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A Conectas Direitos Humanos agradece o apoio de todas as

pessoas e entidades que colaboraram com a produção deste

documento. Esta publicação é resultado de esforços coletivos

e de diálogos com diversos especialistas em mudanças

climáticas, litigância estratégica e direitos socioambientais.

A Conectas agradece especialmente aos parceiros e parceiras

que colaboraram com este projeto por meio de entrevistas,

consultas e participação em oficinas e seminários. Agradecemos

especialmente ao apoio de Ana Nusdeo (USP), Carlos Portugal

(USP e PG Law), Caroline Prolo (Stocche Forbes Advogados),

César Garavito (Universidad de los Andes), Eduardo Canina

(WWF), Eloísa Machado (CADHU), Fernanda Damacena

(Unisinos e PUC-PR), Flavio Siqueira (IDEC), Gabriel Wedy

(Justiça Federal), Gabriela Vuolo (Purpose), Joana Setzer

(LSE Grantham Research Institute on Climate Change and the

Environment), João Paulo Godoy (Conectas), Joana Nabuco

(FGV), Joilson Costa, Juliana Santos (Rubens Naves Santos Jr.

Advogados), Kamyla Borges (ICS), Michael Burger (Columbia

Sabin Center for Climate Change Law), Rafael Giovanelli

(WWF) e Vinicius Bernardo (MPRJ). Esta publicação não

teria sido possível sem a fundamental parceria do Instituto

Clima e Sociedade (iCS), a quem agradecemos especialmente

nas pessoas de Ana Toni e Alice Amorim. Os possíveis erros

remanescentes são de exclusiva responsabilidade da Conectas.

AGRADECIMENTOS

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Conectas Direitos Humanos

Diretora-executiva: Juana Kweitel

Diretor jurídico-financeiro: Marcos Fuchs

Coordenação:

Coordenadora de programas: Camila Asano

Coordenadora administrativa-financeira: Fernanda Mioto

Coordenador de enfrentamento à violência institucional: Gabriel Sampaio

Coordenadora de desenvolvimento e direitos socioambientais: Julia Neiva

Coordenador de comunicação e engajamento: Leonardo Medeiros

Conselho deliberativo: Theo Dias (presidente), Anamaria Schindler,

Andre Degenszajn, Denise Dora, Flavia Regina de Souza, Malak Poppovic,

Margarida Genevois, Marcelo Furtado, Silvio Almeida e Sueli Carneiro.

Conselho fiscal: Emilio Martos, Heloísa Motoki, Luigi Puntel.

Litigância climática na prática: estratégias para litígios climáticos no brasil

Autores: Gabriel Mantelli, Joana Nabuco e Caio Borges

Assistentes de pesquisa: Laura Kirsztajn e Luiz Gabriel Franco

Revisão técnica: Conrado Hubner Mendes, Júlia Neiva e Marco Antônio Moraes Alberto

Diagramação: Joana Resek

Revisão de texto: Renato Barreto

Apoio: Instituto Clima e Sociedade

Conectas Direitos Humanos. 2019

[email protected]

EXPEDIENTE

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Agradecimentos

Prefácio

Introdução

PARTE I – EXPERIÊNCIAS DE LITIGÂNCIA CLIMÁTICA NO MUNDO

Contextualizando as mudanças climáticas

O que são litígios climáticos?

PARTE II – POSSIBILIDADES DE LITÍGIOS CLIMÁTICOS NO BRASIL

A questão climática no contexto brasileiro

Quando entrar com um litígio climático?

Quais os desafios da litigância climática?

Quais as possibilidades judiciais para a litigância climática?

Quem pode ser parte em um litígio climático?

Quem pode litigar?

Contra quem litigar?

Quais tipos de ações judiciais podem ser utilizadas em um litígio climático?

Ação Civil Pública

Ação Popular

Mandado de segurança coletivo

Mandado de injunção

Ação Direta de Inconstitucionalidade de lei ou ato normativo

Ação Direta de Inconstitucionalidade por omissão

Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental

Quais fundamentos jurídicos podem ser usados em um litígio climático?

Tutela constitucional do meio ambiente

Políticas nacionais do meio ambiente e do clima

Proteção jurídica internacional ao meio ambiente

Normas internacionais de combate às mudanças climáticas

Salvaguardas contra violações aos direitos humanos

Direito à participação e à informação ambiental

Fundamentos jurídicos inovadores

Quais os possíveis pedidos em um litígio climático?

Como aumentar as chances de vencer um litígio climático?

Preste atenção às formalidades do processo

Se possível, faça uso de tutela provisória

Acompanhe de perto o andamento da ação

Dê visibilidade ao litígio

Exija a execução da ação climática em caso de vitória

Materiais para consulta

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SUMÁRIO

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PREFÁCIO

A pesar do aumento na oferta e da redução nos preços das energias renováveis, ampliou-

-se a distância que separa a sociedade contemporânea dos objetivos, estabelecidos em

2015 no Acordo de Paris, de limitar a elevação da temperatura global média a um patamar variando

entre 1,5º e 2º. A meta de 1,5º exigiria que a intensidade em carbono da economia global (ou seja,

o quanto de gases de efeito estufa se emite para cada unidade de PIB produzida) fosse reduzida em

11,3% ao ano até 2050. Se o objetivo for mais modesto, dois graus, a intensidade em carbono da

produção global teria que cair, em média, 7,5% neste período.

Qual foi a taxa de descarbonização de 2018? Apenas 1,6%. A consultoria global PwC1, responsável por estes números, comenta:

“É imensa a distância entre a retórica da ‘emergência climática’ e a realidade

da resposta global inadequada”.

Isso quer dizer que o mundo empresarial e os governos estão inertes, contemplando a crise

climática sem fazer nada? Não: a profusão de medidas legislativas, as transformações tecnoló-

gicas na geração e na distribuição de energia e nos sistemas de mobilidade urbana e o vigor das

manifestações empresariais reconhecendo os perigos da crise climática são exemplos de que

este é um tema que ganhou posição de urgência nas políticas públicas e na própria governança

empresarial contemporânea.

Estes avanços, porém, nem de longe são suficientes para evitar o agravamento daquele que o

Future of Humanity Institute, da Oxford University, considera um dos três grandes riscos exis-

tenciais às sociedades atuais (ao lado de uma guerra atômica e da ausência de governança na In-

teligência Artificial): o das mudanças climáticas. O que vai ficando cada vez mais claro, não só nos

trabalhos científicos, como nos inúmeros relatórios produzidos por organizações não governa-

mentais, por grupos empresariais e por organismos multilaterais, é que o gradualismo não é e não

será um caminho viável para enfrentar o tema. Não há a menor chance de que, deixados à sua pró-

pria dinâmica, os mercados transmitam aos responsáveis pela oferta de bens e serviços os sinais

mostrando a urgência das mudanças capazes de salvar o sistema climático.

Ricardo Abramovay

Professor Sênior do Programa de Ciência Ambiental do Instituto de Energia

e Ambiente da Universidade de São Paulo (IEE/USP) e autor de Amazônia. Por uma

Economia do Conhecimento da Natureza. São Paulo: Ed. Elefante/Terceira Via, 2019.

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Por incrível que pareça, tendo em vista as ameaças atuais, os combustíveis fósseis continuam

desfrutando de subsídios superiores aos que se oferecem às fontes renováveis de energia. É em

grande parte sobre a base destes subsídios que vivem as vinte maiores petrolíferas do mundo (en-

tre as quais, a Petrobras), que respondem por nada menos que um terço das emissões de gases de

efeito estufa da era moderna.2

É verdade que manter o aumento da temperatura global média nos limites definidos pelo Acor-

do de Paris exige transformações decisivas nos atuais modelos de produção e de consumo. Mas

não é menos certo de que já estão disponíveis as soluções tecnológicas que permitem a sociedades

altamente dependentes de combustíveis fósseis acelerarem sua transição para uma economia de

baixo carbono. É o que mostra, por exemplo, o relatório da Energy Transitions Commission,3 com

soluções tecnológicas e economicamente viáveis para abater drasticamente as emissões em ci-

mento, aço, plásticos, transporte rodoviário pesado e navegação.

Esta redução depende de três passos:

1 2 3redução da demanda

de produtos intensivos em carbono

aumento de eficiência energética

tecnologias de descarbonização

Mas é claro que há um passo adicional sem o qual os três anteriores não alcançarão seus obje-

tivos: trata-se de enfrentar os interesses constituídos e que hoje dominam a oferta de bens e ser-

viços no mundo contemporâneo, sobre a base de tecnologias intensivas em carbono e de políticas

públicas voltadas a sua manutenção. Mais que isso, trata-se de desfazer a imagem de que as emis-

sões de gases de efeito estufa são um mal necessário, uma espécie de premissa para o bem-estar.

É em torno deste duplo desafio (contra os interesses constituídos da economia

apoiada em emissões e por uma narrativa capaz de universalizar a convicção

de que a vida numa economia descarbonizada será melhor e não pior que a

vida atual) que está sendo organizado um dos mais importantes movimentos

sociais do século XXI: aquele que procura responsabilizar governos centrais,

administrações locais e empresas por sua ação ou por sua inação diante do

avanço da crise climática.

A força deste movimento não está nos tribunais e nos advogados, apesar de sua inegável impor-

tância. Ela está na crescente tomada de consciência, que atinge os mais variados segmentos das so-

ciedades contemporâneas, tanto sobre os perigos pelos quais estamos passando, quanto da urgência

de adotar transformações capazes de provocar a emergência de soluções construtivas.

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O caso brasileiro é extremamente promissor, neste sentido. O Brasil hoje é o sexto maior emis-

sor global de gases de efeito estufa. Entre os grandes emissores somos os únicos (junto com a In-

donésia) em que metade das emissões deriva de desmatamento. Se na China, na Índia, nos Estados

Unidos e na União Europeia reduzir as emissões exige muita ciência e tecnologia e transformações

disruptivas em sistemas produtivos consolidados, entre nós o maior desafio é institucional, e não

científico ou tecnológico. Trata-se de cumprir a lei. E aí a litigância pode desempenhar um papel

catalisador importantíssimo.

Em outubro de 2019 a Mesa Redonda da Soja Responsável defendeu o desmatamento (legal e

ilegal) zero. O lema: “Zero é zero”. A organização representa sete mil produtores de países como

Brasil, China, EUA e Argentina, entre outros. Aplicar este lema seria fundamental não só para a

Amazônia, mas também para o Cerrado, cujo gigantesco grau de destruição dificilmente chama a

atenção da opinião pública brasileira e internacional.

Governadores dos Estados da Amazônia vêm reiterando também a mensagem de que a des-

truição não é o caminho para o crescimento econômico da região. Inúmeros empresários e ex-

-ministros vêm se manifestando na mesma direção. Trabalhos científicos baseados em pesquisas

de organizações não governamentais mostram a irracionalidade econômica da destruição a que

a Amazônia e o Cerrado estão sendo submetidos. E a colaboração das comunidades indígenas e

ribeirinhas com empresários, cientistas e ativistas está abrindo horizontes promissores para a

economia da floresta em pé.

Da mesma forma que em mais de 1.200 casos ao redor do mundo (como mostra esta publi-

cação), a litigância climática será importante para que a sociedade faça valer seu direito a que os

recursos ecossistêmicos de que todos dependem não sejam destruídos. A litigância climática pode

contribuir para que os brasileiros encontrem na lei e na Justiça o apoio necessário para lutar con-

tra práticas que até aqui vêm impedindo que o Brasil, como portador da maior biodiversidade do

planeta, afirme-se internacionalmente como potência ambiental, em benefício dos brasileiros e

de toda a humanidade.

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INTRODUÇÃO

A mudança do clima – a que alguns já se referem por “crise climática”4 – é um dos maio-

res desafios da humanidade nos dias atuais. O aumento das temperaturas e da inten-

sidade e frequência de eventos climáticos extremos já tem afetado de maneira grave a vida das

pessoas. De acordo com o Banco Mundial, as mudanças climáticas forçarão 143 milhões de pessoas

a migrar nas regiões da África Subsaariana, da Ásia do Sul e da América Latina.5 Violações aos di-

reitos humanos estão – e estarão cada vez mais – associadas a esse novo cenário.

A sociedade civil organizada já tem intensificado sua atuação nesse novo contexto, especial-

mente nas iniciativas que buscam proteger áreas naturais, fiscalizar atividades poluidoras, in-

fluenciar o desenvolvimento de marcos normativos e articular a luta dos defensores e das de-

fensoras socioambientais. Cabe, agora, um passo além, a fim de que as medidas legislativas e

administrativas, bem como as políticas corporativas alinhadas ao combate à mudança do clima,

sejam reconhecidas como garantias necessárias para a proteção efetiva dos direitos humanos.

Em 2018, estudo elaborado pelo Grantham Research Institute on Climate Change and the Envi-

ronment, centro de pesquisas sobre o clima da London School of Economics and Political Science

(LSE), apontou algumas questões importantes sobre a relação entre direito e clima:

1. todos os signatários ou ratificadores do Acordo de Paris têm

pelo menos uma política sobre mudança climática;

2. existem mais de 1.500 políticas climáticas em todo o mundo, sendo

que 106 foram introduzidas desde que o Acordo de Paris foi alcançado; e

3. processos judiciais estratégicos contra governos estão tendo

algum sucesso e mais casos de direitos humanos relacionados

ao clima estão surgindo.

O avanço da legislação climática nos contextos nacionais é um fenômeno que traz resultados

ambíguos, pois não necessariamente melhora a efetividade da proteção climática, mas abre opor-

tunidades para novos mecanismos e espaços de atuação nos níveis institucional e jurídico.6

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Os litígios climáticos se apresentam como uma possibilidade estratégica na luta contra a mu-

dança do clima e a favor da defesa dos direitos humanos. Cada vez mais, organizações da sociedade

civil têm se utilizado desses mecanismos. Isso porque não só existe um fenômeno mundial de com-

partilhamento de experiências em torno desse instrumento – o que se pode constatar nos esforços

da Organização das Nações Unidas (ONU) de dar visibilidade ao tema por meio do documento The

status of climate change litigation: a global review7 –, mas também porque o uso do litígio climático

representa mais uma oportunidade de trazer à tona a emergência climática no debate público.

O litígio climático se define como uma ferramenta jurídica apta a acionar Poder Judiciário e

órgãos extrajudiciais para avaliar, fiscalizar, implementar e efetivar direitos e obrigações jurídi-

cas relacionados às mudanças climáticas. Dados indicam a existência de pelo menos 1.200 litígios

climáticos ao redor do mundo, com o registro de casos de sucesso a favor da proteção do clima,8

como Massachusetts x EPA nos Estados Unidos, o caso Urgenda na Holanda e o caso Leghari no

Paquistão. Nesses dois últimos casos, as ações demandavam melhores padrões de proteção cli-

mática, processos nos quais o Poder Judiciário exigiu que autoridades obedecessem a melhores

padrões de proteção climática.9

No Brasil, a discussão sobre a viabilidade da litigância climática avança. Além de a litigância

climática ser um fenômeno global, o Brasil é o sétimo maior emissor global de gases de efeito es-

tufa, e o país já está sofrendo com os efeitos das mudanças climáticas. Eventos como a alteração

dos regimes de chuvas no Sudeste e o aumento de temperatura em algumas regiões do Nordeste

vêm sendo cada vez mais associados a alterações estruturais nas condições climáticas.

Este guia explora as características essenciais do litígio climático e, em linguagem acessível

e informativa, discute as possibilidades e estratégias para maior uso do mecanismo no contexto

brasileiro. Ele também traz análises das principais experiências internacionais em litígio climático

e propõe alternativas promissoras de atuação prática, por diversos atores, no Brasil. A pesquisa

que resultou neste guia contou com revisão bibliográfica, busca em bases de dados jurispruden-

ciais brasileiros e consultas com especialistas da área. Esta publicação reflete, ainda, parte das dis-

cussões realizadas no evento Judicialização do clima: experiências internacionais e possibilidades para

o contexto brasileiro, realizado pela C onectas Direitos Humanos, com o apoio do Instituto Clima e

Sociedade (iCS), no dia 26 de fevereiro de 2019, em São Paulo.

ESTE GUIA EXPLORA AS CARACTERÍSTICAS ESSENCIAIS DO LITÍGIO CLIMÁTICO E, EM LINGUAGEM ACESSÍVEL E INFORMATIVA, DISCUTE AS POSSIBILIDADES E ESTRATÉGIAS PARA MAIOR USO DO MECANISMO NO CONTEXTO BRASILEIRO.

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Esta publicação está dividida em duas partes.

Na primeira parte, é apresentado um panorama global do fenômeno da

litigância climática. Busca-se contextualizar a mudança do clima e explorar

o mecanismo do litígio climático como uma possibilidade de combate às

adversidades da crise climática.

Na segunda parte, é proposto um olhar prático sobre a realidade brasileira.

Partindo-se do diagnóstico de que ainda não existem experiências diretas de

litígio climático no Brasil, apresentam-se possíveis estratégias de atuação

nessa temática.

O guia não esgota o debate, as possibilidades e as estratégias da litigância climática, mas busca

preencher uma lacuna neste tema, uma vez que este material é o primeiro do tipo a ser publicado

no Brasil.

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CONTEXTUALIZANDO AS MUDANÇAS

CLIMÁTICAS

A s mudanças climáticas e seus efeitos negativos para o meio ambiente e a humanidade

representam uma das maiores ameaças da atualidade. A interferência do ser humano na

natureza tem se intensificado desde o último século, ainda mais quando se leva em conta o papel

da industrialização nesse período, de tal modo que indicadores ambientais – como aumento de

temperatura, alterações no ciclo hidrológico, derretimento de geleiras continentais, redução de

gelo no Ártico, aumento do nível do mar – têm mostrado que algo tem, de fato, mudado profun-

damente em termos climáticos.

Essas mudanças, que também podem ser entendidas de forma socioambiental, têm gerado

consequências particularmente danosas para comunidades e populações em situação de vulne-

rabilidade. Apesar disso, a sociedade como um todo está exposta aos efeitos adversos das mu-

danças climáticas. Crises hídricas, desertificação, enchentes, furacões e alterações nas estações

do ano são exemplos de eventos que afetam milhões de pessoas, o que reforça a noção de que as

mudanças climáticas são um problema que requer soluções compartilhadas e senso de coletivi-

dade local e global.

A agenda dos direitos humanos esteve relativamente distanciada das pautas ambientais e

climáticas. A comunidade internacional tem, contudo, reconhecido cada vez mais que a relação

entre direitos humanos e mudanças climáticas é bastante próxima. O aumento dos impactos

das mudanças climáticas afeta os direitos humanos, especialmente de pessoas e comunidades

em situação de vulnerabilidade. Uma das repercussões das mudanças climáticas é o aumento

de eventos climáticos extremos e desastres socioambientais, o que impacta diretamente a agri-

cultura e as cidades. Direitos como alimentação e moradia adequadas ficam comprometidos em

função de tais eventos.

Estados e organismos internacionais têm avançado no reconhecimento do vínculo entre as

mudanças climáticas e os direitos humanos. Essa relação direta foi expressamente reconhecida

pelo Conselho de Direitos Humanos da ONU em 2008, por meio da Resolução 7/23. Outros docu-

mentos, como a Declaração de Malé de 2007, os Acordos de Cancún de 2010 e o Acordo de Paris

de 2015 têm seguido o mesmo diagnóstico de reconhecer que há um vínculo forte entre direitos

humanos e mudanças climáticas.

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A MAIORIA DOS PERIGOS NATURAIS QUE AFETARAM QUASE 62 MILHÕES

DE PESSOAS, EM 2018, ESTEVE ASSOCIADA A FENÔMENOS METEOROLÓGICOS

E CLIMÁTICOS EXTREMOS11

QUAIS OS PERIGOS DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS?

Entre os impactos das mudanças climáticas sobre os direitos humanos, podem-se destacar

aqueles que incidem sobre os direitos a um ambiente sadio, a uma vida digna, à saúde, à alimen-

tação, à moradia adequada, à água, à propriedade individual e coletiva, ao acesso à cultura e à

livre determinação de milhões de pessoas. Levando-se em consideração normas internacionais, é

cada vez mais importante a obrigação dos Estados e de seus governos de proteger ativamente os

direitos humanos diante dos perigos previsíveis, incluindo os causados pelas mudanças do clima.

O movimento por justiça ambiental e climática busca garantir que essas obrigações sejam cum-

pridas e direcionam a atenção do debate público para os maiores riscos associados aos países e

comunidades vulneráveis em termos socioambientais.

ESTIMA-SE QUE O NÚMERO DE PESSOAS SUBALIMENTADAS TENHA

CHEGADO A 821 MILHÕES, EM 2017, DEVIDO EM PARTE ÀS GRAVES SECAS

ASSOCIADAS AO INTENSO EPISÓDIO DO EL NIÑO DE 201512;

DA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL ATÉ 2018, A CONCENTRAÇÃO DE CO2 NA ATMOSFERA

AUMENTOU DE 280 PARTES POR MILHÃO PARA 404 PARTES POR MILHÃO,

SENDO QUE O MUNDO ESTÁ, EM MÉDIA, UM GRAU MAIS QUENTE10

DA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL ATÉ 2018, A CONCENTRAÇÃO DE CO2 NA ATMOSFERA AUMENTOU

de 280 partes por milhão para 404 partes por milhão,

sendo que o mundo está, em média, um grau mais quente44 A MAIORIA DOS PERIGOS NATURAIS QUE AFETARAM

17% DOS DESLOCADOS SÃO PESSOAS DESLOCADAS POR CONTA DE

DESASTRES RELACIONADOS A FENÔMENOS METEOROLÓGICOS E CLIMÁTICOS?13

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DOCUMENTOS INTERNACIONAIS QUE RELACIONAM AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS AOS DIREITOS HUMANOS

A DECLARAÇÃO DE MALÉ,

documento emitido por representantes

de pequenos Estados insulares,

reconhece que as mudanças climáticas

têm implicações claras e imediatas para

o pleno gozo dos direitos humanos;14

em resposta

A RESOLUÇÃO 7/23 do Conselho de

Direitos Humanos da ONU expressa a

preocupação do órgão com o rápido

avanço das mudanças climáticas e solicita

a elaboração de um estudo sobre direitos

humanos e mudanças climáticas;15

Em resposta à Resolução 7/23,

o RELATÓRIO ANUAL DO ALTO

COMISSARIADO DA ONU para

Direitos Humanos de 2009 teve

por foco a relação entre mudanças

climáticas e direitos humanos;16

Os ACORDOS DE CANCÚN adotados na

COP16 da Convenção-Quadro sobre a

Mudança do Clima também se referem

à vinculação entre direitos humanos e

mudanças climáticas17 e fazem menção à

Resolução 10/4 do Conselho de Direitos,

que trata do assunto;18

Dada a relevância da vinculação

entre direitos humanos e mudanças

climáticas, o Conselho de Direitos

Humanos da ONU estabeleceu, por

meio da RESOLUÇÃO 19/10, mandato

para um especialista independente

na temática que, em 2015,

teve o mandato convertido para uma

relatoria especial;19

O histórico ACORDO DE PARIS reconhece,

em seu preâmbulo, que a mudança climática

é uma preocupação comum da humanidade

e que as partes deverão tomar medidas para

combatê-la considerando suas respectivas

obrigações em termos de direitos humanos.20

2007

2008

2010

2015

2009

2012

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P ara avançar na defesa do meio ambiente e da vida das futuras gerações, a sociedade ci-

vil precisa estar preparada para lutar contra a mudança do clima. As possibilidades de

atuação são diversas, desde o foco na proteção ambiental, a conscientização social e a disputa nos

espaços institucionais e jurídicos. Tratando-se de políticas públicas, o Estado acaba assumindo

funções de proteção ambiental e climática, e cabe à sociedade civil cobrá-lo para que seja atuante

e o faça de maneira adequada e eficiente. Para isso, o litígio climático funciona como uma maneira

de provocar o Poder Judiciário a cobrar e auxiliar o Poder Executivo na execução de medidas de

combate às mudanças climáticas e o Poder Legislativo na elaboração e revisão de marcos normati-

vos climáticos. Por fim, o litígio climático também pode funcionar como um indutor de mudanças

nos setores privados e empresariais.

“PRATICAMENTE TODOS OS PAÍSES DO MUNDO APROVARAM LEIS

E POLÍTICAS QUE LIDAM DIRETA OU INDIRETAMENTE COM O TEMA

DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS. OS 197 PAÍSES QUE ASSINARAM OU

RATIFICARAM O ACORDO DE PARIS POSSUEM PELO MENOS UMA LEI

OU POLÍTICA CLIMÁTICA. AO MESMO TEMPO EM QUE SE OBSERVA

O ENGAJAMENTO DO LEGISLATIVO E DO EXECUTIVO, O JUDICIÁRIO

TAMBÉM PASSOU A SER CHAMADO CADA VEZ COM MAIOR FREQUÊNCIA

A SE MANIFESTAR SOBRE A APLICAÇÃO DOS DIREITOS E OBRIGAÇÕES

ESTABELECIDOS POR ESSAS LEIS E POLÍTICAS.”21

O CLIMA NO DIREITO E NA LEI

Normas jurídicas no mundo todo já são favoráveis à proteção do clima. O vínculo entre equilíbrio

climático e a garantia de direitos, somado à insuficiência das medidas implementadas por agentes

públicos e privados e à crescente presença da questão climática no direito internacional e doméstico,

têm contribuído para o surgimento de inúmeras ações judiciais de teor climático. O litígio climático

enquanto fenômeno que ambiciona a mitigação ou adaptação das mudanças climáticas possui algu-

mas características e desafios comuns que merecem ser compreendidos e debatidos por organiza-

ções e indivíduos que tenham a intenção de se dedicar ao tema.

Os litígios climáticos podem ser entendidos, em geral, como ações judiciais que requerem do

Poder Judiciário ou de instâncias administrativas decisões que expressamente abordem questões,

fatos ou normas jurídicas relacionadas, em sua essência, às causas ou aos impactos das mudanças

O QUE SÃOLITÍGIOS

CLIMÁTICOS?

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climáticas.22 Centros de pesquisas já identificaram cerca de 1.200 experiências internacionais de

litígio climático (ver mapa adiante) envolvendo questões relacionadas à redução das emissões de

gases de efeito estufa (como no caso Urgenda v. Holanda), à redução da vulnerabilidade (como no

caso Leghari v. Paquistão), à reparação de danos (como no caso Lliuya v. RWE AG) e à avaliação e

gestão dos riscos climáticos (como no caso Nova Iorque v. Exxon Mobil).

LITIGÂNCIA CLIMÁTICA E LEGISLAÇÃO SOBRE CLIMA NO MUNDOOs números indicam a quantidade de litígios climáticos no país, em 2018, e as cores apontam o número de leis sobre o clima, também em 2018.

Fonte: Grantham Research Institute on Climate Change and the Environment. Policy brief - Global trends in climate change legislation and litigation: 2018 snapshot.

URGENDA V.

HOLANDA(2015)

EXEMPLOS DE LITÍGIOS CLIMÁTICOS23

Na Holanda, a Urgenda, uma organização da sociedade civil,

ajuizou em 2015 ação contra o governo solicitando que o país

assumisse a obrigação de reduzir ou garantir a redução das

emissões de gases de efeito estufa (GEE) da Holanda em 40%

até 2020 ou, ao menos, 25%, em comparação com os níveis de

1990. O pedido acabaria por impor uma meta mais ambiciosa do

que aquela assumida pelo governo holandês. A fundamentação

do pedido se baseou em dados científicos e obrigações legais

assumidas pelo país nos níveis internacional, regional e nacional.

A decisão do caso, em 2018, foi favorável ao pedido da Urgenda,

fundamentando-se na possibilidade de o Poder Judiciário avaliar

o atendimento ou não a direitos fundamentais.24

2N/A 5 10 15 20 25+

600USA

4Colômbia 1

Nigeria

3África do Sul

17Nova Zelândia

94Austrália

2Filipinas

2Índia

2Paquistão

14Canadá

13Espanha

4França

1Bélgica

1Holanda

1Suécia

1Suécia

3Alemanha

1Áustria

1Republica

Tcheca

1Ucránia

2Irlanda

52Reino Unido

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20

LEGHARI V.

PAQUISTÃO(2015)

No Paquistão, um agricultor entrou com uma ação judicial, em

2015, contra o governo alegando omissão e atrasos por parte

deste na implementação da Política Nacional de Mudanças

Climáticas e no enfrentamento das vulnerabilidades associadas

às mudanças climáticas. A corte responsável aceitou o pedido e

determinou, em 2018, a criação de uma comissão para monitorar

a implantação da política em questão.25

LLIUYA V.

RWE AG(2015)

Em 2015, o peruano Saúl Luciano Lliuya entrou com uma ação,

no judiciário alemão, contra a RWE, maior empresa energética

da Alemanha, com o objetivo de ordenar a empresa a pagar

uma parcela dos custos de medidas de adaptação às mudanças

climáticas que ele e seus coabitantes de Huaraz terão de

implementar. Na região, barragens precisam ser construídas

para proteger a cidade do crescimento do lago glacial

Palcacocha, que se formou em decorrência do derretimento

de geleiras nas proximidades. Lliuya alega que a RWE, como

emissora de volumes substanciais de GEE, é parcialmente

responsável pelos danos iminentes aos cidadãos peruanos. O

judiciário alemão, em primeira instância, rejeitou as alegações

com base no argumento da ausência de nexo causal; mas, em

2017, em sede de recurso, a corte admitiu seu pleito.26

NOVA IORQUE V.

EXXON MOBIL (2018)

Em 2018, nos EUA, o estado de Nova Iorque processou a

Exxon Mobil, multinacional de petróleo e gás, alegando

que a empresa enganou acionistas ao minimizar os riscos

esperados das mudanças climáticas em seus negócios. O

litígio não cobra da Exxon um papel na criação da mudança

climática, embora a queima de combustíveis fósseis seja um

dos principais contribuintes para as mudanças climáticas.

Trata-se de um litígio climático indireto, uma vez que é um

processo de fraude de acionistas que tem implicações na

temática das mudanças climáticas.27

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21

FUTURAS GERAÇÕES (CIDADÃOS COLOMBIANOS) V.

MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE DA COLÔMBIA (2018)

Na Colômbia, 25 jovens entraram com ações em diferentes

níveis, especialmente contra o Ministério do Meio Ambiente

da Colômbia, exigindo seus direitos ao meio ambiente, à vida,

à saúde, à alimentação e à água. Os autores alegaram que as

mudanças climáticas, juntamente com o fracasso do Estado

em reduzir o desmatamento e garantir o cumprimento da

meta de desmatamento líquido zero na Amazônia colombiana

até o ano de 2020 (estabelecido no Acordo de Paris),

representam grandes ameaças aos direitos fundamentais das

futuras gerações. Com perdas na primeira instância, o caso

chegou à Suprema Corte que, em 2018, reverteu as decisões a

favor dos pedidos dos cidadãos colombianos.28

ESPECIALISTAS APONTAM, AINDA, CINCO TENDÊNCIAS

NA LITIGÂNCIA CLIMÁTICA MUNDIAL:

governos são chamados a cumprir seus compromissos legislativos e políticos;

há uma ligação entre os impactos da extração de matéria-prima e as mudanças

climáticas e resiliência;

a busca por estabelecer que determinadas fontes de emissões de gases de efeito

estufa são a causa direta de impactos climáticos específicos;

a busca por estabelecer a responsabilidade por falhas em adaptar ou por impactos

da adaptação às mudanças climáticas; e

a adoção da public trust doctrine (doutrina da confiança pública)

às mudanças climáticas.29

1

2

3

4

5

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22

Dentro desse panorama, os litígios climáticos podem envolver questões relacionadas:

• à redução das emissões de gases de efeito estufa (MITIGAÇÃO),

• à redução da vulnerabilidade aos efeitos das mudanças climáticas

(ADAPTAÇÃO),

• à reparação de danos sofridos em razão das mudanças climáticas

(PERDAS E DANOS) e ;

• à gestão dos riscos climáticos (RISCOS).

Litígios climáticos de mitigação podem exigir que o Poder Público implemente medidas des-

tinadas a reduzir emissões de GEE, garantindo a efetividade de metas de redução ou de mercados

de carbono e fiscalizando ações de combate ao desmatamento, medidas no planejamento urbano

e em processos de licenciamento ambiental. Litígios climáticos de adaptação podem responsabili-

zar governos e empresas pela avaliação de riscos e obrigar a implementação de ações necessárias

para combater impactos adversos das mudanças climáticas. Como exemplo hipotético, um litígio

pode forçar municípios a desenvolver planos e outros instrumentos legais para lidar com mudan-

ças no regime de chuvas, incidência mais constante de secas e aumento do nível do mar.

Litígios climáticos de perdas e danos almejam a responsabilização civil de entes governamen-

tais e grandes emissores por danos causados a indivíduos e grupos em razão de eventos climáticos

extremos e mudanças significativas no meio em que vivem (ex.: derretimento de geleiras e seus im-

pactos sobre povos tradicionais). Finalmente, litígios climáticos de riscos envolvem a considera-

ção de riscos climáticos em processos de licenciamento ambiental, estudos de impacto ambiental

e elaboração de planos setoriais relacionados às questões climáticas (como energia e mobilidade).

Nesse último, pode-se pleitear a prestação de informações sobre riscos e avaliação das medidas de

mitigação, até mesmo financeiros e socioambientais, relacionados às mudanças climáticas.

As experiências internacionais demonstram que existem diversas possibilidades para a liti-

gância climática em termos de causa de pedir e objeto da ação, assim como de partes legitimadas

para agir. Como também se explorará a seguir, os principais atores que ingressam com litígios

climáticos (polo ativo) são Estados, organizações não governamentais e indivíduos. Os principais

demandados (polo passivo) são também os Estados, mas também aparecem as empresas. O or-

ganograma a seguir ilustra tais configurações processuais, assim como os fundamentos jurídicos

mais utilizados por cada um desses legitimados como a legislação ambiental e os direitos huma-

nos e fundamentais.

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23

ORGANOGRAMA DE PRINCIPAIS ARRANJOS PROCESSUAIS com base nas experiências internacionais de litigância climática

Fonte: ClientEarth, 2018. Climate change litigation - a global phenomenon.

Mapeando a litigância climáticaCausas da ação

AUTORES

Interesses difusos

Direito ambiental

Estados Estados

Atores não estatais

(governos locais, entidades privadas, ONGs)

Indivíduos

Legislação climática

Regulação

Responsabilidade civil

Direito ambiental

Direitos do consumidor

Direitos fundamentais e direitos humanos

Direito constitucional

Políticas públicas

Direito ambiental e climático?

RÉUS

Entidades privadas e empresas

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BRASIL

POSSIBILIDADES

2

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25

N o contexto brasileiro, a importância dada ao debate climático pelo governo federal

remonta aos anos 1990, ainda nas discussões e iniciativas para proteção da camada de

ozônio. A partir dos anos 2000, o Brasil passa a demonstrar uma postura mais altiva sobre a te-

mática, especialmente se levarmos em consideração a elaboração de um plano nacional voltado

ao assunto em 2008 e o estabelecimento da Política Nacional sobre Mudança do Clima (PNMC)

em 2009. A legislação sobre mudanças climáticas e a estrutura institucional responsável por

colocá-la em prática é bastante vasta no Brasil (consultar quadro temporal abaixo). Por mais

que, em 2015, o Brasil tenha se empenhado no Acordo de Paris, comprometendo-se a reduzir as

emissões de gases de efeito estufa em níveis consideráveis,30 vê-se que, nos anos mais recentes,

as políticas ambiental e climática perderam seu protagonismo, o que fica evidente com o au-

mento dos índices de desmatamento e com as ameaças políticas de abandono do Acordo de Paris

por parte do governo federal.31

A questão climática no Brasil é normalmente debatida nas esferas institucionais dos Poderes Legislativo e Executivo – seja por meio de iniciativas legislativas,

elaboração de planos ou pela atuação prática dos órgãos ambientais.

Ainda que alguns litígios lidem tangencialmente com a questão do clima, pode-se dizer que,

até o momento, não há nenhum caso relevante no Brasil (consultar quadro abaixo sobre experi-

ências indiretas de litígios climáticos). De um lado, de fato, a maior parte dos casos que podem ser

classificados como litigância climática consiste em ações genéricas ambientais e/ou de direitos

humanos que tangenciam o tema das mudanças climáticas. Por outro lado, há uma crescente lite-

ratura e mobilização no Brasil que tem se orientado para a reflexão dos temas de direito ambiental

e mudanças climáticas, como justiça climática e direito dos desastres, e, em termos práticos, da

litigância climática.

A QUESTÃO CLIMÁTICANO CONTEXTO

BRASILEIRO

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26

ARCABOUÇO JURÍDICO-INSTITUCIONAL SOBRE MUDANÇAS CLIMÁTICAS NO BRASIL: exemplos de instrumentos jurídicos e administrativos

1981

1990

2007

2009

2016

1988

2005

2008

2015

2018

É instituída a POLÍTICA NACIONAL

DO MEIO AMBIENTE (PNMA) por meio

da Lei nº 6.938/1981;

O ART. 225 DA CONSTITUIÇÃO

FEDERAL DE 1988 reconhece o direito

fundamental ao meio ambiente e ao

desenvolvimento sustentável;É promulgada, por meio do Decreto

nº 99.280/1990, a Convenção de Viena

para a PROTEÇÃO DA CAMADA DE OZÔNIO

E DO PROTOCOLO DE MONTREAl

sobre Substâncias que Destroem a

Camada de Ozônio; O Decreto nº 5.445/2005 promulga

o PROTOCOLO DE QUIOTO à

Convenção-Quadro das Nações Unidas

sobre Mudança do Clima (UNFCCC);O AMAZONAS, por meio da Lei Estadual

nº 3.135/2007, é o primeiro Estado brasileiro

a instituir uma POLÍTICA ESTADUAL SOBRE

MUDANÇAS CLIMÁTICAS;

O governo federal brasileiro lança

o PLANO NACIONAL SOBRE

MUDANÇA DO CLIMA;32

A Lei nº 12.114/2009 estabelece o

FUNDO NACIONAL SOBRE MUDANÇA

DO CLIMA e a Lei nº 12.187/2009

institui a Política Nacional sobre

Mudança do Clima (PNMC); O Brasil se compromete a REDUZIR

AS EMISSÕES DE GASES DE EFEITO

ESTUFA em 37% abaixo dos níveis

de 2005, em 2025;33

A Portaria do Meio Ambiente nº 150

institui o PLANO NACIONAL DE

ADAPTAÇÃO À MUDANÇA DO CLIMA; O Decreto nº 9.578/2018 consolida

a regulamentação sobre o

FUNDO DO CLIMA E A PNMC.

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27

LITÍGIOS RELACIONADOS INDIRETAMENTE ÀS MUDANÇAS CLIMÁTICAS NO BRASIL34

NO STF

• Em 2018, o Supremo Tribunal Federal (STF) concluiu o julgamento das Ações Diretas de

Inconstitucionalidade do Código Florestal de 2012. Mesmo não trazendo diretamente a

questão das mudanças climáticas, as ações tangenciam a temática sobre controle da

preservação de fragmentos florestais ou para compensação das áreas consolidadas.35

NO STJ • Em 2007, Recurso Especial 650.728/SC, relatado pelo Ministro Herman Benjamin, ao decidir

sobre aterro e drenagem ilegal de manguezal, menciona mudanças climáticas e aumento do

nível do mar;36

• Em 2009, Agravo Regimental nos Embargos de Declaração no Recurso Especial 1.094.873/SP

proibiu a queimada da palha na colheita da cana-de-açúcar e, no voto do Ministro Humberto

Martins, houve menção à liberação de GEEs na conduta;37

• Em 2010, Recurso Especial 1.000.731/RO cita expressamente o fenômeno da mudança

climática para justificar o cabimento de multa em virtude de infração administrativa

decorrente de queimadas ilegais.38

AÇÕES CIVIS PÚBLICAS

• Em 2010, o Ministério Público (MP) de São Paulo ajuizou Ações Civis Públicas contra mais de

30 companhias aéreas que operam no Aeroporto de Guarulhos com pedido de indenização

ou a compensação das emissões de GEE por elas causadas nas decolagens e aterrissagens

diárias de suas aeronaves;39

• Em 2017, decisão em ACP ajuizada pelo MP de São Paulo contra a Companhia Ambiental

do Estado de São Paulo (CETESB) menciona a importância das áreas de restinga para a

adaptação ao aumento do nível do mar.40

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28

A decisão sobre o ingresso de um litígio climático deve ser tomada levando-se em

consideração diversos fatores jurídicos, práticos e estratégicos. Os fatores jurídicos

são aqueles que influenciam diretamente no desenho da própria ação e da estratégia proces-

sual. Nesse sentido, a revisão sistemática das ações já ajuizadas ao redor do mundo e a análise

de oportunidades ainda inexploradas apontam para uma série de opções e caminhos. Construir

uma ação climática deve passar por um diagnóstico de oportunidades capaz de identificar os

desafios que um litígio climático enfrentaria no quadro institucional brasileiro e uma análise

de teor processual, a fim de se arquitetar a medida jurídica mais aplicável para o caso concreto

(litigância estratégica).

QUAIS OS DESAFIOS DA LITIGÂNCIA CLIMÁTICA?

O primeiro conjunto de desafios passa necessariamente por questões fundamentalmente

afetas ao direito. De modo mais amplo, é importante se atentar para desafios no Poder Judi-

ciário. Nesse caso, a conhecida morosidade das ações judiciais no Brasil e sua tecnicidade ele-

vam os custos de se intentar a via da litigância. De modo mais pragmático, apresenta-se como

desafiador o fato de ser comum o não cumprimento de termos de ajustamentos de conduta e

de decisões judiciais.

Do ponto de vista jurídico em sentido estrito, o principal desafio diz respeito à caracterização

jurídica da temática ainda pouco explorada pelo Judiciário e, muitas vezes, desconhecida pelos ór-

gãos de decisão judicial e seus magistrados. Nos possíveis casos de litigância climática envolvendo o

setor privado, há ainda outros desafios mais particulares, como os obstáculos para reparação, pela

via judicial, das violações cometidas por empresas, em que existe dificuldade para provar teses jurí-

dicas, como nexo de causalidade; a existência do “véu corporativo”, que blinda empresas de possível

responsabilização; e, por fim, o poder político e econômico de determinados setores empresariais, o

que pode acarretar em litígios com desnível de força material.41

PODER JUDICIÁRIO CONTEXTO POLÍTICO ORGANIZAÇÕES DA SOCIEDADE CIVIL

1 2 3

QUANDO INICIAR UMLITÍGIO

CLIMÁTICO?

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29

O segundo conjunto de desafios se vincula com o atual contexto político. No contexto dos

espaços democráticos, a redução atentada pelas recentes administrações aparece como um ele-

mento desafiador, especialmente porque a atuação nas questões climáticas e ambientais depende

necessariamente de informação e participação. Outro ponto, nessa esfera, diz respeito aos riscos

decorrentes da incerteza sobre a continuidade das políticas climáticas e os eventuais problemas

causados por decisões desse teor – o que, por outro lado, também pode servir de fundamento

fático em um litígio climático concreto. Finalmente, importante encarar o contexto de avanço de

pautas conservadoras que, em determinados pontos, não se coaduna com o ativismo ambiental e

climático.42 Como desafio aparece a necessidade de se pensar em campanhas e iniciativas de mo-

bilização da sociedade civil que não só informem sobre a urgência da temática, mas também con-

vençam sobre a importância do tema por si só.

Por fim, o terceiro desafio se relaciona com a capacidade das organizações da sociedade civil

de lidar com uma temática ainda pouco explorada no Brasil. Vê-se que muitas dessas organiza-

ções já atingiram maturidade com casos de litigância estratégica envolvendo direitos humanos e

socioambientais, porém não se tem notícia, até agora, de precedentes de litigância climática ajui-

zados por essas organizações no Brasil. Necessário também incorporar a expertise já acumulada

por essas organizações nos seus campos de atuação, agora utilizando a litigância estratégica como

fundamento para a realização das ações climáticas. Outros desafios são relativos à escassez de

recursos financeiros, dados os custos e o tempo para conclusão de uma ação judicial, e humanos,

dada a considerável falta de advogados(as) e consultores(as) nos quadros das organizações que

atuam especificamente com litigância climática.

QUAIS AS POSSIBILIDADES JUDICIAIS PARA A LITIGÂNCIA CLIMÁTICA?

As experiências mundo afora têm demonstrado que diferentes arranjos jurídico-processuais

têm sido utilizados nos litígios climáticos. De fato, a diversidade presente no fenômeno da liti-

gância climática incentiva à expansão desse mecanismo. Se, de um lado, esse cenário é bastante

favorável para a sociedade civil, uma vez que é capaz de engajar organizações com perfis e atua-

ções das mais diversas, por outro lado, pode causar certa confusão no momento da preparação da

estratégia jurídica diante do caso concreto. Para facilitar a visualização do rol de possibilidades de

configuração de um possível litígio climático, o gráfico abaixo ilustra, por meio de um eixo car-

tesiano, as combinações possíveis de ações climáticas a partir de dois critérios: o escopo da ação

e a relação com a legislação específica sobre o clima. Quanto ao primeiro critério (escopo), a ação

pode ser “estrutural” ou “pontual”. Em relação à abordagem sobre normas climáticas, ela pode

ser “direta” ou “indireta”.

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30

Fonte: Elaboração própria.

DIRETO OU “PURO”

INDIRETO OU “MISTO”

ESTRUTURAL

PONTUAL

Quanto mais pontual, mais o litígio climático

se volta para contextos

subnacionais, setoriais e

para pedidos procedimentais

(ex.: impact assessment)

Quanto mais direto, mais o litígio climático aborda expressamente o tema

das mudanças climáticas

Quanto mais estrutural,

mais o litígio climático se volta

para contextos nacionais e

questionamentos amplos e políticas

públicas

Quanto mais indireto, menos o litígio

climático aborda direta e expressamente as

questões de fato e de direito das mudanças

climáticas (ex.: povos da floresta, desmatamento)

Urgenda x Holanda

Caso Colômbia

Jurisprudência STJ

Aeroporto GRU

ADIs Código Florestal

Lliuya vx. RWE (Peru)

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31

Ações estruturais são aquelas que tendem a questionar políticas públicas complexas e com

abrangência territorial ampla (como políticas nacionais de adaptação). As ações pontuais podem

existir sob diferentes modalidades. Elas podem ser aquelas em que:

1. o objetivo da ação é obter um pronunciamento de caráter mais

administrativo (como a exigência de uma avaliação de impacto climático

no licenciamento de uma usina termelétrica);

2. o enfoque é setorial (como nos casos de energia e mobilidade urbana); ou

3. é uma demanda apresentada em face de autoridades subnacionais −

governos estaduais e municipais.

Importante ressaltar que apenas o caso concreto dirá se a ação se encaixa mais na defini-

ção de ação estrutural ou pontual. Uma ação proposta em nível subnacional, a depender de seu

escopo e do tipo de provimento judicial a ser buscado, bem como da complexidade da matéria,

pode ter um caráter estrutural. Da mesma maneira, uma ação setorial pode requerer mudanças

estruturais, caso ela venha a suscitar limitações e falhas em políticas setoriais amplas em seto-

res como a agricultura.

Ações “diretas” são aquelas em que o fundamento jurídico principal é a questão climática,

de fato e de direito. Exemplo de litígio climático desse tipo é aquele que questiona diretamen-

te programas e políticas climáticas, fundamentando-se expressamente em normas e arcabouços

institucionais climáticos (como uma ação cuja intenção é fiscalizar o cumprimento das metas de

redução de gases de efeito estufa assumidas pelo governo). Ação climática indireta é aquela em

que são invocadas normas ambientais e outros fundamentos jurídicos, mas cujo resultado, caso

favorável, teria um impacto relevante na mitigação ou adaptação ao clima. Exemplo de ação indi-

reta hipotética é um litígio que exija das autoridades a proteção dos povos da floresta, em que se

poderia argumentar a importância desses povos no manejo florestal, mas sem menção expressa à

conservação de ecossistemas que reservam o carbono.

A combinação desses dois critérios – escopo e abordagem climática – leva a inúmeras possibi-

lidades de configuração de um litígio climático concreto. Quaisquer ações elaboradas com base em

uma maior ou menor presença desses critérios possuem suas próprias chances de êxito e seus de-

safios. Ações estruturais tendem a atrair com mais intensidade questões controversas e que fazem

parte do debate jurídico mais amplo sobre a relação entre o Judiciário e os demais poderes, como a

legitimidade do Judiciário para intervir em políticas públicas; o nexo de causalidade entre a omis-

são do Poder Público e os danos (ou a ameaça de danos); e o tipo de provimento judicial adequado

para sanar as falhas dos demais poderes. Ações estruturais também podem demandar mais custos,

especialmente nas fases processuais preliminares, em que a parte autora deve coletar evidências

empíricas sobre o cumprimento ou descumprimento de políticas de abrangência nacional ou seto-

rial. Ações pontuais, por sua vez, podem ser promissoras na medida em que elas diminuem o risco

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32

de “tudo ou nada”, ou seja, podem servir como experiência de litigância, ainda que o resultado

venha a ser negativo. Ademais, ações pontuais, especialmente aquelas que se encaixem em um

recorte geográfico (como ações em face de municípios), podem ser replicáveis. Pode-se testar a

abertura de diferentes comportamentos do Judiciário frente a demandas que, por si só, envolvam

teses e argumentos ainda inexplorados.

As ações “diretas” podem auxiliar na conscientização, difusão e no esclarecimento do Poder

Judiciário e demais atores do sistema de justiça acerca de exigibilidade direta de normas climáticas.

Entretanto, há o risco de que seja imposto um ônus inicial de demonstração da própria existência

e evidência científica do fenômeno, além de trazer novamente o problema do nexo de causalidade.

As ações indiretas são uma alternativa para adentrar na questão do clima de modo sutil, abor-

dando as determinantes do aquecimento global em linguagem mais testada nos tribunais. Uma

decisão favorável em uma ação indireta pode ter repercussões positivas sobre a questão climática

como um todo. Como aspecto negativo, está o fato de que, ao não se abordar diretamente o clima

no fundamento fático e jurídico, torna-se ainda mais distante a possibilidade de que juízes e tribu-

nais se sensibilizem sobre o fenômeno climático em sua normatividade e exigibilidade jurídica.43

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33

O s litígios envolvem, em geral, um polo ativo, normalmente denominado parte autora,

que apresenta os pedidos na ação que propõe, junto com argumentos fáticos e jurídicos

para sustentá-la, e um polo passivo, normalmente chamado de réu, que, ao longo do litígio, pode-

rá se defender das alegações apresentadas pelo polo ativo. A experiência internacional demonstra

que os entes governamentais são o principal alvo da litigância climática. Empresas, indivíduos e

organizações não governamentais, nessa ordem, aparecem como os principais autores de ações

climáticas (ver gráfico abaixo). No caso das empresas enquanto autoras, o que se tem notícia é

principalmente da existência de litígios climáticos negativos, ou seja, ações que questionam o

avanço da proteção contra as mudanças climáticas.

Em termos de possibilidades no contexto brasileiro, o polo ativo pode ser ocupado pela socie-

dade civil – associações e indivíduos – ou pelo poder público – os entes federativos e seus órgãos,

o Ministério Público e a Defensoria Pública. Esse rol de autores poderá acionar, no polo passivo,

entes federativos e seus órgãos, além de empresas privadas.

NÚMEROS SOBRE AUTORES E RÉUS EM LITÍGIOS CLIMÁTICOSTipos de autores e réus em casos climáticos (25 países com exceção dos EUA)

Fonte: Grantham Research Institute on Climate Change and the Environment. Policy brief - Global trends in climate change legislation and litigation: 2018 snapshot.

EMPRESAS GOVERNO (ESTADO)

Autor

0

50

100

150

200

250

107

225

3147

68

48

9 5

Réu

INDIVÍDUOS ONGs

QUEM PODE SER PARTEEM UM LITÍGIO

CLIMÁTICO?

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34

QUEM PODE LITIGAR?

A sociedade civil tem o potencial de ser o principal ator da litigância climática no Brasil, po-

dendo as associações e os indivíduos figurar como autores de potenciais litígios climáticos. Às

associações, estrutura jurídica mais frequente de ONGs em nosso país, o direito brasileiro confere

determinadas capacidades processuais que são de extrema relevância para futuros casos de liti-

gância climática. A principal delas é a legitimidade para propor ações coletivas em prol de interes-

ses metaindividuais. Aos indivíduos, é cabível explorar as possibilidades de litígio na esfera priva-

da, existindo violações e danos particulares decorrentes de consequências danosas das mudanças

climáticas, e no plano coletivo por meio da ação popular.

Ao Ministério Público (MP) também cabe a prerrogativa de mover litígios climáticos. O MP é

potencialmente um ator relevante no caso dos litígios climáticos porque possui, em suas com-

petências e prerrogativas de atuação, muitas das temáticas e objetos que dialogam diretamente

com as questões ambientais e climáticas, especialmente a competência para promover o inqué-

rito civil e a ação civil pública, para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente

e de outros interesses difusos e coletivos; a ação de inconstitucionalidade ou representação para

fins de intervenção da União e dos Estados; e defender judicialmente os direitos e interesses das

populações indígenas.

A Defensoria Pública é uma instituição pública que presta assistência jurídica gratuita às pes-

soas que não podem pagar por esse serviço. Por determinação constitucional, a Defensoria Pública

é instituição essencial à função jurisdicional do Estado, sendo-lhe inerente a orientação jurídica

e a defesa, em todos os graus, de interesses dos necessitados. Atualmente, o órgão, assim como o

MP, também tem competência para propor ação civil pública.

Outro grupo de legitimados ativos para proposição de ações climáticas são os entes federativos

– a União, os Estados, o Distrito Federal, os Municípios – e seus órgãos.

Existe, por fim, uma nova tendência em que esses interessados apresentam litígios climáticos

a fim de questionar o avanço da legislação climática. Nesse último grupo, estão incluídos agentes

privados, como empresas e financiadores.

CONTRA QUEM LITIGAR?

No sistema jurídico do Brasil, cabe fundamentalmente ao Estado brasileiro a proteção climático-

-ambiental e, por isso, os entes federativos e seus órgãos estarão normalmente entre as figuras mais

acionadas em ações climáticas. Além deles, as empresas também podem figurar no polo passivo das

ações climáticas. Percebe-se uma nova onda de litígios climáticos no mundo com esse teor, espe-

cialmente em ações de violações a direitos humanos relacionados às mudanças climáticas.

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35

QUAIS TIPOS DE AÇÕES JUDICIAISPODEM SER UTILIZADA EM UM

LITÍGIO CLIMÁTICO?

C omo apresentado, as possibilidades de litigância climática envolvem estratégias que se

relacionam com o escopo da ação (pontual ou estrutural) e o quanto essa ação está li-

gada à questão jurídica do clima (direta ou indireta). A partir dessa primeira análise estratégica,

pode-se avançar, em concreto, para que se estipule qual tipo processual de ação judicial é o ade-

quado para os objetivos e impactos pretendidos com o litígio climático. A Ação Civil Pública (ACP),

dadas as suas características e possibilidades de ajuizamento para questões ambientais e climáti-

cas, aparece como o principal mecanismo processual para eventual litigância climática no Brasil.

Indivíduos almejando acionar entes governamentais podem se utilizar da Ação Popular (AP). Tais

mecanismos processuais, além de outros ilustrativos, são apresentados a seguir.

AÇÃO CIVIL PÚBLICA

A Ação Civil Pública (ACP) é um instrumento

processual, regido especialmente pela Lei

nº 7.347/1985, que objetiva tutelar direitos

coletivos, difusos e individuais homogêneos.

Um dos diferenciais é que nela podem figurar

como réus não apenas a Administração

Pública, mas qualquer pessoa física ou jurídica

que cause danos ao meio ambiente, aos

consumidores em geral, a bens e direitos de

valor artístico, estético, histórico, turístico

e paisagístico. Ela é cabível para prevenir e

reparar danos envolvendo poluição e pode

ser utilizada em casos de perdas envolvendo

mudanças climáticas. Cabe uma ACP, por

exemplo, quando uma comunidade é atingida

pelo rompimento de uma barragem. Os

responsáveis podem ser condenados a reparar,

financeiramente, os danos morais e materiais

da coletividade atingida. Esse tipo de ação

também pode ser movido com o objetivo

de obrigar o réu a corrigir o ato praticado

ou, havendo omissão, a tomar determinada

providência. Em termos de pedidos, os

demandantes podem exigir condenação em

dinheiro ou o cumprimento de obrigação de

fazer e não fazer. Trata-se de uma possibilidade

eficaz porque o número de legitimados para

proposição da ACP é significativo. Possuem

legitimidade ativa para propô-la o Ministério

Público, a Defensoria Pública, os entes

federativos e seus órgãos, assim como

as associações.

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AÇÃO POPULAR

A Ação Popular (AP) é um instrumento

processual que objetiva tutelar direitos

coletivos, difusos e individuais homogêneos,

sendo regido pela Lei nº 4.717/1965. A AP é

um mecanismo processual interessante para

a litigância climática para indivíduos, uma

vez que esse tipo de ação permite ao cidadão

recorrer à Justiça na defesa da coletividade

para prevenir ou reformar atos lesivos que

forem cometidos por agentes públicos ou

a eles equiparados por lei ou delegação.

Qualquer cidadão brasileiro tem legitimidade

para propor uma AP que vise anular ato lesivo

ao meio ambiente e ao clima. Há também a

possibilidade de uma AP ser aberta quando a

Administração Pública for omissa em relação

a atos que deveria praticar. Nesses casos,

vislumbra-se a possibilidade de AP climática

para os casos de dispositivos da legislação

climática que não estão sendo cumpridos. Mas

caberia também em relação a qualquer prática

lesiva mesmo que ativa da Administração

Pública que ameace bens ambientais tutelados

por ela. Em regra, a competência para o início

da tramitação da AP é do juízo de primeiro grau

da Justiça Federal ou Estadual, dependendo da

esfera administrativa da parte acionada. Em

ambos os casos, a ação é acompanhada pelo

Ministério Público.

MANDADO DE SEGURANÇA COLETIVO

O mandado de segurança coletivo é um

tipo de remédio constitucional, disposto

na Lei nº 12.016/2009, com a finalidade de

proteger direito líquido e certo, não amparado

por habeas corpus (ação para proteção

do direito de liberdade de locomoção) ou

habeas data (ação para livre acesso de

informações próprias), quando o responsável

pela ilegalidade ou pelo abuso de poder for

autoridade pública ou agente de pessoa

jurídica no exercício de atribuições do Poder

Público. Possuem legitimidade para propor

esse tipo de ação as organizações sindicais,

as entidades de classe ou as associações

legalmente constituídas e em funcionamento

há pelo menos um ano, em defesa dos

interesses de seus membros ou associados.

Na possibilidade de litigância climática, é

cabível contra autoridade pública ou agente

de pessoa jurídica no exercício de atribuições

do Poder Público quando violar o direito

líquido e certo ao clima estável ou praticarem

ilegalidade ou procederem com abuso de

poder consubstanciados em desmatamento

ou emissões irregulares de gases de efeito

estufa. Os mandados de segurança coletivos,

particularmente úteis em litígios climáticos de

maior abrangência e maior escopo, aparecem

como alternativas cabíveis para acionamento

do Poder Público e podem ser utilizados

para objetos diversos, como ilegalidades

em processos de licenciamento e avaliação

de riscos ambientais, descumprimento de

diretrizes climáticas, falta de fiscalização

ambiental em casos de desmatamento e

poluição atmosférica.

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MANDADO DE INJUNÇÃO

O mandado de injunção, disposto na Lei nº

13.300/2016, é uma ação cabível na ausência de

normas que regulamentem direitos e garantias

constitucionais. É um remédio constitucional

utilizado de modo semelhante à Ação Direta

de Inconstitucionalidade por Omissão, porém

voltado exclusivamente a litígios que se deem

em torno de controvérsias nas quais não se

discute um ato normativo abstrato, e sim

uma situação concreta e específica entre as

partes. As possibilidades de impetração de

mandado de injunção são amplas e esse tipo

de ação é cabível nos casos em que faltarem

normas que regulamentem a proteção do

meio ambiente e da estabilidade do clima. O

mandado de injunção não é cabível para toda

e qualquer ausência de regulamentação, mas

apenas àquelas nas quais a regulamentação

é mandatória por comando constitucional

ou legal. Isso significa que é preciso, para

propor mandado de injunção, que haja um

comando concreto, direto e específico para

que determinada regulamentação (ambiental,

climática) seja implementada pelos poderes

competentes. Têm legitimidade ativa para o

mandado de injunção pessoas naturais

ou jurídicas que se afirmam titulares de

direitos e liberdades constitucionais e de

prerrogativas inerentes à nacionalidade,

à soberania e à cidadania.

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE DE LEI OU ATO NORMATIVO

A Ação Direta de Inconstitucionalidade de

lei ou ato normativo (ADI), conforme a Lei

nº 9.868/1999, tem por finalidade declarar a

inconstitucionalidade de lei ou ato normativo

federal ou estadual, seja por vício de forma,

seja por vício material, seja por dupla

inconstitucionalidade (formal e material). Os

atos impugnáveis mediante ADI são a lei e o

ato normativo federal ou estadual primários,

isto é, que retiram fundamento diretamente da

Constituição. Em ações climáticas, trata-se de

um mecanismo hábil para impugnar normas

que contrariem o artigo 225 da Constituição

Federal de 1988, no que tange à tutela do

meio ambiente ecologicamente equilibrado e

do clima propício a uma sadia qualidade de

vida. Em sentido amplo, esse tipo de ação é

cabível para questionar abstratamente a lei

e atos normativos que contrariem a proteção

constitucional dada às normas ambientais

e climáticas. Possuem legitimidade para

propor ADI o Presidente da República, a Mesa

do Senado Federal, a Mesa da Câmara dos

Deputados, a Mesa da Assembleia Legislativa,

o Governador de Estado, o Governador do

Distrito Federal, o Procurador-Geral da

República, o Conselho Federal da Ordem dos

Advogados do Brasil, partido político com

representação no Congresso Nacional e as

confederações sindicais ou entidades de

classe de âmbito nacional.

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AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE POR OMISSÃO

A Ação Direta de Inconstitucionalidade

por omissão (ADO), disposto na Lei nº

9.868/1999, é um mecanismo de controle

de constitucionalidade concentrado que

visa combater a inércia do legislador que

se tornou omisso por deixar de criar lei

necessária à eficácia e à aplicabilidade das

normas constitucionais, em especial quando a

Constituição estabelece a criação de uma lei

regulamentadora. Também pode ser utilizada

quando da inércia do administrador público

que não adotou as providências necessárias

para efetivar o comando constitucional.

A ADO destina-se a suprir a omissão de

um dos Poderes, ou de uma autoridade da

Administração Pública, em relação às matérias

ambiental e climática, e os legitimados são

os mesmos na ADI.

ARGUIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL

A Arguição de Descumprimento de Preceito

Fundamental (ADPF), conforme a Lei nº

9.882/1999, tem por objetivo evitar ou reparar

lesão a preceito fundamental resultando de

ato do Poder Público e é cabível na hipótese

de relevante fundamento da controvérsia

constitucional sobre lei ou ato normativo

federal, estadual ou municipal, incluídos os

anteriores à Constituição Federal de 1988.

Os legitimados para propor a ADPF são os

mesmos com legitimidade para propor ADI.

Contudo, é importante lembrar que a ADPF

é subsidiária em relação à ADI. Então, cabe

ADPF, para proteção ambiental e climática,

sempre que por alguma razão não couber ADI.

A violação dos direitos fundamentais ao meio

ambiente equilibrado e ao desenvolvimento

sustentável pode ser objeto de ADPF

especialmente quando há relação com

outros preceitos fundamentais.

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O s fundamentos jurídicos de uma ação judicial dizem respeito aos argumentos de direito

que serão utilizados para embasar os pedidos do autor do litígio. Em outras palavras, os

fundamentos jurídicos são os argumentos que trazem normas, decisões e doutrina para explicar

ao Judiciário porque a ação deve ser julgada a favor do autor do litígio. No ordenamento brasileiro,

os fundamentos jurídicos que mais ressoam no Poder Judiciário são os que apresentam elementos

normativos e legais claros. Também a jurisprudência dos tribunais e as normas internacionais

são relevantes nesse sentido. Em relação às normas internacionais, os tratados internacionais que

versam sobre direitos humanos têm status de supralegalidade, conforme precedente do STF no

HC 82.424/2004, ou seja, são normas que estão “acima” das leis. Importante atentar ainda que,

se esses tratados forem aprovados por 3/5 de cada Casa do Congresso em votação de dois turnos,

o status será o de constituição (art. 5º, § 3º, CF, redação dada pela EC 45/2004). Isso lhes garante

uma força jurídica bastante relevante para fundamentar ações. Como abordado, uma das possíveis

estratégias é vincular os direitos humanos às mudanças do clima, a fim de forçar o Judiciário a se

manifestar sobre essas questões.

A proteção constitucional do meio ambiente e a existência de um sólido arcabouço jurídico-institucional para questões climáticas

são os principais fundamentos para litigância climática no Brasil.

Esta parte do guia apresenta os fundamentos mais relevantes para se utilizar em possíveis lití-

gios climáticos, o que não exclui a possibilidade de outros aqui não apresentados. Os fundamentos

expostos não esgotam as possibilidades jurídicas para litigância climática.

QUAIS FUNDAMENTOS JURÍDICOSPODEM SER USADOS EM UM LITÍGIO CLIMÁTICO?

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TUTELA CONSTITUCIONAL DO MEIO AMBIENTE

A proteção ambiental tem garantia constitucional e status de direito fundamental. Os pe-

didos ao Poder Judiciário nas ações climáticas devem se estabelecer por meio, principal-

mente, da referência a esse patamar constitucional de proteção de um meio ambiente eco-

logicamente equilibrado, com clima estável e sem influências antrópicas extremas, capaz de

sustentar a vida e a dignidade humana. A norma constitucional de proteção ambiental irradia o

ordenamento brasileiro e abre possibilidade de se argumentar que as políticas ambiental e climá-

tica são transversais e devem ser observadas em todas as atividades exercidas pelo Poder Público e

pelos agentes privados.

O artigo 225 da Constituição Federal de 1988 estabelece o direito

fundamental ao meio ambiente ecologicamente equilibrado;

O artigo 23, VI da Constituição Federal de 1988 estabelece que é

competência comum a todos os entes federativos proteger o meio ambiente

e o combate à poluição em qualquer de suas formas.

POLÍTICAS NACIONAIS DO MEIO AMBIENTE E DO CLIMA

O ordenamento brasileiro conta com um robusto arcabouço jurídico-institucional dedicado à

proteção ambiental e ao combate às mudanças climáticas. A Política Nacional do Meio Ambiente

(Lei nº 6.938/1981) dispõe sobre princípios do direito ambiental aplicáveis no contexto brasilei-

ro, assim como estrutura o Sistema Nacional de Meio Ambiente (SISNAMA), o sistema brasileiro

ambiental que conta com órgãos ambientais em diversos níveis responsáveis pela proteção e

melhoria da qualidade ambiental. Em se tratando de clima, a Política Nacional sobre Mudança

do Clima (Lei nº 12.187/2009) estabelece programas e estipula princípios para a atuação dos en-

tes públicos no combate à mudança do clima. Para possíveis litígios climáticos, a utilização da

legislação climático-ambiental pode fundamentar pedidos de indenização e obrigações de fazer

e não fazer.

A Lei nº 6.938/1981 estabelece a Política Nacional do Meio Ambiente e

assegura a ação governamental na manutenção do equilíbrio ecológico;

A mesma Lei nº 6.938/1981, em seu artigo 14, estabelece o regime

de responsabilidade por dano ambiental;

A Lei nº 7.735/1989 cria o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente

e dos Recursos Naturais Renováveis

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A Lei nº 11.516/2007 cria o Instituto Chico Mendes de Conservação

da Biodiversidade - Instituto Chico Mendes;

A Lei nº 12.114/2009 estabelece o Fundo Nacional sobre Mudança do Clima;

a Lei nº 12.187/2009 estabelece a Política Nacional sobre Mudança do Clima; e

o Decreto nº 9.578/2018 consolida a regulamentação sobre o Fundo e a Política.

PROTEÇÃO JURÍDICA INTERNACIONAL AO MEIO AMBIENTE

O ordenamento brasileiro seguiu a tendência do debate internacional de trazer a proteção am-

biental para as políticas estatais. A disciplina internacional do meio ambiente tem sido estabele-

cida particularmente por meio dos encontros internacionais sobre a questão ambiental, trajetória

iniciada a partir de 1972 por meio da Declaração da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio

Ambiente Humano. Para a litigância climática, quando em contexto interno, é importante levar

em consideração a ratificação dos documentos internacionais em questão, ao passo que sua utili-

zação tem a intenção de sensibilizar o Judiciário sobre a importância da temática e o caráter inter-

nacional da obrigação jurídica de proteção climática.

A Declaração da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente

Humano de 1972 estabelece princípios e comportamentos voltados

à proteção ambiental;

A Convenção sobre Diversidade Biológica de 1992, em seu artigo 6º,

estabelece medidas gerais para a conservação e utilização sustentável

de recursos naturais;

A Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento de 1992 prevê,

em seu princípio 2, que os Estados têm a responsabilidade de assegurar que

atividades sob sua jurisdição ou seu controle não causem danos ao meio

ambiente de outros Estados ou áreas além dos limites da jurisdição nacional;

A Declaração das Nações Unidas sobre Direitos dos Povos Indígenas de 2007

garante, em seu artigo 29, o direito à conservação e proteção do meio ambiente

e da capacidade produtiva de suas terras, territórios e recursos.

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NORMAS INTERNACIONAIS DE COMBATE ÀS MUDANÇAS CLIMÁTICAS

Do mesmo modo, o Brasil somou esforços na proteção do sistema climático global. Atualmen-

te em vigor, as principais normas internacionais são o Acordo de Paris e as NDCs, mas também

é relevante arrolar o histórico da normatização e do debate internacional a fim de conscientizar

o Poder Judiciário sobre a urgência da matéria. Ainda que a maioria das normas internacionais

climáticas não estipule compromissos quantitativos ou regras claras de mitigação, elas proveem

objetivos gerais, princípios, diretrizes, estrutura institucional e obrigação aos Estados que pos-

sibilitam o desenvolvimento do regime climático internacional e podem ser utilizados a favor de

medidas efetivas de proteção climática.

O Protocolo de Montreal sobre Substâncias que Destroem a Camada de

Ozônio de 1987 é um importante documento e resultou da Convenção de Viena

para a Proteção da Camada de Ozônio de 1985. Foi enunciada uma série de

princípios relacionados à disposição da comunidade internacional em promover

mecanismos de proteção ao ozônio estratosférico;

Pode-se mencionar que o regime climático internacional nasceu em 1992

na Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento

(Rio-92), onde foi redigida a Convenção-Quadro das Nações Unidas

sobre Mudança do Clima;

Em 1997, o Protocolo de Kyoto foi adotado na 3ª Conferência das Partes

da Convenção do Clima definindo metas obrigatórias de redução

nas emissões de gases de efeito estufa;

O Acordo de Paris de 2015 firmou o compromisso das Partes signatárias à

obtenção de uma meta quantitativa de manter o aumento da temperatura

média global bem abaixo de 2°C em relação aos níveis pré-industriais e envidar

esforços para limitar esse aumento da temperatura a 1,5°C.

SALVAGUARDAS CONTRA VIOLAÇÕES AOS DIREITOS HUMANOS

A vinculação de uma agenda de direitos humanos e mudanças climáticas é cada vez mais

frequente e entende-se que essa conjunção precisa ser informada e debatida no Poder Judi-

ciário brasileiro. A proteção aos direitos humanos tem contextos internacionais, regionais e

nacionais. No plano internacional, o regime de proteção de direitos humanos tem respaldo

em diversas instituições do sistema ONU, assim como em tribunais de níveis internacional e

regional. Para um litígio climático, pode-se apontar como os efeitos adversos e extremos das

mudanças climáticas violam direitos humanos. Há dados e experiências negativas de violações

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aos direitos à alimentação, ao desenvolvimento e à saúde, por exemplo, e esses contextos po-

dem ser utilizados para se trazer o arcabouço jurídico-institucional dos direitos humanos para

a litigância climática.

A Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948 é o documento

internacional que sustenta as discussões jurídicas e institucionais sobre

direitos humanos no mundo;

O Pacto Internacional sobre Direitos Econômicos, Sociais e Culturais de

1966 requer que os Estados tomem medidas, individualmente e por meio

da cooperação e assistência internacional, até o máximo de seus recursos

disponíveis, com o propósito de atingir progressivamente a realização completa

de direitos econômicos, sociais e culturais por todas as formas apropriadas;

Normas climáticas e de direitos humanos estão cada vez mais vinculadas,

como no caso dos Acordos de Cancún, adotados na COP16 da Convenção-

Quadro sobre a Mudança do Clima em 2010;

No contexto da responsabilização de empresas, o Conselho de Direitos

Humanos da ONU aprovou, 2011, os Princípios Orientadores sobre Empresas

e Direitos Humanos.

DIREITO À PARTICIPAÇÃO E À INFORMAÇÃO AMBIENTAL

Participar e informar são duas ações intimamente relacionadas nas atividades ambientais e

climáticas. Importante atentar para o fato de que, no plano do direito público, a legislação brasi-

leira vincula todas as decisões administrativas, inclusive em matéria ambiental, aos deveres de in-

formação das medidas de proteção climática empreendidas e da avaliação de seus resultados (art.

37, caput, combinado com art. 5º, XXXIII, CF), e de motivação das escolhas e decisões capazes de

interferir na política climática (art. 5º, XXXIV, b, e LV, CF). As normativas internacionais garantem

ambos como princípios norteadores de diversas políticas e o ordenamento brasileiro os garante

como direitos. Litígios climáticos pontuais podem se utilizar de maneira precisa dos procedimen-

tos de acesso à informação e do pedido formal de participação de debates, discussões e estudos que

envolvam questões ambientais e climáticas.

O Acordo de Escazú (Acordo Regional sobre o Acesso à Informação, à

Participação Pública e o Acesso à Justiça em Assuntos Ambientais na

América Latina e no Caribe) foi assinado pelo Brasil em 2018, com o objetivo

de apoiar a aplicação do Princípio 10 da Declaração sobre Meio Ambiente e

Desenvolvimento na América Latina e no Caribe, que estabelece os direitos de

acesso à informação, participação pública e justiça em assuntos ambientais;

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A Política Nacional do Meio Ambiente dispõe sobre o princípio da participação,

especialmente no artigo 2°, X quando afirma que através da educação

ambiental se levaria efetivamente o cidadão a participar das decisões

que envolvem o meio ambiente;

No Brasil, a Lei nº 10.650/2003 estabelece o acesso público aos dados e às

informações existentes nos órgãos e nas entidades integrantes do SISNAMA.

FUNDAMENTOS JURÍDICOS INOVADORES

Como no contexto brasileiro a litigância climática é um fenômeno ainda muito recente, trazer

elementos fáticos e fundamentos jurídicos mais “tradicionais” do direito ambiental e das mudan-

ças climáticas é um primeiro passo para conseguir dialogar com o Poder Judiciário. Os elementos

trazidos anteriormente dizem respeito a essa primeira abordagem. Ainda assim, as experiências

internacionais têm ensinado que, para além dessa argumentação mais “tradicional” – respon-

sabilidade ambiental, princípio da precaução, direito à informação etc. –, a litigância climática

também pode se beneficiar de atitudes mais inovadoras.

Investir em teses e argumentos jurídicos muito ousados, de fato, representa um risco para a

ação climática. Porém, é um risco que, a depender do caso concreto, pode servir de oportunidade

para que se avance ainda mais o debate da mudança climática no sistema de justiça. Um caso em-

blemático é o Lliuya v. RWE AGE, ocorrido no Peru (consultar imagem sobre experiências interna-

cionais na página 20), em que, para fundamentar a ação, que envolvia o pedido de uma comuni-

dade contra uma empresa emissora de gases de efeito estufa, utilizou-se de disposições do Código

Civil alemão sobre direito de vizinhança.

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QUAIS OS POSSÍVEISPEDIDOS EM UM

LITÍGIO CLIMÁTICO?

E m termos jurídicos, os pedidos dizem respeito à prestação jurisdicional que a parte au-

tora faz na ação judicial. Quer dizer, em outras palavras, que é o conjunto de solicitações

que a parte autora faz no processo judicial. A legislação brasileira prevê a possibilidade de pedidos

certos (mais específicos) ou pedidos genéricos, desde que ambos se relacionem com o objeto da

ação e a fundamentação de fato e de direito. Quando os pedidos são aceitos pelo Poder Judiciário,

as decisões dos processos judiciais culminam em títulos executivos – decisões que ordenam os

réus a fazerem o que está previsto nas decisões – com obrigações de dar coisa, obrigação de fazer,

obrigação de não fazer e/ou obrigação de pagar quantia certa.

Ações climáticas comportam diversos tipos de pedidos, que vão depender do objeto da ação

e do resultado pretendidos. Pedidos podem ter relação com alteração e fiscalização de políticas

públicas, solicitação de disponibilização de informações climáticas, obrigações de fazer e não

fazer relacionadas com mitigação e adaptação climáticas etc. Com base nos pedidos, o Poder

Judiciário pode:

1. obrigar o governo a desenhar planos de ação mais efetivos para a política

climática e rever metas que não se adéquem a novas evidências das

mudanças climáticas. O Judiciário pode obrigar também a administração

a executar os planos que já existem, a prestar contas das medidas que

estão sendo tomadas e fundamentar a razão de certas medidas não

estarem sendo tomadas. O Judiciário pode também criar canais de

monitoramento periódico dessas obrigações e desenvolver mecanismos

de mitigação, compensação ou reparação de danos já verificados em

matéria ambiental.

2. obrigar empresas a elaborar inventário de emissões ou a indenizar

comunidades afetadas por atividades que intensifiquem a mudança do

clima. A tabela abaixo, também exemplificativa, apresenta os pedidos dos

principais casos de litigância climática.

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TIPO DE LITÍGIO EXEMPLOS DE PEDIDOS

LITÍGIOS CLIMÁTICOS DE MITIGAÇÃO

• Exigir que o Poder Público implemente leis e políticas destinadas a reduzir emissões de GEE;

• Solicitar a efetividade de metas de redução ou de mercados de carbono;

• Pleitear ações de combate ao desmatamento e medidas no planejamento urbano;

• Solicitar a revisão de processos de licenciamento ambiental.

LITÍGIOS CLIMÁTICOS DE ADAPTAÇÃO

• Responsabilizar governos e empresas pela avaliação inadequada de riscos climáticos;

• Forçar municípios a desenvolver instrumentos legais e planos para lidar com as mudanças no regime de chuvas, a incidência mais constante de secas e o aumento do nível do mar.

LITÍGIOS CLIMÁTICOS DE PERDAS E DANOS

• Forçar a responsabilização de entes governamentais e grandes emissores por danos causados a indivíduos e grupos em razão de eventos climáticos extremos;

• Pedir o reconhecimento do nexo de causalidade entre danos específicos com atividades causadoras de mudanças climáticas.

LITÍGIOS CLIMÁTICOS DE RISCOS

• Exigir a consideração de riscos climáticos em processos de licenciamento ambiental, estudos de impacto ambiental e elaboração de planos setoriais relacionados às questões climáticas (como no caso de energia e mobilidade);

• Pleitear a prestação de informações sobre riscos, até mesmo financeiros e socioambientais, relacionados às mudanças climáticas.

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C ompreendendo-se o litígio climático como inserido no litígio estratégico, alguns aspec-

tos devem ser considerados. O planejamento da estratégia de advocacy e sensibilização

do público passa a ser tão relevante quanto o desenho jurídico-processual do litígio climático em

si. O litígio estratégico tem diversas funções; dentre elas, é importante assegurar o efeito simbóli-

co da ação tomada. Nesse contexto, embora o provimento judicial favorável seja sempre um aspec-

to relevante, ele pode vir a não ser até mesmo o mais importante. A experiência do movimento de

direitos humanos com litigância estratégica é testemunha de que algumas conquistas em avanços

de proteção judicial dos direitos humanos e fundamentais podem levar anos. Organizações, por

vezes, levam ao Judiciário uma mesma causa reiteradas vezes. Essa estratégia é um reconheci-

mento de que o contexto político, as transformações sociais e a evolução dos parâmetros jurídicos

influenciam no resultado final.

Atingir um resultado positivo em um litígio climático é uma estratégia importante de médio e

longo prazos. Para tanto, algumas medidas e iniciativas podem ser implementadas para que orga-

nizações e indivíduos aumentem as chances de êxito em um litígio climático.

AUMENTANDO A CHANCE DE GANHAR UMA AÇÃO CLIMÁTICA

3 4 5

COMO AUMENTARAS CHANCES DE VENCER UM LITÍGIO CLIMÁTICO?

exija a execução da ação climática em

caso de vitória

preste atenção às formalidades

do processo

se possível, faça uso de tutela

provisória

acompanhe de perto

o andamento da ação

dê visibilidade ao litígio

21

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PRESTE ATENÇÃO ÀS FORMALIDADES DO PROCESSO

Em primeiro lugar, ficar atento

às formalidades processuais é

condição preliminar para que o caso

avance no seio do Poder Judiciário. Ainda

que os instrumentos processuais brasileiros

se pretendam democráticos e inclusivos,

ainda existe uma série de formalidades

e aspectos técnicos que podem fugir ao

litigante eventual, ou seja, àquele que

raramente aciona os tribunais.

O acompanhamento de especialistas na área

e de advogados pode aumentar as chances

de êxito na ação climática.

Nesse sentido, a ação precisa ser

bem desenhada, também levando em

consideração aspectos de sustentabilidade

financeira, haja vista os custos desse tipo

de mecanismo. Uma boa estratégia de

captação potencializa a possibilidade de

vitória no litígio. Também vale a pena levar

em consideração o fato de que as evidências

científicas das mudanças climáticas estão

em constante evolução. O caso concreto

dirá qual evidência científica é mais aplicável

para fundamentar a ação, o que também

pode implicar em custos e maior atenção

a formalidades do processo no decorrer da

eventual produção de provas.

SE POSSÍVEL, FAÇA USO DE TUTELA PROVISÓRIA

Em segundo lugar, a possibilidade de se

utilizar tutela provisória – seja fazendo

pedidos cautelares ou de tutela antecipada –

é interessante porque já aciona o

Poder Judiciário de forma célere e

também é capaz de funcionar como

um “termômetro” da ação.

Pedidos de tutela provisória são aqueles

pedidos feitos para serem atendidos antes

da análise completa da ação, o que faz

o autor acelerar a possibilidade de ver

seu pedido sendo garantido.

Os pedidos cautelares são aplicáveis na

hipótese de existir risco de se perder o

bem a ser tutelado pela ação; já a tutela

antecipada diz respeito à antecipação do

resultado final do processo. Em ambos os

casos, também funciona como uma maneira

de se antever uma possível forma como o

Judiciário lidará com a lide, sendo receptivo

em maior ou menor grau de acordo

com a circunstância.

21

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49

ACOMPANHE DE PERTO O ANDAMENTO DA AÇÃO

Em terceiro lugar, é preciso compreender

que ações judiciais são morosas e exigem

custos de acompanhamento. Será necessário

despender tempo, energia e verba para

acompanhar o andamento completo da

ação climática. Fazê-lo de forma próxima,

com auxílio de profissionais e engajando a

comunidade local, é uma dica importante

para vencer o litígio.

DÊ VISIBILIDADE AO LITÍGIO

Em quarto lugar, como antecipado,

dar visibilidade à ação e engajá-la em

estratégias maiores de comunicação e

sensibilização é uma tarefa bastante

importante não só para aumentar a

probabilidade de vitória na ação climática,

como, também, para ampliar o respaldo

social e político das comunidades de entorno.

Trata-se de utilizar o arcabouço da litigância

estratégica para abranger não só o litígio em

si, mas um conjunto de ações de advocacy

e comunicação para incidência em outras

instâncias do poder e da sociedade. O que

se busca é criar dimensões emblemáticas,

capazes de criar precedentes e gerar

resultados multiplicadores. Nesse sentido,

o Poder Judiciário, nos últimos anos, tem

estado cada vez mais atento às demandas

da sociedade, e utilizar essa nova faceta dos

tribunais é interessante nesses termos

de litígio estratégico.

EXIJA A EXECUÇÃO DA AÇÃO CLIMÁTICA EM CASO DE VITÓRIA

Por fim, necessário apontar que, em

caso de vitória do litígio climático, os

trabalhos de implementação

dos pedidos ainda não estarão

totalmente concluídos.

A fase de execução do processo também

tem suas formalidades, e estar atento

a elas é de fundamental importância

para que o objetivo pretendido pela

estratégia de litigância climática

seja efetivado.

3

4

5

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50

ANDRADE, Adriano; MASSON, Cleber; ANDRADE, Landolfo; LINO, Gabriel; RIBEIRO,

Lauro; MACHADO, Rafael. Interesse difusos e coletivos. Vol. 2. 2. ed. São Paulo: GEN, Editora

Método, 2019.

BERNARDO, Vinícius Lameira. Mudanças climáticas: estratégias de litigância e o papel do

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CARVALHO, Délton Winter de. Dano ambiental futuro: a responsabilização civil pelo risco

ambiental. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2013.

DAMACENA, Fernada Dalla Libera. Direito dos desastres e compensação climática no Brasil:

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FOLHA DE SÃO PAULO. Crise do clima: no rastro do aquecimento global. 2018. Disponível em:

< https://arte.folha.uol.com.br/ciencia/2018/crise-do-clima/introducao/>. Acesso em 20

de maio de 2019.

HUMPHREYS, Stephen (Ed.). Human rights and climate change. Cambridge University

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LAVRATTI, Paula; PRESTES, Vanêsca Buzelato (Org.). Responsabilidade civil e mudanças

climáticas. São Paulo: Instituto O Direito por um Planeta Verde, 2010.

LEONEL, Ricardo de Barros. Manual de processo coletivo. 4. ed. São Paulo: Malheiros, 2017.

MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito ambiental brasileiro. 26. ed. São Paulo: Malheiros, 2018.

MEIRELLES, Hely Lopes; WALD, Arnoldo; MENDES, Gilmar Ferreira. Mandado de segurança e

ações constitucionais. 37. ed. São Paulo: Malheiros, 2016.

OAE, PARLAMERICAS. Mudanças climáticas: uma visão comparativa da abordagem baseada

nos direitos nas Américas. Disponível em: <http://parlamericas.org/uploads/documents/

Uma-visao-comparativa-da-abordagem-baseada-nos-direitos-nas-Americas.pdf>. Acesso

em 20 de maio de 2019.

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MATERIAIS PARA CONSULTA

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SETZER, Joana; CUNHA, Kamyla; FABBRI, Amália Botter (Coord.). Litigância climática: novas

fronteiras para o direito ambiental no Brasil. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2019.

TARTUCE, Fernanda; DELLORE, Luiz. Manual de prática civil. 14. ed. São Paulo:

Editora Forense, 2018.

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Disponível em: <https://web.law.columbia.edu/sites/default/files/microsites/climate-change/

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WEDY, Gabriel. Desenvolvimento sustentável na era das mudanças climáticas: um direito

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1 PWC. The Low Carbon Economy Index 2019. Disponível em: <https://pwc.to/2NjzC30>. Acesso

em 21 de outubro de 2019.

2 THE GUARDIAN. Revealed: the 20 firms behind a third of all carbon emissions. 2019. Disponível

em: <http://bit.ly/343tOkQ>. Acesso em 21 de outubro de 2019.

3 ENERGY TRANSITION COMMISSIONS. Mission possible: Reaching net-zero carbon emissions

from harder-to-abate sectors by mid-century. Disponível em: <http://bit.ly/2Nb00vG>. Acesso em

21 de outubro de 2019.

4 O jornal The Guardian atualizou em 2019 seu guia de estilo e passou a estipular que as

referências às mudanças climáticas devem ser referenciadas como “emergência, crise ou colapso

climático”. A alteração no guia de redação do jornal foi decidida após a publicação de dois

relatórios de referência global relativos à crise ambiental: um sobre a urgência de cortes nas

emissões de dióxido de carbono e outro sobre a aniquilação da vida selvagem e dos ecossistemas

da Terra. O veículo também levou em conta as considerações de cientistas climáticos, da

Organização das Nações Unidas (ONU) e do Met Office, o serviço de meteorologia britânico.

Ver: THE GUARDIAN. Why the Guardian is changing the language it uses about the environment.

Disponível em: <http://bit.ly/2PjpjhL>. Acesso em 20 de julho de 2019. Outras organizações, como

o Greenpeace, têm seguido no mesmo sentido.

5 THE WORLD BANK. Climate Change Could Force Over 140 Million to Migrate Within Countries by

2050: World Bank Report. Disponível em: <http://bit.ly/2JlJpV1>. Acesso em 20 de julho de 2019.

6 Segundo o relatório do PNUMA-ONU, embora o número de leis e agências ambientais

tenha aumentado de forma exponencial em todo o mundo nas últimas quatro décadas, a

fraca aplicação das leis é uma tendência que está agravando os problemas ambientais. Ver:

ONU MEIO AMBIENTE. Crescem as leis para proteger o meio ambiente, mas há falhas graves

de implementação, afirma novo relatório da ONU. Disponível em: <http://bit.ly/33WYdkC>.

Acesso em 20 de julho de 2019. Também acessar o relatório completo, disponível em inglês:

UN ENVIRONMENT. Environmental rule of law – First global report. Disponível em: <http://bit.

ly/2PfIR6R>. Acesso em 20 de julho de 2019.

7 UN ENVIRONMENT. The status of climate change litigation – A global review. Disponível em:

<http://bit.ly/343IuR0>. Acesso em 20 de julho de 2019.

8 Diz-se “a favor da proteção do clima” para se referir às litigâncias climáticas que almejam aumentar

a proteção climática em termos institucionais e jurídicos. Há que se atentar, como se discutirá, que

existem litígios climáticos, como os ajuizados por empresas, que almejam diminuir a proteção climática.

NOTAS

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9 WWF. Brasil e as mudanças climáticas. Disponível em: <http://bit.ly/2NjASTM>. Acesso em 20 de

julho de 2019.

10 ARTAXO, Paulo. As bases científicas das mudanças climáticas. In: SETZER, Joana; CUNHA,

Kamyla; FABBRI, Amália Botter (Coord.). Litigância climática: novas fronteiras para o direito

ambiental no Brasil. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2019. p. 44. G1. Mudança climática: 7

gráficos que mostram em que ponto estamos. Dezembro de 2018. Disponível em: <https://glo.

bo/2Jn5YZ8>. Acesso em 20 de maio de 2019.

11 NAÇÕES UNIDAS. Situação do clima em 2018 mostrou aumento dos efeitos da mudança

climática, diz relatório. Março de 2019. Disponível em: <http://bit.ly/2JnIMKy>. Acesso em 20 de

maio de 2019.

12 NAÇÕES UNIDAS. Situação do clima em 2018 mostrou aumento dos efeitos da mudança

climática, diz relatório. Março de 2019. Disponível em: <https://nacoesunidas.org/situacao-do-

clima-em-2018-mostrou-aumento-dos-efeitos-da-mudanca-climatica-diz-relatorio/>. Acesso em

20 de maio de 2019.

13 NAÇÕES UNIDAS. Situação do clima em 2018 mostrou aumento dos efeitos da mudança

climática, diz relatório. Março de 2019. Disponível em: <https://nacoesunidas.org/situacao-do-

clima-em-2018-mostrou-aumento-dos-efeitos-da-mudanca-climatica-diz-relatorio/>. Acesso em

20 de maio de 2019.

14 CIEL. Male’ Declaration on the Human Dimension of Global Climate Change. Disponível em:

<http://www.ciel.org/Publications/Male_Declaration_Nov07.pdf>. Acesso em 20 de maio de 2019.

15 HUMAN RIGHTS COUNCIL. Resolution 7/23 – Human rights and climate change. Disponível

em: <http://ap.ohchr.org/documents/E/HRC/resolutions/A_HRC_RES_7_23.pdf>. Acesso em 20 de

maio de 2019.

16 UNITED NATIONS. Annual Report of the United Nations High Commissioner for Human Rights

and Reports of the Office of the High Commissioner and the Secretary-General. Report of

the Office of the United Nations High Commissioner for the Human Rights on the relationship

between climate change and human rights. Disponível em: <https://documents-dds-ny.un.org/doc/

UNDOC/GEN/G09/103/44/PDF/G0910344.pdf?OpenElement>. Acesso em 20 de maio de 2019.

17 UNFCCC. The Cancun Agreements, Disponível em: <https://unfccc.int/tools/cancun/index.

html>. Acesso em 20 de maio de 2019.

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54

18 HUMAN RIGHTS COUNCIL. Resolution 10/4 – Human rights and climate change. Disponível em:

<https://ap.ohchr.org/documents/E/HRC/resolutions/A_HRC_RES_10_4.pdf>. Acesso em 20 de

maio de 2019.

19 UNITED NATIONS HUMAN RIGHTS – OFFICE OF THE HIGH COMMISSIONER. Overview of

the mandate. Disponível em: <https://www.ohchr.org/EN/Issues/Environment/SREnvironment/

Pages/Overview.aspx. Acesso em 3 de junho de 2019>. Acesso em 20 de maio de 2019.

20 UNFCCC. The Paris Agreement. Disponível em: <https://unfccc.int/process-and-meetings/the-

paris-agreement/the-paris-agreement>. Acesso em 20 de maio de 2019.

21 SETZER, Joana; CUNHA, Kamyla; FABBRI, Amália Botter (Coord.). Litigância climática: novas

fronteiras para o direito ambiental no Brasil. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2019. p. 23.

22 Existem diversas formas de se conceituar um litígio climático. Neste guia, apresenta-se o litígio

climático em sua faceta judicial e relacionada diretamente à legislação climática.

23 Os anos referenciados nos títulos dos casos dizem respeito ao ano de ajuizamento da ação.

24 SABIN CENTER FOR CLIMATE CHANGE LAW. Urgenda Foundation v. State of the

Netherlands. Disponível em: <http://climatecasechart.com/non-us-case/urgenda-foundation-v-

kingdom-of-the-netherlands/>. Acesso em 30 de agosto de 2019.

25 SABIN CENTER FOR CLIMATE CHANGE LAW. Leghari v. Federation of Pakistan. Disponível em:

<http://climatecasechart.com/non-us-case/ashgar-leghari-v-federation-of-pakistan/>. Acesso em

30 de agosto de 2019.

26 SABIN CENTER FOR CLIMATE CHANGE LAW. Lliuya v. RWE AG. Disponível em: < http://

climatecasechart.com/non-us-case/lliuya-v-rwe-ag/>. Acesso em 30 de agosto de 2019.

27 SABIN CENTER FOR CLIMATE CHANGE LAW. People of the State of New York v. Exxon

Mobil Corporation. Disponível em: <http://climatecasechart.com/case/people-v-exxon-mobil-

corporation/>. Acesso em 30 de agosto de 2019.

28 SABIN CENTER FOR CLIMATE CHANGE LAW. Future Generations v. Ministry of the

Environment and Others. Disponível em: <http://climatecasechart.com/non-us-case/future-

generation-v-ministry-environment-others/>. Acesso em 30 de agosto de 2019.

29 UN Environment. The status of climate change litigation: a global review. Disponível em:

<http://bit.ly/2BJDlRP>. Acesso em 20 de maio de 2019.

30 O comprometimento de redução de emissões se dá por meio da Contribuição Nacionalmente

Determinada (iNDC, na sigla em inglês). O Brasil se comprometeu a promover uma redução das

suas emissões de gases de efeito estufa em 37% abaixo dos níveis de 2005, em 2025. Além disso,

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indicou uma contribuição indicativa subsequente de redução de 43% abaixo dos níveis de emissão

de 2005, em 2030. Fonte: Ministério do Meio Ambiente. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/

informma/item/10570-indc-contribui%C3%A7%C3%A3o-nacionalmente-determinada>.

31 REVISTA PIAUÍ. ESTEVES, Bernardo. O meio ambiente como estorvo. Disponível em: <https://

piaui.folha.uol.com.br/materia/o-meio-ambiente-como-estorvo/>. Acesso em 24 de julho de 2019.

32 MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE. Plano Nacional sobre Mudança do Clima. Disponível em:

<https://www.mma.gov.br/clima/politica-nacional-sobre-mudanca-do-clima/plano-nacional-

sobre-mudanca-do-clima>. Acesso em 30 de agosto de 2019.

33 BRASIL. Pretendida Contribuição Nacionalmente Determinada para consecução do objetivo da

Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima. Disponível em: <https://www.

mma.gov.br/images/arquivo/80108/BRASIL%20iNDC%20portugues%20FINAL.pdf>. Acesso em

30 de agosto de 2019.

34 Também consultar: SETZER, Joana; CUNHA, Kamyla; FABBRI, Amália Botter. Panorama da

litigância climática no Brasil e no mundo. In: SETZER, Joana; CUNHA, Kamyla; FABBRI, Amália

Botter (Coord.). Litigância climática: novas fronteiras para o direito ambiental no Brasil. São

Paulo: Revista dos Tribunais, 2019. p. 59-86. WEDY, Gabriel. Litigância climáticas e os precedentes

do Superior Tribunal de Justiça. Disponível em: <https://www.conjur.com.br/2017-set-23/ambiente-

juridico-litigancia-climatica-precedentes-stj>. Acesso em 30 de agosto de 2019.

35 STF. Concluído julgamento de ações sobre novo Código Florestal. Disponível em: <http://www.stf.

jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=370937>. Acesso em 30 de agosto de 2019.

36 JUSBRASIL. Superior Tribunal de Justiça STJ - RECURSO ESPECIAL: REsp 650728 SC

2003/0221786-0. Disponível em: <https://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/8637993/recurso-

especial-resp-650728-sc-2003-0221786-0/inteiro-teor-13682613?ref=juris-tabs>. Acesso em 30 de

agosto de 2019.

37 JUSBRASIL. Superior Tribunal de Justiça STJ - AGRAVO REGIMENTAL NOS EMBARGOS DE

DECLARAÇÃO NO RECURSO ESPECIAL: AgRg nos EDcl no REsp 1094873 SP 2008/0215494-

3. Disponível em: <https://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/6062048/agravo-regimental-

nos-embargos-de-declaracao-no-recurso-especial-agrg-nos-edcl-no-resp-1094873-

sp-2008-0215494-3/inteiro-teor-12198977?ref=juris-tabs>. Acesso em 30 de agosto de 2019.

38 CONJUR. STF mantém multa imposta pelo Ibama por queimadas. Disponível em: <https://

www.conjur.com.br/2010-jan-31/stj-mantem-multa-imposta-ibama-queimadas-autorizacao>.

Acesso em 30 de agosto de 2019.

39 GUARULHOS HOJE. Guarulhense more mais cedo por causa do aeroporto. Disponível em:

<https://www.guarulhoshoje.com.br/2019/06/12/guarulhense-morre-mais-cedo-por-causa-do-

aeroporto/>. Acesso em 30 de Agosto de 2019.

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40 JFSP, Subseção de Caraguatatuba, ACP 0000104-36.2016.4.03.6135.

41 COMISSÃO INTERNACIONAL DE JURISTAS. Acesso à justiça: violações de direitos humanos

por empresas. p. 89-93. Disponível em: <https://www.conectas.org/arquivos-site/Brasil%20

ElecDist-6(1).pdf>. Acesso em 23 de julho de 2019.

42 REVISTA PIAUÍ. ESTEVES, Bernardo. O meio ambiente como estorvo. Disponível em: <https://

piaui.folha.uol.com.br/materia/o-meio-ambiente-como-estorvo/>. Acesso em 24 de julho de 2019.

43 NUSDEO, Ana Maria de Oliveira. Litigância e governança climática. Possíveis impactos e

implicações. In: SETZER, Joana; CUNHA, Kamyla; FABBRI, Amália Botter (Coord.). Litigância

climática: novas fronteiras para o direito ambiental no Brasil. São Paulo: Revista dos Tribunais,

2019. p. 139-156.

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