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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANA Paola Perine AGRESSÃO ENTRE MURIQUIS (Brachyteles arachnoides) EM CATIVEIRO Curitiba 2011

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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANA

Paola Perine

AGRESSÃO ENTRE MURIQUIS (Brachyteles arachnoides) EM

CATIVEIRO

Curitiba

2011

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Paola Perine

AGRESSÃO ENTRE MURIQUIS (Brachyteles arachnoides) EM

CATIVEIRO

Curitiba

2011

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AGRESSÃO ENTRE MURIQUIS (Brachyteles arachnoides) EM

CATIVEIRO

Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Curso de Medicina Veterinária da Faculdade de Ciências Biológicas e de Saúde da Universidade Tuiuti do Paraná como requisito parcial para a obtenção do grau de Medica Veterinária. Orientadora: Profa. Dra. Ana Laura Angeli.

Curitiba

2011

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Reitor

Prof. Luiz Guilherme Rangel Santos

Pró-Reitor Administrativo

Prof. Carlos Eduardo Rangel Santos

Pró-Reitora Acadêmica

Profª. Carmen Luiza da Silva

Pró-Reitor de Planejamento

Prof. Afonso Celso Rangel Santos

Diretor da Faculdade de Ciências Biológicas e de Sa úde

Prof. João Henrique Faryniuk

Coordenadora do Curso de Medicina Veterinária

Profª. Ana Laura Angeli

Campus Prof Sydnei Lima Santos (Barigui) Rua Sydnei Antonio Rangel Santos CEP 82010-330 – Santo Inácio Curitiba – PR Fone (41) 3331-7700

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho a minha mãe que acreditou na minha capacidade e no

meu sonho de ser veterinária. Ao meu pai pelo apoio durante todos os momentos da

minha vida. Ao meu querido Milton que sempre foi meu grande ídolo e incentivador.

A minha orientadora Ana que me ajudou muito na apresentação e modelagem do

mesmo. As minhas queridas amigas Lola, Emy, Nani, Tata, futuras vets e a todos os

grandes amigos que fiz na faculdade e que estarão ao meu lado para sempre. Aos

meus orientadores Marcelo e Manoel que passaram seus conhecimentos da melhor

maneira possível. As colegas de trabalho Cristina, Cristiane, Natalia, Nancy, Lu

Popp e a todos os colegas que direta e indiretamente fizeram parte desse momento.

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AGRADECIMENTO

Agradeço imensamente a todos os funcionários do passeio público e do

zoológico de Curitiba. Agradeço minha família linda por me incentivar a estudar e

concretizar o sonho de ser veterinária. Agradeço todos os professores da UTP,

todos os colegas de sala e todos os amigos que amo muito. Obrigada Deus por me

dar tudo isso.

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SUMÁRIO

1. LISTA DE ABREVIATURAS .................................................................................8

2. LISTA DE FIGURAS.............................................................................................9

3. LISTA DE QUADROS...........................................................................................9

4. RESUMO............................................................................................................10

5. abstract ...............................................................................................................11

6. APRESENTAÇÃO ..............................................................................................12

7. INTRODUÇÃO....................................................................................................14

8. LOCAL DE ESTÁGIO .........................................................................................14

9. ATIVIDADES REALIZADAS DURANTE O ESTÁGIO ........................................18

9.1. Cozinha...........................................................................................................18

9.2 Acompanhamento dos tratadores....................................................................18

9.3. Enriquecimento ambiental ..............................................................................19

9.4 Vistoria.............................................................................................................22

9.5. Confecção de dardos......................................................................................22

9.6. Atendimento ambulatorial, clínico e cirúrgico..................................................23

10. Agressão entre machos de muriqui (Brachyteles arachnoides) mantidos em

cativeiro – RELATO DE CASO..................................................................................31

10.1. Revisão de literatura .....................................................................................31

10.2. Relato de caso..............................................................................................37

10.3. Discussão .....................................................................................................41

11. CONCLUSÃO..................................................................................................42

12. REFERÊNCIAS...............................................................................................43

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1. LISTA DE ABREVIATURAS

CRMV-PR Conselho Regional de Medicina Veterinária do Paraná

m² metros quadrados

ONGs organizações não governamentais

ml mililitros

PVPI polivinil pirrolidona

ha hectare

IBAMA Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos recursos

naturais renováveis

Vets médicas veterinárias

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2. LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 ENTRADA DO PASSEIO PÚBLICO LOCALIZADO NO CENTRO

DE CURITIBA-PR.............................................................................

14

FIGURA 2 ZOOLÓGICO DE CURITIBA – PARQUE IGUAÇU. A.VISTA

FRONTAL. B. VISTA AÉREA ..........................................................

14

FIGURA 3 A: SALA DE ATENDIMENTO CLÍNICO E FARMÁCIA. B: SALA

DE ATENDIMENTO AMBULATORIAL ............................................

17

FIGURA 4

A.ALIMENTAÇÃO PARA DIVERSAS ESPÉCIES, APÓS O

PREPARO PELOS COZINHEIROS B.TRATADOR DO

ZOOLÓGICO LEVANDO O ALIMENTO ATÉ O RECINTO DOS

HIPOPÓTAMOS (HIPPOPOTAMUS AMPHIBIUS)..........................

19

FIGURA 5

EXEMPLOS DE ENRIQUECIMENTO AMBIENTAL. A. VARAL DE

ARAME FIXADO NAS GRADES DO RECINTO, NA DIAGONAL,

CONTENDO FRUTAS E LEGUMES COLOCADO PARA OS

QUEIXADAS (TAYASSU PECARI) B. ABÓBORA RECHEADA

COM CARNE BOVINA COLOCADA PARA O LEÃO (PHANTERA

LEO), NA PLATAFORMA LOCALIZADA NO CENTRO DO

RECINTO, LOCAL ONDE O LEÃO DESCANSA C. PARA OS

CHIPANZÉS (PAN TROGLODYTES) CAIXA DE PAPELÃO

CONTENDO BARRA DE CEREAL, FRUTAS (COCO E MANGA),

CENOURAS, GARRAFINHA DE SUCO DE LARANJA E REVISTA

(INTUITO DE OBSERVAR A REAÇÃO PARA COM O OBJETO) .

D. FENO ELEVADO EM VARAIS DENTRO DO RECINTO PARA

AS LHAMAS (LAMA GLAMA) PARA MODIFICAR A FORMA DE

APRESENTAÇÃO DA ALIMENTAÇÃO DELAS E. BOLA DE

BASQUETE COM AROMA DE CANELA ESPALHADO PARA A

ONÇA (PANTHERA ONÇA) ............................................................

21

FIGURA 6 DARDO CONFECCIONADO UTILIZANDO SERINGAS

DESCARTÁVEIS E TUFO DE LÃ PRESO NA BORRACHA DO

EMBOLO E GÁS DE PRESSÃO .....................................................

23

FIGURA 7

EXEMPLO DE ATENDIMENTOS AMBULATORIAS

REALIZADOS. A: ATENDIMENTO AMBULATORIAL DE

MICROCHIPAGEM E DESVERMINAÇÃO DE PAPAGAIOS .B.

EMA COM ABSCESSO SENDO ATENDIDA A CAMPO, ONDE

FOI FEITO DRENAGEM DO ABSCESSO. C. MEDICAÇÃO EM

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LEOA QUE ESTAVA COM A UNHA ENCRAVADA E MIÍASE ....... 24

FIGURA 8 EXEMPLOS DE PROCEDIMENTOS CIRÚRGICOS. A: CENTRO

CIRÚRGICO DE GRANDES ANIMAIS – UTP. B: TRANSPORTE

SAINDO DO ZOOLÓGICO COM O PACIENTE NA JAULA. C:

PACIENTE RETIRADO DO TRANSPORTE E ENCAMINHADO

AO CENTRO CIRÚRGICO. D: CENTRO CIRÚRGICO DE

GRANDES ANIMAIS – UFPR ..........................................................

25

FIGURA 9 FAMÍLIA DE BABUÍNOS SAGRADOS QUE FOI SEPARADA

APÓS O MACHO NÃO ACEITAR A PRESENÇA DOS FILHOTES

E UMA DAS MÃES APRESENTAR COMPORTAMENTO

IMATURO. NA FIGURA ESTÁ PRESENTE A MÃE QUE

ACEITOU O FILHOTE E SEU FILHOTE NO RECINTO ..................

30

FIGURA 10 MURIQUI (BRACHYTELES ARACHNOIDES) ................................ 33

FIGURA 11 LESÕES APRESENTADAS PELO MACACO MURIQUI APÓS

ATAQUE EM CATIVEIRO. A: LESÃO EM SUPERCÍLIO

ESQUERDO (SETA) B. LESÕES EM LÁBIO SUPERIOR

ESQUERDO (SETA) .C. LESÕES EM REGIÃO DE METACARPO

(SETA) .............................................................................................

38

FIGURA 12 FIGURAS MOSTRANDO AS LESÕES DE NECRÓPSIA

ENCONTRADAS NO MACACO MURIQUI. A: PRESENÇA DE

MIÍASE EM DIVERSOS FERIMENTOS COMO O DO

SUPERCÍLIO E DO LÁBIO INFERIOR; B: MIOCÁRDIO COM

ÁREAS ISQUÊMICAS VISÍVEIS MESMO PELO PERICÁRDIO; C:

HIPERPLASIA DE GLÂNDULAS SEMINAIS SUGERINDO QUE O

ANIMAL ENCONTRAVA-SE NO ÁPICE DO PERÍODO

REPRODUTIVO; D: FÍGADO NOZ MOSCADA COM ÁREAS

HEMORRÁGICAS E NECRÓTICAS QUE NOS MOSTRA O

ELEVADO NÍVEL DE CORTISOL; E: ENCÉFALO COM VASOS

CONGESTOS E ÁREA HEMORRÁGICA EM REGIÃO DE LOBO

FRONTAL; F: ÁREAS HEMORRÁGICAS EM REGIÃO

CEREBELAR (TÊMPORO-OCCIPITAL DIREITA) ENTRE

MENINGE E PAREDE ÓSSEA ........................................................

40

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3. LISTA DE QUADROS

QUADRO 01 OS PROCEDIMENTOS ANUAIS DE DESVERMINAÇÕES QUE

OCORREM NO DECORRER DO ANO ASSIM COMO

MUDANÇAS DE RECINTOS, IDENTIFICAÇÃO E PESAGEM

(DESTE QUANDO NASCEM) QUE TODOS OS ANIMAIS POR

ÉPOCA A QUE SE REFEREM SÃO ATENDIDOS .....................

26

QUADRO 02 CASOS CLÍNICOS ACOMPANHADOS NO ZOOLÓGICO E NO

PASSEIO PÚBLICO NO PERÍODO COMPREENDIDO ENTRE

02 DE AGOSTO E 23 DE NOVEMBRO DE 2011........................

27 E 28

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4. RESUMO

O estágio curricular supervisionado foi realizado no Departamento de Preservação e

Conservação da Fauna, na divisão de zoológico – abrangendo os setores do

Zoológico e Passeio Público, situados no município de Curitiba – PR. Durante o

período de 02 de agosto a 11 de novembro de 2011. Neste período foram realizadas

atividades nas áreas de Clínica Médica e Cirúrgica de Animais Silvestres. A rotina

compreendeu atividades de enriquecimento ambiental, vistoria, acompanhamento

dos tratadores e da cozinha, confecção de dardos, medicamentos, necropsias,

microchipagem e desverminação, sob a orientação dos profissionais Médicos

Veterinários Manoel Lucas Javorouski e Marcelo Bonat. O presente trabalho teve

como objetivo discutir o caso clínico acompanhado durante o período de estágio, por

ser um caso pouco comum de agressão de macacos Muriquis (Brachyteles

arachnoides).

Palavras-chave: comportamento, mono-carvoeiro, primatas.

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5. ABSTRACT

The training period was performed at the Departamento de Pesquisa e Conservação

da Fauna, Zoológico and Passeio Público - Curitiba – PR, from 02 August to 11

November. During the training, activities about Wild Animals Medicine and Surgery

were carried out. Routine consisted of activities about environmental enrichment,

survey, monitoring of handlers and kitchen, making darts, autopsy, microchip and

deworming. All activities were guided DMV. Manoel Lucas Javorouski and DMV.

Marcelo Bonat. This study aimed to discuss the case history followed during the

probationary period, being an unusual case of aggression of muriqui (Brachyteles

arachnoides).

Keywords: behavior, primates.muriqui

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6. APRESENTAÇÃO

Este Trabalho de Conclusão de Curso (T.C.C.) apresentado ao curso de

Medicina Veterinária da Faculdade de Ciências Biológicas e de Saúde da

Universidade Tuiuti do Paraná, pela graduanda Paola Perine, como requisito parcial

para a obtenção do título de Médica Veterinária, é composto pelo relato do caso de

agressão entre muriquis (Brachyletes arachnoides) em cativeiro e pelo Relatório de

Estágio, no qual são descritas atividades realizadas durante o período de 02 de

agosto a 11 de novembro de 2011 no Zoológico Municipal de Curitiba e Passeio

Público, localizados no município de Curitiba – PR.

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7. INTRODUÇÃO

O estágio curricular foi realizado no Departamento de Pesquisa e

Conservação da Fauna nos setores: Zoológico e Passeio Público, orientado pelos

Médicos Veterinários Manoel Lucas Javorouski e Marcelo Bonat, tendo como

objetivo acompanhar a rotina desses setores, dos técnicos e tratadores, a

importância do trabalho dos médicos veterinários e biólogos, bem como acompanhar

as etapas de preparação de alimento, atendimentos clínicos cirúrgicos, manejo de

recinto, técnicas de enriquecimento ambiental e todos os elementos necessários

para o bem-estar animal.

8. LOCAL DE ESTÁGIO

O estágio foi realizado no Departamento de Pesquisa e Conservação da

Fauna na Secretaria Municipal do Meio Ambiente, setores Zoológico e Passeio

Público, no período de 02 de agosto de 2011 a 11 de novembro de 2011.

A cidade de Curitiba conta com dois parques abertos à visitação pública, que

abrigam coleções de animais de variados grupos e espécies: o Passeio Público -

inaugurado em 1886 (Figura 1) e o Zoológico de Curitiba - inaugurado em 1982

(Figuras 2A e 2B) como um dos sete setores do Parque Iguaçu, ocupando uma área

de 530 mil m² e atualmente, está entre os cinco mais conceituados do Brasil.

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FIGURA 1: ENTRADA DO PASSEIO PÚBLICO

Fonte: Barros

FIGURA 2: ZOOLÓGICO DE CURITIBA – PARQUE IGUAÇU. A.VISTA FRONTAL. B. VISTA AÉREA.

A B

Fonte: http://blogdati.com/2009/05/07/zoo-curitiba/ Fonte: google earth

O acervo do Departamento de Zoológico tem aproximadamente 2800

espécimes, representadas por aves, diversos grupos de mamíferos exóticos e

nativos, sobressaindo os grupos de primatas, répteis e aquários disponíveis à

visitação pública nos dois parques.

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Concomitante aos trabalhos de exposição de animais, envolvendo desde a

construção de recintos adequados até a aquisição de novos animais, existe uma

série de programas de reprodução com enfoque preferencial aos animais nativos e

em risco de extinção, buscando inclusive parcerias e desenvolvendo pesquisas junto

a Universidades e ONGs. O corpo técnico mantém também a reserva do acervo

além dos cuidados especiais dos animais senis.

A visitação é gratuita, o que permite ter um afluxo de pessoas bem

representativo, e apesar das flutuações existirem, já se registrou em torno de 10.000

pessoas em um final de semana. No caso do Passeio Público o parque é também

passagem de pessoas que transitam pela cidade e aproveitam para admirar os

animais (SECRETARIA, 2011).

Por meio da Divisão de Dinamização Cultural são realizadas atividades como

o Acantonamento Ecológico com estudantes, quando são feitas palestras, visitas

orientadas, apresentações de peças teatrais, sempre focando a sensibilização dos

visitantes para a importância da conservação ambiental. Também existem atividades

educacionais efetuadas nas escolas como o Zoo vai a Escola, quando são

apresentadas exposições de animais taxidermizados e peças como crânios, patas e

bicos, repassando informações sobre as mesmas e proferidas palestras sobre a

importância da preservação dos recursos naturais (SECRETARIA, 2011).

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Para cuidados médicos de todas essas espécies, está presente no local o

setor de atendimento dos casos clínicos (Figuras 3A e 3B). A cozinha tanto do

passeio público quanto do zoológico é equipada com câmara fria, bancadas de

corte, dispensa para estoque de alimentos, fogões e utensílios.

FIGURA 3: A. SALA DE ATENDIMENTO CLÍNICO E FARMÁCIA DO ZOOLÓGICO. B. SALA DE ATENDIMENTO AMBULATORIAL DO ZOOLÓGICO.

A B

Fonte: Bonat, 2011

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9. ATIVIDADES REALIZADAS DURANTE O ESTÁGIO

Consiste na rotina de acompanhamento de todos os animais diariamente,

desde o cotidiano preparo dos alimentos, quanto aos também realizados,

atendimentos ambulatoriais e a campo. As atividades diárias e os atendimentos

realizados durante o estagio seguem descritos.

9.1. COZINHA

Como a nutrição é balanceada, diariamente todos os alimentos oferecidos

seguem uma planilha com alimentos diferenciados, cortados e preparados por

cozinheiros conforme a anatomia e exigência do animal (Figura 4A), acompanhada

de profissionais tratadores específicos para cada setor (Figura 4B).

9.2 ACOMPANHAMENTO DOS TRATADORES

A convivência diária que os tratadores têm com os animais pelas rotinas tanto

de alimentação quanto a observação constante é de suma importância. São eles

que na ausência do medico veterinário no local estão observando o acervo e

facilmente identificam algum tipo de alteração no comportamento dos animais e

assim tomam as providências necessárias e encaminham o caso aos médicos

veterinários.

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FIGURA 4: A. ALIMENTAÇÃO PARA DIVERSAS ESPECIMES, APÓS O PREPARO PELOS COZINHEIROS. B. TRATADOR DO ZOOLÓGICO LEVANDO O ALIMENTO ATÉ O RECINTO DOS HIPOPÓTAMOS (HIPPOPOTAMUS AMPHIBIUS)

A B

9.3. ENRIQUECIMENTO AMBIENTAL

Antes da implementação de um programa de enriquecimento, algumas

medidas transmitidas pelos funcionários, médicos veterinário ou biólogos, foram

consideradas. Algumas das técnicas utilizadas, o tempo gasto, a espécie, a idade, o

sexo, a história do individuo que será tratado é avaliado e deverá constar a resposta

do animal diante das oportunidades de enriquecimento, o custo e a durabilidade,

tampouco discutir a eficiência dos seus diferentes tipos de apresentação.

Durante os meses de estágio no passeio público e no Zoológico acompanhou-

se o projeto de enriquecimento ambiental de Natalia Martins, voluntária e Médica

Veterinária. Entre os objetivos do seu projeto está a diminuição do estresse e a

quebra da rotina dos animais em cativeiro, evitando o surgimento de doenças em

consequência da baixa imunidade, garantindo o bem-estar animal. Entre os

enriquecimentos acompanhados, estão descritos alguns: varal de arame fixado nas

grades do recinto, na diagonal, contendo frutas e legumes colocado para os

Queixadas (Tayassu pecari) (Figura 5A), abóbora recheada com carne bovina

colocada para o Leão (Phantera leo), na plataforma localizada no centro do recinto,

local onde o Leão descansa (Figura 5B), para os Chipanzés (Pan troglodytes) caixa

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de papelão contendo barra de cereal, frutas (coco e manga), cenouras, garrafinha

de suco de laranja e revista (intuito de observar a reação para com o objeto), feno

elevado em varais dentro do recinto para as Lhamas (Lama glama) (Figura 5C) para

modificar a forma de apresentação da alimentação delas, bola de basquete com

aroma de canela espalhado para a onça (Panthera onça) (Figura 5D).

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FIGURA 5: EXEMPLOS DE ENRIQUECIMENTO AMBIENTAL. A. VARAL DE ARAME FIXADO NAS GRADES DO RECINTO, NA DIAGONAL, CONTENDO FRUTAS E LEGUMES COLOCADOS PARA OS QUEIXADAS (TAYASSU PECARI); B. ABÓBORA RECHEADA COM CARNE BOVINA COLOCADA PARA O LEÃO (PHANTERA LEO), NA PLATAFORMA LOCALIZADA NO CENTRO DO RECINTO, LOCAL ONDE O LEÃO DESCANSA; C. PARA OS CHIPANZÉS (PAN TROGLODYTES) CAIXA DE PAPELÃO CONTENDO BARRA DE CEREAL, FRUTAS (COCO E MANGA), CENOURAS, GARRAFINHA DE SUCO DE LARANJA E REVISTA (INTUITO DE OBSERVAR A REAÇÃO PARA COM O OBJETO);D. FENO ELEVADO EM VARAIS DENTRO DO RECINTO PARA AS LHAMAS (LAMA GLAMA) PARA MODIFICAR A FORMA DE APRESENTAÇÃO DA ALIMENTAÇÃO DELAS; E. BOLA DE BASQUETE COM AROMA DE CANELA ESPALHADO PARA A ONÇA (PANTHERA ONÇA).

A B

C

D E

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9.4 VISTORIA

Durante as visitações diárias pelos recintos é verificada a saúde dos animais.

É realizada por técnicos a fim de avaliar se há algum animal doente, como os

membros do grupo estão se comportando, as condições do recinto, alimentação e

toda a avaliação para garantir a saúde e a segurança, tanto dos animais quanto do

público visitante. As vistorias são realizadas durante o período da manha e no

período da tarde, por veterinários, biólogos e estagiários.

9.5. CONFECÇÃO DE DARDOS

Para confeccionar os dardos (Figura 6) foram utilizados materiais como:

seringas e agulhas hipodérmicas estéreis; sinalizador de lã; capa de fio de luz; solda

de estanho e gás de pressão.

As seringas compõem o corpo do dardo, para usar a borracha e uma parte do

plástico. Retira-se o embolo da primeira seringa e posicionando-o dentro da segunda

seringa (formando a câmara que irá conter o gás), sendo fixado por duas agulhas

hipordérmicas de forma perpendicular, que serão lixadas para remover possíveis

fragmentos que podem restar no local e que não devem se misturar com o

medicamento acidentalmente. O estabilizador de vôo e o sinalizador são para indicar

onde está o dardo e geralmente de cor bem chamativa. O tufo de lã é preso na

borracha do embolo. Já a agulha hipodérmica que será introduzida no animal é

montada manualmente, confeccionando uma perfuração auxiliar na lateral da ponta

da agulha utilizando uma lima e depois ocluindo a ponta da agulha com a solda de

estanho. Usando ainda um pequeno pedaço de capa de fio de luz para tampar a

nova perfuração que só sairá quando a agulha penetrar na pele do animal,

deslizando para trás, abrindo passagem para o medicamento sair.

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FIGURA 6: DARDO CONFECCIONADO UTILIZANDO SERINGAS DESCARTÁVEIS E TUFO DE LÃ PRESO NA BORRACHA DO EMBOLO E GÁS DE PRESSÃO

.

Fonte: Martins, 2009

9.6. ATENDIMENTO AMBULATORIAL , CLÍNICO E CIRÚRGICO

No ambulatório são realizadas as atividades de rotina como microchipagem,

desverminação e atendimentos clínicos (Figura 7), principalmente para animais

menores, como aves, pequenos mamíferos e filhotes.

O atendimento a campo ocorre quando a partir de uma emergência clínica,

médicos veterinários optam por atender o animal no próprio local, para evitar os

risco da contenção. Faz-se isolando o animal ou afastando-o dos demais

companheiros de recinto. Principalmente animais grandes, com dificuldades de

locomoção, ou por membros acometidos ou pelo próprio peso do animal que

impossibilitam seu atendimento ambulatorial (Figuras 7A, 7B e 7C).

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FIGURA 7: EXEMPLO DE ATENDIMENTOS AMBULATORIAS REALIZADOS. A: ATENDIMENTO AMBULATORIAL DE MICROCHIPAGEM E DESVERMINAÇÃO DE PAPAGAIOS; B: EMA COM ABSCESSO SENDO ATENDIDA A CAMPO, ONDE FOI FEITO DRENAGEM DO ABSCESSO; C: MEDICAÇÃO EM LEOA QUE ESTAVA COM A UNHA ENCRAVADA E MIÍASE.

A B

C

Os atendimentos cirúrgicos são encaminhados para os hospitais das Universidades Tuiuti do Paraná (UTP) e Federal do Paraná (UFPR) (Figuras 8A, 8B, 8C e 8D) pelo transporte do próprio departamento junto com a equipe de médicos veterinários responsáveis pelos atendimentos da clinica médica.

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FIGURA 8: EXEMPLO DE PROCEDIMENTOS CIRÚRGICOS. A: CENTRO CIRÚRGICO DE GRANDES ANIMAIS – UTP; B: TRANSPORTE SAINDO DO ZOOLÓGICO COM O PACIENTE NA JAULA; C: PACIENTE RETIRADO DO TRANSPORTE E ENCAMINHADO AO CENTRO CIRÚRGICO; D: CENTRO CIRÚRGICO DE GRANDES ANIMAIS – UFPR.

A B

C D

Os atendimentos da clínica médica durante o período de estágio curricular

estão relacionados nos Quadros 01 e 02. Os procedimentos anuais de

desverminações que ocorrem no decorrer do ano assim como mudanças de

recintos, identificação e pesagem (deste quando nascem) que todos os animais por

época a que se referem são atendidos (QUADRO 1) e todos os casos clínicos

(QUADRO 02).

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QUADRO 1 – ATIVIDADES ROTINEIRAS DO DEPARTAMENTO

Espécie Casuística Aplicação Lontra (Lontra longicaudis) Aplicação de microchip. Dia 22/09 Papagaio peito-roxo (Amazona vinacea) Coleta de sangue para sexagem e aplicação de microchip Dia 06/10 Papagaio-do-espírito-santo (Amazona rhodochorita)

Desverminação, coleta de sangue e microchipagem Dia 06/10

Gato Maracajá (Leopardus wiedii) Vacinação Dia 22/09 Jaguatiricas (Leopardus pardalis) Vacinação Dia 22/09 Leoas (Panthera Leo Vacinação Dia 22/09 Gato-do-mato (Leopardus tigrinus) Vacinação Dia 22/09 Papagaio da cara-roxa (Amazona brasiliensis) Desverminação e microchipagem Dia 06/10 Jacu do nordeste (Penelope jacucaca) Necrópsia Dia 03/11 Bisões (Bison bonasus) Desverminação Dia 20/10 Cervicapras (Antilope cervicapra) Desverminação Dia 20/10 Tucano de bico preto (Ramphastus vitellinus) Desverminação Dia 17/10 Tucano de bico verde (Ramphastus dicolorus) Desverminação Dia 17/10 Tucano-toco (Ramphiastos toco) Desverminação Dia 17/10 Baitaca (Pionus maximilliani) Necropsia Dia 13/10 Girafas (Giraffa camelopardalis) Desverminação Dia 29/09

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27 QUADRO 2 - CASOS CLÍNICOS ACOMPANHADOS NO ZOOLÓGICO E NO PASSEIO PÚBLICO NO PERÍODO

COMPREENDIDO ENTRE 02 DE AGOSTO E 11 DE NOVEMBRO DE 2011.

Espécie Caso clínico Tratamento Evolução Araçari (Pteroglossus castanotis)

Respiração ofegante encontrado no chão do recinto dia 16/08.

Antibioticoterapia e antiinflamatório dias 16/17/18-08.

Recuperação

Curica-roxa (Pionus fuscus)

Encontrado caído no coxo do recinto, suspeita de briga com outras aves do recinto

Feito sutura na pele próximo ao bico inferior no dia 16/08, Antibioticoterapia e antiinflamatório nos dias 16/17/18-08.

Recuperação

Aracuã (Ortalis canicollis)

Encontrado dia 03/10 morto no recinto, suspeita de susto ou atrito no espaço.

Necropsia revela rompimento do fígado e hemorragia no trato respiratório.

Óbito

Babuíno Sagrado (Papio hamadryas)

No dia 28/09 contenção química para retirada do filhote de quatro dias de vida que estava sendo maltratado

Mãe anestesiada com dissociativo via dardo e separado filhote com vida

Recuperação

Leoa (Phantera Lheo)

No dia 20/10 foi encontrada mancando e com histórico de dois dias de observações onde verificou-se a unha não gasta e com ferimento no coxim do membro torácico direito, perfurado pela unha. Presença de miíase.

Contenção química, corte das unhas, retirada da miíase, anti-sepsia, antibioticoterapia, intiinflamatório.

Recuperação

Muriqui/Mono- carvoeiro (Brachyteles arachnoides)

No dia 07/09 tratador informou que um dos machos estava apático e com anorexia. Novo acontecimento, com mutilações no dia 08/10.

Entregue ao tratador antibiótico comprimido para a alimentação, Durante 7 dias mas encontrado com mutilações, tratamento das

Óbito

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feridas 08-09/10 e no óbito dia 10 necropsia.

Queixada (Tayassu pecari)

No dia 16/08 animal apático No mesmo dia medicado com analségico, antiinflamatório e vitamina B1

Recuperação

Chipanzé (Pan troglodytes)

Tumor diagnosticado no abdômen, encaminhado ao centro de diagnóstico e ultrassom da UFPR onde após a anestesia teve parada cardíaca.

Óbito

Cervicapra (Antilope cervicapra)

Encontrada apática e com diarréia enegrecida dia 20/10

Fluidoterapia e antibioticoterapia Óbito

Carcara (Polyborus plactus)

Animal de vida livre encontrado caído nos arredores do passeio público 09/09

Antibioticoterapia e encaminhado para a rede de proteção animal

Recuperação

Teiu (Tupinambis merianae)

Animal de vida livre encontrado caído nos arredores do passeio público 08/09

Antibioticoterapia e encaminhado para a rede de proteção animal

Recuperação

Onça (Pantera onca)

Animal com histórico neurológico desde a amamentação. Estava com ferimentos nas narinas no dia 17/10 devido se mutilar nas grades.Animal estressado.

Administrado ansiolítico Haldol Decanoato no dia 31/10 e o tratamento repete uma vez por mês.

Recuperação

Ema (Rhea americana)

No dia 21/08 abscesso na articulação tíbio társica esquerda; asa esquerda caída, suspeita de fratura proximal de úmero.

Realizada imobilização e punção do abscesso no dia 21/08, fluocortan, administrada vitamina e retirada a mobilização, feita nova limpeza e punção no dia 22/09.

Recuperação

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Nos casos clínicos acompanhados durante o período de estágio, foi

observada uma frequência maior de doenças bacterianas e de causas

desconhecidas, bem como causadas por relacionamento e comportamento.

Podemos citar diversas literaturas que dão referencia a estresse como uma

precursora de baixa de imunidade e conseqüentemente doença causada por

diversos vetores.

Como referência do comportamento, podemos citar o comportamento

reprodutivo como um fator relevante para suspeitas de doenças nos animais que

passaram por um período de estresse e transtorno agressivo. No comportamento de

primatas observou-se que a presença de grupos pequenos em um espaço

apropriado pode trazer um ambiente de conflitos entre espécies do mesmo gênero,

principalmente entre machos, chamando a atenção para dois casos em especial,

como do muriqui que se tornou o único macho do recinto, após machucar um dos

seus parentes no mês de setembro de 2011, deixando lesões graves no momento

que a equipe técnica do Passeio Público de Curitiba atendeu o animal.

Casos que merecem atenção sobre o comportamento em cativeiro são os da

família de Babuínos sagrados (Figura 9) que tiveram dois casos recentes, o primeiro

como do Babuíno nascido em 22 de novembro e já no primeiro mês de vida sofreu

agressão dos parentes em 17 de dezembro de 2010, com menos de um mês de

idade, foi separado da família e este animal está com paraplegia após conflito de

recinto com o chefe da família; assim como o caso acompanhado desde o começo

do período de estagio, do babuíno recém nascido de outubro de 2011, separado da

mãe com apenas quatro dias, também por motivo comportamental.

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Segundo Ferraz (2011), o comportamento sexual é, na maioria das espécies,

sazonal, dependente de maturação, evocado pela presença de estímulos

específicos, e é totalmente dependente de níveis plasmáticos de esteróides sexuais.

O ciclo reprodutivo é regulado também pela sazonalidade e pela duração do

fotoperíodo diário. Durante a primavera e o verão, o aumento do fotoperíodo inibe a

glândula pineal, retirando o tônus inibitório da função testicular. Observa-se, então,

aumento nos níveis de testosterona, que ativa o comportamento de agressividade,

sobretudo o comportamento agonístico e de territorialização, e a resposta sexual.

FIGURA 9 - FAMÍLIA DE BABUÍNOS SAGRADOS QUE FOI SEPARADA APÓS O MACHO NÃO ACEITAR A PRESENÇA DOS FILHOTES E UMA DAS MÃES APRESENTAR COMPORTAMENTO IMATURO. NA FIGURA ESTÁ PRESENTE A MÃE QUE ACEITOU O FILHOTE E SEU FILHOTE NO RECINTO

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10. AGRESSÃO ENTRE MACHOS DE MURIQUI ( BRACHYTELES

ARACHNOIDES) MANTIDOS EM CATIVEIRO – RELATO DE CASO

O presente trabalho teve como objetivo relatar um caso de agressão entre

machos de macacos muriquis mantidos em cativeiro no Passeio Público – Curitiba –

PR.

10.1. REVISÃO DE LITERATURA

O Muriqui-do-sul (Brachyteles arachnoides) com nomes vulgares de Muriqui,

Mono-carvoeiro, Mono, Miriqui, Buriqui, Buriquim, Mariquina ou Muriquina é o

macaco da classe Mammalia, ordem primates e da familia Atelidae (GEOFFROY,

1806 apud KOEHLER et al., 2002). Tem como categoria proposta para o estado do

Paraná de criticamente ameaçado. Trata-se de uma espécie endêmica da mata

Atlântica, ocorrendo tipicamente entre 200m e 1.200m de altitude (SUMÁRIO, 2011).

Ameaçada em toda a sua área de ocorrência e com apenas uma população

atualmente conhecida no estado do Paraná, que pode ser considerado o limite sul

de sua distribuição. Esta população possui densidade baixa e vive num fragmento

de floresta relativamente pequeno e fora de qualquer unidade de conservação

federal ou estadual (KOEHLER et al., 2002).

No Brasil, uma expressiva quantidade desses animais é encontrada em

cativeiro tanto em zoológicos como em criadores particulares (NUNES e CATÃO

DIAS, 2007). O muriqui é o maior mamífero endêmico do país e o maior primata das

Américas (Figura 10). Machos e fêmeas adultos pesam, respectivamente, 15 e 12 kg

(NISHIMURA et al., 1988) e medem cerca de 80 cm em média, exceto a cauda, cujo

comprimento varia entre 65 e 80 cm. Sua pelagem é espessa e de cor bege por todo

o corpo. Possui um anel de pêlos mais claros ao redor da face, que tem a pele

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negra. A pele das mãos, dos pés e a planta da cauda também são negras. O polegar

é vestigial ou ausente (AURICHIO, 1995). A cabeça é arrendondada, a face

achatada, os braços longos, os machos possuem um escroto avantajado e as

fêmeas um clitóris proeminente (SUMARIO, 2011).

Não apresentam dimorfismo sexual, mas existem diferenças morfológicas e

genéticas entre as duas espécies. Os Muriquis-do-norte, Brachyteles hypoxanthus,

geralmente tem, quando adultos, a face e a genitália manchadas de rosa e branco,

devido a uma progressiva despigmentação ao longo da vida, e possuem um polegar

vestigial. Já os Muriquis-do-sul, Brachyteles arachnoides, não sofrem essa

despigmentação, mantendo a coloração facial e genital inteiramente preta, além de

não possuírem qualquer vestígio de polegar (SUMARIO, 2011).

A distribuição conhecida para esta espécie abrangia a Bahia e a região

Sudeste, mas no Paraná foi recentemente registrada no município de Castro

(KOEHLER et al., 2002). Também existem relatos de ocorrência em Jaguariaíva e

Morro Três Pontões no município de Guaraqueçaba (MARTUSCELL et al., 1994). A

possibilidade de registro anterior no estado foi citada por Aguirre (1971). Já a

presença e situação em unidades de conservação até o momento não foi registrada

em unidades de conservação do estado do Paraná.

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FIGURA 10: MURIQUI (BRACHYTELES ARACHNOIDES)

Fonte:http://noticias.r7.com/rio-dejaneiro/noticias/macaco-muriqui-pode-ser-simbolo-

da-olimpiada-20101110.html

No seu habitat natural, arborícola e diurno, locomovendo-se principalmente

com o auxílio dos braços e da cauda, apresenta comportamento essencialmente

social e os grupos são compostos por machos e fêmeas adultos, jovens e filhotes, já

tendo sido observados grupos de até 38 indivíduos na mesma área. No momento da

alimentação o grupo pode se dispersar por até um quilômetro, mantendo contato

vocal. Os machos convivem harmoniosamente sem dominância evidente, que

aparentemente ocorre apenas sobre as fêmeas adultas. O comportamento dos

componentes do grupo é altamente sociável, não havendo agressões físicas ou

disputas. As vocalizações dos muriquis são elaboradas e frequentes bem como os

membros do grupo geralmente se dispersam durante as suas atividades. Assim, as

vocalizações parecem ser uma importante forma de manter o contato e a coesão do

grupo (MIKICH e BÉRNILS, 2004).

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Os machos permanecem durante toda a vida em seu grupo familiar, enquanto

as fêmeas se dispersam ainda jovens, com cinco a sete anos de idade, quando

estão aptas a reproduzir. A gestação varia entre sete e oito meses, com intervalos

de aproximadamente três anos entre os partos, nascendo apenas um filhote

(raramente dois), que é carregado exclusivamente pela fêmea até o desmame, que

ocorre entre 18 e 24 meses. Os machos atingem a maturidade sexual aos seis anos

de idade (STRIER, 1986; STRIER et al., 2002). Os muriquis vivem até 20 anos. A

maior parte de sua alimentação é constituída de brotos e folhas maduras, mas

frutos, sementes e flores também participam de sua dieta. Utilizam ainda como

alimento cipós, lianas, epífitas e insetos, de acordo com a disponibilidade sazonal.

Apresentam seletividade e alto grau de manipulação dos alimentos (MIKICH &

BÉRNILS, 2004).

Os dados populacionais são escassos e Aguirre (1971) estimou que a

população total de muriquis foi reduzida de 400.000 para 3.000 indivíduos. Estudos

posteriores estimaram uma população em torno de 1.158 indivíduos distribuídos

entre Espírito Santo, Minas Gerais e São Paulo, o que representa uma redução de

61% em 27 anos. As populações sobreviventes atualmente habitam remanescentes

de florestas primárias e secundárias antigas. (KOEHLER et al., 2002). As matas em

estágio primário praticamente não existem mais. Além da destruição do habitat, o

muriqui tem sido, historicamente, uma das principais espécies visadas para caça ao

longo de toda a sua área de distribuição e isso levou essa espécie a uma situação

muito próxima da extinção (MIKICH & BÉRNILS, 2004).

No levantamento do Plano de Ação recém elaborado pelo governo da

presidente Dilma Rousseff, estima-se que restem menos de 1.000 indivíduos para

Brachyteles hypoxanthus (muriqui-do-norte) e menos de 2.000 para Brachyteles

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arachnoides (muriqui-do-sul). Essas duas espécies constam na Lista Oficial da

Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção (MEIO AMBIENTE, 2003).

Medidas para conservação segundo Mikich & Bérnils (2004) seria efetivar

proteção ao muriqui e estimular o desenvolvimento de pesquisas na sua área de

ocorrência. Após as pesquisas iniciadas em varias áreas, não aconteceram registros

de caça furtiva de Brachyteles e a população praticamente dobrou em número. Além

disso, tendo em vista a relativa tolerância desta espécie a ambientes em processo

de sucessão, é possível o aumento da área efetiva das porções fragmentadas de

habitat através de medidas que viabilizem a regeneração da vegetação natural. A

pequena população recém descoberta no Paraná vem sendo monitorada com o

objetivo de propor medidas de conservação (KOEHLER et al., 2002).

O termo estresse foi usado inicialmente na física para traduzir o grau de

deformidade sofrido por um material quando submetido a um esforço ou tensão.

Hans Selye (1907 – 1982) transpôs esse termo para Medicina e Biologia,

significando esforço de adaptação do organismo para enfrentar situações que

considere ameaçadora ao seu bem estar e a sua vida (SELYE, 1982; BALLONE,

2002 apud JAVOROUSKI, 2009).

Os agentes estressantes podem ser classificados em somáticos (originários

de fatores orgânicos frente ao estímulo de pressão); psicológicos (fúria ou

frustração), comportamentais (disputa territorial ou hierárquica, falta de contato

social ou privacidade, ameaça a segurança ou integridade física e emocional do

próprio individuo ou outros do grupo) ou diversos (afecções clinico cirúrgicas e

confinamento) (JAVOROUSKI, 2009).

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São descritos como mostra a literatura sendo animais pacíficos, não

ocorrendo agressões ou disputas físicas intraespecífica por acasalamento, alimento

ou território no seu habitat natural. Porém, na literatura foram relatados casos de

agressão física entre indivíduos de vida livre praticada por coalisões de machos

contra machos isolados. Os ataques chegam a causar lesões graves e até fatais.

Já em cativeiro, no Zoológico Municipal de Curitiba foram relatados dois

casos de agressão. Em 2005 havia um grupo de sete indivíduos de muriqui em

cativeiro, sendo três machos adultos e quatro fêmeas. Com relação aos machos,

dois vieram de uma apreensão do IBAMA/PR em 1997 (provavelmente pai e filho) e

o terceiro nasceu em cativeiro. Os animais estavam alojados no Passeio Público -

Curitiba/PR, em uma ilha com 798 m², arborizada por todo sua extensão,

principalmente com espécies exóticas como o alfeneiro (Ligustrum vulgare) e o pau-

incenso (Pittosporum undulatum), mas também com árvores nativas. Neste ano de

2011, o macho de idade intermediária atacou violentamente o macho mais velho,

causando lesões graves que debilitaram muito o animal. O mesmo foi acometido por

uma pneumonia e mesmo após tratamento veio a óbito em 29/07/05. Nesta

ocorrência o macho agressor teve um dedo do membro pélvico esquerdo amputado.

(BONAT et. al., 2005).

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10.2. RELATO DE CASO

Um novo caso de agressão entre machos foi observado na mesma ilha em

setembro de 2011, em um grupo diferente composto de dois irmãos machos e uma

fêmea, todos adultos. Nesta ocorrência, o macho mais velho agrediu o mais novo,

macho nascido em 05/10/00, com o nº de identificação de microchip

977200001055095, causando-lhe graves lesões. Ao ser encontrado no recinto caído,

foram observadas lesões na face; pálpebra (Figuras 11A e 11B) e lábio superior, na

face medial de membro pélvico esquerdo; nos membros torácicos, principalmente na

mão esquerda com exposição e metacarpo e falange (Figura 11C); em estado semi

comatoso.

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FIGURA 11: LESÕES APRESENTADAS PELO MACACO MURIQUI APÓS ATAQUE EM CATIVEIRO. A: LESÃO EM SUPERCÍLIO ESQUERDO (SETA); B: LESÕES EM LÁBIO SUPERIOR ESQUERDO (SETA); C: LESÕES EM REGIÃO DE METACARPO (SETA).

A B

C

O macho agredido foi separado em uma área de isolamento e manejo para

realização de fluidoterapia com 500 ml de Ringer com Lactato por via subcutânea,

limpeza dos ferimentos com PVPI tópico, administração de antibiótico enrofloxacina

e antiinflamatório cetoprofeno. O animal veio a óbito 48 horas depois de constatada

a agressão física.

O animal foi encaminhado à Universidade Tuiuti do Paraná – Curitiba/PR,

para realização da necropsia. Nas peças de necrópsia foram observadas as

seguintes alterações: presença de miíase em diversos ferimentos (Figura 12A);

edema na região abdominal ventral; lacerações com exposição óssea em região

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metacarpo falangeana esquerda; áreas enfisematosas no lobo pulmonar

diafragmático e atelectasia nos bordos, pós e durante morte; miocárdio com áreas

isquêmicas (Figura 12B); hiperplasia de glândulas seminais sugerindo que o animal

encontrava-se no ápice do período reprodutivo (Figura 12C); fígado noz moscada

com áreas hemorrágicas e necróticas focais e congestas que nos mostra o elevado

nível de cortisol (Figura 12D); encéfalo com vasos congestos e área hemorrágica em

região de lobo frontal (Figura 12E); áreas hemorrágicas em região cerebelar

(Têmporo-occipital direita) entre meninge e parede óssea, (Figura 12F); hipoplasia

pancreática.

As lesões de coração, pulmões e fígado encontradas na necropsia sugerem

que um quadro de estresse agudo podem ter contribuído para a morte do animal. As

lesões neurológicas são significativas para terem agravado o quadro clínico do

animal.

FIGURA 12: FIGURAS MOSTRANDO AS LESÕES DE NECRÓPSIA ENCONTRADAS NO MACACO MURIQUI. A: PRESENÇA DE MIÍASE EM DIVERSOS FERIMENTOS COMO O DO SUPERCÍLIO E DO LÁBIO INFERIOR; B: MIOCÁRDIO COM ÁREAS ISQUÊMICAS VISÍVEIS MESMO PELO PERICÁRDIO; C: HIPERPLASIA DE GLÂNDULAS SEMINAIS SUGERINDO QUE O ANIMAL ENCONTRAVA-SE NO ÁPICE DO PERÍODO REPRODUTIVO; D: FÍGADO NOZ MOSCADA COM ÁREAS HEMORRÁGICAS E NECRÓTICAS QUE NOS MOSTRA O ELEVADO NÍVEL DE CORTISOL; E: ENCÉFALO COM VASOS CONGESTOS E ÁREA HEMORRÁGICA EM REGIÃO DE LOBO FRONTAL; F: ÁREAS HEMORRÁGICAS EM REGIÃO CEREBELAR (TÊMPORO-OCCIPITAL DIREITA) ENTRE MENINGE E PAREDE ÓSSEA.

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A

C

D

B

E F

Fonte – Popp e Medeiros, 2011

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10.3. DISCUSSÃO

Segundo Mikich e Bérnils (2004), os muriquis tem o comportamento pacifico e

convivência social tranquila. Porém, em 2009, foi relatado por Talebi et. al., o

primeiro registro de agressão entre muriquis de uma mesma comunidade na região

de mata atlântica - Parque Estadual Carlos Botelho em São Paulo – Brasil.

Uma possível explicação para tal comportamento seria o estresse devido às

condições do cativeiro como foi descrito por Javorouski (2009). O recinto em que o

animal vivia localiza-se em uma região central de Curitiba – PR em uma ilha onde

não tem para onde fugir. Consequentemente o estresse sonoro gerado por

automóveis, ônibus, caminhões associado a visitação pública são fatores

potencializadores do estresse. A época em que ocorreu a agressão foi um período

de transição do inverno para a primavera. Durante a primavera o aumento do

fotoperíodo inibe a pineal, retirando o tônus inibitório da função testicular. Observa-

se, então, aumento nos níveis de testosterona – e da massa testicular -, que ativa os

comportamentos de agressividade, sobretudo comportamento agonístico e de

territorialização, e resposta sexual (FERRAZ, 2011).

Com relação à condição hierárquica nos muriquis em habitat natural, a

princípio não ocorreriam disputas como foi afirmado por Mikich & Bérnils (2004). Já

que na natureza os grupos são maiores, vivem em grupos sociais multi-machos e

multi-fêmeas, que podem exceder 50 indivíduos. Cada grupo ocupa áreas que vão

de pouco mais de 150 ha, variando de acordo com o tamanho do grupo social e a

qualidade do habitat. Em geral, os Muriquis são primatas pacíficos e possuem baixa

competição por alimento e acesso a parceiros (SUMARIO, 2011).

Mas como os animais estão em cativeiro, poderiam ocorrer distúrbios de

comportamento que poderiam culminar em agressões. Porém o animal agressor já

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tem um histórico de agressividade com outros machos do mesmo recinto, como já foi

relatado por Bonat (2011). Sendo assim, mesmo que o animal agredido perdesse a

disputa e tivesse o comportamento normal de ir embora como foi citado por Sgai et

al. (2010), por estar em um recinto, essa atitude foi inviabilizada.

Seria impossível e, ao mesmo tempo, extremamente indesejável eliminar

completamente todos os tipos de estresse. Fisiologicamente, sua ausência total

equivale à morte. O que devemos tentar fazer é reduzir os efeitos danosos do

estresse que o ambiente proporciona (JAVOROUSKI, 2009).

11. CONCLUSÃO

Com o óbito desse mamífero o Departamento de Pesquisa e Conservação da

Fauna perde o posto de maior cativeiro de muriqui do Brasil. Este é um grupo atípico

de Muriquis, já que vivem em grupos multi-machos e multi-fêmeas. Inúmeros fatores,

de estresse, do agressor ter um comportamento anormal de sucessivos conflitos no

recinto, maturidade sexual, entre outros ocasionou a morte do primata. Os muriquis

exigem mais cuidados daqui para frente e o ideal seria esse casal que ficou sozinho

no recinto procriar para manter um grupo novamente, assim como colocar a fêmea

com um novo animal. Existe um macho que veio com quase dois anos de idade, dia

2 de novembro de 2010, de uma apreensão do estado de São Paulo, encaminhado

para o passeio publico pelo IBAMA e que pode perfeitamente fazer par com a fêmea

do grupo assim que estiver em idade de reprodução.

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12. REFERÊNCIAS

AGUIRRE, A. C. 1971. O mono Brachyteles arachnoides (E. Geoffroy). Situação

atual da espécie no Brasil. Rio de Janeiro: Acad. Bras. Ciências. 51p.

AURICHIO, P. Primatas do Brasil. São Paulo: Terra Brasilis, 168 p. 1995.

CUBAS, Z. S.; SILVA, J. C. R.; CATAO DIAS, J. L. Tratado de Animais Selvagens -

Medicina Veterinária. São Paulo: Roca, 2006.

BONAT, M., MARGARIDO, T.C.C, BANEVICIUS, N.M.S, JAVOROUSKI, M.L. Relato

de caso: Agressão entre machos de muriqui (Brachyteles arachnoides) mantidos em

cativeiro. Prefeitura Municipal de Curitiba, Curitiba, PR, Brasil,

[email protected].

FERRAZ, M.R.; FERRAZ, M.M.D. Manual de Comportamento Animal. Rio de

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