"agricultora com muito orgulho": história de uma agricultora que luta pelo direito de uma...

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Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Ano • nº1603 8 Montes Claros - MG ‘‘Agricultora Com Muito Orgulho”: história de uma agricultora que luta pelo direito de uma alimentação saudável “Planto não visando o lucro, mas sim para as pessoas comerem bem”. Com essa afirmação, Maria Madalena Oliveira Leite, mais conhecida como Dona Nenzinha, que desenvolve agricultura familiar na comunidade de Aboboras, localizada no município de Montes Claros, norte de Minas Gerais, mãe de cinco filhos e avó de dez netos, expõe seu pensamento sobre a importância da alimentação. Em tempos em que o veneno está na mesa, é fundamental entender a história dessa agricultora e a relação dela com a terra para nos conscientizar do valor da agricultura familiar. Dona Nenzinha possui em seu quintal produtivo diversas frutas, hortaliças, raízes e verduras, ela faz questão de mostrar sua produção de banana, pinha, jaca, conde, abacaxi, abacate, acerola, coquinho azedo e manga. Os três últimos são entregues à cooperativa Grande Sertão, que comercializa polpas de frutas de agricultores familiares para o norte de Minas e o restante do Brasil, e onde Dona Nenzinha ocupa o papel de vice presidente. Ela relata brevemente que a cooperativa nasceu em 2003 quando um grupo de agricultores e agricultoras resolveu formar uma microempresa para comercializar produtos naturais da região para aumentar a renda. Além dos citados ela cultiva também, café, feijão, andu, tomate cereja, mandioca, cenoura e beterraba, que são consumidos na propriedade. Dona Nenzinha também tem uma pequena produção de biscoitos caseiros para comercialização que entrega nas feiras e no Centro de Agricultura Alternativa – CAA/NM, onde atua como sócia e conselheira, além de ser vice secretária. Toda a produção é feita de forma natural, sem nenhum uso de agrotóxico, o adubo é feito dentro da própria propriedade, chamado por Dona Nenzinha de Adubo composto, que contém adubo de galinha, folha seca, adubo de gado, cinza e casca de ovo. Agosto/2014 Produção caseira de biscoitos: renda e passa tempo Hortaliças que garantem a segurança alimentar de várias crianças.

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História de uma agricultora que luta pela garantia da soberania e segurança alimentar.

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Page 1: "Agricultora Com Muito Orgulho": história de uma agricultora que luta pelo direito de uma alimentaçã

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Ano • nº1603 8

Montes Claros - MG

‘‘Agricultora Com Muito Orgulho”: história de uma agricultora que luta pelo direito de uma alimentação saudável

“Planto não visando o lucro, mas sim para as pessoas

comerem bem”. Com essa afirmação, Maria Madalena

Oliveira Leite, mais conhecida como Dona Nenzinha, que

desenvolve agricultura familiar na comunidade de

Aboboras, localizada no município de Montes Claros,

norte de Minas Gerais, mãe de cinco filhos e avó de dez

netos, expõe seu pensamento sobre a importância da

alimentação. Em tempos em que o veneno está na mesa, é

fundamental entender a história dessa agricultora e a

relação dela com a terra para nos conscientizar do valor da

agricultura familiar.

Dona Nenzinha possui em seu quintal produtivo diversas frutas, hortaliças, raízes e verduras, ela faz questão

de mostrar sua produção de banana, pinha, jaca, conde, abacaxi, abacate, acerola, coquinho azedo e manga. Os

três últimos são entregues à cooperativa Grande Sertão, que comercializa polpas de frutas de agricultores

familiares para o norte de Minas e o restante do Brasil, e onde Dona Nenzinha ocupa o papel de vice presidente.

Ela relata brevemente que a cooperativa nasceu em 2003 quando um grupo de agricultores e agricultoras

resolveu formar uma microempresa para comercializar produtos naturais da região para aumentar a renda.

Além dos citados ela cultiva também, café, feijão, andu, tomate cereja, mandioca, cenoura e beterraba, que são

consumidos na propriedade.

Dona Nenzinha também tem uma pequena produção de

biscoitos caseiros para comercialização que entrega nas

feiras e no Centro de Agricultura Alternativa – CAA/NM,

onde atua como sócia e conselheira, além de ser vice

secretária.

Toda a produção é feita de forma natural, sem nenhum uso

de agrotóxico, o adubo é feito dentro da própria

propriedade, chamado por Dona Nenzinha de Adubo

composto, que contém adubo de galinha, folha seca, adubo

de gado, cinza e casca de ovo.

Agosto/201 4

Produção caseira de biscoitos: renda e passa tempo

Hortaliças que garantem a segurança alimentar de várias crianças.

Page 2: "Agricultora Com Muito Orgulho": história de uma agricultora que luta pelo direito de uma alimentaçã

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Articulação Semiárido Brasileiro – Minas Gerais

Com esse adubo ela produz com qualidade e fartura

alimentos que são consumidos pela própria família, a

outra parte é entregue ao PAA e comercializado no

mercado municipal de Montes Claros e em feiras da

cidade.

A relação com a terra para Dona Nenzinha é algo muito

forte, segundo ela é algo de família, “desde pequena

cultivo hortaliças, aprendi com meus avós a cultivar a

terra, e desde os meus avós nunca usávamos veneno,

plantávamos arroz, feijão e batata”. Essa consciência em

relação à alimentação saudável ampliou-se com a participação de Dona Nenzinha nos eventos da Articulação

do Semiárido Mineiro – ASA Minas, “Agradeço a ASA pela participação nos intercâmbios, a partir do

momento em que participamos dos eventos aprendemos a valorizar o que temos na nossa terra, aprendemos a

valorizar as sementes, a alimentação e a produção”. Ela participou de 4 eventos do Encontro Nacional de

Agroecologia - ENA, do evento Agricultores e Agricultoras Experimentadores(as), e segundo ela com todos

esses eventos “aprendemos a valorizar as coisas pequenas”. Por isso ela se diz uma “Agricultora com muito

orgulho” e sente “firmeza e gosto ao repassar para os filhos e netos o valor de ser agricultora, porque sei

valorizar meu alimento, que é muito saudável’’

A prática da agricultura familiar é algo tão forte na história de vida de Dona Nenzinha, que suas lembranças e

memórias estão articuladas com a terra e a produção. Quando relata o que marcou sua juventude ela diz: “O

que marcou foi ralar mandioca na mão e fazer rapadura, pois reunia todo o pessoal da comunidade”.

Contudo, mesmo com uma produção alimentar farta e saudável, ela nos apresenta reflexões e preocupações

importantes para o campo. Dona Nenzinha relata que a

juventude criada na comunidade está saindo para viver na

cidade, em busca de vida melhor, quando, na verdade, a

qualidade de vida está no campo. Portanto, “é preciso

incentivar os jovens a permanecerem no campo”,

conscientizando-os do valor que a terra e a vida no campo

têm. Dona Nenzinha é uma pessoa consciente do valor da

alimentação, dos avanços que o homem do campo

conquistou, mas muito atenta aos problemas sociais e

políticos que afligem o campo.

Realização Apoio

Ovos agroecológicos

Quintal produtivo que garante a soberania alimentar