segundo

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Pahlen et al. (1979) as várzeas são as áreas onde ocorrem as maiores produçõesde hortaliças que abastecem parte da demanda, principalmente as espécies nãoconvencionais, das cidades amazônicas. Em Itacoatiara, Parintins e Oriximiná,algumas hortaliças são produzidas em canteiros suspensos e destinadas,principalmente, para comercialização. Nos municípios localizados no interiordos Estados do Amazonas e do Pará, mesmo no período da cheia, as sedes sãoabastecidas com hortaliças da várzea, produzidas em canteiros suspensos emsubstrato composto por esterco de gado e restos de tronco de árvoresacondicionados em estruturas de madeira, que permanecem acima do níveld’água nas enchentes (IDAM, 2002; Prefeitura Municipal de Parintins, 2004;Prefeitura Municipal de Oriximiná, 2002 e 2003). O município de Parintins éabastecido com olerícolas como tomate, maxixe, pimentão, alface, feijão demetro e berinjela, obtidas com essa técnica e produzidas nas comunidadesrurais localizadas ao longo do Paraná do Limão (Silva Filho et al., 2001). EmGurupá, todas as unidades de produção cultivam hortaliças somente paraconsumo.

O pousio da terra é uma técnica tradicional de manejo do solo e utilizadade maneira generalizada pelos agricultores da várzea. As áreas de pousiopodem ter cobertura vegetal com espécies arbóreas (capoeira) ou comgramíneas. O extrativismo vegetal é, também, uma atividade geralmenteadotada e em Gurupá apresenta expressão econômica importante,principalmente com o manejo do açaí para produção de frutos e palmito.

Em relação ao uso do solo para pecuária foi observado que no AltoSolimões nenhuma área interna das unidades de produção é destinadaespecificamente para a criação bovina ou bubalina (pastagem cercada). Naregião do Médio Solimões, a estimativa da área média de pastagem cercada dasunidades de produção é 2,01%. Já na região do Baixo Solimões, próxima àManaus, a estimativa da área média de pastagem cercada das unidades deprodução é 18,90%. No Médio Amazonas, os valores sobem para 58,10%; nomunicípio amazonense de Parintins, no Baixo Amazonas com 64%; no BaixoAmazonas, no Estado do Pará, abrangendo os municípios paraenses deOriximiná, Óbidos e Santarém, com 66%, e em Gurupá, 64%. Esses resultadosevidenciam que a expansão das áreas de pastagem e criação de gado na várzeado rio Solimões-Amazonas expande-se do sentido leste-oeste.

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INDICADORES DA SUSTENTABILIDADE SOCIAL, ECONÔMICA EAMBIENTAL DAS UNIDADES DE PRODUÇÃO FAMILIAR

A estimativa da sustentabilidade social, econômica e ambiental doprocesso produtivo foi obtida através da avaliação de parâmetros relacionadosaos níveis do atendimento estável às demandas da unidade de consumo, emtermos de alimentos e demais produtos agropecuários destinados aoautoconsumo e geração de renda monetária.

Foram estimadas as conseqüências econômicas, sociais e ambientaisrelacionadas ao uso e manejo dos recursos disponíveis e das técnicas agrícolasadotadas na produção agropecuária utilizando-se parâmetros que permitissemmensurar a fração da contribuição individual de cada indicador, em número denove, na sustentabilidade econômica, social e ambiental de unidade deprodução agrícola. Os indicadores são: a. Quantidade, diversidade e qualidadeda produção agrícola e extrativista; b. Fatores empregados no processo deprodução; c. Sustentabilidade econômica, social e ambiental do processoprodutivo; d. Evidências de desenvolvimento econômico e social da unidade deprodução; e. Ocupação em atividades de trabalho fora a unidade de produção;f. Mobilidade de trabalho de membros da unidade de produção; g. Nível desatisfação de alimentos demandadas pela unidade de consumo; h. Geração derenda monetária pela venda da produção e i. Nível de sustentabilidadeambiental do processo produtivo.

Com isso, foi possível estruturar um arcabouço de conhecimentos nosentido de analisar, interpretar e entender os aspectos fundamentais que levamao produtor decidir sobre a sua permanência na atividade agrícola, no localonde executa as atividades produtivas, na contribuição do produto gerado naunidade de produção para o desenvolvimento econômico, social e ambiental,tendo como referências sua família, seu grupo social, sua comunidade,município e Estado e, ao mesmo tempo, as experiências ocorridas no tocanteao uso do solo, na várzea da calha Solimões-Amazonas, para a produçãoagrícola e pecuária; os impactos ambientais, sociais e econômicos resultantesdessas experiências na perspectiva da avaliação e reformulação dos atuaisprogramas de pesquisa e extensão voltadas para o desenvolvimento do setoragrícola.

A análise conjunta para nove indicadores de sustentabilidade social,econômica e ambiental no âmbito de toda a calha Solimões-Amazonas éapresentado a seguir:

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• Quantidade, diversidade e qualidade da produção agrícola eextrativista: de maneira geral, as unidades de produçãoconseguem níveis satisfatórios quanto à produção agrícola eextrativista e algumas apresentam níveis elevados quanto àquantidade, diversidade e qualidade de produção agrícola. Emrelação ao cultivo da mandioca, alimento calórico básico dosagricultores da várzea, ao contrário do que ocorre na terra-firme,as cultivares utilizadas na várzea são, preferencialmente,precoces. Isso porque, na várzea, os agricultores não podem“armazenar” as raízes tuberosas, postergando a colheita, comofazem os agricultores de terra-firme com suas cultivares tardias(Noda, 1985). A falta de espaço físico para a agricultura e asrestrições ambientais para a agricultura (área de pastagem e debaixa altitude (várzea baixa) interferem na quantidade e nadiversidade da produção para consumo e venda. Algumasunidades de produção ressentem da falta de espaço para osplantios e outras ocupam áreas de várzea baixa.

• Fatores empregados no processo de produção: força de trabalhofamiliar; propágulos produzidos na própria unidade de produção,o que torna o processo produtivo altamente autônomo.Eventualmente alguns insumos, principalmente sementes, sãofornecidos pelo órgão municipal de extensão. Eventualmente sãousados agroquímicos, inseticidas na olericultura e herbicidas nocontrole de ervas invasoras na pastagem. A fertilização é,preferencialmente, feita com adubos orgânicos.

• Sustentabilidade econômica, social e ambiental do processoprodutivo: as unidades de produção, com poucas exceçõesdaquelas que se dedicam exclusivamente à pecuária ou quesituam-se em locais muito baixos, utilizam a restinga alta para ocultivo de espécies frutíferas arbóreas. Algumas situadas emlocais mais elevados, menos sujeitos às inundações anuais,conseguem manter espécies frutíferas pouco tolerantes aos solosencharcados. As unidades que apresentam a limitação de uso dosolo o ano todo, por estarem situadas na várzea baixa, geralmenteapresentam boas colheitas das espécies anuais (mandioca, milho,

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melancia, feijão e hortaliças) na época da vazante em função darefertilização natural promovida pelas enchentes anuais. Algumasunidades de produção ocupam grande parte das áreas agrícolascomo pastagem para criação de gado bovino, principalmente naparte oriental da calha Solimões-Amazonas. Supõe-se que essaforma de manejo do solo seja inadequada em função da perda devariabilidade biológica, além de aumentar os riscos de degradaçãodo solo (compactação) devido ao pisoteio do gado.

• Evidências de desenvolvimento econômico e social das unidadesde produção: parte da produção de alimentos é consumida pelaunidade de consumo e parte é vendida, evidenciando entrada derenda monetária na unidade de produção. A malva e juta sãoespécies industriais cultivadas com o intuito de gerar rendamonetária. Ocorre, também, entrada de renda monetária naunidade de produção propiciada pela venda da produção dehortaliças e, algumas comunidades devido à proximidade decentros urbanos, como Manaus, tem facilitada a comercializaçãoda produção. A produção diversificada é uma estratégia quepermite suprir as necessidades da unidade de consumo e gerarrenda monetária pela venda da parte excedente da produção. Essarenda monetária pode suprir as demandas em produtos nãogerados pela unidade de produção e propiciar o acesso aosserviços não disponíveis nas comunidades. Algumas unidades deprodução, com aumento das freqüências de ocorrência a partir doBaixo Solimões em direção ao Baixo Amazonas, estãoestruturadas fisicamente para a produção pecuária, sendo que aracionalidade dessa estrutura física é fundamentada no sistema deprodução na qual o animal criado (boi) constitui uma “poupança”,ou seja, uma mercadoria de alta liquidez, possível de sertransformada em moeda em curto prazo. A geração de rendamonetária é, basicamente, propiciada pela venda de hortaliças,frutos, como o cacau e outros produtos alimentares e animais depequeno porte (galinhas). Outra parte da produção agrícola éconsumida pela unidade de consumo.

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• Ocupação em atividades de trabalho fora das unidades deprodução: com exceção das atividades relacionadas aos processosde “ajuda mútua” comunitária, toda a força de trabalho é utilizadana unidade de produção familiar.

• Mobilidade de trabalho de membros das unidades de produção:não há evidências de venda de força de trabalho. Segundo Noda(1985), em comunidades formadas por famílias extensas é comumque se estabeleçam relações de trabalho tradicionais (ajudamútua), do tipo parceria ou mutirão. Em se tratando de famíliasnucleares isoladas, eventualmente, a solução adotada pode ser acontratação de trabalhadores assalariados temporários visando,em ambos os casos, multiplicar temporariamente a força detrabalho da unidade de produção, para em menor tempo, processartoda a produção de mandioca.

• Nível de satisfação de alimentos demandadas pelas unidades deconsumo: boa e diversificada, em alguns casos excelentes. Arestrição na produção de alimentos pode ser devida à extremasuscetibilidade às enchentes, o que impossibilita o cultivo deespécies fruteiras perenes. Há suprimento de alimento de origemvegetal e animal. A produção vegetal e animal permitem alcançar asatisfação das necessidades alimentares da unidade de consumo. Ossistemas de produção podem gerar quantidade de renda monetária ede produtos que satisfazem as necessidades básicas da unidade deconsumo. A pesquisa do IBGE (2004), denominada Pesquisa deOrçamento Familiar, mostra essa característica da agriculturafamiliar, no âmbito brasileiro.

• Geração de renda monetária pela venda da produção: pela venda daprodução excedente e da produção destinada exclusivamente àcomercialização. Os principais produtos comercializados são farinhade mandioca, feijão, milho, banana, hortaliças, frutas, fibras (malvae juta), látex e pequenos animais de criação. O processo produtivopolivalente favorece a manutenção de alta diversidade biológicaproporcionando a sustentabilidade ambiental. A existência de áreascom florestas naturais, permite a prática do extrativismo.

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• Nível de sustentabilidade ambiental do processo produtivo: Boaem função de biodiversidade e pela existência de áreas ainda comflorestas naturais, onde é praticado o extrativismo vegetal (coletade jenipapo, taperebá, castanha de macaco, ingá), plantasmedicinais e madeira para construção e combustível. Amanutenção da variabilidade genética da mandioca e das demaisespécies agrícolas pelos produtores da várzea tem funcionadocomo uma estratégia adaptativa à diversidade ambientalamazônica, pois tem permitido a produção estável desse alimentoimprescindível às populações humanas, tanto na várzea como naterra-firme. Martins (2001) chama atenção sobre a grandeimportância dos fatores biológicos e culturais inerentes às formasde produção dos caboclos que, além de manter, vem gerando eamplificando a variabilidade genética da espécie.

A área de pousio com capoeira é, também, utilizada para o extrativismovegetal coleta de frutos, plantas medicinais e madeira para construção ecombustível. A transformação de grande parte das unidades de produção emáreas de pastagem, reduzindo a biodiversidade, provavelmente vemacarretando efeitos negativos ao nível de sustentabilidade ambiental. Oprocesso produtivo voltado ao mercado, praticado com o monocultivo deespécies anuais, poderá comprometer a sustentabilidade social, econômica eambiental. A manutenção da paisagem natural é um fator importante para asustentabilidade ambiental, em longo prazo. A forma de produção (exploraçãonão destrutiva dos recursos disponíveis) adotada pelas unidades de produção éinteressante sob o ponto de vista ambiental, pois concilia o uso econômico deum recurso existente e cuja conservação é fundamental para a sustentabilidadedos processos produtivos.

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CONCLUSÕES E PROPOSIÇÕES

A análise dos dados obtidos permitiu, numa primeira aproximação e sobo ponto de vista do uso e gestão dos fatores canalizados na produção, dastecnologias empregadas, no âmbito do manejo dos recursos ambientaisutilizados na produção pelos agricultores de várzea, no sentido amplo, umresultado na seguinte direção:

• O assentamento e a permanência do agricultor na várzea do rioAmazonas-Solimões deu-se através de um processo adaptativo dohomem ao ambiente amazônico quando entendido no sentido dotermo “adaptação” como satisfação às demandas mínimas dareprodução biológica e social;

• A análise das técnicas de cultivo agrícola e o manejo dos recursosdisponíveis permitem inferência que a agricultura praticada pelosprodutores familiares de várzea é sustentável, na medida em queseja entendida como um processo contínuo e estável de produção,no qual a entrada de nutrientes no sistema, em grande parte, épromovida pela sua reciclagem;

• Ao contrário do que tem ocorrido nas áreas de assentamentodirigido, a agricultura na várzea do rio Solimões-Amazonas nãovem promovendo o corte de matas primárias para a instalação daslavouras devido ao uso de técnicas tradicionais de recuperação dafertilidade dos solos (pousio), que associado à ocupação de áreasdiminutas para a produção agrícola (roças, plantios e sítios),permite uma atividade agrícola sustentável, sob o ponto de vistaambiental, propiciada pelos ciclos de consumo (agricultura) eentrada de nutrientes (pousio) no sistema de produção;

• As técnicas de produção adotadas pelos produtores é mais limpaquando se compara com aquelas praticadas pela agricultura“moderna” tendo em vista o uso restrito de agroquímicos;

• O nível de diversidade biológica nas unidades de produçãoagropecuária da várzea do rio Solimões-Amazonas é muito

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elevado levando-se em conta o observado na agricultura demonocultivo de outras regiões brasileiras. Nos sítios da região doMédio/Baixo Amazonas foram encontradas 223 espécies deplantas cultivadas ou protegidas.

• Os produtores de várzea produzem quantidade e qualidade deprodutos agrícolas capazes de satisfazer suas necessidades emalimentos das unidades de consumo familiar. Por outro lado, omanejo dos ambientes naturais, responsáveis por parte dosuprimento de alimentos fundamentais, permite aos produtores aprática do extrativismo animal e vegetal sustentáveis a partir deuma cronologia baseada nos ciclos biológicos naturais (estoquespesqueiros e extrativismo vegetal na floresta);

• A geração da renda monetária, através da comercialização deprodutos agrícolas, pode ocorrer de duas formas: venda doexcedente da produção não consumida pela unidade de consumo(por exemplo: farinha de mandioca, frutos na época de safra,animais de pequeno porte) e pela venda da fração da produçãodestinada à comercialização como algumas frutas (banana,manga, goiaba), grãos (milho, feijão, arroz) e fibras (malva e juta)e produtos do extrativismo (frutos e palmito de açaí);

• As unidades de produção da várzea produzem, na atualidade,quantidade de produtos agrícolas capazes de contribuir para oabastecimento das áreas urbanas. Esse aspecto pode serconstatado pela diversidade e quantidade de produtos geradosque, pela impossibilidade de dispor de um mercado consumidor,não são comercializados;

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APÊNDICE 1. Espécies encontradas no componente sítio do sistema de produção na calha do Rio Solimões-Amazonas.Amazonas-Pará. 2003-2004.

Denominação Regional Espécie1. Abacate Persea americana Mill.2. Abacaxi Ananas comosus (L.) Merr.3. Abiu Pouteria caimito (Ruiz & Pav.) Radlk.4. Abiurana Micropholis sp.5. Açafroa Curcuma longa L.6. Açaí-do-Amazonas Euterpe precatoria Mart.7. Açaí-do-Pará Euterpe oleracea Mart.8. Acerola Malpighia glabra L.9. Agave Agave sp.10. Alecrim Rosmarinus officinalis L.11. Alfavaca Ocimum campechianum Mill.12. Algodão Gossypium barbadense L.13. Algodão-branco Gossypium hirsutum L.14. Algodão-roxo Gossypium arboreum L.15. Amendoim Arachis hypogaea L.16. Amor-crescido Portulaca pilosa L.17. Anador Coleus barbatus Benth.18. Angelim Hymenolobium sp.19. Anilina Cissus sp.20. Apuí Ficus sp.21. Araçá Psidium guianense Pers.22. Araçá-boi Eugenia stipitata McVaugh.23. Araticum Annona montana Macfad.24. Arnica-de-planta Arnica montana L.25. Arruda Ruta graveolens L.26. Arumã Ischnosiphon ovatus Körn.27. Ata Annona squamosa L.28. Azeitona Syzygium jambolanum (Lam.) DC.29. Babosa Aloe vera (L.) Burm. f.30. Bacaba Oenocarpus bacaba Mart.31. Bacabão Oenocarpus sp.32. Bacabinha Oenocarpus minor Mart.33. Bacuri Platonia insignis Mart.34. Banana Musa sp.35. Batata-doce Ipomoea batatas (L.) Lam.36. Begônia Begonia palmata D. Don37. Beldroega Portulaca oleracea L.38. Benjamin Ficus sp.39. Biribá Rollinia mucosa (Jacq.) Baill.40. Boca-de-lobo n.i.41. Boldo Peumus boldus Molina42. Boldo-da-folha-peluda Plectranthus barbatus Andrews43. Boldo-da-índia Plectranthus sp.44. Brasileirinho Caladium humboldtianum Schott45. Breu Protium sp.46. Brinco-de-dama n.i.

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Denominação Regional Espécie47. Buriti Mauritia flexuosa L.48. Buscopam n.i.49. Cacau Theobroma cacao L.50. Cacauí Theobroma bicolor Bonpl.51. Cachorro-pelado n.i.52. Cacto Opuntia sp.53. Café Coffea arabica L.54. Caferana Picrolemma sprucei Hook. f.55. Caju Anacardium occidentale L.56. Cama-de-jesus Pilea microphylla (L.) Liebm.57. Camarão Justicia brandegeana Wassh. & L.B. Sm.58. Camu-camu Myrciaria dubia (Kunth) McVaugh59. Cana-de-açúcar Saccharum officinarum L.60. Canela Aniba sp.61. Capim-santo Cymbopogon citratus (DC.) Stapf62. Capim-santo-da-folha-miúda Pectis elongata Kunth63. Carambola Averrhoa carambola L.64. Caranã Mauritiella armata (Mart.) Burret65. Cariru Amaranthus sp.66. Castanha Bertholletia excelsa Humb. & Bonpl67. Castanha-de-macaco Couroupita guianensis Aubl.68. Castanha-sapucaia Lecythis pisonis Cambess.69. Catauari Crataeva benthamii Eichler70. Catinga-de-mulata Leucas martinicensis (Jacq.) R. Br.71. Cauaçu Calathea lutea Schult.72. Caxinguba Ficus insipida Willd.73. Cebolinha Allium fistulosum L.74. Cedrorana Cedrelinga cateniformis (Ducke) Ducke75. Celósia Celosia argentea L.76. Chicória Eryngium foetidum L.77. Cibalena Artemisia verlotiorum Lamotte78. Cidreira Lippia alba (Mill.) N.E. Br.79. Cipó-alho Adenocalymma alliaceaum Miers80. Coco Cocos nucifera L.81. Coentro Coriandrum sativum L.82. Coirama, diabinho Kalanchoe calycinum Salisb.83. Cola-osso Piper sp.84. Comigo-ninguém-pode Dieffenbachia amoena Bull.85. Cominho Pectis elongata Kunth86. Condessa Annona sp.87. Corrente Pfaffia glomerata (Spreng.) Pedersen88. Couve Brassica oleraceae var.acephala DC.89. Crajiru Arrabidaea chica (Humb. & Bonpl.) B. Verl.90. Cravo Dianthus caryophyllus L.91. Cravo-da-índia Caryophyllus aromaticus L.92. Cravo-de-defunto Tagetes patula L.

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Denominação Regional Espécie93. Crisântemo Chrysanthemum spp.94. Crista-de-galo Celosia cristata L.95. Croton Codiaeum variegatum (L.) A. Juss.96. Cubiu Solanum sessiliflorum Dunal97. Cuia Crescentia cujete L.98. Cuia-mansa Polyscias sp.99. Cumaru Dipteryx odorata (Aubl.) Willd.100. Cumaruzinho Justicia pectoralis Jacq.101. Cupuaçu Theobroma grandiflorum (Willd. ex Spreng.) K. Schum.102. Cupuarana Theobroma subincanum Martius in Buchner103. Curuatá n.i.104. Curuminzeiro Muntigia calabura L.105. Dendê Elaeis guineensis L.106. Dipirona n.i.107. Elixir-paregórico Piper cavalcantei Yunck.108. Embaúba Cecropia sp.109. Envira Rollinia sp.110. Estrela-do-mar n.i.111. Esturaque Styrax sp.112. Farinha-seca Licania micrantha Miq.113. Feijão-de-metro Vigna unguiculata (L.) Walp.114. Feijó Cordia sp.115. Felicidade n.i.116. Figatil Chelidonium majus L.117. Flexeira Setaria sp.118. Fruta-pão Artocarpus altilis (Parkinson) Fosberg119. Goiaba Psidium guajava L.120. Goiaba-araçá Psidium sp.121. Goiaba-do-igapó Psidium sp.122. Graviola Annona muricata L.123. Hortelã Mentha arvensis L.124. Hortelã-grande Plectranthus amboinicus (Lour.) Spreng.125. Hortelãzinho Mentha piperita subsp. citrata Briq.126. Inajá Maximiliana maripa (Aubl.) Drude127. Ingá Inga sp.128. Ingá-açu, Ingá-chinelo Inga cinnamomea Spruce ex Benth.129. Ingá-boi Inga sp.130. Ingá-cipó Inga edulis Mart.131. Ingaí, Ingá-da-mata Pithecolobium duckei Huber.132. Ingá-grande Inga sp.133. Ingá-de-macaco Inga fagifolia G. Don134. Ingá-pequeno Inga sp.135. Ingá-sapo Inga sp.136. Ingá-xixica Inga heterophylla Willd.137. Ixora Ixora sp.138. Jaca Artocarpus heterophyllus Lam.

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Denominação Regional Espécie139. Jacarandá Dalbergia spruceana Benth.140. Jambo Eugenia malaccensis L.141. Jambu Spilanthes acmella L.142. Jantem Plantago major L.143. Japana Eupatorium ayapana Vent.144. Japana-roxa Eupatorium triplinerrve 145. Jarina Phytelephas macrocarpa Ruiz & Pav.146. Jasmim Jasminum officinale L.147. Jasmim-de-estudante Jasminum sp.148. Jatobá Hymenaea courbaril L.149. Jenipapo Genipa americana L.150. Jerimum Cucurbita maxima Duchesne151. Jibóia Scindapsus aureus (Linden & André) Engl. & K. Krause152. Jucá Caesalpinia ferrea Mart.153. Jurubebão Solanum crinitum Lam.154. Juruzeiro n.i.155. Lágrima-de-n.sra. Coix lacryma Bertoni156. Laranja Citrus sinensis (L.) Osbeck157. Laranja-da-terra Citrus auratifolia L.158. Lima Citrus aurantifolia Swingle159. Limão Citrus limon (L.) Burm.160. Limão-caiano Averrhoa bilimbi L.161. Limão-cravo Citrus sp.162. Limão-galego Citrus sp.163. Limão-tangerina Citrus sp.164. Limorana Maclura tinctoria (L.) D. Don ex Steud.165. Lombrigueiro Ficus maxima Mill.166. Loucura Lagestroemia indica L.167. Macacaúba Platymiscium sp.168. Macambo Theobroma bicolor Bonpl.169. Macaxeira Manihot esculenta Crantz170. Malva Urena lobata L.171. Malvarisco Pothomorphe umbellata (L.) Miq. 172. Mamão Carica papaya L.173. Mandacaru Cereus giganteus Engelm.174. Manga Mangifera indica L175. Mangarataia Zingiber officinale Roscoe176. Manjericão Ocimum basilicum L.177. Manjerona Origanum majorana L.178. Manjironinha Majorana sp.179. Manjuba n.i.180. Mapati Pourouma cecropiaefolia Mart.181. Maracujá Passiflora edulis Sims.182. Maracujá-do-mato Passiflora nitida Kunth183. Mari-amarelo, umari Poraqueiba sericea Tul.184. Marirana Couepia ulei Pilg.

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Denominação Regional Espécie185. Mari-de-cachorro n.i.186. Mari-gordo n.i.187. Marimari Cassia leiandra Benth.188. Mari-sarro Cassia grandis L.189. Marrequinha n.i.190. Marupá Virola sp.191. Marupazinho Eleutherine plicata Herb.192. Mastruz Chenopodium ambrosioides L.193. Maxixe Cucumis anguria L.194. Melancia Citrullus lanatus (Thunb.) Matsum. & Nakai195. Melindro-rosa Impatiens sp.196. Milho Zea mays L.197. Mucajá Acrocomia sclerocarpa Mart.198. Mucuracaá Petiveria alliacea L.199. Munguba Bombax munguba Mart. & Zucc.200. Muruci Byrsonima chrysophylla Kunth201. Murici-da-mata Byrsonima crispa A. Juss.202. Mutamba, pojo Guazuma ulmifolia Lam.203. Mutuquinha n.i.204. Muúba n.i.205. Onze-horas Portulaca sp.206. Oriza Pogostemon patchouli Pellet.207. Pajurá Couepia bracteosa Benth.208. Palma n.i.209. Papoula Hibiscus sp.210. Paricá Pithecellobium niopoides Spruce ex Benth.211. Pau-de-angola Piper sp.212. Pau-mulato Calycophyllum spruceanum (Benth.) Hook. f. ex K. Schum.213. Pepino Cucumis sativus L.214. Pião-barrigudo Jatropha sp.215. Pião-branco Jatropha curcas L.216. Pião-roxo Jatropha gossypiifolia L.217. Pimenta Capsicum sp.218. Pimenta-ardida Capsicum sp.219. Pimenta-doce Capsicum chinense Jacq.220. Pimentão Capsicum annuum L.221. Pingo-de-ouro Duranta repens L.222. Piquiá Caryocar villosum (Aubl.) Pers.223. Pirara n.i.224. Pirilima n.i.225. Piripiri n.i.226. Pitomba Talisia esculenta (A. St.-Hil.) Radlk.227. Pobre-velho Costus spicatus (Jacq.) Sw.228. Pojo Guazuma ulmifolia Lam.229. Ponto-alívio n.i.230. Primavera Bouganvillea sp.

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Denominação Regional Espécie231. Pupunha Bactris gasipaes Kunth232. Pupunharana Duckeodendron cestroides Kuhlm.233. Puruí Alibertia edulis (Rich.) A. Rich. ex DC.234. Quebra-pedra Phyllanthus niruri L.235. Quiabo Hibiscus esculentus L.236. Repolho Brassica oleracea L.237. Romã Punica granatum L.238. Rosa Rosa sp.239. Rosa-menina Rosa sp.240. Sabugueiro Sambucus nigra L.241. Sacaca Croton cajucara Benth.242. Salvia-de-marajá Lippia grandis Schau243. Samambaia Nephrolepis sp.244. Samaúma Ceiba pentandra (L.) Gaertn.245. Sangue-de-cristo n.i.246. Santa-luzia Banisteriopsis caapi (Spruce ex Griseb.) C.V. Morton247. Sapateira Dystovomita brasiliensis D’Arcy248. Sapota Quararibea cordata (Bonpl.) Vischer249. Sapoti Manilkara zapota (L.) P. Royen250. Sara-tudo n.i. 251. Sena Cuphea antisyphilitica Kunth252. Seringa Hevea brasiliensis (Willd. ex A. Juss.) Müll. Arg.253. Socoró Mouriria guianensis Aubl.254. Sororoca Ravenala guyanensis Petersen255. Tacana Gynerium sp.256. Tachi Tachigali paniculata Aublet. 257. Tajá Philodendron sp.258. Tajá-cauã Caladium sp.259. Tajá-papel Caladium sp.260. Tamanqueira Moronobea coccinea Aubl.261. Tamarindo Tamarindus indica L.262. Tangerina Citrus nobilis Lour.263. Tanimbuca Buchenavia sp.264. Tapeba n.i.265. Taperebá Spondias mombin L.266. Tarumã Vitex sp.267. Tento Ormosia sp.268. Terezinha Portulaca grandiflora Hook.269. Tomate Lycopersicon esculentum Mill.270. Trevo Trifolium arvense L.271. Trevo-raimundinha Hyptis sp.272. Trevo-roxo Hyptis atrorubens Poit.273. Trombeta Datura sp.274. Tucumã Astrocaryum aculeatum G. Mey.275. Uirapuru n.i.276. Uixi Endopleura uchi (Huber) Cuatrec.

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APÊNDICE 2. Espécies que ocorrem no componente extrativismo vegetal, coletadas na capoeira, mata de várzea e matade terra firme na calha do Rio Solimões-Amazonas. Amazonas – Pará. 2003-2004.

Denominação Regional Espécie1. Abacate Persea americana Mill.2. Abacaterana Licania sp.3. Açaí-do-Amazonas Euterpe precatoria Mart.4. Açaí-do-Pará Euterpe oleracea Mart.5. Acapu Vouacapoua pallidior Ducke6. Acapurana Campsiandra angustifolia Spruce ex Benth.7. Anani Symphonia globulifera L. f.8. Andiroba Carapa guianensis Aubl.9. Anuerá Licania macrophylla Benth.10. Apetã n.i.11. Araçá Psidium guianense Pers.12. Aroeira Astronium lecointei Duckei13. Assacu Hura crepitans L.14. Aturimã n.i.15. Bacaba Oenocarpus bacaba Mart.16. Bacuri Platonia insignis Mart.17. Bacuri-do-mato Rheedia sp.18. Bicudo n.i.19. Buriti Mauritia flexuosa L.20. Bussu Manicaria saccifera Gaertn.21. Caapeba Piper umbellatum L.22. Caimbé Curatella americana L.23. Caju Anacardium occidentale L.24. Caju-da-mata Anacaridium sp.25. Cajurana Sumaba guianensis Aubl.26. Camapu Physalis angulata L.27. Canela-de-velho n.i.28. Capim pariri n.i.29. Carapanaúba Aspidosperma carapanauba Pichon30. Carauaçuzeiro Symmeria paniculata Benth.

Denominação Regional Espécie277. Uruá Cordia alliodora (Ruiz & Pav.) Oken278. Urubucaá Aristolochia silvatica Barb. Rodr.279. Urucum Bixa orellana I280. Urucuri Attalea minor Mart ex Spreng.281. Vai-e-vem n.i.282. Vassourinha Scoparia dulcis L.283. Vence-tudo n.i.284. Vick Faramea corymbosa Aubl.285. Vindicá Alpinia nutans (L.) Roscoe286. Violeta-em-planta Viola odorata L.287. Zeduária Curcuma longa L.

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Denomi ação Regional Espécie

B

31.32.33.34.35.36.37.38.39.40.41.42.43.44.45.46.47.48.49.50.51.52.53.54.55.56.57.58.59.60.61.62.63.64.65.66.67.68.69.70.71.72.73.74.75.76.

Castanha Castanha de macaco Castanha sapucaia Castanharana Catauari CauaçuCaxinguba Cedro CepetuzeiroChichuacha Ciganeira Cipó escada-de-jabuti Cipó mata-cavalo Cipó titica Cipó tuíra Cipó-bota Copaíba CumaruCupuaçu CuruáEmbaúbaEnvira EspeteiroEspinheiro Faveira Frutinheira, MurtaGoiaba araça Ingá Ingá-açu, Ingá-chineloIngá-de-igapó Ingaí, Ingá-da-mataIngá xixica Itaúba Jacareúba Jataúba Jatobá Jauari Jenipapo Jupati Jurema Jurubeba Lacre Louro Louro-de-igapó Louro-amarelo Louro-cheiroso

Bertholletia excelsa Humb. & BonplCouroupita guianensis Aubl.Lecythis pisonis Cambess.Micropholis sp.Crataeva benthamii EichlerCalathea lutea Schult.Ficus insipida Willd.Cedrela odorata L.n.i.Salacia gigantea Loes.n.i.Bauhinia cupreonitens Ducken.i.Heteropsis aff. Spruceana SchottCalycobolus ferrugineus ChoisySciadotenia toxifera Krukoff & A.C. Sm.Copaifera multijuga HayneDipteryx odorata (Aubl.) Willd.Theobroma grandiflorum (Willd. ex Spreng.) K. Schum.Ananas lucidus Mill.Cecropia sp.Rollinia sp.Casearia gossypiosperma Briq.Acacia polyphylla DC.Vatairea sp.Myrcia fallax (Rich.) D.C.Eugenia sp.Inga edulis Mart.Inga cinnamomea Spruce ex Benth.Inga sp.Pithecolobium sp.Inga heterophylla Willd.Mezilaurus itauba (Meisn.) Taub. ex MezCalophyllum brasiliense Cambess.Guarea guidonia (L.) SleumerHymenaea courbaril L.Astrocaryum jauari Mart.Genipa americana L.Raphia taedigera Mart.Pityrocarpa pteroclada (Benth.) BrenanSolanum sp.Vismia guianensis (Aubl.) Pers.Ocotea matogrossensis Vatt.Nectandra amazonum NeesAniba hostmaniana (Nees) Mez.Ocotea sp.

n

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Denominação Regional Espécie77. Louro-jacaré Licaria sp.78. Louro-inamuí (mamuí) Ocotea cymbarum H.B.K.79. Macacaúba Platymiscium sp.80. Maçaranduba huberi (Ducke) Chevalier81. Mamão Carica papaya L.82. Manaiará Gapipea sp.83. Manga Mangifera indica L.84. Maparajuba Manilkara amazonica (Hub.) Standl.85. Maracaraneira n.i.86. Maracujá-do-mato Passiflora nitida Kunth87. Marajá Bactris maraja Mart.88. Mari-amarelo, umari Poraqueiba sericea Tul.89. Maria-mole Commelina nudiflora L.90. Mari-sarro Cassia spruceana Benth.91. Matá-matá Eschweilera albiflora (DC.) Miers92. Mata-pasto Cassia alata L.93. Maúba Licania mahuba (Kuhlm & Samp.) Kistern.94. Maubarana Paypayrola sp.95. Merapixuna n.i.96. Moela de mutum Lacunaria jenmanii (Oliv.) Ducke97. Mucuba n.i.98. Muiratina Maquira sp.99. Mulungu Erythrina fusca Lour.100. Munguba Bombax munguba Mart. & Zucc.101. Muruci Byrsonima chrysophylla Kunth102. Murumuru Astrocaryum murumuru Mart.103. Pajurá Couepia bracteosa Benth.104. Palha-branca Attalea attaleoides (Barb. Rodr.) Wess. Boer105. Papa-terra Posoqueria latifolia (Rudge) Roem. & Schult.106. Paracaxi Pentaclethera sp.107. Paracuúba Mora paraensis (Ducke) Ducke108. Paricá Pithecellobium niopoides Spruce ex Benth.109. Pau-mulato Calycophyllum spruceanum (Benth.) Hook. f. ex K. Schum.110. Pau-verônica n.i.111. Pau-preto Swartzia sp.112. Paxiubinha Attalea attaleoides (Barb. Rodr.) Wess. Boer113. Piquiá Caryocar villosum Aubl. Pers.114. Piranheira Piranhea trifoliata Baill.115. Piriquiteira Trema micrantha (L.) Blume116. Pitombarana Pseudima frutescens (Aubl.) Radlk.117. Punã Iryanthera sp.118. Pororoca Dialium divaricatum Vahl119. Samauma Ceiba pentandra (L.) Gaertn.120. Sapupira Hymenolobium pulcherrimum Ducker.121. Saracura Ampelozizyphus amazonicus Ducke122. Sardinheira Ruprechtia brachysepala Meisn.123. Seringa Hevea brasiliensis (Willd. ex A. Juss.) Müll. Arg.124. Socoró Mouriria Guianensis Aubl

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Denominação Regional Espécie125. Sucuúba Himatanthus sucuuba (Spruce ex Müll. Arg.) Woodson126. Taboca Guadua sp.127. Taboquinha Panicum zizanioides H.B.K.128. Tachi Tachigalia paniculata Aubl.129. Tamanqueira Moronobea coccinea Aubl.130. Tamaquaré Caraipa punctulata Ducke131. Taperebá Spondias mombim L.132. Tarumã Vitex sp.133. Turimã Laetia sp.134. Uamiú n.i.135. Ucuúba Virola surinamensis (Rol. ex Rottb.) Warb.136. Uixi Endopleura uchi (Huber) Cuatrec.137. Unha-de-gato Uncaria tomentosa (Willd. ex Roem. & Schult.) DC.138. Uruazeiro Cordia alliodora (Ruiz & Pav.) Oken139. Urucum Bixa orellana L.140. Urucurana Sloanea sp.141. Urucuri Attalea phalerata Mart. ex Spreng.142. Arumã Ischnosphons sp.143. Vassourinha Scoparia dulcis L.144. Virola Virola sp.

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CAPÍTULO 5

CARACTERIZAÇÃO DOS ASPECTOSFITOSSANITÁRIOS NOS DIFERENTES SISTEMASDE USO DA VÁRZEA AO LONGO DA CALHA DOS

RIOS SOLIMÕES-AMAZONAS

Rosalee Albuquerque Coelho Netto1

Luiz Alberto Guimarães de Assis1 e 2

INTRODUÇÃO

Doenças e pragas podem causar mortalidade de plantas, reduzir aprodutividade, diminuir a população de espécies hospedeiras ou impedir ocultivo de determinados cultivares. As condições ambientais predominantes naAmazônia, temperatura e umidade elevadas, são favoráveis para muitosagentes fitopatogênicos e insetos/pragas, no entanto, quando uma grandediversidade de espécies vegetais são cultivadas em uma mesma área, reduz-sea probabilidade de perda total da colheita em decorrência de problemasfitossanitários (SCHROTH et al., 2000). Poucos estudos foram realizadossobre a ocorrência de doenças e pragas nos cultivos da Amazônia (LOURD etal., 1988, SANTOS e GALVÃO, 1989, LOURD, 1993) e menos aindarelacionando o tipo de solo com a ocorrência de problemas fitossanitários. Emáreas de várzea, há evidências de que a severidade de doenças causadas porpatógenos de solo é maior do que em terra-firme (LOZANO, 1992,YONEYAMA e STEIN, 1995, LOURD et al., 1987, COELHO NETTO eNUTTER, 2002, COELHO NETTO et al., 2003) enquanto que as doenças departe aérea, ao contrário, têm menor severidade (LOURD et al., 1987, PAIVAe NODA, 1992).

No manejo de problemas fitossanitários na várzea, as principaisestratégias sugeridas são o uso de cultivares resistentes, rotação de culturas e

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1. Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA).

2. Núcleo de Estudos Rurais e Urbanos Amazônico (NERUA).

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plantio de material sadio (KITAJIMA et al., 1979, LOZANO, 1992, NODA eMACHADO, 1993). Apesar de algumas dessas estratégias serem adotadaspelos agricultores (Pereira, 1994), o uso de agrotóxicos tem se intensificado(JICA-IDAM, 2002, WAICHMAN et al., 2002).

O objetivo do trabalho foi levantar os principais problemasfitossanitários em cultivos de várzea e as metodologias de manejo empregadaspelos agricultores. Para isso, foram realizadas entrevistas baseadas emquestionário. Inicialmente foram entrevistados 249 agricultores sobredificuldades na condução dos cultivos. Entre esses, 32 foram selecionados,com base na diversidade de culturas da propriedade e nas dificuldades citadas.Nas propriedades dos agricultores selecionados foram realizadas coletas deplantas ou partes de plantas com sintomas de doenças ou de ataque de pragase, posteriormente, foi feita a identificação dos agentes fitopatogênicos e daspragas encontradas.

Nas 249 entrevistas aplicadas inicialmente foram citadas 28 dificuldadescomo ataque de predadores (mucura, onça, gavião, jacaré, cobra, capivara),preço baixo dos produtos, falta de recursos financeiros, transporte e ocorrênciade pragas e doenças referidas como mal, perseguição, febre, pinta, mela, entreoutras. Pragas foram citadas por 24,5% (61) dos entrevistados, sendo a sétimadificuldade mais freqüentemente citada. A ocorrência de doenças foi citada por21,7% (54) dos entrevistados, sendo a oitava mais citada.

A freqüência com que pragas e doenças foram citadas variou entre osmunicípios. Na Figura 1 são apresentados os percentuais com que osentrevistados se referiram à ocorrência de pragas e doenças nos municípios emque pelo menos oito entrevistas foram aplicadas; Benjamin Constant, AM (17),Careiro da Várzea, AM (8), Coari, AM (24), Gurupá, PA (17), Iranduba, AM(9), Itacoatiara, AM (22), Manacapuru, AM (9), Oriximiná, PA (21), Parintins,AM (27), Santarém, PA (46), Silves, AM (14), Tabatinga, AM (8) e Tefé, AM(9). A ocorrência de pragas foi citada como uma dificuldade, principalmentepelos agricultores dos municípios de Tabatinga (50%), Benjamin Constant(35%), Manacapuru (33,3%), Tefé (33,3%) e Santarém (32,6%). Doençasforam citadas como dificuldades, principalmente pelos agricultores deTabatinga (50%), Silves (35,7%) e Tefé (33,3%). Na Figura 2 são apresentadosos percentuais de citação de pragas e doenças em cada região analisada (Região1: Alto Solimões, municípios de Atalaia do Norte, Benjamin Constant, SãoPaulo de Olivença, e Tabatinga; Região 2: Médio Solimões, municípios deAlvarães, Coari, Maraã, e Tefé; Região 3: Baixo Solimões, municípios de

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Careiro da Várzea, Iranduba e Manacapuru; Região 4: Médio Amazonas,municípios de Itacoatiara, Silves e Urucurituba, Região 5: Baixo Amazonas,municípios de Óbidos, Oriximiná, Parintins e Santarém e Região 6: Estuário,município de Gurupá.

Observou-se uma tendência de queda na referência a pragas e doenças daRegião 1 – Alto Solimões para o baixo Amazonas, com um ligeiro aumento naRegião 4 – Médio Amazonas. A falta de assistência técnica se referiu àassistência para manejo de pragas e doenças, manejo do rebanho, crédito eoutras. Observa-se, na Figura 2, que falta de assistência foi referida empercentuais baixos na Região 1 (Alto Solimões), apesar da ocorrência deproblemas fitossanitários ter sido a mais alta. A falta de assistência técnica foireferida em percentuais maiores na Região 3 (Baixo Solimões), formada pelosmunicípios de Careiro da Várzea, Iranduba e Manacapuru, exatamente a regiãomais próxima à Manaus, onde os agricultores aparentemente têm maiorfacilidade de contato com órgãos de assistência técnica. O uso de agrotóxicoscomo inseticidas, herbicidas e fungicidas foi avaliado em 249 entrevistas com apergunta sobre o uso de insumos. Apenas 48 entrevistados (19,3%) citaramagrotóxicos como um insumo utilizado para a produção. A utilização dessesprodutos pelos agricultores, no entanto, foi bastante concentrada nos municípiosde Careiro da Várzea (62,5%), Itacoatiara (50%), Iranduba (44,4%) e Parintins(37%) (Figura 3) que são, também, municípios que têm a produção de hortaliçascom uma atividade agrícola importante. O uso de inseticida foi citado por 70,4%dos que utilizam agrotóxicos, herbicidas por 14,8%, veneno, por 11,1%,agrotóxico por 1,85% e fungicida por 1,85% dos entrevistados. A utilizaçãodesses produtos, no entanto, principalmente no caso dos inseticidas, não serestringia aos cultivos e, nesses valores, estão incluídos também os agrotóxicosutilizados para combate de pragas da criação de gado.

Quando se analisa o uso de agrotóxicos por microrregião (Figura 4),verifica-se um aumento do percentual de uso nas Regiões 3 (Baixo Solimões –municípios de Careiro da Várzea, Iranduba e Manacapuru) e 4 (MédioAmazonas – municípios de Itacoatiara, Silves e Urucurituba), em comparaçãocom as demais. Na Região 3, 42,3% dos entrevistados utilizavam esse insumo e,na Região 4, 36,8%. Na Figura 4 pode-se verificar também que a citação de faltade assistência técnica acompanha a do uso de agrotóxicos, ou seja, nos locaisonde o uso de agrotóxicos é mais intenso, houve mais referências à falta deassistência técnica e, apesar disso, o uso de agrotóxicos, na maioria das vezes, seiniciou por recomendação do comerciante ou de um técnico da extensão.

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O questionário para levantamento específico de problemas fitossanitáriosfoi aplicado em 32 propriedades onde foram também diagnosticadas as pragas edoenças presentes nos plantios. Observou-se uma grande diversidade deproblemas fitossanitários. Mais de 100 ocorrências de doenças ou pragas foramregistradas em 34 espécies hospedeiras (Tabela 1). A importância das pragas edoenças variou para cada microrregião, dependendo da importância da culturapara o agricultor e do destino da produção. Por exemplo, a antracnose damangueira (Mangifera indica L.), causada por Colletotrichum gloeosporioides(Penz.) Penz. & Sacc (Figura 5), era, ou não, considerada um problema peloagricultor, dependendo se a produção se destinava à comercialização ou para oconsumo familiar. No caso de consumo familiar, a antracnose não eraconsiderada relevante e sequer citada entre os males que atingiam as culturas dapropriedade.

Em meio aos problemas citados, alguns se destacaram pela prevalênciacomo as doenças da bananeira (Musa sp.), Sigatoka amarela (Figura 6), causadapor Mycosphaerella musicola Leach observada em 84,4% das propriedadesvisitadas, Sigatoka negra (Figura 7), causada por Mycosphaerella fijiensisMorelet observada em 40,6% das propriedades e a murcha bacteriana dabananeira, ou Moko (Figuras 8 e 9), causada pela bactéria Ralstoniasolanacearum (Smith) Yabuuchi et al., observada em 65,6% das propriedadesvisitadas. Em culturas como mandioca (Manihot esculenta Crantz), a podridãodas raízes, causada por um complexo de fungos como Phytophthora spp. ePythium spp. (Figura 10) foi observada em 31,2% das propriedades, em cacau(Theobroma cacao L.), a vassoura-de-bruxa (Figura 11) causada por Crinipellisperniciosa (Stahel) Singer foi observada em 25% das propriedades e emtomateiro (Lycopersicon esculentum Mill.), a murcha bacteriana (Figura 12),causada pela bactéria R. solanacearum (Smith) Yabuuchi et al., foi observada em25% das propriedades.

O fato da doença ou praga ter alta prevalência (porcentagem depropriedades onde a doença foi diagnosticada, em relação ao total depropriedades amostradas), não significa, necessariamente, que o problema éimportante para o agricultor. Esse foi, por exemplo, o caso da mancha deCurvularia em milho (Zea mays L.), causada por Curvularia spp. e da manchade Corynespora em mamoeiro (Carica papaya L.), causada por Corynesporacassiicola (Berk & Curt) Wei, ambas presentes em 22% das propriedadesvisitadas porém sem causar perdas significativas.

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Doenças que causam morte do hospedeiro como o Moko da bananeira, apodridão das raízes da mandioca ou a murcha bacteriana do tomateiro foramconsideradas pelos produtores as mais importantes não só pelos danos causados,mas também pela dificuldade de controle. A podridão das raízes da mandioca,apesar da baixa incidência, não foram observadas mais de 5% de plantas doentesem cada plantio, teve alta prevalência nas propriedades da região do AltoSolimões, sendo observada em todos os plantios visitados e sendo motivo depreocupação para os agricultores. O Moko da bananeira foi observado em todasas regiões visitadas, porém, a incidência, percentual de plantas doentes em cadaplantio, foi baixa, duas ou três touceiras por plantio. Um agricultor em Iranduba,no entanto, relatou abandono de cultivo de bananeira por doença que, peladescrição dos sintomas, era provavelmente o Moko. O abandono da cultura emdecorrência da alta incidência da doença, observada em anos anteriores, podelevar a uma subestimação da importância da mesma em levantamentos deocorrência. O cultivo de banana das variedades Maçã e Prata, muito apreciadasna Região, porém, altamente suscetível a doenças, vai se tornando cada vez maisraro, tanto pelas perdas sucessivas nas colheitas como por perda do materialpropagativo.

Só recentemente estudos sobre o uso de agrotóxicos começaram a serrealizados com agricultores na várzea do Amazonas (WAICHMAN et al., 2002).Nessas áreas, o uso de agrotóxicos tem sido freqüente no manejo dos sistemasagrícolas (PEREIRA et al., 1998). Na Tabela 2, os 19 agrotóxicos citados pelos32 agricultores entrevistados estão listados. Entre os entrevistados, 81,25% (26)usavam agrotóxicos. Desses, 88,5% (23) usavam inseticidas, 34,6% (9) usavamherbicidas e 27% (7) usavam fungicidas. O carrapaticida Barrage® (Fort Dodge)foi o agrotóxico mais citado, sendo utilizado por 34,6% (9) dos agricultores.Roundup® (Monsanto) ou Glifosato foi citado por 26,9% (7) e Diazinon®

(Syngenta) e Folidol® (Bayer) (inseticidas organofosforados) foram citados por19,2% (5) dos entrevistados. Dos 12 inseticidas citados, oito (66%) eram dogrupo dos organofosforados, e os demais, cada um de um grupo químicodiferente: carbamato (1), piretróide (1), clorociclodiano (1), sulfonamidafluoroalifática (1). Barrage®, um piretróide a base de cipermetrina, apesar de serindicado para tratamento de carrapatos e de mosca-do-chifre em gado (Rodrigueset al., 2002), é utilizado pelos agricultores da várzea para controle de formigas,pulgões e besouros em diversas culturas. Para os agricultores, o Barrage®, alémde eficiente, possui a vantagem de ser vendido em frascos pequenos (20 ml) que,por serem baratos, podiam ser adquiridos mais facilmente. O uso do herbicida ou

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mata-mato Roundup® ou Glifosato trazia, segundo os agricultores, grandeeconomia de tempo e trabalho na capina das áreas de cultivo, o que permitiaaumentar a área plantada, mesmo com a escassa mão-de-obra disponível.Geralmente, os agricultores começaram a utilizar herbicida seguindo orientaçãode técnicos do serviço de extensão.

Verificou-se, em alguns casos, a utilização de produtos inadequados parao controle de problemas fitossanitários como, por exemplo, o uso de mistura deAgrinose® (Agripec) (fungicida a base de oxicloreto de cobre) e Folidol®

(inseticida organofosforado), citada por dois produtores de Manacapuru, paracombater a queda das flores do maracujazeiro. Esse tratamento possui umprovável efeito negativo na população de mamangabas (Himenoptera:Bombidea), os insetos polinizadores das flores do maracujazeiro, podendoagravar o problema da queda de flores. Outro exemplo foi o uso de fungicida àbase de oxicloreto cobre para o controle de podridão-branca (Sclerotium rolfsiiSacc.), em pimentão (Capsicum annuum L.), citado também por um produtor deManacapuru. Fungicidas a base de oxicloreto de cobre têm demostrado baixaeficiência na inibição de S. rolfsii (DAS e PANDA, 1997).

Entre os agricultores entrevistados que usavam agrotóxicos (26), metaderelatou problemas de intoxicação com esses produtos, ocorridos com elespróprios ou com membros da família. Os problemas de saúde mais comunsforam dor de cabeça citada por 61,5% (8) e tontura, citada por 46,2% (6) dosentrevistados (Tabela 3). Ardor nos olhos, enjôo e manchas na pele foramcitados, cada um, por 15,4% (2) dos usuários. Um dos agricultores já tinhaprecisado de atendimento hospitalar em decorrência de intoxicação comagrotóxicos. O combate a formigas (Himenoptera: Formicidae) foi a principaljustificativa para o uso de agrotóxicos nas propriedades, pulgão (meruxinga)(Homoptera: Aphididae) e cascudinho (Coleoptera: Chrysomelidae) tambémforam considerados problemas que justificavam o emprego de controle químico.

O equipamento para aplicação de agrotóxicos, predominantemente usado,foi o pulverizador costal próprio ou emprestado de vizinhos, citado por 77% (10)dos que foram perguntados. A utilização de frasco de desodorante (1), bomba dematar carapanã (1) e garrafa plástica com buraquinhos (1), foram tambémcitados pelos agricultores entrevistados como equipamento usado para aplicaçãode agrotóxicos.

O Equipamento de Proteção Individual (EPI) é empregado parcialmentepelos agricultores. Dos 26 agricultores usuários de agrotóxicos, do total de 32entrevistados, quatro não utilizavam qualquer proteção e preparavam a calda ou

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aplicavam os agrotóxicos vestidos geralmente de bermuda, camisa de mangacurta, boné e sandália. A maioria dos que utilizavam agrotóxicos (85%), noentanto, tomava alguns cuidados na manipulação dos produtos mas nenhum dosentrevistados tinha ou usava todos os EPIs recomendados. Bota e chapéu foramos equipamentos mais usados, citados por 69,2% (16) dos usuários entrevistados.Camisas de manga comprida e calça foram citadas por 61,5% (16) dos usuáriose luvas de borracha por 19,2 (5). Um dos agricultores usava um saco plástico, emlugar da luva, para manipular os produtos (Tabelas 4 e 5).

Considerando o alagamento periódico das áreas de várzea, o descarte dasembalagens vazias de agrotóxicos torna-se um problema ainda mais sério do queem áreas de terra-firme. Nas propriedades visitadas, as embalagens vazias deagrotóxicos são queimadas em 34,6% (9) dos casos, jogadas no mato, em 23,1%(6) dos casos, enterradas em terreno de várzea, em 11,5% (3) dos casos, jogadasno rio, em 7,7% dos casos (2), entre outras (Tabela 6). Um agricultor alegouenterrar as embalagens em área de terra-firme, para evitar contaminar a água nasenchentes. Sobras de calda de agrotóxicos são geralmente deixadas nopulverizador para uso posterior e, quando descartadas, são jogadas na beira doroçado ou no rio.

O conhecimento de defensivos naturais como calda de tabaco e sabão foicitado por 34,4% (11) dos 32 agricultores entrevistados, porém, apenas 18,7%(6) já usaram ou usam esse tipo de produtos, de vez em quando. Dois dosentrevistados tinham feito curso sobre defensivos naturais com agentes daextensão. A baixa eficiência das preparações foi o principal motivo para a nãoadoção desses produtos.

Em nenhuma das propriedades em que agrotóxicos eram utilizados esseseram armazenados de forma segura Apesar de 38% (10) dos agricultoresentrevistados alegarem que guardavam os defensivos em local exclusivo paraisso, em 15,4% (4) esse local era dentro de casa. O armazenamento deagrotóxicos foi comum em sacolas plásticas amarradas em árvores, na viga dacasa, ou em outros lugares 23% (6), escondidos fora de casa 15,4% (4), em cimados canteiros 3,8% (1), em cima da casa 3,8% (1) ou trepado 3,8% (1). Já napreparação da calda dos agrotóxicos foram citadas medidas como uma tampinhaou até a água ficar esbranquiçada.

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CONCLUSÃO

Os agricultores da várzea do Solimões-Amazonas convivem com maisde uma centena de pragas e doenças em seus plantios. As culturas de bananeirae mandioca, presentes em praticamente todas as propriedades visitadas, foramas mais freqüentemente afetadas por problemas fitossanitários. Acomplexidade dos sistemas de cultivo contribui para que a severidade dasdoenças e pragas não seja elevada, de maneira geral. A falta de assistênciatécnica é um problema generalizado e não são adotadas medidas de manejopara a maioria dos problemas fitossanitários. Poucos agricultores conhecemmétodos alternativos de manejo e, mesmo quando os conhecem, não os adotampela baixa eficiência alcançada. O uso de agrotóxicos vem se expandindo semque seja acompanhado por treinamento dos usuários sobre como, quando, oque utilizar, como armazenar e descartar os agrotóxicos o que pode acarretarem aumento as intoxicações dos usuários e contaminações ambientais.

FIGURA 1. Percentual de referência a pragas e doenças nos cultivos, pelos agricultores da várzea do Solimões-Amazonas, nos municípios, onde pelo menos oito entrevistas foram aplicadas.

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FIGURA 2. Percentual de referência a pragas e doenças e falta de assistência técnica nas Regiões 1 - Alto Solimões(Atalaia do Norte, Benjamin Constant, São Paulo de Olivença, Tabatinga); 2 – Médio Solimões (Alvarães,Coari, Maraã, Tefé); 3 – Baixo Solimões (Careiro da Várzea, Iranduba, Manacapuru); 4 – Médio Amazonas(Itacoatiara, Silves, Urucurituba), 5 – Baixo Amazonas (Óbidos, Oriximiná, Parintins, Santarém) e 6 –Estuário (Gurupá) pelos agricultores da várzea do Solimões-Amazonas.

FIGURA 3. Percentual de referência ao uso de agrotóxicos, pelos agricultores da várzea do Solimões-Amazonas, nosmunicípios, onde pelo menos oito entrevistas foram aplicadas.

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Page 160: Agricultura Familiar na Amazônia das Águas

FIGURA 4. Percentual de referência ao uso de agrotóxico e da falta de assistência técnica nas Regiões: (1) AltoSolimões (Atalaia do Norte, Benjamin Constant, São Paulo de Olivença, Tabatinga); (2) Médio Solimões(Alvarães, Coari, Maraã, Tefé); (3) Baixo Solimões (Careiro da Várzea, Iranduba, Manacapuru); (4) MédioAmazonas (Itacoatiara, Silves, Urucurituba), (5) Baixo Amazonas (Óbidos, Oriximiná, Parintins, Santarém)e (6) Estuário (Gurupá) pelos agricultores da várzea do Solimões-Amazonas

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Agricultura Familiar na Amazônia das Águas158

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Page 164: Agricultura Familiar na Amazônia das Águas

TABELA 3. Sintomas de intoxicação por defensivos, relatados pelos agricultores da várzea do Solimões-Amazonas.

TABELA 4. Equipamentos de proteção para aplicação ou preparação de calda de agrotóxicos utilizados pelosagricultores da várzea do Solimões-Amazonas.

TABELA 5. Cuidados adotados pelos agricultores da várzea do Solimões-Amazonas antes ou depois da aplicação deagrotóxicos

Cuidados adotados N.º %Total de usuários de defensivos 26 100,0Aplicação contra o vento 22 84,6Banho após a aplicação 21 80,8Lavagem das roupas após a aplicação 15 57,7Tomar leite após a aplicação 3 11,5Lavar as mãos após a aplicação 1 3,8Tomar café reforçado antes da aplicação 2 7,7

Equipamento Utilizados N.º %Agricultores que usam defensivos 26 100Bota 18 69,2Calça comprida 16 61,5Camisa de manga comprida 16 61,5Chapéu 18 69,2Luva 5 19,2Máscara 4 15,4Saco plástico (servindo como luva) 1 3,8Viseira 2 7,7Nenhum equipamento 4 15,4

Sintomas apresentados N.º %Dor de cabeça 8 61,5Tontura 6 46,2Ardor nos olhos 2 15,4Enjôo 2 15,4Manchas na pele 2 15,4Ardor no rosto 1 7,7Coceira na pele 1 7,7Corpo grosso 1 7,7Febre 1 7,7Tosse 1 7,7Vômitos 1 7,7Agricultores que utilizavam defensivos 26 100Relataram já ter passado mal 13 50Nunca passaram mal 13 50

Agricultura Familiar na Amazônia das Águas160

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Page 165: Agricultura Familiar na Amazônia das Águas

TABELA 6. Procedimentos de descarte de embalagens vazias de agrotóxicos adotados pelos agricultores da várzea doSolimões-Amazonas.

Procedimentos de descarte adotados N.º %Total de usuários de defensivos 26 100Queima 9 34,6Joga no mato 6 23,1Enterra 3 11,5Amontoa 3 11,5Joga na água 2 7,7Enterra em terra-firme 1 3,8Joga num buraco 1 3,8Joga no lixo 1 3,8Joga no sanitário 1 3,8

Agricultura Familiar na Amazônia das Águas 161

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Page 166: Agricultura Familiar na Amazônia das Águas

FIGURA 5. Sintoma de antracnose em folhas demangueira.

FIGURA 6. Sintoma de Sigatoka amarela em folha debananeira.

FIGURA 7. Sintoma de Sigatoka negra em folha debananeira.

FIGURA 8. Sintoma de Moko em bananeira.

Agricultura Familiar na Amazônia das Águas162

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Page 167: Agricultura Familiar na Amazônia das Águas

FIGURA 9. Sintoma de Moko em pseudocaule debananeira.

FIGURA 10. Sintoma de podridão em raiz demandioca..

FIGURA 11. Sintoma de vassoura-de-bruxa em frutode cacaueiro.

FIGURA 12. Sintoma de murcha-bacteriana emtomateiro.

Agricultura Familiar na Amazônia das Águas 163

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Page 168: Agricultura Familiar na Amazônia das Águas

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Agricultura Familiar na Amazônia das Águas164

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Page 171: Agricultura Familiar na Amazônia das Águas

CAPÍTULO 6

PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DOS SISTEMAS DE PRODUÇÃO AGRÍCOLA DAS

COMUNIDADES RIBEIRINHAS E DOABASTECIMENTO DO MUNICÍPIO DE PAUINI

Sandra do Nascimento Noda1 e 3

Gilberto de Assis Ribeiro2 e 3

Hiroshi Noda2 e 3

Jorge Emídio de Carvalho Soares2

Fidel Matos Castelo Branco3

Manoel de Freitas Mendonça Neto3

INTRODUÇÃO

As modificações que ocorrem no sistema de produção tradicionalutilizado pelos caboclos da Amazônia estão intrinsecamente relacionadas aoprocesso de modernização da agricultura regional associado aos processossociais e econômicos de mobilidade e assentamento de agricultores de origemdiferenciada na região (NODA et al., 1997).

A conciliação entre o auto-reconhecimento, fortalecido pelas vocações epráticas tradicionais e propostas de alternativa econômicas nem sempre é umatarefa fácil. Para que se estabeleçam propostas efetivas de gestão participativaé fundamental o conhecimento das principais variáveis que influenciam ossistemas produtivos tradicionais (PEREIRA et al., 2006).

Em face disto, as instituições de pesquisa, ensino e extensão têmprocurado atenuar as conseqüências negativas oriundas da atividade humana naregião, com a geração de conhecimentos científicos. E como conseqüência, oestudo das interações ecológicas, sociais e econômicas envolvidas no processo

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1. Universidade Federal do Amazonas - Faculdade de Ciências Agrárias (UFAM/FCA).

2. Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA).

3. Núcleo de Estudos Rurais e Urbanos Amazônico (NERUA).

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produtivo contribui para o desenvolvimento sustentável nas áreas de produçãoagrícola da região. Este trabalho teve por objetivo o estudo dos componentessociais e produtivos dos sistemas de produção utilizados pelos agricultoresfamiliares das áreas de várzea do município de Pauini, com o intuito de avaliaras modificações adaptativas desses sistemas ao contexto socioeconômico.

O estudo foi desencadeado quando a Prefeitura Municipal de Pauini aoimplantar sua AGENDA 21, procurou em 2003 o Instituto Nacional dePesquisas da Amazônia-INPA, celebrando um Termo de Cooperação Técnicapara implementação das atividades programadas. Nessa parceria reúnem-se asdemandas de um Município com o terceiro mais baixo IDH do país (0,382). Deoutro lado, há uma Instituição que acumula cinqüenta anos de Pesquisas sobrea Amazônia.

O INPA, por intermédio do Núcleo de Estudos Rurais e UrbanosAmazônico – NERUA, dispõe de recursos tecnológicos, que podem alavancartransformações no Município. Entretanto, recursos desse tipo são condiçõesnecessárias, mas não suficientes para alavancar o DesenvolvimentoSustentável. Também são imprescindíveis outros tipos de recursos, que não seencontravam disponíveis nas duas instituições da parceria constituída -financeiros, materiais, etc. Por isso, o INPA/NERUA e a Prefeitura de Pauini,consultaram o governo do Estado, convidando-lhe para integrar a parceria.

Diante desses fatos foi efetivado convênio com a Fundação de Amparoà Pesquisa – FAPEAM, através da chamada IV – Tecnologia Social para oDesenvolvimento Sustentável do Edital Temático, permitindo assim, catalisaro aproveitamento das potencialidades já constituídas, beneficiando a populaçãolocal, profundamente carente. Assim, o trabalho proposto, em Pauini, teve ocaráter de uma proposta-piloto, efetivada por meio de cursos, consultorias etreinamentos visando capacitar formadores e técnicos, com a intenção de obtersubsídios para programas e políticas públicas.

A área municipal, de cerca de três milhões de hectares, merece atençãoespecial quanto a sua verdadeira vocação tanto regional quanto local. Assim,propôs-se a realização de diagnóstico socioeconômico e agroecológico dePauini para ações práticas em organização e processos educativos junto àssociedades locais. Tornar essa informação disponível é a base para que governoe população local discutam o planejamento e o ordenamento municipal.

O município de Pauini (Figura 1) situa-se na mesorregião n.º 4,microrregião n.º 011, código municipal n.º 0350 conforme a classificação doInstituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Distante de Manaus 915 km em

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linha reta. Área territorial de 42.651 km2, população de 19.295 hab., compopulação rural de 17.037 hab. e densidade demográfica de 0,44 hab./km2

(IBGE, 2000). Do ponto de vista climático, o território estudado, por suas precipitações

anuais (2500-3000 mm) e sua umidade ambiental, está dentro de uma das maisúmidas da Amazônia; a temperatura média anual é de 26,5º C (GALAN DEMERA e VICENTE ORELLANA, apud RODRIGUES, 2002). O clima étropical chuvoso e úmido. A dinâmica de ocupação é essencialmente agrícola,com culturas temporárias com mandioca, abacaxi, arroz, etc. Quanto àpecuária, é basicamente da criação de bovinos, onde a produção de carne e leitedestina-se ao consumo local.

FIGURA 1. Localização Geográfica do Município de Pauini. Estado do Amazonas. Brasil.

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Pauini tem uma área de 4.344.717 hectares, sendo que 1.147.005hectares (26,4%) de seu território estão em terras indígenas e 273.206 hectares(6,9%) estão na FLONA do Rio Purus, uma unidade de conservação de usosustentável. No total, o município possui 1.420.211 hectares (33,3%) com umadestinação específica. A maior parte desta área está próxima à confluência doRio Pauini com o Rio Purus, estando às cabeceiras do Pauini sem destinaçãoestabelecida (IBGE, 2000).

Foram realizadas visitas técnicas em cinco comunidades ribeirinhasparceiras no Projeto TEDES (Tecnologias para o Desenvolvimento eSustentabilidade do Município de Pauini) com finalidade de efetuar umdiagnóstico socioeconômico das localidades e caracterizar o uso agrícola daterra para propor atividades socioeducativas e tecnológicas visando promovermelhorias no sistema de produção do município, em bases sustentáveis, atravésda otimização do manejo dos recursos naturais disponíveis com a introduçãode tecnologias e produtos capazes de melhorar a eficiência produtiva eeconômica das comunidades locais, sem comprometer a segurança alimentar erespeitando as formas de organização social das localidades. As comunidadesvisitadas foram: Ajuricaba, Atalaia, São Pedro, Pauriã e Içá.

A metodologia adotada foi o “Estudo de Caso”, tendo como estratégia aexecução de um diagnóstico rápido e participativo para conhecer as tecnologiasassociadas à produção agrícola local. Segundo Greenwood (1973), este método“consiste no exame intensivo, tanto em amplitude como em profundidade daunidade de estudo empregando todas as técnicas disponíveis para ele”.

Foram enfatizadas a identificação das populações e sua forma deorganização para execução dos trabalhos, acessarem a terra, o conhecimento, atecnologia e o produto obtido, suas formas de manejo produtivo, destino daprodução obtida, bem como os problemas relacionados à produção agrícola eao mercado consumidor.

Dessa maneira foram programadas as seguintes atividades:- Caracterização do sistema de produção agrícola das comunidades;- Identificação das demandas relacionadas com a atividade agrícola;- Caracterização do mercado de produtos agrícolas do município;- Implantação e acompanhamento do modo de condução e manejo de

hortas comunitárias nas comunidades rurais ribeirinhas locais.Os dados foram obtidos através da aplicação de questionários e

entrevistas, estruturados com perguntas abertas e fechadas, aos agricultoresfamiliares do município e em locais como feiras, mercados e mercearias nos

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bairros e nas áreas centrais da cidade. Os questionários foram aplicados porequipes de duas pessoas, onde um seguia o roteiro elaborado e o outro procediaàs observações e anotações complementares no diário de campo, realizava osregistros fotográficos e elaborava croquis dos plantios. A amostra foi aleatória,obedecendo aos seguintes critérios: visitas a 5% dos agricultores familiares porlocalidade e/ou comunidade; avaliação das atividades através de reuniãorelâmpago in situ para retomar, caso necessário, mais 5% dos produtores daslocalidades a serem entrevistados. Foi considerado suficiente, quando onúmero de questionários aplicados apresentava informações que começavam ase repetir, em conformidade aos condicionantes do método “Estudo de Caso”.

Durante o trabalho, sempre que possível, buscou-se manter ainterdisciplinaridade entre os pesquisadores no intuito de obter informaçõespara futuras pesquisas. À noite eram realizadas reuniões de intercâmbio deinformações juntamente com os comunitários, versando sobre as principaisdemandas e dificuldades dos agricultores em relação ao trabalho agrícola esituação socioeconômica.

A INFRA-ESTRUTURA DAS COMUNIDADES

No aspecto da infra-estrutura, cada comunidade apresenta, basicamente,uma escola que atende a 4.ª série do Ensino Fundamental, habitações demadeira cobertas com telhas de zinco ou palha, igreja, casas de farinha e paiol.A água é coletada diretamente do rio, transportada em baldes e armazenada emrecipientes tipo camburões; não apresentam esgoto sanitário; o sistema deiluminação é baseado em grupos geradores movido a óleo diesel. O transportecomunitário é realizado em canoas impulsionadas por motor tipo rabeta. Existeum sistema de radiofonia, funcionalizado com energia solar fotovoltaica,instalado em localidades estratégicas com o intuito de facilitar a comunicaçãoentre as comunidades ribeirinhas e a sede do município. Todas as comunidadestêm televisão com antena parabólica, normalmente, instaladas nas escolas. APrefeitura Municipal de Pauini em parceria com o Governo do Estado doAmazonas promoveram doações de motores tipo rabeta, grupos geradores,casas de farinha e kits ferramenta a todas as famílias das comunidadesribeirinhas do município, através da Secretaria Municipal de Produção eAbastecimento do município.

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Segundo Alencar (2005), as deficiências na prestação de serviçospúblicos na área social, particularmente a falta de escolas ou de cursos deEnsino Médio nas comunidades ribeirinhas, são as principais causas damigração de famílias da várzea em direção às sedes municipais. Devido àdificuldade de encontrar trabalho na área urbana retornam à várzea paracultivar roças e proceder à pesca, realizando um deslocamento sazonal. O autorconjectura que ao migrarem para a área urbana rompem com um modelo dereprodução social característico das sociedades camponesas, deixando derepassar um conhecimento tradicional e não preparam os filhos para darcontinuidade a uma tradição de trabalho com a terra.

A Comissão Pastoral da Terra (CPT) estimulou as comunidades aorganizarem associações. Alguns comunitários são associados ao Sindicato deTrabalhadores Rurais e à Associação de Pescadores do município de Pauini.

Com relação à ação da pastoral da Igreja Católica nas comunidadesribeirinhas, desde a década de 1960, vêm incentivando a formação decomunidades nas localidades do interior. A idéia, posteriormente, foi sendoassumida por lideranças locais e o desdobramento desse movimento de cunhoreligioso-social fez com que as comunidades viessem a se constituir naprincipal referência de pertencialismo socioespacial (PANTOJA, 2005). Blum(2001) defende que a filosofia da vivência em grupos sociais, para melhorar aresolução de problemas através da soma de forças e mentes deve ser constantepreocupação dos agricultores e que a forma democrática de atuação grupal, oestudo das lideranças, a noção de dinâmica de grupo e o estímulo à formaparticipativa de planejamento, decisão e execução devem ser incentivados emtodas as comunidades rurais.

RELAÇÕES SOCIAIS DE TRABALHO

O trabalho agrícola é feito por famílias extensas, caboclas, descendentesde seringueiros que, de uma forma ou de outra, têm acesso aos meios deprodução, à terra e aos equipamentos, combinados em sistemas de uso demúltiplas estratégias, em diferentes ambientes, que possibilitam a segurançaalimentar e a reprodução social.

No período do extrativismo da borracha, os seringueiros arrendavamestradas dos patrões para “riscar” seringa pagando com o produto e por estrada.Com o “fracasso” da economia extrativista passaram a plantar roça e fruteiras

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regionais diversas. Naquela época, as pessoas trabalhavam no verão naextração de seringa, em dezembro na fabricação de farinha e no inverno naextração da castanha.

A terra foi acessada através da posse simples, com base na permanênciahistórica nas colocações locais, após o declínio da exploração extrativista deseringa. As propriedades não são divididas e as áreas de produção agrícola sãousadas individualmente pelas unidades familiares. As áreas de praia são usadasano a ano pelos mesmos grupos domésticos. Cada comunidade e/ou unidadefamiliar define seu território e estabelece critérios para acesso aos recursosnaturais neles existentes.

Quando o trabalho é organizado pela família, nuclear ou extensa, aforça de trabalho familiar apresenta-se assentada em dois tipos de trabalho:o trabalho utilizado na produção agroflorestal e o trabalho realizado pormeio de serviços domésticos. Como a unidade de consumo é a família, é elaquem determina a quantidade e a forma – se caseira ou não – do trabalhonecessário à manutenção familiar (NODA et al., 1997).

O emprego e a distribuição da força de trabalho, numa unidadefamiliar, são fatores extremamente importantes na manutenção dasustentabilidade do sistema produtivo. Qualquer impacto ambiental queresulte em dificuldades adicionais ao produtor familiar, para a produçãoagrícola ou para obtenção de algum produto extraído do ambiente natural(peixe, caça, madeira, etc.) causa, como conseqüência, a necessidade doemprego de força de trabalho adicional (NODA et al., 2001).

No aspecto organizacional, as comunidades improvisam, sendo rarasas contas, controles e anotações para o planejamento das atividades. Blum(2001) argumenta que a maioria dos agricultores não faz controle dereceitas e despesas; não faz análise dos custos, portanto, não conhece asmargens brutas, os lucros e as relações benefício/custo. Eles percebem queestão empobrecendo ou apenas se mantendo na atividade, mas nãoconseguem detectar a fonte dos seus problemas; desconhecem quais são asatividades mais lucrativas e que deverão ser incentivadas e quais são asdeficitárias e que deverão ser eliminadas ou reduzidas, observando sempreo sistema de produção.

O trabalho produtivo nas comunidades visitadas é baseado na ajudamútua nas modalidades de mutirão, troca-de-dia e parceria. A “união”costuma ser feita para execução de atividades que demandam maiorquantidade de mão-de-obra como plantio, colheita, farinhada, etc.

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Eventualmente contratam pessoas de outras comunidades como diaristaspara ajudar nas atividades pagando com produtos, principalmente a farinhae o feijão. Em algumas praias, situadas nas áreas indígenas, os índioscobram arrendamento dos agricultores ribeirinhos, que normalmente sãopagos com uma pequena parcela do produto cultivado. O conhecimentousado no manejo dos componentes de produção (sítio, roça e canteirosuspenso ou jirau) é basicamente o culturalmente acessado. Para essescomponentes as comunidades não recebem, no momento, assistênciatécnica.

O material propagativo utilizado nos plantios (semente, muda, estaca,etc) é compartilhado entre os agricultores e entre as localidades, inclusive comas comunidades indígenas. Na origem a obtenção de alguns desses produtoscomo o feijão, por exemplo, relaciona-se com agentes externos como “umnegociante que trouxe o feijão da EMATER de Boca-do-Acre”, etc. Algumassementes usadas no componente horta são compradas, ou então, doadas pelaSecretaria de Produção do município.

As relações de trabalho de ajuda mútua, denominadas regionalmente demutirão, ajuri, e/ou puxirum, apontam para a inexistência de uma formalização,de uma regulamentação, dessas relações. A característica principal é oconhecimento do processo produtivo agrícola e extrativista. Apresentam-secomo sendo o produto das necessidades econômicas dos agricultoresfamiliares. A relação de troca de dia é considerada como ajuda mútua dada àsbases em que se dá o contrato social. Não ocorre remuneração, pois estarelação vem suprir as necessidades de dinheiro dos agricultores familiares quenão possuem a quantidade necessária para assalariar temporariamente. Asrelações de parceria se dão quando a força de trabalho familiar não é suficientee não possuem recursos para pagar serviços de terceiros (NODA et al., 1997).

Nas comunidades ribeirinhas de Pauini a renda familiar resulta dasatividades de agricultura, criação animal (bovinos, ovinos, suínos e aves) e doextrativismo animal (caça e pesca) e vegetal (madeira, cipó, vara, palha, frutos,etc.). Outros rendimentos têm origem na aposentadoria e de benefícios dosprogramas sociais do Governo Federal (bolsa-escola, bolsa-família, etc.). Deacordo com Alencar (2005), a economia em comunidades ribeirinhas é baseadana diversificação de atividades e na utilização de estratégias econômicas quecombinam a exploração de diferentes recursos, onde o somatório da rendagerada por cada uma delas permite a reprodução das famílias.

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Os agricultores familiares do município levam os produtos oriundos daatividade agrícola para comercializar no mercado de Pauini, ou então, o fazemdiretamente com os “marreteiros” (regatões) na própria localidade. Anegociação com estes últimos é quase sempre à base de troca por outrosprodutos alimentícios (arroz, café, óleo, sal, etc.). No mercado de Pauini acomercialização se dá, comumente, a dinheiro com base no preço atualizado demercado. Segundo NODA et al. (2001), a atuação dos marreteiros comoagentes sociais de comercialização é favorecida pela produtividade excedentedo trabalho familiar, alienada na comercialização dos produtos.

Em decorrência da falta de registros de produção os agricultoresentrevistados citaram as espécies por eles cultivadas, sem precisar a áreaplantada e até mesmo a produção obtida. Nas análises que seguem trabalhamosas áreas e produção média dos principais cultivos declarados nas entrevistas.

O MANEJO DO ECOSSISTEMA PARA A PRODUÇÃO

As comunidades visitadas apresentam ambientes predominantemente devárzea baixa. Compreendendo um mosaico paisagístico identificado peloscomunitários como terra-alta ou “terruã”, restingas ou “lombadas”, encostas darestinga, praia, igarapé, chavascal, queimada, centro, capoeira, comexuberância vegetal e presença de água doce proveniente do rio Purus. As áreasconhecidas como terra-alta são aquelas alagadas apenas por grandesinundações como a ocorrida em 1997, normalmente, estão localizadas nasterras pertencentes às comunidades indígenas. De acordo com a classificaçãode Castro apud Alencar (2005), que utiliza como critério a topografia doterreno, as comunidades visitadas poderiam ser classificadas comocomunidades insulares, consideradas àquelas localizadas em ilhas de várzea,sem acesso às áreas de terra-firme.

NAS PRAIAS E ENCOSTAS DA RESTINGA

O preparo da área pode iniciar antes da inundação (janeiro/fevereiro) oudepois através de uma limpeza da vegetação, principalmente o murim(Paspalum fasciculatum Willd. ex Flüggé) e canarana (Panicum spectabileNees ex Trin.). Quando o rio recua e as áreas ficam livres de vegetação, os

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agricultores fazem o coveamento para o plantio seguindo métodos tradicionaise culturalmente acessados. De acordo com o conhecimento tradicional dealguns agricultores ribeirinhos locais, o tipo de vegetação pré-existenteinfluencia no sedimento retido e depositado: “o murim retém mais areia e acanarana retém mais barro”. O capim-de-burro (Cynodon spp.) é tido comoindicador do local onde pode plantar mandioca sem ter maiores problemas coma enchente.

De acordo com a experiência tradicional dos agricultores ribeirinhoslocais: o plantio costuma ocorrer no período de maio a julho (no verão)dependendo da descida do rio; a área plantada está diretamente relacionada aotamanho e a qualidade da praia que sai a cada ano; o local de plantio édeterminado pelo tipo/qualidade do solo que foi depositado. A mandioca, porexemplo, precisa de solo mais “areiusco” ou “barreado” (areia misturada comum pouco de barro), pois quando plantada em solo barrento vegeta emdetrimento da produção das raízes. O jerimum não “prospera” na areia fina dapraia, logo, deve ser cultivado em locais mais altos como as encostas erestingas, onde o solo é mais barreado.

O principal cuidado após o plantio é o combate às “perseguições”. Acasca da árvore conhecida localmente por “cabaçaqué” raspada e colocada naágua com milho e feijão, é usada para combater ratos (Rattus spp.) que atacammilho, feijão, melancia e macaxeira. Além do rato, o milho costuma ser atacadopela graúna (Molothrus spp.) e a maracanã (Propyrrhura spp.). O feijão sofrecom a paquinha (Gryllotalpidae), e a perseguição do marreco (Dendrocygbaspp.), do pássaro xexéu (Cacicus spp.) e do rato. Para combater a saúva (Attaspp.) utilizam iscas feitas com sementes de gergelim.

As colheitas são feitas manualmente antes que o rio atinja a plantação. Otransporte interno das áreas de produção para as moradias é feito manualmenteou através de canoas quando as áreas de plantio estão localizadas nas praiascircunvizinhas da comunidade. O armazenamento dos produtos in natura(milho e feijão) ou processados (farinha de mandioca) é feito em latas etambores diretamente nas casas e pelo menos um guarda em paiol. As sementesdestinadas ao plantio são colocadas em garrafas (PET, vidro, etc.) e vedadascom cinza e cera de abelha para evitar a ação de gorgulhos. As melhoresmanivas de mandioca e ramas de batata-doce são selecionadas e plantadas naterra-alta com a finalidade de manutenção dos propágulos vegetativos.

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TERRA-ALTA OU TERRUÃ

Segundo as informações coletadas, o preparo da área cultivada noecossistema de terra-alta ocorre, geralmente, no mês de junho. As operações depreparo dependem do tipo de vegetação pré-existente. Numa área de mata,envolve a broca, derrubada, queima e coivara.

O plantio normalmente é realizado no mês de agosto, iniciando com amandioca e depois com as demais culturas, algumas como a banana, porexemplo, são colocadas nas beiras, outras pelo meio da roça. A terra-altatambém é utilizada para manutenção de propágulos vegetativos de mandioca ebatata-doce. Além dos cultivos agrícolas, neste ecossistema também sãoformados campos para pastoreio bovino, que são utilizados durante o períodode alagação. Os tratos culturais envolvem capinas e combate às “perseguições”como a saúva, o rato, a paca e a cutia. A colheita é feita manualmente e odesmanche, ao contrário da roça na praia, pode ser feita aos poucos desde quea inundação não atinja a plantação. O transporte interno dos produtos é feitomanualmente através da mata até a beira do rio ou ao local de processamentopróximo à habitação.

RESTINGA

A restinga, onde estão localizadas as moradias, além das plantações,também é usada, em algumas comunidades, como campo de pastoreio para acriação de bovinos. Os tratos culturais identificados no componente foram aroçagem e a construção de cercados em torno de alguns plantios a fim de evitarque o gado danifique as plantas. Um trato cultural observado, nas plantasassociadas à moradia, é a construção de aterrados na tentativa de deixar asplantas cultivadas fora do alcance das águas do rio, na ocasião da cheia. Apóso uso, dois ou três anos de cultivo, a área da roça é manejada com fruteiras oudeixada em pousio (encapoeirar), por dois anos no mínimo, para então voltar aser usada. Enquanto a terra “descansa” abrem um outro “buraco” na mata paraimplantar novo roçado.

As principais espécies cultivadas nas restingas dos sítios das cincocomunidades ribeirinhas visitadas são: abacate, abacaxi, açaí, ariá, banana,cajá, coco, cupuaçu, goiaba, laranja, lima, limão, mandioca, manga, plantasornamentais e medicinais diversas.

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CANTEIRO SUSPENSO OU JIRAU

Os canteiros suspensos estão localizados na frente, nas laterais ou nosfundos das habitações. Costumam cultivar nos jiraus cebolinha, chicória,coentro, couve, pimenta-doce, tomate e pequenas plantas medicinais eornamentais. O plantio é feito do final de maio até julho. A renovação dosubstrato é feita anualmente, quando têm disponibilidade de estrume de boi epaú-da-mata. As regas são realizadas nas horas mais frescas do dia. Umaestratégia utilizada para evitar a entrada de animais é cercar os canteiros comvaras e/ou partes de malhadeira. Os homens atuam, basicamente, na construçãodos canteiros, cercado e transporte do adubo. O “cuidado com as plantas” éfeito pelas mulheres juntamente com as crianças, que “ajudam” na tarefa decarregar água do rio em baldes e/ou panelas para “molhar” o plantio.

CRIAÇÃO ANIMAL

Nas comunidades ribeirinhas, a criação de animais domésticos paraalimentação é baseada na criação de aves, suínos, ovinos e bovinos.Inicialmente, os animais foram obtidos por herança e posteriormente em trocade produtos, serviços e até mesmo pagamento em dinheiro proveniente dereserva feita com trabalho em extração de madeira e fabrico de farinha. Omanejo alimentar, sanitário e reprodutivo da criação é fundamentado em basestradicionais. Os animais são criados soltos, alimentando-se livremente nacomunidade, fazendo proveito de restos de alimentos, frutas do quintal e damata, raspas de mandioca e subprodutos do fabrico da farinha e pastoreionatural.

Alguns produtos que aparecem como componente do sistema agrícolacomo o melão, a melancia e o milho também são usados na suplementaçãoalimentar da criação. As instalações são rudimentares. Na época da enchente,o gado é acondicionado em marombas e os animais menores em chiqueirossuspensos.

Os animais de pequeno e médio porte são criados apenas para atender asnecessidades de consumo familiar, enquanto a criação bovina, além desta,apresenta outras finalidades como pagamento de serviços terceirizados evender numa situação de “aperreio”. Alguns criadores de boi vendemdiretamente para os açougueiros de Pauini, que por sua vez, buscam os animais

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na comunidade, levando-os abatidos, pagando à base de troca com outrasmercadorias.

O manejo do gado costuma ser feito pelos criadores das comunidadesestabelecendo a “união” para algumas atividades como construir curral, vacinarcontra a febre aftosa, cuidar dos animais na maromba e fazer cerca em tornodos plantios. Algumas vezes contratam serviços de terceiros pagando comtroca-de-dia.

Os animais bovinos criados nas comunidades foram identificados comosendo mistura de animais pé-duro com nelore. Onde o pé-duro é consideradocomo bom de produção de leite e o nelore é tido como ruim de leite.

No verão, os bois são criados soltos, freqüentando a mata e o campo noentorno da comunidade. Segundo os criadores entrevistados, na mata-alta osanimais alimentam-se, basicamente, com frutos de gameleira (Ficus spp.),taperebá ou cajá (Spondias mombin L.) e caxinguba (Ficus spp.) dentre outros.Na mata-baixa e beiras do rio, onde ocorre maior incidência dos raios solares,alimentam-se com capim natural, embaúba (Cecropia spp.) e rama “gurdião”.No campo, os animais alimentam-se com urtiga (Fleurya aestuans (L.)Gaudich. ex Miq.), capim barba-de-bode (Aristida spp.), capim-gordura(Melinis minutiflora P. Beauv.) é o preferido, capim-de-burro e o murimquando novo. A suplementação da alimentação é feita com o fornecimento desal comum “só pra dá saliva no gado”, que é comprado em fardos atendendo,também, às necessidades da família e salga do pescado.

No inverno, período da alagação, entre os meses de fevereiro até abril,os animais são suspensos em marombas. Nesse período, a alimentaçãofornecida à criação bovina é suprida, principalmente, com canarana, folhas e“olho” da embaúba. Alguns criadores conduzem seu rebanho para camposformados na terra-alta ou terruã.

No manejo da criação bovina, a apartação dos animais é feita por contaprópria. Para abreviar o período do aleitamento colocam uma “tabuleta” nonariz dos bezerros. A castração dos machos é feita a partir de um ano e poucode idade visando à engorda dos animais. Os animais não são ferrados(marcados) e nem divididos por categoria, a monta é livre e não há divisão depastagem, os animais são criados todos juntos.

Alguns criadores da várzea, com o intuito de formarem campo nasrestingas para o pastoreio bovino, obtiveram sementes de capim braquiário(Brachiaria spp.) com criadores da terra-firme, mas a água matou o capim.Como invasoras das pastagens, identificaram o “mata-pasto” e o “pau-de-

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leite”, “mas as imundícies são tantas que não sabem nem dizer o nome”. Asplantas invasoras das pastagens são desmoitadas, anualmente, com terçado eenxada como forma de controle. Foi mencionada uma planta tóxicadenominada comumente como “tingüi”, cuja semente é depositada no solodepois da alagação e “brolha” no campo, para o controle procedem aoarranque.

A doença de maior ocorrência na criação de gado é denominadalocalmente como “seca dos animais”. Não têm problema com carrapato. Nosúltimos dois anos (desde novembro de 2004) vacinaram contra febre aftosa. Avacina é fornecida pelo IDAM (Instituto de Desenvolvimento Agropecuário doEstado do Amazonas) e a aplicação é feita por um conhecido de Pauini que foitreinado por um veterinário do próprio Instituto.

Várias são as espécies de plantas tóxicas que crescem associadas àspastagens, algumas delas foram abordadas por Tokarnia et al. (1979); umadelas, também, denominada popularmente em Roraima por “tingui” é aCoutoubea ramosa Aubl., pertencente à família Gentianaceae. Os estudosexperimentais realizados com esta espécie em bovinos, apresentaram sintomasque consistiam em anorexia, andar lerdo, manifestações de dores abdominais,diminuição da atividade do rúmen, taquicardia, polipnéia, superfície do corpofria e morte. Esta planta, mesmo dessecada, após 4 meses e meio, continuou aapresentar efeitos tóxicos.

Como “perseguições” da criação animal foram relatados o morcego, aonça, a cobra e o jacaré-açu. Para combater as infecções causadas por mordidade morcego passam óleo de andiroba (Carapa guianensis Aubl.) no localmordido. Para curar bicheiras, estrepes e golpes nos animais utilizam remédiosobtidos no Posto da SUCAM (Superintendência de Campanhas de SaúdePública Ministério da Saúde). De acordo com o conhecimento tradicionallocal, a fruta da gameleira (Ficus spp.) que é consumida espontaneamente namata, também, serve como um vermífugo natural para os animais.

A criação de animais domésticos costuma ser um componenteimportante da agricultura familiar. Além de função alimentar os mesmospodem funcionar como uma espécie de “ativo” facilmente mobilizável parasatisfazer necessidades imediatas da família, principalmente nas situações de“aperreio”, mediante venda ou de outra relação (NODA et al. 2001).

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RECURSOS FLORESTAIS

Nas visitas técnicas realizadas foi possível constatar que os ribeirinhosentrevistados extraem produtos florestais madeireiros e não-madeireiros,apenas para atender à demanda das famílias na própria comunidade. Osrecursos extraídos da floresta são divididos entre as famílias que se juntam paraobtê-los. Produtos como o vinho de açaí são processados artesanalmente naprópria comunidade e divididos entre as famílias. Aqueles que extraem acastanha-do-Brasil, normalmente, comercializam com os regatões em troca deprodutos industrializados.

A madeira extraída é utilizada para a confecção de casas, canoas,cercados e lenha para uso doméstico e alimentação dos fornos na ocasião dofabrico de produtos da mandioca. Os entrevistados argumentaram que “paraachar a madeira está ficando cada vez mais longe” e “antigamente, no tempoda MANASA (Madeireira Nacional S.A.), tá com uns 25 anos, tinha muitajacareúba”. Vale ressaltar que a madeira do rio Purus foi bastante explorada nosanos 80 até 2002 pelas madeireiras MANASA e Gethal Amazonas.

Nas entrevistas foi possível relacionar 23 espécies madeireiras que sãoregularmente utilizadas pelos ribeirinhos, dentre as quais as mais citadasforam: acariquara (40%), jacareúba (40%), jitó (60%), lacre (60%),maçaranduba (60%), mulateiro (40%) e paracuúba (50%). Foram citados 20produtos florestais não-madeireiros utilizados comumente pelos comunitáriosribeirinhos, dentre eles os mais freqüentes foram: açaí (89%), andiroba (56%),cacau (67%), castanha-do-Brasil (56%), lenha (100%) e mel-de-abelhas (56%).

O período em que utilizam maior quantidade de lenha situa-se entredezembro a março. As espécies relacionadas que são mais utilizadas para lenhaforam o mulateiro e a paracuúba, sendo a primeira considerada como melhor.Um entrevistado na comunidade Atalaia comentou que “tá mais distante alenha, porque já usaram muita”. Outro na comunidade Içá relatou que “pau-mulato (mulateiro) ainda tem uma porção deles”. Durante as observações decampo foi possível constatar que o mulateiro apresenta grande potencial deestabelecimento nas restingas das localidades, cresce rápido e em grandequantidade.

A extração madeireira afeta, a cada ano, uma área muito maior defloresta primária do que todos os outros usos da terra juntos, mas esses efeitossão difíceis de serem detectados porque não resultam na remoção completa dodossel. Com a inexistência de um planejamento da exploração florestal, em

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função da auto-ecologia das espécies, e a falta de um plano de corte para cadaespécie a ser explorada, corre-se o risco de perda da variabilidade genética e,numa condição mais drástica, pode ocasionar a extinção das espécies deinteresse (VIEIRA et al., 1993:48). Sistemas sustentáveis invariavelmenterequerem que a proporção da madeira que é colhida em cada ciclo sejalimitada. Deixar a madeira de valor na floresta aumenta os lucros futuros,independente da atração de deixar árvores do ponto de vista da sustentabilidade(FEARNSIDE, 2003).

RECURSOS PESQUEIROS

A pesca nas localidades visitadas é realizada, fundamentalmente, para oatendimento do consumo familiar, comercializando apenas o excedente. Éexecutada com apetrechos confeccionados artesanalmente (anzol/linha, caniço,espinhel, flecha, malhadeira e tarrafa) e canoa a remo, por vezes, impulsionadacom motores de rabeta quando necessitam realizar grandes deslocamentos. Oslocais da atividade são no rio Purus, lagos e igapós próximos às comunidades.

Durante as entrevistas foram listadas 35 espécies de peixes que sãoregularmente aproveitadas pelas famílias ribeirinhas, dentre estas, as maiscitadas pelos entrevistados foram: branquinha (56%), cará (44%), curimatã(56%), jundiá (44%), mandi (67%), pacu (100%), piau (56%), piranambu(44%), sardinha (100%) e surubim (78%). Dentre os apetrechos de pesca osque mais concorrem para a captura das espécies comentadas nas entrevistas sãoa malhadeira (91%), o anzol/linha (66%) e a tarrafa (63%).

A população das comunidades de peixes muda, radicalmente, durante oano, de acordo com as flutuações do nível da água. Os métodos pesqueirostambém se adaptam às diferenças na profundidade da água e aos movimentosdos peixes. Muitos peixes aparentemente desovam quando as águas sobem.Outros desovam nos lagos e ao longo das restingas. Porém, a mais espetacularcorrida de peixes, conhecida como piracema, ocorre quando as águas começama baixar, é nesse momento que ocorre a formação de cardumes de váriasespécies que migram rio acima. Tais migrações volumosas atraem a atenção devários predadores, contribuindo para o aumento no número de espéciespiscícolas que podem ser capturadas para a alimentação (SMITH, 1979).

Algumas comunidades ribeirinhas do município de Pauini tiveram quelutar junto ao IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos

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Naturais Renováveis) pela preservação do lago do Içá. A preservação durouquatro anos (2000 a 2004) e durante esse tempo tiveram atrito com ospescadores comerciais, principalmente, os “vindos de fora”.

Segundo Batista et al., (2004), a ação deficiente do poder público comogerenciador dos recursos pesqueiros e a exclusão da pesca como prioridade nosprogramas governamentais de gerenciamento de recursos naturais da regiãopermitiu o aumento descontrolado da explotação. As normas de ordenamentopesqueiro existentes, consideradas, na maior parte das vezes inadequadas àscaracterísticas regionais são, na prática, pouco cumprida e deficientementefiscalizadas.

Para McGrath et al. (1993) apud Batista et al. (2004), os ribeirinhosreivindicam a posse dos peixes nos seus lagos, do mesmo modo que osproprietários de terra reivindicam a posse de caça em suas terras. De acordocom os autores, esta noção de posse dos recursos pesqueiros dos lagos é menosaplicada aos rios, sendo geralmente reconhecido que o peixe do rio pertence aquem o pescar.

O MERCADO DE PRODUTOS AGRÍCOLAS

O abastecimento de Pauini com produtos alimentícios é caracterizado,basicamente, pela importação de produtos provenientes do Rio Branco/AC(cereais, açúcar, café, tabaco, frutas, hortaliças, frango congelado, etc.).Proprietários de mercadinho, mercearia e de embarcação (freteiros)encomendam de frigoríficos, empacotadoras ou representantes comerciais domunicípio de Rio Branco que abrem crédito para pagamento com cheque pré-datado (trinta, quarenta e sessenta dias) ou ordem bancária. Os compradorespagam frete, imposto e assumem o risco por perdas. Dependendo do produto,vendem diretamente ao consumidor ou repassam para outros comerciantes dosbairros de Pauini dando prazos menores para o pagamento.

No verão, os produtos são transportados, via terrestre, até o município deBoca do Acre para então serem embarcados para Pauini. Os barcos nãopossuem câmaras frias para transportar produtos perecíveis, no máximo caixasde isopor. No inverno os produtos podem ser transportados via fluvial direto deRio Branco. A tecnologia de conservação adotada no comércio local é o deacondicionamento em freezers e expositores. A perda de produtos como uva,maçã, tomate, pimentão e repolho é considerada grande.

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A produção agrícola das localidades ribeirinhas contribui basicamentecom o suprimento de farinha de mandioca (seca, d’água e de tapioca), molhoarubé, banana (prata, maçã e comprida), mamão, maracujá, limão e produtosflorestais não-madeireiros (açaí, bacaba, castanha, etc.). Os agricultores daterra-firme (cidade e colônia) contribuem com colorau, cheiro-verde, farinha,macaxeira, tucumã, cupuaçu, graviola e produtos da criação de bovinos(queijo, leite e carne).

Nos mercados, os produtos são expostos em bancadas, acondicionadosem sacos, paneiros e ao ar livre. As unidades de medidas usadas paracomercialização são o quilograma, litro, lata, alqueire, saca, paneiro, palma,cacho e por unidade (cento, dúzia, dezena). O pescado é acondicionado emcaixas de isopor e exposto sobre bancadas de alvenaria revestida com azulejos.A carne bovina não é vendida por corte específico. A maior parte da carnebovina comercializada é originada de Boca do Acre. Os preços são tabeladospor quilo sem a diferenciação por parte do animal ou do tipo de peixe.

A inexistência de uma atividade agrícola que atenda às demandas daspopulações locais no Estado do Amazonas faz com que grande parte dosprodutos alimentares seja importada de outras regiões do país, quenormalmente são transportados de áreas distantes, majorando o preço dosalimentos e tornando-os de difícil acesso pelas populações de baixa renda,contribuindo assim para o aumento da deficiência nutricional em calorias,proteínas e vitaminas na região (NODA et al., 1997).

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LITERATURA CITADA

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PEREIRA, K.J.C., REIS, R.S., LIMA, B.F.L., VEASEY, E.A.,AGUIAR, J., SILVA, A.L., SILVA, M.A. Agricultores ou pescadores?Identidades, formas de produzir e suas implicações na gestãoparticipativa de unidades de conservação na Amazônia Central. In:Anais do IV Simpósio Brasileiro de Etnobiologia e Etnoecologia:Etnobiologia e Compromisso Socioambiental. Porto Alegre: SBEE,2006. p. 41-42.

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Principais espécies cultivadas nos sítios de cinco comunidades ribeirinhas do município de Pauini.

Nome popular Nome científico Família botânica Freqüência (%)

Espécies arbóreas/lenhosasAbacate Persea americana Mill. Lauraceae 33Açaí Euterpe spp. Arecaceae 75Azeitona Olea europaea L. Oleaceae 33Bacaba Oenocarpus bacaba Mart. Arecaceae 42Cacau Theobroma cacao L. Sterculiaceae 67Caju Anacardium occidentale L. Anacardiaceae 67Coco Cocos nucifera L. Arecaceae 58Cupuaçu Theobroma grandiflorum (Willd. ex Spreng.) K. Schum. Sterculiaceae 58Fruta-pão Artocarpus altilis (Parkinson) Fosberg Moraceae 33Goiaba Psidium guajava L. Myrtaceae 75Graviola Anona muricata L. Annonaceae 33Ingá Ingá spp. Leguminosae 42Jambo Eugenia malaccensis L. Myrtaceae 58Laranja/limão Citrus spp. Rutaceae 67Mamão Carica papaya L. Caricaceae 50Manga Mangifera indica L. Anacardiaceae 75Pupunha Bactris gasipaes Kunth Arecaceae 75Seringueira Hevea brasiliensis Muell. Arg. Euphorbiaceae 58Urucum Bixa orellana L. Bixaceae 33Espécies arbóreas/herbáceasAbacaxi Ananas comosus (L.) Merr. Bromeliaceae 50Ariá Calathea allouia (Aubl.) Lindl. Marantaceae 25Batata-doce Ipomoea batatas (L.) Lam. Convolvulaceae 75Banana Musa spp. Musaceae 83Cana-de-açúcar Saccharum officinarum L. Poaceae 25Cebolinha Allium schoenoprasum L. Liliaceae 75Chicória Erygium foetidum L. Apiaceae 83Feijão-de-metro Vigna sinensis (L.) Savi ex Hassk. Fabaceae 17Feijão-de-praia Vigna unguiculata (L.) Walp. Fabaceae 100Jambu Spilanthes oleracea L. Asteraceae 17Jerimum Cucurbita maxima Duchesne Cucurbitaceae 67Macaxeira/mandioca Manihot esculenta Crantz Euphorbiaceae 100Maracujá Passiflora edulis Sims Passifloraceae 33Maxixe Cucumis anguria L. Cucurbitaceae 50Melancia Citrullus lanatus (Thunb.) Matsum. & Nakai Cucurbitaceae 83Milho Zea mays L. Poaceae 75Pepino Cucumis sativus L. Cucurbitaceae 17Pimenta-doce Capsicum spp. Solonaceae 83Pimenta-malagueta Capsicum spp. Solonaceae 25Pimenta-murupi Capsicum spp. Solonaceae 25Pimentão Capsicum annuum L. Solonaceae 33Quiabo Hibiscus esculentus L. Malvaceae 33Taioba Colocasia antiquorum Schott Araceae 8Tomate Lycopersicon esculentum Mill. Solonaceae 42Vinagreira Hibiscus sabdariffa L. Malvaceae 8Alface Lactuca sativa L. Compositae 8Repolho Brassica oleracea L. Brassicaceae 8Beterraba Beta vulgaris L. Chenopodiaceae 8

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Nome popular Nome científico Família botânica Freqüência (%)

Espécies arbóreas/lenhosasCenoura Daucus carota L. Apiaceae 8Pimenta roxa Capsicum spp. Solonaceae 8Pimenta-olho-de-peixe Capsicum spp. Solonaceae 33Espécies medicinaisAmor-crescido Portulaca pilosa L. Portulacaceae 67Agrião Nasturtium spp. Brassicaceae 75Anador Artemisia voluntorium Lam. Asteraceae 17Boa-noite/bom-dia 17Capim-santo Cymbopogon citratus (D.C.) Stapf. Poaceae 58Cravo Tagetes patula L. Asteraceae 25Crista-de-galo Celosia argentea L. Amaranthaceae 8Croto Hibiscus spp. Malvaceae 8Erva-cidreira Melissa officinalis L. Lamiaceae 67Gergelim Sesamum indicum L. Pedaliaceae 42Hortelã Mentha piperita L. Lamiaceae 42Jucá Caesalpinia ferrea Mart. Fabaceae 42Malvarisco Althaea officinalis L. Malvaceae 50Mangarataia Zinziber officinalis Roscoe Zingiberaceae 17Manjericão Ocimum basilicum L. Lamiaceae 33Mastruz Chenopodium ambrosioides Bert. ExStend Chenopodiaceae 58Onze-horas Portulaca spp. Portulacaceae 42Oriza Pogostemon heyneanus Benth. Lamiaceae 8Papoula Hibiscus spp. Malvaceae 8Pinhão-branco Jatropha curcas L. Euphorbiaceae 42Pinhão-roxo Jatropha gossypifolia L. Euphorbiaceae 50Primavera Não identificada Não identificada 17Rosas Rosa cinnamomea L. Rosaceae 42Sabugueiro Sambucus spp. Caprifoliaceae 25Sacaca Cróton cajucara Benth Euphorbiaceae 8Coirama Kalanchoe spp. Crassulaceae 33Mucuracaá Petiveria alliaceae L. Phytolaccaceae 8Coité Crescentia spp. Bignoniaceae 8Elixir paregórico Piper Callosun Ruiz & Pav. Piperaceae 8Manjirioba Senna occidentalis (Linn.) Link. Caesalpiniaceae 8Alecrim Rosmarinus officinalis L. Lamiaceae 8Ampicilina Não identificado Não identificado 8Espada-de-são-jorge Sansevieria spp. Liliaceae 8Cordão-de-frade Leonitis nepetifolia L. Lamiacea 8Bananeira brava Musa spp. Musaceae 8Orquídea Epidendrum spp. Orchidaceae 8Boldo Vernonia spp. Asteraceae 8Saratudo Byrsonima intermedia L. Malpighiaceae 8Trevo-roxo Hyptis spp. Lamiaceae 8Casadinho Não identificado Não identificado 8Saia-de-velha Não identificado Não identificado 8Carmelitana Lippia spp. Verbenaceae 8Girassol Helianthus spp. Asteraceae 8

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Principais produtos extraídos da floresta e utilizados em cinco comunidades ribeirinhas do município de Pauini.

Nome popular Nome científico Família botânica Freqüência (%)Açaí Euterpe oleracea Mart. Arecaceae 89Acariquara Minguartia guianensis Aubl. Olacaceae 40Amapá Brosimum spp. Moraceae 11Ambé Plilodendron spp. Araceae 10Andiroba Carapa guianensis Aubl. Meliaceae 67Angelim Vários Fabaceae 30Angico Anadenanthera spp. Fabaceae 33Araçá Psidium araca Raddi. Myrtaceae 10Araçá-boi Eugenia stipitata Mc Vaugh. Myrtaceae 11Assacu Hura crepitans L. Euphorbiaceae 10Bacaba Oenocarpus bacaba Mart. Arecaceae 33Bacabinha Oenocarpus minor Mart. Arecaceae 11Bacuri Moronobea spp. Clusiaceae 30Borracha 44Cacau Theobroma cacao L. Sterculiaceae 67Capeba Piper marginatum Jacq. Piperaceae 11Carapanaúba/Paracanaúba Aspidosperma nitidum Benth. Ex Müll. Arg. Apocynaceae 44Carauari (palha) Arecaceae 10Castanha-do-Brasil Bertholletia excelsa H.B.K. Lecythidaceae 56Cedro Cedrella fissilis Vell. Meliaceae 11Cipó-titica Hetteropsis spp. Araceae 10Copaíba Copaifera multijuga Hayne Fabaceae 10Copaíba Copaifera spp. Fabaceae 78Faveira Vatairea guianensis Aubl. Fabaceae 22Itaúba Ocotea megaphylla (Meisn.) Mez. Lauraceae 10Jacareúba Calophyllum brasiliense Cambess. Clusiaceae 40Jatobá Hymenaea courbaril L. Fabaceae 78Jitó Guarea tuberculata Vell. Meliaceae 60Jutaí Hymenaea spp. Fabaceae 11Lacre Vismia spp. Clusiaceae 60Louro-amarelo Ocotea spp. Lauraceae 10Maçaranduba Manilkara huberi Ducke. Sapotaceae 60Maparajuba Manilkara inundata Ducke. Sapotaceae 10Maracujá-de-rato Passiflora spp. Passifloraceae 11Mari-mari Poraqueiba sericea Tul. Icanicaceae 11Mel 56Mulateiro Calycophyllum spruceanum (Benth) Hook f. ex K. Schum Rubiaceae 40Palha 33Paracuúba Lecointea spp. Fabaceae 50Patauá Oenocarpus bataua Mart. Arecaceae 22Pinhão-roxo 11Piquiá Caryocar villosum (Aubl.) Pers. Caryocaraceae 11Piranheira Piranhea spp. Euphorbiaceae 30Quina-quina Aspidosperma nitidum Benth. Apocynaceae 22Samaúma Ceiba pentandra (L.) Gaertn. Bombacaceae 20Saratudo Justicia cf. monandra L. Acanthaceae 11Sorva Couma utilis (Mart) Muell. Arg. Apocynaceae 10Sucuba Himatanthus sucuuba (Spruce) Woodson Apocynaceae 33Sucupira Diplotropis martiusii Benth. Fabaceae 10Surucuima Não identificada Não identificada 11Uchi Endopleura uchi (Huber) Cuatrec. Humiriaceae 22Unha-de-gato Uncaria tomentosa Willd. Rubiaceae 67Urucuri Scheelea spp. Arecaceae 22Virola ou Ucuúba Virola surinamensis (Rol.) Warb. Myristicaceae 10

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Principais espécies piscícolas capturadas no ecossistema pesqueiro de cinco comunidades ribeirinhas no município de Pauini.

Nome popular Nome científico Família botânicaFreqüência

(%)Acari Pterygoplichthys pardales Loricariidae 33Amarelo Pellona spp. Clupeidae 22Aruanã Osteoglossum bicirrhosum Osteoglossidae 22Bacu Lithodoras dorsalis, Megalodoras sp. Doradidae 33Bico-de-pato Sorubim lima Pimelodidade 11Branquinha Potamorhina spp. Curimatidae 11Peixe-cachorro Acestrorhynchus, Hydrolycus, Rhaphiodon Charicidae 56Cangati Parauchenipterus galeatus Auchenipteridae 11Caparari Psedoplatystoma tigrinum Pimelodidae 11Acará Vários Cichlidae 11Acará-açu Astronotus occelatus Cichlidae 44Cuiú Pseudodoras niger Doradidae 33Curimatã Prochilodus nigricans Prochilodontidae 33Filhote Brachyplatystoma filamentosum Pimelodidae 56Jeju Hoploerythrinu unitaeniatus Erythrinidae 22Jundiá Rhamdia quelen Pimelodidae 11Mandi Pimelodus, Pimelodella, Rhamdia Pimelodidae 44Mapará Hypophthalmus spp. Hypophthalmidae 67Matrinchã Brycon spp. Charicidae 33Pacu Mylossoma spp. Serrasalmidae 33Pescada Plagioscion, Pachypops, Furcraeus Sciaenidae 100Piaba Várias Várias 33Piau Várias Anostomidae 11Piranambu Pinirampus pinirampu Pimelodidae 56Piranha Pygocentrus nattereri, Serrasalmus spp. Serrasalmidae 44Pirapitinga Piaractus brachypomus Serrasalmidae 11Pirarara Phractocephalus hemioliopterus Pimelodidae 11Sardinha Triprotheus spp. Charicidae 11Surubim Pseudoplatystoma fasciatum Pimelodidae 100Tainha/Saúna Mugil incilis Mugilidae 78Tambaqui Colossoma macropomum Serrasalmidae 11Tamoatá Hoplosternum spp., Callichthys callichthys Callichthyidae 11Traíra Hoplias malabaricus Erythrinidae 11Tucunaré Cichla spp. Cichlidae 22

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CAPÍTULO 7

QUALIFICAÇÃO PROFISSIONAL DETRABALHADORES RURAIS E URBANOS PARA ODESENVOLVIMENTO SUSTENTADO DE PAUINI

Sandra do Nascimento Noda1

Hiroshi Noda2

Jorge Emídio de Carvalho Soares2

Isaac Sidney Benchimol2

Manoel Pereira Filho2

Rogério Souza de Jesus2

José Ribamar Benício de Castro2

Hélio Conceição Vilas Boas2

Maria Albanira Araújo Pena3

Jucélia Oliveira Vidal3

INTRODUÇÃO

Segundo Fearnside (2002), os projetos de desenvolvimento propostos naAmazônia raramente são formulados com base na informação técnica sobresustentabilidade potencial, impacto ambiental, ou mesmo rentabilidadeeconômica. Daí a necessidade urgente de redirecionar os processos que estãotransformando as florestas da região em formas não-sustentáveis dedesenvolvimento. As análises atuais sobre os usos dos solos da Amazôniaindicam que os procedimentos adotados na produção agrícola sejam nãoapenas adequados tecnicamente, mas ambiental, econômica e socialmentesustentáveis. As formas de produção utilizadas pelas populações tradicionaisda Amazônia constituem o referencial mais próximo do que seria um sistemade produção auto-suficiente e sustentado. Os impactos causados ao ambientenatural são, em escala, muito menores do que aqueles produzidos por grandesempreendimentos agropecuários (NODA et al., 2002). Ações sociais

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1. Universidade Federal do Amazonas (UFAM).

2. Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA).

3. Núcleo de Estudos Rurais e Urbanos Amazônicos (NERUA).

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participativas que contribuam com a elevação da escolaridade no ambienterural podem contribuir para a socialização dos povos. Através do levantamentosocioeconômico do projeto Tecnologias para o Desenvolvimento eSustentabilidade do Município de Pauini – TEDES, realizado em Pauini, emcinco comunidades ribeirinhas do rio Purus e na sede do município, foramidentificadas as necessidades primordiais dos moradores das localidades,servindo como base para a demanda de cursos de capacitação e treinamento.Os cursos foram ministrados com o intuito de contribuir para a formação deagentes multiplicadores no município de Pauini.

Os cursos ministrados, segundo a demanda focalizada, foram:

• Horticultura;• Utilização de Madeira Regional para Movelaria;• Piscicultura familiar;• Técnicas de conservação e processamento do pescado em unidades

familiares de produção;• Criação de abelhas sem ferrão.

HORTICULTURA

Foram realizadas atividades de treinamento e capacitação emhorticultura para os moradores da sede do município e em cinco comunidadesparceiras localizadas nas áreas de várzea do rio Purus, totalizando 97 pessoas.Durante as atividades foram ministradas aulas teóricas e práticas dandoenfoque ao cultivo de hortaliças (convencionais e não-convencionais),produção de mudas, técnicas de cultivo e uso de plantas medicinais, sistemasagroflorestais e técnicas alternativas para prevenção e controle de pragas edoenças das plantas cultivadas nas localidades.

As hortaliças por constituírem um grupo de plantas ricas em substânciasnutritivas podem contribuir para amenizar o desequilíbrio nutricional daspopulações da Amazônia. Entretanto, na região, predominam solos de baixafertilidade que, junto com as condições climáticas de temperatura e umidadeelevadas, compõem ambientes limitantes ao cultivo de grande parte dashortaliças convencionais. Por outro lado, algumas hortaliças não-convencionaiscompreendendo espécies nativas e introduzidas, são adaptadas a essas

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condições ambientais e podem contribuir decisivamente para a melhoria dadieta das populações da região (CARDOSO, 1997).

No cultivo de hortaliças foram abordados: os conceitos, a importância dahortaliça, tipos, classificação, formação de mudas, construção de canteiros etécnicas de cultivo. Em cada comunidade foi construído um viveiro de mudaspara a agricultura familiar, onde foram realizados treinamentos. Os viveirosforam cobertos e cercados com palha a fim de evitar insolação direta, impactode gotas de chuvas e entrada de animais domésticos (sugestão dada pelosagricultores). Para fins didáticos, os viveiros foram divididos em duas partesiguais, sendo, em uma das partes, construídos dois canteiros medindo 1x6 mcada, onde um deles foi utilizado para demonstração da sementeira e o outropara as técnicas de cultivo. Na outra parte do viveiro foram empilhados restosvegetais com o intuito de demonstrar técnicas de preparo e manipulação docomposto orgânico.

Nas aulas foram apresentadas técnicas para utilização de copinhos dejornal como recipientes para produção de mudas, quebra de dormência desementes (por exemplo: pré-germinação de sementes de alface) e preparaçãode substrato para enchimento de sacos de plástico, copinhos e leitos decanteiros de semeadura, usando-se misturas de argila, areia de praia e paú-da-mata (material lenhoso decomposto) na proporção 3: 2: 1. Na ocasião dostreinamentos foram utilizadas e distribuídas sementes de algumas hortaliçasconvencionais (alface, cebolinha, coentro, maxixe, pepino, pimentão, quiabo etomate, cultivar Yoshimatsu) e não-convencionais (bertalha, feijão-de-metro,cubiu e feijão-de-asa).

Em quatro das comunidades ribeirinhas que participaram dostreinamentos em horticultura foram feitas visitas técnicas com o intuito deverificar a adoção das tecnologias introduzidas por meio dos cursosministrados. Foi constatado que apenas uma surtiu o interesse na formação deuma horta coletiva. Nas demais, as famílias manifestaram interesse em fazerplantios individuais. Porém, todos se prontificaram em dar continuidade aocultivo de hortaliças, pondo em prática as novas orientações adquiridas a partirdos meses de maio e junho (verão) de 2007, uma vez que as fortes chuvasocorridas no inverno haviam danificado os canteiros construídos diretamenteno solo (Figura 1).

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MANEJO E CULTIVO DE PLANTAS MEDICINAIS

As plantas são fontes importantes de produtos naturais biologicamenteativos, muitos dos quais constituem em modelos para a síntese de um grandenúmero de fármacos. Um aspecto menos discutido na questão da devastação dasflorestas tropicais refere-se à perda do conhecimento, acumulado por milênios,sobre o uso medicinal tradicional das plantas destas florestas pelas populaçõesa elas associadas. Essa devastação provoca a migração dessas comunidades,normalmente para os centros urbanos, provocando o rompimento do fluxo deconhecimento adquirido e acumulado ao longo do tempo (GUERRA eNODARI, 2002).

De acordo com Elisabetsky (2002), freqüentemente argumenta-se que acultura popular identifica sintomas, mas não caracteriza ou entende as doençascomo são caracterizadas pela medicina, por isso, tais informações não servemde base para ajudar a desenvolver novos medicamentos. A autora observa,também, que o método etnofarmacológico permite a formulação de hipóteses:H0= o remédio não cura a “enfermidade”; H1= o remédio cura a “enfermidade”.Essas hipóteses devem ser testadas com todos os controles e rigores da ciência,levando em consideração toda a informação – modo de preparo e posologiaincluso – que traz o conhecimento tradicional.

Nos cursos foi ressaltada a importância das plantas medicinais, produçãode mudas, tratos cultuais, colheita, secagem, conservação, armazenamento,formas e cuidados no preparo das ervas. Foram registradas as plantas medicinaispresentes nas comunidades e nos arredores (ver a relação no capítulo anterior),bem como suas formas de preparo e ocorrendo trocas de informações entre osparticipantes sobre o uso de diferentes plantas para determinados tipos deenfermidades. Vale realçar que a Comissão Pastoral da Terra – CPT local vemdesenvolvendo atividades nesse sentido junto às comunidades do município.

Em um estudo etnobotânico realizado por Rodrígues (2002) foiconstatado que as comunidades de Pauini utilizam 108 plantas medicinais, dasquais 53 são originárias da Amazônia, 21 da Europa e 23 da Ásia. Segundo oautor, o elevado percentual (51,85%) de plantas alóctones e o desconhecimentode outras plantas medicinais importantes na Amazônia, indicam que ascomunidades introduziram no território elementos de outras culturas. Convémaportar que as plantas medicinais relacionadas no diagnóstico do ProjetoTEDES tende a complementar a relação obtida por Rodrígues (2002) e vice-versa.

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SISTEMAS AGROFLORESTAIS TRADICIONAIS

Os agricultores tradicionais do município, como os de outras regiões daAmazônia, adotam práticas de cultivo que podem ser classificados como sistemasagroflorestais. A ampla diversidade de cultivos, anuais e perenes, consorciadoscom espécies florestais, em arranjos espaciais e temporais, garantem aestabilidade do suprimento em alimentos para a manutenção das famílias. Forampromovidas discussões participativas sobre sistemas agroflorestais, formação ecomposição dos quintais, plantio de árvores junto com os cultivos anuais eespécies florestais mais adequados para consorciação com os cultivostemporários. Durante as discussões, os agricultores familiares relataram que oprincipal entrave para a sobrevivência das plantas, das espécies que compõem opomar caseiro das comunidades ribeirinhas, era o aterramento pela enchente.

Foi elaborada uma lista das principais espécies arbóreas de interesse,sugeridas pelos próprios participantes, para a composição de plantiosagroflorestais nas áreas de várzea e que não apresentam problemas com aalagação, são elas: cedro, copaíba, andiroba, açaí, samaúma, buriti, urucuri,manga, urucum, cupuaçu, ingá, cajá, jambo, caju, graviola, bacuri, jenipapo,araticum (Rollinia mucosa (Jacq.) Baill.), jatobá, angico, angelim, macacaúba,cacau, castanha, goiaba, coco, maçaranduba, embaúba, mulateiro, jitó, jacareúba,gameleira, jauari (Astrocarium jauari Mart.), manixi (Brosimopsis oblongifoliaDucke).

De acordo com o conhecimento etnobotânico dos agricultores familiaresribeirinhos locais: samaúma, jacareúba, buriti, urucuri, mulateiro e o jitó toleramo aterro provocado pela enchente. O mulateiro apresenta um crescimento rápido etem grande potencial para uso como lenha, ocorrendo com muita facilidade nasvárzeas das localidades. A embaúba fornece paú (material lenhoso decompostousado como fertilizante orgânico) de ótima qualidade e, além disso, é utilizada naalimentação bovina. Observações realizadas pelos agricultores sugerem que asembaubeiras chegam a viver mais de vinte anos nas várzeas das localidades e,também, colonizam as áreas com bastante facilidade.

Conforme Benatto et al. (2006), o manejo de espécies anuais e perenes emsistemas agroflorestais requer, por parte de quem maneja, o conhecimento sobreas espécies e a dinâmica do ecossistema no qual está inserido. O autor ressalta queas inter-relações entre as espécies e destas com o ambiente ao longo do tempo,determinam o momento e a freqüência das intervenções de manejo e a dinâmicada sucessão do sistema.

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MANEJO ECOLÓGICO DE PRAGAS E DOENÇAS DE PLANTAS

As condições ambientais prevalecentes nas várzeas amazônicas,geralmente, são favoráveis ao aparecimento e estabelecimento de insetospragas e microorganismos fitopatogênicos que causam perdas substanciais àprodução agrícola. O emprego de pesticidas químicos tem sido a forma usualde combate às pragas e doenças e o uso irracional e indiscriminado dessesprodutos tem contribuído para o aumento dos custos de produção, além decausar sérios danos ao meio ambiente e à saúde humana. Em vista disto,alternativas de controle vêm sendo buscadas, estudadas e testadas,experimentalmente, com resultados satisfatórios nas instituições de pesquisasbrasileiras.

Para o manejo de pragas e doenças das plantas cultivadas adotou-se umaabordagem levando em conta o uso de controle agroecológico de pragas emoléstias, com o emprego de caldas alternativas (calda bordalesa, extratosvegetais, etc.), cuidados no preparo, utilização de EPI (equipamento deproteção individual), utilização de armadilhas e controle biológico. Dentre ascaldas alternativas apresentadas, alguns dos participantes conheciam e faziamuso dos extratos de fumo e de pimenta malagueta. Outro material alternativocomumente utilizado pelas comunidades é a semente do gergelim (Sesamumindicum L.), como isca, para o combate às formigas cortadeiras (Atta spp).

Durante os treinamentos houve participação ativa dos comunitáriosatravés de troca de informações, sugestões e execução dos trabalhos. No final,os participantes concordaram que as abordagens realizadas foram de grandevalia para a conscientização sobre a melhoria da produção agrícola, com ainclusão de novas tecnologias, para a sustentabilidade da produção epreservação ecológica das espécies potencialmente nativas das localidades.

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UTILIZAÇÃO DA MADEIRA REGIONAL PARA MOVELARIA

Em termos metodológicos foram realizadas visitas técnicas e umdiagnóstico socioeconômico em nove movelarias situadas na sede domunicípio. Os dados da pesquisa foram obtidos através de entrevistas equestionário. Foram realizadas vistorias e avaliações nas instalações dasempresas, procurando encontrar os pontos de estrangulamento na produção ena qualidade final do produto.

O trabalho de diagnóstico e caracterização do setor moveleiro revelouque as movelarias de Pauini trabalham com um sistema de produção sobencomenda. O baixo nível de renda da população proporciona uma clientelacom baixo poder aquisitivo obrigando, conseqüentemente, as empresas acomercializarem seus produtos com vendas a prazo.

As oficinas moveleiras apresentam a distribuição dos espaços arranjadosdesordenadamente acarretando a diminuição da capacidade de produção, alémde proporcionar o aumento dos custos operacionais, levando essa atividade àineficiência econômica. Todas as empresas operam na economia informal, nãohavendo o registro de Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ) doMinistério da Fazenda. O consumo médio de cada movelaria é de 2m3 demadeira serrada. Em termos efetivos, nenhuma das empresas efetua qualquertipo de controle de qualidade. A maioria encontra-se em condições defuncionalidade precária, em decorrência dos seus equipamentos seremobsoletos e, por conta disso, apresentarem problemas tecnológicos. Asprincipais máquinas e equipamentos utilizados no processo desse setor são:serra circular, tupia, furadeira, lixadeira, torno e esmeril. Todas as máquinas eequipamentos existentes são em pequeno número, caracterizando odesaparelhamento e o caráter quase que artesanal da atividade. Vale ressaltarque os operários especializados (marceneiro, carpinteiro, etc.) obtiveram essaespecialização através da prática, sem qualquer tipo de treinamento formal.

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FIGURA 1. Treinamento em olericultura em comunidades rurais do município de Pauini.

FIGURA 2. Curso de Capacitação Técnica em movelaria aos marceneiros e carpinteiros do município de Pauini.

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Com a aplicação dos cursos de capacitação e treinamento, abordandotécnicas em movelaria, marcenaria e conservação da madeira, juntamente, oacompanhamento dos trabalhos, foi constatado que os conhecimentosadquiridos surtiram efeito na melhoria da qualidade dos móveis, aumento nademanda, melhor utilização e aproveitamento da madeira empregada nafabricação dos produtos, além disso, contribuiu para a elevação da auto-estimados moveleiros e marceneiros da cidade (Figura 2).

PISCICULTURA FAMILIAR

O curso de piscicultura foi ministrado para 08 moradores de Pauini, comníveis de escolaridade declarada variando de nível primário ao segundo graucompleto, com elevado índice de freqüência e interesse pelos temas enfocadosem cada aula do curso. O curso foi dividido em dez aulas, com média de 3horas de duração por aula, e tentou-se apresentar as aulas em uma linguagemmais simples, de forma que todos os alunos pudessem entender o conteúdo doque se estava apresentando. As dez aulas foram: Instalações em piscicultura;Noções de anatomia e morfologia de peixes; Criação de peixes em tanques-rede; Noções de controle da qualidade da água; Criação de pirarucu; Criaçãode matrinxã; Criação de tambaqui; Noções de reprodução de peixes; Nutriçãoe alimentação de peixes; Construção de tanques e viveiros.

À medida que o curso se desenvolveu, foram aproveitadas asoportunidades que surgiram para discutir com os alunos sobre a situação domunicípio em relação ao cultivo de peixes. A oferta de peixes no mercado ésazonal: na época da piracema, a pesca nas imediações da cidade é farta e ospreços muito acessíveis, uma característica do rio Purus. Mas em outras épocasa pesca é pouco produtiva, chegando a faltar peixes na cidade, e o pouco peixeencontrado nesta ocasião é muito caro.

Durante o curso foi promovida uma excursão a um criadouro de peixe nacidade. Esse criadouro era um tanque escavado aproveitando uma nascenteexistente nos fundos do quintal, onde eram criadas algumas espécies de peixesda região. Foram capturados alguns exemplares para mostrar aos visitantes,sendo constatado que visualmente os animais estavam bem, inclusive umjuvenil de pirapitinga (Piaractus brachypomus) mostrado, que apresentava umbom porte, indicando um manejo adequado.

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Os maiores entraves para a piscicultura local são a falta de formasjovens, para serem oferecidas aos criadores para a engorda, e a grande distânciados locais onde são produzidas estas formas jovens (Manaus-AM e RioBranco-AC) dificultam sua importação. Outra dificuldade é a obtenção derações para peixes e os custos elevados, procedentes também de outraslocalidades. Apesar destas dificuldades, alguns moradores da cidade insistemem contornar estes problemas e criar peixes para consumo.

Em razão da sazonalidade da oferta de peixes em Pauini, procura-seestimular a criação de peixes nativos em cativeiro. Para viabilizar a pisciculturana região devem ser equacionados os problemas da falta de formas jovens depeixes para engorda e a dificuldade de obtenção de rações para peixes. Umadas formas aventadas seria o treinamento de um técnico da cidade emreprodução induzida de peixes e, ao mesmo tempo, a implantação de umpequeno laboratório de reprodução de peixes para a região. Ressalta-setambém a necessidade de realização de treinamentos para o preparo dealimentos alternativos com matérias-primas de origem vegetal e animaldisponível no local, e produção artesanal de ração peletizada.

TÉCNICAS DE CONSERVAÇÃO E PROCESSAMENTO DO PESCADO EM UNIDADES FAMILIARES

As perspectivas de melhores condições socioeconômicas na regiãoAmazônica estão diretamente relacionadas à geração de conhecimentoscientíficos e tecnológicos e a adoção de políticas públicas que promovam o usosustentado de suas riquezas naturais.

O setor pesqueiro vem respondendo positivamente, ao contribuirfortemente no suprimento alimentar da população do Estado, tanto nas áreasrurais como na zona urbana e assume papel importante como fonte abastecedorada Capital. Porém, sua potencialidade não é totalmente conhecida, pois, narealidade, não existe um acervo de conhecimento científico abrangente esistematizado, ocasionando o aproveitamento de somente algumas espécies depeixes dentre as centenas existentes. Por outro lado, a atividade pesqueira,mesmo nos dias atuais, é realizada utilizando-se métodos que dificultam omanuseio do pescado durante sua captura, transporte, distribuição e o consumofinal levando, muitas vezes, ao desperdício na produção.

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A pesca no Amazonas é muito seletiva, recaindo sobre algumas espéciesde peixes historicamente preferidas pela população. A pesca é realizada noslagos com redes de arrasto, perturbando o meio ambiente e, principalmente,com redes de cerco no leito dos rios. Os barcos de pesca, chamados de“geleiras”, adquirem o pescado que é capturado em canoas e estocado em urnasisoladas termicamente entre camadas de gelo para ser transportado para asgrandes cidades ou para as indústrias de beneficiamento do pescado. Oproblema tem início na execução da arte de pescar, geralmente inadequado,compremetendo a sua qualidade inicial do pescado. Além disso, o pescado ficaexposto ao sol e ao vento antes de ser estocado nas geleiras, onde outra vezsofre manuseio inadequado, com exposição a batidas, pisaduras e ao calor,sendo acondicionado em caixas com mais de dois metros de altura, semdivisões horizontais, ocasionando grande desperdício na camada inferior, ondeo pescado armazenado no fundo da urna sofre forte pressão provocada pelascamadas de pescado situadas acima.

É um grande desafio tecnológico mudar esse panorama tradicional dapesca, manejo e transporte do pescado. Não existe ação governamental paraalterar essa situação, que pode ocasionar perdas de até 30% do pescadocapturado. Além da perda de produto, o longo tempo de duração de viagem nasgeleiras prejudica sua qualidade, muitas vezes chegando na cidade ou indústriajá com a qualidade prejudicada. O grupo de pesquisa sobre tecnologia dopescado da Coordenação de Pesquisas em Tecnologia de Alimentos (CPTA) doINPA já realizou vários estudos visando medir a perda de qualidade do produtodesde a captura até sua distribuição e aquisição pelo consumidor. Mudar ocomportamento do pescador e do atravessador tem sido o maior desafio. Poroutro lado, a cidade de Manaus recebe anualmente cerca de 60 mil toneladasde pescado, sendo destinada a metade para a industrialização e o restante parao consumo local, inexistindo um local adequado para efetuar o desembarque depescado, com as dependências necessárias ao recebimento, classificação,comercialização e frigorificação do excedente da produção desembarcada.

Apesar do peixe ser um recurso abundante na região, a atividadepesqueira é problemática, pois além de antieconômica, visto que geradesperdício, pode ser prejudicial à saúde pública em função da perda dequalidade do produto. Os barcos ficam atracados ao longo da margem do rio,vendem o pescado somente pela parte da noite durante vários dias, provocandoa imobilização tanto do barco como do pessoal, gerando perdas financeiras eperdas do produto, que ao final, muitas vezes, pode ser descartado.

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Com base nessa realidade, a Coordenação de Pesquisa em Tecnologia deAlimentos do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia tem realizadoestudos sobre a viabilidade da introdução de métodos alternativos deprocessamento e de conservação daquelas espécies ainda inexploradas, sub-exploradas ou de baixo valor comercial, por meio do desenvolvimento denovos produtos, que possibilite a sua captura em maior escala e,conseqüentemente, sua industrialização.

Numa primeira fase, o grupo de pesquisa sobre produtos alimentícios deorigem animal do INPA intensificou as pesquisas sobre peixes de água-docecapturados na natureza, tais como: estudos sobre a qualidade da produção, dasalterações bioquímicas “post mortem” e sobre o processamento de novosprodutos utilizando tecnologias apropriadas. Atualmente, realiza pesquisasvisando o aproveitamento tecnológico dos peixes procedentes da piscicultura,nas quais estuda o manuseio adequado, as alterações bioquímicas eestabelecimento do tempo de vida útil em gelo. Futuramente deverão serrealizados estudos de comercialização e marketing, para completar a cadeia depesquisas sobre produtos de pescado.

A transferência de tecnologia tem sido intensificada. Nos últimos anos,tanto profissionais autônomos como microempresas têm solicitadoinformações e treinamento de pessoal nos laboratórios e unidades piloto deprocessamento da CPTA. Pessoal de pequenas indústrias, restaurantes,distribuidores de peixes e produtores artesanais têm sido beneficiados comessas experiências. Nesse sentido, o Município de Pauini apresenta grandepotencial e interesse no aproveitamento tecnológico da sua produçãopesqueira.

No curso sobre Tecnologia do Pescado, participaram 27 pessoasresidentes no município de Pauini. Inicialmente foi dado um enfoque geralsobre o manuseio e a qualidade do pescado, seguido pela apresentação dastecnologias que julgamos mais adequadas para a produção pesqueira local.Foram abordados temas sobre: defumação do pescado a frio, salga seca e emsalmoura, fabricação de piracuí, fishburguer e fabricação de sabão a partir deóleo de peixe. Esperamos ter contribuído para despertar os produtores locaispara o emprego de tecnologias simples para o aproveitamento do pescado, comobservação das boas práticas de manuseio (Figura 3).

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FIGURA 3. Curso de Tecnologia de Processamento do Pescado realizado no município de Pauini.

CRIAÇÃO DE ABELHAS SEM FERRÃO

A prática da criação de abelhas sem ferrão é milenar entre os povosindígenas, onde muito do que se emprega atualmente nos meliponários éresultado de anos no trato com as abelhas (NOGUEIRA-NETO, 1997). Aindase observa na criação tradicional onde a derrubadas de árvore da floresta paraextração dos cortiços com o objetivo de se retirar o mel ainda é uma realidadelatente em nossa região. As abelhas sem ferrão são importantes polinizadoresna floresta Amazônica, cada espécie de planta tem uma ou mais espécie deabelhas responsáveis pelo eficiente transporte do pólen das anteras para oestigma das flores. Estima-se que as operárias das colônias de abelhas nativassão responsáveis por 40 a 90% da polinização, conforme o ecossistema,garantindo a perpetuação das espécies nativas de plantas (KERR et al., 1996).Se não pensarmos em colaborar no conhecimento e domínio da técnica dacriação das diferentes espécies de abelhas que existem, ainda, em cada regiãoe no país, possivelmente, muitas espécies serão extintas (CARVALHO, 2002)e para que se possam salvar as melíponas, que são as abelhas mais perseguidas

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devidos a seu delicioso mel, há necessidade de se saber corretamente o seuprocesso reprodutivo (KERR et al., 1996).

A tecnologia implantada para criação desses insetos racionalmente érecente na Amazônia já que em outras regiões, como no Nordeste, acomercialização de ninhos em caixas racionais apropriadas ao seudesenvolvimento é uma realidade que está mudando, efetivamente, a vida depequenos e médios produtores rurais. (KERR et al., 1996). Existem mais de23.000 espécies de abelhas, sendo que a minoria é representada por espécie dehábitos sociais. As abelhas sociais pertencem à família Apidae. Esta é divididaem três subfamílias; Apinae, Meliponinae e Bombinae. As Meliponinae sãodivididas em duas tribos: Meliponini, com o gênero Melípona com cerca de 50espécies e Trigonini, com vários gêneros representados em toda região tropicaldo globo, contando com cerca de 300 espécies e são conhecidos no Brasil comoabelhas sem ferrão ou abelha indígenas (SILVEIRA et al., 2002).

Os Meliponíneos, em sua maioria nidificam em cavidades de árvores(oco), e algumas fazem seus ninhos no chão. Apresentam ferrão, mas nãofuncional, pois são atrofiados e não apresentam bolsa de veneno. Estas abelhasse defendem de seus predadores, dependendo da espécie, por meio dacamuflagem da entrada, de fortes mordidas, uso de resina para imobilização ealgumas espécies, como Oxytrigona tataira, em condições de ameaça liberamuma substância cáustica sobre o inimigo (KERR, 1996; KERR et al., 1996). Sãoinsetos que apresentam desenvolvimento homometábulo, por possuirmetamorfose completa. As abelhas de gênero Melípona, à organização interna doninho, não apresentam ou constituem células reais, ou seja, os machos, asoperárias e a rainha de desenvolvem dentro de células de igual tamanho(NOGUEIRA-NETO, 1997). Os machos apresentam papel reprodutivo e, empouquíssimos casos, realizam atividades de trabalho dentro da colônia(BUSTAMANTE, 2006). As fêmeas se dividem em castas: operárias e rainha. Arainha é responsável pela postura, conseqüentemente, pela perpetuação dacolônia e organização dentro da colônia. As operárias constituem a casta querealiza a quase totalidade dos trabalhos dentro de uma colônia, desde a limpezada colônia até o forrageamento, ou seja, coleta de néctar e pólen (KERR et al.,1996).

A estrutura de uma colônia de Meliponini é formada de discos de criasobrepostos contendo ovos, larvas, e imagos, envoltos geralmente por camadasde lâminas de cera denonimada de invólucro, circundados por potes de mel epólen. Essas abelhas podem ser criadas racionalmente em caixas de madeira para

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produção de mel, pólen, própolis, cera ou mesmo novos enxames. Tal atividadeé denominada Meliponicultura. As caixas de madeira permitem a manipulaçãodas colméias para produção e colheita dos produtos das colônias as quaisinclusive, podem ser multiplicadas racionalmente de maneira induzida a fim deformar novas colônias (NOGUEIRA-NETO, 1997).

A caixa-modelo INPA 2005 é composta de cinco módulos sobrepostos(lixeira, ninho, sobreninho, melgueira e tampa), com as seguintes características:

• Lixeira – é o local onde as abelhas depositarão lixo, fezes e resto dealvéolo de cria, sua medida é 21x21x1 cm;

• Ninho – É onde as abelhas construirão os discos de crias e, algumasvezes, também poderão colocar potes de alimento, medindo21x21x7 cm;

• Sobreninho – neste compartimento, as abelhas construirão discosde crias, à medida que a colônia for crescendo e necessitar deespaço. Tem as seguintes dimensões: 21x21x7 cm e apresenta umfuro de ventilação por onde ocorrerá a troca gasosa;

• Melgueira – local destinado ao armazenamento de potes com mel epólen, tem 5 cm de altura interna com 2 pequenas tábuas separadasentre si, deixando espaços que servirão de ligação com o sobre-ninho, sua medida é 21x21x7 cm;

• Tampa – fecha a parte superior da colônia, tem duas ripas pregadasnas extremidades, que servirão no auxílio na hora da abertura dacolônia apresentando as seguintes dimensões: 21x21x3 cm.

O Município de Pauini apresenta grande potencial para a criação deabelhas nativas, sabendo que existem várias espécies de Meliponíneos na regiãoe um pasto meliponicola exuberante, com uma riqueza de florada em diversosmeses do ano, proporcionando às abelhas a coleta de pólen e néctar durante asestações do ano. O gênero de abelha escolhido foi a Melípona por apresentar nomunicípio uma riqueza de espécies bastante variada, na qual é nativa dalocalidade e adaptada a região, sem que haja introdução de espécies de outrosmunicípios. Foram coletadas previamente algumas abelhas para posterioridentificação das mesmas, na qual se foi constatado o gênero Melípona.

O curso foi realizado para 30 participantes residentes do município, dandoenfoque geral no manejo e biologia das abelhas. Para as atividades detransferências das abelhas do cortiço (tronco de árvore oco), para caixa racional

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modelo INPA 2005, os mesmos foram selecionados de árvores mortas, caídas ouque possivelmente iriam ser cobertas com as águas de possíveis enchentescomumente na região amazônica. Em uma área de aproximadamente 01 hectare,foram encontrados 05 colônias de Melíponas spp. distanciadas entre si de,aproximadamente, 50 a 100 metros, mostrando o potencial de riqueza biológicaa serem trabalhadas (Figura 4).

FIGURA 4. Curso de Criação de abelhas sem Ferrão. Técnica de mudança da colméia de abelhas. Pauini.

O processo de multiplicação trabalhado foi o do “Método de PerturbaçãoMínima”, que consiste multiplicar a colônia de abelha sem que haja manipulaçãodireta da mão do meliponicultor com os discos de cria. No processo de multiplicaçãofoi transferido o sobreninho com crias nascentes para cima de um ninho vazio comlixeira e posto um sobreninho vazio sobre o ninho com a postura nova; no processofoi utilizado a melgueira devido não apresentar vantagem na multiplicação. Na sededo município foi instalado um meliponário com 07 colônias de Melípona seminigra,pelo qual se deu início a criação racional de abelhas sem ferrão. Outro dadoimportantíssimo a ser relatado é que na comunidade de Limeira, pertencente aomunicípio de Lábrea próximo ao município de Pauini, a criação de abelhas já é umarealidade, onde vários comunitários se dedicam à criação das mesmas, já há algumtempo, embora seja de forma tradicional sem o uso de técnicas recomendadas oupadronização de caixas racionais para o seu manejo adequado.

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LITERATURA CITADA

ASSIS, M.G.P. Criação prática e Racional de Abelhas sem Ferrão da Amazônia.Amazonas: Dulce Gusmão/SEBRAE, 2001. 46p.

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AGRICULTURA FAMILIAR

NA AMAZÔNIA DAS ÁGUAS

AGRICULTURA FAMILIAR NA AM

AZÔNIA DAS ÁGUAS

Realização:

Programa Temático

Apoio financeiro:

NERUANúcleo de Estudos Rurais

e Urbanos Amazônico

Sandra do Nascimento Noda(Organizadora)

Assim, na sua concepção global, o macro

projeto deve gerar conhecimentos técnico-

científicos que possam contribuir para a me -

lhoria nas formas de organização social das

comunidades de modo a propiciar, por meio do

uso e conservação dos recursos naturais, a

melhoria nos níveis de qualidade de vida das

populações humanas.

O compartilhamento intercomunitário de

recursos genéticos vegetais também é uma

prática corrente entre os agricultores

tradicionais amazônicos, o que contribui para a

segurança alimentar das comu nidades e

constitui um importante papel na conservação,

na dispersão e no resgate de espécies vegetais

cultivadas.

É extremamente importante que os projetos de

desenvolvimento junto aos agricultores na

Amazônia estabeleçam como premissa de

trabalho a necessida de de elevar os níveis de

organização social das famílias e das

comunidades para que, a partir daí, as

conquistas gra duais do bem estar social,

coletivizadas e perma nentes, sejam proces -

sadas em função da sustentabilidade dos

sistemas produtivos, do aumento da auto-

suficiên cia no atendimento das necessidades

alimentares, do acesso aos requisitos bá sicos

em educação, saúde, energia, lazer, universali -

zados e disponibi lizados pelo Estado e da

autonomia dos comunitários nas suas decisões

políticas sobre o futu ro social, econômico e

ambiental. São, a partir dessas referências, que

os autores dos capítulos que compõe este livro

discutem a Agricultura Familiar na Amazônia

das Águas.

No Brasil, com pequenas variações,

no espaço e tempo, o processo de

especialização no monocultivo de espécies

industriais como a cana-de-açúcar, soja,

algodão e café, tem conduzido, direta ou

indiretamente, os pequenos produtores rurais a

níveis crescentes de empobre cimento e perda

de suas terras. A pos sibilidade da manutenção

das unidades produtivas rurais familiares

implica na necessidade da existência de um

sistema de preservação dos recursos naturais.

As degradações dos recursos hídricos, como

poluição, erosão e assoreamento de cursos

d'água, pesca predatória, construções de

barragens e desflorestamentos são eventos que

quebram cadeias alimentares e cortam ciclos

reprodutivos, destruindo as fon tes permanentes

de recursos naturais, secu larmente utilizadas

pelos populações ama zônicas.

Entretanto, há necessidade de se criar

alternativas econômicas capazes de gerar

renda monetária aos agricultores permitindo

viabilizar o acesso aos produtos e serviços

adquiridos no mercado, pois, algumas

necessidades básicas são atendidas, muitas

vezes precariamente, por meio da aquisição de

produtos somente disponíveis fora das

unidades de produção.

São os casos dos alimentos indus tria lizados,

combustíveis, roupas, remédios e dos serviços

inexistentes nas comunidades rurais como

atendimento médico, educação, energia e

transporte.

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